Amor Líquido: a empatia corroída

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O que dizer do amor no mundo pós-moderno? A pós-modernidade trouxe consigo a onda do imediatismo, das trocas constantes. Sendo assim, o costume de “concertar” foi substituído pelo de “adquirir um novo”. Vemos isso explicitamente em várias situações do cotidiano, não sendo diferente nas relações “amorosas” atuais. As quais se tornaram tão líquidas que quem troca frequentemente de “amor” são consideradas pessoas habilidosas.

Seguindo essa onda, e com o intuito de aperfeiçoar suas habilidades, as pessoas trocam tão facilmente de relacionamento com o objetivo de adquirir experiência para que possa fazer com que seu próximo relacionamento seja mais emocionante e excitante. De acordo com Bauman (2004, p. 11)

Essa é, contudo, outra ilusão… O conhecimento que se amplia juntamente com a série de eventos amorosos é o conhecimento do “amor” como episódios intensos, curtos e impactantes, desencadeados pela consciência a priori de sua própria fragilidade e curta duração”.

É possível ver que tal atitude não é a busca pelo amor em si, pois se assim fosse essa compulsão por experimentar novos amores tornar-se-ia em experiências frustrantes e não em uma forma de prazer.

Segundo Bauman, (2004, p. 12) “o amor é uma hipoteca baseada num futuro incerto e inescrutável” sendo possível então dizer que, por se tratar de algo tão misterioso e incerto tornou-se líquido, pois o medo exacerbado desse futuro inconstante faz com que as pessoas sejam rasas em seus relacionamentos, com o desejo de não se frustrarem posteriormente.

Outro fator que traz certa aversão a um relacionamento sério e duradouro é o compromisso, que é exigido nesse caso, e a insegurança. Sendo que para manter esse compromisso é necessário abrir mão de várias coisas e ter que adaptar-se a outras, assemelhando-se a um investimento que pode ser cheio de riscos, trazendo incertezas e inseguranças. Estar em um relacionamento traz inúmeras incertezas, o que a solidão por sua vez também traz.

Fonte: https://goo.gl/mcbnm6

Bauman em sua obra compartilha da mesma ideia de Lévi-Strauss em relação ao  sexo, sendo ele o encontro da natureza e da cultura. Contudo o desejo sexual para o autor é incontestavelmente social pois se estende em direção ao outro e necessita dele para não se sentir incompleto. Infelizmente nossa cultura produziu o que o sexólogo Sigusch, chama de ciência sexual, com um olhar frio e distante prometendo tirar o homem sexual de sua miséria, mas apenas o tornando objeto natural de investigação científica.  

Atualmente a medicina compete com o homem no papel de reprodução oferecendo catálogos de doadores de esperma atraentes, para que você reproduza sem necessitar do ato sexual, fazendo assim uma separação do sexo e a reprodução. O autor reflete sobre a influência da sociedade consumista e imediatistas, em que filhos deixaram de representar bons investimentos, e pontes entre a mortalidade e  imortalidade (hereditariedade, legado de uma família) e passaram a ser objetos de consumo emocional. Todo objeto a ser consumido tem seu custo, e o custo de ter filhos  tem se tornado cada vez mais alto na líquida modernidade em que vivemos, tanto o custo monetário quanto o custo emocional. Se dar conta de tal compromisso tem causado diversos conflitos até mesmo patologias.  

Este autor assim como afirma a separação do sexo e a reprodução, concorda com a ideia de Erich Fromm, sobre a separação entre o sexo e o amor. Devido esta separação tem se tornado algo frustrante, pois a união dos dois era a única maneira de ter uma fusão genuína. O sexo nos dias atuais tem ganhado cada vez mais sua independência de outros domínios da vida, o que Bauman chama de sexo puro que seria algo sem restrições, consequências, sendo apenas para prazer e alegria. O que ele critica mostrando através do relato do terapeuta  Volkmar que esta pureza nada mais é do que uma falsa felicidade.

Através da liquida racionalidade moderna, os compromissos duradouros tem sido visto como limitadores e opressores, e a única forma deste posicionamento mudar, seria libertar o sexo da soberania da racionalidade do consumidor. A característica principal do consumismo, é usar e logo em seguida descartar, assim abri espaço para algo mais novo e melhor, isto favorece a rotatividade e a leveza. O sexo puro tem se adaptado a esses padrões de compra, garantindo segurança e libertação das restrições, um sexo seguro.  A relação sexual de curta duração, apenas um episódio, seria livre de contágio mais repleto de incertezas.  

As consequências da líquida modernidade não param por aí, a cultura nos nossos dias tem se tornado algo maleável da qual não se pode escapar, mas o que é herdado biologicamente é apenas uma questão de escolha. Coloca o homem em um dilema de qual identidade sexual irá assumir, e na facilidade de se não se sentir satisfeito pode mudar a qualquer momento, digamos o foco principal está na “alterabilidade”. Esta facilidade trás consigo o sentimento de incompletude e irrealização contínua, pois esta ansiedade não tem fim é como um veneno.  

Bauman faz uma crítica ao uso de celulares e redes sociais que se tornaram constantes, mas tem afastado as pessoas do contato real, do compromisso, tornando as conexões breves e banais. As conexões virtuais estabeleceram um padrão para as outras proximidades, agora a proximidade pessoal, face-a-face não parece ser tão vantajosa quanto a virtual. Pois dispensa as habilidades necessárias que uma proximidade pessoal precisa, e o desuso destas fazem que sejam esquecidas. Até namorar é feito de modo virtual, assim a pessoa está livre de remorsos, perdas e sofrimento, pelo fato de poder terminar escolhendo a opção deletar, é o que o autor coloca como a principal vantagem do namoro virtual.  

Fonte: https://goo.gl/tVHk6k

A economia tem imposto padrões sobre os homens que agora para serem aceitos, e reconhecidos tem a obrigação de entrar no jogo do consumismo. Os vínculos passam a ser simples mercadorias deixando de satisfazer a necessidade de convívio, sendo, é claro, controlados pelo mercado. A solidariedade a amizade são vistas hoje como algo a se combater pela economia, pois os seres humanos são vistos como objeto de consumo.

Freud em ‘O mal-estar na civilização’ traz a ideia de que vivemos em uma civilização onde todos estão preocupados com seus próprios interesses e buscam a todo o momento a sua felicidade pessoal. Esse seria o tipo de razão promovida por nossa civilização, que muito contrasta com o conceito de “amar o próximo como a si mesmo”. Pois para algo ser aceito como preceito fundador de uma civilização, tem que fazer sentido, e segundo ele essa concepção que vem da teologia é algo absurdo. Nós só amamos quem por nós é considerado merecedor, e devido considerarmos que no outro a quem amamos, há tantas semelhanças conosco, que acabamos amando neles o ideal de nós mesmos. Dessa forma o que torna ainda mais difícil amar o outro (que pode ser qualquer pessoa, inclusive um estranho) é não identificar nele um sentimento recíproco, ou a mínima consideração por nós. Essa forma de amar é então contrária a natureza humana, portanto é considerado um ato de fé que segundo Bauman “o ser humano rompe a couraça dos impulsos, ímpetos e predileções ‘naturais’”.

Esse salto de fé é o ato fundador da humanidade. Deparamos-nos agora com uma passagem decisiva do instinto de sobrevivência para a moralidade. O amor-próprio é considerado uma questão de sobrevivência, pois nos permite lutarmos para nos mantermos vivos, a “agarrar a vida”, nos torna resistentes. O conceito de amar o próximo com a si mesmo, “torna a sobrevivência humana diferente daquela de qualquer outra criatura viva” segundo Bauman. Mas para desenvolvermos o amor-próprio precisamos ser amados por outros. E quando há uma recusa desse amor gera em nós uma auto-aversão.

Vivemos em uma sociedade que ao longo de toda a sua história houveram muitos episódios de desumanidade, como quando no texto é citado a morte de meio milhão de crianças em função do bloqueio militar imposto pelos Estados Unidos ao Iraque, regado de discursos desumanos onde se tentou justificar um ato horrendo nas palavras da embaixadora norte-americana Madeleine Albright que disse ao ser interrogada acerca do trágico acontecimento: “achamos que era um preço que valia ser pago”. Não existe se quer humanidade’ nesse discurso.

A forma de relacionamento na contemporaneidade é descrita por Anthony Giddens como “relacionamento puro” baseado pelo interesse do que cada um pode ganhar, na condição de poder ser rompido a qualquer momento e só tem uma continuidade se ambas as partes estiverem proporcionando satisfações suficientes. As relações estão se tornando cada vez mais frágeis, sem confiança, sem um compromisso visando um futuro duradouro.

Relações barradas

A liquidez moderna e seus aspectos xenofóbicos moldam a sociedade a um longo período, porém tal modelagem na atualidade atua como um vulcão em erupção. Totalmente em vigência a discriminação dos povos imigrantes ganha cada vez mais páginas de jornais e noticiários, tais povos tornam-se notícia a todo instante.

Diante toda divulgação da calamidade ocorrente estão os olhos atentos dos espectadores, leitores, internautas que recebem a notícia e em algumas ocasiões demonstram espanto, choque (tais sentimentos que denotam susto estão cada vez mais escassos, atribuição está à continuidade sucessiva dos acontecimentos), porém voltam a sua rotina comum. Quem está tomando o café da manhã no primeiro momento ao abrir a página do jornal experimenta a sensação de engasgo, nó na garganta, mas alguns instantes depois continuam a se deliciar com seu desjejum e aquelas pessoas de histórias impactantes, deprimentes se tornam insignificantes durante o decorrer do dia, são esquecidas, é como se nunca tivessem existido, oferecer ajuda se torna fora de cogitação.

Fonte: https://goo.gl/kQ226P

São pessoas frágeis, desgastadas, violentadas que experimentam o ódio mortal de toda uma nação.  Perambulam buscando alento, a esperança de um dia obter um país, uma cidade, um lar se torna cada vez mais uma utopia. Não possuem uma terra, na busca da fuga do sofrimento se submetem a todo tipo de situação, são renegadas pelos seus, o local de partida já não às querem mais, o local de destino repugnam sua presença. E assim tais povos vagam em uma imensidão de desalento demarcada por lonas e barracas que podem ser desmontadas a todo o momento, os campos de refugiados.

Afirmar que há um sentimento repugnante perante os imigrantes talvez seja um termo forte demais, porém não é.  Cada vez mais a culpa de toda desgraça ocorrida em um continente, território, país recai sobre os refugiados. Ninguém ousa recebê-los, pois seria como receber uma doença contagiosa mortal. O poder público por sua vez desempenha o papel de exclusão com excelência, tirando o máximo de proveito possível, consegue eleição, reeleição com o discurso xenofóbico de ataque. “ O poder de excluir não seria um marco da soberania se o poder não tivesse primeiro se unido ao território.” (BAUMAN, 2004). Os governantes desviam o foco de toda calamidade existente em seu próprio governo, atribuindo a culpa de todos os males aos recém-chegados.

E se todo esse investimento contra a entrada e permanência fosse revestido em políticas de ajuda, se todo recurso financeiro direcionado para construção do muro entre fronteiras, por exemplo, fosse remanejado para construção dessa população sem perspectiva. Talvez assim não só o país seria grande novamente, o ser humano teria a chance de entrar em estado de evolução.

Vivencia-se atualmente um estado de urgência, onde a chama que busca por mudanças queima ardentemente. A falta de humanidade é uma problemática real vivenciada cotidianamente. A onda do individualismo, a globalização, acabou corroendo a empatia pelo próximo, evidenciando assim que a fase atual é uma das mais críticas e lamentáveis das fases já vividas no decorrer do trajeto da vida humana.

REFERÊNCIA:

BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004.

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Como mudar (ou não) sua vida, segundo Proust

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Embora as pessoas passem muito tempo de suas vidas preocupadas em debater sobre a felicidade e as diversas formas de alcançar essa felicidade plena e estável, o fato é que nossa real preocupação tem sido a infelicidade.

Fonte: goo.gl/LsZPBm

Há um prazer mórbido que pode ser observado em vários círculos de amizade, no qual as pessoas se vangloriam de suas desgraças e inclusive competem para ver quem sofre mais. Profecias sobre o fim da raça humana, que eventualmente será causado por eventos catastróficos, mobilizam milhões de pessoas, que acreditem ou não nessa “profecia”, acabam sendo influenciados por elas. Diante da possibilidade da destruição total, as pessoas respondem de diferentes maneiras. A maior parte delas parece concordar em viver tudo o que tinham se negado a fazer durante a vida. Isto é bom? Isto é ruim? (é uma pergunta retórica, eu não vou respondê-la. Nem Proust.)

Convenções sociais têm forçado os humanos a se comportarem “bem”, reprimindo desejos animalescos ou que simplesmente não combinem com o que a situação pede… Nós viveríamos esses desejos intensamente caso a morte fosse certa?

Proust, citado por Alain de Botton, em seu irônico e afiado livro “Como Proust pode mudar sua vida” (2013), afirma que diante da perspectiva iminente da morte, a vida nos pareceria infinitamente bela e importante. Quantas coisas deixamos de fazer, adiando para um futuro incerto, por que não nos parece que a morte pode estar à espreita, logo aí? A certeza crua e impositiva da morte, tiraria o “viver” do plano de fundo e o colocaria como figura central deste quadro interessante chamado Vida.

Muitos de nós já nos depararam com a Morte por aí. Alguns acidentalmente, e outros intencionalmente tentam entender como seria o silencio perpétuo… Outros a encontram e não têm tempo para delongas. Ela vêm, se impõe como um fardo, que a despeito de ser invisível, não é por isto menos pesado, e os que ficam são irremediavelmente afetados, obrigados a lidar, pensar e reorganizar suas perspectivas.

Botton (1997) afirma que abrindo mão da nossa certeza de imortalidade, aproveitaríamos melhor a vida e suas imensas possibilidades. Entretanto, essa tomada de consciência deve ser aliada às reflexões, para que não se tome decisões impulsivas diante do pânico que a finitude pode representar. Em “Como Proust pode mudar sua vida”, (apesar do título característico de leitura de auto ajuda) Botton não pretende ensinar como aproveitar a vida. O livro é um convite irônico à reflexão de como ajustar nossas prioridades e aproveitar a estadia antes que a nossa viagem seja interrompida.

De uma forma irônica Alain de Botton em “Como Proust pode mudar sua vida” misteriosamente parece até que vai ensinar uma receita para a vida, os capítulos assemelham aos livros de autoajuda e mesmo não sendo é através das narrativas de Proust que o livro é abordado. Proust era um homem fascinado pela literatura e tinha como objetivo ser tão importante para o universo social através da sua literatura quanto seu pai fora para a medicina da época, tais narrativas nesse livro estão relacionadas à sua primeira publicação “Em busca do tempo perdido” que foi aclamado como obra prima.

Dentre as narrativas é evidente que o autor tenta mostrar como enxergar o outro a partir de nós mesmos, por exemplo, quando lemos um livro vivemos aquela história contada como verdade absoluta e sentimos como se estivéssemos no lugar do autor. Essa relação autêntica colocada leva o sujeito a desenvolver aspectos positivos, pois a literatura independente do gênero e tem funções terapêuticas, como citada por Botton:

Em vez de culpá-lo pelo problema, talvez devêssemos nos perguntar se é possível esperar que algum romance tenha efetivamente qualidades terapêuticas, se esse gênero é capaz de oferecer mais alívio do que é possível obter com uma aspirina, um passeio pelo campo ou um dry martini. (BOTTON, 1997)

Fonte: https://goo.gl/AHm5go

Proust, a princípio, poderia até ser apenas um amador da literatura, mas ele conseguia transformar qualquer noticia de jornal seja ela boa ou ruim em uma bela história. Com ênfase, entusiasmo e emoção, até mesmo uma caixinha de sabonete pode mostrar um pouco sobre a magnificência da vida.

Ou seja, é o próprio sujeito que atua como protagonista e dá importância a algo, que desenvolve e dá sentido a uma história, pois todas as histórias que já se ouviu até hoje foram vistas com importância para que fossem repassadas.

Essa dinâmica de dar significado ao conteúdo e expressá-lo é mencionada de forma sucinta por Botton:

Isso mostra como boa parte da experiência humana está vulnerável à abreviação, como é fácil ser privado das referências mais óbvias que nos pautam quando atribuímos importância a algo. É possível imaginar que boa parte da literatura e do teatro não teria nos dito nada se tivéssemos nos deparado com seu tema sob a forma de uma notícia breve durante o café da manhã. (BOTTON, 1997)

Segundo Botton, ao citar Proust, para ter uma vida saudável de ideias é preciso ter uma mente que seja examinada cuidadosamente para que só assim seja confirmada uma grande sabedoria. Para ele, só existem dois meios de adquirir a sabedoria: através da dor que é uma variante superior e por um professor. Diante disso, todo criador deve ser o primeiro a usufruir de sua invenção ou construção.

É por isso que Proust desprezava a tese de Sainte-Beuve e argumentava veementemente que eram os livros, e não as vidas, que importavam. Assim, podíamos ter certeza de apreciar o que era importante. (BOTTON,1997, p. 44).

Proust fala da rejeição que teve e isso levou a fazer uma seleção de amigos para justificar dentro da história da filosofia que as pessoas que se destacaram eram as que tinham inteligência e moral. Botton nos conta as experiências e frustações de Proust. Ele diz que o sofrimento físico e psicológico faz parte da vida e faz com que a pessoa cresça tanto material como imaterialmente, tanto no amor quanto na ausência dele. “O amor é uma doença incurável.” “No amor, existe um sofrimento permanente.” “Aqueles que amam e os que são felizes não são os mesmos”.

O pessimismo romântico de Proust se baseava, pelo menos em parte, na combinação de uma intensa necessidade de amor e uma tragicômica falta de jeito para obtê-lo. “Meu único consolo quando estou realmente triste é amar e ser amado”, ele declarou, e definiu seu principal traço de caráter como “a necessidade de ser amado; mais exatamente, uma necessidade de ser afagado e mimado mais do que de ser admirado”. (BOTTON, 1997. p ,47)

De acordo com o autor, todo individuo é diferente um do outro, ninguém tem uma mesma combinação de ações e problemas, para uns aquilo que é uma doença crônica é para o outro apenas uma distorção do que está fora da normalidade. De fato, na visão de Proust, só aprendemos realmente alguma coisa quando há um problema, quando sofremos, quando algo não sai como o esperado.

Embora possamos, obviamente, usar nossa mente sem estar em sofrimento, Proust sugere que somente quando mergulhamos na dor é que de fato estamos pronto para confrontar com o problema e nos tornamos apropriadamente inquisitivos na aflição.

Sofremos, por que muitas vezes negligenciamos, portanto pensamos, e o fazemos porque o pensamento nos ajuda a contextualizar a dor, a entender sua origem, a medir suas dimensões e a nos reconciliar com sua presença. “Portanto, não podemos julgar a legitimidade da dor alheia somente com base no que teríamos sentido se tivéssemos sido expostos à mesma situação.” (BOTTON, 1997. p ,52).

Fonte: https://goo.gl/o3JeVX

Segundo o dicionário “Informal” a palavra amigo significa: aquele que quer bem, aquele com quem podemos contar a qualquer hora. Para cada pessoa pode haver um significado diferente, atribuições distintas, do que é ser um amigo, tornando-se uma questão subjetiva. Em Botton (1997) Proust declara o que é ser um bom amigo, apresentando sua opinião de como se apresentar amigável. Mesmo que parecesse ser contraditório, pois para alguns as suas opiniões sobre o assunto são duras e sinceras, ele chega a afirmar que é preferível escrever um livro a ser um amigo, pois com o livro pode haver mais sinceridade em detrimento a amizade.

Em Proust havia uma mistura entre sinceridade e tentar agradar as pessoas, pois mesmo tendo um grau elevado de sensibilidade ao ser sincero, o seu maior temor era não agradar. Esforçava-se em demasia para que as pessoas se sentissem bem em sua presença, o seu maior interesse era ser aprovado. Agradava tanto que conversava assuntos de interesse alheios sem se importar se seus seriam falados ou não, pois para ele era egoísmo falar somente assuntos próprios.

Karnal (2016) cita que a amizade pode ser um desafio, pois ser amigo é observar-se num espelho pouco generoso, os amigos nos conhecem, sem se importar no que os outros pensam. Eles nos amam, mas não sabemos se nos amam apesar de nos conhecer ou por nos conhecer. Karnal ainda afirma que a amizade é entregar-se a um trajeto de apoio e intimidade. Proust achava ser também desafiador, pois mesmo sendo sincero, no sentido de falar realmente o que pensa, e tendo pensamentos radicalmente verdadeiros sobre seus amigos, não os podia falar; sendo assim preferia apenas ser agradável e apoiar seus muitos amigos.

Abrir os olhos no sentido literal e físico é levantar as pálpebras e ver o que tem a sua frente. Ver as coisas para Proust em Botton (1997) é enxergar a perfeição e a riqueza das pequenas e muitas vezes insignificantes coisas da vida, aquelas que podem nos dar tédio e serem menosprezadas por nós.

. Proust prezava a importância do segundo olhar sobre as coisas, independentemente se era uma valiosíssima obra de arte, ou um detalhe de uma cozinha. Para o autor, a vida pode se tornar infeliz pela simples incapacidade de abrir os olhos e dar chance a uma segunda visão.

As circunstâncias que propiciam o estado de felicidade são transitórias. Ao se interligar o conceito de felicidade e relacionamentos amorosos percebe-se que há uma busca constante pelo eterno e duradouro nas relações, porém, o ser humano tem dificuldade em manter algo depois de conquistado. Botton (1997) diz “Se um longo relacionamento […] gera […] uma sensação de conhecer bem demais essa pessoa, o problema pode, ironicamente, ser que não a conhecemos suficientemente bem”.

Bauman (2004) retrata “a misteriosa fragilidade dos vínculos humanos, o sentimento de insegurança que ela inspira e os desejos conflitantes (estimulados por tal sentimento) de apertar os laços e ao mesmo tempo mantê-los frouxos, (…)”. Em uma sociedade permeada pelo imediatismo, os sujeitos nela inseridos acabam entrando nessa dinâmica, onde os laços humanos são afetados.

Uma característica marcante da contemporaneidade é a liquidez nas relações humanas. As pessoas almejam pela facilidade, pelo caminho mais rápido, porém, quando estas alcançam o objeto desejado não desfrutam com a mesma intensidade que usufruem quando há sacrifícios, luta, esforços.

O autor traz em sua essência o seguinte pensamento “(…) é impossível amar alguém fisicamente” (BOTTON, 1997). Relacionar-se com alguém vai além de contato físico, e talvez por este motivo, muitos relacionamentos tenham se tornado passageiros, pois se apegam somente à atração física.

Tendo em conta que os relacionamentos virtuais vêm ganhando espaço pela facilidade de construir e romper laços, Bauman (2004) ressalta “Diferentemente dos “relacionamentos reais” é fácil entrar e sair dos “relacionamentos virtuais”. Em comparação com a “coisa autêntica”, pesada, lenta e confusa, eles parecem inteligentes e limpos, fáceis de usar, compreender e manusear”.

Desse modo, a busca por algo duradouro tem se tornado uma tarefa difícil, pois demanda tempo, disposição, manutenção do objeto conquistado e tudo isso requer trabalho. Para Alain de Botton (1997) o segredo que há em relacionamentos duradouros é “a infelicidade. Não o ato em si, mas sua ameaça. Para Proust, uma injeção de ciúme é a única coisa capaz de resgatar um relacionamento arruinado pelo hábito”.

Fonte: https://goo.gl/YZEwbg

Todo o livro é dividido em diversas partes que fazem alusão a áreas da vida nas quais uma pessoa pode intervir, mudar sua vida e “encontrar felicidade”. Porém, escrito pelo irônico Alain de Botton, não poderia deixar de ser controverso e instigante. Durante a leitura, nos deparamos com fatos (não tão) confiáveis sobre a vida de Proust e observações bem humoradas sobre desde como ler para si mesmo até como abandonar os livros.

Talvez Botton quisesse nos beliscar com um livro aparentemente tão despropositado. Ou talvez quisesse nos instigar a pensar em como o propósito das coisas está a definir para cada um. Não importa. Ou importa tanto que foi necessário colocar o nome Proust em um título tão caricato, para atiçar os que ainda caem no conto da autoajuda a perceberem pequenas alegrias em meio ao desafio de viver.

Sabemos, tão somente, que a perspectiva da perda da vida, ou de prazeres (aparentemente) tão banais quanto “abrir os olhos”, nos abre um leque de possibilidades. Possibilidades de explorar o conhecido, de re-revirar (essa palavra não existe, caro leitor) o já revisto e ir além, tocar o não sabido, sair da “zona de conforto” (que clichê, senhores) e mudar a vida. Talvez não seja uma mudança tão drástica, mas talvez seja a mudança que faça a diferença entre morrer e escolher viver diante de uma crise que pareça insuperável.

Que morramos de amor, de raiva, de desejo, de tédio. Que morramos mil vezes e renasçamos prontos para outras escolhas, outras pessoas, outros caminhos… Mas sem perder a capacidade de se refazer, de se reconstruir e reaprender. Por que a capacidade já contida em nós, de abandonar um livro chato (ou esse artigo até bem intencionado), pode ser potencializada para abandonarmos (pode ser lentamente, sem pressa, despacito) o que nos machuca e entender que haverão sim, outras oportunidades de ser feliz. Sobreviva.

Referências 

BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004.

BOTTON, Alain. Como Proust pode mudar sua vida. Rio de Janeiro, 1997.

KARNAL, Leandro. Leandro carnal disseca a amizade, 2016. Disponível em: <http://ocontornodasombra.blogspot.com.br/2016/08/leandro-karnal-disseca-amizade.html>

http://www.dicionarioinformal.com.br/amigo/

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Afeto: potencial minimizador de suicídio

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Quando se quer entender as causas que levam a pessoa a cometer suicídio, é necessário analisar o estado emocional em que o indivíduo se encontrava antes de praticar tal ato. Ao analisar a pessoa, conseguimos identificar alguns aspectos que podem ter levado ao suicídio como: a solidão, a baixa autoestima e a não aceitação nos padrões da sociedade. A maioria desses aspectos é silencioso – nos quais serão abordados com mais ênfase ao longo do trabalho, juntamente com outros fatores que desencadeiam o suicídio. Quem está em volta só percebe quando tem um contato próximo com a vítima. O silêncio só ocorre no meio externo, internamente a pessoa está com pensamentos constantes e doentios, que muitas vezes levam a fazer o ato.

Segundo Émile Durkheim (1897, p. 360): “A tristeza não é inerente às coisas; ela não nos vem do mundo e pelo simples fato de o pensarmos. Ela é o produto de nosso próprio pensamento. Somos nós que a criamos integralmente, mas para isso é preciso que nosso pensamento seja anormal.” A solidão é um dos males que tem feito muitas pessoas desistirem de viver. A falta do afeto, dos amigos e da própria família leva muitos a tirarem suas vidas, para se livrarem do isolamento de alguma forma. Estas pessoas muitas vezes não estão só, elas podem estar rodeadas de amigos e parentes, entretanto, mesmo assim se sentem só e isoladas interiormente. Esse afastamento, sistematicamente nem notado, causa um estado de profunda tristeza, pois a pessoa só consegue enxergar seu estado de miséria. Durkheim explica esse estado de isolamento no seu livro O Suicídio (1897, p.358):

Quando, portanto, a consciência se individualiza além de um certo ponto, quando se separa muito radicalmente dos outros seres, homens ou coisas, ela já não se comunica com as próprias fontes em que normalmente deveriam se alimentar e não tem nada a mais que possa se aplicar. Produzindo o vazio em torno dela, produziu o vazio em si mesma e nada mais lhe resta sobre o que refletir a não ser sua própria miséria.

A solidão faz com que a pessoa viva um vazio intenso, além disso, ela ainda sofre com os padrões da sociedade, que muitas vezes são inalcançáveis, gerando nela uma baixa autoestima. Os indivíduos vivem fundamentados em diversos padrões, muitas vezes nem percebidos, a maioria da população não consegue seguir essas exigências, mas por causa da grande influência da mídia, a maioria acredita ser essencial buscar viver guiado por esses aspectos, nos quais as guiam de uma forma sutil. Essas exigências, que são muitas vezes não são alcançadas, provocam nas pessoas um sentimento de fracasso, gerando consequentemente uma baixa autoestima.

Fonte: http://zip.net/bntLwL

Como afirma Durkheim (1897, p. 322): “[…] Mas então suas próprias exigências tornam impossível satisfazê-las. As ambições superexcitadas vão sempre além dos resultados obtidos, sejam eles quais forem, pois elas não são advertidas de que não devem avançar mais. Nada as contenta, portanto, e toda essa agitação alimenta a si mesma, perpetuamente, sem conseguir saciar-se […]”.

Em toda e qualquer idade se vê o sofrimento por causa disso, porque para a maioria das pessoas o sentir-se bem significa ser aceito na comunidade, e a não aceitação gera um mal-estar. Qual seria a forma para diminuir a solidão, e estabilizar a autoestima das pessoas, sendo que a maioria sofre de alguma forma com esses aspectos, uns mais e outros menos? A resposta seria: O afeto. Porque através dele o indivíduo consegue se sentir acolhido, mais amparado, amado e aceito, gerando assim laços fortes que ajudam a diminuir esse mal estar que leva ao suicídio.

A importância da Sociedade na Minimização do Suicídio 

É fácil notar que o ser humano não nasceu para viver isolado. Buscamos constantemente, até mesmo inconscientemente, nos sentir pertencentes a algum meio. Segundo o livro Amor e Sobrevivência de Dean Ornish, estar integrado a um meio íntimo e amoroso é fundamental para a nossa sobrevivência, pois por um lado pode evitar um ato suicida e por outro pode fortalecer nossa saúde física e psicológica.

Fonte: http://zip.net/bdtLZf

A sociedade em si tem um papel importantíssimo na minimização do suicídio. Por exemplo, umas das pesquisas mais importantes sobre o suicídio foi realizada pelo sociólogo Durkheim, no qual fala que a decisão de tirar a própria vida, sempre teria um fundamento social: “[…] a pesquisa de Durkheim o levou a concluir que o principal fator que afetava o índice de suicídios era o grau de interação social dos grupos. Verificou que o nível de integração de um indivíduo a um grupo determinava a maior ou menor probabilidade de esse indivíduo cometer suicídio”  (ORNISH, 1998, p. 31).

Ou seja, quando as pessoas se sentem amadas e aceitas por um grupo, elas têm menos chances de cometer suicídio, apesar desse não ser o único fator. Logo, pesquisas exibidas no livro Amor e Sobrevivência de Dean Ornish, M.D, comparam pessoas que têm pouco ou nenhum envolvimento com a família, grupo de amizade sólido, até mesmo envolvimento em comunidades ou seitas religiosas, enfim, a sociedade em si, com pessoas que têm muito envolvimento com o corpo social e perceberam que os indivíduos que continham muita interação eram os mais saudáveis psicologicamente e fisicamente mesmo que estes se preocupassem menos com a saúde do que aqueles que tinham pouco envolvimento, mas praticavam exercícios físicos.

Portanto, podemos perceber que ter uma boa relação com o meio no qual estamos inseridos, implica diretamente na saúde física e psicológica e se o nosso físico e psicológico estão fortalecidos é mais difícil adquirir um quadro depressivo no qual no futuro poderia desencadear no suicídio. Concluindo, uma boa relação afetiva com o âmbito social pode evitar um impulso kamikaze.

Fonte: http://zip.net/bltKZK

Porém, se a anulação à sociedade pode gerar um mal-estar, a socialização demasiada também pode causar o mesmo efeito. Segundo o sociólogo Émile Durkheim no seu livro O Suicídio, quando o indivíduo está totalmente integrado à sociedade ele poderia tirar a própria vida em benefício de alguém ou de alguma crença, como, por exemplo, os mártires da igreja católica. Para esse tipo de suicídio Durkheim deu o nome de altruísta, no qual também definiu suas características: detém o sentimento de dever cumprido, entusiasmo místico e coragem tranquila. Eis os dois lados da sociedade e sua influência sobre o ato do suicídio e como o a importância do afeto como minimizador do atentado à própria vida.

A Importância da Família do Afeto 

Uma base familiar sólida, com vínculo afetivo é de extrema importância para o desenvolvimento saudável do psíquico/emocional. Quando a criança não possui, ou seja, não recebe esta referência, a tendência de se tornar um adulto inseguro, carente e dependente de uma ligação afetiva, faz que com que ela crie vínculos superficiais, a fim de se defender de futuras decepções. Outro ponto relevante é a forma como o adulto trata a criança, os gestos, às expressões sobre como ela é, isso, se concretiza, podendo assim analisar sua personalidade. Esse cuidado é fundamental, pois o comportamento na infância repercutirá na vida adulta desse ser. Assim como diz Dean Ornish: ‘’[…] os pais são geralmente a fonte mais importante de amor, apoio social e intimidade em nossa vida’’ (ORNISH, 1998, p. 45).

Fonte: http://zip.net/bttL9B

Em se tratando da adolescência onde essa fase é cheia de conflitos, transformações biológicas, psicológicas e sociais, a família deve estar totalmente atenta, a fim de lidar com as inseguranças desse adolescente que se vê cheio de cobranças diante as tantas mudanças. De acordo com Dean Ornish: ‘’[…] o apoio emocional pode proporcionar uma sensação de finalidade, significado e de pertencer ao mundo que vive. Onde se encontra o importante papel da família.’’ (ORNISH, 1998, p. 35).

A fase adulta é onde a busca da realização profissional, formação da família, a chegada dos filhos e a independência financeira traz importantes responsabilidades, o que muda completamente a vida do ser humano, onde a maturidade emocional deve estar em perfeita harmonia. Ou seja, ‘’[…] se sua experiência familiar foi repleta de amor e carinho, você tem maior probabilidade de ser aberto em seus relacionamentos atuais’’ (ORNISH, 1998, p. 45).

Enfim, a família pode ajudar o depressivo, buscando ter um relacionamento íntimo e recíproco, ou seja, lhe dando carinho, respeito, proporcionando incentivos, permitir que o deprimido dialogue a respeito da vontade de tirar a própria vida e principalmente ser empático e responder com amor a essa conversa, ao ponto da pessoa se sentir acolhida, segura e amada. Não existem dúvidas de que a família deve buscar conhecimento sobre o assunto, se preparar, para então ajudar e dar o apoio necessário, porém, mais que isso é preciso estar atento ao comportamento do parente, estar disposto a se envolver e incentivar o deprimido para que o mesmo não abandone o tratamento. Outro fator relevante é buscar ajuda em grupos de apoio, onde todos abordarão sobre o mesmo assunto, no qual irá contribuir para o entendimento da depressão.

Fonte: http://zip.net/bbtLlw

Por fim, ‘’ […] depende de vários fatores, principalmente da forma como cada um de nós enfrenta o problema, o nível de informação de que dispomos (nós familiares e amigos) para lidar com ele, e as redes de assistência disponíveis’’ (TRIGUEIRO, 2000, p. 70). O fato é que varias hipóteses podem ser levantadas, porém nenhuma delas se pode generalizar, visto que cada ser humano tem suas particularidades quando o assunto é suicídio, e o mais importante não subestimar e nem menosprezar as atitudes suicida e o comportamento desse familiar.

A Solidão

A vida solitária passa a ser um problema quando causa sofrimento na pessoa, e esta começa a se isolar da sociedade entrando, em um quadro depressivo, pois, ela carrega consigo uma sensação de desesperança e incapacidade de sentir prazer e vontade, ou seja, nada vale a pena, nem mesmo a vida. ‘’Sou eu que preciso de ajuda ou o mundo se tornou mesmo um lugar estranho, sem graça?’’ (TRIGUEIRO, 2000, p.63).

Fonte: http://zip.net/bttL9C

Como visto no tópico sobre a importância da sociedade; estar totalmente ou parcialmente afastado da comunidade pode gerar um mal-estar na saúde e no psicológico das pessoas. Pesquisas expostas no livro Amor e Sobrevivência de Dean Ornish mostram claramente este argumento à respeito da saúde: ‘’Por exemplo, há mais de quarenta anos, observou-se que os índices mais altos de tuberculose são registrados em pessoas isoladas, com pouco apoio social, mesmo quando moram em bairros ricos’’(ORNISH, 1998, p. 38). Se o isolamento causa este tipo de doença física na pessoa, pode-se imaginar o que se causa no psicológico também. Por este motivo que é tão fácil uma pessoa apartada da sociedade, por vontade própria, cometer suicídio. O que se sabe é que depressão não tratada leva o indivíduo ao suicídio, pois quem sofre com esta doença acha que se matando irá acabar também como o seu sofrimento.

O apoio familiar é de suma importância, ao ponto de ser um bom ouvinte sem julgar sem querer dar conselhos ou opiniões, buscar conhecer esse sofrimento, levar em consideração tudo que se ouve, estar disponível a ajudar fazendo a ver o quão importante ela e sem fazer comparações, buscar ver a situação do ponto de vista que causa tanto sofrimento. ‘’Também reconhecida como transtorno do humor, a depressão se manifesta de diferentes maneiras ou graus de intensidade. Se imaginarmos uma alma de ferro que se desgasta de dor e enferrujam com a depressão leve, então a depressão severa e o assustador colapso de uma estrutura inteira” (TRIGUEIRO, 2000, p. 71).

Fonte: http://zip.net/bltKZL

O ser humano tem a necessidade de se sentir pertencente a algum grupo e necessita ver na sua vida alguma razão para a sua existência, isso faz com que nós experimentamos o bem estar. A solidão se agrava quando o indivíduo não tem essa perspectiva de que é importante e de que sua vida tem algum valor para a sociedade em geral, como afirma Émile Durkheim:

 […] é necessário que, não apenas de quando em quando, mas a cada instante de sua vida, o indivíduo possa perceber que o que ele faz tem um objetivo. Para que sua existência não lhe pareça vã, é preciso que ele a veja de modo constante, servir a um fim que lhe diga respeito imediatamente. Mas isso só é possível desde que um meio social mais simples e menos extenso o envolva de mais perto e ofereça um fim mais próximo à sua atividade (DURKHEIM, 2000, p. 489).

A solidão pode ser vivida mesmo a pessoa estando no meio da multidão, por isso o afeto desde a infância é algo extremamente necessário, a família precisa dar apoio desde as primeiras horas de vida até a velhice, para assim evitar futuros problemas emocionais que na maioria acarretam suicídio.

O Egoísmo

A primeira vez que um ser humano se juntou ao outro foi a partir da necessidade de procriação, e com isso o número da população foi crescendo aos poucos, tudo era feito em conjunto desde caçar, se alimentar, se proteger, entre outros aspectos que fizeram que a raça humana se perpetuasse. A sociedade aos poucos foi mudando e sempre que havia união entre as pessoas algo mudava no mundo.

Aquele velho ditado que diz que a união faz a força realmente tem muito sentido, desde revoluções a terríveis guerras, mesmo sendo algo tão destrutivo. Mas algo está mudando na vida das pessoas, uma peça chave está mudando todo conceito de unidade: o egoísmo. Na pós-modernidade o tempo acelerado tem feito as pessoas focarem mais em si, formando assim uma sociedade mais egoísta. Como exibido no livro Amor e Sobrevivência de Dean Ornish, a atenção, o amor, a dedicação muda muita coisa, podendo prevenir doenças e até mesmo o suicídio, que é o principal foco desse trabalho.

Fonte: http://zip.net/bgtLp6

O egoísmo tem mudado muitos aspectos pelo mundo, no qual altera inúmeras realidades, como diminuição do numero de natalidade, maiores casos de depressão, doenças cardíacas, aumentou os casos de suicídio, e a realidade de cada lugar do mundo mesmo que por muitas vezes sendo diferente, tem a mesma consequência. Quando o nós saiu de cena e entrou apenas o eu, é perceptível a mudança em um contexto geral. A individualidade, ou seja, não conseguem interagir mais socialmente, não interagindo com a família, amigos, entre outros grupos sociais existentes, não sentem mais aceitos no mundo, e surgem pensamentos melancólicos, como ninguém me aceita, ninguém gosta de mim, ninguém me entende, entre outros pensamentos negativos que vão deixando a pessoa cada vez mais pra baixo, chegando ao extremo de tirar própria vida.

Considerações Finais

O que fazer para mudar isso, como acabar com egoísmo e o suicídio, como perceber que uma pessoa precisa ser amada e aceita pela sociedade e pela família sem direcionar essa resposta levando a culpa para o governo ou para órgãos responsáveis? Não tirando de lado alguns erros causados pelos mesmos, mas a principal mudança precisa partir do eu para chegar ao nós. Se tirássemos as vendas dos olhos, seria bem possível ver que matamos pessoas, não diretamente, mas moralmente, por conta de agressões verbais, nas quais podem causar inúmeros problemas.

O amor seria uma forma de curar o mundo, pois o amor teria que começar principalmente no indivíduo, que seria o amor próprio, e depois ir para um todo, se assim fosse, os índices de suicídio diminuiriam de uma boa parte, pois nem tudo é causado por um único agente, como foi exposto neste trabalho, tem vários casos e fatores nos quais são muito subjetivas as causalidades que levam uma pessoa a tirar a própria vida. Entretanto, se tivesse união de verdade entre as pessoas, não seria por falta de amor que as pessoas morreriam no mundo.

Fonte: http://zip.net/bptL4K

Vale apena pensar se o que eu faço contribui apenas pra mim, ou pode ajudar uma pessoa, como dizia Newton em uma de suas leis tudo que fazemos tem uma consequência, então vale apena investir em coisas que ajudem a todos, às vezes conseguimos aquilo que queremos ajudando o outro, e muitas vezes mesmo querendo receber um abraço, dando um abraço em quem precisa mais de você é que se recebe a recompensa. “A percepção do amor… pode vir a ser um preventivo central biopsicossocial-espiritual, reduzindo o impacto negativo dos agentes estressantes e patogênicos e reforçando a função imunológica e a cura” (ORNISH, 1998, p. 40).

Nota: Ensaio elaborado como parte das atividades da disciplina de Filosofia do curso de Psicologia do Ceulp/Ulbra, sob supervisão do prof. Sonielson Sousa.

REFERÊNCIAS:

DURKHEIM, Émile. O suicídio: estudo de sociologia. 1. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000. 513 p., il.

MENDES, André Trigueiro. Viver é a melhor opção. 3. ed. São Bernardo do Campo, SP: Correio Fraterno, 2017. 190 p., il.

ORNISH, Dean. Amor & sobrevivência: a base científica para o poder curativo da intimidade. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. 263 p., il.

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Casamento contemporâneo: convívio entre individualidade e conjugalidade

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Em “Casamento contemporâneo: o difícil convívio da individualidade com a conjugalidade”, a autora Terezinha Féres-Carneiro aponta para a complexidade dos relacionamentos conjugais e da lógica do um ser dois e dois ser um. Segundo ela, a maior dificuldade em se tornar casal está no fato de serem dois indivíduos, duas perspectivas de mundo, duas histórias de vida, dois projetos de vida, duas identidades diferentes. Na relação amorosa, esses dois sujeitos se deparam com uma identidade de casal, um projeto de vida de casal, uma história de casal, perdendo um pouco da individualidade de cada um.

Fonte: http://zip.net/bxtJW4

 

O casamento sempre foi, antes de mais nada, um vínculo criado entre duas famílias com o intuito de garantirem a própria proteção, ao se tornarem mais fortes e unindo os bens considerados essenciais para a sobrevivência. Com isso, Levi-Strauss aponta que a proibição do incesto estava mais para uma regra de ceder a mãe, a irmã ou a filha para outrem, sendo esse um aspecto da formação e organização das sociedades humanas. Antes, como o casamento era um meio para manter a existência humana, seja pela união de famílias, seja pela procriação, era visto que o amor e o prazer estavam desvinculados dessa instância da vida dos sujeitos, sendo esse amor e prazer encontrados em uma vida extraconjugal. Logo, percebe-se que a fidelidade não era um quesito notável.

Porém, um novo modelo de casamento surge no Ocidente, repercutindo até os dias atuais.  É o casamento por amor, onde ambos os envolvidos precisam amar-se para dar esse grande passo. Também apresenta-se o amor-paixão, em que o erotismo entra na dinâmica  conjugal, sendo agora o casamento um espaço parao exercício do amor e do prazer. Então, a fidelidade conjugal passa a ser uma atitude esperada pelos casados. Por fim, a autora enfatiza a dificuldade do relacionamento conjugal contemporâneo, época em que as individualidades se fazem com forte presença. Assim, o casamento tornou-se mais um modo de satisfação de cada cônjuge do que a satisfação dos desejos em comum do casal. Dessa forma, a relação só se manterá enquanto ela estiver atendendo as necessidades individuais de cada um.

Fonte: http://zip.net/bmtHYk

 

Portanto, percebe-se que o casamento, hoje, está sob o livre arbítrio dos sujeitos, podendo eles escolherem com quem e se desejam realmente se casarem. É espaço para o amor e o prazer, mas continua sendo também espaço de proteção dos envolvidos. O fato é que, se escolher entrar nessa dinâmica, é necessário deixar um pouco de lado o individualismo, contribuindo assim para a manutenção da relação conjugal.

REFERÊNCIAS: 

CARNEIRO, F.  T. Casamento contemporâneo: o difícil convívio da individualidade com a conjugalidade. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, 22.07.98.

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Amor, Sexo e Tragédia: como Gregos e Romanos nos influenciam até hoje

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O livro Amor, Sexo e Tragédia mostra que o que a maioria das pessoas faz na atualidade já existia na Grécia Antiga. O modo de olhar da sociedade Ocidental deve muito à cultura e à civilização dos gregos e romanos. Muitas foram as contribuições deste modelo civilizatório para o ocidente, e mesmo na atualidade, muito do modo de pensar e ver o mundo ainda contém influências advindas desta época. Dito isso, o presente ensaio focará nos capítulos “O corpo feminino-macio e esponjoso, depilado e recatado”, “Dele e dela-uma história de amor?”, “O amor grego” e “Um homem é um homem é um…” por Simon Goldhill.

Não é hábito do dia-a-dia questionar-se acerca da etiologia dos costumes sociais, amorosos e percepções acerca da sexualidade. O corpo e a sexualidade não é apenas o que a medicina explica. Através de análises da maneira como a sociedade lida com estes aspectos é possível entender a representação que foram para Gregos e Romanos. Não por menos, que as obras de artes por eles deixadas falam muito sobre isto.

Fonte: http://zip.net/bctHxC

Reflexões gerais acerca do corpo feminino produzem uma polêmica nos meios. A história sempre falou bastante do corpo masculino, e até o capitulo 2 do livro “Amor Sexo e Tragédia”, o autor, trata apenas este assunto. O capitulo 3 “O corpo feminino – macio e esponjoso, depilado e recatado” traz a narrativa a ser contada sobre a exibição do corpo feminino (Goldhill, 2007).

Pode-se dizer que o corpo feminino seja considerado ainda objeto particular para o discurso médico, legal, religioso, midiático, cotidiano, artístico e literário. De acordo com Goldhill:

Mas as coisas são bem diferentes e bem mais obscuras quando se trata do corpo feminino e da procura por sinais inaceitáveis de excitação sexual. Como muitos homens aturdidos, a lei também tem maior dificuldade em reconhecer os sinais do desejo sexual em uma mulher, e não sabe exatamente o que proibir. Se o problema é a excitação sexual, qual é seu sinal físico no corpo de uma mulher? E o que, no corpo de uma mulher, não poderia excitar um espectador masculino? (GOLDHILL, 2007, p.40).

Muitas destruições existiram durante e após este período, mas o ser humano nunca perdeu sua capacidade de se reinventar e reconstruir sua existência sobre escombros, dramas, catástrofes e dificuldades as mais diversas (Brazil, 2005).

O quarto capítulo, “Dele e dela – Uma história de amor” trata-se da exaltação do corpo feminino perfeito, no qual atrai olhares e exalta os corações humanos, versa sobre a cultura da Grécia, em relação as diversas formas de expressar o amor e da sua influência no mundo moderno. Diante disso o autor aponta que,

Atualmente, as normas sociais e os tabus das regras atenienses sobre o desejo são menos conhecidos. Mas a questão de como os atenienses amavam é extraordinariamente esclarecedora para nossas próprias, e mais íntimas, atitudes com relação a nós mesmos e a nossos corpos (GOLDHILL, 2007, p. 47).

Apresenta que, a forma como o amor é visto no mundo contemporâneo, quando se trata do corpo, desejo moderno, remota um pensamento, cultura e costumes da Grécia antiga, o que contradiz o clichê moderno que “o amor é igual no mundo inteiro”.

Fonte: http://zip.net/brtHC9

Cada um tem suas particularidades em relação ao amor, podendo haver história de amor com pessoas do mesmo sexo. No entanto, o Ocidente Moderno traz sempre aquela ideia de que o amor mais aceito é aquele no qual ocorre entre sexos opostos, independentemente da idade (GOLDHILL, 2007). Conta uma história de um homem que transou com uma garota de 13 anos, antes de se casarem, e que logo depois se matou, seja considerado a figura arquetípica do herói romântico. O fato de Romeu simbolizar o papel do amante na imaginação moderna, tem muito mais haver com a peça de Shakespeare, do que com os verdadeiros fatos da história.

Na cultura moderna, o nome Romeu – “o que há em um nome? ”- evoca imediatamente um suspiro lacrimejante em direção a uma sacada e a busca do amor verdadeiro apesar das barreiras das restrições sociais e disputas familiares (GOLDHILL, 2007, p.48). Percebe-se, com tais fatos relatados uma proximidade com relações na sociedade contemporânea, na qual não existe apenas um modelo de relacionamento, pois cada ser humano é livre para fazer suas próprias escolhas.

Se tratando da Grécia clássica não existe história relacionada a amor perfeito ou amor desventurado. Traz como exemplo a história de Ulisses e Penélope, visto como uma história de amor na qual o esposo é convocado para uma guerra, e Penélope aguarda com fidelidade seu retorno para casa. No entanto, não existe nesse relacionamento expressões de amor apaixonado, como: “eu te amo”, “senti sua falta”, como seria o mínimo esperado pelo Ocidente moderno, tendo em vista que o esposo estava longe de casa (GOLDHILL, 2007).

Fonte: http://zip.net/bmtHvP

Sócrates personifica o marido grego, quando no leito de morte expulsa a esposa lacrimosa para passar suas últimas horas conversando com seus companheiros. Paixões monstruosas e assassinas corrompem os corpos das heroínas das tragédias gregas, mas elas não são jamais destruídas por um belo e delicado amor. Não existe “Romeu e Julieta na Grécia clássica” (GOLDHILL, 2007, p. 48).

Os gregos, ao se referir ao amor costumam fazer uso da palavra eros para expressar os seus profundos sentimentos de desejo, atração e não o amor propriamente dito no sentido romântico, visto como algo divino, puro. Nesta perspectiva, o autor Goldhill (2007, p. 48), alude que, “em um contexto sexual, ele é com frequência escrito como uma doença, uma chama ardente e destrutiva, que não é absolutamente desejada por sua vítima”.

O amor eros não espera esse reconhecimento de amar e ser amado, como vemos na sociedade moderna essa necessidade, ou seja, no amor eros não faz diferença se o amor é ou não reciproco, não interessa se será feliz ou infeliz, o que importa é a satisfação do desejo no momento.

O capítulo 5 intitulado de “O amor grego” mostra que na relação de homens com homens, antigamente os mais velhos podiam ficar com meninos que estavam entrando na puberdade, que tinham por volta de 12 anos. Os homens mais velhos procuravam no menino o chamado “Corpo Perfeito”, que era quando um menino tinha um corpo definido como das estatuas da antiga Grécia. Os garotos que possuíam pelos nascendo no rosto já mostravam a passagem da adolescência para a fase adulta. Com isso os mais velhos não podiam mais ter relações com esses garotos, porque na ideologia deles estavam perdendo a beleza pura.

Fonte: http://zip.net/bktHDV

Para o homem grego na cidade clássica, o desejo que um cidadão adulto livre sente por um menino livre constituiu o modelo dominante de laço erótico. Nenhuma outra forma de contato masculino tem o mesmo prestigio, a mesma aceitação ou as mesmas pretensões ao êxtase erótico” (GOLDHILL, 2007, P.55).

Para que os homens mais velhos ficassem com os garotos, eles tinham que dar presentes e conselhos sobre a vida, e sempre estavam por perto dos garotos para mostrar que  estavam realmente interessando neles. No ato da relação sexual os garotos precisavam permitir que eles o tocassem. Sem a permissão, os mais velhos não o poderiam fazer.

Os mais velhos tinham muita paixão e desejo pelos garotos, porém a paixão não era mútua. Esse assunto pode ser relacionado com a homossexualidade, porém, a diferença é que hoje não está presente a questão da idade, podendo ter relações entre homens com qualquer idade.

Fonte: http://zip.net/bwtG8X

O capítulo seis do livro “Amor, Sexo e Tragédia”, trata de um assunto bastante complicado na atualidade, a masculinidade. Tal assunto é bastante difundido na sociedade contemporânea por diversos setores como o feminista, o homossexual e até mesmo o masculino. Ser do sexo masculino, por muito tempo significou ser um ideal de macho, alfa, provedor do sustento da casa, que de maneira alguma poderia demonstrar sentimentos, pois assim seria uma demonstração de fraqueza a qual ainda hoje é difundida. Porém nem sempre foi assim e é sobre isso que o presente capítulo discorre.

O autor inicia falando, que hoje em dia sempre que a masculinidade é questionada, se olha para o passado para a sociedade grega, com olhos saudosistas ou de total reprovação. Isso acontece porque, a Grécia antiga é vista sob duas visões, como um mundo pagão cujo os vícios foram gradativamente sendo rejeitados em detrimento do surgimento de uma moralidade moderna, ou como um paraíso perdido anterior à prisão do desejo pela sociedade moderna.

A verdade é que a vida social, civil e política na Grécia era comandada por homens, e o mais elevado status social era delegado aos homens detentores do saber. Naquela época era muito comum a prática da pederastia, que consiste em uma relação sexual entre homens mais velhos (os mestres) e um rapaz mais jovem (que ofereciam sede pelo conhecimento e sua beleza), ou seja era totalmente permitida e até bem vista a prática da homossexualidade.

Muitas vezes os gregos usavam a mitologia metaforicamente, para explorar a fronteira entre o humano do bestial. O autor cita no capítulo o exemplo dos sátiros, criaturas metade humano e metade bode, que faziam tudo o que os meninos bem-comportados não podiam fazer. Geralmente os sátiros eram desenhados em jarras que eram enchidas de vinho, os homens brincavam de sátiros, nas ocasiões em que se reuniam e bebiam juntos se tornavam semelhantes aos sátiros, ou seja, sátiros cruzavam e descruzavam as fronteiras da adequação masculina.

Fonte: http://zip.net/bmtHvW

Trazendo para um contexto atual, o ponto principal em que o autor toca é que existe uma enorme fragilidade da masculinidade, tanto na Grécia antiga, quanto na nossa cultura ocidental. E que embora a masculinidade seja reforçada por regras e expectativas, existem oportunidades para driblar de forma brincalhona ou transgressora, os limites e fronteiras.

Com a chegada da sociedade pós-moderna, bastante reconhecida pela época dos avanços tecnológicos, medicinais e políticos, muita coisa mudou, mas a Grécia e a Roma clássicas continuam como pano de fundo. O modo como as pessoas vivem os corpos, a sexualidade, e suas percepções mudaram pouco em comparação com o que os gregos e romanos viviam. Pode-se afirmar que a mudança principal ocorreu na maneira como é vivenciada, divulgada e vista. Enfim, a sociedade ainda vive explicitamente influenciada pela cultura clássica, no que diz respeito aos corpos, a mídia, a moda e a produção cultural.

FICHA TÉCNICA:

AMOR, SEXO E TRAGÉDIA – COMO GREGOS E ROMANOS INFLUENCIAM NOSSAS VIDAS ATÉ HOJE

Autor: Simon Goldhill
Editora: Zahar
Páginas: 300
Ano: 2007

REFERÊNCIAS:

GOLDHILL, Simon. Amor, sexo & tragédia: como gregos e romanos influenciam nossas vidas até hoje. Tradução Claúdia Barbela. Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed., 2007.

CARLOS BRAZIL, Universia Brasil, Maio 2005. Disponível em: <http://noticias.universia.com.br/ciencia-tecnologia/noticia/2005/05/27/481369/humanidade-no-pos-segunda-guerra.html# >. Acesso em: 15/03/2017.

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Amor, Sexo e Tragédia: somos mesmo originais?

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A forma como o Estilita Simeão viveu, em austeras penitências corporais, retrata a vida dos anacoretas de sua época. Seu biógrafo conta-nos que seus atos de sacrifício, eram de castigar seu próprio corpo, com um desejo de assemelhar-se à paixão de Cristo. Dava-se ao jejum de alimentos e água e se expunha ao calor, e ao frio exposto a “uma coluna de pouco mais de 18 metros em vigília continua; uma imagem viva do Cristo crucificado” (GOLDHILL, 2007, p. 97).

Ainda de acordo com seu biógrafo as torturas vividas por Simeão eram uma forma de chamar a atenção do mundo, despertando-o para existência de Deus. O mosteiro onde Simeão morava era cercado de pessoas que viam nele um homem santo e todos o admiravam e gostavam de ouvi-lo. “Por vezes ele realizava papel de juiz especial diante de alguma disputa” (GOLDHILL, 2007, p. 98).

http://zip.net/bytHR6

Simeão vivenciou um êxtase espiritual profundamente marcado pelo amor a Deus. Deu-se aos sacrifícios corporais até sua morte e ainda que seu corpo se esvanecesse pelas torturas, sentia-se fortalecido pela presença de Deus.

Simeão faleceu no ano 459. Ele foi uma superestrela no rol dos homens santos, todos grandes sofredores pela qual a Síria era especialmente famosa. Esses santos representavam o pináculo da nova atitude cristã relacionada ao corpo (GOLDHILL, 2007, p. 99).

Pregou e viveu um cristianismo que era contrário à cultura clássica. Para ele, ser cristão era ser capaz de penitências, asceses e renúncias; viver a negação dos laços sociais e dos prazeres que este oferece. E o monge deve retirar-se para o deserto, orar sozinho e viver em austeras penitências e jejuns. “Uma maneira dos cristãos mostrarem publicamente a sua crença era a recusa de participar de sacrifícios. Por vontade própria eles excluíam-se obstinadamente da comunidade” (GOLDHILL, 2007, p. 100). Alimentar-se para Simeão era algo confortável, de certa forma até de luxo, pois a sociedade do seu tempo vivia em penúria e até passavam fome.

http://zip.net/bgtHpJ

Para o pensamento grego um cidadão clássico tinha que trazer em si característica “de soldado, orador, homem do bem” (GOLDHILL, 2007, p. 100), versado em filosofia, e dado aos prazeres e alimentação farta. “Comer bem significava o triunfo da civilização, uma combinação do trabalho árduo do lavrador e da graça dos deuses” (GOLDHILL, 2007, p. 101). Porém os cristãos se contrapunham a essa realidade e se retiravam ao deserto para se desafiarem nessa civilização. “O calendário do cristão comum podia se alternar entre o jejum e o banquete, Quaresma e Páscoa” (GOLDHILL, 2007, p. 101).

Em síntese, os superestrelas da carne, mostra que o jejum deveria ser praticado e ajudaria os cristãos a refrear as paixões e a refrear os impulsos sexuais, como um combate ao pecado e a busca de santidade, uma vez que a defesa da castidade de monge era exercício disciplinar constante. “Toda história requer heróis, e, para o início do cristianismo eles são os ascetas e os mártires” (GOLDHILL, 2007, p. 103). O cristão era chamado a ser mártir e o martírio se tornava exemplo de vida virtuosa revelando a forma mais refinada de transcender a dor. E isso Simeão legou aos cristãos do seu tempo.

Essa forma de vida de martírio era inaceitável para os gregos e romanos, pois para eles “o corpo do cidadão devia ser inviolável” (GOLDHILL, 2007, p. 104), ainda que os escravos fossem submetidos à tortura. O orador clássico, cidadão herói grego, deve ser ereto, altivo e exibicionista. O cristão devia ser simples, modesto desprovido de vaidades. Apropriados dos seus próprios corpos, os cristãos deveriam apenas ser agradáveis a Deus.

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O sexo e a cidade – A carne e o mundo

Em “O sexo e a cidade”, Goldhill (2007) traz considerações acerca dos desejos da carne x cristianismo. O autor ressalta que com o Império Romano, tonando-se cristão, houve uma série de conflitos em relação à sexualidade e os valores cristãos. E esse fato repercute até hoje nas escolhas e formas de vida familiar. Para tanto, sendo o casamento “o alicerce da sociedade”, a concepção que temos dele é, também, a forma como nos percebemos na sociedade (GOLDHILL, 2007). O autor aponta, ainda, que o casamento cristão trazia algumas atitudes, consideradas estranhas, de como se deveria levar a vida, pois teve sua formação contra a cultura greco romana e organizada limitadamente pelo Império Romano.

Paulo recomenda, nas Sagradas Escrituras, que o casamento seja honrado pelos homens e, com isso, traça um conjunto de leis que, em suma, resulta em um tipo de casamento patriarcal, no qual a mulher deve ser subordinada ao homem. Por outro lado, há outro conselho deixado por ele, no qual ele ressalta que o homem deve se comprometer com o celibato e a mulher deveria permanecer virgem e cuidar das coisas do Senhor. Com isso, o casamento fica em segundo plano (GOLDHILL, 2007).

http://zip.net/bntHqM

Nesses parâmetros o autor adverte que: de fato, Paulo recomenda o casamento, mas o faz somente para evitar que aqueles que não conseguem suportar o celibato sejam queimados no inferno por cometerem o pecado do sexo ilícito. É isso que faz do casamento algo “honrado” (GOLDHILL, 2007 p. 107). Nesse ínterim Goldhill (2007), relata a história de duas mulheres que buscaram seguir o conselho de Paulo. Tecla e Maximila são duas mulheres que abriram mão de uma vida matrimonial para viver o celibato.

Tecla era uma jovem que estava noiva e após escutar as pregações de Paulo sobre castidade começa a sentir um novo desejo, o que deixa sua família e o noivo aflitos. Desse modo, Paulo é considerado como alguém que leva as mulheres para um mau caminho e destrói a vida dos casais. Com isso, Paulo é preso. Porém Tecla aumenta, ainda mais sua fé e devoção. Tecla é condenada a morte, porém “ela é sempre salva pelo milagre divino” (GOLDHILL, 2007 p. 108). Dessa forma, “Tecla tornou-se uma santa para a adoração cristã, um modelo para as virgens que evitam o casamento. Ela figura como heroína e inspiração em diversas histórias de vida de muitas moças” (GOLDHILL, 2007, p. 109).

Maximila é uma mulher casada que, ao escutar as palavras de Santo André: “ofereça-se a Deus” (p. 110), converte-se ao cristianismo e começa a fazer orações para que Deus a afaste do próprio marido e a mantenha casta. Dessa forma, para se privar de relações com o marido, ela coloca uma escrava para satisfazê-lo, sem que ele saiba. Porém, ao descobrir ele fica arrasado por ter sido enganado por ela. Maximila, então, confessa seu amor pelo Divino e deixa seu marido para se dedicar às obras de Deus (GOLDHILL, 2007).

E assim, Goldhill (2007), afirma que o cristianismo gera um declínio social, pois as pessoas deixam de viver muitas coisas por causa do Divino, impedido, dessa forma, a continuidade de uma família. Com isso, o autor acredita que: “o cristianismo requer um compromisso individual ‘com o mundo por vir’ – um sendo radicalmente diferente de futuro” (GOLDHILL, 2007 p. 110). 

Virgindade, Celibato ou Casamento?

Durante a Idade Média, quando o Cristianismo se instaura na Europa, as mulheres deveriam fazer a escolha entre o celibato ou o casamento. O celibato trazia grandes honras para a família, as “virgens de Deus” ou “noivas de Cristo” dedicavam sua vida a uma eterna virgindade, se dedicavam à igreja e a Deus. A virgindade era exaltada, a igreja considerava o desejo e a sexualidade como pecados, fontes de fraqueza humana.

http://zip.net/bktHrJ

De acordo com Goldhill (2007) a reclusão, jejum e orações constantes eram necessárias como suportes contra a fraqueza. A mulher podia demonstrar sua fé e devoção na igreja e no lar por meio de uma dedicada virgindade, a mulher que optava por esse estilo de vida deveria se afastar do modo de vida convencional por vontade própria, sendo veneradas pela igreja. O casamento era considerado honrado contanto que um homem e uma mulher mantivesse relações sexuais com seus cônjuges e após o casamento, se não seria perversão. O divórcio e a oportunidade de um novo casamento era condenado pela sociedade, o sexo associado à culpa e à sujeira.

Por muito tempo foi discutido questões sobre virgindade, santidade, sexo e casamento, sendo temas polêmicos até os dia atuais, sendo que, muitas das incertezas sexuais vivida pela sociedade atual provêm do que foi imposto pela igreja católica, uma vez que o compromisso com valores tradicionais não avaliam a própria historia. A crise ainda compartilhada pelo corpo social moderno ocorre, pois todos participam das discussões sobre como deve funcionar um casamento, relações sexuais extraconjugais, relações sexuais com múltiplos parceiros e relações homossexuais são ditas como erradas. Entretanto, não cabe a sociedade como um todo, formular uma resposta. Goldhill (2007, p.116) cita que:

(…) está claro que sem uma compreensão histórica de como esses temas se tornaram as questões que hoje preocupam o Ocidente Moderno, qualquer resposta que dermos a essas perguntas será superficial. Se quisermos entender as tensões com as quais o casamento moderno se debate, precisamos compreender que a “tradição” é uma longa história de revolução, conflito e mudança, uma história que produz tais tensões.

O que é Atenas para Jerusalém?

Os valores humanos podem ter criado sua própria crença através da derrubada dos valores cristãos, mas foi muito difícil tirar os valores cristãos das mentes e dos corações dos cidadãos do Império Romano do que o planejado. Os cristãos continuaram vivendo dentro de sua cultura por mais que fosse combatida e assimilaram rotineiramente as ideias e o raciocínio do mundo grego-romano que os rodeava (GOLDHILL, 2007).

http://zip.net/bytHSn

Mas o cristianismo também tinha outra maneira de falar. Particularmente nas cidades, homens e mulheres cristãos precisavam manter um diálogo com os gregos e romanos entre os quais viviam e os homens e mulheres cristãos mal podiam evitar serem influenciados pela cultura que os circundava, mesmo que tivessem a intenção de rejeitá-la (GOLDHILL, 2007, p.118). A imagem de Jesus, não importa o quanto era importante para os cristãos, também foi incorporado aos modelos da sociedade grega e romana (GOLDHILL, 2007).

Filósofos e homens santos

Goldhill (2007), sugere a existência de um diálogo entre a filosofia e a cultura greco-romana, que se evidencia historicamente nas características da interação social. No cristianismo e na cultura greco-romana, homens se tornaram santos e heróis culturais, conhecidos como mártires e sábios. Caracterizados pela abdicação dos bens materiais, luxos, prazeres, optavam por uma vida de sacrifício, abstinência, jejuns, utilizando somente o necessário para vida. O autor cita Diógenes, um filósofo cínico, que optou por se desfazer de tudo, mantendo “apenas uma tanga e uma tigela- e quando viu um jovem pastor beber água de um rio usando apenas as mãos, jogou fora também a tigela” (GOLDHILL, 2007, p.123).

Jesus, a figura de fundamental importância para o cristianismo, também foi assimilada as características da sociedade grega e romana. De forma semelhante, o cristianismo recebeu influências filosóficas, pois a filosofia orientava para uma vida espiritualizada e de autorreflexão.

O poder dessa imagem do antigo filósofo é ainda hoje fortemente sentido. Uma avaliação serena, e a rejeição do tumulto da ambição, da cobiça e da avareza são como um negativo fotográfico da imagem da sociedade moderna apresentada pelos jornais, pelos filmes, pela televisão. Era um estilo de vida que foi facilmente incorporado ao desejo cristão por uma existência mais elevada, contrária ao Império deste mundo (GOLDHILL, 2007, p.125).

Assim, o cristianismo se desenvolve tanto por meio da rejeição como da negociação com a cultura grega e romana. E a cultura ocidental moderna se forma por essa mescla de tradições. Mesmo vivendo em uma sociedade moderna é impossível não dar uma grande importância para a religião, pois a mesma traz grande influência para o nosso dia a dia querendo ou não ao longo da nossa construção como ser humano carregamos princípios da religião e todos nossos clichês do certo ou errado e estilo de vida traz um pouco de algo que aprendemos através da nossa cultura religiosa. Até mesmo se somos desacreditados da religião temos que reconhecer que em tudo tem algo da Bíblia e que essa cultura religiosa está presente. Enfim, todos nós temos uma história cristã clássica dentro de nós.

http://zip.net/bbtHj2

Segundo Goldhill (2007, p.94) “Devemos também reconhecer e não distanciar a civilização cristã como estudo do clássico”. O qual seu estabelecimento ocorreu durante o Império Romano não diferenciando assim o estudo do clássico e o estudo do período inicial da igreja sabendo assim que o Império Romano de tornou cristão, mas o cristianismo por sua vez tomou a forma do Império Romano.

O cristianismo tem grande envolvimento com a cultura grega tendo grandes influências da mesma. Porque o veículo para o transição de ensinamentos da Bíblia é a língua grega por isso podemos afirmar que a civilização ocidental não é apenas judaico-cristã, mas sim uma civilização grego-judaica – cristã (MURACHO, 2002, p.10). Não podemos esquecer as raízes do cristianismo e assim reconhecer que a tradição religiosa presente no ocidente se formou no mundo clássico. Se deixarmos toda essa cultura para trás seremos apenas turistas, e o importante é vivê-la.

REFERÊNCIAS:

GOLDHILL, Simon. Amor, sexo e tragédia. Rio de Janeiro: Zahar, 2007.

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Ressentimento: outro olhar sobre o tema

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Psicologia em Debate é um evento que acontece semanalmente (quartas-feiras) no Ceulp/Ulbra. A palestra do dia 08/03/17 foi ministrada pelo acadêmico Lenício Nascimento, com tema: “Você é uma pessoa RESSENTIDA?”. O embasamento teórico veio do conceito do filósofo Luiz Felipe Pondé. O acontecimento teve a participação dos alunos e alguns professores, ocorreu na sala 203, às 17h, prédio 2.

Então, ao entrar na sala, me deparei com um movimento maior do que o normal, abalizado na minha experiência, acredito de antemão, que este assunto mobilizou grande parte das pessoas. Particularmente, fiquei extremamente intrigada com o tema ressentimento na concepção de Pondé. Se formos analisar o significado da palavra ressentimento, segundo Minidicionário Aurélio, […] mágoa, ofensa, melindre, raiva (SCOTTINI, p.401).

Fonte: http://zip.net/bxtH4M

Mas, o ressentir na minha humilde opinião (senso comum), como também diz respeito a mágoa, (angústias/amarguras), entendo como algo que envolve sentimentos mais intensos, com grau maior de dor e sofrimento, e que vem de alguém que é parte de você, ou seja, a família, ou pessoas que lhe são íntimas/importantes. E isso não acontece a todo momento.

Entendo que não sentimos mágoa de quem não amamos, sentimos raiva, tristeza, mas logo passa. Já a mágoa não! Ela perdura por toda uma vida, se não for elaborada. Compreendo que, não vem de qualquer pessoa, precisa que os lações sejam estreitos para que haja ressentimento. Sendo resultado de algo mais profundo. Não posso dizer que seria algo intrínseco do ser humano, penso que alguém possa passar pela vida sem ressentir.

Entretanto, para Pondé, a inveja é um dos fatores do ressentimento, vamos então para o significado desta palavra. “Vontade de possuir algo, de ser como outrem, e não conseguir, sentindo por isso depressão; cobiça de obter coisas (SCOTTINI, p.256). Minha intenção não é discordar, e sim tentar entender. Durante a palestra, fiquei instigada a trazer minhas considerações, mas percebi que seria uma viagem de minha parte, pois minha concepção a cerca desta temática, tem a ver com minhas experiências, relatos de outras pessoas.

Fonte: http://zip.net/bjtG7F

Para tanto, saí do Psicologia em Debate com muita vontade de entender melhor sobre ressentimento na visão deste autor. Com intuito de ampliar meus conceitos, e sair do senso comum, fomentar melhor minhas conclusões a respeito do tema, como também avaliar minhas inquietações, pois a palestra me mobilizou, ou seja, tirou-me da zona de conforto, posso assim descrever. Talvez o ressentimento é mais simples do que posso imaginar, e quem sabe posso dar a este sentimento o que acho que cabe a ele, algo para refletir!

Os meus questionamentos foram compartilhados por alguns nos corredores da Ulbra, pois este autor nos surpreendeu. Cabe esclarecer que, ainda não sei na íntegra o que Pondé relata em seu livro, quero aqui destacar minha vivência no dia do evento, sem que ela seja alterada (com a leitura do livro). Respondendo ao tema desse relato, não sou uma pessoa ressentida, esse sentimento não cabe no meu coração, eu não planto, não adubo, e não rego o que me faz mal. A importância que dou aos meus sentimentos ruins, são os únicos que cabe a eles, não mais que isso.

 “Deus”, me permite passar pela vida sem ressentir com quem quer que seja.

REFERÊNCIAS:

SCOTTINI, Alfredo. Minidicionário Escolar da Língua Portuguesa. Edições TodoLivro. Blumenau, 1998, p. 256,401.

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Madre Teresa de Calcutá: um sopro de esperança aos sem vida

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“O senhor não daria banho a um leproso nem por um milhão de dólares?
Eu também não. Só por amor se pode dar banho a um leproso.”

Um exemplo notável de caridade, devoção, voluntariedade e, principalmente, humanidade em toda a história se encontra em um ser humano do sexo feminino, chamada Gonxhe Agnes Bojaxhiu. Provavelmente poucos já ouviram esse nome, mas saberão imediatamente de quem se trata ao descobrirem que é a mesma Madre Teresa de Calcutá. Nascida em 26 de agosto de 1910, em uma família albanesa em Skopje, capital da atual república da Macedônia – que na época pertencia à Albânia [1], Gonxhe demonstra muito bem o amor à vida e a dignidade que todos merecem e deveriam receber.

Fonte: http://migre.me/wbL1x
Fonte: http://migre.me/wbL1x

Desde jovem, a Madre parecia conhecer a sua vocação missionária, ingressando na Congregação Mariana, em seguida (setembro de 1928), na Casa das Irmãs de Nossa Senhora do Loreto, em Dublin, na Irlanda. Essas irmãs possuíam um colégio em Darjeeling, na Índia, onde, em 1931, tomando o nome de Teresa, a Madre fez noviciado, os votos de obediência, pobreza e castidade, dando início a uma jornada de devoção e cuidado para com o próximo.

Essa jornada ganha força quando Teresa parte para Calcutá, também na Índia, para dar aula para as meninas ricas da cidade. Entretanto, ela abandona essa função e também o colégio das irmãs de Loreto em 1948 (depois de sua profissão perpétua, em 1937) para viver entre os pobres, cujos formavam a maior parte daquela cidade e causavam comoção na Madre.

Fonte: http://migre.me/wbL2Q
Fonte: http://migre.me/wbL2Q

Percebendo a situação em que muitas pessoas ali viviam (ou apenas sobreviviam), Madre Teresa passou a pedir ajuda nas ruas e a auxiliar quem necessitava. Não demorou muito para que ganhasse adeptas ao seu movimento, entre elas, algumas de suas antigas alunas. Em 1950, funda uma congregação de religiosas, que gera várias casas de religiosas por toda a Índia e depois no exterior. Seu trabalho se torna visível, recebendo uma casa, cedida pelo Papa João Paulo II, para recolher os pobres. A casa se chama “Dom de Maria” [2].

Seu trabalho ganha ainda mais reconhecimento em 1979, quando Madre Teresa recebe o prêmio Nobel da Paz, pelos serviços prestados à humanidade. Tendo sua missão completada, Madre Teresa de Calcutá morre aos 87 anos, de parada cardíaca, deixando a tarefa de humanizar e cuidar mais da vida para todos que tomam sua atitude como exemplo. Foi beatificada em outubro de 2003, pelo Papa João Paulo II e canonizada em 2016, pelo Papa Francisco [2].

Fonte: http://migre.me/wbL3X
Fonte: http://migre.me/wbL3X

Ícone do trabalho voluntário e do amor ao próximo, Madre Teresa de Calcutá ainda vive nas ações de quem busca promover o bem e a ajuda, se preocupando com quem está ao redor. Além do mais, é um exemplo de/para muitas mulheres, representando essa massa que luta diariamente por melhorias, por igualdade, por respeito e por dignidade.

Referências:

[1] Portal G1, 2016. Quem foi Madre Teresa de Calcutá. Disponível em: <http://g1.globo.com/mundo/noticia/2016/09/quem-foi-madre-teresa-de-calcuta.html>. Acesso em: 04 mar 2017.

[2] Portal Uol, 2017. Biografia de Madre Teresa de Calcutá. Disponível em: <https://pensador.uol.com.br/autor/madre_teresa_de_calcuta/biografia/>. Acesso em: 04 mar 2017.

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La La Land – Cantando Estações: uma ode ao sonhador

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Com quatorze indicações ao OSCAR:

Melhor Filme, Melhor Diretor (Demien Chazelle), Melhor Atriz (Emma Stone), Melhor Ator (Ryan Gosling), Melhor Roteiro Original (Demien Chazelle), Melhor Fotografia (Linus Sandgren), Melhor Direção de Arte, Melhor Montagem, Melhor Mixagem de Som, Melhor Edição de Som, Melhor Figurino, Melhor Trilha Sonora, Melhor Canção Original (“Audition” e “City of Stars”). 

Banner Série Oscar 2017

“Essa vida é uma mistura de algo puramente fantástico, calidamente ideal e, ao mesmo tempo, palidamente prosaico e comum, para não dizer vulgar até o inverossímil. […]
…nesses recantos vivem pessoas estranhas: os sonhadores. ”
(Noites Brancas, Dostoiévski) [1]

Em uma época que filmes de heróis com máscaras, força colossal ou indumentárias de ferro se reproduzem na velocidade da luz, é bom ir ao cinema para simplesmente assistir a um tipo de filme que parecia existir apenas no passado: um filme sobre (e para) sonhadores.

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Damien Chazelle, diretor e roteirista, fez de La La Land uma inesquecível homenagem aos antigos musicais da era de ouro de Hollywood. A fotografia do filme já é, por si só, uma ode a esses musicais, com longas tomadas líricas, uma câmera fluida e uma paleta de cores vibrante. Chazelle e Linus Sandgren (Diretor de Fotografia) falaram que “a decisão de usar o formato analógico foi amplamente motivada pelo fato de que as câmeras digitais capturam a realidade tão bem que torna-se difícil fazer um filme com um olhar ‘mágico’ durante a edição” [2]. E trazer a magia, especificamente essa que tem relação com a realidade que existe apenas em nossos sonhos, não é uma tarefa simples, considerando os filmes que lotam as sessões de cinema atualmente.

Segundo Bruner, crítica de cinema da Time [3], antes de La La Land ser um sucesso nos vários festivais em que foi apresentado, era apenas uma fantasia que o diretor Chazelle e o compositor Justin Hurwitz tinham quando tocavam em uma banda em Harvard. “Existe uma maneira de fazer um grande filme no estilo dos clássicos musicais da MGM em um ambiente completamente moderno, em um contexto realista, ou isso é um paradoxo intransponível?” Chazelle se perguntava.

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É ousado, em muitos aspectos, ter como cena de abertura de um filme atual um grupo de pessoas cantando e dançando em uma Los Angeles ensolarada em meio a um trânsito infernal. A quantidade de nãos que Chazelle levou da maioria dos estúdios mostra o quanto foi difícil para alguém acreditar que a ingenuidade de um filme musical poderia fazer sucesso junto ao público moderno. Um público aparentemente avesso a mundos em que a canção pode vir de forma espontânea e normal e a vida pode ser uma busca incessante de um sonho.

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La La Land acompanha a história de Mia (Emma Stone), uma talentosa aspirante a atriz que trabalha em uma cafeteria nos estúdios da Warner Bros, e Sebastian (Ryan Gosling), um apaixonado pianista de jazz. É o terceiro filme que os dois atores atuam como par romântico e a química entre eles é evidente na tela. Mia e Sebastian são a personificação do sonhador e estão em Los Angeles, a terra do cinema, a procura de uma oportunidade para tornar real aquilo que imaginaram. E essa oportunidade parece nascer desse encontro. Mas, por detrás das músicas alegres do início, do encontro poético no cinema e no planetário e da leveza que esse encontro parece trazer aos dois a ponto de metaforicamente flutuarem em uma das cenas, há um romance complexo e bem delineado sendo construído, que atinge toda a sua plenitude na segunda metade do filme.

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City of stars
Are you shining just for me?
City of stars
There’s so much that I can’t see
Who knows?
I felt it from the first embrace I shared with you
That now our dreams
They’ve finally come true

Não há em La La Land um número de dança com o refinamento técnico e artístico dos grandes musicais antigos, estrelados por Fred Astaire e Ginger Rogers, nem há músicas cantadas com vozes tecnicamente perfeitas. Mas segundo Chazelle, era esse naturalismo que ele estava procurando, logo Emma e Ryan se encaixaram plenamente em seus papeis. Segundo Bruner [2], dois dos números mais emocionantes do filme, a cena da audição da Mia, “Audition” cantada por Emma e o dueto de “City of Stars”, no apartamento do casal, cantada por Ryan e Emma, foram gravadas ao vivo, e as falhas se tornaram parte da magia.

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A voice that says (uma voz que diz)
I’ll be here, and you’ll be alright (Eu estarei aqui, e você ficará bem)

Na música que Mia canta na audição mais decisiva da sua vida, ao contar uma história de sua tia que morou em Paris, ela diz “um viva aos sonhadores, tolos irremediáveis, um viva aos corações que sofrem, um viva ao caos que causamos”. Seja em um romance de Dostoiévski do século XIX, seja em um filme musical do século XXI, o sonhador parece estar destinado a extremos: uma alegria contagiante nascida da esperança nas pessoas e no amor, e uma melancolia e solidão profundas, originadas dos mesmos motivos.

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Nem sempre a voz estará lá para lhe dizer que você ficará bem, ainda que em meio a desilusões, mesmo aquelas autoprovocadas, o sonhador ouse acreditar mais uma vez no mundo que cria para si a cada manhã…  e só quem sonha sabe o quanto é preciso acreditar.

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Não há nada melhor do que imaginar outros mundos para esquecer o quanto é doloroso este que vivemos. Pelo menos eu pensava assim naquele momento. Ainda não compreendera que imaginando outros mundos, acabamos por mudar também este nosso.” (Baudolino, Umberto Eco) [4]

La La Land, ao final, termina com uma das sequências mais lindas de um filme nos últimos anos. A sequência do E se…, que ao invés de nos deixar com um sentimento de tristeza pelo que não é, nos fornece uma contagiante sensação de esperança por aquilo que podemos construir dentro de nós, pelos mundos que imaginamos, que nos faz ser quem nós somos e que modifica também quem o outro é.

Acima de tudo, La La Land é uma grande declaração de amor ao cinema. Novamente temos aquela sensação, ao final de um filme, de que podemos ser felizes, mesmo que por um breve momento, de que músicas podem tocar o coração e que, ao levantarmos os pés do chão por alguns segundos, podemos dançar.

REFERÊNCIAS:

[1] Dostoiévski, F. Noites Brancas [1848]. Tradução Nivaldo dos Santos. Editora 24, 2011.

[2] http://zip.net/bqtGm9

[3] http://time.com/4587682/la-la-land-review/

[4] Eco, Umberto. Baudolino. Editora Record, 2001.

FICHA TÉCNICA DO FILME:

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LA LA LAND – CANTANDO ESTAÇÕES

Direção e Roteiro: Damien Chazelle
Elenco:Emma Stone e Ryan Gosling
País: EUA
Ano:2016
Classificação: Livre

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