Nos últimos anos, tem-se intensificado o debate sobre a saúde mental dos profissionais da educação, evidenciando a urgência de ações voltadas para a promoção da saúde desses trabalhadores. O cenário atual da docência, marcado pela sobrecarga de trabalho, falta de valorização, pressões sociais e dificuldades estruturais, torna os professores um dos grupos mais vulneráveis ao adoecimento mental. Segundo Souza e Lima (2022), os docentes enfrentam um contexto de exigências crescentes que, quando não são devidamente acompanhadas por suporte institucional, geram desgaste emocional significativo.
A profissão docente sempre foi associada a desafios emocionais intensos. A necessidade constante de adaptação às mudanças curriculares, novas tecnologias e demandas pedagógicas, somada à responsabilidade de mediar o aprendizado de diversos alunos, muitas vezes em condições adversas, gera um estresse constante. Além disso, a falta de apoio institucional e políticas públicas eficazes agravam ainda mais essa situação (Oliveira & Andrade, 2019).
As condições físicas das escolas, como salas de aula superlotadas e recursos insuficientes, bem como o clima organizacional, são elementos que contribuem para a exaustão mental e emocional dos docentes. Esse cenário, quando não tratado, pode resultar em quadros de síndromes, depressão e ansiedade, impactando diretamente a qualidade do ensino (Carvalho & Ribeiro, 2021). É evidente que o ambiente de trabalho pode ser um fator determinante para a saúde mental dos professores.
Fonte: https://abre.ai/mOsV
De acordo com Brandão et al. (2021) foi realizada uma revisão de escopo sobre dissertações e teses nacionais relacionadas à Síndrome de Burnout em professores, utilizando a Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações e o Catálogo de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Observou-se um crescente interesse dos pesquisadores brasileiros em investigar o burnout entre os docentes, o que contribui para um melhor entendimento desse fenômeno, ampliando o debate e o acesso a informações. Os resultados evidenciaram uma predominância de estudos focados em professores da região sul do país, atuando no ensino básico, em escolas públicas, e, em sua maioria, mulheres. O Maslach Burnout Inventory (MBI) foi o principal instrumento utilizado para medir este adoecimento. A prevalência da síndrome entre os professores variou de 1,85% a 85,52%, levantando preocupações quanto às condições de trabalho e à saúde mental desses profissionais, com potenciais consequências graves. Além disso, foram encontrados altos índices nas três dimensões do burnout: exaustão emocional (25,9%-69,8%), despersonalização (5,4%-55%) e realização profissional reduzida (25,8%-71%). Assim, essa revisão traçou um panorama deste adoecimento entre docentes no Brasil, sintetizando as evidências sobre o tema, destacando características relevantes dos estudos realizados e apontando algumas lacunas na pesquisa nacional.
É necessário, portanto, pensar em medidas concretas para melhorar a saúde mental dos professores. Isso passa pela valorização profissional, não apenas em termos de remuneração, mas também de reconhecimento e suporte emocional. Políticas de bem-estar, como a oferta de programas de apoio psicológico, treinamento em gestão emocional e uma cultura de trabalho que priorize o cuidado com os educadores, são urgentes. Além disso, é preciso promover a construção de ambientes de trabalho saudáveis, que reduzam a sobrecarga e valorizem a importância do descanso e do equilíbrio entre trabalho e vida pessoal (Souza & Lima, 2022).
Investir na saúde mental dos docentes é, portanto, investir na qualidade da educação e, consequentemente, no desenvolvimento de uma nação.
REFERÊNCIAS
BRANDÃO, Luma Mirely de Souza; LIMA, Ester Costa; SANTANA, Joice Requião Costa de; LIMA, Artur Gomes Dias. Revisão de escopo sobre a Síndrome de Burnout em professores no Brasil. Universidade do Estado da Bahia (UNEB). CARVALHO, H. A.; RIBEIRO, M. S. Saúde mental de professores em tempos de pandemia: uma revisão integrativa. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, v. 46, p. 1-12, 2021.
DALCIN, Larissa; CARLOTTO, Mary Sandra. Síndrome de burnout en professores no Brasil: considerações para una agenda de investigação. Revista Latino-americana de Psicologia, v. 49, n. 1, p. 1-9, 2017.o entre os professores.
FARIA, T. G.; SANTOS, L. A. O impacto da pandemia na saúde mental dos professores: desafios e estratégias. Educação & Sociedade, v. 41, p. 1-19, 2020.
OLIVEIRA, A. L.; ANDRADE, C. P. Condições de trabalho docente e saúde mental: um olhar sobre a exaustão emocional no contexto escolar. Revista Psicologia Escolar e Educacional, v. 23, n. 1, p. 43-54, 2019.
SOUZA, E. F.; LIMA, R. B. Burnout e os desafios da saúde mental dos professores. Cadernos de Saúde Pública, v. 38, n. 6, e 00123421, 2022.