Conversava com um amigo sobre coisas rotineiras do dia a dia, quando ele afirmou categoricamente, “O problema é que sou bipolar, sempre começo as coisas e não as termino…”.
Eu me ri, e disse: “Acho que você quis dizer que você é inconstante, não?”.
Ele retrucou: “Mas é que bipolar é mais bonitinho…”.
E começamos a rir juntos.
Quem diria… Houve um tempo em que sofrer de um transtorno mental era vergonhoso. Por séculos a sociedade escondeu “o diferente” em asilos psiquiátricos. Mas hoje me dia as pessoas não se importam, e vestem-se do sofrimento mental porque é bonitinho, e está na moda.
Há um consenso coletivo das massas de que: Depressão, Transtorno Bipolar, Estresse, Transtorno Compulsivo Obsessivo (TOC) e Síndrome do Pânico estão em alta. É elegante e chamativo sofrer de um ou mais desses transtornos.
E o que falar das Psicopatias e da Esquizofrenia? Viraram sinônimo de comédia e divertem centenas de pessoas em forma de piada e/ou jargões na boca de comediantes da TV aberta.
A Hiperatividade por sua vez, é o mal do século desse ano… Quem é que não tem um filho, sobrinho, enteado ou filho do vizinho que sofre desse mal?
As pessoas ficam se diagnosticando a bel prazer, quem sabe já até não se medicam? Afinal, não é difícil ver na teledramaturgia um personagem ou outro que exibe uma cartela de comprimidos que precisa tomar para dormir, assim mesmo, como um troféu!
É uma carência generalizada meu povo, e tudo é válido só para receber atenção.
A quem devemos culpar?
Mas deve-se culpar alguém?
É o movimento das massas, do grupo. E nas palavras do celebre pai da psicanálise:
Um grupo é impulsivo, imutável e irritável. É levado quase que exclusivamente por seu inconsciente […] não pode tolerar qualquer demora entre seu desejo e realização do que deseja. Tem um sentimento de onipotência: para o individuo num grupo a noção de impossibilidade desaparece. (CORRÊA e SEMINIOTTI, 2005, p. 144, apud Freud, 1921:101).
O Simão Bacamarte de nosso tempo certamente iria interditar o ser crítico. Afinal quem é louco de questionar o sistema? Fica aqui a reflexão e o convite a repensar nossa postura como sujeitos ativos e cheios de vontade frente à sociedade, para além de um idealismo, a fim de alcançarmos a real construção do mundo que queremos.
Referência:
CORRÊA, Juliano; e SEMINIOTTI, Nedio. Contratransferência do psicólogo coordenador de grupos. Psic. Clin., Rio de Janeiro, vol. 17,nº2, p.141- 155, 2005.