Steven Spielberg: o rei dos clássicos

Você tem alguma lembrança na qual todo mundo se reuniu em casa para assistir filme? Já passou alguma tarde em frente à TV assistindo aquele filme que todo mundo conhece? Se você respondeu sim para alguma dessas perguntas, provavelmente um desses filmes foi dirigido por Steven Spielberg.

O aclamado diretor tem vitórias variadas em seu cartel, desde blockbusters com efeitos visuais avançados como Jurassic Park: o parque dos dinossauros (1993), Tubarão (1975), Contatos Imediatos do Terceiro Grau (1977), Guerra dos Mundos (2005) e a franquia Indiana Jones; a filmes que captam a essência das fantasias da infância como E.T. – o extraterrestre (1982), A. I. – inteligência artificial, Super 8 (2011), As Aventuras de Tintin (2011) e O Bom Gigante Amigo (2016); além dos tocantes dramas com tensões penetrantes como A Cor Púrpura (1985), A Lista de Schindler (1993), O Resgate do Soldado Ryan (1998), O Terminal (2004),  e Cavalo de Guerra (2011).

E agora, lembrou de algum?

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Um talento precoce

Steven Allan Spielberg nasceu no dia 18 de dezembro de 1946 em Cincinnati, no estado de Ohio nos Estados Unidos, filho dos pais judeus Leah Posner Spielberg Adler e Arnold Spielberg. Após a separação de seus pais, Steven ainda criança foi morar na Califórnia com um casal de amigos da família, enquanto suas irmãs Anne e Nancy ficaram no Arizona com sua mãe. Por ser de família judaica, Steven sofria preconceito, apesar de ser um aluno aplicado.

Ganhou sua primeira câmera com 12 anos de idade, e fez seu primeiro longa aos 16. Aos 19 iniciou o curso de Cinema na Universidade da Califórnia, sendo que aos 22 anos teve sua estréia profissional com o curta Amblin, que foi exibido no Festival de Filmes de Atlanta e premiado no renomado Festival de Veneza. O curta abriu as portas da Universal Studios para Spielberg, que passou a dirigir vários filmes para a TV, entre eles o thriller Encurralado (1971), onde um motorista em uma rodovia é perseguido por um caminhão fantasmagórico. O filme foi tão aclamado pela crítica que foi lançado também para cinema.

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Grandes monstros, grandes fortunas

Em 1975, Steven dirigiu o filme que pode ser considerado o pai dos blockbusters: Tubarão. Além de ter sido o pioneiro em uma temática que virou um subgênero do cinema, que são as franquias de monstros marinhos (Sharknado, Piranha, Orca – a baleia assassina, Círculo de Fogo), Tubarão faturou mais de 100 milhões de dólares e virou uma febre mundial, atraindo os grandes estúdios para as superproduções de verão, com grandes investimentos em marketing e efeitos especiais. Essa tendência do cinema americano só cresceu se tornando a tônica dos maiores lançamentos até os dias atuais. Um belo exemplo é o filme de 2015 “Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros”. Continuação de uma franquia iniciada pelo próprio Steven em 1993 e atualmente dirigida por Colin Trevorrow, a película arrecadou cerca de 1,7 bilhão de dólares, e ocupa atualmente a 4° posição entre as maiores arrecadações mundiais.

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Após o lançamento de Tubarão, vieram os bem sucedidos Contatos Imediatos de Terceiro Grau, Os Caçadores da Arca Perdida e os três primeiros Indiana Jones. Porém, sua consagração como um dos maiores diretores da história veio com o lançamento do filme que é considerado por muitos sua obra prima: E.T. – O Extraterrestre, que ano de 1982 arrecadou cerca de 793 milhões de dólares somente na bilheteria.

Mas nem só de monstros vive o diretor. Em 1993, apesar do primeiro Jurassic Park ter a maior bilheteria da década, o filme “A Lista de Schindler” foi aclamado pela crítica por sua sensibilidade ao retratar o sofrimento dos judeus na Segunda Guerra Mundial. Em partes, “A Lista de Schindler” foi um projeto pessoal do diretor, retratando o cruel passado do povo do qual descendeu, projeto esse que lhe rendeu sua primeira estatueta do Oscar como Melhor Diretor.

Criatividade sem limites

Como humanos, tendemos a simplificar ideias. Um exemplo: é fácil pensar que um filme com o tubarão gigante, um dinossauro gigante ou um alienígena gigante tem o potencial de causar medo ou desconforto, ainda que atualmente seja mais curiosidade pela megalomania. Mas na década de 70, quando as pessoas tinham contato com esses conteúdos pela primeira vez, ocorria uma overdose de sentimentos novos, uma verdadeira ressignificação no contato com o cinema. Isso é comprovado pelos valores cataclísmicos de bilheteria. Mas, pense. Esses temas levam pessoas ao cinema até hoje. Muitas pessoas.

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Para cada franquia inacabável que lança filmes cada vez piores (parem de lançar Star War’s e Jurassic Word’s, por favor), existiu um filme inovador que causou um sentimento inédito, e atrás desse filme existiu um diretor que transmitiu através da sua criatividade, algo novo. Para Ostrower (1977), criar é dar formar algo novo, sendo esse “novo” as coerências para a mente humana. O criador possui desse modo, a capacidade de compreender as relações, configurações e significados. Ele é capaz de conectar múltiplos eventos dentro e fora de si, configurando sua experiência de viver em um significado para suas perguntas e respostas (OSTROWER, 1977).

Apesar de a criatividade ser algo inerente à condição humana, em vários momentos de sua história, Spielberg compreendeu as coerências da mente humana e as usou em seus filmes, mas também criando algo totalmente novo, que naquele zeitgeist era inusitado. Portanto, a nomeação de clássico não deve ser confundido com velho, uma vez que os filmes de Spielberg lançaram modelos para os gêneros dos quais fazem parte. Os demais diretores e roteiristas o usaram muitas vezes como referência. O seguiram e o tornaram ainda mais influente, como os vassalos fariam a um rei.

Uma criação, contudo, não se origina de um Big Bang, não vem do nada. Como pontua Ostrower (1977), nós somos o ponto focal de referência da nossa própria criatividade, pois ao relacionar fenômenos nos os vinculamos a nós mesmos, nos orientando de acordo com expectativas, desejos, medo e atitudes de ordem interior. E é nessa busca de ordenação se encontra a motivação de criar.

Steven não teve uma infância tranquila, foi separado de sua família original, de suas irmãs, as quais eram as primeiras atrizes de seus filmes amadores. Sofreu preconceito dos próprios vizinhos por ser judeu. Para Fromm (2000), um dos meios para a superação parcial da ansiedade de separação é a atividade criativa, nela o trabalhador e o objeto tornam-se um, o criador une-se a sua criação que representa o mundo fora dele.

“Mamãe.”
Fonte: https://plbz.it/2vYiYxZ

“A percepção de si mesmo dentro do agir é um aspecto relevante que distingue a criatividade humana” (OSTROWER, 1977, p.2). O agir para Spielberg foi transformar seus filmes em partes, em uma representação de si. A missão de seus protagonistas é quase sempre vencer um desafio, um grande desafio.

Talvez, o expectador sente-se repetidamente na sala de cinema para ver mais um de seus filmes, porque ele próprio tem de se sentir capaz de enfrentar monstros, desvendar mistérios, ajudar alguém que precisa, ainda que você seja apenas uma criança.

Fonte: https://bit.ly/2NSZ3XD

REFERÊNCIAS:

FROMM, Erich; ROSENBLATT, Noemi. El arte de amar. São Paulo – SP: Martins Fontes, 2000.

OSTROWER, Fayga. Criatividade e processos de criação. 1978.