IOT pós pandemia

O mundo estava lentamente começando a aderir a ideia de um trabalho remoto nos anos antecedentes a 2020, e certamente a pandemia acelerou de forma exponencial esse processo. Diante da pior crise de saúde do século XXI, em poucos meses, a Covid-19 colocou países inteiros em isolamento, modificou hábitos diários e alterou totalmente a rotina de empresas de todos os setores. As principais economias mundiais ainda tentam retomar as atividades comerciais após um longo período de paralisação em todos os serviços “não essenciais”. No entanto, ainda que muito devastadora, a pandemia abriu um leque de oportunidades para o amadurecimento de algumas tecnologias. Por conseguinte, surgem algumas indagações, como: quais tecnologias realmente vieram para ficar? E que tipo de tecnologias devemos apostar neste, talvez, “novo mundo”?

De fato, foi possível observar uma rápida adaptação das organizações no novo modelo de trabalho, que por sinal se mostrou muito eficiente. Essa resposta rápida teve como papel fundamental o uso da tecnologia, que contribuiu diretamente na manutenção de operações de empresas, de produtividade e forneceu, diante de tantas incertezas, algo para se apoiar e continuar a evolução estrutural e financeira [1]. Sendo assim, pode-se afirmar que a reinvenção está, mesmo que de forma mínima, inserida no DNA das empresas atuais. Através de uma seleção natural do mercado, a pandemia veio separar as empresas em dois tipos: as que estavam preparadas para usar a tecnologia a seu favor e seguir em frente, e as que resistem e não se adaptam a novas formas de trabalhar. É certo que esta divisão digital já existia antes, mas nunca tinha sido tão acentuada ou tão decisiva.

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O “be-a-ba” de antes, mesmo que por enquanto seja funcional, não é o suficiente mais, é preciso pensar em novas maneiras de atuar e, principalmente, de sobreviver a este período de incertezas. Portanto, é necessária certa cautela, pois segundo especialistas o pós-crise pode ser tão importante quanto o atual momento, e suas consequências podem ser maiores que a crise de 1929 [2]. A boa notícia é que atualmente temos uma importante aliada para minimizar os efeitos: a tecnologia. Numa altura em que o mundo todo combate o mesmo inimigo, e infelizmente, no que diz respeito ao coronavírus, especialistas alertam para o fato de que o que se conhecia por “normalidade” está longe de ser alcançado, e que muito provavelmente, não retornaremos ao mesmo padrão. Tivemos que, de maneira obrigatória, abraçar novas ideias e descobrir os seus benefícios, mesmo que ainda exista um longo caminho a percorrer. Como resultado, a COVID-19 pode muito bem ter sido a consagração da Internet das Coisas (IoT).

Nos últimos anos, a IoT se tornou uma das tecnologias mais importantes do século. Em 2017 existiam mais de 7 bilhões de dispositivos IoT conectados e até 2025 é esperado que esse número chegue a 22 bilhões [3], ou seja, em menos de 10 anos o número de aparelhos IoT conectados, triplicou! E aliado a isso, estima-se que o seu valor de mercado até 2021 possa valer 243 bilhões de dólares [4].

Agora que podemos conectar dispositivos que variam de objetos domésticos comuns a ferramentas industriais sofisticadas, é possível estabelecer uma comunicação perfeita entre pessoas, processos e outras coisas. Por meio da computação de baixo custo, nuvem, big data, análise avançada e tecnologias móveis, coisas físicas podem compartilhar e coletar dados com o mínimo de intervenção humana. Nesse mundo hiperconectado, os sistemas digitais podem gravar, monitorar e ajustar cada interação entre itens conectados. O mundo físico encontra o mundo digital – e eles cooperam.

E nesse momento alguns podem pensar, “Tudo bem! Realmente é incrível essa evolução tecnológica e todas essas possibilidades, mas como é que a IoT pode nos ajudar num cenário de pós Covid-19?” Muito provavelmente de inúmeras formas, e acrescento também, que ela contribuirá até mesmo numa próxima pandemia.

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Existem grandes chances de outra pandemia surgir. E infelizmente, isso não é idealizado a partir de teorias conspiratórias, e sim, do fato que nossa sociedade proporciona ambientes, onde é possível surgir e proliferar um vírus mortal de maneira contundente. Além disso, essa terrível possibilidade pode ser mais endossada, ao observar a “retrospectiva da calamidade”: ebola em 2013, gripe suína em 2009, gripe espanhola 1918 e dentre outras situações de saúde que a humanidade teve de superar [5]. Se a questão é “quando?”, então devemos estar preparados para que a sociedade não seja tão impactada como está ocorrendo neste momento.

A IoT aplicada com o uso de inteligência artificial poderá muito em breve fazer diagnósticos prévios, de maneira rápida sem a necessidade de aguardar horas por um exame. Já ouviu falar em “medicina remota” e “medicina interativa”? A área da saúde é uma das áreas mais incríveis que a tecnologia pode estar presente, pois mexe diretamente com a saúde das pessoas, se por algum motivo o paciente não pode ir para um hospital então o hospital pode ir até o paciente de maneira remota, quando se aplica tecnologias da Indústria 4.0 se torna possível interligar equipamentos de imagens e radiologia ou monitorar pacientes à distância [6].

Embora a saúde tenha sido área central de atuação, o uso de IoT em outros setores é evidente. Como mencionado, se tem um botão on-off, as chances são enormes de que o dispositivo possa fazer parte desse sistema. Segundo Paulo José Spaccaquerche, Presidente da Associação Brasileira de Internet das Coisas (ABIN), os sensores serão essenciais em nossa nova vida, garantirão que as atividades sociais possam ser realizadas sem grandes aglomerações, ao menos até que todos sejam vacinados contra o novo coronavírus. O presidente da ABIN, ainda afirma – “ a solução através de um sistema integrado capaz de oferecer um diagnóstico preditivo torna a resposta mais rápida, evita o fechamento temporário de empresas e preserva a força de trabalho” [7]. Outro mercado, que apesar de ser mais para o futuro, mas terá grande relevância quando o quesito for “espaço gerenciável”, é o de “smart place”. O head de IoT/LoRa da American Tower, comentou em uma conferência organizada pela Mobile Time e TELETIME, que o grau de maturidade da tecnologia ainda está relativamente baixo. No entanto, ele conclui informando que contar o número de pessoas em um ambiente, assim como seu fluxo, terá extrema importância, considerando principalmente, o momento de volta ao convívio social [8].

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Além disso, o sucesso do trabalho remoto deve se perpetuar mesmo após a pandemia e trazer benefícios em curto prazo. Segundo a consultoria Gartner, quase a metade dos seus funcionários continuarão o trabalho remoto por mais algum tempo, o que representa um aumento de 30% em comparação a anos anteriores ao da pandemia. Além de oferecer esse suporte para o trabalho virtual, a tecnologia IoT também representa uma evolução tanto nos negócios, quanto na eficácia operacional [4]. Dessa forma, o retorno aos trabalhos presenciais deve ser feito de maneira gradual, e para tornar seguro o regresso dessas atividades, diversas empresas estão apresentando sensores para o monitoramento das atividades humanas no pós-covid-19. E dentre essas soluções baseadas na tecnologia IoT, foram apresentadas câmeras de segurança que são usadas para o monitoramento da temperatura corporal, e pulseiras inteligentes com sensores que geram alerta de proximidade [9].

Essas inúmeras soluções, para um cético estilo Tomé, podem parecer somente alternativas temporárias, visando diminuir o transtorno e possibilitar uma normalidade aos vários setores. Entretanto, as tendências do mercado, a rápida adaptação das organizações e as perspectivas para o período pós-pandemia, apresentam um caminho sem volta, quando se trata de investimento nesse tipo de tecnologia. E isso é ruim? Muito pelo contrário, isso é excelente para as empresas [10]. Fica evidente que, seja na indústria de manufatura, na saúde ou na cadeia de suprimentos, a pandemia provocou muitas mudanças, em especial a aceleração da transformação digital. E quando pensamos no mundo pós-pandemia, é certo pensar que os Estados e as empresas que estão tirando lições e vantagens de tecnologias como a IoT, advindas dessa nova realidade, conseguirão sair na frente. Portanto, a IoT é uma longa jornada, esteja bem preparado e acompanhado, e correndo o risco de ser clichê, concluo citando o esplêndido Steve Jobs, pois a verdade é que “A tecnologia move o mundo”.

Referências

[1]https://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/iot-no-pos-pandemia-como-a-internet-das-coisas-pode-ajudar-o-mundo-depois-do-coronavirus/

[2]https://g1.globo.com/mundo/noticia/2020/06/14/crises-globais-do-ultimo-seculo-trouxeram-aprendizados-mas-que-nem-sempre-foram-aproveitados-veja-quais.ghtml

[2]https://abinc.org.br/pandemia-cria-oportunidades-para-o-desenvolvimento-de-solucoes-em-iot-sustentaveis/

[3]https://www.oracle.com/br/internet-of-things/what-is-iot/

[4]https://tudosobreiot.com.br/iot-pos-pandemia/

[5]https://enterpriseiotinsights.com/20200512/channels/news/siemens-spies-golden-opportunity-to-remake-world-with-tech

[6]https://blog.infraspeak.com/pt-br/iot-covid-19/

[7]https://opiniaoecritica.com.br/pandemia-cria-espaco-para-iot-sustentavel/

[8]https://teletime.com.br/20/07/2020/iot-com-pandemia-mercado-esta-mais-maduro-e-pragmatico/

[9]https://columbiati.com.br/blog/como-iot-revoluciona-a-conexao-entre-dispositivos/

[10]https://vivomeunegocio.com.br/conteudos-gerais/gerenciar/iot-coronavirus/

 

Nota: o texto é resultado de uma atividade da disciplina Tecnologias Criativas, do Programa de Extensão Interdisciplinar do CEULP, ministrada pela professora Dra. Parcilene Fernandes de Brito, dos cursos do Departamento de Computação.