Livro mostra a ambiguidade entre amor e desamor

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Poesia provocativa de Gisele Lemos mostra os dois lados do sentimento

A crença no amor, que cria atitudes em prol da vida humana e da natureza, e a solidão provocativa do amor. É por esse caminho que a poeta Gisele Lemos, de pseudônimo Diana Balis, deseja que o leitor atravesse em seu novo livro: “Grave & Agudo. Poesias de Amor”. O lançamento será no dia 11 de agosto, no stand da Perse Editora durante a 25ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo.

 Segundo Gisele, a intenção é criar diversos tipos de sensações, inclusive de desconforto. Para ela, o “amor é como dar linha na pipa, você solta e o deixa livre, à espreita da liberdade, do voo e do reencontro”. A escritora diz que a obra também serve como um grito de luta para quem precisa reagir a sentimentos não correspondidos.

 – Vivi o amor platônico através da solidão de um quarto fechado. Foi quando me vi diante da crise de sentimentos, a ambiguidade e sobrevivi por amor à vida. Aprendi que o amor abre portas, mas bloqueia a pessoa quando se cala. Por isso, precisamos aprender a reagir ao desamor – desabafa.

 O livro recebe influências de autores consagrados como Gabriel García Márquez, Clarice Lispector e Carlos Drummond de Andrade. Para Gisele, esses escritores são grandes mestres em apresentar “retalhos” de sentimentos em suas obras, seja por meio de poemas ou da história de seus personagens. “O Amor nunca perde a vez. É um jogo que nem sempre se ganha, mas está sempre na moda”.

 

Fonte: https://goo.gl/LssGKf

Sobre a autora

Gisele Lemos é psicóloga, poeta, diretora do Conto & Cena e Editora da Poesia Revista. É ainda membro da Associação Profissional de Poetas no Estado do Rio de Janeiro (APPERJ), das Academias Literária Internacional (ALPAS 21),  de Letras e Artes Buziana  (ALAB), de Letras e Artes de Fortaleza e da Academia Virtual dos Poetas de Língua Portuguesa.

 Participa de 15 Coletâneas nacionais e internacionais como escritora.  Publicou os livros “O signo do amor”, “Cometa” (Livro CD gravado em áudio), “Verdes e Perfeitos amores” e “Se par ação de Mer cú rio”.

Ficha técnica

“Grave & Agudo. Poesias de Amor”

Fonte: https://goo.gl/gxpRtf

Editora: Perse Editora.

Categoria: Poesia Contemporânea Brasileira. 

Páginas: 74


Participações : Diana Balis (Autora), Rui de Carvalho (Diagramação) ,Maximiliano Sanz Balsells (Colaborador) 

Lançamento: 11/08/2018

Local: 25ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo

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Os objetos de amor do livro “A arte de amar” de Erich Fromm

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O autor expressa por meio deste subtítulo os tipos de amor, relacionando-os com os seus objetos de amor. Pode-se começar citando que antes de adentrar cada um dos temas o autor ressalta o que ele já vinha defendendo durante todo o capítulo a necessidade de se ter um amor maduro que seja representado por amar todo mundo através de uma pessoa e amar a si próprio também por meio deste. Como o primeiro tipo de amor se trata do amor fraterno que se caracteriza por ser um amor entre iguais, um amor de caráter responsável, não exclusivo, cuidadoso, respeitoso, não é centrado em uma só pessoa uma vez que posso amar todos os necessitados da minha ajuda. Tem como objetivo o desejo de melhorar a vida de outro ser humano que esteja fora do seu ciclo próximo de convívio.

Ele é expresso por ser uma experiência de união com todos os outros homens e também como uma experiência de solidariedade e reconciliação humana. No entanto não é dada como “valida” a experiência se for com pessoas que você tem contato de convívio, este amor se relaciona a ser um amor aos desamparados. Como o autor mesmo cita as ordenanças bíblicas de amar as viúvas, os órfãos, os pobres e os estrangeiros, no sentido de serem pessoas que não servem de “nenhuma finalidade” para você. Seguidamente vem o amor materno, que também já havia sido abordado no decorrer no capitulo na construção do amar a partir das perspectivas de amor materno e do amor paterno. O amor materno se caracteriza por ser um amor de desigualdade, onde um necessita de toda a ajuda que o outro pode dar, amor ao desamparado. Não restrito a uma pessoa, pois a mãe pode ter mais de um filho e amar a todos eles.

Fonte: https://goo.gl/zRkk7b

Neste contexto de tipos de amor são ressaltados primeiramente os dois aspectos deste amor na vida da criança. O primeiro aspecto diz respeito a responsabilidade que a mão tem com a preservação da vida e do crescimento desta criança. Já o segundo demostra um aspecto além da preservação da vida deste individuo, mas também o amor à vida. Nisso o autor ressalta a importância de a mãe demostrar para o seu bebe o quanto é bom estar vivo, coabitar na terra, é bom ter nascido. O amor da mãe tem um efeito profundo e significativo na vida da criança, o autor coloca que “o amor da mãe pela vida é tão contaminador quanto sua ansiedade” (FROMM, 1956, pg. 62). Fromm ainda defende o caráter narcísico e o desejo de posse que o amor da mãe pode acarretar, enquanto criança é sentida pela mãe como parte dela, o amor e o encantamento do bebe alimento o narcisismo materno e o seu estado de indefesa e sujeita a vontade da mãe alimentam a satisfação de uma mulher dominante e possessiva.

Após este ponto, Fromm já define a diferença entre o amor erótico e o amor materno, onde duas pessoas se tornam uma em um e uma pessoa se torna duas no outro, respectivamente. Isso delineia o fracasso de muitas mães, pois elas não conseguem se desapegar de seus filhos durante o processo de separação e continuar amando-o após isto. Esta mulher que se apresenta narcísica e dominadora tem dificuldade de continuar sendo amorosa depois deste processo, o que era mais fácil enquanto seu filho era pequeno. O amor erótico é a busca por uma fusão completa com uma pessoa. Tem como características ser exclusivo, não universal, de contato, principalmente, sexual.

Fonte: https://goo.gl/oAAD3P

O ciclo do amor erótico se inicia quando um indivíduo procura amor em uma pessoa, esta pessoa em algum momento se torna intima, conhecida, tão conhecida quanto a ele mesmo, se tornando uma pessoa já explorada, esgotada de conhecimento. A relação, que antes era intensa, se torna cada vez menos intensa levando o casal a ter desejo por uma nova conquista, um novo amor, na ilusão de que este será diferente dos anteriores, recomeçando o ciclo. O desejo sexual empregado nesse tipo de amor é mais do que apetite físico, pode ser também ansiedade da solidão, vaidade, desejo de machucar, desejo de conquista, sempre vem mesclado a uma emoção forte, tornando o amor (no caso o amor maduro) apenas uma dessas emoções/motivações.

Este amor é facilmente confundido com relação possessiva devido à sua característica de exclusividade, porém este amor na verdade é de sentimento egoísta das duas partes. São apenas duas pessoas que se identificam uma com a outra, que buscam superar a experiência da solidão, superar seu estado de separação. Separação esta que o autor coloca no início do capitulo como homem e mulher que se buscam como respostas de questões emocionais, existenciais e biológicas. Inclusive coloca de forma figurada que ambos eram um só e foram colocados em estado de separação com o objetivo de se buscarem para serem salvos deste estado.

Neste momento o autor faz uma comparação do amor erótico com o amor maduro que ele vem defendendo durante todo o capítulo, pois no amor erótico se experimento a essência do ser de outra pessoa a partir do amor à minha própria essência. Expõe que o amor erótico deixa de lado o valor vontade que o amor maduro tem onde se ama por decisão, por juízo, por promessa e não apenas por um sentimento forte. O amor deveria ser essencialmente um ato de vontade, de decisão de comprometer minha vida inteiramente com a da outra pessoa. É isso, na verdade, que está por trás da ideia da indissolubilidade do matrimonio […]” (FROMM, 1956, pg. 69).

Fonte: https://goo.gl/BSdiU8

Entrando no amor a si mesmo já se depara com a fala de Calvino que põe o amor próprio como um erro, como se ele fosse uma peste, pois ele compara o amor próprio com o narcisismo de Freud, onde a libido é direcionada para si mesmo. Fromm segue com suas explicações defendendo que o amor a si mesmo é exatamente o posto a isto. Seu primeiro argumento é embasado novamente na bíblia onde cita o versículo “E o segundo [mandamento], semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. ” (Mateus 22:39) que para ele ilustra exatamente a questão de que o respeito, amor e a compreensão de si mesmo não pode ser separado do respeito, amor e compreensão do outro.

Para Fromm as atitudes em relação a nós mesmos e aos outros são conjuntivas, para ele “o amor […] é indivisível no que concerne à conexão entre objetos e nosso próprio ser” (FROMM, 1956, pg. 74). Uma vez que o esforço ativo para o crescimento e felicidade da pessoa amada arraiga a nossa própria capacidade de amar, o poder de amar. Logo, o seu “eu” é objeto de amor tanto quanto outra ´pessoa é. Essa conduta já diferencia o amor próprio do egoísmo, pois o egoísta só se interessa por si mesmo, pois não tem prazer em dar. Ao mesmo tempo que na verdade ele é uma pessoa que se odeia, ela é necessariamente infeliz, pois sua suposta preocupação consigo mesma nada mais é do que uma tentativa de compensar o seu fracasso em cuidar de si. Eles são incapazes de amar os outros, mas também são incapazes de amar a si.

Fonte: https://goo.gl/1C83V2

Também é comparado o amor próprio com a abnegação neurótica, que se caracteriza por ser aquela pessoa que não quer nada para si, rejeita qualquer valor ou bem para si mesma, abre mão de viver para si e vive apenas para os outros. Essa pessoa, na verdade é infeliz, pois tem seu relacionamento com os mais próximos fracassada. Por estas questões que Fromm defende o amor próprio como forma de garantia de que aquela pessoa tem condições de amar. E para mim, a frase que melhor sintetiza todo esse subtópico do capitulo seria a citação que o próprio Fromm faz de Mestre Eckhart. A citação engloba bem o sentimento que Fromm demostra ter ao trazer a questão dos tipos de amor e seus objetos, pois o cuidado que ele tem culmina neste último tópico do amor próprio. Por exemplo no amor materno, que se a mãe tiver amor próprio ela evita passar para o filho ansiedades e questões que podem se apresentar cada vez mais profundas se não evitadas.

No amor fraternal onde se cuida do próximo por caridade e igualdade, se você não demonstrar ser uma pessoa de bem consigo mesma, o próximo não sentirá o amor que você está tentando expressar. Fromm dá o exemplo do que significa de fato ser rico quando está fazendo as definições do “dar” no início do capitulo. Ele coloca que o rico é aquele não é mesquinho ao dar, pois ele se experimenta como alguém que é capaz de se entregar aos outros (FROMM, 1956, pg. 30). Estes são dois exemplos que culminam neste último sentimento que me foi passado no momento da leitura e como encerramento da síntese eu deixo a citação de Mestre Eckhart também para reflexões posteriores.

Fonte: https://goo.gl/XRR3w6

Se você ama a si mesmo, você ama todos os outros tanto quanto a si mesmo. Se você ama outra pessoa menos do que se ama, na verdade não conseguirá amar a si mesmo; mas, se você amar a todos, inclusive a você, igualmente, então amará todos eles como se fossem uma só pessoa [..] “ (FROMM apud ECKHART, 1956, pg. 78)

Referência

FROMM, Erick. The Art of Loving. [s. L.]: Harper, 1956. 133 p.

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Os relacionamentos amorosos frente às formas de consumo

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Buscaremos neste ensaio relacionar diferentes idealizações do amor com o atual cenário social, onde cada vez mais nós seres humanos temos dificuldades para se relacionar com o outro, e muitas vezes buscamos no amor uma salvação para a nossa estagnação. Essa ideia de salvação é passada para nós através de vários meios de comunicação, como a música, literatura e teatro, por exemplo, trazendo consigo uma idealização muito clichê do amor, que acaba muitas vezes distorcendo o seu verdadeiro significado e impedindo que o sintamos como de fato ele é.

Acabamos em diversos casos vendo o amor ou a pessoa amada como um produto, que ao ser consumido propiciará um sentimento de êxtase, felicidade e completude, ocasionando assim uma busca incessante por um amor idealizado e perfeito que projetamos em nossas mentes. Porém tal amor pode nunca ser encontrado, nos trazendo assim tristezas e decepções ao longo da vida. Contudo fica muito difícil praticar a arte de se relacionar, dificuldade essa causada por nossas projeções e idealizações errôneas do amor. Tudo isso graças a esse leque de informações que nos são passadas, informações que muitas vezes estão baseadas nas vivencias dos outros, e não em nossas próprias experiências.

Dessa forma, esquecemos que o amor não busca a satisfação de apenas um ser, e que não se pode sugar tudo de uma pessoa até que ela fique em exaustão, e depois ir em busca de outrem para repetir o mesmo processo, perpetuando um ciclo de vazio e infelicidade.

O relacionamento a dois é muito amplo e complexo, a final cada um de nós traz consigo uma subjetividade, algo que nos diferencia em gostos e escolhas.Isso ocorre devido a vivência particular de cada um, por isso a dificuldade tão em tentar chegar a um ponto de equilíbrio, equilíbrio esse moldado e redefinido a cada dia dentro de um relacionamento.

Fonte: goo.gl/ip3F7X

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Nos dias de hoje o amor é visto de uma forma superficial e clichê, devido ao esgotamento de sua retratação nas indústrias cinematográfica, musical e literária. Olhando assim é difícil encontrar uma originalidade no amor dentre suas diversas formas de expressão, pois em geral ele é um assunto epidêmico e democrático em diversos pontos de vista, dentre pessoas que são leigas, de grande intelecto e filosóficas.

Segundo (DONÉ, 2016) exemplos de uma indústria cultural se encontram nos meios das produções com reflexos índie, cool, alternativo, romances, peças, roteiro, pesquisas, e análises. Sendo assim o núcleo do amor vem de todo lugar e pensamento discutido, contemplado tanto por filisteus e pelos intelectos mais exigentes, como os eruditos, os hedonistas incontroláveis, e estoicos resignados.

Em meio a tantas formas de expressar o amor, fica cada vez mais difícil de distinguir e visualizar algo novo, uma forma original desse objeto tão significativo para o ser humano. Mas acredite, haverá algo novo para se desfrutar, em uma relação amorosa onde o casal participe uma da vida do outro, de uma forma harmoniosa e prazerosa, se tornando importante e muitas vezes estimulante.

Um relacionamento a dois pode ser de infinitos modos e jeitos, isso dá-se à subjetividade de cada um dos indivíduos que formam esse par, tendo em vista que cada pessoa deve se adequar ao outro procurando uma forma de equilibro em meio as suas diferenças. Tornando o relacionamento harmonioso e prazeroso para cada uma das partes envolvidas.

Fonte: goo.gl/TF8YvE

O senso comum mostra o amor de uma forma popularesca através de obras de consumo que por sua vez são pobres intelectualmente, formando uma idealização muito superficial e generalista do amor. Tendo em vista essa forma generalizada, muitas pessoas enxergam o amor como um salvador, um meio de se livrar de seus problemas, de obter felicidade extrema, de acabar com a tristeza, de alcançar felicidade.

Mas, existe outro polo desse amor totalmente oposto, onde até mesmo pessoas muito intelectuais e por muitas vezes mal-amadas tratam esse assunto com uma decepção muito grande, como uma forma ruim de tristeza que não seria correta, isso devido as suas vivencias e decepções. Em muitos casos de pessoas é evidente que o amor se torna uma frustração, algo que incomode a pessoa, afinal quando gostamos de alguém esperamos a reciprocidade e quando isso não ocorre temos sentimentos ruins. Da mesma forma de quando temos um amor correspondido e em algum momento por motivos seus ou da outra pessoa esse sentimento não é mais recíproco, trazendo tristeza, vazio interno e decepções , visto que projetamos nosso futuro em conta de tal emoção.

Para algumas pessoas que tentam descrever o amor, ele é colocado como uma forma hostil, e muito ameaçadora. Não podemos julga-las por suas vivências, porém devemos ter bastante cuidado com as formas clichês que são transpassadas. Afinal o amor tem que ser sentido por nós, através de nossas experiências, para então ser pensado, falado e debatido com cuidado, lembrando sempre que o amor é relativo em cada situação.

O amor nos dias de hoje é tratado por muitos como uma forma de consumo, isto se dá devido a todos os sentimentos de satisfação que ele proporciona. As pessoas passam cada vez mais a vê-lo como um objeto de felicidade intensa, achando que ele será perfeito da forma como pensa, ou que se adaptara à maneira que melhor lhe convém.

Fontw: goo.gl/uBreJz

A grande questão para quem vê o amor dessa forma consumista, é que ele acaba tratando o parceiro de maneira descartável, uma vez que este só serve para me trazer prazer. No primeiro momento que essa relação consumista não for mais prazerosa ela irá acabar, pois ela já não cumpre o seu único dever, que é o de satisfazer tanto emocionalmente quanto fisicamente um ser vazio, que desesperadamente está à procura de um amor utópico onde tudo será sempre perfeito.

O que muitos estão procurando nas relações amorosas é algo que na verdade não é o objetivo da mesma. Várias pessoas estão se relacionando para tentar preencher vazios em suas vidas, ou até mesmo como solução para a vida, e ao se relacionar com tal objetivo o fracasso da relação pode ser dado como certo.
A pessoa entra assim na vida amorosa crendo que ela será sempre linear, não apresentará nenhuma complicação, o parceiro sempre estará de acordo com o que pensa, mas isso não passa de uma ilusão que esse ser monta, para poder ter seu momento de êxtase ao consumir o amor.

Mesmo que quem procure o amor nesse modelo consumista consiga um pequeno momento de êxtase, que é o que ele de certa forma procura, enquanto ele estiver nesse ritmo de busca a um amor perfeito, como o dos filmes ou das músicas, dificilmente encontrará a felicidade (ao menos no lado amoroso da vida). Ele não sentirá o amor como uma grande comemoração da vida, ou jamais terá uma concepção desse sentimento como a de Erich Fromm (1900-1980) que diz que quando se ama de forma verdadeira um ser, ama-se então todos os seres, o mundo e a vida.

Assim fica firmado que muitas pessoas terão dificuldades em sua vida amorosa, e por conta disso terão um vazio em suas vidas pelo simples fato de não saberem se relacionar com outras pessoas, por ter sempre um olhar individualista sobre o amor.

Para entender o porquê de as pessoas possuírem dificuldades para se relacionar e são individualistas em vários âmbitos de suas vidas, inclusive no amor que é o mais importante para tal ensaio, temos que compreender que todo o atual contexto seja econômico, político ou cultural está sempre focado na individualidade, onde o eu está sempre centralizado. Como cita (MANZANO, 2016 p. 91) “o altruísmo, a valorização do próximo, a ética, a preocupação com a política, tudo isso fica de lado; afinal, são questões que envolvem o próximo, o outro com quem temos que conviver e com quem formamos um conjunto.”

Fonte: goo.gl/ANksdk

Não foi de repente que a sociedade passou a se portar dessa maneira, isso foi uma transformação social que se passou em um momento recente da história e vários pensadores ajudaram a moldar esse pensamento individualista na atual sociedade, sendo alguns exemplos Friedrich Nietzsche (1844-1900) e Sigmund Freud (1865-1939).

Entendendo essa questão social fica mais fácil entender o porquê que tantas pessoas na atualidade só vivem um “amor” mais vazio e consumista, apesar de muitas vezes quererem sim um dito amor verdadeiro, que como citado anteriormente seria uma celebração da vida. O problema é que mesmo buscando uma relação mais duradoura e firme, a individualidade da atual sociedade é muito impregnada na maioria das pessoas, e todas as relações incluindo a amorosa, acaba por existindo de uma forma mais supérflua em sua maioria.

Assim é mais difícil julgar quem busca tais amores passageiros, uma vez que tal busca é só um reflexo do individualismo da atual sociedade. E mais fácil encontrar um problema nas relações amorosas supérfluas da atualidade, uma vez que é claro que uma relação amorosa para ser prazerosa para ambas as partes envolvidas, o Eu não pode ser o centro da questão. Assim fica fácil dizer que as relações amorosas não devem ser individualistas, onde o eu e o prazer de um fica em foco, mas que sim devem ser plurais, onde ambos os envolvidos irão se entender, resolver problemas, compartilhar o amor, e amar o mundo.

Em meio a todas essas formas de amor, sendo clichês ou de consumo, é evidente as dificuldades que surgem para que haja interação entre as pessoas. Seus relacionamentos estão ficando cada vez mais fracos e frágeis, de difícil confiança no relacionar-se com alguém, a desconfiança muitas vezes toma conta da pessoa, não se consegue mais entregar-se e nem mesmo se dá um espaço para que o outro tenha ao menos uma chance de mostrar seu valor e suas boas características.

O conhecer virou superficial olhando-se apenas as aparências externas e sociais, aparências sociais muitas vezes vista também somente pelos meios tecnológicos das redes-sociais, o conhecer alguém não é mais conhecer de verdade, não se sabe mais coisas intimas de alguém e muitas vezes ao menos nos preocupamos em saber isso da pessoa, afinal nossas vidas já são corridas demais em meio aos trabalhos, estudos e problemas internos para nos preocupar com os dos outros. Então acabamos por esquecer que compartilharmos nosso sentimentos e dificuldades é muito importante para a vida e para saber lidar com os problemas do dia a dia, e por isso nos sentimos cada vez mais sozinhos e vazios como se o amor estivesse “esfriando”, mas também não estamos fazendo nada para aquecê-lo.

Fonte: goo.gl/m7ejhf

Para um relacionamento a dois, em meio a todos esses pensamentos que nos norteiam, é difícil o manter, as pessoas o iniciam mas logo e por motivos supérfluos e egoístas acabam o mesmo, o traço da individualidade atrapalha muito nesses pontos, o fato de esperar a adaptação do próximo ao invés de entendermos ele e procuramos nos adaptar acaba com as chances de o relacionamento ser duradouro, pois para se ter um relacionamento a dois saudável e que dure, ambos devem reconhecer a problemática do casamento ou namoro, e certas atitudes podem acabar com um relacionamento assim como também podem salva-lo ou mantê-lo.

O amor entre duas pessoas não é um mar de rosas, precisamos entender o próximo e sua particularidade dentro de vários pontos como, a rotina do casal, os familiares e diversos ambientes do qual cada um frequenta. Por exemplo o ciúme, que dá muitas dores de cabeça e o egoísmo, são pontos que quando bem trabalhados dentro da problemática do casal, muitas vezes torna o relacionamento mais saudável e duradouro.

A reflexão diária sobre esses assuntos é de extrema importância para as nossas relações, somente cada indivíduo saberá o que será melhor para o seu relacionamento e isso não será encontrado em livros, canções, filmes ou peças teatrais. Devemos então fugir do amor que nos é imposto, que é genérico e superficial, desfocando o modo certo de enxergar esse amor e muitas vezes sem bases sentimentais. A partir desses aspectos procuremos então o amor natural, concentrando-se no que de fato é importante para equilíbrio e harmonia de ambas as partes dentro de um relacionamento.

Com a fundamentação de um relacionamento o mesmo passará a ser mais próspero e feliz, porém não serão evitados momentos de tristezas ocasionando altos e baixos dentro da relação, com saltos de euforias e felicidades para tristezas e decepções. Não existe uma formula mágica para um relacionamento, mas sim meios e formas para passar por todas as etapas difíceis e boas, evoluindo com fortalecimento, adquirindo experiências e mais conhecimento para etapas futuras.

Para quebrar essa barreira que não permite que vivamos todos esses estágios de um relacionamento e de fato sejamos capazes de conhecer nossos parceiros, é necessário que quebremos um pouco a individualidade dos dias atuais, e assim nos permitamos expressar coisas mais pessoais para que também recebamos informações que serão confiadas somente a nós. Isso não garante que se terá um namoro ou casamento perfeito, mas de fato é um bom começo.

Fonte: goo.gl/zKhZXy

CONCLUSÃO

Portanto, com o estudo desse ensaio vimos o quão difícil é, e como está ficando cada vez mais, relacionarmos com o próximo, tendo em vista o relacionamento a dois como alvo principal, e a visão de amor que temos e que o mundo nos proporciona nos dias de hoje em meio a todas as formas de informação.

O amor de tanto ser falado e discutido de inúmeras formas acabou se tornando clichê e, portanto, até mesmo para os mais intelectuais e experientes no assunto fica difícil encontrar uma nova abordagem e formas de discussão sobre o assunto. E por muitas vezes tal assunto é tratado de forma errônia e manipuladora, levando as pessoas a terem visões destorcidas do amor, promovendo uma busca por um amor inacabável e inexistente que leva muitas vezes a decepções esmagadoras, ou incentivando a descrença no amor, tendo uma menor procura pelo sentimento.

Outra visão, é a de consumo desse sentimento, fazendo com que pessoas criem uma imagem supérflua do amor, de perfeição, imagem essa que não existe, trazendo consigo amores passageiros dos quais a pessoa salta de amor para amor em busca do que lhe foi comercializado. Assim vemos na atualidade um amor mais vazio e consumista, uma forma individualista do amor, esse que se preocupa só consigo mesmo, e não com o outro e seus sentimentos, tornando assim mais difícil julgar quem busca um amor natural e verdadeiro, de quem busca um amor comercial e supérfluo.

Font: goo.gl/sDboQ1

Então, percebemos que para alcançarmos um relacionamento saudável necessitamos de muita reflexão interna de nossas ações para com o próximo, buscando adaptação a diversas situações que uma relação nos promove, visando melhorias e evoluções para o casal e sempre lembrando que o relacionamento a dois não é somente alegria, nele haverá também tristezas e dores. A reflexão dos nossos atos como pessoas dentro da relação não é uma formula para que não aja discussões, brigas, intrigas e dores entre as duas pessoas, mas sim uma busca incessante pelo aperfeiçoamento e entendimento de ambas as partes, afinal estamos falando de dois seres diferente e em vários casos muito distintos,mas é isso que torna o convívio e o relacionamento empolgante, intrigante e podemos ate dizer “uma aventura sem fim.”

REFERÊNCIAS:

PLAMA, F. P. A Filosofia Explica: Porque é tão difícil se relacionar 1. Ed. São Paulo, Editora Escala, 2016.

O fóbico social e a dificuldade em manter relacionamentos. Disponível em <https://www.bonde.com.br/saude/sexualidade/o-fobico-social-e-a-dificuldade-em-manter-relacionamentos-224564.html >. Acesso em 01 de mar. 2018.

A dificuldade com relacionamentos amorosos. Disponível em <https://danielacarneiro.com/a-dificuldade-com-relacionamento-amoroso/ >. Acesso em 01 de mar. 2018.

 

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San Junipero: a vontade de infinitude

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“O que sobra para quem vive nessa perpétua angustia

causada pelo temor de perder sempre o que não quer perder?”

Soren Kierkgaard

“Em 1987, em uma cidade litorânea, uma jovem tímida e uma garota extrovertida formam uma conexão que parece transcender o tempo e espaço”. Essa parece uma boa sinopse para uma história de amor, certo? Bem, essa é a primeira impressão para quem decide assistir a “San Junipero”, o quarto episódio da terceira temporada de Black Mirror. Pórem, se esse não foi seu primeiro episódio na série britânica, você certamente desconfiou de uma descrição tão radiante e aguardou pela surpresa.

O início da trama causa estranheza por começar no passado, na década de 80, algo incomum até então. Yorkie (a jovem tímida), caminha pelas ruas de San Junipero (a cidade litorânea), até decidir entrar em uma casa noturna. A personagem aparenta desconforto observando as pessoas dançando e se divertindo, quando senta em uma mesa bebendo refrigerante é abordada por Kelly (a garota extrovertida), se passando por sua amiga para se livrar de um acompanhante. Yorkie ajuda Kelly e as duas acabam tomando um drink.

Fonte: https://goo.gl/2Yjqkb

A personagem Kelly (Gugu Mbatha-Raw) é destemida, sorridente e sedutora, em contraste com Yorkie (Mackenzie Davis), retraída, desconfiada e insegura. Quando Yorkie sai correndo pelo desconforto causado pela pista de dança após o convite de Kelly, as duas acabam conversando do lado de fora.

Kelly: “Você foi criada com rédeas fortes.”

Yorkie: “Pois é. A minha família não me deixa fazer nada.”

Kelly toca Yorkie e a convida para dormirem juntas, que nega e fala que tem um noivo.

Após esse encontro, acontece um dos grandes passos para a compreensão da dinâmica do episódio. A ótica oitentista e a trilha sonora inconfundível dos anos 80 vão sendo trocadas por musicas dos 90, assim como as roupas de Yorkie que se troca consecutivas vezes em um quarto, e ao final de tudo escolhe um conjunto similar ao de costume.

Fonte: https://goo.gl/wHn3Zg

Ao voltar à casa noturna, Yorkie se vê obrigada a disputar a atenção de Kelly com outra pessoa, e quando finalmente se encontram no banheiro, a jovem pede a Kelly que facilite as coisas para ela, demonstrando que o desejo era mútuo. Ambas vão até a casa de Kelly.

Após a relação sexual, Yorkie revela ter sido a sua primeira vez e questiona Kelly sobre quando ela descobriu que gostava de mulheres. Kelly revela que sempre soube, porém era casada com um homem e relata com expressão severa:

“Tinha uma quedinha por elas. Mas nunca parti pra ação. Nunca fiz nada. Estava apaixonada por ele. Estava muito apaixonada por ele. Mas ele resolveu partir. Agora só sou eu e estou vivendo […] Só quero me divertir.”

A noite acaba e nas próximas semanas Yorkie passa a não encontrar Kelly em San Junipero, descobrindo que não foi a única desprezada pela sedutora garota. E então, finalmente pode-se descobrir o que estava subentendido desde o começo. A cada semana que se passa, Yorkie procura Kelly em anos diferentes, 1980, 1996, até finalmente encontrá-la em 2002. Kelly desdenha os sentimentos de Yorkie com seu discurso hedonista.

A essa altura o espectador se pergunta: se trata de viajem no tempo? Porém, Kelly cheia de fúria esmurra um espelho quebrando-o, e em segundos, lá está ele: intacto. Bem, esse não é o plano comum da realidade.

Fonte: Netflix

Sören Kierkegaard (1813 -1855), pioneiro do existencialismo, pontua que o homem precisa de liberdade para definir sua natureza. O sentido da vida para Kierkegaard estaria envolto aos conceitos de livre escolha e saída do tédio existencial. O filósofo dinamarquês definiu três estágios pelos quais o homem pode passar: estético, ético e religioso (HADAAD, 2016).

Kelly estaria vivenciando o primeiro estágio no caminho da existência humana: o estético. Segundo Hadaad (2016), nesse estágio primário, a pessoa é incapaz de ser aberta em um relacionamento com outra e o desejo é a tônica de sua vida. Tudo que o aborrece é negativo, como a insistência de Yorkie, por exemplo. Uma das analogias de Kierkegaard é ao arquetípico Don Juan, popularmente sinônimo de alguém sedutor.  Assim como Kelly, o próprio Kierkegaard passou por uma desilusão amorosa, que teria causado uma hiperatividade mental, que somada à melancolia do rompimento culminou em um profundo hedonismo (HADAAD, 2016).

Após a saída de Yorkie, Kelly a encontra e as duas fazem as pazes. Em uma conversa, ambas revelam um pouco da realidade de suas vidas fora dali. Yorkie diz que tem que se casar com seu noivo Greg, apesar de sua família desaprovar; e Kelly revela ter câncer em estado terminal, com aproximadamente três meses de vida, não pretendendo continuar naquela realidade após sua morte, pois seu marido também não havia decidido continuar, morrendo permanentemente.

As duas decidem se encontrar pessoalmente, então Kelly vai ao encontro de Yorkie, que está em um hospital. As duas são idosas na vida real, e Yorkie não consegue se comunicar fisicamente, somente ouvir. No hospital, Kelly conhece Greg, o noivo, que na verdade é o enfermeiro de Yorkie. Greg revela que Yorkie estava testando o sistema para ficar permanentemente em San Junipero após sua morte, e que havia ficado tetraplégica desde os 21 anos, quando se envolveu em um acidente após assumir sua orientação sexual para os pais.

Greg se casaria com Yorkie para que a eutanásia pudesse ser realizada, pois sua família não autorizaria, uma vez que eram muito religiosos. Kelly comove-se e entra no sistema para poder conversar com Yorkie, pedindo-a em casamento. Após um “sim”, a cerimônia acontece fisicamente e após algumas horas, a eutanásia é realizada. Yorkie está permanentemente em San Junipero.

Fonte: https://goo.gl/E8Rs9Q

 Yorkie, que agora é moradora do sistema, tenta convencer Kelly a ficar com ela para a eternidade após sua morte, que se aproxima.  As visitas de 5h semanais logo cessariam caso Kelly optasse pelo fim.   Quando sua atual esposa toca no nome de seu ex-marido, Kelly revela que eles passaram 49 anos juntos, que tiveram uma família, uma vida. Kelly dá significado à escolha de seu marido, que rejeitou o paraíso, pois quando a filha do casal morreu a tecnologia ainda não existia.

O maior dilema existencial do homem se prostra sobre nossas personagens: qual o sentido da vida? Ambas não acreditam que exista um lugar metafísico, além dos planos que habitam.

Kelly: “Eu gostaria de acreditar que ele está com ela, que eles estão juntos, mas não. Acho que não estão em lugar nenhum, bem como você disse. Sumiram.”

As personagens que já estiveram no que seria chamado de estágio ético criado por Kierkegaard, ou seja, vivendo um compromisso com seriedade e honestidade formando laços, são jogadas ao vazio, pois de acordo com a teoria do filósofo, o estágio final denominado “religioso” (Kiekegaard o relacionava com Deus) deve ser além do próprio eu e dos limites éticos (HADAAD, 2016).

Ao perceber que a aliança entre tempo e eternidade não dissiparia o sofrimento e as leis internalizadas, o sentido da vontade de eternidade passa a ser questionado. Segundo Bauman, a sociedade atual busca consumir toda a eternidade na vida terrena, comprimindo-a e ajustando-a a existência individual (BAUMAN, 2007). A história de San Junipero retrata o alcance desse objetivo contemporâneo, com a dinâmica da configuração identitária atual.

Com o final do episódio se aproximando, o espectador se percebe em uma contradição: acreditar que Yorkie e Kelly devem ficar juntas tentando ser felizes, ou que Kelly deve desistir de sua existência em um ato de doação à existência de seus entes. Após sua morte, Kelly decide ficar no sistema, ser armazenada em uma espécie de HD. As amantes estão finalmente juntas, imunes fisicamente, a mercê somente de seus próprios sentimentos.

Fonte: https://goo.gl/rtQutG

A sinopse citada anteriormente indicava um grande romance, mas você me diz, foi um final feliz?

Fonte: https://goo.gl/8nctjQ

REFERÊNCIAS:

HADAAD, R. Estético, ético e religioso, segundo Kierkegaard. Origami de Ideias, 2016. Acesso em: 01 set. 2017. Disponível em: < https://origamideideias.wordpress.com/2016/11/07/estetico-etico-e-religioso-segundo-kierkegaard/>.

BAUMAN, Zygmund; 1925- Vida Líquida, Zahar Ed., Rio de Janeiro, 2007.

BAUMAN, Zygmunt; Modernidade Líquida, Zahar Ed., Rio de Janeiro, 2001.

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O Mito da Alma Gêmea e o desafio de amar

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A alma gêmea pode ser considerada o amor idealizado por uma determinada pessoa, a outra metade que visa preencher o outro. Porém, será mesmo que existe uma alma gêmea? Outra pessoa feita especialmente para completar o enamorado? Ou isso existe apenas na mente dos apaixonados e românticos, que defendem esse mito como uma verdade?

No período Helênico, alguns pensadores gregos acreditavam nessa verdade e criavam teorias que tentavam comprovar sua existência. Fedro e Pausânias acreditavam no amor intelectual, Erismaco no amor natural e Aristóteles contava o mito que deu início a esse debate, do qual os seres humanos eram criaturas andrógenas e Zeus como forma de punição os separou, assim eles passam a vida procurando a outra metade perdida.

Fonte: https://goo.gl/qty53x

O amor é algo paradoxal, ele nos faz acreditar que as coisas são possíveis e que por meio de um grande amor tudo na vida é mais fácil, porque há como dividir os problemas e dificuldades com outra pessoa. Embora o amor seja algo imprescindível para o homem, ele não é absoluto. Ele remedia certos momentos difíceis na vida mais nem tudo são flores. Amar requer paciência, agradar o outro, compreensão e não desistir por qualquer coisa.

Sentir que existe outra pessoa no mundo que possa fazer tudo isso por a gente dá uma espécie de paz, conforto. Todavia, pensar em fazer tudo isso não é fácil, demanda muita experiência e força de vontade. Na bíblia diz “O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1 Coríntios 13:4-7). Imaginar um amor assim é idealizar algo fascinante e sem esforço, esse tipo de amor está fadado a ser impossível.

Fonte: https://goo.gl/7mJ5hx

Sempre acreditei no amor, em encontrar uma alma gêmea, minha metade, a minha salvação. O amor encontrado nos filmes, nos livros tem me confortado por muitos anos, encontrar um amor foi meu maior sonho. Mas, quando encontrei me decepcionei, ter paciência não é para todos, saber lidar com diferenças e dificuldade também não é fácil. Porque, confundir amor com paixão é muito recorrente, saber superar a paixão e chegar ao amor é mais difícil ainda. Enfim, o tempo passou e a experiência fez muita diferença. A paciência e a humildade de perceber que o amor é algo frágil e sem essas características ele não existe.

Não sei se de fato encontrei minha alma gêmea, mas sei que há muito tempo aprendi a amar ele e a esperar o tempo reservar momentos bons e suportáveis. Apesar disso, acredito muito no sentimento chamado amor, que ele faz milagres e mudanças na vida das pessoas, mesmo que não exista uma pessoa específica para cada um no mundo. Sempre é bom estar amando, aproveitando os momentos da vida com outro sujeito, sejam eles bons ou ruins. Portanto, que as pessoas possam visualizar e desfrutar de uma, duas, três, quatro almas gêmeas é o que importa, pois se existe uma coisa maravilhosa na vida é viver um amor.

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Um olhar a mais para A Arte de Amar: relato de experiência

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O presente relato, que é resultado do seminário apresentado pela acadêmica de Psicologia Gabriela Gomes no Psicologia em Debate, uma “deslumbrada por temas sobre amor”, como ela bem pontuou, versou sobre uma apresentação com traços psicanalíticos envolvendo técnicas que buscam atenção e empatia. Ao contextualizar tal abordagem a apresentadora indica seu professor de psicanálise, Drº Adriano Machado de Oliveira, pela influência e sugestão da leitura do livro A Arte de Amar.

Para a palestrante o autor evidencia a questão de comparar o amor com uma arte. Uma forma artesã de construir com conhecimento e esforço o sentimento que eclode nas mais diferentes visões de amar. E por meio das informações apresentadas o amor passa por modalidades diferentes como: 1) Amor fraterno – Não tem exclusividade de pessoas. As pessoas passam a ser mais altruístas de uma forma geral; 2) Amor materno – trata-se de um amor incondicional porém dependente da mãe ser feliz consigo mesma e com o fato de ser mãe. Faz uma metáfora sobre o “leite e mel” na convivência de mãe e filho, onde o “leite” representa as necessidades básicas do filho que a mãe supre ao amamentá-lo, ao educá-lo, ao amá-lo. O “mel” representa o que instiga, que incentiva, que motiva no filho o sentimento de viver neste mundo como sendo algo bom; 3) Amor erótico – tido como amor exclusivo. Ele funde intensamente apenas com uma pessoa. Reforça ao fato de você se entregar a uma única pessoa. 4) Amor próprio – este dentro do universo de amar é ter amor por você mesmo e objetos relativos a sua pessoa.

casal de mãos dadas

Fonte: https://goo.gl/9bAMhK

Segundo Fromm (1971), o amor pode inspirar o desejo da união sexual, mas mistura nela a ternura e se o desejo da união física não for estimulado pelo amor é algo orgíaco e transitório. O autor também procura harmonizar amor próprio com o amor por outra pessoa. Explica que a pessoa que ama a si mesma é diferente da pessoa egoísta, o egoísta é ele e mais ninguém. Este amor egoísta termina quando a pessoa não lhe oferece mais algo do que se esperava; apenas uma das partes deste relacionamento é favorecida. Também foi elucidada a questão de que amor é indivisível em se tratando do objeto do amor e o próprio ser.

Contudo, a palestrante deixa uma reflexão a qual deixo minhas considerações pessoais: “O amor genuíno é uma expressão de produtividade e implica cuidado, respeito, responsabilidade e conhecimento. Não é um “afeto” no sentido de ser afetado por alguém, mas um esforço ativo pelo crescimento e felicidade da pessoa amada, enraizado na própria capacidade de amar que alguém tem.” (FROMM, 1971).

Após a citação de Fromm (1971), a palestra é finalizada com intuito de despertar o entendimento de construir uma vida pela autenticidade, respeito, responsabilidade e pureza. Valorizando o que é fidedigno em relação a mim, aos outros e objetos em geral. Esta atitude e conduta humana pode-se chamar de amor. É o compreender e aprender com ternura uma atividade prática com reciprocidade de sentimentos e ações que levam ao bem estar e não apenas ao que é afetado ou se afeta no outro.

“Psicologia em Debate” é um espaço permanente para apresentação de trabalho de pesquisa e extensão, TCC, entre outros, dos estudantes e egressos de psicologia do CEULP/ULBRA, dando oportunidade de divulgação das atividades desenvolvidas no curso. Entre os objetivos do projeto está a instrumentalização dos alunos e o estímulo para que mais acadêmicos se envolvam em atividades científicas. – Com informações do site do Ceulp/Ulbra.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

FROMM, Eric. A arte de Amar. Belo Horizonte: Editora Itatiaia Limitada, 1971. 171 p.  Tradução de Milton Amado. Título do original americano: The art of loving.

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A família como instituição de controle e disparador do comportamento suicida

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O suicídio pode ser conceituado como uma morte resultante de um ato voluntário da vítima para si. Emile Durkheim faz desse fenômeno seu objeto de estudo em sua renomada obra “O Suicídio” (2000), livro que serve de base para esse ensaio acadêmico, e chega a conclusão de que, apesar de aparentar ser um ato privado, as causas do suicídio podem ser encontradas em fatores sociais.

Ao estudar as relações entre indivíduo e sociedade, Durkheim percebe que deve existir certo equilíbrio nas relações entre ambos. Quando os limites são atendidos, ou seja, quando o indivíduo possui um nível de integração com os seus grupos, essa relação se torna benéfica a ele, servindo até como um potencial controlador do comportamento suicida. Mas quando seus níveis de integração social saem do eixo, se tornando muito altos ou muito baixos, essa relação leva para o aumento de taxas de suicídios.

Para ele, toda sociedade oferece em seus elementos constituintes um contingente de suicídios que não age isoladamente, mas sobre grupos sociais. Porém, aquilo que oferece imunidade aos indivíduos, também pode servir de disparador do comportamento suicida, isso dependerá das relações indivíduo-sociedade e dos diferentes contextos sociais nos quais essas mortes voluntárias emergem.

Fonte: encurtador.com.br/dguQ0

Observando que a instituição familiar é uma das maiores e mais importantes constituintes da estrutura social, e levando em consideração a alta imunidade dos casados em relação ao suicídio em comparação aos solteiros, esse ensaio acadêmico propõe um enfoque na família e seus níveis de influência sobre o indivíduo enquanto desempenha o papel de instituição de controle do comportamento suicida, e também considerando as situações na qual ela faz o caminho inverso, sendo produtora do fenômeno.

Faz parte do senso comum a ideia de que pessoas casadas vivem uma vida mais difícil que as pessoas solteiras, pois um grande número de responsabilidades e privações que acompanham o casamento e a vida familiar atinge somente os primeiros e não os segundos. Seguindo essa lógica, a vida conjugal e familiar deveria favorecer a disposição do indivíduo.

No entanto, Durkheim desfaz esse ponto de vista em sua obra O Suicídio, através de uma detalhada comparação entre as taxas de suicídios de pessoas solteiras e casadas. Por meio dos dados expostos, torna-se claro que os casados não só se matam menos que os solteiros como obtém uma grande vantagem em relação a estes, ou seja, o matrimônio diminui consideravelmente o perigo de suicídio. E é esse curioso dado que irá direcionar o seguinte ensaio acadêmico. Além de discutir as causas dessa imunidade obtida pelos indivíduos casados, queremos saber em que situações ela também se faz perder dentro da vida conjugal e familiar.

Uma observação mais profunda da conjugalidade nos leva a perceber que existem dois diferentes elementos que compõem o meio doméstico: o cônjuge e os filhos. Conforme Durkheim (2000, p. 224-225): “Uma deriva de um contrato e de afinidades eletivas, a outra de um fenômeno natural, a consaguinidade”. Vendo que ambas têm diferentes naturezas, pode-se afirmar que elas também podem produzir diferentes efeitos e, por esta razão, Durkheim separa dois grupos: os casais com filhos e os casais sem filhos. Esse ato foi realizado justamente para medir a influência do casamento sobre o suicídio e descobrir de onde surge a imunidade observada no primeiro dado apresentado: se a pequena disposição ao suicídio é resultado apenas da relação conjugal, ou se ela está ligada a algum outro fator que a vida doméstica traz consigo.

Fonte: encurtador.com.br/jsuBG

Antes de expor as informações obtidas com a análise, é necessário explicar o significado da expressão coeficiente de preservação que irá aparecer com frequência no decorrer desse ensaio. Trata-se de um termo que indica quantas vezes um determinado grupo se mata menos que outro. Ou seja, quanto maior for o número do coeficiente, maior é a vantagem do grupo, pois seu número de suicídios em relação ao outro é muito menor.

A análise confirmou que o coeficiente de preservação dos homens casados sem filhos era maior do que os solteiros da mesma idade, porém o coeficiente chegava a dobrar quando se tratava dos homens casados com filhos. Outra informação importante obtida é a de que os homens viúvos com filhos apresentam uma imunidade maior ao suicídio que os homens casados sem filhos. É claro que a tendência ao suicídio aumenta após a morte do cônjuge, pois, independente da intensidade, instala-se uma crise no sujeito. Mas quando a morte do cônjuge não tem fortes repercussões nesses números, como notou na pesquisa, é correto afirmar que o matrimônio em si, apesar de ter uma influência positiva sobre os homens casados, não é quem contém a tendência ao suicídio.

Mas é no sexo feminino que a pouca eficácia do casamento se torna evidente quando não há a presença dos filhos. Na França, as mulheres casadas sem filhos se matam mais que a metade das mulheres solteiras de mesma idade. A mulher é, na maioria das culturas, desprivilegiada no casamento e o matrimônio pode até agravar sua tendência ao suicídio, mas é um fato que será discutido posteriormente. O que nos interessa agora é que os casamentos com presença de filhos amenizam esse mau efeito do casamento para as mulheres.

Fonte: encurtador.com.br/dfk37

Percebe-se então que a imunidade dos indivíduos casados em relação aos solteiros se deve não à sociedade conjugal e sim à sociedade familiar, pois a presença de filhos no casamento aumenta o coeficiente de preservação consideravelmente. No entanto, vale lembrar que o matrimônio também tem sua influência sobre a imunidade dos indivíduos casados, porém ela é muito restrita ao sexo, mostrando-se mais influente no sexo masculino, já que as mulheres sofrem um agravamento nas taxas de suicídio quando não têm filhos.

Os cônjuges detêm desse privilégio não por desempenharem o papel de marido e mulher, e sim de pais e mães. Por isso a morte de um cônjuge aumenta a tendência do outro ao suicídio, pois a ausência de um resulta numa crise no meio familiar que se torna difícil adaptação. Ou seja, a sociedade doméstica é um potente preservativo contra o suicídio. E essa preservação é mais completa quanto mais densa é a família, e quando se fala de densidade não se refere somente ao grande número de filhos, mas também da participação regular deles na vida familiar. Esse fato contradiz completamente com o que foi dito inicialmente, pois a propensão ao suicídio diminui à medida que estes encargos na vida doméstica aumentam.

Uma família fortemente integrada possui uma energia particular difícil de dissipar, pois todas as consciências individuais que compõem a família experimentam os sentimentos coletivos, sentimentos esses que repercutem um sobre os outros. É por essa razão que a intensidade dessa energia torna-se mais forte quando número de consciências que estão compartilhando e reforçando os sentimentos, lembranças, experiências, tradições dentro desse grupo.

Fonte: encurtador.com.br/rzKRW

Essa imunidade relacionada a uma forte integração que compreende a sociedade doméstica não é exclusiva dela, mas também compreende outros grupos sociais como a religião e a política. O indivíduo fortemente integrado, seja na família ou em outras esferas, está menos propenso ao suicídio, pois uma sociedade fortemente integrada mantém os indivíduos sob sua dependência. Ou seja, quando o indivíduo está engajado e a serviço de tais grupos sociais, o “eu” pessoal não está acima do “eu” coletivo, portanto não colocam os seus fins acima dos fins comuns. É isso o que justifica a pequena tendência dos casados com filhos ao suicídio. A sociedade familiar tem poder sobre o indivíduo e não os permite dispor de seus interesses privados, pois a morte interrompe os deverem que esse indivíduo tem com ela.

Numa sociedade coerente e viva, há entre todos e cada um entre cada um e entre cada um e todos uma troca contínua de ideias e de sentimentos e como que uma assistência moral mútua, que faz com que o indivíduo, em vez de ficar reduzido as suas próprias forças, participe da energia coletiva e nela venha recompor a sua quando esta chega ao fim (DURKHEIM, 2000, p. 259).

Para que a vida seja suportável, o indivíduo precisa se ligar a algo, ele deve possuir alguma razão que lhe prenda a vida e veja valor nela. O homem não é capaz de viver por si só, pois a essência da vida é muito frustrante. O ser humano é limitado no espaço e tempo e não importa todos os nossos esforços em vida, no fim nada irá nos restar. Portanto, se não tivermos um objetivo fora de nós, resta ao homem somente si mesmo, o que não é suficiente para camuflar toda essa angústia e o apavoro que dessa inevitável anulação, e assim, o homem fica sem forças para agir.

Existem funções que só interessam ao indivíduo: as funções orgânicas; e as realizando, o homem se torna capaz de bastar a si mesmo. É o que ocorre durante a infância e velhice. Mas ao entrar na vida adulta e na civilização que a compõe, uma infinidade de necessidades que não dizem respeito a manutenção da vida física o inundam. Essas necessidades, sentimentos e ideias implantadas em nós (religião, moral, ética, política, etc), foram criadas pela própria sociedade e são a ela que se referem. Ou melhor, Durkheim diz que “são a própria sociedade encarnada e individualizada em cada um de nós” (2000, p. 263). E é por isso que para termos apego a vida, é necessário termos apego à sociedade.

Fonte: encurtador.com.br/bfkr3

À medida que os grupos sociais se desintegram ou perdem força sobre o indivíduo, ele se vê inclinado ao suicídio, pois o homem é físico e social. Quando o segundo se enfraquece, tudo o que há de social em nós também se perde. Se a única vida que o homem coletivo conhece se perdeu, e a única fundada no real (orgânica) não responde mais as nossas expectativas, o homem não encontra mais razões para viver. O tipo de suicídio que resulta dessa desintegração, onde o eu individual é preponderante ao eu social, é chamado de suicídio egoísta, justamente porque há uma individualização desmedida onde o sujeito não se vê mais dependente do social e estando dependente apenas de si mesmo, as regras de conduta que valem para ele são apenas aquelas que o interessam.

É parte da nossa constituição moral, dentro da sociedade na qual estamos inseridos, um objetivo que nos ultrapasse e determine o valor da existência. A família é uma das principais instituições que realizam esse papel com êxito, tornando-se uma instituição de controle do comportamento suicida. No entanto, em algumas situações, ela pode se tornar a disparadora desse comportamento.

Nos casamentos precoces (dos 15 aos 20 anos) há um enorme agravamento no coeficiente de preservação do número de suicídio, principalmente nos homens que, na França, chegam a se matar 473% que as mulheres. O número de suicídios começa a cair após os 20 anos, onde tanto os homens quanto as mulheres se beneficiam de um coeficiente de preservação, que cresce até os 40 anos, com relação aos solteiros. Pode-se perceber que o matrimônio serve como um disparador do comportamento suicida quando ele ocorre muito cedo, sendo muito mais prejudicial aos homens do que as mulheres.

Em outros casos, ou melhor, na maioria deles, a mulher é o sexo prejudicado no casamento. Ao comparar a participação de cada sexo nos suicídios das dois estados civis (solteiros e casados), percebeu-se que a imunidade entre os sexos é desigual: as mulheres casadas se matam mais na categoria de suicídio dos casados do que as mulheres solteiras na categoria de suicídios de solteiros. Isso não significa que a mulher casada está mais exposta ao suicídio que a solteira, e sim que a mulher se beneficia muito menos com o casamento do que o homem. Também como já foi apontado nessa discussão, a sociedade conjugal é prejudicial para a mulher quando há a ausência de filhos enquanto o homem, mesmo sem filhos, possui um coeficiente de preservação considerável. Ou seja, a vida familiar é a responsável pela minimização dos efeitos do matrimônio para a mulher.

Fonte: encurtador.com.br/dpzCD

Quando se fala em divórcios, sabe-se que os indivíduos não só se matam consideravelmente mais do que os casados, como também mais que os viúvos. Trata-se de um dado curioso, pois geralmente o divórcio é algo desejado. Ao analisar esses números, Durkheim percebe que o coeficiente de preservação das mulheres casadas aumentam à medida que os divórcios são mais frequentes. Já nas sociedades em que o divórcio é pouco praticado, as mulheres tendem a ser menos preservadas que o seu marido. O inverso acontece com o homem, ele é menos preservado à medida que o número de divórcios crescem.

Essas novas informações se relacionam com a já exposta: o casamento é benéfico ao homem, tão benéfico que quando ele o perde, sua propensão ao suicídio aumenta; enquanto a situação da mulher melhora à medida que o suicídio é praticado. Assim, entende-se que, o sexo masculino é o responsável por essa alta taxa de suicídio dos divorciados. Essa não é uma verdade absoluta em todas as sociedades, mas é uma realidade que se repete em muitas delas. Esses efeitos tão opostos do casamento sobre o sexo se dá porque seus interesses dentro desse regime são antagônicos.

A sociedade moderna é marcada por uma desorganização; há um estado de falta de objetivos e regras que se faz perder a identidade. Esse fenômeno é entendido por anomia. Para controlar os efeitos negativos da anomia na sociedade, instituiu-se diversas medidas que pudessem amenizá-las e conter os indivíduos, pois a ausência de limites gera uma perseguição interminável que nunca será satisfeita, consequentemente levando ao caos e muitas vezes ao suicídio. O casamento, principalmente o monogâmico, é uma das instituições que possuem essa função. Ele regula a vida passional do indivíduo, obrigando-o a se ligar a uma única pessoa e fechar seu horizonte. E como diz Durkheim (2000, p. 346), é disso que o homem tira vantagem:

É essa determinação que constitui o estado de equilíbrio moral de que o homem casado se beneficia. Por não poder, sem faltar seu dever, buscar outras satisfações além das que lhe são assim permitidas, ele limita a elas seus desejos. A disciplina salutar à qual é submetido faz com que deva encontrar felicidade em sua condição e, por isso mesmo, fornece-lhe os meios para isso.

O homem por culturalmente possuir uma liberdade maior, precisa ser regulado, pois definindo os seus prazeres, o homem irá garanti-los estabelecendo o equilíbrio mental que ele necessita. O que não acontece na vida do homem solteiro, onde a anomia assume um caráter sexual. Por não ter um regime que o regule, a vida de solteiro é repleta de frustrações porque, por não ter limites, o homem quer tudo e por isso, nada o satisfaz. “Quando não somos detidos por nada, não podemos deter a nós mesmos” (2000, p. 346).

Fonte: encurtador.com.br/iIOSZ

E da mesma maneira que o homem não se dá definitivamente a ninguém, nada a ele pertence também, condenando-o a um futuro instável e incerto. Disso resulta um estado de perturbação e insatisfação que aumenta as probabilidades de suicídio. E é isso o que ocorre no divórcio. A regulamentação estabelecida no casamento se enfraquece e os limites que eram colocados aos seus desejos já não são tão rígidos, podendo facilmente se deslocarem. A estabilidade e tranquilidade que o homem casado experenciava dá espaço para uma inquietude por não conseguir se ater ao que tem.

Contudo, enquanto o homem possui uma intensa liberdade que deve ser contida para o seu próprio bem, a mulher precisa de liberdade. A mulher sempre esteve presa a moldes sociais que até hoje influenciam muito na nossa cultura, mesmo que aos poucos sejam quebrados pelo movimento feminista. As necessidades sexuais da mulher têm um caráter menos mental em comparação aos homens, pois não se permitia que isso se desenvolvesse nelas. Portanto, a mulher não precisa de um meio de regulamentação como o casamento, pois ela já o faz há muitos séculos por imposições sociais.

Não só a mulher sofre com essa limitação de horizontes trazida pelo matrimônio, o homem também se vê numa condição complicada. Mas enquanto o segundo ainda é capaz de obter privilégios com o rigor desse regime, a primeira só sai perdendo. Além do casamento não ser útil para conter seus desejos que já são naturalmente limitados pela sociedade machista, o casamento tira dela a esperança de um futuro diferente e que realmente almeja, pois historicamente as mulheres sempre estiveram mais inclinadas ao casamento, como uma obrigação. Por essa razão o matrimônio é muitas vezes intolerável para a mulher, pois é um encargo muito pesado e sem vantagem; e assim, qualquer coisa, como a presença de filhos, vem a suavizar essa desvantagem que explica sua propensão maior a suicídio quando a única coisa que ela tem é o casamento.

Fonte: encurtador.com.br/opE08

Em determinado momento da vida, o homem também é afetado da mesma maneira que a mulher pelo casamento, mesmo que por outras razões. Isso ocorre com os homens jovens, e é por isso que o número de suicídio de homens casados entre 15 a 20 anos é tão alto como dito anteriormente. Eles não são capazes de se submeter aos limites impostos pelo casamento, pois suas paixões são muito intensas e ele não as consegue controlar. Os efeitos positivos do casamento só se vem sentir mais tarde, quando a idade tranquiliza o homem e a disciplina passa a se fazer necessária. Mas mesmo com esse contraponto, é ao homem que a instituição do casamento favorece, pois ele que necessita de coerção, tem o que precisa; e ela que precisa de liberdade, se vê mais presa.

A liberdade à qual o homem renunciou só podia ser para ele uma fonte de tormentos. A mulher não tinha as mesmas razões para abandoná-la e, sob esse aspecto, podemos dizer que, submetendo-se à mesma regra, foi ela que fez o sacrifício (DURKHEIM, 2000, p. 353).

De modo geral, é assim que o matrimônio pode se tornar um disparador do comportamento suicida para a mulher, enquanto serve como uma instituição de controle para o homem. Por essa razão, o divórcio a protege a mulher do suicídio que recorre mais facilmente a ele, enquanto inclina homens à morte voluntária.

Considerações Finais

A imunidade que os indivíduos casados desfrutam em relação aos solteiros se deve, em sua maior parte, não ao matrimônio e sim à vida doméstica que surge dela. Os coeficientes de preservação aumentam consideravelmente quando há a presença de filhos no casamento e a imunidade se torna maior quanto mais densa for a família. Uma família fortemente integrada, onde as consciências individuais que a compõem estão reforçando seus laços, serve como uma instituição de controle do comportamento suicida. E quanto mais membros ativos existirem na vida doméstica para alimentar essa energia particular, mais benéfica essa instituição se torna. Quando há um elevado, mas ainda estável, nível de comprometimento dentro do seio familiar, eliminar a própria vida não se torna uma opção porque o “eu” social é mais forte que o “eu” individual, tamanha é a importância que a família tem para esse sujeito.

Entretanto, o suicídio varia inversamente a integração desse ser dentro nos grupos. Assim, quando a instituição familiar se desintegra e/ou perde sua força, o indivíduo se isola da vida social e os fins sociais não possuem mais importância que os fins próprios. Desta maneira, essa estrutura pode agir como disparador do comportamento suicida. Por si só, o casamento tem seus benefícios, contudo, ele só atende a um dos sexos, sendo o sexo masculino o beneficiado na maioria das vezes. É correto afirmar que o ser humano precisa de algo que o regule em todas as esferas, e no âmbito afetivo quem faz esse papel é o casamento.

O homem precisa do matrimônio, pois enquanto solteiro, seus desejos são ilimitados e insaciáveis e assim, as normas regem a sociedade não correspondem os seus objetivos de vida. Uma vez que o indivíduo não se identifica com essas normas sociais, o suicídio passa a ser uma alternativa. Por isso, ao limitar seus horizontes, o homem passa a ter apenas um objeto de desejo, e ao limitar a esse objeto seus desejos e ele proporciona a si meios de satisfazê-los. Por essa razão o casamento, ao fazer essa regulação social, serve como um dispositivo de controle.

Fonte: encurtador.com.br/bdFHL

Enquanto isso, o casamento atua como um disparador do comportamento suicida às mulheres. Ao contrário dos homens, por toda a história, a elas foi imposto que deveriam regular seus desejos, e assim elas os fazem naturalmente, sem a necessidade de uma instituição com esse papel. Por isso, quando elas se casam, a liberdade da qual elas necessitavam e da qual os homens sempre desfrutaram, se perde. Se vendo ainda mais presa e sem esperanças de um futuro que atenda suas necessidades, a mulher se torna mais propensa ao suicídio.

Diante dessas informações, podemos pintar um cenário desvantajoso para as famílias contemporâneas quando falamos sobre suicídio. À medida que os anos passam, o número de filhos por casal diminuem, filhos esses que saem da casa dos pais com muito mais facilidade; pais superocupados com uma rotina repleta de afazeres e obrigações e que, por consequência, não dão a devida atenção para o cenário familiar e filhos desamparados dentro de seus próprios lares. Tudo é mais “eu” e menos “nós”. Todos esses fatores que moldam a família pós-moderna, favorecem a sua desintegração e a fraqueza dos laços internos que, como pudemos ver nesse ensaio, favorece a propensão ao suicídio.

Já para as mulheres, o cenário é vantajoso. A grande força que o movimento feminista ganhou nas últimas décadas garantiu às mulheres um espaço muito maior do que elas detinham e uma liberdade até então nunca experienciada. Tendo em vista que é isso o que a mulher necessita, talvez a sua perspectiva do casamento se altere com o passar dos anos, e a realidade apresentada aqui mude.

REFERÊNCIAS:

DURKHEIM, Émile. O Suicídio: Estudo de sociologia. São Paulo: Martins Fontes Editora Ltda., 2000. 513 p. Tradução de: Monica Stahel.

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O amor para além do romantismo

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Como participante ouvinte do Psicologia em Debate, ocorrido em 06 de setembro de 2017, com o tema “A arte de amar: o amor para além do romantismo”, sob o viés do psicanalista Erich Fromm, ministrado pela acadêmica Gabriela Gomes, na Sala 203, às 17 horas no Ceulp/Ulbra, elaborei o meu relato de experiência.

A acadêmica refere-se que, procurou trabalhar a ideia geral do livro sobre o tema amor. O autor Erich Fromm expõe o tema de forma magnífica, quando faz uma analogia sobre o ato de amar como o trabalho minucioso do artesão que, para chegar ao produto final da sua arte, é necessário dedicação desde a escolha dos materiais que serão utilizados. Onde o mesmo trabalha a reflexão que, para alguém dizer que ama uma pessoa, torna-se indispensável refletir sobre o que está sendo construindo em prol de tal objetivo. Nisso, Gabriela discorre que existem diferentes modalidades de amor. Referindo-se, sobre a definição do amor fraterno que todo ser humano precisa ter por outro ser humano, independente do papel que este ser ocupe na sua vida. “Um amor universal”, com sentimento de responsabilidade, de respeito, de conhecimento e de desejo de aprimorar o outro. Aplicado a qualquer pessoa no curso da vida, como não sendo um amor exclusivo, mas representado como solidariedade humana.

Fonte: https://goo.gl/tkzy7u

O amor materno afirmado por Erich Fromm, como sendo um sentimento genuíno e incondicional. Porém é imprescindível, que a mãe esteja feliz consigo mesma. Visto que, existem diversas circunstância em que de fato a mãe não desejaria aquele filho. Em virtude de fatores ocorridos na vida dessa mulher, que vão desde a concepção da criança, e às vezes, ela recebe uma pressão social, que a impõe o seu dever de amar o filho incondicionalmente. Mas não é sua culpa. E o autor faz uma analogia com leite e mel, referindo-se à mensagem bíblica sobre a Terra Prometida “Canaã”, que mana leite e mel. Simbolicamente o leite, traz o sentido de que quando a criança nasce, a mãe supre todas as suas necessidades. O mel significa a mãe transmitindo ao seu filho que nascer nesse mundo é algo muito bom. E que para ser uma boa mãe, esta mulher necessariamente precisa implicitamente estar feliz.

Fonte: https://goo.gl/6Z4Rx9

Relata a acadêmica que, de acordo com o autor, o amor erótico é um anseio e fusão completa por duas pessoas . Porém, não é amor genuíno, visto que não é possível, encontrar alguém na fila do pão, e já se esteja amando. Nessa condição, o outro é explorado e logo exaurido. Em virtude do encantamento pelo que a outra pessoa faz, se ela é bonita, rica, jovem, bom trabalho, etc. Com o passar do tempo todos esses atributos são explorados, chegando num momento da relação que não há mais o que explorar no outro. Daí manifesta-se a crise interna, e vem a frase clássica: “eu não amo mais”.

O autor discorre sobre a superação da separação, trazendo vários fatores. Pois o que se busca num relação amorosa, é a oportunidade de falar da própria vida pessoal, das próprias esperanças e ansiedades, mostrar-se nos seus aspectos infantis e pueris – a sua pior parte. Podendo mostrar também ao outro a sua ira, o seu ciúme. Daí pensa-se que “aquela pessoa é o verdadeiro amor da sua vida”. Porém, quando todas as barreiras são superadas, ela vai procurar outra. Pois o ser humano, precisa de objetivos sequenciais, uma vez que essa pessoa já exauriu as suas expectativas.

Fonte: https://goo.gl/pn9UEE

A acadêmica, refere-se ao outro fator, sendo o desejo sexual como fusão de corpos passando a representar o amor e a pessoa relata que está amando intensamente o outro. Discorre ainda, que no desejo sexual, há uma interação profunda com o outro, em virtude desse sentimento, a pessoa tem uma ansiedade de solidão cessada. Porém, chega momento que essa ansiedade acaba e o desejo sexual pelo o outro, não é mais suficiente para que a sustentação da relação. Porque quando há amor na relação, o desejo sexual não é algo exacerbado, no sentido de impressionar o outro com a sua performance pessoal. Numa relação de amor verdadeiro, isso não se faz necessário o tempo inteiro. O amor erótico se torna exclusivo na dedicação somente àquela pessoa, com a qual ela está envolvida emocionalmente. Cita exemplo, que não se pode pegar na mão de outra pessoa, porque pode ser considerado que deixou de amar. Tal condição faz o casal se fechar no seu mundo, como duas pessoas solitárias fundidas na sua paixão, numa espécie de amor narcísico. E Erich Fromm, traz sua concepção que quem ama, não ama somente a pessoa amada, mas também todo o seu universo.

Fonte: https://goo.gl/E4tpU6

O amor próprio e o amor erótico tem uma relação muito próxima. Onde o amor em si mesmo tem que estar em choque, de acordo com a acadêmica, o autor afirma que amar a si mesmo não significa que não tenha a capacidade de amar os outros. Pois, o objeto de amor não é indivisível. O amor pode inspirar o desejo de união sensual, a vontade de conquistar e ser conquistado, pois com o amor há a ternura, o desejo da união física deve ser estimulado pelo amor, e o amor erótico também deve ser fraterno.

E discorre a acadêmica, que afirma Erich Fromm, que a pessoa deve amar-se primeiro antes de procurar o outro. “Que o amor genuíno é uma expressão de produtividade que implica cuidado, respeito, responsabilidade e conhecimento, não é um afeto no sentido de ser afetado por alguém, mas um esforço ativo pelo crescimento e felicidade da pessoa amada”. Finalizando com a frase do autor: “Se te amas, amas a todos os demais como a ti mesmo. Enquanto amares outra pessoa menos que a ti mesmo, não conseguirás realmente amar a ti mesmo, mas se a todas as pessoas amares igualmente sem exclusão de ti, amá-los-ás como uma só pessoa” (FROMM, 2000). A acadêmica Gabriela solicita aos participantes, que façam a reflexão sobre o conceito de amor genuíno trazido por Erich Fromm. E conclui referindo-se que, as relações amorosas cotidianas terminam, citando o exemplo comum: “não deu certo o nosso relacionamento”. Mas será que estava havendo um trabalho cuidadoso artesanal, para a construção dessa obra de arte?

Fonte: https://goo.gl/hJK6rJ

Como preciosa experiência da minha participação do debate, “A arte de amar: o amor para além do romantismo”, foi magnífico conhecer a concepção de Erich Fromm, explanado pela acadêmica Gabriela, quando o autor faz analogia sobre o ato de amar com o trabalho minucioso e dedicado do artesão, que vai desde a escolha dos materiais a serem utilizados até conclusão do produto final da sua arte, o amor genuíno.

Referência:

FROMM, Erich. A arte de amar. Tradução Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

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Psicologia faz intervenção em Casa de Acolhimento Raio de Sol

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O curso de Psicologia do Ceulp/Ulbra, através do projeto de extensão “Psicologia em Debate”, fez uma intervenção nesta quarta-feira, dia 23/08, na Casa de Acolhimento Raio de Sol, da Prefeitura Municipal de Palmas. O acadêmico Fernando Ribeiro Veloso, sob a orientação do professor de Filosofia Sonielson Luciano de Sousa, apresentou para a equipe do local – composta por pedagoga, educadoras, psicóloga e nutricionista – a pesquisa “As bases biológicas do amor e do acolhimento”, baseada em revisão bibliográfica. O objetivo foi criar um espaço de diálogo e interação entre os servidores da instituição, que é responsável por acolher crianças e jovens em situação de risco no município de Palmas.

De acordo com a coordenadora da Casa, a pedagoga e assistente social Angelita Cavalcante, o momento foi importante para ampliar o olhar da equipe sobre o tema. “Lidamos diariamente com a dimensão afetiva do sujeito. Temos que acolher estas crianças e jovens com um olhar humanizado e compassivo. O tema trazido pelo Ceulp colaborou para que expandíssemos nossa visão e, assim, para que possamos oferecer um atendimento cada dia mais completo”, pontuou Angelita.

Para o acadêmico Fernando Veloso, “o momento foi oportuno para intervir a partir dos pressupostos básicos da formação em Psicologia, com respeito aos valores humanos. Ao interagir diretamente com as diferentes áreas de atuação, a formação se torna ampla e enriquecedora”.

A intervenção durou cerca de 1h e a Casa de Acolhimento Raio de Sol sugeriu que o Ceulp fizesse novas atuações com outras instituições do gênero.

Foto: arquivo pessoal

Casa Abrigo Raio de Sol

A instituição promove atendimento integral à criança e ao adolescente em situação de risco pessoal e social. O local abriga crianças de até 12 anos, encaminhadas pelo Poder Judiciário. As crianças têm uma rotina estabelecida, frequentando a escola formal e participando de outras atividades socioeducativas. Elas permanecem na Casa até a resolução de cada situação. (Com informações da Prefeitura de Palmas)

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