A escola, enquanto instituição de formação e desenvolvimento humano, desempenha um papel crucial na vida dos alunos, não apenas no âmbito acadêmico, mas também no emocional e social. Dentro deste contexto, os profissionais que atuam na escola – professores, coordenadores e outros colaboradores – estão em constante interação com os alunos e, frequentemente, deparam-se com situações onde esses jovens manifestam sofrimento psíquico. A capacidade de realizar um acolhimento adequado e de praticar uma escuta ativa torna-se, assim, uma habilidade necessária para todos os profissionais da educação, e não apenas para o psicólogo escolar (Souza, 2010).
A escuta ativa, segundo a literatura psicológica, vai além de simplesmente ouvir. Trata-se de uma escuta que envolve empatia, compreensão e a capacidade de validar os sentimentos e experiências do outro. Quando os profissionais da escola estão aptos a realizar uma escuta ativa, eles conseguem oferecer um suporte emocional imediato que pode ser fundamental para o bem-estar do aluno (Costa, 2015). Esse tipo de acolhimento pode aliviar o sofrimento momentâneo e evitar a intensificação de crises emocionais.
Entretanto, o que se observa na prática escolar é uma tendência ao encaminhamento rápido e, por vezes, indiscriminado dos alunos ao psicólogo da escola ou a serviços externos de saúde mental. Esse movimento, muitas vezes, sobrecarrega os serviços de psicologia e retira dos demais profissionais a responsabilidade de lidar com questões emocionais dentro do ambiente escolar. É essencial que os educadores sejam capacitados para distinguir entre situações que necessitam de uma intervenção psicológica e aquelas que podem ser resolvidas ou, ao menos, amenizadas através de um acolhimento adequado.
Desenvolver habilidades de acolhimento e escuta ativa entre os profissionais da escola não significa transferir a responsabilidade do psicólogo escolar para eles, mas sim fortalecer a rede de apoio dentro da escola, criando um ambiente mais acolhedor e responsivo (Costa, 2015). Para isso, é fundamental a realização de formações continuadas, onde esses profissionais possam adquirir e aprimorar tais habilidades. A educação emocional e a psicologia deveriam ser componentes essenciais na formação de professores e outros profissionais da educação, promovendo uma visão integrada do desenvolvimento humano.
Portanto, investir na capacitação dos profissionais escolares para que possam realizar um acolhimento eficaz e praticar a escuta ativa é crucial. Não se trata apenas de evitar encaminhamentos excessivos, mas de construir um ambiente escolar onde todos os membros da comunidade educativa possam contribuir para o bem-estar e o desenvolvimento integral dos alunos. A escola deve ser um espaço de segurança e apoio, onde o sofrimento dos alunos é reconhecido, validado e acolhido, independentemente da presença do psicólogo (Souza, 2010).
Referências
COSTA, Vera Lúcia Zibel. O acolhimento na escola: um caminho para a inclusão e a escuta ativa. Educação em Questão, v. 53, n. 40, p. 120-138, 2015. Disponível em: https://porvir.org/projeto-politico-pedagogico-deve-ser-revisto-para-se-adequar-a-educacao- inclusiva/?gad_source=1&gclid=Cj0KCQjwrKu2BhDkARIsAD7GBosKdWHrdLxhnPRytA7 1KMgDkKBp4bbj3sVq9KjdbNb_J52fjOvnXzwaApKtEALw_wcB. Acessado em: 25 de agosto de 2024.
SOUZA, Marilene Proença Rebello de (org.). Práticas de acolhimento na escola: construindo espaços de cuidado e aprendizagem. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2010. Disponível em: https://www.ufpi.br/arquivos_download/arquivos/EDUFPI/VOLUME-01.pdf. Acessado em: 25 de agosto de 2024.
KISHIMOTO, Tizuko Morchida. Cuidar, educar e aprender: práticas de acolhimento na educação infantil. São Paulo: Cortez, 2010. Disponível em: https://editor.amapa.gov.br/arquivos_portais/publicacoes/EDUCA%C3%A7%C3%A3O_9c10 b04d9b6c83e91ab07a030efb5f29.pdf. Acessado em: 25 de agosto de 2024.