Trolls: implementação de valores na infância

Com uma indicação ao OSCAR:

Melhor Canção Original (Can’t Stop the Feeling).

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Se há algo que todo mundo concorda é que sempre é possível encontrar uma música que representa perfeitamente do que se está sentindo! E, às vezes, elas são grandes influentesnos estados emocionais, como a alegra e a tristeza. Nisso, há quem diga que a vida é digna de uma trilha sonora. E no filme Trolls (2016), dirigido por Mike Mitchell e Walt Dohrn e produzido por Dannie Festa e Gleen Berger, esta ideia é muito bem ilustrada.

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Os trolls são criaturinhas fofas, coloridas, de cabelos metamórficos e muito felizes (muito mesmo)  que resumem suas vidas em cantar, dançar e abraçar. Visualmente, elas evocam as características dos Os Smurfs (2011) e destoam consideravelmente das ilustrações de trolls gigantes, selvagens e monstruosos apresentadas em Harry Potter e a pedra filosofal (2001), O Senhor dos Anéis: o retorno do rei (2003) e Os Hobbits: uma jornada inesperada(2012). Assim, os novos trolls descontroem todos os conceitos prévios sobre seu povo e sua forma de viver, neste contexto eles são os duendes da sorte (aqueles que você com mais de 20 anos já colecionou em sua penteadeira) e vão cativando o telespectador infantil ao decorrer do filme.

Trolls em Harry Potter e Senhor dos Anéis
Trolls em Harry Potter e Senhor dos Anéis

Como a maioria das animações infantis sobre comunidades distintas em Trolls também há quem banque os vilões e o outro grupo que são suas vítimas. Aqui os vilões são os Bergens, monstros que estavam sempre amargurados, não sabiam cantar, nem dançar e tão pouco abraçar. Um dia sentiram inveja da felicidade que os trolls possuíam e um dos Bergens comeu um troll e sentiu tanta felicidade, consequentemente espalhou-se o mito que um Bergen só encontraria a felicidade apenas dessa forma. Daí surge o Trollstício, comandado pela Cheff de cozinha, onde Bergens aprisionam os coloridinhos para comê-los num dia especial no intuito de sentir a tal felicidade.

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A incessante busca pela felicidade não é peculiar dos Bergens, para Dai Lama tal busca está presente na humanidade como objetivo de vida (2000). Segundo Ferraz et al (2006) “a felicidade é uma emoção básica caracterizada por um estado emocional positivo, com sentimentos de bem-estar e de prazer, associados à percepção de sucesso e à compreensão coerente e lúcida do mundo”. E Comte-Sponville afirma que o que falta para ser feliz quando se tem tudo é sabedoria, pode-se inferir que isso era algo não muito presente nos Bergens.

Vinte anos depois de fugirem dos Berngens, a princesa dos trolls, Poppy (Anna Kendrik), dá a maior festa (quase uma rave) de todas para comemorar a libertação. Isso chama a atenção da Cheff banida pelo seu grupo por causa da fuga dos trolls) e esta vai capturá-los, grande parte se esconde, mas os amigos mais próximos de Poppy são levados. Tal possibilidade de a festa atrair os Bergens foi cogitada pelo único troll triste, descorado, “paranoico” e ignorado pelo grupo, chamado Branch (Justin Timberlake).

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Do mesmo modo, Briget (Zooey Deschanel), a camareira real, é uma raridade entre os Bergens, pois com seu jeito meigo e submisso acredita que existe outra forma de encontrar a felicidade, para ela seria o reconhecimento e a correspondência do seu amado crush príncipe Grisel. Esta personagem é uma referência ao conto da Gata Borralheira, mais conhecida pelo público atual como a Cinderela.

Poppy, a princesa que nunca havia enfrentado dificuldades na vida e sempre se matinha otimista, decide resgatar os amigos indo até a cidade dos Bergens, acompanhada de Branch com todo o seu pessimismo. É gritante a dicotomia entre a felicidade e a infelicidade durante o longa, marcada pelas cores, brilhos e sobretudo nas canções. Porém, aos poucos os mocinhos mostram que é possível ter momentos de felicidade quando se cultivam práticas na vida que propiciam emoções alegres. Ainda, contrapõem a ideia dos heróis devem vencer os vilões, mostra uma nova perspectiva de que é possível ensiná-los o respeito, e no caso a serem felizes, transmutando-os dos papéis de vilões para amigos dos mocinhos.

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Esta obra da DreamWorks, que é encantadora ao público infantil e previsível ao público adulto, faz mérito ao seu gênero: comédia musical. Além de uma aquarela de pigmentações, alta qualidade cinematográfica 3D e canções perfeitamente arranjadas às cenas em que as músicas conseguem traduzir os sentimentos, o que se sobressai na obra são os valores (morais e imorais) embutidos em cada personagem. A solidariedade e perseverança do Rei Pepe (troll); o otimismo e resiliência da Princesa Poppy; a liberdade, união e respeito com os trolls; o desrespeito e alienação nos Bergens; o empoderamento em Briget; a corrupção em Creek; e a perseguição ao poder na Cheff.

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Destarte, Trolls é um filme para a família inteira assistir e que auxilia os pais na exemplificação dos comportamentos adequados e inadequados perante ao meio social. Vale ressaltar que do começo ao fim nos produz desejos de cantar, dançar e, especificamente, repensar a nossa busca pela felicidade, se esta está sendo alcançada em decorrência ao sofrimento do outro ou não.

REFERÊNCIAS:

COMTE-SPONVILLE, A.A Felicidade,desesperadamente. Martins Fontes. São Paulo, 2001.

DALAI LAMA, H.H, e HOWARD, C. Cutler, M.D. A arte da felicidade. Martins Fontes. São Paulo, 2000.

FERRAZ, Renata Barboza; TAVARES, Hermano; ZILBERMAN, Monica L..Felicidade: uma revisão. Rev. psiquiatr. clín.,  São Paulo ,  v. 34, n. 5, p. 234-242,    2007. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-60832007000500005&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 25  de fevereiro de 2017.

FICHA TÉCNICA DO FILME:

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TROLLS

Diretores: Mike Mitchell (V) e  Walt Dohrn
Elenco: Anna Kendrick e Justin Timberlake
País: EUA
Ano: 2016
Classificação: Livre