Pesquisa aponta que quase 1 em cada 3 médicos apresenta sinais de transtorno de ansiedade e apenas 20,4% nunca manifestaram sintomas de depressão
Estima-se que 12 bilhões de dias de trabalho são perdidos anualmente devido à depressão e à ansiedade, gerando para a economia global um custo de quase um trilhão de dólares. Os dados estão nas novas diretrizes sobre saúde mental no trabalho divulgadas nas últimas semanas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Organização Internacional do Trabalho (OIT).
As orientações contidas no documento possuem relação com o Dia Mundial da Saúde Mental, celebrado no próximo dia 10 de outubro, e incluem ações para enfrentar riscos, como longas jornadas, comportamentos negativos e outros fatores que criam angústia. Pela primeira vez, a agência de saúde recomenda treinamento de gerentes para prevenir ambientes estressantes e responder aos profissionais em sofrimento.
Pesquisa realizada entre junho e julho, com cerca de 3.500 profissionais, ratifica o cenário apresentado pela OMS e a OIT. Isso porque, segundo a apuração, a maioria dos médicos não possui um estilo de vida equilibrado. Apenas 35% afirmam dormir entre 6 e 8 horas de sono; 2/3 dos entrevistados dizem não ter tido momentos de lazer nas duas semanas que antecederam a entrevista e mais de 70% podem ser considerados sedentários.
“Os profissionais da saúde estão vindo de um período extremamente exaustivo e desgastante, que foi a pandemia, tendo que enfrentar uma carga horária excessiva, muitos inclusive sem tirar férias. Toda essa junção de fatores favorece o adoecimento físico e mental e, consequentemente, os leva a uma conduta mais passível de erros”, alerta Raul Canal, presidente da Sociedade Brasileira de Direito Médico e Bioética (Anadem).
A pesquisa corrobora a percepção do especialista em Direito Médico, uma vez que 57%, dos entrevistados dizem ter percebido que o nível de estresse impacta no desempenho no trabalho. 29,4% dos médicos observaram, inclusive, que o nível de estresse já levou a erros médicos. Um dos pontos mais alarmantes revela que pelo menos 1 em cada 3 médicos apresenta sintomas de Burnout, mas ainda não buscou ajuda.
Quando se trata de sintomas de depressão e ansiedade o número também é preocupante. Apenas 20,4% dos médicos nunca apresentaram sintomas. “É preciso agir com ações concretas para preservar a integridade física e, em especial, psíquica dessas pessoas. A Anadem acompanha a situação e, desde o início da pandemia, tem feito campanha contínua em prol de melhorias em suas condições de trabalho”, defende Raul Canal.
Fonte: Imagem no Freepik
Gestão
A pesquisa entre profissionais de saúde revela ainda que a relação entre pares não parece amistosa. Quase metade dos participantes afirmou que não pode contar com uma rede de apoio com seus colegas de trabalho. Em 50,4% dos relatos há uma percepção de abordagem punitiva e não formativa diante de eventos adversos relacionados à assistência.
“Uma boa gestão de pessoas e equipes é fator determinante para a manutenção da qualidade de vida no trabalho. Os benefícios são sentidos na rotina dos profissionais e influenciam na qualidade do atendimento e na segurança dos pacientes”, reforça o advogado e especialista em Direito Médico, Raul Canal.
Ele ressalta que a Anadem recentemente apoiou o lançamento do livro “A nova liderança na enfermagem: competências para excelência na gestão de pessoas e equipes”, em que justamente se discute o papel que profissionais de saúde que ocupam cargos de lideranças devem ter para potencializar suas equipes.
Anadem
A Sociedade Brasileira de Direito Médico e Bioética (Anadem) foi criada em 1998. Enquanto entidade que luta pela categoria e seus direitos, promove o debate sobre questões relacionadas ao exercício da medicina, além de realizar análises e propor soluções em todas as áreas, especialmente no campo jurídico. Para saber mais, clique aqui.
Saúde indígena no Tocantins é tema de seminário no Ceulp/Ulbra
16 de novembro de 2020 Gabriel Vinicius Jesus Martins
Mural
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Disciplina de SBS I, ministrada pela Dra. Renata Bandeira, e curso de Psicologia do Ceulp são anfitriões do evento
Nesta segunda-feira, dia 16/11, a partir das 19h, ocorre um seminário em parceria entre a UFT e o Ceulp/Ulbra, como composição da disciplina de Saúde, Bioética e Sociedade I (SBS I), ministrada pela psicóloga e profa. Dra. Renata Bandeira. Durante o evento, serão abordados temas de saúde da população indígena que se fazem muito importantes para os acadêmicos em geral, e estudantes de Psicologia e particular. Vale lembrar que o Governo do Tocantins incluiu os indígenas no plano de contingência do Coronavírus, e sabe-se, toda essa questão envolve também aspectos psicossociais relacionados diretamente com a saúde mental desta população.
Foto: DSEI, dia de vacinação da Comunidade indígena no Tocantins
O seminário irá contar com a presença da enfermeira Aurimar Gonçalves, ela que é apoiadora técnica em atenção à saúde/DSEI-TO e mestranda do curso de pós graduação em Ciências da Saúde pela UFT, bem como da psicóloga Larissa Tebas, responsável técnica do programa de saúde mental do DSEI e pós-graduanda do curso saúde indígena (Prominas); haverá ainda a presença da enfermeira Dra. Gessi Carvalho, que é grande referência em Ciências da saúde, sendo Doutora nesta área e professora do curso de Medicina na UFT (Universidade Federal do Tocantins) e do Médico Neilton A. de Oliveira, também Doutor em Ciências (Biociências e Saúde) e professor do curso de pós graduação em Ciências da Saúde como mediador deste importante seminário.
O público alvo envolve acadêmicos de psicologia da Universidade Luterana de Palmas (ULBRA), alunos do curso de saúde, mestrandos dos cursos da saúde da UFT e sociedade em geral. O seminário será online e gratuito, haverá certificado emitido pela ULBRA com carga horária de 03 horas. Não é preciso realizar inscrições prévias. Basta entrar na aula através da plataforma Google Meet a partir das 19h através do LINK.
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Psicóloga Hospitalar relata experiência na turma de Saúde Bioética e Sociedade
Anita Coelho dos Santos, que atua no Hospital Infantil Público de Palmas (HIPP), contou à turma sua trajetória como trabalhadora do SUS.
Na tarde desta quarta-feira (29) os alunos da disciplina de Saúde Bioética e Sociedade, que é conduzida pela Profa Dra Renata Alves Bandeira, receberam para um bate-papo a psicóloga Anita Coelho dos Santos, egressa do Ceulp/Ulbra que compõe a equipe de Psicologia do Hospital Infantil Público de Palmas.
A psicóloga contou aos alunos, que finalizaram o módulo de estudo sobre o SUS, como foi sua trajetória de atuação no sistema desde que se formou em 2005 na primeira turma de psicologia do Ceulp.
Turma de Saúde, Bioética e Sociedade – Foto: Irenides Teixeira
Em sua carreira, Anita também já atuou no Instituto Médico Legal de Palmas e no Hospital Regional de Gurupi. De acordo com a psicóloga, é necessária uma postura humanizada frente aos desafios que a profissão apresenta no Sistema Único de Saúde, mesmo que que não envolva diretamente os conhecimentos da psicologia. Defendeu também uma postura enérgica e combativa frente a projetos que não compreendem a prática real no atendimento com os usuários.
Com a conclusão da fala de Anita, os alunos puderam tirar suas dúvidas referentes aos atendimentos realizados em caso de óbito, bem como sobre os sentimentos que o apego aos pacientes pode gerar. Ao final do encontro, foi realizada uma confraternização com um lanche oferecido pelos acadêmicos.
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A.I. Inteligência Artificial: o que nos torna humanos?
Amplamente transmitido na TV aberta, o filme “A.I. Inteligência Artificial” produzido no ano de 2001 narra a trajetória de David, o primeiro andróide projetado para amar. David, construído com a forma um menino, é adotado por um casal que teve seu filho biológico criogenizado até que a medicina avançasse o suficiente para curá-lo. Mas quando isso acontece, os conflitos entre David e seu irmão mudam completamente seu destino. A maneira como David é tratado por seus pais a partir do momento em que “descumpre” seu propósito como substituto possibilita o seguinte questionamento: o que nos torna humanos?
Alerta de spoiler!
Fonte: https://bit.ly/2ERxqfZ
Bondade
Basta citar alguns dos acontecimentos mais cruéis da história da humanidade para descobrir que bondade não é o que define com precisão os seres humanos. Eventos em situações de guerra como o Holocausto ou as bombas em Hiroshima e Nagasaki são um bom exemplo do quanto o ser humano tem a capacidade de não apresentar nenhum tipo de empatia sobre outras vidas humanas. Essas ações se estendem também para os animais e o meio ambiente, algo que é retratado com clareza no filme.
Após as brigas com seu irmão, David é abandonado em uma floresta por sua mãe. A narrativa cria um ambiente de desconforto desde as primeiras cenas e impacta drasticamente o espectador ao despertar o senso de justiça, uma vez que David tem sentimentos como qualquer humano teria.
As hipóteses de o ser humano ser essencialmente bom ou mau dividiram pensadores e filósofos ao longo da história. Para John Locke e Thomas Hobbes, por exemplo, o comportamento humano em seu estado de natureza humana é algo insatisfatório e violento. Desse modo o estabelecimento de uma sociedade civil seria positivo por garantir ordem, liberdade, segurança e respeito (LEOPOLDI, 2002). Para esses teóricos, o ser humano é essencialmente mau, e a sociedade possibilita a bondade.
Jean Jacques Rousseau, por outro lado, percebia qualidades no estado selvagem do ser humano, chegando a ser considerado o filósofo do “bom selvagem”. Para ele, o desequilíbrio no sistema entre seres humanos e a natureza é rompido a partir do momento em que a sociedade e a civilização dominam essa relação, desse modo, nossos males seriam de nossa própria autoria (LEOPOLDI, 2002). Portanto, para Rousseau, o ser humano é essencialmente bom, mas a sociedade o corrompe.
No filme, através da jornada de David após ser abandonado, percebe-se que em um futuro próximo a lógica da descartabilidade e da produção excessiva de lixo se perpetua. Ele também não foi o único a ser abandonado: inúmeros outros andróides e robôs compõe uma “subsociedade” constituída em meio ao lixo. David, após ouvir de seus pais adotivos uma história da Fada Azul, se encontra determinado a encontrá-la, e assim como o clássico Pinóquio, sonha em se tornar humano.
Fonte: https://glo.bo/2tV1zF0
Percebe-se na trama, que o egoísmo e a falta de empatia podem estar presentes desde a infância, como se pode ver no filho biológico do casal. Isso se estende para a vida adulta, e associada à lógica de descarte do que não é mais útil, promove o abandono de pessoas e objetos. Para Bauman (2009) a fluidez das relações na contemporaneidade pode gerar uma espécie de corrida, e quem eventualmente não conseguir acompanhá-la, corre o risco de ser descartado, como lixo.
DNA
O Ser Humano, possui cerca de 25 mil genes estruturais, e cerca de metade desses são exatamente iguais à composição do arroz, por exemplo (PESSINI, 2009). Seriam então, os nossos componentes genéticos os determinantes do que é ser humano?
Entre os maiores desafios da bioética no século XXI, está sem dúvidas o transumanismo. Esse termo se refere à busca pelo melhoramento biotecnológico das capacidades humanas geneticamente. Alguns exemplos são tecnologias de prolongamento do tempo de vida, a possibilidade de reprogramação do DNA e da mente humana, bem como a futura existência de uma consciência livre do corpo mortal (PESSINI, 2009), como apresentado no filme.
Para os transumanistas, o estado biológico humano é apenas transitório, sendo os corpos, uma espécie de prótese, um substrato biológico. O pensamento pós-humano esbarra, portanto em questões éticas. Os bioconservadores, contrários a tais intervenções, sugerem que a dignidade humana não deve se estender ao pós-humano, e se apegam ao status moral da condição humana (PESSINI, 2009). No filme, podemos ver um exemplo em que a dignidade pós-humana se estende apenas para seres geneticamente humanos. E mesmo que David se comporte, sinta e aparente como um ser humano, ele é descartado como um objeto, demonstrando uma contradição ética daquela sociedade. Tais dilemas também podem ser enfrentados pela nossa sociedade nos próximos anos.
Fonte: https://bit.ly/2EBSCFx
Comportamento
O comportamento é, talvez, o que defina o que é humano com mais precisão. Os comportamentos são atividades do organismo que mantém relação com o ambiente, seja de maneira respondente através de reflexos inatos ou de maneira operante, quando agimos esperando determinadas consequências (DE ROSE, 1997). A maneira como o ser humano se comporta, seja pela influência genética (como os reflexos) ou da maneira como isso é aprendido através das relações sociais, compreende a essência das diversas manifestações do que é humanidade, seja ela para o bem, ou para o mal.
As diversas influências e contingências que atuam sobre a formação e desenvolvimento de um indivíduo estão sujeitas antes, a um macrocontexto sócio-histórico, e cada época, por sua vez, compreende as características humanas aceitáveis ou não. Dessa maneira, conceitos como a ética, presente no filme, estão sujeitos a mudanças de acordo com as novas decorrências da atividade humana sobre a tecnologia. Percebe-se que a mãe de David sentiu remorso abandoná-lo, porém ainda assim o descartou, assim como várias outras pessoas abandonaram seus andróides e robôs. Desse modo, se compreendermos o adjetivo “humanidade” como sinônimo de bondade e empatia, David pode ser considerado o personagem mais humano do filme.
Fonte: https://bit.ly/2H0L16Z
FICHA TÉCNICA DO FILME:
Fonte: https://bit.ly/2VC8tdW
A.I. INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
Título original: A.I. Artificial Intelligence Direção:Steven Spielberg Elenco: Haley Joel Osment, Jude Law, Frances O’Connor, Sam Robards; País: EUA Ano: 2001 Gênero: Drama
REFERÊNCIAS:
BAUMAN, Zygmunt. Vida líquida. Zahar, p. 7-55, 2009.
DE ROSE, Julio César Coelho. O que é comportamento. Sobre comportamento e cognição, v. 1, p. 79-81, 1997.
LEOPOLDI, José Sávio. Rousseau-estado de natureza, o “bom selvagem” e as sociedades indígenas. Revista Alceu, São Paulo, nº4, p. 158-172, 2002.
PESSINI, Leocir. Bioética e o desafio do transumanismo: ideologia ou utopia, ameaça ou esperança?. Revista Bioética, v. 14, n. 2, 2009.
“Lucy Mirando está alcançando o impossível, estamos nos apaixonando por uma criatura que planejamos comer” (Trecho do filme OKJA)
Produzido por Joon-Ho Bong e estreado em 2017, pela Netflix, OKJA é um filme para quem tem um grande afeto por animais e gosta de refletir sobre o seu estilo de vida. O drama enlaça essas duas temáticas revelando ao expectador uma realidade cruel que ele tende a negar, principalmente quando este assume uma posição utilitarista.
A trama inicia em 2007, em New York – USA, onde Lucy Mirando (Tilda Swinton) ao tornar-se a nova diretora executiva (CEO) da indústria agroquímica de sua família, e também a mais odiada mundialmente, coordena um projeto inovador que possibilitaria transformar tal aparência da corporação. O concurso do “Melhor Super Porco” é o milagre que Lucy pretende atingir a longo prazo, especificamente, em dez anos.
Fonte: https://goo.gl/FowVM1
Para alcançar este objetivo, a CEO engana seus futuros consumidores com a falácia de que o Super Porco foi encontrado milagrosamente numa fazenda chilena, que depois foram reproduzidos 26 animais, de forma “natural”, e distribuídos em 26 cidades diferentes ao redor do mundo, com sedes da corporação, para fazendeiros criá-los de acordo com sua cultura durante o tempo supracitado. Dessa forma, esta seria a solução para o combate à fome de modo sustentável, diminuindo o impacto no meio ambiente (excreção) e produzindo uma carne saborosa.
“ECO SUSTENTÁVEL; NATURAL; NÃO TRANSGÊNICO”. Fonte: http://filmspell.com/wp-content/uploads/2017/08/1-Introduction-Pictures-in-Pictures.png
Okja é uma super porca criada por Mikha (An Seo-Hyun) e seu avô em Sanyang, numa fazenda na Coreia do Sul, de forma tranquila e natural. Apesar de alguns comportamentos entre a menina e a Super Porca remeterem ao carinho com que os seres humanos tratam seus bichinhos de estimação, Okja ultrapassa essa linha, pois é a melhor amiga de Mikha desde seus quatro anos.
Apesar do fato de Okja ser um animal fictício, que por vezes aparenta ser a soma de características de vários animais comumente conhecidos, há uma alta probabilidade de que em algum momento do filme ela cause sentimentos empáticos a quem estiver lhe assistindo. Nisso, a protagonista demonstra habilidades de comunicação e estratégia, além de evidenciar que é um ser vivo dotado de senciência.
Fonte: https://goo.gl/Tm1WmS
Para Monlento (s/d, s/p) a sensciência é a “capacidade de ter sentimentos associados à consciência”, podendo ser comprovada no âmbito comportamental e/ou no biológico, e aponta que é preciso atentar ao fato que esta pode ter graus distintos em diferentes espécies do reino animal. E, nessa vertente, a Declaração de Cambridge sobre Consciência (2012) decretou que evidências mostram que o ser humano não é o único animal dotado de consciência. E, apesar de que os demais animais não apresentarem um neocórtex, eles experienciam estados conscientes através de substratos neuroanatômicos, neurofísicos e neuroquímicos e são capazes de ter comportamentos propositais.
Dessa maneira, um dos grandes desafios para Neurobiologia é comprovar que os animais não verbais possuem algum nível de consciência. Visto que a senciência caracteriza-se pela subjetividade, se faz necessário o uso de métodos seguros que conseguem acessar essa peculiaridade dos animais em teste, sem que a subjetividade do observador interfira nos resultados. Portanto, há uma alta probabilidade na fidedignidade destes (OLIVEIRA; GOLDIM, 2014).
Dez anos depois, o zoologista Dr. Johny Wilcox (Jake Gyllenhaal), averigua pessoalmente que Okja é a melhor super porca, consequentemente, a leva para New York. Após descobrir que a corporação negou a venda de Okja ao avô e que a levaram embora, Mikha começa a sua saga para salvar a melhor amiga. E é ajudada pela Frente de Libertação Animal (ALF, sigla em inglês) que planeja usar Okja como uma cobaia, colocando-lhe uma câmera para gravar as atrocidades que fazem com esses animais no laboratório.
Fonte: https://goo.gl/wpcFpG
A ALF, uma entidade aberta e composta por ativistas anônimos, objetiva libertar os animais em condições de sofrimento, mantendo-os em lugares seguros e apropriados para posteriormente devolvê-los ao seu hábitat natural. Nesse contexto, suas ações são ilegais e infringem os locais e métodos das organizações que fazem exploração animal, ocasionando boicotes e déficits financeiros nas mesmas. Desse modo, segundo suas diretrizes, revelam as atrocidades acometidas nesses ambientes e agem com precaução para que nenhum animal seja colocado em situação de risco, sejam eles humanos ou não (BITE BACK MAGAZINE, s/d).
Entretanto, esse preceito diverge das práticas do filme, pois o plano expõe Okja a uma situação de risco. Ao chegar no laboratório em NY, ela é colocada para acasalar com um super porco macho, além de retirarem amostras de sua carne para experimentação. Perplexos com a cena gravada, um dos integrantes do ALF confessa que mentiu a tradução em relação à autorização da Mikha. Diante disso, o líder do grupo ressalta quão a tradução é sagrada, fato esse demonstrado pelo uso de língua distintas no filme, espanca-o e o bane da organização. Tal comportamento ironiza com o ideal de “não violência e proteção”, diverge da conduta entre seus próprios membros.
Em entrevista à Agence France-Presse (AFP), Ben Zipperer, do Economic Policy Institute, afirma que a mão-de-obra imigrante nos EUA é de aproximadamente 25 milhões de pessoas (AFP, 2017). No longa, esse aspecto é evidenciado quando apresentam os funcionários da corporação que estão na linha de produção, em sua maior parte, como latino-americanos. Pode-se inferir, deste modo, que o funcionamento dessas organizações, ligadas à produção e consumo de animais, tem contribuição de pessoas de outras culturas, além dos estadounidenses.
Em suma, Joon-Ho Bong faz diversas críticas sociais e políticas, uma delas deu-se por meio do posicionamento de Nancy Mirando (a irmã gêmea de Lucy), que apesar da corporação ter suas barbáries expostas, não se omite e manda lançar o produto no mercado, afirmando que se o custo for baixo as pessoas irão consumir. Essa cena alude na peripécia de que meio social sofre um fenômeno de “perda” de memória recente, particularmente se não se sente prejudicado diretamente pelas situações desagradáveis que vivencia.
Fonte: https://goo.gl/TN3NgD
Ainda nessa ótica, é válido ressaltar que a carne animal como um produto é comercializada de uma forma que não seja atrelada ao animal vivo (WEBSTER, 2005). Logo, nenhuma novidade é acrescentada quanto à realidade contemporânea, mas o produtor utiliza-se de um personagem fictício para relembrar-nos do infausto sofrimento que compactuamos para termos nossas “suculentas“ refeições diariamente.
A reflexão, filosofia, teoria ou estudo que é realizado da moral, chama-se ética (TAILLE, 2010) e objetiva avaliar se os comportamentos (costumes) instituídos são aceitáveis, de modo que não ocasione danos ao outro. A partir desse preceito é necessário avaliar de que modo a ética voltada para esses seres não-humanos, ou melhor, a bioética, está sendo praticada pelos seres humanos, nos âmbitos individual, social e profissional:
A forma como diferentes profissionais tratam os animais é extremamente importante para o desenvolvimento de programas de educação, por meio da utilização de diferentes inferências e aplicação de instrumentos diversificados, cuja atuação em distintas frentes adequadas a um público diverso, vise conscientizar todos os segmentos da sociedade da necessidade de procedimentos éticos no uso dos animais (FISCHER; TAMIOSO, 2016).
Fonte: https://goo.gl/nhvftY
Por fim, apesar de Okja não ter tido o mesmo fim que os demais super porcos, sua liberdade, quase fracassada, é uma vitória para seus semelhantes. Estes rugem como forma de comunicação enquanto ela vai embora, levando consigo um filhote entregue pelos próprios pais. Silva (2012) aponta que para a dinâmica da ética utilitarista é conveniente abater determinados animais de forma rápida e indolor, desde que seja justificável.
Nesse ínterim, o desfecho do filme incita questionamentos inquietantes, para se analisar ao longo do dia ou da vida, como: o que diferencia Okja dos demais super porcos? Ter uma compradora que a quer viva? O que distingue o seu pet do animal que você cria ou compra para consumo? Por que nos chocamos tanto quando sabemos que em algumas culturas é normal comerem cachorros, mesmo tendo uma variedade de animais em nossa mesa?
Fonte: https://goo.gl/BUUGN9
“O maior erro da ética é a crença de que ela só pode ser aplicada em relação aos homens”
ALBERT SCHWETZER (Prêmio Nobel da Paz, 1952)
Nota: este texto não prioriza fazer com que o leitor torne-se vegetariano ou até mesmo vegano, mas que este reflita seu modo de vida e o seu posicionamento bioético em relação aos animais não-humanos.
FICHA TÉCNICA
OKJA
Fonte: encurtador.com.br/gjBD9
Diretor:Joon-Ho Bong Elenco:Seo-Hyun Ahn, Tilda Swinton, Jake Gyllenhaal Gênero: Aventura, Ficção científica, Drama Ano: 2017
REFERÊNCIAS
AFP. (2017). A economia dos EUA pode crescer sem imigrantes? Disponível em: https://economia.uol.com.br/noticias/afp/2017/02/06/a-economia-dos-eua-pode-crescer-sem-imigrantes.htm. Acesso em 16 de novembro de 2017.
FISCHER, M. L.; TAMIOSO, P. Bioética ambiental: concepção de estudantes universitários sobre ouso de animais para consumo, trabalho, entretenimento e companhia. Ciências &Educação, v. 22, n. 1, 2016.
LA TAILLE, Yves de. Moral e Ética: uma leitura psicológica. Psic.: Teor. e Pesq. [online]. 2010, vol.26, n.spe, pp.105-114. ISSN 0102-3772. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722010000500009.
LEVAI, Laerte Fernando. Artigo Os animais sob a visão da ética. Publicada pela Alpa – Associação Leopoldense de Proteção dos Animais. In revista Brasileira de Direito Animal de 2006.
MAGAZINE, Bite Back. Who is the ALF?. West Palm Beach, Florida. Disponível em: <http://www.animalliberationfront.com/ALFront/ALF_leaflet_biteback.pdf >. Acesso em 16 de novembro de 2017.
MOLENTO, Carla Forte Maiolino. (s/d). Senciência Animal. Disponível em: <http://www.labea.ufpr.br/PUBLICACOES/Arquivos/Pginas%20Iniciais%202%20Senciencia.pdf>. Acesso em 12 de novembro de 2017.
OLIVEIRA, Elna Mugrabi; GOLDIM, José Roberto. Legislação de proteção animal para fins científicos e a não inclusão dos invertebrados – análise bioética. Rev. bioét. (Impr.). 2014; 22 (1): 45-56.
SILVA, J. M. Do senciocentrismo ao holismo ético: perspectivas sobre o valor a bioesfera. In: BARBOSA, A. et al. (Ed.). Gravitações bioéticas. Lisboa: Centro de Bioética, Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, 2012. p. 123-145.
The Cambridge Declaration on Consciousness. In: Francis Circk Memorial Conference; 7 Jul. 2012; Cambridge. Consciousness in human and not human animals. [Internet]. Cambrigde: The Memorial; 2012. Acesso em 12 novembro de 2017. Disponível: <http://fcmconference.org/img/CambridgeDeclarationOnConsciousness.pdf>
WEBSTER, J. Animal welfare: limping towards eden. Oxford: Blackwell, 2005.
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SBS organiza Júri Simulado em aula do curso de Psicologia
12 de março de 2018 Laryssa Nogueira dos Anjos Araújo
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O evento acontece no Complexo Laboratorial do Ceulp desde às 14h
Acontece hoje, dia 12 de março de 2018, a 2ª edição do Tribunal do Júri na aula de Saúde, Bioética e Sociedade (SBS) do curso de psicologia, no miniauditório 563 do Complexo Laboratorial do Ceulp/Ulbra. Organizado pela Profa. Dra. Renata Bandeira, o evento teve início às 14h e perdura até as 17h, no horário da aula de SBS.
O Tribunal do Juri consiste em dois grupos de alunos da turma, onde um será a defesa e o outro a acusação de um caso de não aceitação de transfusão sanguínea numa criança que a família é Testemunha de Jeová. Enquanto isso, os demais acadêmicos da turma e o público que estiver presente fazem parte do júri popular e decidem a sentença dos réus, no caso, os pais. E a mediação está sendo realizada pela professora supracitada.
Grupo de acusação. Foto: Fernando Ribeiro.Grupo de defesa. Foto: Fernando Ribeiro.
Renata Bandeira salienta que “A disciplina de bioética é de extrema importância para profissionais de saúde, já que durante a vida profissional todos nós passamos por dilemas éticos, surgindo muitas dúvidas a respeito da forma correta de agir, seja com um paciente, ou até mesmo durante uma pesquisa.
Fazer o aluno vivenciar “O tribunal do Júri” com um caso específico de saúde traz exatamente um desses dilemas. E de forma didática é possível vivenciar o que profissionais, população e profissionais do direito vivem no dia a dia do trabalho em saúde”.