São infinitas as possibilidades de expressão artística. Frequências que ressoam para muito além do que pode ser articulado dentro de um discurso. O que se faz com aquilo que ainda não aprendemos a nomear? Algo há que ser feito a respeito das coisas que escapam às palavras. Como muito bem disse o poeta, “a arte existe porque a vida não basta.” Mas ousaria dizer, sem com isso tentar desmenti-lo, que a arte existe, sobretudo, porque não bastamos a nós mesmos.
Pode ser extremamente desafiador – e espantoso – colocar-se diante da tarefa de enfrentar a própria história. Principalmente dentro de um setting terapêutico. Olhar para nossas lacunas a fim de articular aquilo que nos angustia é trabalhoso, e por vezes se mostra uma tarefa para a qual a linguagem não está preparada, ainda que se proponha a explorar o não-dito, dando significado aos nossos silêncios.
A primeira vez que me dispus a buscar por tratamento psicológico o fiz sob muitas ressalvas e com muita vergonha. Na época o estigma acerca da psicoterapia era maior que o de hoje, e a saúde mental ainda não era tratada como um tema de relevância social – avanços significativos obtidos nos últimos anos, não obstante estejamos longe do ideal.
Apesar da competência e disponibilidade do profissional que me atendia, sentia que avançávamos muito lentamente. Existe sempre uma urgência em nos livrarmos dos sintomas que nos afligem. Existe, sobretudo, uma urgência por descobrirmos aquilo que nos aflige. Eu não sabia dizer. Não queria dizer. Ou não queria saber que sabia dizer. Pode-se alegar aqui que estas são etapas muito naturais de um processo psicoterapêutico – e eu concordo absolutamente. No entanto, o paciente não tem consciência disso, e mesmo que lhe seja advertido resta sempre a dúvida. E a dúvida é sempre um obstáculo que coloca em risco a continuidade do tratamento.
Passamos a procurar por atividades que me despertassem interesse. Interessar-me por algo, na época, era um desafio talvez maior que a dúvida. E diante de minha resistência em me aventurar em novas atividades, optamos por explorar aquilo que um dia já havia me interessado. Livros, comentei. Há muito eu não os lia. Escolhemos algo para ler juntos e conversar a respeito de nossas impressões. Achei interessante. E ao expressar minhas opiniões acerca da história e dos personagens acabava sempre por deixar escapar algo sobre mim. Não é segredo que acabamos por dizer muito sobre nós quando falamos sobre alguém – e não importa que esse alguém seja um personagem real ou fictício.
Assim, passei a tratar de algumas questões minhas através das vidas dos personagens. Era mais fácil. Passei a escrever algumas histórias também, através do incentivo de minha terapeuta. Nessas histórias também apareciam questões sobre mim, ainda que eu não soubesse enunciá-las. A urgência deixou de ser uma questão. E entendi que podia melhorar, mesmo que isso levasse um tempo. A arte me ajudou a sentir, mesmo que ainda restasse muita coisa por compreender. Com o tempo, cheguei à conclusão de que não podia, de fato, compreender tudo. Para algumas coisas não existe mesmo explicação, por mais que nos empenhemos em criar alguma. Isso frustra. E se a arte não nos ajuda a compreender, é uma bela forma de exercermos nossa frustração – esse espanto diante daquilo que é inapreensível.
Ao olhar em retrospectiva, reconheço que esse reencontro com a arte, junto com minha terapeuta, contribuiu imensamente para o meu tratamento. Ele concedeu o tempo necessário para que eu me envolvesse, e para que eu pudesse acreditar que era possível melhorar. Acreditar que é possível é fundamental. No teatro, brincávamos sempre que apesar de terapêutico, o teatro não era terapia. E não é mesmo. Nem precisa ser. Mas é muito importante que tenhamos esses espaços onde se tem a oportunidade de sentir. Espaços onde nos permitimos. Isso pode ser de grande valia para o tratamento psicológico, mesmo que não o substitua.
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“Um divã para dois” – um toque sutil para olhos que querem ver e corpos que não querem se perder
4 de abril de 2023 Maria Sueli de Souza Amaral Cury
Filme
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Cinema, a fantástica simbiose do enredo para com o imaginário dos espectadores. Estes, com certeza, inserem-se nas teias da estória e tornam-se parte dessa ficção, e, não muito raro, descobrem não ser tanta ficção assim, os reflexos da tela está mais próximo do “eu de mim” do que possa imaginar. Toda essa fabulação é parte da vida de quem delicia-se da arte do cinema, tal qual as palavras de Ingmar Bergman:
“Cinema é como um sonho, como uma música. Nenhuma arte perpassa a nossa consciência da forma como um filme faz; vai diretamente até nossos sentimentos, atingindo a profundidade dos quartos escuros de nossa alma.”
Assim, a psicologia e o cinema se afinam. No filme, um divã para dois, cujo enredo versa sobre uma relação terapêutica, sexualidade, conflito familiar, relações afetivas, familiares, desejos reprimidos e terapia de casal. Retrata o cotidiano de Kay -Meryl Streep (cônjuge virago) e Arnold Soames- Tommy Lee Jones (cônjuge varão), os quais estão em uma relação matrimonial há 30 (trinta) anos. Relação esta, em que os espectadores, vejam- na como um espelho, seja para os casais mais atentos ou, mais perceptível e identificadas pelo público feminino, coadunando perfeitamente, dentro do contexto psicossocial, à frase inversamente à original: qualquer semelhança, não é mera coincidência.
Fonte: AdoroCinema
Como era praxe, em tempos pretéritos, não tão pretéritos assim, Kay, após consorciar-se, dedicou-se à família, abandonou o seu eu ideal para vislumbrar o futuro dos “outros eus”, seus tutelados, temendo o julgamento (complexo paterno), tanto o seu, quanto ao familiar e ao social. Sendo esposa e mãe exemplar, escutava-se para superar o medo da lei do outro.
Após o casamento dos filhos, Kay, sem as responsabilidades de outrora, sente a falta de diálogo e, concomitantemente, a falta de cumplicidade entre o casal. Apesar de estar experienciando a Síndrome do ninho vazio, caracterizado por quadro depressivo ao lidar com a ausência dos filhos. Contudo, Kay, sente-o às “avessas”, como se ela dissesse: filhos criados! Vida, cá estou eu! Ela sente falta de sua identidade e começa, então, a sair em busca de seu resgate. Perceber-se como mulher, bem como, que seu casamento está de mal a pior, seu desejo é reinventar-se e (re)encontrar-se. Onde, quando e como ela se perdeu dentro da geografia doméstica e familiar?
Nessa busca de seu (re)encontro, ela também (re)descobre a mulher adormecida, eivada de desejos sensuais e sexuais. Quer recuperar e (re)acender a paixão de quando consorciou -se, quando então, vislumbra dias melhores com a terapia de casais, sob a assistência de um especialista no assunto.
Enquanto Kay, outra tarefa pontuada pelo público feminino, tenta recuperar o casamento e (re)acender a paixão que os uniu, Arnold, mantém-se em um estado de introjeção e resistência, travando um duelo interior no campo da verdade, o desejo humano x campo da autoridade, quedar-se aos encantos desejados de Kay, estava fora de cogitação, seria o mesmo que dizer: “ onde já se viu dois idosos se envolverem sexualmente, como dois jovens depois de 30 anos?
Arnold, apresentava a estagnação do registro imaginário do seu eu, paralisado em questionar-se. Contudo, Kay não desiste de seu intento e Arnold acaba cedendo. O Dr. Feld (Steve Carell) o terapeuta, em uma tarefa hercúlea, atuando como um detetive psicológico, querendo desvendar os mistérios dos recônditos das almas desse casal, ou seja, com um olhar reducionista sobre as causas do afastamento, procura instigar as memórias onde o desejo era crível.
Na cena que apresenta a segunda sessão de terapia, é a cena mais emblemática do filme, nela revela-se resistência do esposo a ceder e procurar ajuda. Norteia-se quão distante está o casal. Perceptível a ausência de diálogo entre os cônjuges, haja vista, iniciam uma narrativa tímida e discreta de como se conheceram, depois, sobre o noivado encadeando o passado e, em seguida, falam sobre as questões sexuais. Neste último, o tempo entumece, estão desconfortáveis ao falar do e no assunto.
Arnold busca evitar o desprazer, isto é, evita e irrita-se às evidências de quaisquer eventos que venham a despertar o que fora recalcado. A proposta do terapeuta é oposta a Arnold, Feld, quer que o casal resgate suas memórias prazerosas e tragam -as para o consciente e deixá-las fluir naturalmente.
Arnold não se incomoda com a situação, sua estagnação é visível, não se importa ou valora o que a esposa sente ou pensa. Quando do exercício do tocarem-se, evita essas preliminares. Em suas crenças limitantes, ceder seria o mesmo que fraquejar como homem. O medo do julgamento do outro.
Aparentemente apresentando características neuróticas, ao ser tocado, ele não a toca. Seu corpo está inerte, pulsos cerrados. Todavia, seu ego o trai, o prazer flui, mas, pede abruptamente que ela pare, o medo do julgamento suplantar o desejo. A Raiva que ora diz sentir, é exatamente o medo do SENTIR e, de se jogar, entregar-se aos sentimentos de outrora. Em seu monólogo interior, sua rigidez comportamental, demonstra o apego em não querer abandonar a transferência herdada de seus familiares, seria o mesmo que enfraquecer a linhagem hereditária.
Fonte: AdoroCinema
Notório o sintoma da insatisfação em Kay, os sentimentos dela estão em erupção, contrapondo a resistência de Arnold, ele repudia e desqualifica qualquer assunto que versa sobre a relação marital. Para ele, tudo está perfeito, para quê investir energia em algo que já está agradável? Somente ela está realmente determinada nesse resgate, dificultando sobremaneira o processo terapêutico.
O interesse mútuo facilita uma colheita proficiente, uma vez que a psicanálise cuida do investimento, da reconstrução dos liames subjetivos do sentimento que encontra -se desalinhado por falta de ser alimentado, mas, que está apenas adormecido. Porém, para reconstruir, faz-se necessário desconstruir e, não raro, essa desconstrução causa sofrimento ao trazer à baila, sentimentos, desejos reprimidos e (re)encontros com seus medos.
O terapeuta, usando a ferramenta da associação livre, esteve atento também às linguagens não verbais, elas estão carregadas de informações sobre os pacientes, tais como os olhares, tanto de reprovação quanto de satisfação entre eles. Ateve-se tanto à transferência quanto à contratransferência. Observou o distanciamento entre eles no sofá, quando caminham lado a lado e pelo fato de dormirem em quartos separados. O silêncio também fora seu alvo, pois este, também estava repleto de significado e significante, um agente revelador para o terapeuta, um coadjuvante na construção do processo terapêutico.
A partir dessa premissa, quando notava dificuldades na execução das tarefas, o terapeuta, já selado o vínculo de confiança e empatia para com os cônjuges, determinantes que facilitaram a promoção da terapia, flexibilizava-as, facilitando aos pacientes expressarem suas emoções durante as atividades, faz uso de metáforas tal qual a do nariz quebrado, não se quebra o nariz aos pouco, pois, o casal estava diante de situações dolorosas, desconstruir algumas e (re)inventar outras.
Na devolutiva, o terapeuta percebendo que ainda havia potencial para o casal melhorar a qualidade de vida conjugal, orientou-os a continuarem com a terapia de casal quando retornassem para casa.
REFERÊNCIAS
Artigo- Uma Leitura Psicanalítica do Laço Conjugal- Lídia Levy de Alvarenga.
Albangela C. Machado fala sobre a psicanálise no tratamento de casais.
Bate-papo | “Psicanálise de Casal e Família”, de Rosely Pennacchi e Sonia Thorstensen
Filme “Um Divã Para Dois 2012 – Comédia Romântica”. Youtube.1.abr de 2020. Disponível em:< https://www.youtube.com/watch?v=UnTuyt_JA3Q&ab_channel=MikaelGuntherFilmes>.Acesso em 31março de 2023.
FICHA TÉCNICA DO FILME
FILME:Um Divã para Dois- Hope Springs
DIREÇÃO:David Frankel
ROTEIRO:Vanessa Taylor
ELENCO:Meryl Streep, Steve Carell, Tommy Lee Jones, Jean Smart, Marin Ireland, en Rappaport, Susan Misner, Daniel Flaherty, Patch Darragh, Anita Storr, Lee Cunningham, John Franchi, Elisabeth Shue.
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Como o uso da Dialética Junguiana, Dialética Comportamental e Mindfulness podem construir sentido existencial para idosos?
21 de setembro de 2022 Maria Laura Maximo Martins
Insight
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Desde o final do século XX e principalmente no decorrer do século XXI o fenômeno do envelhecimento populacional vem ganhando força no Brasil e no mundo. Em razão disso, se fez necessária a atenção, investigação e investimento em estudos sobre essa etapa do desenvolvimento humano. A velhice por muitas vezes é uma fase composta por diversas variáveis, em que o luto, o desamparo e a solidão estão presentes, além de todo o processo biológico que envolve constantes mudanças. Por isso, é de suma importância compreender os aspectos biopsicossociais do envelhecer.
A concepção de velhice
É importante ressaltar que a velhice não tem uma data exata definida. Não se tem um parâmetro que possa ser considerado inarredável. Existem pessoas que podem ser consideradas velhas aos 40 anos e, ao mesmo tempo, temos pessoas consideravelmente jovens aos 75 anos. De acordo com o que regulamenta o Estatuto do Idoso (Ministério da Saúde, 2013a), entende-se como idoso todo o indivíduo com idade igual ou superior a 60 anos.
Importante mensurar que Beauvoir apud Coura e Montijo (2014), colaciona as diferenças de conceitos entre idade biológica, social e psicológica. A idade biológica refere-se ao envelhecimento orgânico do organismo, levando em consideração o envelhecimento dos órgãos e a capacidade de autorregulação que também se torna menos eficaz. A idade social é seriamente determinada pela cultura e tem como referência o papel que o indivíduo ocupa na sociedade, e o quanto está ou não socialmente ativo.
A idade psicológica refere-se à capacidade dos aspectos de inteligência, memória e motivação. Não se pode deixar de considerar que definir a velhice apenas em termos cronológicos pode ser um erro comum, pois depende do contexto em que o indivíduo está inserido, das oportunidades e experiências que se teve ou tem acesso, segundo Garcia (2014). Ademais, existe um enorme preconceito em relação à velhice, que são expressos por reações de desgosto, ridicularização, negação e afastamento. Neri e Freire (2000) aduzem que há uma forte associação entre a velhice com a doença, a dependência e até com a morte.
Fonte: Imagem de Rosy por Pixabay
Dinâmica de grupo
Quando se desprende o conceito de grupos, necessário se faz assimilar que são condições do ser humano ter desejos, identificações, mecanismos de defesa e, em especial, necessidades básicas como a dependência e o desejo de ser reconhecido pelo outro. “Assim como o mundo interior e o exterior são a continuidade um do outro, da mesma forma o individual e o social não existem separadamente, pelo contrário, eles se diluem, interpenetram, complementam e confundem entre si”. (ZIMERMAN, OSORIO et al, 2007, p. 27).
A modalidade privilegia a aprendizagem e o treino de várias competências e contribui para que o indivíduo obtenha e partilhe informações sobre mudanças e transições características dessa fase. A psicoterapia em grupo na velhice pode proporcionar melhora nos sintomas psicológicos e físicos, bem como na qualidade de vida (Rebelo, 2007).
Neto (2004) refere que quando as pessoas percebem que estão sós, enfraquecem e apenas conseguem ver um cenário deprimente e de desesperança do que é a sua vida. Assim os os laços que se criam dão suporte social, cognitivo e emocional, auxiliando o idoso na manutenção da auto-estima e do desenvolvimento pessoal, uma vez que resulta numa melhoria da saúde mental, maior autodomínio e maior satisfação na qualidade de vida, pois reduz os efeitos negativos do stress e melhora as respostas imunitárias e de humor (Andrews, 2001; Hansen-Kyle, 2005).
A dinâmica em grupo terapêutico é um recurso necessário quando pensamos na criação de novas relações pessoais e promoção de qualidade de vida na terceira idade, é um momento de troca de vivências e experiências adquiridas ao longo da vida.
Fonte: Imagem por Freepik
Mindfulness
Mindfulness é uma palavra de origem inglesa que conceitualmente tem sua origem a partir do termo Sati que vem do dialeto indiano pali, que por sua vez, significa “lembrança” ou “lembrar”, assim como também pode ser traduzido por “estar atento” (Grossman e Van Dam, 2011). Nessa perspectiva, Sati é entendido como recordar para reorientar a atenção e estar alerta para experiência do momento presente de maneira receptiva e incondicional (Germer, 2016b). Dentro do contexto budista, o conceito de Sati aparece no seu sermão Satipatthana Sutta (Os Quatro Elementos da Atenção) e é considerado o coração das meditações budistas (Thera, 1962).
No caso do Brasil, ainda existe a dificuldade de interpretação do inglês para o português, pois a tradução literal da palavra “mindfulness’’ pode ser variada entre “atenção plena”, “consciência plena”, “mente alerta”, “observação vigilante”, entre outras. No meio científico, o termo mais utilizado para traduzi-la é Atenção Plena, mas ainda existem críticas que apontam que esta não seja a tradução mais literal.
Uma definição operacional de mindfulness dentro do contexto ocidental é feita por Kabat-Zinn (2003), que define o termo como a consciência que emerge ao prestar atenção no momento presente e sem julgamento momento a momento. Alguns autores, por sua vez, conceituam mindfulness como um estado ou traço que se refere à capacidade de estar atento ao que acontece no momento presente intencionalmente e sem julgamento.
Diante de todo exposto, importa salientar que o Mindfulness não é apenas uma técnica, mas um estilo de vida, uma forma de ver o mundo de uma perspectiva mais saudável e sem julgamentos, percebendo os fenômenos tais quais eles se apresentam e adquirindo uma perspectiva de aceitação e neutralidade em relação a eles.
A busca pelo sentido da vida pode causar tensão interior em vez de equilíbrio interior. Entretanto, essa tensão é um pré-requisito necessário para a saúde mental. O que o sujeito necessita não é um estado livre de tensões, mas antes a busca e a luta por um objetivo que valha a pena, uma tarefa escolhida livremente (Frankl, 1946/2011).
Fonte: Imagem no Freepik
Dialética – Terapia Comportamental
A Terapia Comportamental Dialética foi desenvolvida a partir da década de 1970 pela psicóloga, professora e escritora norte-americana Marsha Linehan. Apesar de ter sido projetada inicialmente para tratar TPB, sabe-se que é bastante útil para qualquer pessoa com problemas de desregulação emocional, mesmo que a causa não esteja relacionada a um transtorno mental. Na Dialética o terapeuta pode escolher quais peças da terapia serão efetivas para clientes diferentes. Em resumo, quando não está sendo usada para tratar (Boderlaine), o modelo é muito flexível e pode ser usado para qualquer transtorno (Van Dijk, 2013).
A dialética fundamental neste modelo de terapia se concentra na validação e aceitação do paciente em sua inteira totalidade. Sobre a “dialética”, vale ressaltar que, ao criar seu modelo de tratamento, Linehan foi fortemente influenciada pela teoria da dialética. Van Dijk (2013) explica que pensar dialeticamente significa olhar para ambas as perspectivas em uma situação e, em seguida, trabalhar para sintetizar essas perspectivas possivelmente opostas. Terapia através do método dialética, é uma modalidade de psicoterapia que combina propostas da ciência comportamental, da filosofia dialética e da prática zen.
Dialética Junguiana
Segundo Jung (2009b), a psicoterapia trata-se de um tipo de procedimento dialético, que ocorre a partir da interação entre dois sistemas psíquicos, o do paciente e o do psicoterapeuta, em uma relação de troca e influência mútua. Essa concepção distanciou-se bastante da inicial, que considerava a psicoterapia como um “método aplicável de maneira estereotipada por qualquer pessoa, para obter um efeito desejado” (JUNG, 2009b, p.1). Sendo assim, no método dialético proposto por Jung, o psicoterapeuta deve abdicar de sua autoridade diante do paciente, impondo-se um espírito crítico que não se deixa levar pela pretensão de saber e julgar sobre a individualidade e totalidade da personalidade do paciente.
Dessa forma conclui-se que, o foco através da terapia possibilita a promoção de saúde e auxilia os idosos a encarar esse período da vida de forma o mais produtiva possível e passível de ser vivida com bem-estar e qualidade, visando melhor adaptar os idosos às demandas e mudanças que são características do processo de envelhecimento. Oferece um espaço de escuta e fala, que através da Terapia Dialética e Mindfulness buscam criar um ambiente controlado que permita aos idosos estabelecerem regulação emocional, gerenciamento comportamental, práticas contemplativas que favoreçam a melhora das demandas relativas ao quadro específico que possuem.
Referências
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ZIMERMAN, D.E. Fundamentos básicos das grupoterapias. Porto Alegre: Artes Médicas Sul: 2010.
Em 1929, Carl Gustav Jung publicou o texto “Os problemas da psicoterapia moderna”, para o Anuário Médico Suíço o texto. Nele, que mais tarde veio compor o quinto capítulo do décimo sexto livro de suas obras completas: “A prática da psicoterapia”, Jung fala sobre as etapas do processo terapêutico, que em seu modelo teórico, teriam quatro fases. O presente texto é um resumo deste trabalho.
Na tentativa de englobar a psicanálise de Freud, a psicologia individual de Adler e outras tendências no campo da psicologia complexa, Jung entende o processo psicoterapêutico como um percurso que passa por diferentes momentos, e que em cada um deles, os diversos campos da psicologia podem contribuir para o processo.
“Devido à extrema diversidade das tendências da nossa psicologia, é imenso o esforço que temos que fazer para sintetizar os pontos de vista. Faço, portanto, esta tentativa de dividir as propostas e o trabalho, em classes, ou melhor, em etapas” (JUNG, 2013, § 122).
Segundo Jung (Ibid., § 123), “As origens de qualquer tratamento analítico da alma estão no modelo do sacramento da confissão.” Essa etapa passa pelo processo do sujeito se ver com seus segredos, que, diante do surgimento da parte oculta do psiquismo, devido à invenção da ideia do pecado, o segredo, a “coisa recalcada”, passa a ter um efeito deletério para a alma.
“O possuir um segredo tem o mesmo efeito do veneno, de um veneno psíquico que torna o portador do segredo estranho à comunidade” (Ibid., §124).
Apesar do segredo, em doses baixas, ser salutar, por fazer um serviço à construção da individualidade, aquele que fica por demais restrito ao indivíduo, sem compartilhamento, pode ser destrutivo. Para Jung (Ibid., § 125), “este tem o mesmo efeito da culpa, segregando seu infeliz portador do convívio com os demais seres humanos.” Quando elevado a um nível radical, ele pode se tornar oculto até ao próprio sujeito. O conteúdo secreto já não é conscientemente encoberto, mas é oculto até perante si mesmo, e com isso separa-se da consciência na forma de um complexo autônomo, formando uma espécie de psique fechada, cuja fantasia desenvolve uma atividade própria, perturbando a atividade consciente.
Outra forma de contenção deletéria exercida é a dos afetos:
“O afeto contido, do mesmo modo que o segredo inconsciente atua como fator de isolamento e perturbação, e provoca sentimento de culpa. A natureza não nos perdoa, por assim dizer, quando, ao guardarmos um segredo, passamos a perna na humanidade. Do mesmo modo, ela nos leva a mal, quando ocultamos as nossas emoções aos nossos semelhantes” (Ibid., § 130).
Sendo o segredo e a contenção de ordem exclusivamente pessoal danosos para a alma, a natureza reage, enfim, por meio da doença.
“Esconder sua qualidade inferior, bem como viver sua inferioridade, excluindo-se, parece que são pecados naturais. E parece que existe como que uma consciência da humanidade que pune sensivelmente todos os que, de algum modo ou alguma vez, não renunciaram à orgulhosa virtude da autoconservação e da autoafirmação e não confessaram sua falibilidade humana. Se não o fizerem, um muro intransponível segregá-los-á, impedindo-os de se sentirem vivos, de se sentirem homens no meio de outros homens” (Ibid., § 132).
Esta etapa da confissão, dá ensejo para as primeiras descobertas da psicanálise. A catarse, que visa à confissão completa, não se limita a uma constatação intelectual dos fatos pelo pensamento, como também à liberação dos afetos contidos, “à constatação dos fatos pelo coração” (Ibid., 134).
Devido ao fato de que nem sempre é possível promover uma aproximação do paciente ao seu inconsciente, ao ponto de eles conseguirem perceber sua sombra através do método catártico, a prática da psicoterapia não pode se limitar a esse método. São muitos os indivíduos que são fervorosamente ligados ao seu consciente, não cedendo ao recuo dela e, portanto, não recorrem ao inconsciente. Nesse caso, se exige uma técnica toda especial para a aproximação do inconsciente (Ibid.).
Também há o fato de a catarse promover uma diminuição dos sintomas, porém não oferecer uma compreensão por parte do paciente dos processos que ocorrem em sua dinâmica psíquica, podendo gerar outras situações adversas, como o apego do paciente em relação ao psicoterapeuta, necessitando sempre do seu auxílio com o mesmo método, ou o apego ao seu próprio inconsciente, gerando uma fixação nociva em relação a ele (Ibid.).
Por isso, torna-se necessária a segunda etapa da psicoterapia: a compreensão. Para tanto, se dá atenção primeiramente às fixações, seguindo o método psicanalítico de Freud. Nos casos de dependência do terapeuta, se constata que esse vínculo corresponde, em sua natureza, à relação pai-filho, ou seja, um tipo de relação infantil que não se consegue evitar. Tratando-se de uma formação neurótica, um novo sintoma desencadeado pelo próprio tratamento, “FREUD acertou ao batizar esse sintoma de transferência” (Ibid., § 139).
“Enquanto o método catártico, em sua essência, devolve ao eu conteúdos que normalmente deveriam fazer parte do consciente, o esclarecimento da transferência faz com que venham à tona conteúdos que, naquela forma, jamais teriam tido condições de se tornarem conscientes. Em princípio, é esta a diferença entre as etapas da confissão e do esclarecimento” (Ibid., § 141).
Já em outros casos, o sujeito, ao invés de se fixar ao terapeuta, se fixa às representações das fantasias do próprio inconsciente, e nele se emaranham. Este fato, revela que ele ainda se encontra em estado de identificação com os pais, lhe conferindo autoridade, independência e espírito crítico, o que lhe faz opor resistência à catarse.
“Aquilo que o paciente transfere para o médico tem que ser interpretado, isto é, deve ser esclarecido. Uma vez que o próprio paciente nem sabe o que está transferindo, o médico é obrigado a submeter a uma análise interpretativa todos os fragmentos disponíveis da fantasia do paciente” (Ibid., § 144).
Com o processo de esclarecimento das origens da fixação, o paciente, se deparando com a infantilidade e inutilidade de sua posição, desce a um nível mais modesto e de relativa insegurança, podendo gerar efeitos salutares. Pode também o fazer perceber que sua necessidade de fazer exigências ao outro é produto de um comodismo infantil, que deve ser substituído por uma maior responsabilidade pessoal (Ibid.).
“Armado da convicção de sua própria insuficiência, lançar-se-á à luta pela existência, a fim de ir consumindo em trabalhos e experiências progressivas todas aquelas forças e aspirações que até agora o tinham levado a agarrar-se obstinadamente ao paraíso da infância ou, pelo menos, a recordá-lo com saudades. As ideias que o nortearão moralmente daqui para a frente serão: adaptar-se normalmente e ter paciência com a própria incapacidade, eliminando as emoções e ilusões, na medida do possível” (Ibid., § 149).
Nesse novo estágio, o indivíduo com forte sensibilidade moral pode, devido sua elaboração, reunir um ímpeto mobilizador suficiente para fazer do processo terapêutico vivenciado um êxito. Isso pode despertar nele forças adormecidas, que poderão intervir favoravelmente em seu desenvolvimento. Porém, em pessoas com parca fantasia moral, tal insight em si pode de nada adiantar. “O método do esclarecimento ou elucidação sempre pressupõe índoles sensíveis, aptas a tirarem conclusões morais, independentes de seus conhecimentos” (Ibid., § 150).
Além disso, nem todas as pessoas podem ser analisadas sobre o espectro unilateral causalista freudiano, “Sem dúvida, todos têm esse aspecto, mas nem sempre é ele que predomina.” (Ibid., § 150). Aqui, adentramos na terceira fase do processo terapêutico: a educação para o ser social.
Há inúmeras neuroses que podem ser mais bem explicados sob o prisma do instinto do poder, idealizado por Alfred Adler, onde o indivíduo “arranja” sintomas para conseguir prestígio fictício, explorando sua neurose. Até mesmo sua transferência e demais fixações servem a sua vontade de poder. Por essa via, Adler visa a psicologia do oprimido ou do fracassado na sociedade, cuja única paixão é a necessidade de prestígio. “Estes casos são neuróticos, porque continuam achando que estão sendo oprimidos, e combatem moinhos de vento com as suas fixações, impossibilitando sistematicamente a consecução dos objetivos que mais almejam” (Ibid., § 151).
A via Adleriana, segue onde para a última etapa. Para além do insight, se faz necessária a educação social, tentando tornar a pessoa normalmente ajustada, mediante todos os recursos da educação. Nessa parte, é possível que haja um certo distanciamento do inconsciente, visto que, visando o ajustamento em vias de adaptação e cura, é desejável que se aparte do lado que carrega as características sombrias e más da natureza humana.
“A educação vem por fim, e mostra que uma árvore que cresceu torta não endireita com uma confissão, nem com o esclarecimento, mas que ela só pode ser aprumada pela arte e técnica de um jardineiro. Só agora é que se consegue a adaptação normal” (Ibid., § 153).
Para satisfazer uma necessidade a mais, transcendendo tudo o que foi feito até então, Jung desenvolveu a quarta fase, e denomina-a como transformação. A finalidade dessa etapa passa pela exigência da alma de alguns sujeitos a tornar-se mais do que simplesmente socialmente ajustados.
“A simples noção de “normal” ou “ajustado” já implica limitar-se à média, que só pode ser sentido como progresso por aquele que, por si, já tem dificuldade em dar conta da sua vida dentro do mundo que o cerca, como, por exemplo aquele que, devido à sua neurose, é incapaz de levar uma existência normal” (Ibid., § 161).
Porém, para as pessoas cuja capacidade é superior ao homem médio, e suas realizações sempre foram mais do que satisfatórias, a ideia da normalidade pode não significar algo satisfatório.
“[…] significa o próprio leito de Procusto, isto é, o tédio mortal, insuportável, um inferno estéril sem esperança. Consequentemente, existem dois tipos de neuróticos: uns que adoecem porque são apenas normais e outros, que estão doentes porque não, conseguem tornar-se normais. (…) a necessidade mais profunda dessas pessoas é, na verdade, poder levar uma vida extranormal” (Ibid., § 161).
O confronto das personalidades do terapeuta e paciente, propicia o encontro de duas realidades irracionais, que, como a mistura de duas substâncias químicas diferentes, geram uma reação transformadora. Tais fenômenos são conhecidos por transferência e contratransferência, onde Jung defende a tese de que:
“De nada adianta ao médico esquivar-se à influência do paciente e envolver-se num halo de profissionalismo e autoridade paternais. Assim, ele apenas se priva de usar um dos órgãos cognitivos mais essenciais de que dispõe. De todo jeito, o paciente vai exercer sua influência, inconscientemente, sobre o médico, e provocar mudanças em seu inconsciente” (Ibid, § 163).
Nessa relação terapeuta-paciente, fatores irracionais promovem uma transformação mútua, sendo decisiva a personalidade do psicólogo ser aquela mais estável e forte. Ele acaba por ser parte integrante do processo psíquico do tratamento tanto quanto o paciente, estando também exposto a influências transformadoras. Segundo o autor, se o terapeuta se fecha a essa influência, ele também perde sua influência – que é inconsciente – sobre o paciente, abrindo uma lacuna em seu campo de consciência, impedindo-o de vê-lo corretamente. É daí que se dá a necessidade de o terapeuta ser obrigatoriamente analisado, exigência feita por Jung e aderida por Freud quando ainda mantinham parceria (Ibid.).
Para Carl Jung, mais importa a personalidade e as condições psíquicas do terapeuta do que, propriamente, as linhas teóricas que ele utilizará no percurso terapêutico. “Você tem que ser a pessoa com a qual você quer influir sobre o seu paciente” (Ibid., § 167).
Ao longo de todo o percurso terapêutico, a relação psicoterapeuta-paciente será aquilo que norteará o tratamento. Dessa forma, para além desse ou daquele constructo teórico, bem como o que o psicólogo acredita ser o método adequado – catarse, educação ou seja lá o que for –, o que promoverá o tratamento será o encontro de duas almas, e, portanto, é muito mais importante preocupar-se com a convicção que o terapeuta tem acerca daquilo que acredita e segue como linha teórica.
Referência:
JUNG, Carl G.. A prática da psicoterapia. 16. ed. Petrópolis, Rj: Vozes, 2013. 156 p. (OC 16/1).
No dia 22/08, na Semana Acadêmica de Psicologia do CEULP/ULBRA, ocorreram pela manhã os Seminários Clínicos. O principal tema desses seminários foi a psicoterapia, cujo intuito foi mostrar os avanços em cada ênfase, além de demonstrar a importância desta área na Psicologia.
A psicóloga Ana Carolina Peixoto apresentou um caso atendido na Clínica-Escola sob a perspectiva Sistêmica. O caso é de uma menina chamada Helena (nome fictício) que tinha nojo do pai, dos objetos, da sua casa e da vida em geral. Ela arrumava o seu quarto sozinha, pois não queria que alguém além dela mesma tocasse nas suas coisas. Ela só se sentava na sua cama devido ao nojo; tinha crises frequentemente e não se reconhecia como adolescente. Ao ter contato com alguém se irritava facilmente e tinha ataques de coceira. A relação familiar era muito conturbada, pois os pais tinham pouca expressão afetiva.
O pai alcoólatra agredia a mãe. A família era marcada pela Triangulação, onde só a mãe e as irmãs tinham contato e o pai era excluído. Ao mesmo tempo ela era o bode expiatório da família, tudo que ocorria descontavam nela. Helena e a família começaram a fazer psicoterapia com objetivo de superar e compreender o motivo do nojo de Helena e para o equilíbrio familiar. Várias dinâmicas eram feitas, principalmente de comunicação, para poder superar a timidez de Helena. Logo após ocorreram os dois outros Seminários Clínicos, com a psicóloga egressa do CEULP/ULBRA Damaris Fernandes e a acadêmica Flor de Lyss Feitosa, com os ênfases na Sócio-Histórica e Psicanálise, respectivamente.
A importância deste evento é a possibilidade de perceber como a psicoterapia é algo grandioso. Uma situação tão simples, como nojo, que muitos podem dizer que não é nada demais pode se ver através desse estudo que houve muitos motivos que influenciaram esse problema da Helena. Por isso que o psicólogo não tem que ter a visão fechada e sim enxergar além daquela situação que o cliente/paciente está passando, pois algo tão nobre como lidar com o ser humano é procurar entender o que ele está passando. Ajudá–lo é recompensador. Embora nos dias atuais ainda haja preconceito e receio de procurar o psicólogo, fica claro que paciente e terapeuta podem identificar o motivo de uma dor emocional, trabalhando para que isso não se torne algo mais sério.