1, 2 Intervenção no real radar…
Cheiro forte, restos, descuidos, Sol agredindo uma pele envelhecida, inúmeras armadilhas, risos descontidos, brados ao trovão(rá), neologismos, música
Produzir uma torção nos aforismos de uma conjunção de linhas desviantes de forças chamada Estamira Gomes de Sousa.
Desfigurar uma imagem e produzir um duplo completamente dessemelhante, decerto aquém da multiplicidade de cores que circulam esta singular existência
Bradando sua inquestionável onisciência, Estamira experimentou jogar mentiras na cara daqueles que produzem silenciamento ao que ultrapassa a curva da razão: espertos-ao-contrário!
Ela não é comum (a não ser o seu formato-carne, sanguíneo, par), ela é Estamira, a visão de cada um!
Ela não “foi”, pois a morte é o começo de tudo! Ela “é” e sempre “será”, pois existe/existirá como força de afirmação esquizopoiética de existências que não se prostram diante dos microfascismos de uma máquina capitalística de produção de trocadilos
Trocadilos como manifestação de toda forma de aprisionamento, subjugação, controle e violência (Trocadilo-homem, trocadilo-religião, trocadilo-ciência)
Sua lúcida loucura agenciou a criação da onipotência de uma mulher que tinha tudo para esgueirar-se numa vida sofrida, calada, negada, anulada
Torceu suas certezas e produziu linhas de fuga que a permitiram suportar uma realidade devastada por diversos trocadilos
Apontou o controle remoto que ordena os corpos, coadunando nas entrelinhas com as palavras de Artaud ao declarar guerra aos órgãos
Povoada por diversos astros positivos, fez-se a beira do mundo, posto que está em todos os lugares, sobretudo no que vai além da borda, o que trans-borda: o além dos além (lugar onde nossa razão nos impede de ir)
Sua fala é eminentemente política, pois seu delírio poético produz desvios nas verdades sobre DEUS, o homem, a Psiquiatria, a loucura, o lixo, sobre você no que concerne a resistência dos biopoderes produzidos em diversas línguas e nos atravessam cotidianamente
Num eloquente agenciamento coletivo de enunciação, de d’enunciação da opressão e violência, do status quo e das verdades absolutas, devolte tratos antes tragados a contragosto!
Estamira sentiu na pele os manicômios, físicos e mentais que atravessam os médicos-deuses, os remédios-dopantes e até a família.
Estamira desafia DEUS para resistir ao revir do seu devir reativo.
Exclama o potencial microrrevolucionário do devir minoritário, quebrando molaridades e zombando das falas instituídas.
“A doutora passou remédio pra raiva” Risos!
Num transbordo “além dos além“, povoado de forças desconhecidas, vive a atualização das virtualidades reais num imaginário que tem, existe e é!
Delirar para Estamira talvez seja inventar o esquecimento, experimentar o intempestivo presente no Transbordo-do-Fora, o qual nós seres humanos comuns não temos condições, em virtude da nossa insana razão
É preciso experimentar a lúcida loucura de Estamira para subverter a homogeneização do retorno do mesmo, da cela do passado, do fato, feito, fadado ao fim da vida
Estamirizar é diferir, divergir, esfregar nas caras a existência e permanência de um trocadilo que é o próprio microfascismo que está em nós
Estamira não é uma mulher, Estamira é uma força!