Em uma sociedade em que a imagem vale mais do que mil palavras, os padrões de beleza e os modelos de felicidade são determinados pela estética. Tudo aquilo que destoa destes padrões é severamente alvo de preconceitos e discriminações. As pessoas acreditam cada vez mais que a regra para ser feliz deve se basear na imagem e na aparência. Silhuetas bem delineadas, músculos rígidos e curvas suntuosas. As referências são atrizes, top models e esportistas.
Todo o sacrifício é pouco para alcançar este padrão de beleza ou cultivar corpos esculturais. Tudo a favor da estética e contra a saúde. O sofrimento, a dor e o inconformismo com o próprio corpo são inevitáveis. Esta cultura da perfeição leva algumas pessoas ao extremismo, a uma escravidão da autoimagem fantasiosa, ocasionando um distanciamento da realidade. A perda da identidade é gradativa e a alienação à vida é uma consequência trágica.
Mas diante deste cenário de belezas efêmeras e referências questionáveis, a inteligência e a sabedoria continuam sendo muito mais atraentes e afrodisíacas. A idolatria da estética é baseada no imediatismo de uma sociedade empobrecida, mas a inteligência é gradativa, volumosa, sagaz e consistente. Eis que surge um termo que define as pessoas que se sentem mais atraídas por uma boa conversa e que priorizam mais estas características do que a beleza. É a sapiossexualidade.
Escritora
Supostamente criado por Darren Stalder, em 1998, foi a escritora erótica,Kayar Silkenvoice que em 2005 criou o domínio ‘Sapiosexual.com’, popularizando o termo. Em 2008, a expressão ficou mais conhecida. O prefixo da palavra tem origem no latim sapien, que significa inteligência, e nos remete a ideia de sapiência. A sapiossexualidade é a atração sexual que uma pessoa nutre pela inteligência, aspectos culturais, bagagem e experiência de vida do outro. Um encantamento por pessoas com humor requintado e que sabe conduzir com destreza os empecilhos do cotidiano. É a forma madura em lidar com dificuldades, com tranquilidade e sagacidade que fascina. O ‘jogo de cintura’ em enfrentar os próprios conflitos.
Para o sapiossexual, o gênero da pessoa é secundário. As identificações e o desejo são baseados na inteligência. O sexo não define a atração, mas, sim, a inventividade e a criatividade do outro. É lógico que se encantar pela inteligência não desqualifica outros atributos da pessoa. A beleza passa a ser um ‘pano de fundo’, e não o principal. A falta de cultura e inteligência pode causar até aversão.
Para alguns, a sapiossexualidade seria uma orientação sexual, assim como a heterossexualidade, homossexualidade, bissexualidade e assexualidade. Não seria lógico encantar-se por alguém inteligente? Afinal, ninguém quer se relacionar com um ignorante ou um ‘brucutu’, certo? Não é bem assim.
Romantismo
O sapiorromantismo é, portanto, a relação romântica – e sexual – sustentada neste objeto de desejo e de atração, a inteligência. A inteligência que atrai é aquela em que se aprende com os próprios erros e a sabedoria de aprender com o erro dos outros, mudar de opinião e não ter vergonha disso. É a capacidade de ouvir e silenciar no momento oportuno. Entender o jeito do outro, e fazer a leitura necessária para acolher e criticar.
Inteligência é sutil, delicada. Despretensiosa e desenvolta. Bem humorada, pode ser irônica ou sarcástica, mas sem humilhar. Aquela pessoa que não precisa ser o que não é, mas se revelar por inteiro, sinceramente e de coração. Também não é a inteligência teórica, de enciclopédias e fórmulas da física quântica. O que seduz é a inteligência emocional. A ‘savoir-faire’, expressão em francês que significa habilidade de saber o que fazer ou dizer em qualquer situação social.
Mas afinal, você é um sapiossexual?