Coletivo Junguiano promove palestra sobre “Os benefícios psicológicos da compaixão e da atenção plena”

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O coletivo Quíron promoverá uma palestra aberta ao público com o tema: “Os benefícios psicológicos da compaixão e da atenção plena”. O evento será no dia 20/10/2022 às 09:30h. A palestrante convidada é a Psicóloga Denise Kato. Denise é formada em psicologia pela PUC-SP e é praticante de meditação na tradição Zen-budista Plum Village.  Em 2010 foi ordenada membro da ordem do Intercer por Thich Nhat Hanh e hoje é Dharma Theacher na linhagem de mestres da mesma tradição. Instrutora de Mindfulness, certificada pela Breathworks/UK e Respira vida- Espanha. Também é Intérprete de conferências há quase 30 anos. Traduziu conferências de Thich Nhat Hanh, Mathieu Ricard, sua santidade, o Dalai Lama, entre outros. Na área editorial traduziu o livro “ As folhas caem suavemente” de Susan Bauer-Wu e “Simplicidade elegante” de Satish Kumar. Trabalha com atendimento em meditação terapêutica voltado à saúde emocional e oferece cursos de meditação compassiva direcionada a cuidados paliativos, manejo de stress/ansiedade.

As inscrições ocorrem pelo link no formulário do Google Forms. Os interessados podem se inscrever gratuitamente para a palestra no link: https://forms.gle/C1rkQCN6WS89jEVt8

O evento terá Certificação pelo Ceulp/Ulbra e o mesmo será gratuito. O link será enviado no dia do evento, por e-mail.

O Quíron – Coletivo Junguiano do Tocantins, é formado por alunos de Psicologia do Ceulp/Ulbra e egressos de Psicologia da Ulbra e de outras instituições adeptos da abordagem junguiana. No momento, é composto por cerca de 30 integrantes (entre alunos e psicólogos). Realiza atividades semanais, como grupos de estudos sobre as obras junguianas históricas e atuais, além de palestras e mesas-redondas. As palestras e grupos de estudos do Quíron são abertas e gratuitas, e recebem em média 150 pessoas por evento. O objetivo do coletivo é ser referência estadual nos estudos e produção de pesquisa científica tendo como base a Psicologia Analítica/Junguiana.

O coletivo Quíron mantém uma parceria com o curso de Psicologia do Ceulp/Ulbra, rede de livrarias Leitura, Editora Vozes (RJ) e alunos do Instituto de Psicologia Social da USP (IPUSP), além de professores do IJEP (Instituto Junguiano de Ensino e Pesquisa – SP), e professores do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Analítica da UNIP (Universidade Paulista).

As atividades do Quíron são realizadas a partir de mediações rotativas, em que cada integrante tem uma função no coletivo. Além dos parceiros supracitados, está em andamento a efetivação de novas parcerias, sobretudo com professores de Psicologia Analítica da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

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Mindfulness e Terapia Focada na Compaixão para a redução da ansiedade e estresse em professores

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Sabe-se que um dos principais sofrimentos mentais do século XXI é o transtorno de ansiedade, tendo sido citado recentemente pela OMS (Organização Mundial de Saúde) como de prevalência global. Durante a pandemia de COVID-19 no Brasil, muitos foram os desafios para professores e alunos que tiveram de se adaptar a períodos de aulas on-line, bem como retornar às atividades mesmo em meio às incertezas sobre o vírus e às formas de combatê-lo.

Esse cenário de incertezas e de adaptação dos professores de forma abrupta às mais diversas tecnologias favoreceu o surgimento de quadros ansiosos e o consequente aumento do adoecimento mental dos profissionais da educação e por vezes seu afastamento do ambiente de trabalho.

O transtorno de ansiedade se refere a distúrbios que causam angústia, medo, nervosismo, dentre outros sintomas e trata-se de uma preparação natural do corpo para reagir ao risco presente em determinado ambiente, mesmo que esse risco não exista realmente. O grande problema desta reação do indivíduo é quando ela se torna intensa e frequente, comprometendo a qualidade de vida e a saúde emocional. Dentre os principais prejuízos ao indivíduo estão aumento dos níveis de cortisol, perda de memória, desgaste do sistema imunológico podendo levar ao aparecimento de doenças autoimunes como lúpus e a diabetes tipo I.

Fonte: Imagem de Elisa por Pixabay

Relacionando a saúde mental ao contexto de trabalho atual dos professores, observa-se que os mesmos são uma das categorias profissionais que mais necessitam de novas habilidades emocionais para enfrentar este novo cenário pós- pandemia.

Em recente estudo feito pela Nova Escola, 28% dos professores denotam sua saúde emocional como péssima ou ruim e 30%, como razoável, ou seja, a maior parte dos entrevistados possui uma saúde mental frágil e que necessita de cuidados.

Como tratamento principal a esse quadro de ansiedade em professores, a terapia e o uso de técnicas já consagradas e reconhecidas cientificamente como o mindfulness, a TFC (terapia focada na compaixão) e a dialética são tidas como formas de ajuda para a redução dos sintomas maléficos e o aumento do bem-estar do indivíduo.

Dinâmica de Grupo

O campo do conhecimento sobre a convivência em grupo e de suas relações com os outros grupos e com as instituições mais amplas foi denominado dinâmica de grupo.

O psicólogo Kurt T. Lewin (1965) foi quem introduziu o termo “dinâmica de grupo” nas ciências sociais e deu nome e identidade definitivos para o estudo dos grupos na Psicologia Social norte-americana. Suas proposições têm importância histórica para a ciência psicológica e seu legado apresenta-se ainda hoje como referência para a formação de psicólogos e demais profissionais que lidam com o fenômeno da grupalidade.

Em aspectos práticos, dinâmica de grupo é uma ferramenta que consiste na reunião de várias pessoas no mesmo local para realização de atividades, nas quais elas interagem entre si.

Assim, a importância da Dinâmica de Grupo reside em permitir que o indivíduo participante desenvolva suas competências por meio do que já lhe é conhecido, e se tornar ainda mais competente, podendo chegar a atingir quatro dimensões importantíssimas: dimensão social, dimensão interpessoal, dimensão pessoal e dimensão profissional.

Fonte: Imagem no Freepik

Mindfulness

Mindfulness é uma técnica de meditação consubstanciada em um momento de concentração e atenção plena, sem julgamentos. Essa prática proporciona a atenção plena para o momento atual, visto que com o ritmo acelerado em que se vive, as pessoas passam a agir de forma automática, sem parar ou mesmo terem um momento de concentração.

Concentrar-se significa estar em contato com o presente e não estar envolvido com lembranças ou com pensamentos sobre o futuro, dessa forma é intencional, visto que o sujeito escolhe e se esforça para estar atento plenamente, com foco integral no momento atual, que se deve à não categorização dos sentimentos, pensamentos e sensações apresentadas, além do não julgamento, que tem relação com uma aceitação verdadeira desses fatores, na maneira que se é apresentado.

Mindfulness não é uma crença, uma ideologia, nem uma filosofia, é uma descrição fenomenológica coerente da natureza da mente, emoção e sofrimento e sua liberação em potencial, com base em práticas destinadas a um treinamento sistemático e a cultivar aspectos da mente e do coração por meio da faculdade de atenção plena.

Fonte: Imagem por pressfoto no Freepik

TFC -Terapia Focada na Compaixão

A Teoria Focada na Compaixão foi desenvolvida por Paul Gilbert como uma abordagem de tratamento transdiagnóstico que visa criar autocompaixão e reduzir o sentimento de vergonha, desenvolvendo um sistema de suporte interno que precede o envolvimento com o conteúdo interno doloroso.

O foco clínico na Teoria Focada na Compaixão é baseado em algumas observações: a) pessoas com níveis elevados de vergonha e autocrítica podem ter muita dificuldade em serem delicadas consigo mesmos, sentirem alívio ou autocompaixão; b) pessoas que geralmente viveram histórias de abuso, negligência e/ou ausência de afeto na infância, tornando-se vulneráveis às ameaças de rejeição; c) trabalhar com vergonha e autocrítica requer um foco terapêutico nas memórias mais remotas; d) pessoas com tendências a altos níveis de vergonha e autocrítica podem sentir dificuldade em gerar sentimentos de contentamento, segurança e carinho.

Pesquisas sobre a neurofisiologia das emoções sugerem que podemos distinguir pelo menos três tipos de sistema de regulação emocional: 1) Sistema de proteção à ameaça; 2) Sistema de direção e impulso; e 3) Sistema de satisfação e contentamento.

Os fundamentos da Teoria Focada na Compaixão são organizados nesses três sistemas que podem estar desequilibrados e o objetivo é reequilibrá-los. Para isso, há três aspectos no engajamento terapêutico: 1º) o terapeuta usa habilidades de expressão dos atributos da compaixão; 2º) o paciente vivencia isso como algo compassivo e seguro que diminui a vergonha e a culpa; e 3º) o terapeuta ajuda o paciente a desenvolver atributos e habilidades da compaixão.

Os elementos-chave da Teoria Focada na Compaixão são a psicoeducação, a atenção plena, a compaixão e as imagens.

Dialética

Dialética deriva do termo latim dialectica e do grego dialektike, que significa discussão. Provém dos prefixos “dia” que indica reciprocidade e de “lêgein” ou “logos” que indicam o verbo e o substantivo do discurso da razão, ou teoria. Nasceu assim, incorporando as razões do outro através do diálogo.

Este foi o primeiro sentido do termo, empregado por Sócrates na Grécia antiga: dialética como a arte do diálogo, de demonstrar uma tese por meio de argumentação capaz de definir e distinguir conceitos envolvidos em uma discussão.

Na acepção moderna, porém, dialética seria o modo de pensar as contradições da realidade, compreendendo o real como essencialmente contraditório e em permanente transformação.

A dialética considera que a totalidade é sempre maior que a soma das partes, e que sua apropriação é sempre dinâmica. A totalidade é a estrutura significativa da realidade dada pela visão de conjunto, pela síntese que o sujeito faz de algo em determinado momento. Diz-se, então, de um sujeito ativo, que atribui sentidos subjetivos ao mundo a partir das sínteses que realiza.

Fonte: Imagem de Gerd Altmann por Pixabay

Conclusão

Desta forma, após a aplicação de todas as técnicas apresentadas, no público-alvo, percebe-se a redução da sintomatologia da ansiedade no trabalho dos professores, além da reverberação positiva tanto na relação dos docentes com os colegas de trabalho, quanto com os acadêmicos, famílias dos discentes e demais pessoas do convívio. Assim, o manejo da saúde mental do professor enquanto cidadão, através da remissão do sofrimento e da modificação da reatividade emocional e redução dos efeitos nocivos do estresse e da ansiedade, reflete ainda nas demais relações sociais do mesmo, cooperando para o bem-estar individual e coletivo.

Referências

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AUTORES:

Evelyn Oliveira Dias

João Araújo Lima Júnior

Candida Dettenborn

Ana Cristina Martins Mascarenhas Matos

Taís da Conceição Freitas Nogueira

 

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Os sonhos norteiam a vida

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Final dos anos 80. Rô tinha acabado de chegar de Londres. Morávamos no mesmo pensionato em São Paulo. Ela, uma gauchinha introvertida e discreta. Eu, uma maritaca tagarela. Ela amava David Bowie. Eu breguices. Éramos diferentes em gosto e estilo. Mas nossas almas se reconheceram.

Um dia ao desabafar com Rô sobre um projeto que tinha dado errado culpei meu jeito falante de ser pelo fracasso. Lamentei por não seguir o velho ditado de que o segredo do negócio é o segredo. Ela discordou. Surpreendi-me. Rô disse que ao botar a boca no trombone, eu sempre encontrava alguém que me indicava alguém para me ajudar. Lembrei-a das decepções no meio da jornada. Ela lembrou-me das conquistas que atropelavam as decepções. Concordei. Rô, então, me revelou que seu grande sonho era ser atriz de teatro, por isso veio a São Paulo. Fiquei boquiaberta.

Fonte: encurtador.com.br/puJV1

Jamais imaginaria que aquela menina tímida e caseira sonhasse com o holofote. Confessou sua frustração de ser recepcionista de um escritório quando sua mente viajava pelos palcos. Eu a incentivei a fazer testes e a bater nas portas. Aproveitar as oportunidades da capital. Ela respondeu que, diferente de mim, que fazia das rejeições fontes de motivação, para ela, as rejeições a atrofiavam.

Um ano depois, escondida atrás de sua timidez e cansada do ritmo de vida da capital paulista, Rô decidiu voltar para sua terra-natal. Eu não me conformava. Ela estava desistindo dos sonhos. Rô disse que faria das minhas vitórias as dela e que minha luta era das duas. Pediu-me para continuar esgoelando no alto-falante e partiu. Trocávamos cartas. Ela seguia sonhando quietinha no seu canto e torcendo por mim.

Fonte: encurtador.com.br/kBGK9

Uma noite, ao voltar para casa encontrei um envelope amarelo debaixo da porta. O carimbo era da cidade de Rô, mas a letra não era dela. Abri a carta. Retirei um recorte de jornal noticiando o acidente de carro com um casal de namorados no Lago Guaíba. O rapaz sobrevivera; a moça morrera afogada. Quem assinava o recorte era a mãe de Rô. Desmoronei.

Chorei. Desabei. Abati-me. Uma garota tão cheia de sonhos; todos afogados nas águas do Guaíba. O vazio de ligar e não ouvir a voz da amiga. As cartas que não chegariam mais. Uma juventude enterrada na eternidade. Ficaram as lembranças e o pedido para continuar sendo a maritaca tagarela. Para mim, esgoelar meus sonhos sempre atraíram decepções e indicações. Na somatória, as vitórias. Decepções fazem parte da vida. Rejeições idem. Elas me chateiam, mas não interferem na minha luta. Sempre que penso que falo demais, lembro da voz baixinha e suave da amiga me dizendo: guria, você sempre conhece alguém que te indica alguém.

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No furacão da COVID-19: ou agimos como o bambu ou lutamos contra o vento

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Feroz e veloz, o vírus atinge sem preconceitos ricos e pobres, fortes e fracos, crianças, jovens e adultos, desenvolvidos e emergentes, e diante da pandemia só consigo me inspirar em Eclesiastes.

Hoje é tempo de se recolher, orar e rezar sem se abraçar; tempo de poupar a saúde e de agradecer quem não a poupa por nós; tempo de prantear as perdas e agradecer as curas. Que todo ser humano coma e beba, e goze do bem de todo o seu trabalho. 

E se não houver trabalho? O desemprego me aterrorizou. Quando desembarquei em São Paulo em 1980, caía um dilúvio. Pensei: chuva floresce e aqui vencerei. Mas, o que minha imaginação vislumbrava, a realidade deletava. A primeira demissão veio porque recusei ser amante do chefe. Achou-me topetuda demais por ser pobre, ambiciosa e ainda recusar “melhorar” de vida. 

Fonte: encurtador.com.br/cuER7

Por anos, temi não poder pagar a vaga do pensionado. A fome não me desesperava, mas não ter aonde dormir me apavorava. Poderia voltar para a casa dos meus pais. Mas, a sensação seria de fracasso e como desapontar meu pai, o único que acreditou na minha “loucura” de sair de casa aos 17 anos para “vencer” na vida. Trouxe na bagagem seu conselho de ter Deus no coração para me guiar numa cidade repleta de perigos. 

Por sorte, amava diversões gratuitas, como ler e caminhar. Andava pela Avenida Paulista e pensava: “tantas janelinhas aí no alto, deve ter uma para mim”. Para a realidade não deletar meus vislumbres, entrava no Trianon, um parque no meio da Paulista, e lá adquiria uma força infinita vendo nossa finitude diante de árvores centenárias. 

O desemprego deixou cicatrizes, mas o enfrentei com Fé e, como o bambu, movia-me com o vento, jamais contra ele. Muitos me humilharam nessa jornada e outros muitos me estenderam a mão. Minha última demissão foi 21 anos atrás por telefone na crise cambial brasileira. 

Fonte: encurtador.com.br/nopxT

Neste furacão da COVID-19 continuo sendo o bambu, sem lutar contra o vento, mais forte e mais veloz que eu. Agradeço por trabalhar de casa, com salário e benefícios, e poder retribuir quem hoje precisa de mim para se manter na quarentena. O salário e o vale-transporte de minha colaboradora doméstica continuam integrais. Alguns amigos fizeram o mesmo com as diaristas. Entendemos que nestes tempos de isolamento social estar em casa não é férias. Tempo de repartir e esbanjar generosidade e compaixão. 

Quando a fúria do furacão passar será como num pós-guerra. Os regentes precisarão reconstruir os estragos para que os regidos continuem a tocar na orquestra.

Somos pó e ao pó retornaremos, mas entre as lágrimas da chegada e as da partida, existe a VIDA; e se há VIDA, há luta e gratidão, porque certamente suave é a luz, e agradável é aos olhos ver o sol.

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O que Budismo e Cristianismo têm de diferente, pela análise de Lubac e Usarski

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Um dos maiores estudiosos contemporâneos da aproximação entre o Budismo e o Cristianismo, o francês Henri de Lubac parte do pressuposto de que há um núcleo central entre estas duas tradições. Desta forma, apresenta o conceito de piedade que, nas duas expressões, acabam por tentar tirar o homem de suas projeções egóicas. E a piedade, neste contexto, de acordo com o francês, pode ser definida, dentre outras coisas, como “amar ao próximo como a si mesmo”, ainda que a importância do “eu” seja diminuída na abordagem oriental, ao ponto de tornar-se (esse “eu”) quase que insignificante. Haveria, portanto, um ideal contemplativo no sentido último da piedade. No Budismo, este ideal se expressa, sobretudo, no Caminho do Bodisatva (Bodi = mente, Satva = compaixão: ser de mente compassiva), que é aquele que renuncia ao Nirvana (ou ao Reino de Deus, como exemplifica Buddadhasa) até que todos os seres tenham alcançado a libertação/salvação.

Nas práticas contemplativas cristãs e budistas, lembra Lubac, a piedade ganha um novo sentido na medida em que, pela prática espiritual, o agente (que realiza a piedade) não é influenciado por fatores meramente emocionais e, portanto, é possível manter um estado de serenidade em que o colocar-se no lugar do outro, sofrer com o outro transcende e ganha um sentido ampliado. No entanto, esta abordagem causou confusão nos historiadores ocidentais, diz Lubac.

Habiendo visto bien que la piedad budista no se ocupa de los casos particulares y que no debe confundirse en modo alguno com lós movimientos de uma fácil sensibilidad, han considerado demasiado rápidamente su carácter general como un signo de universalidad; de esa forma han olvidado que entre ló general y ló universal existe aún toda la diferencia que hallamos entre ló abstracto y ló concreto […]. (LUBAC, 2006, pág. 52)

Lubac lembra que a piedade tem três sentidos para o Budismo Mahayana¹, sendo a sattvalambana karuna, a dharmalambana karuna e a analambana karuna. Na sattvalambana karuna a piedade é focada para os seres que sofrem, de modo particular. Ela é uma manifestação incompleta pois ainda leva em conta uma realidade fenomênica, aquela visível aos olhos, apresentada pelo ser que sofre. No caso da dharmalambana karuna há um avanço na percepção de inseparatividade entre aquele que se apieda daquele que é objeto de piedade. Portanto, como nesta fase se superou o sentido de dualidade, o que fica é apenas as sensações dolorosas por si mesmas (já que o “eu” que sente tal sensação é visto como um conjunto de agregados, e não como um ente intrínseco e imutável). “Pero este es todavia um conocimiento aproximado, porque lãs sensaciones dolorosas no existen pó sí ni em si. Este segundo tipo de piedad implica aún um tipo de avidya (desconocimiento)” (Lubac, pág. 56). Por fim, a analambana karuna se refere a piedade pura, aquela que não tem um objeto. Ela ocorre não por as criaturas, não para remediar os sofrimentos, mas sim de um modo totalmente gratuito, pelo puro amor da piedade. Assim, “una virtud resulta tanto más alta cuanto más pura sea […]. [Allí entonces] habria la piedad perfecta, ideal” (idem, pág. 57).

Tanto no Budismo quanto no Cristianismo a piedade é um fator de valor universal, mas para o primeiro ela não pode ter caráter antropomórfico, sob o risco de perder importância. “Incluso aquel que se sacrificara a favor de todos lós seres, sin preferências particulares” (idem, pág. 54). Este sentido de piedade, destaca-se, se assemelha ao amor indiscriminado de Cristo, que considerava todos como parte de sua família, independente dos laços consanguíneos. À frente, São Paulo ampliaria esta visão ao estabelecer a mensagem cristã como de caráter universal e com forte ideal de justiça, não restrita a um único povo ou região, com um apelo que, num olhar mais aguçado, estende a visão cristã, lembra Lubac.

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O Budismo é uma religião não-teísta

Passado este primeiro momento, é necessário debruçar-se sobre o conceito de amor “com” e “sem” Deus. Para o Cristianismo, de acordo com Lubac, o Mandamento do amor do homem por Deus tem as mesmas bases do amor de Deus pelos homens. Amar ao próximo, então, estaria ancorado no amor a Deus, já que Ele também ama e se expressa no próximo, “porque el hombre há sido creado a imagen de Dios” (idem, pág. 54). Assim, através da imagem divina que se expande pela criação, o homem participa, com efeito, da eternidade de Deus. Desta forma, a vida eterna inclui, também, o conceito de amor ao próximo – e amar ao próximo é amar a si mesmo. “La Fe y la esperanza pasarán, para ceder su lugar a la vida y a la posesión; pero la caridade no passará nunca” (idem, pág. 55).

No Budismo, no entanto, pela falta de enfoque ontológico, toda prática caridosa e todo altruísmo levam à liberação dos desejos, e há uma negação de qualquer abordagem eternalista. A caridade e a piedade, portanto, “es uma virtud provisional. Dicho de outra forma, esa caridad forma todavia parte de ló que lós budistas llaman ‘el orden mundana’. Por médio de ella no puede definirse, em modo alguno, el ser – o el no-ser – supremo” (idem, pág. 55). Vale ressaltar que o Buda considera o amor como uma forma de redenção do coração, no entanto

este amor no toma su sentido de los esfuerzos que hace aquel que ama, a fin de reafirmar y de sostener el valor del que es amado, sino de lós esfurzos dirigidos hacia la aniquilación y supresión de la realidad y del modo de ser de aquel ama […]. (LUBAC, 2006, pág. 56)

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O Budismo, sobretudo o tantrayana, concebe a existência de deidades; na imagem, Mahakala

Sobre a questão de deidades no Budismo, ou mesmo em relação à existência de algo que transcende a realidade, numa referência teísta (obviamente, um teísmo sem traços antropomórficos), Lubac destaca a doutrina Yogacara, dentro do Budismo Mahayana (escritos e comunidades posteriores às primeiras comunidades budistas), que se divide em duas teorias. De um lado, a abordagem Yogacara diz que há budas que atraem os seres até eles, envolvendo-os até que (os seres) amadureçam ao ponto de despertar, de alcançar a budeidade.

Por otra parte, añaden que, sin esperar El cumprimiento de esa ‘maduración’, lós budas ofrecen a los seres un pregusto de la felicidad suprema, manifestándose a ellos a través de su sambhogakaya¹. Pero em realidad estas dos teorias no recuerdan em nada al Dios Cristiano dela caridade. (LUBAC, 2006, pág. 58)

A primeira teoria, de acordo com Lubac, lembra o deus da concepção aristotélica, imutável e sem amor, para o qual convergem todos os seres movidos pelo desejo (de se reconectar). No entanto, o francês lembra que na própria concepção de Asanga, um dos doutos das doutrinas budistas mahayana, a existência dos budas e de todos os outros seres (sencientes ou não) surge a partir de relações interdependentes, não havendo, portanto, um único ponto de partida, mas um conjunto destes. Desta forma, ante uma “multitud de lós seres que, sin ninguna causa (sin ningún Dios que lês impulse), van avanzando hacia la maduración completa, en todos lós lugares, de todas las formas” (idem, pág. 58). Ou seja, mesmo se se levar em conta que há uma influência dos budas sobre os seres sencientes, estes budas, por si próprios, não têm existência separada. São aspectos da budeidade impessoal e insubstancial que absorve a todos em um único dharmakaya².

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A segunda teoria, de acordo com Lubac, evoca a divindade contida na filosofia spinozana, para quem Deus é tido como único motivo da existência de tudo o que existe. Desta forma, Deus é substância única, sendo que nenhuma outra realidade pode existir fora d’Ele, e a partir d’Ele surgem todos os outros elementos. Assim, a essência de Deus implica a sua própria existência. Desta forma, em Lubac

En la raiz de la caridad ha de haber necesariamente independencia. Si los budas no se contentan com su dharmakaya, en el cual están unificados, si se manifiestan a los bodisatvas por mediación de sus sambhogakaya, esto significa que están interesados en ello. (LUBAC, 2006, pág. 59)

Passada esta observação inicial, sobre algumas das características principais da cristandade, que é o amor ilimitado a Deus, ao próximo (como expressão de Deus) e a si mesmo (dentro de certos limites, para evitar cair na armadilha da autopistis e respeitando a centelha divina que há em cada criatura), Lubac lembra que a concepção budista para “amor” se assemelha ao “amor ao próximo” dos cristãos. Para tanto, cita outro douto das doutrinas budistas, Shantideva³, que defendia que todos os seres são semelhantes aos budas, na medida em que possuem uma parcela das virtudes de um Buda. “Esta parcela insigne está presente em las criaturas; en virtud de esta presencia, las criaturas deben ser honradas” (idem, pág. 59).

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Superando mal-entendidos

Lubac diz que, depois de destrinchar a conceituação do amor, própria do Cristianismo, e procurando estabelecer os pontos de contato com o Budismo, há alguns aspectos defendidos por vários historiadores que merecem especial atenção. O francês lembra que no decorrer dos últimos 200 anos

no resulta em modo alguno sorprendente que los historiadores hayan descubierto que muchos textos cristianos se relacionan com otros budistas, a medida que estos han sido más conocidos. A veces se han sugerido acercamientos sorpredentes, que parecen obligarnos a plantear la hipótesis de que existen lazos reales entre las dos religiones. (LUBAC, 2006, pág. 105)

Os principais pontos que marcam as aproximações são calcados em algumas indagações importantes, como a necessidade de supor ter existido uma relação histórica entre as duas concepções – através do elo comum entre elas, o helenismo4 –, além do pressuposto de que o lastro doutrinário comum pode ter sido decorrente de um movimento do espírito humano que se pulverizou por todo o planeta, mais ou menos num mesmo período, numa série de processos análogos. Além disso, é questionado se no atual momento de conhecimento advindo de pesquisas de toda ordem, as relações entre a Índia e o Mediterrâneo atingiram tal estágio de influência mútua. “Si hubiera que admitir una influencia, habría que perguntarse todavía en qué sentido se ha dado” (idem, pág. 106).

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Budismo e Cristianismo provavelmente se cruzaram no antigo mundo helênico

Lubac (2006) lembra que a Europa tem pressa para compreender este processo, sobretudo porque o que se entende por Ocidente, na realidade, começa no Irã, região que abrigou um entreposto de diferentes tradições, que acabaria por resultar nas grandes religiões que sobreviveram até a contemporaneidade. Além disso, há ressonâncias neoplatônicas (assim como houve no Cristianismo) nos escritos de Asanga5, grande influente da doutrina budista. Outro detalhe é a presença da cosmologia helenista na Índia através dos mistérios de Mitra6, sendo que movimentos como o Amidismo7 budista do extremo oriente pode ter sofrido alguma influência desta abordagem (assim como alguns historiadores também atribuem essa mesma influência sob o Cristianismo). A grande questão levantada por Lubac é saber se foi o helenismo quem influenciou o Budismo ou vice-versa, ou ainda se houve uma influência recíproca entre estas tradições.

Especificamente sobre a possível influência hindu na formação do pensamento neo-platônico, Lubac prefere não entrar nesta seara, pois a existência de uma colônia budista em Alexandria é algo que, até o momento, ainda não se conseguiu provar totalmente. O que se sabe, a partir da análise dos escritos da época, é que os alexandrinos tiveram um conhecimento menos deturpado dos temas budistas, em relação às outras regiões pertencentes ao antigo Império Romano, o que sugere que aquela sociedade, de alguma forma, teve um contato mais próximo com o Dharma de Buda.

Lubac (2006) diz que são legítimos os estudos e comparações dos escritos de Orígenes8 de Alexandria que geraram estreitas aproximações tanto com o conceito de “manifestação de Deus em Fílon9” quanto com a exegese mais universalmente aceita do sutra budista Parinibbana-sutta. De acordo com Lubac, a ideia de Orígenes de universalidade na redenção de Cristo, além da eficácia sem limites do sangue derramado na cruz e, por fim, uma visão particular em relação os diferentes estados do Logos, aproxima-se sobremaneira da visão budista dos corpos de Buda, mas que de maneira alguma as duas versões podem ser consideradas idênticas.

Em Orígenes um dos pontos analisados é o de que o Logos assume diversos estados (corpos) – inclusive a forma angelical – para não apenas dirigir-se aos homens, mas a todas as criaturas. Para reforçar este aspecto, Lubac cita um dos comentários de Orígenes aos escritos de São Mateus:

Si tú puedes contemplar al Logos que ha vuelto a su primer estado, después que se há hecho carne y después que se ha hecho todos los tipos de cosas para los hombres, habiéndose hecho para ellos aquello de ló que cada uno de ellos tenía necesidad, a fin de ganarlos a todos; si tú puedes contemplarle después que ha vuelto a esse estado em El que él era em el principio junto a Dios… etc. (LUBAC, 2006, pág. 110)

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Haveria uma analogia, de acordo com Lubac, entre este escrito – só para citar um deles -, e o pano de fundo tanto do gnosticismo quanto do Budismo. O francês diz que os textos oferecem uma ideia comum que aponta para uma “economia” nas manifestações divinas, “economia” que os budistas aplicaram, por sua parte, às manifestações de Buda. Assim, “Cristo es ángel entre los ángeles, como Buda es Bodisatva entre los bodisatvas y dios entre los dioses” (idem, pág. 115). No entanto, mais a fundo, alerta Lubac, existem diferenças entre a encarnação do Logus cristão com o conceito de nirmanakaya (corpo de aparência – físico – dos seres puros) presente no Parinibbana-sutta. Da mesma forma, a transfiguração de Cristo, que é comparada ao sambhogakaya, pode ter aproximações apenas sob um aspecto, o da sutileza envolvida no processo, que transcende a expectativa do que se espera de uma manifestação física. No entanto, a insubstancialidade do sambhogakaya se opõe ao idealismo contigo na concepção cristã, lembra Lubac.

 

Naturalização e desnaturalização

Por fim, Lubac (2006) diz que não se pode negar que budistas e cristãos encontraram elementos comuns para a elaboração de seus símbolos. E estas semelhanças ocorrem no campo da linguagem, do discurso e das sucessivas tentativas de aproximação, e talvez a mais sólida destas aproximações é a herança genealogicamente semelhante (estruturalmente falando), em que ambos partem de arcabouços doutrinários muito antigos – no caso do Budismo, uma continuação dos Vedas, no caso do Cristianismo, uma “atualização” do Antigo Testamento – que, em certo sentido, representaram rupturas. Mas as aproximações ocorreriam apenas em análises simbólicas desta ordem, e não nos detalhes doutrinais. Ou seja, enquanto que para os budistas a espiritualidade se recobre de colorações espirituais naturistas, “todo ensayo de interpretaión naturista sería, en su caso, totalmente desnaturalizador” para o Cristianismo (idem, pág. 90). O homem, portanto, na sua tentativa de reconexão com o Sagrado, aponta para um caminho de transcendência. Mais do que isso, no Budismo a salvação vem do conhecimento que o homem descobre por si próprio, com auto-poder e, desta forma, tem a capacidade mental e emocional para cessar os aparecimentos futuros (encarnações futuras). No Cristianismo, no entanto, a “árvore do conhecimento” brota de Deus, é a árvore da vida eterna, da fonte de toda a vida, expressa pelos sacramentos da igreja.

Desta forma, Lubac (2006) parece querer apresentar um antídoto para toda tentativa de generalizações apressadas entre as aproximações das duas tradições ora estudadas. No coração de ambas as religiões, em que pese uma semelhança simbólica – de caráter histórico -, doutrinariamente há diferenças no sentido de caridade/compaixão e na abordagem que defende igualdade entre a transfiguração de Cristo e o conceito dos corpos de Buda.

Já Frank Usarski (2009) aponta um problema central, a questão de Deus, como um dos fatores preponderantes que diferenciam as doutrinas cristã e budista. Uma vez que o Budismo rejeita a ideia de que há um Deus a partir do qual todo o restante surge – ele defende a gênese condicionada12 -, a investigação começa a partir do suposto problema da teologia cristã que detém

um modelo que pretende explicar a existência do cosmo físico ou das forças nele existentes, [e ainda assim] precisa recorrer a uma concepção teísta. Também escapa à lógica budista a necessidade de postular uma “causa primeira” da qual dependem todos os demais aspectos da existência. (USARSKI, 2009, pág. 254)

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Além disso, destaca Usarski (idem), pela interpretação geral cristã, Deus é criador e senhor de um universo produzido ex nihilo (a partir do nada). Há, portanto, uma visão dualista do mundo, sendo o conceito de Deus totalmente transcendente e “completamente outro” em relação à criação.

O fato de a Bíblia atribuir a Deus o poder de interferir nesse mundo não muda a ideia de separação da existência em duas esferas, uma vez que as intervenções divinas que culminaram com a encarnação de Deus em Jesus Cristo são de caráter escatológico e não ontológico – elas, portanto, não questionam o dualismo cosmológico. (USARSKI, 2009, pág. 254)

Este tipo de abordagem é visto com reservas pelo Budismo de forma geral, e pelo Theravada13 em particular. Isso porque o Buda estaria essencialmente interessado na concepção psicológico-antrológica da existência, e as eventuais “consequências soteriológicas”. No entanto, sempre que questionado sobre assuntos de ordem metafísica, dava de ombros ou ficava em silêncio, ou ainda dizia claramente que considerava tais discussões inócuas, irrelevantes. No entanto, essa posição – de negação dos aspectos ontológicos no Budismo – não demorou muito tempo. O próprio surgimento do movimento mahayana é, segundo Usarski, uma resposta a esta questão. Isso teria ficado claro quando os budistas apresentaram a o conceito dos três corpos do Buda (ou Trikaya). Sobre este tema e a tentativa de aproximá-lo a alguns dogmas cristãos, Masao Abe – um dos principais expoentes da escola de Kyoto – dedicou boa parte da sua vida.

Se, por um lado, isso foi encarado como algo bem-sucedido do ponto de vista budista, por outro Abe a seus colegas foram acusados de tentar reformular a ideia de um Deus monoteísta a partir das categorias mahayanistas, em detrimento da autenticidade dos ensinamentos cristãos centrais. […] A doutrina dos três corpos é uma teoria budológica, segundo a qual a última realidade não-substancial e impessoal (dharmakaya) se manifesta em dois planos “concretos”. Esses dois planos correspondem aos Budas sutis, com seus corpos de glória (samboghakaya), e ao Buda histórico, cuja forma corporal “grosseira” é denominada de nirmanakaya. […] Nesse sentido, o plano de nirmanakaya é associado a Cristo, enquanto o Deus monoteísta cristão é colocado em analogia ao plano de samboghakaya. (USARSKI, 2009, pág. 255)

Usarski (2009) lembra que a primeira grande dificuldade desta abordagem – como já se viu em Lubac – é que para um budista esta analogia pode soar de forma não-problemática, mas “corre o risco de ser classificado, do ponto de vista cristão, como uma espécie de blasfêmia” (Idem, pág. 257). Além disso, segundo Usarski, a teoria de Abe revelou que a Teologia cristã até então não tinha sido pensada até as últimas consequências.

De acordo com uma leitura mais construtiva da obra de Abe, pode-se dizer que o filósofo da escola de Kyoto tentou melhorar a imagem teologicamente deficitária do Cristianismo. Para esse fim, praticamente realizou concessões teológicas a ambos os lados, sugerindo que tanto a concepção mahayanista, impessoal-monista da vacuidade (sunyata) quanto a ideia cristã refletem as respectivas construções básicas da outra religião. (USARSKI, 2009, pág. 257)

Por fim, sunyata é praticamente apresentada por Abe como uma espécie de “causa primeira” que se esvazia constantemente, num frenético movimento dialético em que a existência passa a oscilar entre dois estados (o vazio gerado pelo próprio vazio). “Com isso, a concepção monista-ontológica da unidade de samsara14 e nirvana torna-se um ‘princípio da criação’” (idem, pág. 258). Desta forma, a partir das contribuições de Abe, há uma aproximação tangível entre a teologia budista e a cristã.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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MIKLOS, Cláudio. Palestra realizada em Seshin na cidade de Goiânia – Goiás. Maio de 2015.

 

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Não seja bonzinho, seja real – como equilibrar a paixão por si com a compaixão pelos outros

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“A força é a substituta universal da verdade.
A necessidade de controlar os outros se origina da falta de poder,
assim como a vaidade provém da falta de autoestima.
A punição é uma forma de violência, uma substituta ineficaz do poder.”

Kelly Bryson

Quantas vezes ao dia se colocam as máscaras de simpatia, bondade e solidariedade para com os outros, quando lá no fundo, na verdade, a pessoa queria estar fazendo o contrário? Por que é mais fácil falar um “sim” a contragosto do que um “não” espontâneo? Sem contar as várias situações onde se é “pressionado” a ceder continuamente – no emprego, com o chefe, no lazer, com os amigos e em casa, com a família.  E aqui se podem enumerar vários exemplos, dos aparentemente inofensivos, como quando a amiga, que está um pouco acima do peso, pergunta se está gordinha e o interlocutor, não querendo perder a amizade, diz que ela está ótima, até às mais drásticas, quando o relacionamento termina e uma das partes não sabe onde errou porque sempre fez ‘tudo certo’. Com certeza as situações citadas são familiares em algum grau para qualquer pessoa; no entanto, as diversas formas de se encarar estas situações é que faz toda a diferença. E, geralmente, os estragos que uma palavra mal dita causa, podem ser contornadas com mudanças de atitudes sutis que traz um grande diferencial para todos. Esta é a proposta do livro “Não Seja Bonzinho, Seja Real – Como equilibrar a paixão por si com a compaixão pelos outros”, do terapeuta americano Kelly Bryson.

Mais do que um “livro de receitas” comportamentais e longe de ser um daqueles monólogos de autoajuda, Kelly Bryson traça detalhadamente um perfil que não é somente fácil de verificar em várias pessoas próximas como também é visível na nossa personalidade. Em uma de suas listas de identificação, o leitor poderá descobrir se está seguindo os passos para o Autossacrifício (ou, como ele diz ironicamente, como tornar-se um capacho) enumerando, entre outras características, as seguintes:

1.    Ouve mais do que gostaria;

2.    Faz o possível para evitar que os outros pirem;

3.    Trabalha para ganhar a vida em vez de tentar descobrir como divertir-se trabalhando.

É claro que o intuito disso tudo não é demonstrar os malefícios da bondade, e sim os efeitos que ela traz quando não mensurada conscientemente aos limites de cada indivíduo. Se as pessoas são sempre solícitas, talvez, o que move as suas ações não seja a vontade de ajudar, independente de recompensas e agradecimentos, e sim o medo inconsciente de magoar o outro e suas expectativas. Para o terapeuta, em um curto prazo essa desonestidade com os próprios anseios pode levar o indivíduo a descontar sua frustração em outras pessoas (que muitas vezes nem estão relacionadas com o problema) e a longo prazo pode consciente ou inconscientemente escolher outra opção mais destrutiva: o próprio corpo – através de vícios ou doenças.

Tudo começa na infância

Quando uma criança faz uma boa ação, como realizar as tarefas da escola ou lavar o carro no final de semana, naturalmente os pais podem recompensá-lo por sua boa vontade, porém, quando o inverso acontece ninguém vai reprimir o pai ou a mãe de castigar essa criança travessa. Jean Piaget já afirmava que “a punição torna impossível a autonomia da consciência”, e segundo Alfie Kohn, autor do livro Beyond Discipline: From Compliance to Community (Além da Disciplina: da Complacência à comunidade) os efeitos repercutem na idade adulta “destruindo qualquer relacionamento respeitoso e amoroso entre o adulto e a criança e retardam o processo do desenvolvimento ético”.  E a sedução por recompensa também não é uma atitude louvável, principalmente se a criança começa a barganhar seus deveres morais e éticos por prêmios. Em uma interessante analogia, Kelly Bryson diz que castigos e recompensas são como beber água salgada, “dá um alívio a curto prazo, mas a longo prazo piora tudo.”

O livro “Não Seja Bonzinho” aborda outro paradigma na estruturação da personalidade na infância: o uso do poder dos pais para exigir determinados comportamentos dos seus filhos. O oposto do amor não é o ódio, mas o medo, e o respeito pela autoridade advém do medo das consequências por não cumprir as regras, quando o que deveria ser cultivado era o respeito verdadeiro advindo de uma natural ‘reverência amorosa’, ou seja, a bondade inerente da personalidade do individuo, sem afetações externas.

A Comunicação Não Violenta

A cada capítulo, Bryson inquire o leitor sobre os seus comportamentos guiando-o para o papel de observador. Ao distanciar-se das ações como sujeito, tornando-se objeto de análise, fica mais fácil reconhecer vários modelos de ações e reações em sua grande maioria automáticas, para não dizer irracionais. Um dos primeiros passos para sair do estado de “vitimização” é reconhecer que o sofrimento não é causado pelo outro, mas pelas carências pessoais não supridas. Segundo o terapeuta, a técnica de Comunicação Não Violenta (CNV) seria uma das formas do indivíduo respeitar o espaço do outro sem que este invada o seu espaço.

Segundo o autor, “é melhor primeiro ter compaixão e amor apaixonados por mim e depois tenho compaixão e amor apaixonados quando os outros piram”. Em sua análise, ceder às vontades e desejos do outro é uma forma de violência que anula e oprime, levando muitas vezes ao ódio.

“Nessa cultura educada, o consentimento fingido permeia todas as áreas da vida. Há pessoas que dizem que irão a um compromisso, mas não aparecem, fazem promessas e depois as quebram e fingem ouvir, mas mentalmente estão em outro lugar.”

Para que a CNV ocorra de maneira natural é necessário duas características essenciais: presença e assertividade. Assim, da próxima vez que aquela amiga lhe perguntar sobre o peso dela, você não precisa mentir, dizendo que ela está ótima ou ser maldoso e chamá-la de gorda. Olhe para ela e diga o quanto gosta dela e que você está preocupado com sua saúde. Mostre empatia com sinceridade e não simpatia por dever. “Não Seja Bonzinho, Seja Real” demonstra que entre a guerra dos extremos do cotidiano, às vezes, é melhor pegar o caminho do meio.

 

FICHA TÉCNICA DO LIVRO

NÃO SEJA BONZINHO, SEJA REAL –
COMO EQUILIBRAR A PAIXÃO POR SI COM A COMPAIXÃO PELOS OUTROS

Título original: Don’t be Nice, be Real – Balancing Passion for Self with Compassion for Others

Autor: Kelly Bryson
Tradução: Soraya Freitas
Editora: Madras
Ano: 2009

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A arte de perdoar

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O perdão como fonte de sabedoria, humildade e grandeza, é o resultado do tema trabalhado pelo autor Maurício Zágari: Perdão Total – Um livro para quem não se perdoa e para quem não consegue perdoar – Editora Mundo Cristão, 192 páginas.

O livro trata que, além do desgaste espiritual, a falta de perdão pode acarretar até mesmo prejuízos à saúde física. Segundo uma pesquisa feita pela Universidade da Califórnia, em San Diego, pessoas que deixam a raiva de lado são menos propensas a sofrer mudanças na pressão arterial. A pesquisa publicada no Journal of Biobehavioural Medicines sugeriu que o perdão poderia ter menor reatividade a eventos estressantes e menos impacto físico.

O tema perdão é tão debatido, mesmo assim, até hoje é alvo de negação por grande parte da humanidade. Ao longo do livro, o autor fala sobre a dificuldade do ser humano, não apenas de perdoar ao próximo, mas de perdoar a si mesmo. Zágari analisa ainda, casos de pessoas que se arrependeram do erro, mas ainda se sentem perseguidas pelas falhas do passado. E ainda anima quem acha que cometeu algum erro que não pode ser perdoado por alguém.

Maurício Zágari. Foto: Acervo Pessoal

O (En)Cena, entrevistou o autor Maurício Zágari, jornalista e teólogo. Ele recebeu os Prêmios Areté de “Autor Revelação do Ano” e de “Melhor Livro de Ficção/Romance” pelo livro O Enigma da Bíblia de Gutemberg. É autor também dos livros A Verdadeira Vitória do Cristão, 7 Enigmas e um Tesouro e O Mistério de Cruz das Almas, pela Editora Mundo Cristão. Escreve regularmente no blog Apenas (http://apenas1.wordpress.com). Membro da Igreja Cristã Nova Vida em Copacabana-Rio de Janeiro, RJ.

En(Cena) – Por que o senhor resolveu escrever sobre o perdão?

Maurício Zágari – O livro surgiu da percepção de que as pessoas têm vivido muito pouco o perdão. E isso ocorre justamente pela carência de conhecimento sobre o que a falta de perdão pode gerar de mal e do que o perdão pode gerar de bom. A falta de perdão é um câncer, que corrói a alma, as emoções e influencia até a saúde física. Porém, as pessoas não estão se dando conta disso. Diante desse quadro, “Perdão Total” nasceu com o objetivo de tentar conduzir o leitor a entender a dinâmica bíblica de erro-perdão-restauração, mostrando os males da falta de perdão e expondo que perdoar é um caminho para viver uma vida feliz, pacífica, alegre e graciosa.

En(Cena) – Os fundamentos do perdão encontram-se somente na Bíblia ou outros escritos de civilizações mais antigas pregam o perdão?

Maurício Zágari – O perdão como é concebido pelo cristianismo não encontra paralelo em nenhuma outra civilização, que é o conceito de “perdoar setenta vezes sete”, ou seja,  infinitamente, segundo a cultura da época. Mesmo entre o povo hebreu, de onde veio o fundador do cristianismo, Jesus, o conceito de perdão era diferente, com base na lei mosaica registrada na Torá. No judaísmo de 1.500 antes de Cristo exigia-se sacrifícios e atitudes propiciatórias. O cristianismo é a única visão filosófico-religiosa da história que considera um perdão concedido não por mérito próprio, mas como fruto da ação graciosa do ente divino, isto é, entregue como um presente imerecido, uma dádiva.

En(Cena) – A falta do perdão sendo até prejudicial a saúde, de que forma isso pode afetar, e que área da saúde o ser humano pode sofrer prejuízos?

Maurício Zágari – Não perdoar quem nos fez mal gera ressentimento. Não perdoar a si mesmo gera culpa. Ressentimento e culpa promovem um estado emocional sobrecarregado, propício para o desenvolvimento de doenças psicossomáticas. É fácil imaginar que uma pessoa sobrecarregada, por exemplo, pela culpa possa ter crises de ansiedade e até picos de pressão alta gerados por seu estado emocional.

En(Cena) – Precisa-se perdoar diversas vezes com a intenção de aprender a perdoar ou o perdão não é considerado treinamento?

Maurício Zágari – Embora o conceito de perdão possa ser ensinado a uma criança (como quando ensinamos nossos filhos a desculpar o coleguinha que o mordeu na creche), a prática certamente torna mais fácil. Ou seja: a decisão de perdoar nos ensina de modo pragmático o caminho das pedras para perdoar novamente em um evento futuro.

En(Cena) – Quando uma pessoa perdoa o próximo e não consegue se aproximar do perdoado como antes, isso é um perdão consumado?

Maurício Zágari – Sim. Há um duplo aspecto do perdão: o interior e o exterior. Se um assassino mata um parente meu, posso perdoá-lo em meu coração, isto é, cancelando uma dívida pessoal dele comigo, mas isso não eximirá o homicida de cumprir pena como consequência pragmática e externa de seus atos. Outro exemplo: se um vizinho molesta sexualmente uma criança da minha família, posso perdoá-lo, mas não quer dizer que vou voltar a deixá-lo trancado em um quarto novamente com a criança.

En(Cena) – O perdão deve ser dirigido pessoalmente ou pode ser somente em oração espiritual?

Maurício Zágari – Pode ser a partir de uma mera disposição interior, sem que seja necessário um contato pessoal. Há casos em que, por exemplo, é preciso perdoar uma pessoa que já morreu. O ofendido pode perdoar em seu coração a ofensa sofrida, mas não tem como fazê-lo pessoalmente, por motivos óbvios. É válido, pois perdoar faz muito bem a quem perdoa.

En(Cena) – O que é primordial para uma sociedade viver em harmonia, amar ou perdoar ao próximo?

Maurício Zágari – Amor verdadeiro pressupõe a capacidade de perdoar. Assim, esses dois conceitos são indissociáveis. A sociedade harmônica pressupõe um amor que se exprime, entre outras maneiras, no perdão.

Maurício Zágari. Foto: Acervo Pessoal

En(Cena) – A pessoa que não aceita perdoar, pode prejudicar o arrependido?

Maurício Zágari – Faz bem ouvir de alguém que ofendemos que ele nos perdoa. Mas, se pedimos perdão e não o recebemos, fizemos nossa parte. Nesse caso, não há prejuízo, se existe esse entendimento.

En(Cena) – Essa dificuldade de perdoar, é uma característica secular do ser humano, existe uma explicação espiritual?

Maurício Zágari – Se você considera o conceito da religião judaico-cristã, entende-se que a falta de disposição de perdoar vem da maldade que entrou na humanidade desde sua origem. Em termos teológicos, é culpa do pecado inerente a todos nós.

En(Cena) – Qual a história de perdão que o senhor mais se emocionou?

Maurício Zágari – Quando eu fui perdoado por uma pessoa muito querida por ter errado com ela. Ofendi essa pessoa e ela me perdoou. Então sei pessoalmente o que isso significa.

En(Cena) – Que mensagem o senhor passaria para o leitor que encontra-se em dificuldade para o perdão?

Maurício Zágari – Pense em quanto você é imperfeito e erra. Traga à memória quantas pessoas você mesmo já ofendeu. Se fizer esse exercício, perceberá que ninguém é melhor do que ninguém e que você não perdoar é assumir uma postura de soberba que não vai levá-lo a lugar algum. Já se perdoar estará sendo magnânimo e, portanto, um ser humano melhor.

 

FICHA TÉCNICA DO LIVRO

PERDÃO TOTAL

Editora Mundo Cristão
Autor:
 Maurício Zagari
ISBN: 978-85-433-0036-8
Páginas: 192

Preço: R$ 19,90?

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Ensaio de um dia (in)feliz

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Há todo momento estamos nos reinventando.

A cada segundo uma nova descoberta, repleta de novas verdades.

E no mesmo instante em que são descobertas, as respostas deixam de ter seu valor.

O limite espaço temporal se tornou obsoleto.

É que estamos cada vez mais próximos, mais juntos, e sempre conectados.

As relações se tornaram superficiais.

As emoções só são expressas por meio de citações no facebook.

E quando isso termina?

Onde vamos parar?

Mais importante do que ter as perguntas, e saber das respostas.

É o Bang do Big! O mundo em eterna expansão… Até chegar o Big Crunch1.

Parafraseando Sócrates: A grande certeza, é que não há certezas.

Agora imagine o contrário de tudo isso?

Saia da sua caixinha por um instante. Pare a leitura, feche os olhos, e por cinco segundos, imagine o nada!

Se você é como eu, não deve ter feito. Mas se não é como eu (afinal, há aqueles que são diferentes) e fechou os olhos para imaginar a não cena, não conseguiu nada além de ouvir seus próprios pensamentos.

Eu fico imaginando uma liberdade2, para longe de tudo isso…
Imagine um cenário diferente.

Não, o mundo não seria tão louco quanto você pensa, talvez ainda tivéssemos carroças circulando pelas ruas, chaleiras em cada casa, e mesmo assim, possivelmente ainda persistiria alguma desigualdade social. Nada nunca é perfeito. E até pode ser um retrocesso, mas gosto de pensar que: talvez, apenas talvez, ainda seriamos mais humanos.

Pensar uma ética da cumplicidade, da complexidade e da (com)paixão é deixar-se mover por uma estética do pensamento que abre mão dos limites confortáveis da ciência – reino último da palavra, para lançar-se na errância da criação, outra forma de dizer da condição humana. A obsessão pela predição e controle, que encarcerou as ideias de homem e de mundo em conceitos contaminados pela racionalidade fechada, abre-se a uma nova e bem vinda obsessão: a compreensão poética das coisas. (CARVALHO et. al.,1998, p.20).

Um tantinho de humanidade que seja já basta, e faz muita diferença.
As pessoas pregam o respeito à diferença, a tolerância, mas se esquecem do essencial: aquilo que um dia nos diferenciou dos demais animais – nossa humanidade.

Imerso em minha loucura – Acredite! Cada uma tem a sua – Imerso em minha loucura eu gosto de reinventar o dia, talvez seja um delírio, utopia, ou quem sabe não. Mesmo assim, eu tento reinventar o dia, a cada dia.

Começo do nada, como penso que o foi o começo das coisas: Do Nada. Um grande espaço branco, como o da Matrix3. É assim todo dia: um grande fundo branco; então algumas cores; aumento o volume; e o dia nasce sem música. De fundo: talvez o som de algum carro passando na rua, ou do vizinho abrindo o portão da garagem. De paisagem: algumas janelas fechadas, a cor gélida dos muros, as mobilhas da casa e mais nada.

Não parece grande coisa, eu sei, mas é um começo.

E sem grandes pretensões, pego o notebook (nem lembro a ultima vez que precisei de uma caneta, ou consultar um dicionário para escrever) e digito o que penso ser um insight, ou vários em um mesmo texto. Na esperança de que sejam estas, de algum modo, varias das respostas às questões que possivelmente irão surgir.

Notas:

1. O Big Crunch, ou em português, o Grande Colapso, é uma teoria segundo a qual o universo começará no futuro a contrair-se, devido à atração gravitacional, até entrar em colapso sobre si mesmo. Essa teoria suscita um mistério ainda maior de se analisar do que o Big Bang.

2. Ainda assim a liberdade, tal qual como ela é idealizada, não existiria.

3. A trilogia Matrix (1999) é uma produção cinematográfica Warner Bros. Dirigido pelos irmãos Wachowski e protagonizado por Keanu Reeves e Laurence Fishburne.

Referências:

CARVALHO, Edgard de A. et al.  Ética, Solidariedade e Complexidade. 1.ed. São Paulo – SP: Palas Athena, 1998.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Big_Crunch
http://www.sofisica.com.br/conteudos/Termologia/Entropia/entropia.php
http://pt.scribd.com/doc/22744318/Analise-do-filme-The-Matrix

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Em que momento nos tornamos tão insensíveis à dor do outro?

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Hoje pela manhã, chegando ao trabalho, passei por um acidente de trânsito. Um carro atravessado na avenida, uma moto caída e um corpo que jazia sob um lençol branco. Cheguei para trabalhar tenso, preocupado (“será alguém conhecido?”), curioso, sim, sobre como se dera o acidente e também muito pensativo: quem era aquela pessoa? como estaria sua família? teria deixado filhos em casa? ou pais que chorariam a morte de um filho que partira cedo demais? teria essa pessoa sentido a morte se aproximar? sofrera, chorara, antes de morrer?

Fiquei meio que inundado destes sentimentos. Breve, muito rapidamente, vi pela internet detalhes sobre o acidente. Soube que era uma jovem de vinte e cinco anos e mais alguns detalhes de como tudo aconteceu. E já foi o suficiente para ficar mais e mais incomodado pensando em sua família, seus pais, seus irmãos, enfim, quem ficou e que por ela irá sofrer.

Logo apareceu, em um site de notícias, uma imagem do seu corpo no chão, ainda sem o lençol que a cobriria logo depois, que mostrava claramente as marcas da tragédia. Sangue e a brutalidade do acontecido estavam ali, para quem quisesse ver. Logo apareceu ali no Facebook a imagem original da qual o site de apoderara.

A partir dali aquela pessoa e sua tragédia, bem como a tristeza de toda a sua família, se transformou em uma imagem que parecia merecedora de ser curtida, compartilhada, comentada. E assim o foi. Em poucos minutos foram mais de duzentos compartilhamentos, um sem número de curtidas e centenas de comentários que iam se avolumando, tanto em quantidade quanto em insensibilidade à dor do outro.

Aos comentários que buscavam oferecer algum consolo (como se uma mãe ou um pai, em sua dor, fossem olhar cada foto de sua filha morta no chão para ler o que haviam escrito sobre ela buscando obter alguma forma de conforto) se misturavam centenas de outros que, detentores do saber, atribuíam a responsabilidade pelo acontecido ora à jovem, ora ao motorista do outro veículo. Como se já não bastasse a dor de quem perdeu um parente e o sentimento de culpa que, independente do que aconteceu, já devia pesar sobre a cabeça do outro motorista.

Palavras como “cabeça estourada”, “muita imprudência”, “que tragédia”, “esse infeliz tá solto e vivo”. Alguns poucos entenderam que a crueldade não estava somente no acidente em si, mas na insensibilidade de quem compartilhava uma imagem tão triste: “Isso não é foto de postar no face. Imagina a família dela vendo isso”; “lamentável……mas a foto é muito forte para os parentes e amigos”.

Em que momento a ânsia de sermos divulgadores de uma imagem tão brutal, nos impede de pensar que do outro lado pode estar um parente, um amigo, enfim, alguém muito próximo que acabará tendo sua dor ampliada pela nossa insensibilidade?

Em que momento não conseguimos nos colocar no lugar do outro para imaginar o quanto nos seria dolorido ver nosso filho, nosso irmão, nosso amigo, em uma imagem terrível e brutal compartilhada por pessoas a quem esta dor, na maioria das vezes, nem diz respeito?

É! Em que momento nos tornamos tão insensíveis à dor do outro?

Nota:

Texto escrito no dia 16 de outubro, quando imagens fortes de um acidente em Palmas, Tocantins, tomaram conta da rede social Facebook e de alguns portais de notícia. Após a grande repercussão da indignação das pessoas com essa atitude as imagens foram removidas dos sites de notícias e de vários perfis da rede social. O autor julgou o tema pertinente para ser registrado no (En)Cena.

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