Tocantins sedia encontro regional sobre saúde mental

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O tema do evento é “Do coração da floresta ao coração do Brasil: Juntos no fortalecimento da saúde mental”.

Por Juliana Matos – Da Assessoria de Comunicação da Secretaria de Estado da Saúde – Palmas/Tocantins


O Tocantins sedia entre os dias 4 e 7 de novembro o IV Encontro do Colegiado de Saúde Mental da Região Norte. O evento reúne coordenadores e profissionais de saúde mental de secretarias estaduais e municipais e distritos sanitários indígenas do Acre, Amapá, Amazonas, Rondônia, Roraima, Pará, Tocantins e técnicos do Ministério da Saúde para discutir desafios da gestão e planejamento da rede de atenção psicossocial (RAPS) na região Norte.

O tema do evento este ano é “Do coração da floresta ao coração do Brasil: Juntos no fortalecimento da saúde mental”. A abertura do encontro acontece no dia 4 de outubro, às 20 horas, no Spazio Bella Data (Qd 103 Sul Rua SO-03 lt 29).

Segundo a coordenadora do colegiado de Saúde Mental da Região Norte e gerente de Saúde Mental do Tocantins, Ester Cabral, objetivo do encontro é propor ações estratégicas para o fortalecimento da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) nos sete estados com um olhar diferenciado para as comunidades tradicionais e as diversidades culturais presentes na região amazônica.

Nos quatro dias de programação estão previstas rodas de conversas e palestras sobre temas ligados a formação, apoio técnico e fortalecimento ético-político dos Estados à rede de atenção psicossocial, acesso a serviços de saúde mental e suas complexidades, reabilitação psicossocial, plano crack, saúde mental indígena e prisional, entreoutros. O encontro é organizado conjuntamente pela Secretaria da Saúde do Estado (Sesau), Secretaria da Saúde de Palmas (Semus) e Ministério da Saúde (MS).

Rede de Atenção

No Tocantins, a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) conta com cerca de 300 profissionais que atuam em 18 Centros de Atenção Psicossocial (Caps), que são unidades especializadas no tratamento multiprofissional de portadores de transtornos mentais instaladas em vários municípios do Estado, e outros serviços, como o serviço de residência terapêutica (SRT) em Araguatins, que atende egressos de hospitais psiquiátricos sem vínculos familiares, e unidade de acolhimento Adulto em Colinas do Tocantins, que é uma extensão do Caps AD III e que atua no processo de reconstrução de vínculos sociais e familiares de assistidos. Além disso, o Estado dispõe de 21 leitos nas alas psiquiátricas no Hospital Regional de Araguaína (HRA) e no Hospital Geral de Palmas (HGP).

Dos 18 Caps instalados, quatro deles são Caps AD III 24 horas e funcionam em Araguaína, Gurupi, Palmas e Colinas do Tocantins.  Há Caps I em Araguatins, Tocantinópolis, Buriti do Tocantins, Colinas do Tocantins,  Pequizeiro, Miracema do Tocantins, Paraíso do Tocantins, Gurupi, Formoso do Tocantins e Taguatinga e CAPS II em Araguaína, Palmas, Porto Nacional e Dianópolis.  Encontram-se em fase de implantação mais dois Caps I e um CAPS AD na Região do Bico do Papagaio, três Caps I, um Caps III,  um Caps infantil, um SRT e uma Unidade de Acolhimento Adulto  na Região Médio Norte, dois Caps I na Região Cerrado Tocantins Araguaia, um Caps I, um Unidade de Acolhimento e um Caps infantil na Região Capim Dourado, três Caps I, uma Unidade de Acolhimento e um Caps infantil na Região Ilha do Bananal e um Caps I na Região Sudeste, num total de 21 novos Serviços de Saúde Mental no Estado.

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A seleção brasileira, Médici e os anos de chumbo

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A história de aproveitamento ilícito da imagem da seleção brasileira de futebol – apesar de não ser conhecida por todos e todas – não tem início na copa de 1970. Segundo Gastaldo (2002), o aproveitamento da imagem da seleção brasileira enquanto instrumento de propaganda – busca de popularidade que até o momento não existia – tem início na copa de 1966 na Inglaterra quando “todos” queriam se aproveitar da imagem do time bicampeão – a seleção passou por cinco cidades antes de viajar para Europa, Lambari, Caxambu, Teresópolis, Três Rios e Niterói.

No “pacotão da repressão” de Médici – que não media esforços para atrelar sua imagem a imagem da seleção – o futebol tinha espaço de destaque antes mesmo da copa do mundo de 1970. Quando Pelé fez seu milésimo gol, Médici o condecorou em Brasília numa perceptível tentativa de relacionar a imagem vencedora do Pelé ao regime militar.

O resultado da copa do mundo de 1966 não foi o esperado pela ditadura. A seleção brasileira de futebol cometeu um fiasco saindo da competição ainda na primeira fase. Logo existia uma insatisfação pública com o desempenho da seleção. Passou a ser uma temeridade o futuro na copa do mundo de 1970.

No Brasil […] […] a relação entre Estado e organização esportiva assumiu durante a ditadura do Estado Novo um caráter corporativista que persistiu até o fim da ditadura militar do pós-64. A relação corporativista é caracterizada por uma imposição das regras por parte do Estado autoritário, fazendo retroceder ao mínimo o grau de autonomia da organização esportiva. Interessante é, no entanto, que as organizações esportivas, mesmo no capitalismo avançado, mantêm laços estreitos de ligação com o Estado. É que as organizações esportivas passaram a cumprir funções públicas nas quais o Estado tem interesse. (BRACHT, 1997, p. 75).

Mas é na copa de 1970 no México que o “mito verde e amarelo” (BRACHT, 1997) tem início com a utilização da imagem da seleção como um dos instrumentos centrais de divulgação do regime empresarial/militar ditatorial.

Até a copa de 1970 o futebol brasileiro nunca tinha tido tanta importância e visibilidade para o governo empresarial/militar como teve para o governo de 1970 do então presidente Emílio Garrastazu Médici (30/10/1969 a 15/3/1974)[1].

Nesta ação de tratar o sucesso da seleção brasileira de futebol de forma indissociável com o regime empresarial/militar[2] foram utilizadas frases como “Ninguém Mais Segura Este País” – Ninguém segura essa seleção – ou “Pra Frente Brasil” – Pra frente Brasil, salve a seleção. Essa atitude do governo militar foi uma tentativa expressa de neutralizar a luta de classes, mistificar a realidade, pois o “canto da sereia” do futebol/seleção brasileira possibilitava/possibilita reduzir a compreensão das condições materiais e sociais da existência do povo brasileiro.

Na preparação para copa do mundo de 1970 os resultados não eram satisfatórios, foi daí que João Saldanha – até antes de assumir a comissão técnica da seleção era comentarista esportivo e um dos principais críticos da seleção brasileira – foi contratado pela então Confederação Brasileira de Desportos – CBD que era dirigida a época por João Havelange[3]. Este incluisve chegou a declarar que o contratou para tentar diminuir as críticas ao selecionado brasileiro (GASTALDO, 2002).

João Saldanha conseguiu classificar a seleção para a copa de 1970 de forma esplendorosa, mas foi demitido por motivos expressamente políticos/ideológico, pois Saldanha era militante do Partido Comunista Brasileiro e após uma declaração do presidente Médici sobre uma lista de convocados, Saldanha declarou publicamente que “O presidente escala o ministério dele que euescalo o meu time”. Poucos dias após a declaração Saldanha foi demitido do cargo de técnico da seleção brasileira de futebol[4](MAGALHÃES, 2012).

Segundo Magalhães (2012), Oliveira (2012), é a partir desse momento que a seleção brasileira de futebol passa a ser questão de segurança nacional.

[…] o então ministro da Educação e Desportos Jarbas Passarinho determinou que a situação e a crise na seleção afetavam diretamente o país […] […] Havelange foi convocado para conversar com o próprio Ministro e com o chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI), o general Carlos Alberto de Fontoura; com o chefe do Gabinete Civil, João Leitão de Abreu; e o chefe do Gabinete Militar, João Baptista Figueiredo. O encontro mostrava o interesse do governo na questão ‘seleção nacional’, e o tema passou a ser cada vez mais controlado pelo regime. (MAGALHÃES, 2012, p. 237).

‘Notícias do México dão conta da perturbação que a notícia do sequestro provocou no ambiente do nosso selecionado. Pelé, Rivelino e outros jogadores manifestaram-se, condenando o ato terrorista’. ‘As ‘notícias’ a que a Folha se referiu eram, na verdade, uma nota oficial do Ministério do Exército […]’ (GUTERMAN, 2004, p. 273).

Como não é difícil acertarmos o resultado da copa do mundo de 1970, logo precisamos fazer uma análise mais acurada do que a conquista da copa do mundo de 1970 representou para o regime golpista. Para Magalhães (2012) esse foi o maior triunfo propagandista do regime militar. “A ditadura militar consolidou-se como forma de poder de Estado reproduzindo continuamente o ato de força com que se instaurara: na síntese histórica objetiva, a ditadura é o golpe continuado e o golpe o primeiro ato da ditadura” (MORAIS, S/D, p. 04).

Precisamos entender que a situação de repressão, torturas, exílios, assassinatos não se davam por acaso. No final dos anos 60 e início dos anos 70 a resistência contra a repressão militar foi muito grande por parte da esquerda brasileira tanto na cidade quanto no campo e é a partir daí que se iniciam os “anos de chumbo” (MAGALHÃES, 2012).

[…] os ideais “constitucionalistas” e “liberais” de 1964 foram traídos pela pressão da linha dura que, em confronto com o radicalismo da guerrilha de esquerda, teria exigido um “golpe dentro do golpe”, tal como ficou conhecidaa promulgação do Ato Institucional n°5, marco da legislação repressiva do regime, em 13 de dezembro de 1968. Com o AI-5, a ditadura “envergonhada” teria se transformado em “ditadura escancarada” isolando-se da sociedade. (NAPOLITANO, 2011, p. 217).

Segundo Morais (S/D), os anos finais dos anos 60 foram problemáticos para o regime militar. Vários setores da sociedade civil – principalmente estudantes e militantes de organizações da esquerda armada – tomaram as ruas de algumas capitais.

Ora, em 1968, quando os grupos que mais tarde iriam formar a ALN[5] e a VPR[6] já haviam constituído o núcleo de suas organizações clandestinas respectivas, irromperam as lutas estudantis, logo ampliadas a largos setores da opinião democrática e reforçadas pelas greves de Contagem e de Osasco. Pela primeira vez desde o golpe, o regime militar era colocado na defensiva política. (MORAIS, S/D, p. 06).

As manifestações populares de 1968 só foram superadas em 1984 durante as manifestações do que ficou conhecido como “diretas já”, mas mesmo assim a duração das manifestações de 1968 foi bem maior, aproximadamente 8 meses (MORAIS, S/D).

Devemos tomar cuidados para não tomarmos um “golpe antes do golpe”, e aprendermos com a história, pois quando o regime militar percebeu que perderia a hegemonia e por consequência opoder, não aprovaram as “diretas já” e montaram um congresso nacional constituinte nos moldes da ditadura – com pequenas exceções – e nossas manifestações pacíficas foram incapazes de mostrar a nossa verdadeira vontade/necessidade. Isso nos faz questionar como Bertolt Brecht (2009) no poema “De que serve a bondade”?

Fica assim evidenciado que a reação do regime militar na tentativa de “recompor a hegemonia” precisava de um algo a mais além da repressão, das torturas, exílios e assassinatos para convencer o povo brasileiro da sua suposta legitimidade, infelizmente a seleção brasileira de futebol foi – ou é? – parte importantíssima nesta engrenagem.

Referências:

BRACHT, Valter. Sociologia critica do esporte: uma introdução. UFES, Centro de Educação Física e Desporto. (1997).

BRECHT, Bertolt. Poemas 1913-1956. Editora 34 Ltda, São Paulo, 2009.

GASTALDO, Édison Luis.Notas Sobre um País em Transe: Mídia e Copa do Mundo no Brasil.Disponível em<https://periodicos.ufsc.br/index.php/motrivivencia/article/view/5925> Acesso em 25/10/2011.

GUTERMAN, Marcos. Médici e o futebol: a utilização do esporte mais popular do Brasil pelo governo mais brutal do regime militar. Disponível em <http://www.ludopedio.com.br/rc/index.php/biblioteca/recurso/279> Acesso em 16/06/2012.

MAGALHÃES, Lívia Gonçalves. Ditadura e futebol: O Brasil e a Copa do Mundo de 1970.Disponível em <http://historiapolitica.com/datos/boletin/Polhis9_MAGALHAES.pdf> Acesso 05/03/2010.

MORAIS, João Quartim de. Amobilização democrática e o desencadeamento da luta armada no Brasil em 1968: notas historiográficas e observações críticas. Disponível em<http://www.fflch.usp.br/sociologia/temposocial/site/images/stories/edicoes/v012/a_mobilizacao.pdf Acesso em 05/05/2012.

NAPOLITANO, Marcos. O golpe de 1964 e o regime militar brasileiro: apontamentos para uma revisão historiográfica. Disponível em <http://marxismo21.org/50-anos-do-golpe-de-1964/> Acesso 05/02/2014.

OLIVEIRA, Marcos Aurelio Taborda de. Esporte e política na ditadura militar brasileira: a criação de um pertencimento nacional esportivo. Revista Movimento, Porto Alegre, v. 18, n. 04, p. 155-174, out/dez de 2012.


[1]A Arena/PSD partido da autocracia militar burguesa infelizmente nos deixou dois herdeiros legítimos o Democratas – DEM que já teve o nome Partido da Frente Liberal-PFL &o Partido Progressista-PP, este infelizmente hoje dirige a cidade de Palmas-TO onde a especulação imobiliária, o monopólio do transporte público e os latifúndios urbanos ainda imperam.

[2]Vide “Compreensão histórica do regime empresarial-militarbrasileiro” de Fábio Konder Comparato em http://www.unisinos.br/blogs/ihu/caderno-ihu-ideias/compreensao-historica-regime-empresarial-militar-brasileiro-edicao/

[3]João Havelange ficou a frente da CBD de 1956 a 1974 e Ricardo Teixeira de 1989 a 2012 bem democráticos não?

[4]Para saber mais sobre, assista a entrevista de João Saldanha ao programa “Roda vida” da TV Cultura, https://www.youtube.com/watch?v=Kt4uJHHwAgE

[5]Ação Libertadora Nacional.

[6]Vanguarda Popular revolucionária.

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Políticas de Saúde no Brasil: um século de luta pelo direito à saúde

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No período colonial o Brasil era tomado por epidemias de febre amarela, cólera, varíola, malária, que levaram os portos a entrarem em crise. O que era um problema, já que a economia do país se sustentava na exportação de café. Com a resistência de alguns países de importarem os produtos brasileiros, temendo às epidemias, houve uma queda na produção agrícola. Nesse período a saúde era privada para ricos, que eram os únicos com recursos financeiros para pagar os altos preços cobrados pelos médicos. Os pobres se contentavam com os serviços prestados pelas instituições filantrópicas e/ou benzedeiras.

O filme narra que, com o advento da República, Rodrigues Alves, então presidente, nomeou Oswaldo Cruz como Diretor do Departamento Nacional de Saúde Pública. Oswaldo Cruz criou o controle epidemiológico e liderou a Reforma Sanitária Brasileira, instituindo a vacina contra a varíola como medida obrigatória. Esta medida não é foi aceita pela população da cidade do Rio de Janeiro, que se manifestou, organizando a Revolta da Vacina.

Com o advento do capitalismo no Brasil, começaram os primeiros movimentos de industrialização do país, e cresce o número de imigrantes, que traziam consigo a experiência do modelo industrial que já era forte na Europa. A saúde ainda era precária no país, principalmente no que dizia respeito à parcela da população sem recursos financeiros. Os vários movimentos de greves dos operários, principalmente na cidade de São Paulo, em busca de melhores condições de trabalho e de acesso à saúde, resultaram na consolidação da Lei Eloy Chaves em 1923. Essa lei criava e regulamentava as Caixas de Aposentadorias e Pensões (CAP’s), que garantiam assistência medica para os trabalhadores.  Essa lei é o marco para a criação da Previdência Social no Brasil.

Em 1930 Getúlio Vargas assume a presidência da republica e provoca algumas mudanças no quadro sociopolítico brasileiro. Dentre elas acontece a descentralização da política café com leite, no eixo São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, além da criação do Ministério da Educação e Saúde Pública, e a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) em 1939, que estipulam carga horária fixa para os trabalhadores, salários mínimos e asseguram direitos à previdência. Em 1932 São Paulo resiste à constituição de 30, e a elite paulista perde dinheiro. Getúlio Vargas vendo a quantidade de dinheiro acumulado pelas CAPS’s e resolve centralizá-los, instaurando em 1933 os Institutos de Aposentadoria e Pensões (IAP’s). A partir de agora, o estado iria gerir os recursos dos CAPS por meio dos IAPS, que estenderia os direitos dos trabalhadores e uniformiza as estruturas de saúde.

Em 1945, Vargas é deposto, e Dutra assume o poder. Acontecem avanços significativos na saúde. O modelo de saúde nacional sofre influuência do modelo americano que ia contra o método médico assistencialista. A saúde no Brasil agora recebe investimentos diretos do governo e conta com hospitais grandes, modernos e bem equipados, além de diversas especialidades médicas. Em 1953 é criado o Ministério da Saúde.

Na década de 1960, Brasília é criada, e o governo brasileiro investe para trazer fábricas automobilísticas, cresce a industrialização. Acontece nesse período a expansão da medicina de lucro, onde empresas médicas prestam serviços médicos privados, com hospitais próprios. Em 1964 quando Janio Quadros assume a presidência da república, ele tenta a reforma da saúde, mas os militares tomam o poder, e com o golpe militar instaura-se a ditadura.

Em 1967 aconteceu a unificação de todos os IAP’s, e criação do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS). Ficava a cargo do INPS assegurar a Previdência Social a todos os trabalhadores (urbanos e rurais), assim como garantir acesso a saúde, no que diz respeito à prática da medicina curativa. As medidas de prevenção, assim como controle epidemiológico eram responsabilidade do Ministério da Saúde.  Durante o Regime Militar acontecem altos investimentos nos hospitais privados, uma vez que, como o INPS atendia a todos os trabalhadores do país. O serviço de saúde, sozinho, não seria capaz de atender a esse público. Criam-se o Instituto Nacional de Atenção Médica da Previdência Social (INAMPS).

Com a crise financeira mundial, o sistema capitalista entra em colapso, cresce o número de manifestações em prol do direito à liberdade de expressão e melhor qualidade de vida no Brasil, dentre eles, as Revolução Sanitarista em 1980, que reivindicava saúde para todos, não apenas para trabalhadores com carteira assinada, e o movimento: Diretas Já, em 1985, que culminou na eleição de Tancredo Neves, marcando o fim do Regime Militar. Surgem nesse período os conselhos populares querendo ter vez e voz nos serviços já conquistados e nas políticas de saúde.

Em 1986 aconteceu a 8ª Conferência Nacional de Saúde, que lutava pela criação de um sistema único de saúde, igualitário e com controle popular. Nessa conferência foi aprovada a constituinte o Sistema Único de Saúde (SUS).

Na constituição de 1988, o SUS nasce com os princípios de: universalidade, Integralidade e equidade, com participação popular. Em 1990 é implantada a Lei 8.080 que estabeleceu recursos destinados ao SUS. Em 1996 as Normas de Operação Básica (NOB) do SUS regulamenta e lançado o Programa Saúde da Família (PSF) e Programa de Agentes Comunitários (PACS). Em seguida, foi permitida a transferência da gestão de serviços públicos de saúde para Instituições Privadas e Sem Fins Lucrativos (OSS). Acontece a Reforma Previdenciária, mas o SUS não é afetado, pois não depende mais Previdência Social para se manter. Em 2006 o SUS disponível para todos, igualmente, como uma política social pública, popular e democrática.

A jornada histórica de nosso país para a conquista de um Sistema Único de Saúde perdurou por mais de um século. Vários foram os eventos que nos permitiram chegar aqui. O SUS ainda está longe de ser o que todos idealizam, mas sem dúvida alguma, dentre as políticas públicas que existem em nosso país, é uma das poucas que saíram do papel. Claro que a realidade mostra grandes filas em hospitais, desvios de dinheiros públicos, e morosidade nos serviços que dependem diretamente de funcionários públicos. Mas não podemos nos deixar entristecer. O que ainda falta de melhoria no SUS, depende diretamente de nós, cidadãos. Devemos lembrar que vivemos em um país livre, e democrático. Se nos lembrarmos de que o SUS, ao contrário dos IMANPS, é descentralizado, podemos sim cobrar desses candidatos propostas que visem melhorias do sistema. A mudança está em nós, enquanto administradores do SUS. O SUS nasceu de movimentos sociais sérios, que viram a necessidade de uma mudança. E se eles conseguiram, por que nós não podemos? É mais fácil depositar nos políticos a culpa pelas falhas no sistema, do que nos implicarmos ativamente no processo.


FICHA TÉCNICA DO FILME

POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL: UM SÉCULO DE LUTA PELO DIREITO À SAÚDE              

Direção: RenatoTapajós
Duração: 60 minutos

Ano: 2006

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Mais médicos, mais saúde?

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Resumidamente, o programa em questão tem três dimensões que se entrelaçam: o incentivo para que médicos – estrangeiros e brasileiros – fixem-se e trabalhem em áreas carentes de profissionais (pequenos municípios e periferias de grandes cidades); o investimento em infra-estrutura (construção e melhoria de unidades de saúde nos municípios que se cadastrarem no programa, compra de equipamentos, investimento em hospitais universitários etc.); além de uma dimensão que diz respeito à formação dos médicos (aumento do tempo de duração do curso de seis para oito anos e aumento do número de vagas tanto para a graduação quanto para a residência médica)1.  Cada uma dessas dimensões mereceria, por si, uma análise mais aprofundada, o que – obviamente – foge do objetivo deste texto.


É importante – contudo – que se note que não é necessária muita argúcia e nem é preciso nos determos tempo demais sobre o que se tem dito na mídia, para que possamos rapidamente concluir que o debate em torno do Programa Mais Médicos está temperado de ignorância, desinformação, alienação política, falácias mal disfarçadas  e, frequentemente,  uma pitada de arrogância.

As entidades médicas se mostram terminantemente contra o programa e baseiam seu posicionamento, principalmente, no fato de que a importação de médicos não obedecerá a legislação vigente. O Revalida – exame ao qual médicos, brasileiros ou não, formados fora do Brasil, devem se submeter caso queiram exercer a profissão no país, não será necessário para os médicos estrangeiros vindos através do Programa Mais Médicos.

O Revalida garante que uma instância superior julgue e certifique a habilitação do profissional, baseado no fato inquestionável de que aquele que é atendido por um médico não tem, em geral, condições de julgar a expertise deste. Aliás, exame semelhante, destinado a médicos, está presente em grande parte dos países do mundo. Neste sentido, e sem entrar na questão sobre qual seria a melhor maneira de julgar os conhecimentos de um profissional (talvez, o Revalida não seja mesmo a melhor forma), o exame é de fundamental importância, assim como é importante que, diante da incapacidade de um leigo em julgar as habilidades de um piloto de avião, algum órgão competente o faça. O Governo Federal, por sua vez, contesta a argumentação das entidades médicas, à medida em que o Programa Mais Médicos pressupõe uma capacitação com duração de três semanas para os médicos estrangeiros a ele vinculados, ao final das quais o profissional será avaliado, podendo ser desligado do programa em caso de reprovação1.

Outro argumento corrente das entidades médicas e que faz parte do discurso oficial da classe (como se pode ver no link a seguir: http://www.crmpb.cfm.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=22138:a-solucao-nao-e-f..) é o de que não faltam médicos no Brasil, já que o país, com cerca de 1,8 profissional para cada mil habitantes, teria mais médicos do que o que é preconizado como ideal pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que seria 1 profissional para cada mil habitantes.

Misteriosamente, aqueles que divulgam tal dado, mesmo em textos acadêmicos,  jamais esclarecem exatamente de onde o tiraram e não mostram qualquer documento, trabalho ou estudo da OMS que o confirme. Neste ponto, não se pode deixar de comentar, em nome de um debate honesto e informativo, que o motivo de tal omissão é tão simplesmente por ser esse um dado falso e a divulgação dele só pode se justificar pela ignorância ou pela intenção de confundir. A Organização Mundial da Saúde não recomenda qualquer proporção ideal médico/habitante e o motivo disso é claro como o Sol: afinal, como se poderia recomendar a mesma taxa, seja ela qual for, de modo a contemplar lugares tão díspares como, por exemplo, a Amazônia, o Saara, Tóquio e São Paulo? E é exatamente pelo mesmo motivo que a proporção inglesa de 2,7 médicos para cada mil habitantes, almejada pelo Governo Federal, é tão arbitrária e aleatória quanto qualquer outra, já que dois países cultural, geográfica, histórica e politicamente tão distintos quanto a Inglaterra e o Brasil têm certamente necessidades de saúde amplamente diferentes.

Não se pode deixar de comentar, também em nome da honestidade, a respeito do uso político e eleitoreiro que a presidente Dilma Rousseff tem feito do Programa Mais Médicos e, assim como outras partes envolvidas no debate (incluindo aí as próprias entidades médicas), o discurso da presidente, não raro, visa mais confundir que esclarecer, de forma que alguns dados são obviamente manipulados. É interessante e curioso notar, por exemplo, que o discurso proferido pela presidente no dia 21 de junho deste ano, após as manifestações do dia dezessete, onde Dilma prometeu trazer de imediato milhares de médicos do exterior2,  o que causou pruridos entre as entidades que representam a classe, foi “coincidentemente” seguido da publicação, apenas 12 dias depois, de um estudo do IPEA (órgão do governo) que aponta a Medicina como a carreira mais bem remunerada entre as quarenta e oito carreiras universitárias pesquisadas3.

Ora, em um país como o Brasil, em que o salário médio de profissionais de nível superior, segundo o próprio IPEA3, não passa de R$ 2.400,00, não se pode dizer francamente que um médico ganhe pouco (segundo o mesmo estudo, o salário médio do médico brasileiro gira em torno de R$ 8.500,00). O salário inicial de um médico na Inglaterra, segundo site oficial do próprio governo inglês, equivale a algo em torno de R$ 6.400,004, ou seja, mais baixo do que o salário de R$ 10.000,00 oferecido pelo Programa Mais Médicos. É claro que, considerando os benefícios sociais a que os ingleses têm direito, a comparação não pode ser feita assim de forma direta e sem as devidas ressalvas.

Contudo, a imagem do médico – divulgada pela imprensa, disseminada socialmente e apoiada pelo discurso oficial do governo – como um profissional nababescamente remunerado e da Medicina como uma  profissão que garantirá o enriquecimento fácil daquele que a exerce faz parte de um conjunto de manobras claras para a manipulação da opinião pública e tem – por consequência – efeito danoso à imagem e à representação social que tem a Medicina e os médicos como um todo.  Pintar a Medicina com essas cores é esquecer outros matizes que talvez demonstrem que o que se tem demandado desse profissional, muitas vezes, está além de suas possibilidades pessoais.

Inúmeros estudos têm demonstrado, com dados estatísticos bem consistentes, que a vida profissional dos médicos, no Brasil e no exterior,  não parece ser exatamente esse mar de rosas que se pinta. Se não, como explicar o fato de os médicos mentalmente adoecerem mais5 e se matarem mais do que a população em geral?6,7,8,9,10. Como explicar o resultado de um estudo escocês,  que mostra que os médicos têm duas vezes mais chance do que outros profissionais tanto de serem dependentes de álcool quanto de serem tratados por doenças afetivas?11 O que significa o achado de  que os médicos, quando comparados a outros profissionais de mesmo nível sócio-econômico, tendem a ter casamentos mais pobres, além de fazerem mais uso de tranquilizantes e anfetaminas?12

Muitos outros aspectos dessa discussão não têm sido convenientemente abordados pelos diversos setores que se ocupam da questão, ora por ignorância ora por leviandade. Entre eles, os quase 15 bilhões de reais que serão investidos (boa parte deles nos municípios) em vésperas de uma campanha eleitoral.

Contudo, há uma questão maior e anterior, que perpassa o Programa Mais Médicos e que não tem sido abordada seriamente, que é o fato de se atribuir ao médico a responsabilidade quase exclusiva pela melhoria (e, consequentemente, pela atual precarização do Sistema Único de Saúde), como se um bom sistema de saúde fosse feito apenas por médicos. Tal fato representa uma flagrante contradição em relação ao que o próprio SUS preconiza: um conceito ampliado de saúde que reconhece a importância de outras disciplinas na construção de um saber e de uma prática holísticos nessa área. A hegemonia da Medicina frente a outras disciplinas da área da saúde é algo apregoado aos quatros ventos pelas entidades médicas e, nesse momento, aparentemente, os médicos estão colhendo os frutos de sua própria arrogância classista.

A ideia de saúde baseada em um modelo biologicista, em que a Medicina aparece como atriz principal, tem se mostrado claramente insuficiente para responder às demandas de saúde da população, uma vez que aborda o homem a partir de uma mirada única, transformando-o em um mero depositário de órgãos e tecidos e à doença em um simples desarranjo desses órgãos, sem que se leve em conta os muitos outros aspectos que contribuem para a saúde ou  o processo de adoecimento humano. Tal questão é algo que nem as entidades médicas nem o Governo Federal abordam francamente no debate, pois – aparentemente – esse é um ponto de convergência em seus discursos, já que tal forma de se fazer saúde interessa a ambas as partes neste momento.

É necessário que se faça notar que aqui não há uma crítica à Medicina em si, mas à transformação do modelo biomédico em prisma único através do qual se deve olhar a saúde. Nesse sentido, qualquer outro modelo que não permitisse uma ideia integradora do processo de adoecimento humano seria tão danoso quanto o ora hegemônico.

Em relação a isso e para finalizar este texto, que já não está tão curto quanto manda o bom senso, torço para que outras profissões da área da saúde se organizem e exijam sua participação no programa em questão, sob pena de que se vejam transformar em meras coadjuvantes no processo de construção SUS  e de que fiquem omissas diante do Programa Mais Médicos, que – a rigor – representa um reafirmação espetaculosa e oficial do modelo biologicista acima comentado.

Quem sabe assim, ao invés de Mais Médicos, pudéssemos realmente  alcançar mais saúde?

Referências:

1.Disponível em: http://portalsaude.saude.gov.br/portalsaude/area/417/mais-medicos.html. Acessado em 25 de julho de 2013.

2.Disponível em: http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/dilma-comenta-os-protestos-no-brasil-leia-a-integra-do-discurso. Acessado em 25 de julho de 2013.

3.Disponível em:  http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/radar/130703_radar27.pdf

4. Disponível em: http://www.nhscareers.nhs.uk/explore-by-career/doctors/pay-for-doctors/. Acessado em 25 de julho de 2013.

5. BENNETT G. The wound and the doctor. In: Healing technology and power in modern medicine. London: Secker and Warburg, 1987:14-28.

6. SIMON W, LUMRY GK. Suicide among physician-patient. J Nerv Ment Dis 1968; 147(2): 105-12.

7. ROSS M. Suicide among physicians: a psychological study. Dis Nerv System 1973; 34(3): 145-50.

8. RICHINGS JC, Khara GS, Mc Dowell M. Suicide in young doctors. Br J Psychiat 1986; 149: 475-8.

9. ROSE KD, ROSOW I. Physicians who kill themselves. Arch Gen Psychiat 1973; 29: 800-5.

10. AGARIE CA, LOPES PS, CORDÁS TA. Suicídio, “Doença das condições do trabalho” entre médicos e estudantes de medicina. Arq Med ABC 1983; 6(1:2): 5-7.

11. RUCINSKI J, CYBULSKA E. Mentally ill doctors. BrJ Hosp Med 1985;33:90-4.

12. VAILLANT G, BRIGHTON J, McARTHUR  C. Physicians use of mood-altering drugs. N Engl J Med 1970;282:365-70.

Ultimamente, temos visto na mídia diversas manifestações, tanto individuais quanto coletivas, relacionadas ao Programa Mais Médicos, do Governo Federal. As entidades médicas andam em polvorosa com a promessa de importação de médicos estrangeiros para o país e não é diferente com a população em geral, que tem se manifestado ora a favor ora contra o programa. Diversos dados, estatísticas e opiniões (referentes ao número de médicos no Brasil, aos benefícios e malefícios de um programa como esse etc.) têm povoado jornais, televisão, revistas e sítios naweb.

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A Psicologia no Brasil: Leitura histórica sobre sua constituição

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Em 2007, foi lançada a 5ª Edição do Livro “A Psicologia no Brasil – leitura histórica sobre sua constituição” de Mitsuko Aparecida Makino Antunes, Psicóloga e Doutora e Psicologia Social. A primeira edição é de 1998 e representa um bom estudo inicial sobre a história da Psicologia no Brasil.

Mitsuko dividiu seu livro em duas partes: a primeira é dividida em dois capítulos que tratam de maneira abrangente acerca do desenvolvimento do saber psicológico no Brasil dos séculos XVIII e XIX; e a segunda é dividida em três capítulos que aprofundam a primeira parte. Esse texto apresenta, em linhas gerais, a reflexão e a sistematização feita pela autora.

Na primeira parte, no capítulo I “A preocupação com os fenômenos psicológicos no período colonial”, a autora analisa a Psicologia no período colonial baseada em três autores:Samuel Pfromm Netto, com o artigo “A Psicologia no Brasil”; de 1978-1981; Marina Massimi, com sua dissertação “História das ideias Psicológicas no Brasil em obras do período colonial”, de 1984 eIsaias Pessotti, em suas “Notas para uma História da Psicologia Brasileira”, de 1988.

Chamada de Psicologia Colonial por Mitsuko e de período pré-institucional por Pessotti, a Psicologia no Brasil, no século XVIII, foi desenvolvida por autores brasileiros e portugueses, jesuítas ou políticos que cursaram universidades europeias, em especial a de Coimbra. De acordo com esses autores, nesse período havia quatro grandes campos do conhecimento que produziam acerca do conhecimento da Psicologia:

1- A Religião, com a Teologia;
2- A Filosofia Moral;
3- A Medicina;
4- A Pedagogia.

Mitsuko cita ainda os campos da Política e da Arquitetura como também produtores de conhecimento acerca do que se entendia por psicologia no século XVIII, no Brasil.

Os temas trabalhados por todos esses campos do conhecimento foram:
1- As emoções e os sentidos;
2- A educação de crianças e jovens;
3- O autoconhecimento;
4- As características do sexo feminino;
5- O trabalho;
6- A adaptação ao ambiente;
7- Os processos psicológicos;
8- As diferenças raciais;
9- A aculturação e técnicas de persuasão de “selvagens”;
10- Controle político;
11- Aplicação da Psicologia na área médica.

As emoções são encaradas, nesse período, como forças interiores que não são demoníacas, mas que, em excesso, levam a doenças de cunho orgânico ou psíquico. Percebe-se, aqui, uma influência ou congruência com os pressupostos de Pinel e, portanto, uma condição de possibilidade para a prática alienista brasileira, desenvolvida nos séculos XIX e XX.

Sobre a construção desse conhecimento, o alcance desse artigo não abrange. Mas indico a leitura do artigo “A Psicologia dos Jesuítas: Uma Contribuição à História das Ideias Psicológicas”, de Marina Massimi, que trata da psicologia colonial dos séculos XVI e XVII e que é uma leitura necessária e impactante, para os historiadores da psicologia.

Acerca do autoconhecimento, Mitsuko cita trabalhos sobre a vaidade, sobre a obtenção do “conhecimento de si” e sobre a objetivação da experiência anterior. É interessante notar que o século XVIII foi o século de consolidação da concepção de que o homem, enquanto ser humano, possui, internamente, um “eu” que o controla e que ele, o homem como um todo, o pode também controlar, como se o homem pudesse dobrar sua consciência sobre si mesmo. Trata-se de uma concepção que demorou séculos a ser gestada. Sobre esse assunto, ver o livro “Pânico: contribuição à psicopatologia dos ataques de pânico”, de Mário Eduardo Costa Pereira.

Sobre a educação de crianças e jovens, na mistura do conhecimento psicológico com a Pedagogia, estudou-se a formação da personalidade, a aprendizagem e a influência dos pais, dentre outros temas. Sobre a mulher, estudos acerca das funções maternas e da diferença dos valores da mulher índia e a colonizada. Autores como Mello Franco, Alexandre de Gusmão e Mathias Aires abordam o tema do trabalho contrapondo-o ao ócio, condenado como o gerador de desordem. O trabalho serviu como a cura para os indígenas que eram preguiçosos (ou que não aceitavam a catequese), mostrando o caráter de biopoder nas práticas de gerenciamento de corpos que, como o trabalho dos jesuítas, tanto escravizaram, quanto colaboraram para o desenvolvimento cultural pelo sistema de educação.Sobre a sexualidade, na mistura entre o conhecimento psicológico e a medicina, Mello Franco a associava como determinante da loucura.

Ao mesmo tempo em que se percebe uma grande vinculação do conhecimento psicológico com projetos eugenistas do século XVIII, Mitsuko, referindo-se à produção teórica de Marina Massimi, afirma que também houve produções que questionavam a posição de submissão da mulher e do índio, sobre psicoterapia e educação, alguns dos quais reverteram, a seus autores, com a Metrópole e a Inquisição.

O segundo capítulo “A preocupação com os fenômenos no século XIX “ é dedicado ao desenvolvimento do saber da psicologia no século XIX. Em suma, os campos da Educação e da Medicina são os que mais desenvolveram com influência social tal saber.

Na Educação, desenvolveu-se, principalmente, em meio às correntes do liberalismo e do positivismo. Concebe-se, nesse período, a psicologia como o estudo da alma, como a concebeu Descartes. Sobre a alma, são estudados os fundamentos da vida psíquica, como a identidade e o caráter, e, também, fenômenos psíquicos específicos, como as emoções, a motricidade, o pensamento, a memória etc. Mitsuko ressalta a influência de pensadores como Locke, Rousseau, Pestalozzi, Herbart e Spencer.

Nas escolas, havia castigos contra a desobediência e contra o onanismo. Na mistura com a medicina, o onanismo do garoto escolar era considerado o causador de“a tísica, a loucura, a hipocondria, a flegmasia crônica de órgãos e finalmente a morte”. O tratamento preventivo para o onanismo era a ginástica. (Roberto Machado citado por Antunes, 1998, p.29).

Na medicina, desde 1836 há registro de teses de conclusão do curso de medicina versando sobre as “paixões ou emoções, diagnóstico e tratamento das alucinações mentais, epilepsia, histeria, ninfomania, hipocondria, psicofisiologia, instrução e educação física e moral, higiene escolar, sexualidade e temas de caráter psicossocial.” (Antunes, 1998, p.27). A primeira identificada é de Manoel Ignácio de Figueiredo Jaime chamada “As paixões e afetos d’alma em geral, e em particular sobre o amor, amizade, gratidão e o amor da pátria”. No final do século, a tese “Duração dos Atos Psíquicos Elementares”, de Henrique Roxo, é defendida. Ela é considerada pelas fontes de pesquisa de Mitsuko como o primeiro trabalho de Psicologia Experimental.

Ainda na medicina, Mitsuko refere-se à abrangência de seu controle social gestado na prática de seu desenvolvimento. Para tal, o conhecimento da psicologia foi importante uma vez que a práxis da saúde pública, levada à cabo pela medicina, concebia ações de limpeza da sociedade, eliminando a desordem e o desvio, incluindo o das emoções. Em 1830 apareceram reivindicações para a abertura de manicômios e, em 1842 foi inaugurado o Hospício Pedro II, no Rio de Janeiro, então capital do Brasil, tendo o trabalho agrícola como forte meio terapêutico.

Os capítulos I e II fazem parte da primeira parte do livro que busca, basicamente, situar as áreas dentro das quais se gestou o saber psicológico brasileiro no período colonial, ressaltando as áreas da Educação, da Medicina e do Trabalho. A parte II do livro é destinada ao aprofundamento de dados e análises em torno de cada uma dessas três áreas. Para quem se interessa pela história da Psicologia, o livro de Mitsuko Antunes a apresenta de forma didática e clara, com indicações dos principais trabalhos acerca do tema. Boa leitura.

REFERÊNCIAS:

ANTUNES, Mitsuko Aparecida Makino. A psicologia no Brasil: leitura histórica sobre sua constituição. São Paulo: Educ, 1998, 5ª. Ed. 2007.

Sobre a autora:

Possui graduação em Psicologia Formação de Psicólogo pelo Instituto Unificado Paulista (1978), mestrado em Filosofia da Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1985) e doutorado em Psicologia (Psicologia Social) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1991). É professora titular do Departamento de Fundamentos da Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, atuando, desde 1992, no Programa de Estudos Pós-graduados em Educação: Psicologia da Educação. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Psicologia da Educação, pesquisando e orientando pesquisas em: psicologia da educação, história da psicologia da educação no brasil, história da psicologia no brasil, constituição de identidade de educadores e educandos. (http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?metodo=apresentar&id=K4784793Z1)

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Renato Russo: o homem, o poeta, o mito!

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“Há muito tempo atrás, numa terra distante, longe da civilização, existia um jovem rapaz chamado João de Santo Cristo. Esta é a sua história. Guardem com atenção essas palavras. E, lembrem-se: as drogas fazem você virar os seus pais.” (Faroeste Cabloco, Plateia Livre, parte II)

“Brasília é um futuro que aconteceu no passado. É o fracasso do sucesso mais espetacular do mundo. Brasília é uma estrela espatifada” (Clarice Lispector)

BSB, 1973: capital federal do Tédio com T bem grande pra você!
Renato Manfredini Jr, o Russo.

“_O que vai ser do Renato quando ele crescer? Ele é tão tímido!”

“Eu já sei o que eu vou ser; ser quando eu crescer…”

Renato, o patinho feio da ‘tchurma’ da Colina (Lá vem o Frankesntein), com seus coturnos, óculos e ar debochado, conseguia se destacar, nas palavras, nas letras, nos gestos, e, com isso, toda timidez desaparecia. O gênio, o artista, o poeta, o astrólogo: um pouco doido, um pouco meio assim, sei lá… acho que era o tipo de pessoa que metia-se dentro de si e ali encontrava o mundo. Mas, era um mundo estranho. E tinha medo. E tinha fome. Tinha delírios e sonhos.

“Quem me dera ao menos uma vez acreditar por um instante em tudo que existe. Acreditar que o mundo é perfeito, e todas as pessoas são felizes.”

Resolveu formar uma banda. A primeira. Não, não era o Aborto. Apresento-lhes: Renato, o desenhista: ‘Prazer, eu sou o Eric Russell, sou legal, sou virgem ascendente em peixes, tenho 23 anos, muita merda na cabeça, e vou fazer um som legal pra vocês, okay? Mas, assim, eu só toco em inglês.’

Com toda a licença poética desta narrativa em inventar as nuances do cantor – afinal só o nome aí é verdadeiro -, nascia a 42nd Street Band, e a descoberta, meio forçada por uma amiga: _ O que você vai ser quando você crescer? _ Denise, você acha que eu sou doido? Eu vou montar uma banda de rock!

Afinal, tribos são a única maneira de sobreviver individualmente.

Aqui, o poeta – embora ainda meio recluso na sua autodepreciação -, se revela ao mundo: Bem vindos ao Aborto Elétrico (Eletric Music for young hearts & minds).

“Muda o nome do conjunto, Renato! Esse nome é muito feio.”

“Mas aborto é a vida que vem da música!”

(…)

_ Professora, o que você acha que eu devo fazer da minha vida?

_ Renato, você seria um dramaturgo brilhante, mas não teria saco para manter uma trupe e repetir o texto noite após noite. Seria um diretor de cinema na linha do Glauber, livre e solto, mas não tem dinheiro para fazer filmes. Você pode, então, fazer o que está fazendo: rock. Gritar a sua mensagem. Que nem é sua, aliás.

_ Como assim?

_ Quando você canta numa banda chamada Aborto Elétrico, você está falando também do medo que todas as mulheres passam todos os dias. É uma declaração feminista.

(…)

Assim, Renato começa a rascunhar o próprio futuro, sem ter noção (ou talvez com toda a intenção) de que revelara ali muito de seu passado e presente. A música era sua forma de expressão, de exasperação, de demonização e exorcização.

As primeiras formas de falar de amor. Do seu amor. Da sua ‘opção’ sexual. “Aquele gosto amargo do teu corpo ficou na minha boca por mais tempo. De amargo, então, salgado ficou doce”. Renato na cova ‘pros’ leões. Sua primeira declaração de que não curtia as minas da cidade. Maurício veio bem depois, numa fase mais melancólica (“Às vezes faço planos, às vezes quero ir para algum país distante voltar a ser feliz”). O país distante não chegou a tempo. E Renato confessaria, minutos antes de morrer, à sua mãe, que só fora feliz na infância.

Toda genialidade, cedo ou tarde, leva a algum tipo de loucura. Renato era infeliz. E demonstrava isso em quase todas as letras e muitas vezes no palco mesmo. Renato era um ‘cordeiro’ solitário, depressivo e totalmente dependente das emoções. Renato não tinha medo da morte. Ele tinha medo da vida. Tinha medo do seu não encaixe no mundo em que vivia.

Não conseguia entender o atraso sócio-cultural em que seu país estava. E dissecava sua frustração em muitas de suas letras, onde falava sobre política e hipocrisia.

“Vamos comemorar como idiotas a cada fevereiro e feriado. Afinal, Que país é este? O Brasil é o país do futuro…”

E, talvez seja mesmo o país do futuro, porque não era o Brasil do presente do Renato. Sequer ainda é o nosso. Talvez nossos netos tenham mais sorte, e comecem a parafrasear Duas tribosde uma forma mais convincente.

Renato era obstinado com sua aparência (Narciso não devia ser um dos seus seres míticos preferidos), demorou a assumir sua homossexualidade, e, mesmo quando o fez, falava muito sobre a dor do amor, da perda, do que das nuances positivas.

A música Vento no litoral retrata bem isso. A idéia fixa do amor sem medidas, capaz de levar à loucura (no sentido real da palavra). Nela, Renato conta a história de uma pessoa que havia encontrado sua alma-gêmea (a escolha do cavalo-marinho aqui não foi aleatória), mas que acabou perdendo-a, e, com isso, começou a ter alucinações.

Neste ponto, sempre achei a personalidade de Renato com a de Cobain. Ambos eram pessoas que amavam demais os outros, mas de uma forma muito peculiar e triste mesmo, e se desprezam em igual proporção. Contudo, Cobain, no que tange à sua mortalidade física preferiu queimar se de uma vez do que se apagar aos poucos. Renato foi cometendo um suicídio lento, com dor, angústia, resignação e rebeldia.

Aonde está você agora, além de aqui dentro de mim? (…) Ei, ei, ei…olha só o que achei: cavalos-marinhos.

Certa feita, Erasmo de Rotterdam aduziu que a felicidade consistia em ser o que é. Talvez, esse fosse todo o problema de Renato. Ele não podia, ou não conseguia devido aos preconceitos da época, ser aquilo que ele realmente era. Expressar tudo aquilo que sentia. Viver da maneira que quisesse (sequer assumiu sua doença em público, como havia feito Cazuza). Isso, ele só fez com a música, não na vida real.

Ele tinha que ser o Júnior. Filho da classe média, transportado a Brasília pela força do destino. O menino de ouro, com QI e sensibilidade fora do normal. O professor. O pai. O brasiliense de criação. Mas, ele queria ser mais que isso. Queria poder se expressar de forma mais aberta na vida. Poder confessar seus pecados, e não empunhá-los goela abaixo sob doses de álcool.

Era difícil ter que dizer não a cada investida feminina- e essas aconteciam com freqüência, acreditem-, sem poder dizer de forma clara que aquela não era ‘sua praia’, que ele gostava de meninos e meninas, mas, dessas, não no sentido romântico de ser.

Sua rebeldia, e o conseqüente encontro com as drogas, talvez tenha muito a ver com essa necessidade de desmascarar-se. Renato se dizia punk, mas no fundo se auto-intitulava careta por não ser capaz de romper suas próprias barreiras.

“Você é tão moderno, se acha tão moderno, mas é igual aos seus pais. É só questão de idade, passando dessa fase, tanto fez e tanto faz.”

Muita coisa que Renato escreveu – a maioria, na verdade – era sobre si mesmo (isso não é uma característica exclusiva sua. A maioria dos artistas, de uma forma ou de outra, acaba se revelando através de sua arte, mesmo sem perceber). Embora cercado de muita gente, sempre fora um trovador solitário. Trancafiado em sua própria mente, com seus anseios frustrados.

“E Clarisse está trancada num banheiro e faz marcas no seu corpo com seu pequeno canivete, deitada num canto, seus tornozelos sangram…”

No início da carreira, ainda no Aborto, ele disse que o público não estava preparado para o tipo de som que eles faziam (Se, você quiser se divertir, invente suas próprias canções). E talvez não estivessem mesmo. Muita coisa foi vetada no início dos primeiros shows, afinal ninguém entendia que eu não quero mais viver; eu quero ser um vegetal; nada não tenho nada; não sinto nada; não vejo nada; não ouço nada; não quero nada; não espero nada a não ser uma faca faca faca faca faca; cortar minha carne com gilete; tomar comprimidos prá dormir e não acordar…

“Os mortos não podem voltar”

E o Aborto que poria tudo pra fora, foi-se.

E quem são vocês? Nós somos a Legião! Nós somos conseqüência de tudo o que o Júlio César fez. E, como legionários de Roma, viemos, vimos e vencemos.

Então, a pergunta se repete: So, Renato, what Will you be when grow up? _ I´m gonna be a very famous star. I wanna be a star.

E, dessa vez, o sonho se realizou.

BSB, 1982: capital federal da hipocrisia! Moramos na cidade, também o presidente, e todos vão fingindo viver decentemente, só que eu não pretendo ser tão decadente nãaao!

Fernando e Leonice viraram Eduardo e Mônica, e, na boa fase de Renato, eles ainda decidiram se casar. Um casamento indiano em algum lugar perto do mar. – Mas, o mar tá muito longe, um deles lembrou; vai ser aqui mesmo, e assim ficou. Foram pra Bahia e Ouro Preto; E o Eduardo foi parar lá no Banco Central. Cristalina, Sampa, Rio de Janeiro; E a Mônica dá aulas na escola normal; Eduardo e Mônica estão no Lago Norte; ele projetou a casa e ajudou construção; Só que nessas férias não vão viajar, porque o filhinho do Eduardo tá na recuperação…

Era o mestre dos conselhos, da chatice e da aberração.

– Qual o seu signo?

_ Câncer.

_ Câncer? Legal, você tem uma ligação forte com a lua… gostei de você! Tô fazendo um mapa astral. Quero fazer o seu!

Mas o astral muda. A Legião, que fora seu grande sonho – conquistado -, já não era suficiente para curar-lhe os males da alma, do corpo e do coração.

“Tudo é dor, e toda dor vem do desejo de não sentirmos dor.”

Renato implorava por um reconhecimento e uma aceitação espiritual que não era possível àquela época. Renato era precoce. Abortou-se antes do tempo. Ele não era dali.

Um homem à frente do seu tempo. Quebrou várias barreiras, é verdade. Fez sucesso. Tornou-se imortal. Mas, não conseguiu amar a si mesmo. Passou a se enclausurar, a não sair, não atender aos telefonemas, não receber visitas. Enfim, seu corpo e mente encontraram-se imersos na escuridão.

O poeta ainda vivia, mas só falava de dor e solidão. O disco A tempestade retrata bem essa fase de Renato. Engano dele quando dizia que não tinha se perdido, mas que mesmo assim, havia sido abandonado. Renato se perdeu em seu próprio ser. Ou melhor, perdeu-se por não poder ser o que realmente era.  Abandonou-se.

“Digam o que disserem, o mal do século é a solidão. Cada um de nós imerso em sua própria arrogância, esperando por um pouco de afeição.”

O homem faleceu em 11 de outubro de 1996. Venceu a vida, encontrando a morte!

O mito ainda vive.

Se me perguntarem se eu acho que ele morreu de Aids (ou das conseqüências dela) ou do uso abuso de álcool e drogas, eu direi com plena convicção: Renato cansou de viver. Suicidou-se à sua maneira.

Foi covarde (ou muito corajoso) e se matou aos poucos, do jeito que pôde. Cansou de não ser compreendido. Cansou de ser julgado, já que quem insiste em julgar os outros sempre tem alguma coisa pra esconder.

Afinal, o que fazer quando o sonho se torna maior do que o sonhador? Morrer parecia uma opção. Estrelas também morrem. Renato, de fato, tornou-se uma estrela. Morreu, mas seu brilho ainda continua-se a propagar no universo.

“Vinte e nove anjos nos saudaram e tive vinte nove amigos outra vez.”

Urbana Legio Omnia Vincit. Força Sempre!

Nota: Os diálogos do texto e algumas referências foram extraídos do livro “Renato Russo: O filho da Revolução” de Carlos Marcelo, Editora Agir.

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Brasil: um país de “psicohipocondríacos”

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Estamos vivendo uma época muito boa para a psicologia, onde a popularização das profissões psi estão em alta. Já não se tem mais tanto estigma em relação a profissão. Não enxergam mais como loucos aqueles que fazem terapia e a profissão deixou de ser elitizada, fazendo com que as massas possam ter acesso à ela.

Porém, em relação a isso, algo deve ser visto com preocupação. A popularização das profissões psi também trouxeram uma popularização das doenças mentais. Vejo com extrema preocupação o grande número de “doentes” mentais ou psicológicos.

Com frequência temos ouvido algo como:

“Tomo 2mg de Clonazepam (Rivotril)  e você?”

“O médico passou 2mg, mas estou tomando 4mg. Mas estou tomando também 10mg de Metilfenidato (Ritalina) “

“Rivotris” e “Ritalinas” surgem de bolsas, mochilas, armários e caixinhas de remédio com uma força cada vez maior. Dividem espaço com dipironas e Dorflex em nossas farmacinhas dentro de casa e são distribuídos aos parentes como se fossem água.

Fazer uso desses fármacos tem gerado uma condição de status.

“Eu tomo Rivotril e você não.”

Em 2010 o Brasil consumiu 2,1 toneladas de Clonazepam, a droga da paz já é a segunda droga mais consumida, perdendo apenas para o anticoncepcional Microvlar (Super Interessante – Julho 2010).

Esse grande consumo do benzodiazepínico é muito facilitado devido ao baixo preço do fármaco e a facilidade com que as receitas do tarja preta são conseguidas.

Creio que a popularização das profissões psi seja muito benéfica. Porém devemos tomar muito cuidado com o que isso pode acarretar. Não podemos passar de um país que teme e sataniza as doenças mentais e as profissões psi, para um que os idolatra e diviniza.

Estamos nos transformando em um país “psicohipocondríaco”. E pessoas que antes não tinham nenhum problema com isso, lotarão nossas clínicas devido essa forma de histeria coletiva que tem nos assolado.


Nota: Texto originalmente publicado em http://psicologia-ro.blogspot.com.br/2012/08/brasil-um-pais-de-psicohipocondriacos.html

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As Cores da Utopia: da arte à loucura

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“E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música.”
Friedrich Nietzsche

Arte: Reginaldo Bonfim

“As Cores da Utopia”, é o titulo do documentário produzido e dirigido por Júlio Nascimento em 2011, narra a história do artista plástico baiano Reginaldo Bonfim – O Louco.

Reginaldo Bonfim (Salvador, 1950 – 2007) pintava desde os cinco anos de idade e seu trabalho sempre chamou a atenção de todos. Chegou a fazer o Curso Livre da Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia (UFBA), mas não se limitou à técnica. Destacava-se pela habilidade de pintar com o que tivesse à mão. Era capaz de variar entre todas as escolas, dominando com excelência as mais variadas técnicas e estilos, com um jeito único de brincar com as cores.

Seu destaque e notoriedade na cidade de Salvador – BA, rendeu-lhe a oportunidade de apresentar seu trabalho em um programa de TV, no Rio de Janeiro. Nesse período teve uma crise. Reginaldo Bonfim foi então diagnosticado com esquizofrenia, passou a ser alvo que fortes críticas e resistência da sociedade, principalmente em Salvador, sua cidade natal. Seu comportamento de falar sozinho enquanto pintava era tido como “excêntrico”.

O documentário traz o retrato de um Reginaldo que possuía um traçado livre, e uma liberdade Ímpar na sua pintura. Suas telas são um retrato fiel da história do Brasil, em especial sobre a questão social e a condição do negro. Engana-se quem se deixa levar pela esquizofrenia de Reginaldo Bonfim, mas é bom que se deixe, afinal é preciso ser louco para aventurar-se a pintar um Brasil com essas formas e cores.

Um fato interessante abordado no documentário, é que os clientes de Reginaldo se aproveitavam de seus momentos de delírio para pagar valores mínimos por seus quadros, beneficiando-se da sua insanidade. Comportamento que me fazem indagar quem é o normal? O que caracteriza uma pessoa como louca?

A imparcialidade do Brasil no enfrentamento à questão do sofrimento mental não é novidade. É preciso frisar que a questão não era uma peculiaridade do nosso país, pois a falta de políticas nessa área foi por séculos uma demanda de proporção global, mas, como no resto do mundo, a sociedade brasileira sempre omitiu seu papel de responsabilidade, e preferiu ignorar a situação do louco a enfrentá-la. As políticas nacionais de Saúde Mental são muito recentes. Os primeiros mecanismos eficientes e que proíbem a instauração de manicômios no Brasil datam de 2001.

E não há como negar, e nem a quem culpar. A sociedade só repetiu com Reginaldo o que já vinha fazendo há muito tempo com o sofrimento mental, rotulando-o de louco, asilando-o e o entupindo de medicamentos, de forma frenética e descontrolada.

Reginaldo Bonfim foi apenas mais um, de muitos, que sofreram as consequências de viver em uma sociedade pouco preparada para lidar com o sofrimento mental, e que, até certo momento da história, não se engajou e/ou não viu necessidade de se engajar nesse processo. O homem que hoje é relembrado como: gênio talentoso; crítico social; e artista referência foi, na verdade, ridicularizado e rotulado de “esquisito” por muitos. Pois só bastou o diagnóstico de um comportamento esquizofrênico para que o Artista sumisse, dando lugar ao Louco. E este persistiu e persiste até hoje, mas há também que se pensar no ganho positivo, o trabalho de Bonfim é sem duvida creditado por essa loucura que permite, dentre outras coisas, esse debate que aqui se faz à cerca da condição do louco.

O filme mostra ainda um outro lado, o do emprenho da família de Reginaldo que sempre o apoiou, e esteve ao seu lado. Mesmo entendendo pouco do que era essa esquizofrenia seus familiares nunca lhe voltaram às costas. Na história da loucura isso é um fator incomum, e talvez sem o apoio de sua família, como aconteceu com muitos que se viram abandonados em asilos psiquiátricos, sem amparo algum, Reginaldo tivesse conhecido um destino diferente, e bem menos feliz.

A pintura era, sem sombra de dúvida, sua ponte de ligação com o mundo. Quer fosse pintando suas belas negras de lábios carnudos, suas paisagens tropicais ou o Menino Jesus rodeado por todos os seus santos e anjos, a pintura era sua maneira peculiar de lidar com o mundo. Reginaldo não parava de produzir, nem mesmo em momentos de crise, e sonhava um dia poder abrir um museu para expor toda a beleza de seu trabalho.

Arte: Reginaldo Bonfim

O documentário traz um pintor vigoroso, com hábito de pintar à noite (relatado pelo próprio Reginaldo como o horário do dia de maior inspiração), e com verdadeira devoção por um inseparável macacão, sua armadura. São Ideias de Referência de um homem acometido por sua esquizofrenia, ou um capricho de excentricidade do pintor? Ainda me questiono qual a real diferença entre ambos? Se é que existem. E aqui está o perigo da patologização que tem sido disseminada e difundia passivamente por todas as camadas da sociedade, pois é mais fácil justificar nossas ações por meio de uma doença, como se nós todos fossemos vítimas, totalmente passivos e alheios à nossa própria vontade, que aceitar a verdade por trás dos fatos, e assumir nossa culpa e responsabilidade pelos nossos atos.

Não muito diferente de um Dom Quixote, mas que empunha um pincel, Reginaldo Bonfim era um personagem, que usou e abusou do louco, para dar visão e notoriedade ao artista. E quem garante que ele não se divertiu?

A impressão que eu trouxe comigo ao fim do documentário é a de que, mesmo imerso em sua loucura, Reginaldo Bonfim era tão normal quanto outras pessoas que já conheci. Na verdade, precisa-se de certa dose de loucura para desafiar qualquer modelo de ordem, para ser livre, para ser grande, para ser artista. Eu não saberia dizer se o trabalho de Reginaldo teria sido o mesmo se ele não fosse Louco.

FICHA TÉCNICA DO FILME:

AS CORES DA UTOPIA

Diretor: Julio Nascimento
Roteiro: Julio Nascimento
Ano: 2011
País: Brasil
Gênero: Documentário

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heleno

Nunca houve um homem como Heleno!

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Filme sobre a vida do futebolista Heleno de Freitas entra em cena no Cine Cultura em Palmas.

O título deste “Em Cartaz” é homônimo da biografia, de autoria de Marcos Eduardo Neves, que inspirou o filme “Heleno” produção brasileiro que traz a história do mais polêmico jogador que o país já viu. Não há exagero em dizer que Heleno de Freitas teve uma das trágicas e brilhantes carreiras de todo nosso futebol. Em 116 minutos, Rodrigo Santoro dá vida à Heleno reencenando amores, desilusões e jogadas espetaculares do jogador, que fez história como atacante do clube Botafogo de Futebol e Regatas.

Exemplo de bon vivant, imagem da boêmia carioca dos anos 1940, Heleno era a síntese de dois mundos: era um representante da elite do Rio de Janeiro, circulava pelos melhores salões e cassinos da cidade, mas também alimentava uma paixão pelo futebol, até então reduto que ainda carecia do prestígio e o glamour que hoje o esporte, multimilionário, tem.

Com elenco que inclui ainda: Alinne Moraes, Othon Bastos, Herson Capri, Angie Cepeda, Erom Cordeiro, Orã Figueiredo, Henrique Juliano e Duda Ribeiro o filme visa transmitir a sensação de desespero que tiveram os amigos e familiares de Heleno ao acompanharem sua caótica e meteórica existência.

O drama de Heleno de Freitas, que morreu em um sanatório de Barbacena – MG, é pontuado pelo consumo de drogas e por tentativas de suicídio, mas a história dirigida por José Henrique Fonseca traz bem mais que isso, deixa a impressão de que a estrela cadente até se apaga, mas não sem antes deixar um brilho intenso em seu caminho.


FICHA TÉCNICA DO FILME

HELENO – O PRÍNCIPE MALDITO

Diretor: José Henrique Fonseca
Elenco: Rodrigo Santoro, Alinne Moraes, Othon Bastos, Herson Capri, Angie Cepeda, Erom Cordeiro, Orã Figueiredo, Henrique Juliano, Duda Ribeiro
Produção: José Henrique Fonseca, Eduardo Pop, Rodrigo Teixeira, Rodrigo Santoro
Roteiro: José Henrique Fonseca, Felipe Bragança, Fernando Castets
Fotografia: Walter Carvalho
Duração: 116 min.
Ano: 2010
País: Brasil
Gênero: Drama
Cor: Preto e Branco
Distribuidora: Downtown Filmes
Classificação: 14 anos

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