Um último adeus…

Aquele dia poderia ser como todos os outros, mais um turno no hospital, mais um paciente atendido, mais uma entubação, apenas mais um, mas isso estava muito longe de ser a realidade. Naquela tarde passando pela estrada paralela a cidade, havia um caminhoneiro, assim como todas as pessoas, cheia de vivências, pessoas que o amavam e histórias a serem escritas, em um momento de agonia decidiu parar no hospital.

Debilitado, pressão baixa, respiração alterada, esses foram apenas alguns dos sintomas que ele sentia, em meio a esse turbilhão de sintomas e sentimentos chega o diagnóstico, ele estava com Covid, mas não só isso, devido sua saúde fragilizada seu estado já estava deplorável, logo a equipe multidisciplinar já entende que será necessário a intubação.                                                                                 

Fonte: pixabay

A equipe tenta contato com a família e como de costume faz perguntas para investigar as nuances de seu estado de saúde. Ele fumava? Usava substâncias entorpecentes? Algo que o fazia ficar acordado?, todas essas e mais perguntas feitas. Sim, ele fumava, e para aguentar longos períodos na estrada também fazia uso de algumas substâncias, então anunciamos a necessidade da intubação.

O medo, desespero, agonia, todos esses sentimentos mistos que geram tamanha insegurança, fez com que a família negasse, muito mais do que negar a intubação, eles estavam negando a possibilidade de uma perda, um luto. Em meio a tudo isso, o caminhoneiro só pedia uma coisa: “Preciso falar com minha esposa!”, então ofereço meu celular e naquela pequena tela de celular vejo uma mulher, em prantos, com um bebe no colo buscando esperanças para acreditar que o pior não vai acontecer, mas falhando nisso.

O caminhoneiro a tranquiliza, diz que tudo bem ser intubado e que tudo vai ficar bem, diz que voltará para cuidar da filha e que não precisava se preocupar com nada. Então ele vai, e ao entrar na sala segura fortemente a mão do médico, e com uma firmeza ainda maior em seu olhar pede desesperadamente que façam de tudo para que ele viva, afinal ele precisava viver, tinha uma filha que há três dias estava no mundo, não podia deixá-la, nem ela e nem as suas outras duas filhas e muito menos sua mulher desamparada.

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No meio do processo, todos os medos são concretizados, o caminhoneiro não suportou e naquele dia, que poderia ser tão comum, a equipe se olha, e ao perceberem, estão todos no chão, em prantos. Chorando pelo homem que partiu, pela filha que não conheceu, pela esposa que não vai ganhar mais um beijo e pela família que não vai tê-lo mais presente.