Considerando a necessidade em hospedar pacientes e seus acompanhantes que passam pelos hospitais públicos de Palmas/TO, houve a criação da Casa de Apoio Vera Lúcia Pagani. A casa recebe pessoas de todos os municípios de Tocantins, assim como de alguns estados vizinhos. Essas pessoas são encaminhadas pelos hospitais para a casa, que as acolhe, de forma gratuita, apoiando-as em um momento difícil, que envolve a própria saúde ou a saúde de alguém que ama.
Tendo em vista a importância da Casa de Apoio Vera Lúcia Pagani, o (En)Cena entrevistou Elisangela Sardinha Fonseca Cardoso, gerente da casa, que fala do papel social e dos desafios desta.
(En)Cena – Como é formada a equipe aqui na casa de apoio?
Elisangela Sardinha Fonseca Cardoso – O administrativo, que são as pessoas que acolhem. Fazem a acolhida com os documentos que vem de fora, dos três hospitais públicos de Palmas. Nós só podemos receber o público do HGP, Dona Regina e do Infantil. Lá a assistência social faz uma triagem, dessa triagem eles veem todo o parecer social da família, se não tem alguém aqui dentro de Palmas, porque a casa é para os 139 munícipios e outros estados também que são atendidos pela casa de apoio. Então o administrativo são pessoas que vão fazer essa acolhida, vão olhar os documentos, vão ver a respeito dos leitos, das camas. Nós temos esse cuidado, o administrativo pega o documento e o encaminhamento (eles ligam antes para ver se tem vaga). Aqui nós temos 126 camas, então tem que ligar antes para ver se está superlotado. Tem vezes que temos que ligar para o HGP avisando que não tem mais vaga, para não encaminhar mais, porque pode ser uma pessoa que vem hoje e amanhã já vai embora ou pode ser uma pessoa que fica 3, 4 anos, como é o caso de mães que estão com o bebê no Cristo Rei, que é conveniado com o HGP. Então esse administrativo acolhe e tem que ser muito bem direcionado no trabalho de acolhimento com essas famílias, porque recebemos um pouco de cada coisa, como pessoas que recebem um diagnóstico de câncer e estão fazendo radioterapia, ou chega desesperado porque o filho está em uma UTI entre a vida e a morte. O administrativo então é a porta de entrada daqui da casa de apoio, por isso ele fica de plantão. A gente fala plantão porque tem a turma da manhã, a turma da tarde e o vigia que fica a noite.
(En)Cena – O vigia então também faz esse acolhimento?
Elisangela Sardinha Fonseca Cardoso – Faz. A gente prepara todos que vem para cá. Tem uma preparação para fazer pelo menos uma acolhida, tratando as pessoas bem, então eles têm que ser qualificados. Hoje mesmo estamos com um momento de palestra multidisciplinar com fisioterapeutas, nutricionistas, psicólogos, assistentes sociais, porque nós temos que estar bem para atender esse povo. Agora há pouco mesmo, nos deparamos com um senhor que está em estado terminal, vazando sangue pela boca, então temos que chamar logo o SAMU. Se eu não estivesse aqui, o administrativo já está experiente com isso, em fazer esse atendimento. Não só de fazer o acolhimento, de levar até os quartos, mas de explicar as normas. Nós temos uma normativa para eles conviverem bem dentro da casa, pois são pessoas de vários tipos que aqui entram. O administrativo, junto com a gerência e todos aqui, ficam de olho para que tudo ande bem, porque a casa não dorme. Tem pessoas aqui que a casa já virou moradia, devido a situação do familiar que está na UTI em estado permanente. Tem o assistente de serviços gerais também, que ele tem que olhar a casa, ter cuidado com as coisas dentro dos banheiros. A equipe tem que estar de olho e tudo o que acontece é relatado, para a segurança e o bom tratamento dessas famílias que aqui estão. A casa de apoio não foi feita para paciente. Ela é ligada a assistência social da Secretaria de Trabalho do Estado. Ela foi visada para os acompanhantes, pois eles precisam estar saudáveis para acompanhar quem está no hospital. Essa é a visão da casa de apoio. Entretanto, como o quadro oncológico está muito grande no HGP, que infelizmente essa doença, o câncer, está muito aglomerada, abriu-se quartos masculinos e femininos para esses pacientes. Crianças, jovens, idosos, precisam muito da casa de apoio. Uns vem fazer radioterapia e quimioterapia e leva um certo tempo e aqui ficam como se fosse da casa mesmo. Temos que prestar esse atendimento com qualidade.
(En)Cena – Então é um trabalho em equipe mesmo, de forma multidisciplinar?
Elisangela Sardinha Fonseca Cardoso – Isso mesmo. Tem a gerência que cuida do que a casa necessita, questões dos servidores, que são do Estado. Então eu tenho mesmo que gerenciar a casa e levar toda a demanda para a assistência social. Tem o assistente de serviços gerais, que uma cadeira que fica ali jogada no banheiro e deveria estar no quarto, ele limpa, descontamina e coloca no lugar certo, questões de limpeza geral, também fica de olho para o caso de alguém passar mal e ele já pedir ajuda. Acaba que tem bem distribuída a função de cada um, mas todos temos que nos envolver em prol do atendimento geral. É uma equipe, temos que andar juntos pensando na proposta de fazer um bom atendimento para essas pessoas.
(En)Cena – A casa depende de donativos?
Elisangela Sardinha Fonseca Cardoso – O Estado entra com o prédio e a manutenção dele. E como a demanda é tão grande, precisa de apoio da comunidade. Tem a equipe, água, luz, necessidades como móveis, que são pagos pelo Estado. Agora, tem uma questão que é o café da manhã e o café da tarde, que não recebemos pelo Estado, dependemos de doações de parceiros e também o que chamamos de apoio extra, que é o apoio da comunidade. Às vezes tem situações em que as pessoas não têm nem mesmo os produtos de higiene, porque sai com o familiar em situação crítica e não lembra ou não tem tempo para isso. Às vezes vem só com a roupa do corpo, então chega aqui e nós temos que fazer esse papel social. Aí a gente passa para a comunidade, para pessoas que já conhecem o nosso trabalho. A casa em si tem o que precisa para a manutenção dela, mas o extra, os produtos para as pessoas aqui, a gente sempre conta com os parceiros e com os donativos.
(En)Cena – E recebe bem esses donativos?
Elisangela Sardinha Fonseca Cardoso – Nós recebemos, é coisa de Deus. O social, na questão do donativo, tem muito que vem do bem, da humanidade, de Deus. Às vezes nós estamos precisando então a gente liga para algum parceiro, para algum grupo, que já estão acostumados, que sabem do nosso trabalho, que já fizeram algum trabalho na casa também, sabe que a gente tem transparência. Então eles podem fazer essa ajuda também, a gente recebe. A própria comunidade aqui da cidade de Palmas já sabe do trabalho da casa de apoio. Claro que tem períodos que passamos por situações complicadas, mas quando tem a necessidade, nós temos que pedir, ainda mais para as pessoas que nós recebemos, na questão de produtos extras, de higiene principalmente, porque às vezes eles não conhecem nada aqui ou não tem dinheiro para comprar o que precisa. Cerca de 120 pessoas passam por aqui.
(En)Cena – Por semana?
Elisangela Sardinha Fonseca Cardoso – Nós estamos terminando o relatório das entradas e saídas desse ano, estamos com praticamente 13 mil pessoas que passaram pela casa de apoio desde dezembro até agora. Até junho tinha 9 mil. Nós temos tudo isso controlado, os encaminhamentos, entradas, o mapa de alimentação, que são muitas refeições diárias, sem contar com as doações para o café da manhã.
(En)Cena – Então é inquestionável a importância da casa para essas pessoas, na questão física, de ter um lugar para dormir e se alimentar. Na questão emocional dessas pessoas, tem alguma ação voltada para isso?
Elisangela Sardinha Fonseca Cardoso – Temos segmentos religiosos, temos segmentos sociais, com dinâmicas. Estamos com o Projeto Ariana, de uma senhora que é funcionária pública e o grupo de pessoas é voltado para ajudar na questão social, temos o padre que vem dar um apoio espiritual, tem alguns grupos evangélicos que vem, mas eu sempre deixo aberto para quem queira fazer algo, alguma dinâmica. Temos também Canção Nova, que atua tanto no social quanto no espiritual. Então a gente tem um público bem voltado para a área social e também para a área espiritual.
(En)Cena – Tem algo que você sente que poderia melhorar ou acrescentar?
Elisangela Sardinha Fonseca Cardoso – Estamos precisando muito de apoio na questão de artesanato, para as mulheres e para os homens terem alguma coisa para fazer, porque às vezes eles ficam muito ansiosos e às vezes ficam muito tempo aqui. Eu tenho pessoas que querem ser voluntárias, mas aí precisa de material para alguém vir fazer esses cursos, atender essa demanda.