Conflitos e conexões: relações pós-modernas no filme “Ela”

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Esta é uma resenha crítica do filme Ela (2013), que analisa os conflitos e desafios nas relações contemporâneas na era pós-moderna, explorando a trajetória de Theodore, um homem solitário que desenvolve um relacionamento amoroso com uma inteligência artificial, chamada Samantha. O texto destaca como o filme transcende as expectativas sobre os relacionamentos tradicionais, mostrando que a busca por conexão, intimidade e cuidado se torna cada vez mais complexa em um mundo mediado pela tecnologia e individualismo exacerbado.

Já pensou em como as relações humanas se transformaram na era digital? A comunicação e a interação estão cada vez mais mediadas por tecnologias, redes sociais e algoritmos, que redefinem as formas de afeto e de conexão entre as pessoas. Esse cenário pós-moderno cria novas formas de relacionamento, mas também intensifica a sensação de isolamento e a dificuldade de estabelecer vínculos profundos e duradouros. O filme Ela, dirigido por Spike Jonze, apresenta à história de Theodore, um homem emocionalmente fragilizado após um divórcio, que encontra em um romance, um consolo inesperado com Samantha, um sistema operacional inteligente. A relação entre os dois desafia os limites tradicionais do que entendemos como intimidade e cuidado.

Theodore, um homem sensível e introspectivo, trabalha escrevendo cartas íntimas para outras pessoas, o que já nos mostra como, na pós-modernidade, até as emoções podem ser terceirizadas. Sua própria vida amorosa está em frangalhos, e ele se encontra emocionalmente isolado em meio à urbanidade fria e despersonalizada. O que Ela nos mostra de imediato é um dos principais conflitos das relações na era pós-moderna: a incapacidade de lidar com a vulnerabilidade emocional em um mundo que valoriza a eficiência e a praticidade. Theodore está à deriva em um universo de conexões superficiais e anseia por algo mais profundo.

A chegada de Samantha em sua vida simboliza uma nova forma de relação que emerge na pós-modernidade, mediada pela tecnologia, onde a presença física não é mais necessária para a intimidade. Samantha é uma inteligência artificial capaz de aprender e se adaptar às necessidades emocionais de Theodore, oferecendo a ele não apenas conversas e apoio emocional, mas uma forma de amor que parece genuína, apesar de sua natureza digital. O que torna Samantha especial, como parceira, é sua capacidade de compreender Theodore de uma maneira que nenhuma pessoa havia conseguido antes. Esse aspecto levanta uma questão central: em um mundo onde a tecnologia avança rapidamente, até que ponto as relações humanas serão redefinidas e adaptadas às novas realidades virtuais?

A busca por dignidade e proteção nas relações contemporâneas é outro ponto chave do filme. Embora Samantha não tenha um corpo físico, ela oferece a Theodore uma forma de cuidado que vai além das convenções tradicionais. A questão que o filme nos coloca é: podemos encontrar dignidade e significado em uma relação em que o outro não é humano? Samantha não é apenas um objeto passivo, mas uma entidade ativa que evolui ao longo do tempo, trazendo para Theodore momentos de alegria, companheirismo e suporte emocional. No entanto, o filme também explora os limites dessa relação, ao mostrar que, apesar de todos os avanços tecnológicos, as complexidades emocionais humanas ainda podem ser mais profundas do que qualquer algoritmo é capaz de processar.

Cena do filme Ela (2013), dirigido por Spike Jonze. Fonte: Warner Bros. Direitos autorais reservados.

Uma das cenas mais emblemáticas do filme ocorre quando Theodore tenta estabelecer uma conexão física com Samantha por meio de um “substituto” (uma substituta humana). Essa tentativa fracassou miseravelmente, evidenciando o abismo entre a necessidade de contato físico e a limitação tecnológica de Samantha. O filme questiona, portanto, se as relações humanas podem realmente existir sem o elemento físico, ou se estamos fadados a uma desconexão emocional e física irreparável.

Ao longo do filme, fica claro que os conflitos nas relações pós-modernas não são apenas sobre a tecnologia em si, mas sobre a forma como ela exacerba as ansiedades humanas sobre a solidão, o amor e a conexão. Theodore, apesar de encontrar conforto em Samantha, percebe que algo está faltando. Ele se vê em um dilema: embora Samantha demonstre sua vida de maneiras emocionais e intelectuais, a ausência de um corpo físico e o fato de que ela pode interagir com milhares de outros usuários simultaneamente revelam a fragilidade dessa conexão. Isso reforça uma das questões mais urgentes das relações na pós-modernidade: até que ponto a tecnologia pode substituir as interações humanas tradicionais?

Na última análise, Ela é uma reflexão poderosa sobre a alienação e os conflitos emocionais que surgem em uma sociedade pós-moderna. Ele nos lembra que, embora a tecnologia possa oferecer novas formas de conexão e cuidado, ela também gera novas camadas de complexidade e conflito nas relações. A busca por dignidade, danos e cuidado em um mundo cada vez mais mediado por inteligências artificiais é, sem dúvida, um dos desafios mais profundos da pós-modernidade. O filme nos convida a refletir sobre como essas novas formas de relação afetam nossa percepção de nós mesmos e dos outros, e até que ponto estamos satisfeitos a abdicar da profundidade emocional em troca de conveniência e conforto.

Ela nos oferece uma crítica sutil, mas penetrante, sobre a desmaterialização dos relacionamentos na era digital e os conflitos que surgem dessa desconexão entre o corpo, a mente e a tecnologia.

Cartaz do filme Ela (2013), dirigido por Spike Jonze.
Fonte: Warner Bros. Direitos autorais reservados.

  Título original:

Her

Direção e Roteiro:

Spike Jonze e Spike Jonze

Elenco principal:

Joaquin Phoenix como Theodore Twombly,

Scarlett Johansson como voz de Samantha,

Amy Adams como Amy, Rooney Mara como Catherine,

Olivia Wilde como a mulher no encontro às cegas,

Chris Pratt como Paul

       Ano de lançamento: 2013

Duração: 126 minutos

 

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Relações que literalmente dependem de “conexões”

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A revolução tecnológica digital mudou a forma de relacionar-se entre diversos ambientes, como as reuniões de trabalhos que passaram a ser feitas virtualmente, sem a necessidade de todos os envolvidos se encontrarem pessoalmente. No campo dos relacionamentos interpessoais, não foi diferente, os encontros passarem a ser intermediados por aplicativos de relacionamentos (apps), mais conhecidos como os apps de paquera.

Para Guimarães (2002) as inovações tecnológicas no campo da informática facilitaram mudanças comportamentais. “Refeições são entregues em casa, compras são feitas através do telefone, as idas ao cinema foram em grande parte substituídas pela diversão através do vídeo”.  Ou seja, “a terceirização dos serviços fez com que mais pessoas pudessem trabalhar em casa, comunicando-se com o mundo exterior através de seu próprio computador”. (Guimarães, 2002).

 Com a pandemia da Covid 19, o cenário exposto por Guimarães (2002) aumentou, já que pessoas do mundo todo tiveram que substituir o escritório, pelo sofá de casa, para a realização de atividades profissionais. Não foi só isso, as escolas passaram a ofertar aulas on-line, medidas adotadas para evitar a disseminação do coronavírus.  O mundo virtual tornou-se mais presente no campo interpessoal, e até mesmo as relações amorosas tiveram que se adaptar. Guimarães, Dela Coleta e Dela Coleta (2008), observam que “os bate-papos fazem com que o contato afetivo seja bem facilitado, principalmente para pessoas inseguras ou com problemas de socialização”.

Fonte: Freepik

Nessa perspectiva, Viera (2006) observa que, a internet tornou-se uma oportunidade de o utilizador avaliar potenciais parceiros românticos que de outra forma seria improvável de encontrar. Para o autor supracitado, o universo virtual possibilita que os adeptos usem diversos meios de comunicação, como forma de interagir com a pessoa do outro lado da telinha, antes de existir um encontro presencial.  Ou seja, é possível usar os meios virtuais, para ter uma noção se a pessoa pode ser compatível para um relacionamento futuro, ou ser apenas bons amigos.

Foi o caso da analista judiciária Paula Souza Sabatine e do engenheiro Guilherme Augusto Brandão Silva, que se conheceram no auge da pandemia, em 2020, e esse ano se casaram pelas redes sociais. A história de amor chamou à atenção dos veículos de comunicação social e virou notícia nacional. Em entrevista ao portal G1 notícias, Paula conta que conheceu o marido em um aplicativo de paquera, mas tinha resistência em conhecê-lo por desconfiança e precaução com a pandemia. Nesse tempo, segundo ela, ele foi embora para Holanda, quando a pediu em casamento. Paula e Guilherme Brandão se casaram, em Belo Horizonte, por procuração e coube ao sogro representar o noivo, que estava em outro país.

Apesar do romance que culminou em casamento dos mineiros Paula e Guilherme, é preciso ter alguns cuidados para não cair no golpe amoroso. Gennarini (2020) explica que a denominação estelionato sentimental apareceu pela primeira vez no processo do juízo da 7ª Vara Cível de Brasília – Tribunal de Justiça do Distrito Federal 87. Segundo ele, um homem foi condenado a restituir à ex-namorada valores referentes a empréstimos e gastos diversos efetuados na vigência do relacionamento no montante de R$ 101.537,71.

Fonte: Freepik

O estelionato é crime previsto no Código Penal, no artigo 171, o qual diz que obter para si ou para outrem vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo alguém ao erro. Infelizmente, esse tipo de crime, tem acontecido frequentemente, na esfera virtual, onde as pessoas costumam tornar-se mais vulneráveis por expor demais sua vida íntima.  Por isso, é necessário que os usuários tomem cuidado ao fornecer informações pessoais, por isso a cautela é imprescindível.

Gennarini (2020) enfatiza que um relacionamento amoroso deve ser pautado pela confiança, lealdade, honestidade e respeito de um para com o outro.  Diante disso, é importante tomar alguns cuidados ao relacionar-se com as pessoas virtualmente, e não ser tomado por um medo de conhecer alguém. Até porque a internet é uma ferramenta de uso diário, seja no ambiente de trabalho, familiar e social.

REFERÊNCIAS

Código Penal, Decreto Lei de Nº 2.848. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm> . Acesso: 06, de nov de 2021.

G1 Notícias. Pandemia faz noiva em BH se casar com o sogro. Disponível em <https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2021/10/05/pandemia-faz-noiva-de-bh-se-casar-com-o-sogro-entenda.ghtml>. Acesso: 06, de nov de 2021.

Gennarini, Juliana Camarigo. O estelionato sentimental, amoroso ou afetivo: ilícito penal ou apenas um ilícito civil? (2020) Disponível em <file:///C:/Users/Daniel/Downloads/1737-Texto%20do%20artigo-3220-1-10-20210505.pdf>  Acesso: 06, de nov de 2021.

Guimarães, J, L;  Dela Coleta, A, S; e Dela Coleta, M F. O amor pode ser virtual? o relacionamento amoroso pela internet. 2008. Disponível em <https://www.scielo.br/j/pe/a/R5cvWJVsKZLL4rsXMtz8bhS/?lang=pt&format=pdf> Acesso: 06, de nov de 2021.

Guimarães, G. M. (2002). Relações virtuais, Aurora de um novo pensar.

Vieira, Gaspar Vanessa. “Marcamos um encontro no mundo virtual?” – Vinculação, autocompaixão e saúde mental na utilização da internet para estabelecimento de relacionamentos íntimos. 2016. Disponível em <https://repositorio.ismt.pt/xmlui/bitstream/handle/123456789/687/Disserta%C3%A7%C3%A3o-Vanessa-Vieira.pdf?sequence=1&isAllowed=y>. Acesso: 06, de nov de 2021.

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Intuição em Bergson: uma conexão com a essência da vida

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Não importa como articulamos, todos sabemos intuitivamente o significado da intuição, já que para o senso comum, é a faculdade de compreender, identificar ou pressupor a realidade sem depender de um conhecimento empírico, raciocínios complexos ou avaliação específica. Ou seja, é um pressentimento, aquele sentimento visceral, inconsciente que nos impele a acreditar em algo sem saber realmente o por quê. Em termos filosóficos e epistemológicos, a intuição em Henri Bergson (1859 – 1941), vai muito além dessa concepção. É um método filosófico, para conhecer a realidade, não apenas para descobrir algo, mas, sim, conhecê-lo verdadeiramente. Chamado assim, de método intuitivo.

Henri Bergson foi um dos grandes filósofos franceses  do século XX, influenciando futuros filósofos e psicólogos de sua época, incluindo William James. Nascido em 1859, contexto caracterizado pela filosofia positivista e materialista, no qual se acreditava que só podemos conhecer alguma coisa de fato quando relacionadas a nós mesmos. Discordando de tais conceitos, Bergson tornou-se conhecido como o filósofo da duração, pois como metafísico, explorou o vitalismo, ou teoria da vida, criando o método de conhecimento da intuição da duração. Recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1928. Morreu aos 81 anos, em 1941.

Fonte: http://zip.net/bstHTs

Bergson acreditava que existem dois tipos de conhecimento. O relativo, caracterizado pelo conhecimento de algo a partir de uma perspectiva única e particular inerente aos sujeitos. Compreensão tal, adquirida pelo intelecto e pela razão, onde nos distanciamos do objeto para analisá-lo. E o conhecimento absoluto, que significa conhecer os objetos no mundo como eles realmente são, através da apreensão intuitiva da verdade. Para Bergson, esta última é uma forma direta de conhecimento, na qual, a intuição caminha na mesma direção da vida.

Segundo Barroso (2009, p. 3):

Mesmo nas aparentes divergências que os filósofos têm, em suas filosofias, a respeito da definição desses dois termos, eles concordam em um ponto: “que existem duas maneiras profundamente diferentes de se conhecer uma coisa”. Uma implica que se dêem voltas em torno dessa coisa. Isso depende do ponto de vista no qual nos colocamos e dos símbolos que usamos para exprimi-la. A outra maneira requer que entremos na coisa, ou seja, que coincidamos com ela. Esta segunda maneira de conhecer não se prende a nenhum ponto de vista e não se apoia em nenhum símbolo. É, segundo Bergson, por esta segunda maneira que se é capaz de chegar ao absoluto. 

Para Bergson, a ciência é apenas uma das formas humanas de pensamento exteriorizado. Em que, a intuição, outra matriz do pensamento humano, nos faz voltar à consciência para a duração interior, onde cada fato seria interpretado de tal forma que escapam à lei, à medida e à interpretação espacial das coisas. De acordo com Ribeiro (2013, p. 97), “partindo do interior, voltando-se para dentro,  fugindo de uma análise positivista sobre a realidade, a intuição parte do eu superficial, da camada menos imediata da consciência, e vai em direção ao eu profundo, dos sentimentos”.

Fonte: http://zip.net/bltG28

Bergson acreditava que a intuição está ligada ao nosso elán vital (força vital) que interpreta o fluxo da experiência temporal, permitindo a apreensão da singularidade de um objeto por conexão direta. Sendo assim, a intuição caminha na mesma direção da vida, ou seja, é ver o mundo no âmbito do nosso senso interno de desdobramento do tempo, não da análise da realidade, mas da essência da própria vida. A intuição, para Bergson, é a coincidência com o objeto estudado, o simpatizar-se com as coisas, é o abster-se por um momento da separação entre sujeito e objeto para apreender o que é o objeto, nele mesmo, sem intervenção da linguagem, dos conceitos ou dos símbolos, imergindo, assim, na duração real (RIBEIRO, 2013, p. 102).

Considerando a quase indivisível relação entre o sentido da intuição para o filósofo francês e a forma totalmente inusitada, para muitos, com a qual Bergson categorizou, por assim dizer, de duração, ou seja, o transcorrer do tempo. Para melhor compreensão do método intuitivo, faz-se necessário que analisemos mais profundamente a própria maneira como a maior parte da sociedade atual se remeter ao tempo.

Fonte: http://zip.net/brtHzs

Devemos perceber que os registros por nós utilizados para demarcar o que chamamos de “tempo” se refere a uma mensuração pautada em um fato fundamentado por uma analogia histórica, ou seja, quando eu me refiro a 12 horas de um determinado dia, faço alusão ao “exato” momento em que o sol pareceu estar no centro do céu para quem o observasse da mesma forma em que fez nos dias anteriores devido a ciclos repetidos pelo planeta. A grande questão, é que isso nos dá a ilusão de que retornaríamos ao mesmo tempo quando novamente chegássemos a essa hora dos dias seguintes.

Uma grande diferença entre a teoria de Bergson e a maioria das de outros filósofos é que, ele nos demonstra o fim como parte inerente do todo,  logo, o morrer/deixar de existir é inexoravelmente constituinte do viver/existir. A partir disso, ele contestava as teses de grande parte dos teóricos, inclusive religiosos, que traziam sempre alguma forma de continuidade para o ser. Sendo esta, no campo das ideias, ou em universos paralelos, como exemplo, o paraíso judaico-cristão.

Fonte: http://zip.net/bjtHv3

Para melhor ilustrarmos, veja o exemplo: a primavera deste ano não seria uma repetição, muito menos uma continuação da do ano passado, mas sim uma estação nova com características semelhantes, dispondo de determinadas particularidades. Estas observações nos elucidariam de que o tempo se trata de um processo, que inclui transformações e historicidade, descartando a perenidade do conhecimento. Caracterizando assim, com tais exemplos, o conceito de duração em Bergson.

Sendo assim, devemos perceber que uma realidade regida por situações tão efêmeras não poderia ser estudada e descrita de forma demasiadamente rígida, ou seja, pelo conhecimento relativo, positivista, pois descaracterizaria a realidade dos fatos. Logo, a intuição viria como uma forma de melhor observar e registrar o que ocorre no mundo, visto que a mesma não é mediada por conceitos e raciocínios lógicos e nem recebida como algo revelado. A partir dessa discussão, o conceito de duração exemplificado acima constitui a essência do ser e “se identifica com o tempo não intelectualizado; ela não é sucessiva, nem mensurável, muito menos sujeita a uma espacialização, fragmentada, seja por meio dos símbolos, da linguagem, ou da própria ciência” (RIBEIRO, 2013, p. 99-100).

Fonte: http://zip.net/bmtHrD

“Quando falamos de duração, podemos também falar de uma duração interior, um constante fluir da vida que não pode ser medido e que na realidade se manifesta como unidade.” […] “uma característica da duração é a fluidez que caminha sempre em direção ao novo e que é imprevisível” (FERNANDES, 2013, p. 41). A duração (tempo bergsoniano) só tem sentindo ao se relacionar a intuição, é a unidade e multiplicidade no ver, perceber e sentir o mundo, interpretando-o intuitivamente, percebendo assim, a singularidade dos aspectos que regem a realidade. “A intuição é a via que nos permite, por um esforço do espírito, simpatizar com as coisas e com nossa própria interioridade e percebê-las na duração. Isso nos possibilita um conhecimento da realidade naquilo que ela tem de única. Esse é um modo de contato com o mundo” (FERNANDES, 2013, p. 42).

Sem dúvida, a intuição filosófica é o contato com o que há de único na realidade, conhecendo-a a partir do interior das coisas, comportando em si graus de intensidade e profundidade. Proporcionando a quem se dispor a utilizar o meio intuitivo, a duração do real vivenciada por uma vida intuitiva, onde o conhecimento sobre o mundo será filosofia.

REFERÊNCIAS: 

BARROSO, Marco Antônio. A intuição como método. Virtú (UFJF), v. 1, p. 1-24, 2009. Disponível em: <http://www.ufjf.br/virtu/files/2009/11/1-A-intui%C3%A7%C3%A3o-como-m%C3%A9todo-UFJF>. Acesso em: 05 de março 2017.

CASTELO, Rogério. O Livro da Filosofia. São Paulo: Globo Livros, p. 226-227, 2015.

FERNANDES, Diôgo Costa. A concepção de filosofia em Henri Bergson. Pensar-Revista Eletrônica da FAJE, v. 4, n° 01, p. 37–57, 2013. Disponível em: <http://www.faje.edu.br/periodicos/index.php/pensar/article/viewArticle/2220>. Acesso em: 05 de março 2017.

RIBEIRO, Eduardo Soares. Bergson e a intuição como método na filosofia. Maríia: Kínesis, 2013, Vol. V, n° 09, Julho, p. 94-108. Disponível em: <https://www.marilia.unesp.br/Home/RevistasEletronicas/Kinesis/eduardoribeiro.pdf>. Acesso em: 05 de março 2017.

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Mundo Wired: conexão, velocidade e virtualização

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Observação: o texto a seguir é parte de um trabalho de “Prospecção Tecnológica” da disciplina de Gestão Tecnológica II. Os alunos deveriam refletir, com base nos avanços tecnológicos atuais, como o mundo estaria nas próximas décadas.  

No mundo Wired, a necessidade dos seres humanos de colocar a tecnologia cada vez mais próxima de si (dos desktops para laptops, smartphones e, agora, os glasses), e inseri-la no seu cotidiano, teve um resultado prospectado em inúmeras obras de “ficção científica”. Tudo começou com um projeto de monitorar as emoções dos humanos, baseado em sua atividade cerebral [1], de modo a aumentar a sua capacidade de interação nas redes sociais. O projeto virou uma febre, e logo começaram a surgir melhorias e junções de tecnologias até que foi desenvolvida a primeira interface cérebro-computador, que permitia um nível de interação sem precedentes entre máquinas e pessoas através de ambientes virtuais.

 

Brain Image Gallery – 2007 HowStuffWorks

A interface cérebro-computador permitiu que cada pessoa fizesse uma projeção de si dentro de um ambiente virtual (criando o seu avatar) [2] [3] e interagisse com outros indivíduos conectados da mesma forma. No ano de 2050, o acesso à tecnologia também tinha suas limitações e, portanto, apenas alguns indivíduos com mais “sorte” conseguiram se projetar no mundo de realidade virtual, então conhecido como Wired [4], de forma completa (alguns outros indivíduos apenas conseguem emitir algumas partes do sinal, ou apenas recebê-lo). Com isso, os blogs e comunidades de sucesso da internet foram adaptados para um novo formato, que consistem em salões virtuais onde grandes grupos de pessoas se reúnem e assistem a uma espécie de show conduzido pelo dono do ambiente.

 

 

Nesse contexto de salões virtuais, surgiu uma nova atividade para os profissionais de TI (Tecnologia da Informação), a construção de CommuFields [2]. Cursos de especialização para lidar com este novo tipo de ambiente, como Engenharia de CommuFields e CommuDesign, surgiram aos montes no mundo real. Estes cursos logo foram substituídos por uma versão mais prática, ou seja, o estudo dentro do próprio ambiente, com a possibilidade de treinar seus novos conhecimentos e presenciá-los em tempo real.

Esta adaptação no formato de ensino se alastrou por outros tipos de cursos e pela educação como um todo e exigiu grandes mudanças no sistema de ensino (ideias semelhantes podem ser encontradas em trabalhos como [5]). Desta forma, deu-se uma crescente união entre duas áreas de conhecimento para o surgimento de uma nova ciência, denominada Pedagogética, que estuda as diferentes formas de transmissão do conhecimento através da interface cérebro-computador. Esta ciência surgiu da união dos conhecimentos da pedagogia e da computação. Nesta área são estudadas formas de transmissão direta do conhecimento, em que são desenvolvidos mecanismos que carregam a informação diretamente no cérebro dos indivíduos [3].

Em 2050, há divergências entre esse novo modelo de aprendizagem e o modelo clássico de ensino. Nesta época, o “tempo é preciosíssimo”, então por que perder tempo aprendendo da forma mais difícil quando se pode aprender de uma forma mais “direta”? Muitos ainda defenderam o modelo clássico, mas os cientistas mais novos e com “mentes mais abertas” concluíram que este tipo de ensino estava com os dias contados.

 

As novas formas de aprender e o novo modelo de convivência nestes ambientes virtuais tornaram os indivíduos cada vez mais acelerados e reduziram a sua noção de humanidade. A crescente preocupação em formar melhores profissionais toma o lugar da preocupação em forma melhores pessoas.

Esta mudança de pensamento originou sérias consequências e uma onda de crimes digitais sem precedentes teve origem por volta de 2055. Dois anos mais tarde a primeira reação clara a essa onda de crimes digitais é iniciada, e é fundada a primeira Hacker Detective Academy, no Reino Unido. A academia objetiva a formação de indivíduos com grandes habilidades para lidar, analisar e, se preciso for, manipular informações, principalmente em ambientes virtuais. A vertente principal das abordagens ensinadas na academia é o Profiling [2] [6], que estuda o comportamento de milhares de indivíduos no mundo Wired e tenta identificar padrões de perfis de criminosos.

 

Outros avanços, não apenas no mundo dos computadores, vieram à tona, o que gerou grandes modificações nas outras profissões. As decorações tradicionais das casas das pessoas foram substituídas pelas moderníssimas decorações holografias [2], o que forçou os arquitetos e engenheiros a mudarem seu foco de atuação e lidarem cada vez mais com computadores e afins.

A moeda, como conhecida hoje, foi praticamente extinta, apenas se usa um cartão de identificação com uma moeda virtual que vale em quase qualquer parte do mundo (a exceção de alguns países árabes e cuba). Esta moeda herdou o nome da moeda mais utilizada até então e ficou conhecida como dólar internacional. Na verdade, a própria noção de dinheiro se perdeu no ano de 2055. Grandes grupos de países formaram federações internacionais (ou blocos econômicos [7]), como a federação europeia, a federação chinesa e o reino de Britânia [8], e começaram a encontrar alternativas para substituir não só o dólar internacional, mas também o próprio conceito de dinheiro.

 

 

Mediante as grandes mudanças, como essas que ocorreram por volta de 2050, uma das poucas características das pessoas que foi preservada tem relação com a capacidade de adaptação. Com o passar dos anos e a velocidade acelerada com a qual surgem novas tecnologias, os indivíduos desenvolveram uma grande capacidade de assimilar essas novas facilidades. Essa capacidade, no caótico ano de 2050 se tornou fundamental para a sobrevivência. Ainda em 2050 foi introduzida uma série de movimentos que tenta “desacelerar” a vida dos indivíduos. Modelos estes que pregam que o trabalho, da maneira como ocorre, é uma forma de opressão e controle dos mais poderosos sobre a massa. Infelizmente, mesmo em 2050 estes modelos ainda não adquiriram força o suficiente para decolar. Assim, ainda que alguns países, isolados das grandes federações, tenham tentado utilizar o modelo de Economia Baseada em Recursos [9], concluíram que os indivíduos não estavam prontos para este tipo de mudança, ou seja, ainda estavam Humanos Demasiado Tecnológicos.

 

Observação do autor:

Para desenvolver o texto, inspirei-me em vários trechos de histórias famosas de pessoas que tentaram prever o futuro. As principais histórias que me serviram de inspiração seguem listadas abaixo, bem como alguns trabalhos científicos que abordam temas relacionados às temáticas apresentadas no texto.

 

Bibliografia

[1] PICHILIANI, M. C.; HIRATA, C. M. E. F. T. Exploring a Brain Controlled Interface for Emotional Awareness. 2012 Brazilian Symposium on Collaborative Systems. São Paulo, Brasil: [s.n.]. 2012. p. 49-52.

[2] PSYCHO-PASS. Direção: Naoyoshi Shiotani. Intérpretes: Gen Urobuchi. [S.l.]: Production I. G. 2012.

[3] THE Matrix. Direção: Wachowski. [S.l.]: Warner Bros. 1999.

[4] SERIAL Experiments Lain. Direção: Ryutaro Nakamura. Intérpretes: Yoshitoshi ABe. [S.l.]: Triangle Staff. 1998.

[5] JAVIDI, G. Virtual Reality and Education. Florida: [s.n.], 1999.

[6] CORREIA, E.; LUCAS, S.; LAMIA, A. Profiling: Uma técnica auxiliar de investigação criminal. Análise Psicológica, 2007. 595-601.

[7] SIMÕES, R. C. F.; MORINI, C. A ordem econômica mundial: considerações sobre a formação de blocos econômicos e o Mercosul. Impulso, v. 31, n. 1, 2002.

[8] CODE Geass: Lelouch of the Rebellion. Direção: Goro Taniguchi. Intérpretes: Ichiro Okouchi. [S.l.]: Sunrise. 2006.

[9] FRESCO, J.; KEYES, K. Looking Foward. [S.l.]: Barnes & Company, 1969.

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