A coragem de ser quem eu sou

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Por muito tempo me escondi em um casulo

A escuridão parecia uma companhia segura

Deixei minha essência se tornar um segredo

Como se fosse um perigo aos demais

(Eu era ou eu sou?)

 

Como se a verdade deles ditassem a minha

Decidi silenciar cada medo e desejo

Vivi sob a sombra de quem estava ao meu lado

Porém me desconhecia

(Eu errei ou erraram?)

 

Se apenas tivessem a sensibilidade 

A mínima curiosidade

Teriam olhado nos meus olhos

Poderia ter sido descoberta antes de virar um caos

(Isso me salvaria ou me atormentaria?)

 

Antes das mentiras se tornarem insustentáveis

O passado pesar nas costas

E o perdão ser questionável

 

Antes do silêncio se tornar aceitável

Mas o grito sair inevitavelmente 

Ao bater de frente com os meus limites

 

Berrei, libertei um provável monstro

Que vivia em mim

E quando este saiu finalmente percebi

Que não havia monstruosidade e maldade nenhuma

 

Não sou o que eu acreditei

Não sou o que acreditam desde que me desencarcerei 

 

Mesmo assim não soltei todas as amarras

Muitos seguem na negação, atando os nós

Na insistente incompetência de engolir à seco a aceitação

 

Deve ser difícil viver capturado à crenças engessadas

Mais difícil ainda viver na possibilidade de me adequar

Esperando a desordem atenuar

Ponderando cada passo pois alguém criou a teoria 

De que certas coisas não podem ser vistas

 

Eu sei que um dia tudo pode mudar e ser como deveria

Mas e até lá?

Até lá eu me equilibro nessa linha tênue entre improvável e impossível

 

Até lá me contento com o fato de que  devo me resguardar 

Deixar que demonstrações de amor ocorram na escuridão

 

“A impossibilidade está à um beijo de distância da realidade”

Um beijo seria um ato revolucionário ou uma prática catastrófica?

 

Meu corpo inteiro teima em querer descobrir

“No momento certo” eu afirmo e afirmam pra mim…

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A coragem de ser imperfeita

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Coloquei aqui a palavra IMPERFEITA no feminino, porque servirá para pessoas, tanto quanto para dar um espaço especial às mulheres, que segundo pesquisas do IBGE, mostram o quanto se preocupam mais em atender estes padrões, se cobram mais e são mais cobradas a respeito e o quanto fazem crescer no mercado setores gerais em busca pela perfeição. Eu diria para evitar e rejeição, ou quem sabe ter aceitação, ou quem sabe estar pronta para competição, afinal, quem teve sempre pouco lugar ao sol, ou na sombra, luta com afinco para ocupar seu espaço. E essa ação tem um preço alto, e que bom que já estamos aqui negociando tais valores e tais situações, essa conta parece não ter fim e a gente quer equilibrar, para pelo menos não ficar no prejuízo. Então acompanhe até o final e ocupe seu lugar nesta fase de possibilidades.  

Segundo Brené Brow (2012), professora e pesquisadora na Universidade de Houston, há 16 anos estuda a coragem, a vulnerabilidade, a vergonha e a empatia, voltados para este aspecto do enfrentamento das imperfeições, seus estudos contribuem muito para que entendamos por que as mulheres buscam tanto essa tal perfeição em muitos de seus papeis. Muitas adoecendo para entregar suas metas desafiadoras, e muitas outras adoecendo pela frustração das irreais  expectativas e comparativas desleais de uma rede que movimenta bilhões, as custas de quem ainda não se fortaleceu na autoestima, por que está ocupada demais trabalhando, estudando, malhando, se montando esteticamente, se frustrando e morrendo aos poucos, ao invés de viver.

Elas investem mais em tudo, é o que mostram as pesquisas mais recentes, elas estudam mais, consomem mais, adoecem mais também e se tratam mais, as mulheres avançam na carreira em mais de uma área, compram mais livros, fazem mais cirurgias reparadores, consomem mais medicação, mais roupas, mais acessórios e andam viajando mais, pasmem, essa busca pela satisfação perfeita, pelo bem-estar perfeito, não para. Perfeição que cá entre nós, caro leitor, não existe, é essa busca sem fim que aumenta os padrões cada dia, que ocupa a pessoa de tais afazeres e compromissos, não apenas financeiros, mas que envolve energia e tempo, que muitas vezes impede de se ter contato consigo mesma. (IBGE, 2020)

 

Fonte: https://www.incimages.com/uploaded_files/image/1920×1080/getty_502964352_128031.jpg

 

As pessoas buscam perfeição não apenas na imagem, no corpo, mas também na forma de agir, nos comportamentos, nos mais variados papéis sociais que o feminino ocupa e vem crescentemente ocupando-se, ficando sem tempo para se perceberem. Dinheiro é tudo quando se tem um negócio, e assim passamos a ter um negócio que não para de consumir (HONEGGER, 2018).

Vamos falar de um assunto que costuma ser evitados por causar grande desconforto. Respeito, vulnerabilidade, medo, vergonha e imperfeição são aspectos que mostram quanto não estamos totalmente no controle e tudo bem. Isso pode incomodar você.

E assim seguimos, buscando sermos perfeitos em nossas criações, ou a partir de insights que a vida nos trás e permitimos existir possamos trazer mais equilíbrio em nossas vidas.

 

Fonte: https://thewaywomenwork.com/wp-content/uploads/2012/09/the-most-common-attribute-of-successful-women.png

 

Vivemos da falta dizia Freud, e aprendemos a preenchê-la, construindo nossas relações com o mundo, segundo Piaget, em todo nosso desenvolvimento, nossas crises, nossas histórias imperfeitamente perfeitas, como na poesia de Carlos Drummond de Andrade, e assim entendemos a beleza do ser humano, pela arte de amar, como nos escreve Erich Fromm.

Se conseguimos nos amar, como imperfeitos que somos, ao olhar para o outro, conseguiremos além de nos sentirmos amados, conseguiremos amar também, com empatia genuína, nos apoiar, nessa caminhada longa de crescimento, entendendo que estamos todos em evolução, e isso não é coisa fácil, nem coisa qualquer.

Imperfeitos que somos, distorcemos nosso olhar, pela falta que temos, pelas nossas próprias dores, pelos nossos medos e assim nos tornamos vulneráveis em busca de nossas expectativas, que podem nunca ser alcançadas …

A idealização, gera sonhos, imagens e não nos aproxima do real, porque o real nem sempre bonito nos encanta, nos faz exigente nas relações, acabamos por cobrar demais de nós e dos outros.

 

Fonte: https://therapyinbeverlyhills.com/wp-content/uploads/2018/11/Successful-Black-Woman-1920×1280.jpg

 

A verdade não cala, mas nem sempre quer ser vista, o mundo digital mostra isso, quando corrigimos rapidamente todas as nossas imperfeições, e com os semelhantes, quase iguais, por que não toleramos as diferenças, mesmo levantando a bandeira dela, quando nos esforçamos para fora, ao invés de olhar para dentro.

Se você faz o movimento para dentro, muito difícil ter energia para tudo que está fora, o olhar para o amor-próprio se faz diferente do amor narcisista, e muitos movimentos e bandeiras para fora, são na maioria narcisistas, com o desejo pelo que falta, não para o que contribui de fato.

Precisamos primeiro dar conta de nós mesmas, para depois cuidar da(o) outra(o), e assim nos certificarmos, antes de curar alguém, se esta pessoa está disposta a desistir das coisas que a deixaram doente. (Hipócrates).

Para levar luz a alguém encontre primeiro a sua, será um excelente caminho.

Como diz Jung, fazer o encontro de nossa luz e nossa sombra, nos torna mais inteiras(o), mais verdadeiros, mais reais, mais vivos inclusive, dentro de uma ética e dentro do que faz bem.

 

Referencias 

BROW, Brené. A coragem de ser imperfeito –  Como aceitar a própria vulnerabilidade, vencer a vergonha e ousar ser quem você é. Tradução de Joel Macedo, 2012. 

HONEGGER, Jessica. O poder ser imperfeita – tradução de Elza Nazarian. São Paulo-SP: editora Buzz, 2019.

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O que combina com a liberdade e a vida

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Todo ser humano deveria ter direito, desde o berçário, à moradia, à alimentação, à saúde, aos estudos, à segurança e ao transporte. Ninguém é livre morando nas ruas, pois mendigar não é liberdade. Para quem não tem nada, emprego é tudo. Emprego e salário justo são os pilares de sustentação de uma vida digna e livre. E o estudo é o alicerce dessa liberdade. Ver alguém escolher entre se sustentar e estudar é desumano. Estudo deveria ser sempre um direito, nunca um sonho.

Mas se o emprego é o pilar de sustentação de uma pessoa, o desemprego é o temporal que derruba esse alicerce. O desemprego rouba a autoestima, destrói famílias e coloca as conquistas de alguém em leilões, onde os ganhos de uns são perdas de outros.

O desemprego também pode ser uma oportunidade para se reinventar, mas quando ele assombra milhões de pessoas, deixando-as na miséria, há pouco espaço para reinvenção. Para quem nunca viveu o desespero de ver uma montanha de contas vencidas destruindo uma vida, o desemprego é só uma estatística, mas para quem o conhece, ele é um pesadelo.

Fonte: encurtador.com.br/gxJQ8

A liberdade também não combina com endividamento. Bom salário comprometido com dívidas penhora a carta de alforria de alguém no banco, e instituições financeiras não alforriam por compaixão

Outra coisa que combina com a liberdade é a coragem. Pessoas valentes podem ser muito diferentes entre si, mas têm algumas características em comum: não culpam ninguém por seus fracassos, encaram a realidade e batalham por seus sonhos, podendo adiá-los e reinventá-los, sem jamais abandoná-los. Por outro lado, pessoas que se queixam da vida e acusam outras por seus fracassos tendem a fugir da verdade e a se refugiar na ilusão da mentira. Só é livre quem não teme a verdade e sabe conviver com a realidade.

Um caminho seguro para a verdade é a leitura. Ler é uma bússola que nos aponta o Norte. A leitura pode não nos dar liberdade, mas certamente libertará nossa mente. Não somos livres para mudar certas realidades, apenas somos livres para escolher como lidar com elas.

Fonte: encurtador.com.br/cfvET

Nesta gangorra chamada vida, que ora nos leva para cima, mostrando as belezas lá do alto, e ora nos arremessa para baixo, nos ferindo com as pancadas, surgirão bifurcações. O caminho escolhido diante de uma bifurcação é que vai distanciar vitoriosos de perdedores. Perdedores perdem tempo reclamando e vitoriosos ganham tempo agindo.

Mas se a única garantia que vencedores e perdedores têm nesta vida, tão bela e efêmera como a flor de lótus, é a não garantia do minuto seguinte, devemos lutar ferozmente cada segundo vivo para escrevermos a história que sonhamos, porque a verdadeira comunhão com a liberdade é a vida.

Sem vida, não há luta.

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Pulmão de aço: superação e vontade de viver

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Vivendo em uma cama de hospital e com a necessidade de juntar suas memórias, Eliana começou a escrever e a fazer anotações em um diário através da boca.

Pulmão de aço, publicado em 2012 por Eliana Zaqui, configura uma trajetória real de vida no maior hospital do Brasil. O título do livro “Pulmão de Aço” faz menção à máquina em que Eliana foi colocada na madrugada em que chegou ao Hospital das Clínicas de São Paulo, quando tinha apenas 1 ano e 9 meses. O aparelho permite à pessoa respirar depois de ter perdido o controle muscular ou diafragmático através da exceção de pressão negativa sobre o corpo, expandindo a caixa torácica e forçando a entrada de ar. Vítima da poliomielite, também conhecida como paralisia infantil, Eliana não obteve resultado no pulmão de aço, restando a ela ser ligada, através da traqueostomia, a um respirador artificial, aparelho que utiliza até os dias atuais.

Vivendo em uma cama de hospital e com a necessidade de juntar suas memórias, Eliana começou a escrever e a fazer anotações em um diário através da boca. Temos aqui resiliência, conquistas, perdas, momentos de dor, sofrimento, bondade, perseverança, coragem, determinação, fé e tantos sentimentos que permeiam a experiência de quem sobreviveu para contar. O primeiro momento do livro relata a chegada da família de Eliana ao Hospital das Clínicas de São Paulo, os pais assinam os documentos da internação e os médicos percebem a gravidade do caso.

Fonte: https://bit.ly/2RUVK4f

A partir desse momento, somos apresentados a este novo mundo. Nele, Eliana começa a descrever suas vivências. Seus pais se despedem levando a lembrança daquela menininha deitada em uma maca, de vestidinho e sapatos, sem esperança de que a menina que eles conheciam continuasse a existir. Sozinha, Eliana conhece a máquina pulmão de aço, uma criação de Philip Drinker, professor da Harvard University, nos Estados Unidos. É uma máquina que possibilita à pessoa respirar depois de ter perdido o controle muscular ou diafragmático. O paciente é posicionado no aparelho, que é parecido a um forno, ficando somente com a cabeça para fora. O pulmão de aço era considerado muito eficiente por reverter o quadro de insuficiência respiratória em quase 90% dos casos, mas não foi capaz de solucionar o caso de Eliana.

A pólio é uma doença infectocontagiosa aguda, causada por vírus e transmitida por meio do contato direto com secreções. O diagnóstico é feito a partir de um exame de fezes, mas em alguns casos, muitos raros, é necessário fazer outro tipo de exame para detectar. O invasor alcança a corrente sanguínea, podendo chegar até ao cérebro. Esse foi o caso da autora, destruindo os neurônios motores e provocando a paralisia. Com o avanço tecnológico, Paulo consegue vencer o isolamento e faz com que o mundo que ele tanto admirava viesse até ele, entrando em contato, virtualmente, com pessoas, como Ayrton Senna, que ele admirava, e até recebendo visitas.

O segundo momento do livro relata suas amizades e conquistas dentro do hospital e a integração de sete crianças vivenciando as mesmas dificuldades, desconforto, exclusão social e um olhar único entre eles que não se sentiam sozinhos pois tinham uns aos outros. Era a corrente de amor fraterno nascendo da dor. Tânia e Paulo eram os veteranos da UTI. Em meio ao caos explicavam as regras, apresentavam os doentes e funcionários para quem estavam chegando e gritavam por socorro quando algo estava errado com os outros pacientes.

Fonte: https://bit.ly/2Fukkrh

Tânia, era vaidosa e a única que recebia visitas regulares de familiares, mas mesmo com essas visitas ela se sentia excluída. Pedro Donizete, Pedrinho, Luciana e Anderson, unidos e padecendo juntos pelas graves deficiências, vivenciaram e presenciaram juntos diversos sentimentos e comportamentos. Com exceção de Anderson, que tinha o apoio e afeto dos familiares, os outros seis eram carentes de carinho e gostariam de ter uma figura adulta que lutasse em prol deles, e por esse sentimento não se concretizar eles sonhavam em fazer coisas sem depender de ninguém; sentiam vontade de andar, cuidar de si mesmos e não viver no leito do hospital. Na ausência do afeto familiar alguns funcionários foram o consolo no momento do choro, da solidão, da tristeza, sendo que os momentos de solidão e o sentimento de abandono incomodavam mais que a própria doença e seus desdobramentos.

Os moradores temporários recebiam alta, o que aumentava ainda mais o sentimento de angústia e de abandono para os moradores permanentes. Isso se tornava visível e cada separação ajudou os sete amigos a amadurecer rapidamente. A vida imobilizada pode ser difícil mas não impossível, e por trás da aparência frágil Eliana se tornou muito forte por dentro. Ao passar do tempo ela foi deixando de ser aquela menina e tornou- se mulher, com emoções acentuadas, necessidades afetivas etc.

Como todo desenvolvimento, ela começou a sentir necessidade de um feedback aos sentimentos que carregava. Mas, aos poucos foi perdendo as pessoas que amava e a maneira de lidar com as perdas foi aprendendo a escrever e, como ela mesmo diz, a chorar menos, a sentir menos pena de si mesma.

Fonte: https://s03.video.glbimg.com/x720/2028058.jpg

A moradia em um hospital era o seu lar; lá aprendeu e mesmo com o corpo paralisado, sua mente não se acomodou e em uma das suas falas Eliana relata que “se fisicamente não posso andar, em minha mente sou capaz de voar sem limites”. Mesmo com o corpo imóvel, ela desenvolveu habilidades cognitivas, aprendeu inglês, italiano, fez curso de história da arte e virou pintora. Pinta seus quadros com a boca, mostrando força de vontade e a possibilidade de desenvolvimento de repertórios que possibilitaram a felicidade no meio da dor e do sofrimento. Ela tinha tudo para desistir, mas decidiu viver tornando o livro motivacional e inspirador.

Em pulmão de aço, prevalece uma história de superação de vida. Apesar da presença de uma doença que ausentou membros importantes para seu desenvolvimento, Eliana sentiu a necessidade de aprender repertórios para lidar com situações árduas, crendo que na vida, não há limites nem barreiras para ser feliz.

FICHA TÉCNICA

Nome do livro: PULMÃO DE AÇO

Editora: Belaletra Editora

Gênero: Autoajuda

Autor:  Eliana Zagui

Ano de lançamento: 2009

Idioma: Português

Ano: 2012

Páginas: 240

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