Afinal, o que é beleza?

A partir de Platão surge um esboço de conceito de subjetividade. Onde ele nos apresenta o conceito de alma tripartite (Razão, Emoções e Desejos). A filosofia vai racionalizar o discurso. É uma tentativa de racionalizar as narrativas para que as pessoas superem as crenças míticas. Para Platão a razão é que nos diferencia dos animais. A razão vem acima das emoções e desejos. De acordo com Platão, se não nutrirmos a razão as pessoas ficam reféns de outros aspectos do seu corpo. Com isso, estudar a Beleza através da contribuição de Platão dentro da sua visão idealista do mundo e do homem, é diz que a beleza de um ser material no mundo real vai depender de quão próximo chega a Beleza Absoluta do mundo ideal (matriz). Nesse mundo matriz a Verdade, a Beleza e o Bem são essências superiores. Para o filosofo espanhol José Ortega y Gasset, esse era o mundo em forma visto por Platão.

Platão entendia o universo dividido em dois mundos. O mundo que enxergamos, ou seja, o mundo real é o mundo que ele define como uma copia de um mundo ideal. Sendo que, o mundo real, ou seja, o mundo sensível que temos diante de nossos olhos é denominado por ele como um campo da ruína, das imperfeições, da feiura, da decadência. Para o filosofo espanhol José Ortega y Gasset, esse era o mundo em ruína visto por Platão. O nosso mundo real só recebe existência e significação por causa da pré-existência de um mundo Autêntico, o mundo das ideias puras e verdadeiras.

Para Platão a alma tem como seu habitat natural o mundo das Essências, e sendo o mundo real uma cópia fiel do mundo das essências; a alma fica presa no nosso plano real como se estivesse sempre em busca de encontrar a Beleza Absoluta de onde ela veio. Em busca de algo perfeito que ela conheceu, mas não pudesse voltar. Nos textos sobre a Reminiscência de Platão, ele relata que a alma morre e nasce várias vezes, a alma é imortal; por isso é detentora de um vasto saber e conhecimento de tudo existente. Não existe nada que ela não conheça. A alma por ter vindo do mundo ideal, um mundo perfeito, faz com que a ela seja uma sábia detentora do conhecimento, ou seja, ela sabe tudo.

Diante disso, a alma é vista como algo sublime por Platão, pois ela já veio do mundo das Essências, da Verdade Absoluta. Quando a alma vem para o mundo material e se encontra com o corpo material é como se ela, por ter conhecimento absoluto, entrasse em decadência e vivesse sempre com saudades em busca da perfeição do mundo ideal do qual ela veio.  Segundo a Teoria da Reminiscência de Platão, a alma por ter contemplado a Verdade, a Beleza e o Bem Absoluto, ela sempre vai recordar-se do mundo das essências como se ela estivesse em busca de algo daquilo que ela já experimentou antes de unir-se a matéria, ou seja, de unir-se ao corpo.

O corpo por ser definido por Platão como algo decadente e grosseiro; quando se prende a ele faz como que se esqueça da vasta sabedoria da alma; não possibilitando acompanhar essa amplitude de conhecimento absoluto. Com isso, algumas pessoas do mundo Real que valorizam a alma, são consideradas pessoas mais aptas que outras a se lembrarem das Verdades e Belezas contempladas anteriormente. Essas pessoas vão recordar, mas nunca vão ser detentoras da Beleza e da Verdade Absoluta, pois essas só existem no plano das Essências; onde é inatingível pela matéria que é mera cópia. Por isso para Platão, não adianta ficar perdendo muito tempo com a matéria, já que ela é uma cópia prefeita do Ideal.

O filósofo grego Sócrates relata, de acordo com as anotações de Platão, em o livro “Fredo”, um mito da “parelha alada”, que narra de uma forma muito interessante a respeito do ser e da morte. Ele representa o pensamento e ideias sob uma forma figurada de como alcançar o mundo superior para aqueles que conseguiram purificar o seu corpo espiritual. Para Platão o caminho da alma que se quer elevar é o amor. Na concepção de Platão os seres humanos eram andróginos, ou seja, num mesmo corpo têm-se características masculinas e femininas.

Ao separar as duas metades são como se cada alma ficasse em busca da outra cara metade dela, ou, em busca de encontrar sua parelha. Com isso, o caminho místico para elevarmos nossos espíritos ao plano superior se aproxima mais para aqueles que compreenderem que a Beleza da alma é algo superior à beleza corporal. Aqueles que se prenderem mais ao plano físico estão sujeitos a perecer (a ruínas) assim como o corpo, se estabelecendo como seres inferiores presos no plano material.

Dentro do que é possível aqui na terra, àqueles detentores do saber que mais se aproximam da luminosidade do mundo das essências, adquiridas através das recordações da alma; são os que conseguirão ter uma contemplação mais elevada da Beleza. A sabedoria estaria em saber desfrutar a Beleza e não meramente conhece-la, isso despertaria amores intensos.

A respeito da deleitação da Beleza exposta por Platão, o filosofo Francês Jacques Maritain afirma: “a beleza é essencialmente deleitável: por isso, por sua própria essência e enquanto beleza move o desejo e produz o amor, enquanto que a verdade, como tal, faz somente iluminar.”. Vale ressaltar que para Platão, a contemplação da Beleza era uma recordação (de acordo com a teoria da reminiscência), que informaria todo o pensamento Platônico, não só quanto à contemplação da Beleza, da Verdade e do Bem, como a respeito dos métodos e processos criadores da Arte.

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Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Dor%C3%ADforo

Teoria Aristotélica da Beleza

Aristóteles é um discípulo de Platão, e ele vem colocar sua visão não para subestimar Platão, pois sabe da sua importância para contribuição da Beleza; porém ele vai se opor inteiramente ao idealismo Platônico. Aristóteles vai usar da lógica, da matemática, da estatística para derruba a teoria de Platão. Para Aristóteles é impossível que exista uma matriz no mundo das ideias.  Pela lógica, se nós somos cópias imperfeitas de algo, essa matriz já tem que ser a cópia de outra coisa; ficando assim impossível existir uma cópia perfeita, sem ser cópia de outra coisa perfeita.

Conforme citado a seguir por Ariano Suassuna, em seu livro Iniciação À Estética, a respeito do conceito de beleza para Aristóteles; podemos dizer que para esse grande pensador ao contrário de Platão, não é que exista uma cópia perfeita, simplesmente existem determinadas características que denominam uma espécie. Ou seja, um conjunto de características comuns que se enquadra em determinado objeto ou espécie. A verdade é vista a partir das evidências do mundo. A Beleza vem apenas de certa harmonia ou ordenação, existente entre as partes desse objeto entre si e em relação ao todo. Quanto àquela forma especial de Beleza que mais interessava aos gregos, o Belo, exigia ele, ainda, outras características, entre as quais as mais importantes eram certa grandeza, o imponência, e, ao mesmo tempo, proporção e medida nessa grandeza.

Suassuna, ressalta que para Aristóteles as características essenciais da Beleza seriam a ordem ou a harmonia, e a grandeza; assim como também a medida e a proporção de acordo com influência do conceito grego de Beleza. Outro fato importante a observar é o de que, por ele ser considerado patrono de todo pensamento realista e objetivista ocidental (rompeu com o idealismo Platônico e trouxe um ponto de vista realista sem recorrer a outras coisas para explicar o próprio objeto); não faz com que ele se descuide do sujeito como agente contemplador da Arte e da Beleza. Ele leva em consideração os aspectos psicológicos do sujeito para uma contemplação plena de espirito da Beleza.

      Diante de tantos aspectos vistos por Aristóteles contributivos para o campo da Estética e da Beleza, podemos dizer que as três características principais da Beleza são: harmonia, grandeza e proporção. O que nos leva a ancorar na célebre fórmula dos aristotélicos: “A Beleza consiste em unidade na variedade”.

Teoria Plotínica da Beleza

A teoria de Plotino possui semelhança com a visão de Platão. Faz-se uma crítica ao conceito de Beleza de Aristóteles, onde esse acredita que a beleza é harmonia das partes de um todo. Para Plotino, a beleza não pode ser a harmonia das partes do objeto estético, pois com esse pensamento, as coisas mais simples da vida deixam de ser consideradas belas. Segundo Plotino, a apreciação dos sons musicais, por exemplo, ocorre não somente no conjunto da obra, mais em cada composição dela. O exemplo disso é o som de sinfonia ou sonata, o todo nos agrada, como também o som isolado de cada instrumento é belo.

 Segundo Suassuna, Plotino classificou Artes em dois sentidos estéticos por excelência, sendo esse a visão e audição. Para ele a pintura só pode ser apreciada pelo contato visual, ou seja, uma pessoa que sofre de cegueira, não pode conceber a beleza de um quadro. Como também, alguém que sofra de surdez, jamais poderá sentir a beleza da música. Porém essa classificação, não fale para um poema ou romance, que está ligado ao comportamento e atos humanos. Suassuna afirma que Plotino, era atendo essa questão.

Ariano traz a concepção de beleza de outros pensadores, para dialogar com a teoria de Plotino. Um destes filósofos é o Kant, do qual fala sobre juízo de gosto, e sensação de prazer e desprazer. Do qual Plotino faz relação entre Beleza e o Bem, o Feio e o Mal. Dando maior importância a Beleza e o Bem, mas sem deixar de lado a importância de estudar o Feio e o Mal. O pensamento primitivo e escolástico; Santo Agostinho e Santo Tomaz tiveram grande remanência das ideias de estéticos de Plotino. A partir de toda essa contextualização pensante, surge à teoria do conceito de Beleza, para Plotino, “a beleza não é a harmonia, é uma luz que dança sobre a harmonia”, contraposição à teoria Aristotélica.

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Fonte: http://noticias.universia.com.br/tempo-livre/noticia/2012/11/07/980321/conheca-negra-tarsila-do-amaral.html

Teoria Kantiana da Beleza

De acordo com Kant os juízos de conhecimento emitem conceitos que possuem validez geral, por se basearem em propriedades do objeto. Com isso pode analisar que dentro dos juízos estéticos não conceitos; decorrem simplesmente de reação pessoal do contemplador diante do objeto. Os juízos estéticos e o juízo sobre o agradável é devido à primeira distinção de gosto que tem um princípio determinado puramente subjetivo, e o juízo de conhecimento fornece conceitos de validade geral. Assim sabendo que é preciso distinguir ainda, dentro do pensamento Kantiano o juízo estético e o juízo sobre o agradável, onde, por exemplo, “o agradável é aquilo que agrada aos sentidos, na sensação”.

Devido ao conteúdo da iniciação estética nota se que dentro deste parâmetro, existe algum paradoxo Kantiano sobre a beleza, onde pode notar que o juízo estético é assim ambíguo, comparado com os outros dois. O segundo paradoxo kantiano da beleza vem mostrar a característica da beleza, isto é “universal sem conceito”, onde por tanto se viu um paradoxo que é quando o sujeito emite um juízo estético e não está exprimindo um conceito decorrente das propriedades do objeto, mas apenas uma sensação de prazer que ele experimentou diante do objeto. A segunda característica, aparentemente ambígua e paradoxal, da beleza da satisfação determinada pelo juízo de gosto; “é uma necessidade subjetiva que nos aparece como objetiva”. Tendo todos os homens, necessariamente essas faculdades, cujo jogo, não ligados a conceitos, mas livres, produz a sensação de prazer ou desprazer.

Para bem entender o terceiro paradoxo sobre a beleza, temos que voltar a refletir sobre a diferença entre o juízo estético e sobre o agradável. Pois é preciso entender que quando uma pessoa se alimenta, tem um interesse físico a satisfazer de modo que o prazer causado por esta sensação é um prazer interessado. Nota- se que o sentimento da beleza não procura satisfazer nenhuma inclinação, pelo menos diretamente; é um sentimento puramente contemplativo; não é turvado por nenhum desejo, é um prazer sem interesse.

Kant acha que, quando olhamos para uma locomotiva, não podemos nunca ver ela desinteressadamente, porque temos sempre em vista o fim útil ao qual ela se destina. Conforme os conceitos do qual Kant relata pode então observar de forma que a beleza livre não supõe, portanto, nenhum conceito do que seja o objeto; a Beleza ardente, não só supõe tal conceito, mas supõe ainda a perfeição do objeto em relação a esse conceito. A concepção Kantiana do prazer desinteressado, assim como a satisfação determinada pela Beleza. Resumidamente, Kant considera que belo é o que simplesmente não tem conceito, que é impossível conceitua-lo, na verdade, ao tentarmos conceituar, toda a beleza pode ser perdida. Longe de ser lógico ou racional, o belo é algo subjetivo, sua atração exercida se deve ao sujeito contemplador.

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Fonte: http://deniseludwig.blogspot.com.br/2014/08/pinturas-e-esculturas-das-tres-gracas.html

Teoria Hegeliana da Beleza

A teoria Hegeliana possui uma semelhança com o fundamento platônico e fazendo uma crítica a visão kantiana. De acordo com Hegel o maior pensador idealista alemão do século XIX, onde deu importância de aprofundar e sistematizar com mais rigor o pensamento de Schelling. Hegel define a Beleza como a manifestação sensível da Ideia, assim a unidade da ideia e da aparência individual é a essência da beleza e de sua produção de arte. O autor distinguiu a Ideia e o Ideal, sendo assim a idéia é considerada enquanto em si mesma, é a verdade, e o Ideal que é a Beleza, a verdade exteriorizada no sensível e no concreto, a ideia é a própria realidade, a essência profunda da realidade.

Hegel considera a si mesma, é a verdade, considerada enquanto representada e exteriorizada no concreto, isto é sob seu aspecto estético, é a Beleza, ou Ideal, sendo assim Hegel segue os passos de Schelling a respeito da liberdade e a necessidade. Pode-se chamar, em resumo, liberdade àquilo que a subjetividade contém e pode captar em si mesma de mais elevado. A liberdade é a modalidade suprema do espírito. Ora enquanto a liberdade permanece puramente subjetiva e não se exterioriza, o sujeito se choca com o que não é livre, com o que é puramente objetivo, isto é, com a necessidade natural.

Para Hegel o estado do natural do homem é a contradição e o dilaceramento, não só perante a natureza, mas dentro de si mesmo, entre a parte mais alta e mais nobre de seu espirito e suas paixões, assim a suprema aspiração humana é superar tal contradição, o que só é possível pela comunhão com o absoluto e com a ideia. De acordo com a visão hegeliana do mundo, a Arte, a Religião e a Filosofia são as etapas fundamentais neste caminho do homem a procura do absoluto.

Afirma Hegel que tudo que é real é cognoscível, onde o mundo é dilacerado entre dois extremos: de um lado, as coisas, do outro, a ideia absoluta. Cabe ao homem o destino de ponte entre as coisas e o espírito, ele é uma espécie de campo de batalha entre a natureza e Deus, É ele um ser dividido, dilacerado, por ser um representante do espírito e da liberdade, colocado diante da necessidade da natureza, cega, brutal, indiferente e até hostil a ele. Sendo assim o homem tenta superar a contradição fundamental de seu destino sendo dividido por ser livre, criado para o espírito e a liberdade, vê-se arremessado diante da necessidade da natureza.

Teoria Agostiniana da Beleza

Santo Agostinho supunha que a beleza consistia na harmonia entre as partes, isso não estava relacionado às medidas e proporções do objeto artístico, mas na variedade expressa por ele, isso sim era o que tornava algo belo. Contrariando a concepção dos gregos, que relacionavam o Belo com a Beleza, “a única forma legítima de beleza”, Santo Agostinho diz que a variedade não abrange somente as partes belas, há também os contrários. Belo e Feio fazem parte da variedade, este último é um fator que causa a valorização do primeiro, assim sendo, esse contraste é essencial. A teoria agostiniana supõe que Feio e Mal são intrínsecos, assim como são Belo e Bem, trata-se de uma visão maniqueísta.

Teoria Tomista da Beleza

São Tomás de Aquino não acreditava que algo deveria ter determinadas medidas e proporções para ser considerado belo, como dizia Aristóteles, e também rejeitava os ideais platônicos, ou seja, não há regras que definam algo como belo ou feio. A teoria tomista supõe que para algo ser considerado belo basta um objeto causar deleite ao sujeito que o observa. Se alguém se agrada em ver algo ou ouvir, então esse “algo” é belo, e deve ser aprendido. Portanto, para Tomás de Aquino, o subjetivo do sujeito é que pode considerar algo bonito ou feio, basta que se harmonize com o objeto contemplado ou sinta repulsa.

Afinal, o que é beleza?

Essa pergunta parece longe de ter uma resposta consensual. Como vimos, diversos filósofos se empenharam em responde-la a seu modo. O professor de Estética pela Universidade Federal de Santa Catarina (Ufsc) Celso Braidas esclarece: “Não há uma única definição de beleza que seja consenso entre os filósofos, muito menos entre os artistas. Sobretudo, não há uma única definição que se aplicaria a todas as coisas e acontecimentos que denominamos belos”. Mas o professor acredita que há algumas marcas perceptíveis que tornam algo especialmente atrativo aos sentidos. Se algo é belo, deve haver nele aspectos especiais. De modo geral, essa questão é subjetiva, o que explica tantas distintas respostas a ela.

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Fonte: http://www.infoescola.com/pintura/mona-lisa/

REFERÊNCIAS

SUASSUNA, Ariano. Iniciação à Estética. 1. Ed. São Paulo: José Olympio, 1975. 398 p.

 

Estética, Teoria Aristotélica da Beleza. Disponível em: <http: //www.coisasdeestetas.blogspot.com.br>. Acesso em 04 de setembro de 2016.

 

ZH, A Filosofia da Beleza. Disponível em: <www.zh.clicrbs.com.br>. Acesso em 04 de setembro de 2016.

 

Rua Direita, Conceito de beleza. Disponível em: <www.ruadireita.com>. Acesso em 05 de setembro de 2016.