Polícia Militar do Estado do Tocantins Promove Campanha de Prevenção ao Suicídio no Setembro Amarelo

Compartilhe este conteúdo:

O setembro amarelo é o mês dedicado a campanha de prevenção ao suicídio que deu início no ano de 2015 e hoje se destaca mundialmente como um período em que são abertos espaços de discussões e debates acerca da temática. O reconhecimento da necessidade de se olhar para esse fenômeno vem sendo construída a partir da realidade a cada dia mais preocupante, em que o risco de suicídio, nas diferentes faixas etárias, demonstra que o manejo em lidar com essa questão deve ser amplamente discutido e aplicado seja no âmbito familiar, social ou profissional.

Segundo Botega (2015) o suicídio é multideterminado por um conjunto de fatores de diferentes naturezas, que são externas ou internas aos indivíduos e podem se combinar de forma complexa e variável. Existem uma influência genética, de elementos da história pessoal e familiar, de fatores culturais e socioeconômicos, de acontecimentos estressantes, de traços da personalidade e também de transtornos mentais.

O alerta quanto aos sinais e principalmente a abertura para a possiblidade de oferecer atenção e acolhimento à dor psíquica expressada pelo indivíduo, pode ser um meio de modificar a situação ao qual o panorama do suicídio se apresenta na atualidade.

Fonte: Governo do Tocantins

A Diretoria de Saúde e Promoção Social da Polícia militar do Tocantins (DSPS), por meio do Centro de Atenção à Saúde Integral do Policial Militar (CAISPM) se prontificou durante todo o mês de setembro a realizar orientações e acolhimento via telefone disponível, para a escuta daqueles que se sentirem atravessados pela temática de alguma forma, sejam os policiais militares, como também toda a sociedade em geral, para que possam ser atendidos por profissionais de saúde, numa perspectiva de atenção psicossocial.

Lembrando que essa pauta se faz necessário ser discutida não somente durante o setembro amarelo, mas a atenção deve acontecer de forma ampla e constante e ocupar cada vez mais os espaços de discussão, para que estratégias possam ser implementadas frente a essa problemática.

Deixar uma pessoa se expressar livremente e adotar uma postura sem julgamento e não diretiva produz benefícios que podem fazer a diferença na vida de alguém que pretende o suicídio, por isso se faz importante campanhas que promovam um oportunidade de fala e de escuta receptiva com imenso valor terapêutico.

REFERÊNCIA

BOTEGA, NJ. Crise Suicida: avaliação e manejo. Artmed, Porto Alegre, 2015.

Compartilhe este conteúdo:

Ansiedade na Pandemia: (En)Cena entrevista psicóloga Samira Brito

Compartilhe este conteúdo:

A ansiedade é caracterizada como uma sensação desagradável, vaga, cheia de apreensão, medo do novo, tensão, preocupação, angustia que todos os seres humanos experimentam durante a vida em determinadas situações do dia a dia. Já era um fenômeno natural e com a Pandemia, tem agravado esses casos de ansiedade. Para explicar mais sobre esse assunto, entrevistamos a Psicóloga Samira Brito formada na PUC-GO.

(En)Cena – A pandemia pode ter resultado no aumento dos casos de ansiedade? As informações, mensagens e notícias sobre a COVID aumentam a ansiedade? Por quê?

Samira Brito – Sim. Tudo aquilo que foge do nosso controle tem probabilidade de nos assustar. Aquilo que é novo nos assusta. A incerteza assusta. Falar em pandemia é unir a falta de controle, com o novo e o incerto. Quanto mais informações temos, mais vemos o quanto estamos vulneráveis à doença. Não é fácil aceitar a vulnerabilidade.

Fonte: Arquivo Pessoal

(En)Cena – Como lidar com a ansiedade durante a pandemia?

Samira Brito – Entendendo que só podemos controlar o que depende de nós: nossos comportamentos e emoções. Aquilo que não depende cabe a nós aceitarmos e desenvolvermos habilidades de enfrentamento, como autoconhecimento, autocontrole, cuidados com a saúde física e imunológica, se concentrar no momento presente, foco no positivo e nas maneiras de resolver as dificuldades, menos foco nos problemas.

Para controle da ansiedade: aceitar que é só uma ansiedade, não é prejudicial e nem perigosa. Respiração calma e lenta, se conectar a tudo que gera prazer e satisfação (lista de atividades que geram prazer e satisfação), se conectar ao momento presente, questionar os pensamentos negativos (quais provas reais eu tenho de que isso vai acontecer comigo? Se já aconteceu uma vez, qual certeza eu tenho de que vai acontecer de novo?). Importante não lutar contra a ansiedade.

(En)Cena – A ansiedade afeta o sistema imunológico? A alimentação, atividade física e o sono influenciam na redução da ansiedade?

Samira Brito – Sim. De maneira MUITO significativa. Aumentam a sensação de prazer, bem-estar e foco no presente.

(En)Cena – Como identificar a ansiedade? O que acontece durante uma crise?

Samira Brito – Comece avaliando o seu corpo. O que está sentindo? Quais são os sintomas físicos? Está prejudicando alguma área da vida? Interfere no dia a dia? O que você sente é algo que te paralisa? Existe sensação de medo? Durante uma crise de ansiedade o corpo entra em estado de alerta, os músculos enrijecem, o coração dispara, sensação de que aquilo não vai passar. Vontade de fugir daquela situação ou daquele lugar, pensamentos desordenados e negativos.

(En)Cena – Como lidar ou como gerenciar a ansiedade nesse momento de pandemia?

Samira Brito – Aceite a ansiedade no seu corpo; se conecte ao presente; observe o que acontece à sua volta, fora do seu corpo; faça exercícios de respiração (quanto mais calma, melhor); desenvolva ao longo do dia ao mínimo 1 atividade prazerosa; se alimente bem e faça atividade física; tenha pequenas pausas durante o dia para relaxar; se possível, pratique mindfulness.

Fonte: encurtador.com.br/irNY8

(En)Cena – Como saber diferenciar a ansiedade normal da ansiedade patológica?

Samira Brito – Por ser uma emoção saudável e necessária para a nossa sobrevivência, todos nós temos ela escondidinha no nosso corpo. Enquanto nossas ações forem proporcionais às situações, ela é normal. A partir do momento que começam a surgir sintomas que venham a interferir na condução natural do dia a dia, pode ser um indício de que a ansiedade está aumentando. Falta de concentração, diminuição do rendimento pessoal e profissional, relações sociais e familiares prejudicadas, todos sintomas da ansiedade patológica.

(En)Cena – Com a flexibilização do isolamento, muitas pessoas estão enfrentando medo de sair de casa e sofrendo com sentimentos como ansiedade. Quais são as causas desse cenário?

Samira Brito – A falta prolongada de contatos físicos, do toque, dos encontros. Habilidades antes treinadas deixaram de existir. Muitos passaram a viver uma introspecção por obrigação, muitos de repente se viram sozinhos consigo mesmos e sentiram a dor emocional da solidão. O medo de adquirir a doença se tornou mais frequente.

 (En)Cena – Quais orientações podemos seguir para reduzir a ansiedade?

Samira Brito – Aceite a ansiedade no seu corpo; se conecte ao presente; observe o que acontece à sua volta, fora do seu corpo; faça exercícios de respiração (quanto mais calma, melhor); desenvolva ao longo do dia ao mínimo 1 atividade prazerosa; se alimente bem e faça atividade física; tenha pequenas pausas durante o dia para relaxar; se possível, pratique mindfulness.

(En)Cena – Como lidar com a ansiedade no luto vivido quando se perde alguém próximo para a COVID?

Samira Brito – Se permitir viver as 5 fases do luto: negação e isolamento, raiva, barganha, depressão e aceitação. Entender que cada um tem sua maneira individual de passar pelo luto e respeitar a SUA maneira de lidar com a dor.

Fonte: encurtador.com.br/CIZ59

(En)Cena – Quando devo procurar um profissional para tratar da ansiedade?

Samira Brito – Se perceber os sintomas surgindo e você não sabe como lidar com eles, mesmo que não chegue a interferir no dia a dia já é importante buscar ajuda.

(En)Cena – Quais técnicas posso utilizar para acalmar uma pessoa que esteja em crise?

Samira Brito – Ensinar a respirar calma e suavemente, ajudar a mudar o foco do que sente no momento para o mundo exterior, observando tudo o que acontece ao seu redor. Aqui, é possível pedir à pessoa que descreva por exemplo tudo o que está vendo, puxar um assunto totalmente aleatório e que seja do entendimento desse indivíduo. Vale oferecer algum alimento que possa aumentar a sensação de bem-estar no corpo ou escutar uma música agradável.

(En)Cena – Quais os impactos no comportamento ou sintomas físicos que a ansiedade pode causar?

Samira Brito – Sensação de morte, sensação de estar paralisado, ao mesmo tempo, agitação interna e motora.

(En)Cena – A pandemia pode agravar os quadros de quem já tem ansiedade patológica?

Samira Brito – Sim. Se já existe o quadro ansioso no indivíduo, aumenta a probabilidade de intensificarem os sintomas, mesmo se estiver em tratamento. Isso porque o ansioso cria expectativas, geralmente negativas.

(En)Cena – Quais os sintomas físicos que a ansiedade pode causar?

Samira Brito – Taquicardia, falta de ar, sudorese, sensação de cansaço, tremores no corpo, tensão muscular, perda ou aumento de peso, náusea.

Compartilhe este conteúdo:

A democracia está em crise?

Compartilhe este conteúdo:

Quando falamos em democracia pensamos em conceitos como voto, direito de votar, direito de expressão, de ir e vir etc., enfim, são os mais variados conceitos e ideias que nos causa dúvida sobre seu real significado.

Na teoria contemporânea da Democracia, afirma Bobbio (1998), confluem três grandes tradições do pensamento político: a) clássica, segundo a qual a Democracia figura como o Governo do povo, de todos os cidadãos, se distingue da monarquia, como Governo de um só, e da aristocracia, como Governo de poucos; b) medieval, na base da qual há a contraposição de uma concepção ascendente a uma concepção descendente da soberania conforme o poder supremo deriva do povo e se torna representativo ou deriva do príncipe e se transmite por delegação do superior para o inferior; c) moderna, segundo a qual as formas históricas de Governo são essencialmente duas: a monarquia e a república, e a antiga Democracia nada mais é que uma forma de república, onde se origina o intercâmbio característico do período pré-revolucionário entre ideais democráticos e ideais republicanos e o Governo genuinamente popular é chamado, em vez de Democracia, de república.

Por sua vez, a ideia de representação começa a ganhar forma na modernidade onde, de acordo com Vieira (apud MEDEIROS, 2017, s/p), tem origem a passagem do princípio da soberania monárquica para a soberania popular, protagonizada pela luta da burguesia contra o poder dos reis visando obter privilégios que só poderiam ser conseguidos interferindo na ação do Estado absolutista. “É, neste contexto, que um novo significado de representação adquire um papel essencial no esboço de reestruturação do espaço do político, devidamente adequado às novas exigências imposta pela forma de reprodução social da modernidade”.

encurtador.com.br/orwGS

Uma vez instituída a soberania popular em oposição à soberania monárquica e diante da impossibilidade de uma democracia direta, “a opção pelo sistema representativo moderno apresentar-se-ia como uma solução para esta dificuldade [do ideal de uma democracia direta]” (id., ibidem, s/p). Nesta perspectiva ainda Bonavides (2006, p. 294) destaca que “A soberania popular, o sufrágio universal, a observância constitucional, o princípio da separação dos poderes, a igualdade de todos perante a lei, a manifesta adesão ao princípio da fraternidade social”.

Para Manfredini (2008) o que tem se vivenciado no Brasil é a crise desse modelo representativo. Os representantes já não representam o povo; este, por sua vez, já não se interessa pelos assuntos políticos. O número de partidos cresce, mas as ideologias continuam as mesmas, e, o poder legislativo ainda não logrou sua independência, continua a operar com preponderância do executivo.

Ao dialogar sobre o seu livro “A Era do imprevisto: a grande transição do século XXI”, Sérgio Abranches (2017), sociólogo, cientista político e escritor, discute o distanciamento entre a sociedade e a política e consequentemente a crise deste modelo representativo. Para o pensador, esse distanciamento e crise tem relação com as grandes mudanças que ocorreram na sociedade (tecnologia de comunicação) e na economia (globalização e mercado financeiro hegemônico), de maneira muito mais rápida do que na política.  Segundo o autor, as pessoas não se sentem representadas no campo político, por figuras que ainda representam uma face/vertente tradicional e conservadora (analógica) do modo de ser e viver a política.

Abranches (2017) destaca também na entrevista, que esse tensionamento/crise/descolamento entre sociedade e política tem consequências severas e as apresenta em duas vertentes: de um lado uma alienação, com um total desinteresse das pessoas pela política e suas dimensões; por outra lado, a radicalização, com a ideia de que o modelo vigente está completamente errado e o caminho é encontrar novas formas, o que geralmente leva à todos pela estrema direita.

encurtador.com.br/aptxK

A perda de confiança da população no modelo representativo tem sido motivada por vários fatores, segundo Vieira (2006) e eles pairam entre o descrédito nos partidos, as inúmeras denúncias sobre corrupção, o mau uso dos recursos públicos, além da falta de soluções para resolver os problemas públicos que atingem direta e indiretamente a sociedade.

De acordo ainda com Moura (2016, p. 209), “A crise das instituições políticas encarregadas de processar as decisões coletivas na sociedade atual, é, ao mesmo tempo, causa e efeito dos deslocamentos de poder provocados pelo impacto das novas tecnologias e das transformações por elas geradas”. Atualmente, essas estruturas políticas não cumprem suas funções e o dinheiro público se perde na burocracia e na corrupção, o tipo de liderança baseada no poder burocrático tornou-se inadequado à nova realidade e as instituições políticas também refletem uma forma obsoleta de lidar com o conhecimento.

Mas há, segundo Abranches (2018), um caminho, alternativas que podem representar uma “democracia melhor”. Um deles seria, dentro do próprio jogo democrático, publicizando as demandas e valores no espaço público (ruas), o que poderia fomentar o surgimento de novos partidos, com o viés de representação de fato. De qualquer modo, assevera o pensador (2018), “o caminho da democracia é se digitalizar; ter mais participação das pessoas, via redes sociais, e, formando tipo uma poliesfera digital, na qual as pessoas possam conversar democraticamente […], inclusive fazer escolhas e transmitir isso para o sistema político.

Referências

ABRANCHES, Sérgio. A Crise da Democracia Representativa. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=_5Fy4FaxE7s>. Publicado em 18 de maio de 2017. Acessado em 06 de outubro de 2018.

BOBBIO, Norberto. Dicionário de política I. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1998.

_______________. Teoria geral da política: a filosofia política e as lições dos clássicos. Rio de Janeiro: Campus, 2000.

MANFREDINI, Karla M. Democracia Representativa Brasileira: O Voto Distrital Puro Em Questão. Florianópolis, 2008.

MEDEIROS, Alexsandro M. Democracia Representativa. Disponível em: <https://www.sabedoriapolitica.com.br/ciber-democracia/democracia-representativa/>. Acessado em 06 de outubro de 2018. 2017.

MOURA, Paulo G. M. de. Organizações e Participação Política e Social no Mundo Contemporâneo. In: Sociedade e Contemporaneidade. Canoas: RS. Universidade Luterana do Brasil, 2016.

SELL, Carlos Eduardo. Introdução à sociologia política: política e sociedade na modernidade tardia. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006.

Compartilhe este conteúdo:

The Good Doctor: profissionais que lidam com a crise

Compartilhe este conteúdo:

Meu pai tinha esse mantra… “Seja como uma pedra, nunca chore”. Isso me tornou forte, o nem sempre foi uma coisa boa, mas foi o suficiente. (Dr. Alex Park)

A crise é uma série de eventos, ocorrências que podem acontecer de formas distintas, muitas vezes imprevisíveis. Como grandes situações catastróficas como terremotos, incêndios, estupros, momentos que podem ameaçar a integridade física, psíquica, social e a vida das pessoas. Na disciplina de Intervenção em situações de crise, do curso de Psicologia, é visto que pode existir uma ruptura psíquica do sujeito com essas conjunturas, ocasionando uma crise psicológica. Neste cenário o indivíduo pode experimentar uma perda familiar, término de relacionamento e mudanças radicais em torno do ambiente.

Vivenciar uma crise é uma experiência normal de vida, que reflete oscilações do indivíduo na tentativa de buscar um equilíbrio entre si mesmo e o seu entorno (SÁ, WERLANG, PARANHOS, 2008). Contudo, se esse equilíbrio não é firmado ou for alterado, rompido por alguma causa, a crise se instaura, fazendo com que o sujeito sofra com inúmeras alterações, físicas, comportamentais, ambientais e psíquicas. O estado de crise é limitado no tempo, quase sempre se manifestando por um evento desencadeador, e sua resolução final depende de fatores como a gravidade do evento e dos recursos pessoais e sociais da pessoa afetada (MORENO et al., 2003).

Fonte: encurtador.com.br/iloD3

Ao estudar sobre os profissionais que lidam com a crise, foi percebido que existem muitos profissionais que não apenas encaram esses acontecimentos, bem como sofrem com esses problemas. Como profissionais da saúde, educação, militares, bombeiros, psicólogos, entre outros.

A crise como uma experiência da vida humana é permeada pela necessidade de um cuidado profissional imediato pautado em conhecimento teórico-prático e vinculado a um modelo, para responder à pessoa em crise, coerente com os processos transformadores que impactam a prática interdisciplinar profissional e alinhado às atuais políticas públicas de saúde mental (ALMEIDA, et al, 2014).

Contudo, existem muitos profissionais que já estão adoecidos ou em estado constante de pressão, assim quando o dever os chama, eles sofrem em dobro. Não porque não sabem lidar com a situação, mas porque precisam estar em ótimas condições para englobar as necessidades das pessoas. Por também estarem em condições críticas, podem romper com a crise até no ambiente de trabalho.

Um bom exemplo disso é expressado durante a série The Good Doctor. Uma produção médica ambientada nos Estado Unidos, do qual um médico diagnosticado com síndrome de savantismo, um tipo de Autismo raro, desempenha grandes feitos através de habilidades intelectuais inimagináveis. Shaun Murphy é o protagonista principal, tido como um jovem e brilhante médico, contudo ele possui dificuldades em socializar com os funcionários do hospital e até com os pacientes. Após enfrentar numerosas barreiras em sua função como médico, Shaun consegue se adaptar da melhor forma possível no ambiente de trabalho. Até que nos episódios dez e onze da segunda temporada, ele e toda a equipe do San Jose St. Bonaventure Hospital passam por uma grande experiência traumática.

Fonte: encurtador.com.br/psCN5

Durante a véspera de Natal dois pacientes dão entrada no hospital com sintomas parecidos, sendo depois descoberto ser um vírus originário da Malásia e que pode levar as pessoas a morte. Toda a equipe da emergência teve que ficar em quarentena por causa do incidente, incluindo Dr. Marphy, que desde cedo se encontrava nervoso com os sons do pronto socorro. A crise começa no ambiente a partir do momento que as pessoas infectadas adentram o hospital, mas com o restante das pessoas o processo é mais longo.

A parte do episódio que evidencia a crise é o momento que tudo parece dar errado. Uma pessoa morre com o vírus, outra precisa ser operada, um garoto sofre com uma crise de asma e Shaun parece não aguentar mais a pressão do ambiente. No que tange ao fato dos profissionais enfrentarem a crise junto com os pacientes, parecia algo normal, que todo médico ou profissional da saúde deveria saber fazer. Mas não contavam com os fatores emocionais, pressão por ajudar várias pessoas assustadas, pouco material disponível e a ameaça iminente de morte.

O que parecia ser um dia normal na emergência, culminou em uma grande crise para todos os envolvidos. Os profissionais de saúde estavam cometendo erros, gritavam, entravam em traze, morriam na quarentena e mesmo em uma grande bagunça como aquela tentavam de alguma forma alcançar o equilíbrio.

Fonte: encurtador.com.br/psCN5

Embora tudo pareça ficção é visto na série que todos conseguem de alguma forma sobreviver ao acontecimento. Pois, eles se ajudaram, não deixaram a crise absorver tudo deles, cada um lidou com o problema com suas próprias reservas emocionais, psíquicas, físicas, etc.

Do exemplo em questão, percebe-se que a crise é uma perturbação temporária e em algumas pessoas pode ser uma forma de crescimento, uma forma de mudança e oportunidade para enxergar a vida com outros olhos. Para Parada (2004), quando a solução da crise se dá de forma adaptativa, surgem três oportunidades: a de dominar a situação atual, a de elaborar conflitos passados e a de apreender estratégias para o futuro. Logo, a elaboração da situação através de habilidades as vezes desconhecidas, pode servir como base para o manejo de situações conflituosas futuras. Que mais profissionais tenham o treinamento e as condições necessárias para realizar o manejo de modo adequado.

FICHA TÉCNICA DO FILME:

Título Original: The Good Doctor
Direção:Mike Listo, Freddie Highmore, Larry Teng, Steve Robin, Michael, Patrick Jann, Alrick Riley, David Straiton, Allison Liddi-Brown, Joanna Kerns, Steven DePaul
Elenco: Freddie Highmore, Nicholas Gonzales, Antonia Thomas, Tamlyn Tomita
País: Estado Unidos da América
Ano: 2017
Gênero: Drama Médico

REFERÊNCIAS

ALMEIDA. A. B.; et al. Intervenção nas situações de crise psíquica: dificuldades e sugestões de uma equipe de atenção pré-hospitalar. Rev Bras Enferm. 2014 set-out;67(5):708-14.

PARADA, E. (2004). Psicologia Comportamental Aplicada al Socorrismo Profesional. Primeros Auxilios Psicologicos. Acesso em: 29 de abril de 2019. Disponível em: http://members.fortunecity.es/esss1/Jornadas97ParadaE.htm.

MORENO, R. R.; PEÑACOBA, C. P.; GONZÁLEZ-GUTIÉRREZ, J. L. & Ardoy, J. C. (2003). Intervención Psicológica en Situaciones de crisis y emergencias. Madrid: Dykinson.

SÁ, D. S.; WERLANG. B. S. G.; PARANHOS. M. E. Intervenção em crise. REVISTA BRASILEIRA DE TERAPIAS COGNITIVAS, 2008, Volume 4, Número 1

Compartilhe este conteúdo:

Turma de Intervenção em Crise faz mural para o Setembro Amarelo

Compartilhe este conteúdo:

A turma de Intervenção em Crise é ministrada pela Profa. Me. Izabela Querido em 2018.2

Nesta última terça-feira (19), os acadêmicos da turma 0858 de intervenção em situações de crise criaram um mural sobre o que não dizer para pessoas em ideação suicida. A disciplina é ministrada pela Profª. Me Izabela Almeida Querido, que propôs a atividade como complementar à aula sobre suicídio e depressão. Após a aula expositiva, os acadêmicos selecionaram frases, fotos e campanhas sobre o tema para a montagem do mural.

Turma de intervenção em situações de crise

A acadêmica da disciplina, Talita dos Anjos Lima, disse que “a atividade foi sugerida pela professora Izabela, em alusão ao Setembro Amarelo, que é o mês de prevenção ao suicídio. O legal da atividade, para mim, foi o fato de que o mural diz respeito ao que NÃO dizer, e foi muito estranho e desconfortável reconhecer frases que muitas pessoas do nosso meio social e familiar dizem, talvez por falta de informação… Frases como: “isso é falta de Deus” ou “isso é só frescura”. Acho a atividade importante no sentido de esclarecer as pessoas sobre o que não fazer para que a pessoa que esteja em ideação suicida não piore. Construir a atividade foi muito tranquilo, mas ao mesmo tempo pesado, se a gente pensar que a maioria das pessoas ao encontrar um caso de ideação suicida, ou não sabem o que dizer ou dizem coisas que causam um desserviço”.

Mural criado pela turma

O mural está disposto ao lado da coordenação do curso de Psicologia (Sala 208), de modo que qualquer pessoa possa vê-lo.

Compartilhe este conteúdo:

A passagem do eu: o medo de crescer

Compartilhe este conteúdo:

Todo adolescente gosta de acreditar que a vida pós ensino fundamental, chegada no ensino médio e conectando á entrada da faculdade será igual a de filmes americanos. Bom, eu também adorava fantasiar com armários, participar do time de líder de torcida, contribuir para o jornal da escola ou até mesmo conhecer o primeiro amor. Acontece que o país em que vivemos não nos proporciona tais experiências tão parecidas com as dos filmes.

Falar de ‘’tudo’’ o que se passa na escola é uma experiência que te faz pensar tanto em como você era, nos amigos que continuaram com você, os professores que mais contribuíram na sua caminhada e principalmente nas lembranças que ficaram e que por um bom tempo não serão esquecidas. Mudei de escola na metade do ano de 2011, o que é assustador porque você vira o centro das atenções sejam elas boas ou ruins.

O problema maior não é nem a adaptação com as novas regras ou os novos professores, e sim na questão de amizades, pensem comigo você convive com certo grupo há muito tempo e de repente você tem que analisar observar e esperar ser aceito. O que até hoje me embrulha o estômago… Tenho medo de não ser aceita, e depois não ter ninguém para socializar. Mas da mesma maneira que tenho medo em não ter amigos, acabo não tendo vergonha de procurar os mesmos, eu poderia dizer que foi difícil conseguir me encaixar em grupo, mas felizmente não foi o pessoal era muito unido na época, o que facilitou muito.

Fonte: encurtador.com.br/msyO6

Continuei com a mesma turma até o primeiro ano do ensino médio, o que poderíamos dizer que vai ser a parte mais trágica desse relato, bom pelo falo de ser ‘’sem vergonha’’ demais, acabei me desleixando nos estudos com as matérias que não tinha afinidade, reneguei muitos professores que eram muito bons e competentes e acabei me aproximando de outros que felizmente continuam contribuindo na minha caminhada hoje. Acabou que, as provas finais chegaram, as notas vermelhas vieram e logo em seguida a recuperação acabou que fiquei devendo notas em muitas matérias, acabei reprovando… O que hoje eu entendo que foi uma das maiores maravilha que me aconteceu, vão por mim… Uma pena na época não ter entendido.

A reação da minha família não foi nada agradável, o que claro é ‘’normal’’, estudava em escola particular, não tirava da cabeça que determinada quantia de dinheiro teria sido ‘’jogada no lixo’’ pelo fato de eu ter tido preguiça de estudar, cem por cento culpa minha. O que nisso acabou deixando a viagem de final de ano em um clima muito pesado e chato de se lidar.

Revivi todo aquele processo de criar novos laços mais uma vez, porque encontrar meus amigos da antiga sala no recreio é uma coisa, ter um grupo X para fazer trabalho é uma coisa totalmente diferente. Continuei com a facilidade de fazer amigos, algumas amigas também na época repetiram o ano, o que tornou a experiência menos dolorosa… Analisei a turma inteira durante um mês, dai soube quem seriam as minhas ‘’panelinhas’’, entre os dois primeiros anos e o segundo ano não teve muita diferença e nem detalhes significativos para ser relatado aqui.

Fonte: encurtador.com.br/qLSZ7

Era 2017, último ano escolar, dessa vez tinha que dar tudo certo. Chega aquele momento de fazer as camisetas e colocar o curso desejado na costa, eu já tinha certeza do que queria, fazia questão de falar para todos que queria ser psicóloga, mas como a maioria dos vestibulandos outros cursos passaram pela minha cabeça: relações internacionais e moda, mas nesses eu não me via futuramente, não tinha imagens na cabeça nessas áreas de atuação já com psicologia sim, as vezes eu me pegava olhando modelo de vestidos para a formatura…

As melhores experiências com certeza em que vivi foi no ano de 2017, o destino me proporcionou conhecer pessoas maravilhosas onde eu pude absorver um pouco de cada pessoa, o que acabou contribuindo para a minha personalidade. Amizades que jurei que para sempre seriam eternas acabaram perdendo a essência.

Resultado de imagem para gif escola tumblr
Fonte: encurtador.com.br/dEF37

Depois disso os vestibulares vieram e consequentemente aprovações vieram juntas, escolhi em que faculdade ficar, e estou me descobrindo cada dia mais no curso em que infelizmente nesse ano perdi uma pessoa que me motivou e me incentivou a entrar, mas o fato de essa pessoa hoje não estar mais aqui, é o que me da mais força de vontade para continuar. Não me arrependo de ter escolhido o curso de psicologia e todos que me falam que tem vontade de fazer ou que me perguntam como é tenho o maior prazer de explicar as experiências que tive até agora.

Sou muito de acreditar em destino, tudo o que passamos na vida é porque existe um propósito, então não me envergonho de falar que repeti um ano na escola, o que me fortaleceu bastante como pessoa e me moldou muito, passei de ‘’a problemática da turma’’ para a ‘’que lida melhor em questões de liderança’’, então ponderando os prós e os contras, foi uma experiência necessária.

Não tenham medo de errar, não tenham medo de se expressar, muito menos tenham medo de tomar decisões, vão por mim a vida hora ou outra vai cobrar esses preceitos de vocês. Porém não exijam tanto de vocês, não se sobrecarreguem simplesmente viva um dia de cada vez.

Fonte: encurtador.com.br/inuCS

 

Compartilhe este conteúdo:

Acadêmicos de Psicologia apresentam suas narrativas de crise

Compartilhe este conteúdo:

A atividade ocorre até o dia 5 de junho durante a disciplina de Intervenção em Crise

A disciplina Intervenção em Situações de Crise, do curso de Psicologia Ceulp/Ulbra, ministrada pela profa. Me Izabela Querido, deu início (17/05) às apresentações das narrativas de situações de crise pelos acadêmicos da disciplina, e retomam dia 05 de junho de 2018.

Com criatividade, sensibilidade e dedicação, os alunos de Psicologia produziram e apresentarão textos narrativos reais e/ou fictícios como produto parcial da disciplina, afirma Izabela Querido.

Acadêmicos da disciplina de Intervenção em Situações de Crise. Foto: arquivo pessoal.

A professora ainda ressalta a proposta dessa atividade de que durante as apresentações sejam exemplificadas as estratégias de intervenção e manejo dessas situações a partir da teoria estudada, permitindo aos alunos associarem os aspectos teóricos explicativos das situações de crise e suas possíveis intervenções.

Quem é Izabela Almeida Querido?

Foto: arquivo pessoal.

Psicóloga. Professora Universitária. Mestre em Ensino na Saúde pela Faculdade de Medicina Universidade Federal de Goiás. Especialização em terapia cognitivo-comportamental aplicada a crianças e adolescentes e Especialização em Saúde Mental. Pesquisadora com ênfase nas áreas saúde e terapia cognitivo-comportamental.

Compartilhe este conteúdo:

Discursos desconexos de crise em Estamira

Compartilhe este conteúdo:

O Documentário

No ano de 2000, o diretor e fotógrafo Marcos Prado se dedicava havia seis anos a documentar em fotos o cotidiano do aterro sanitário de Jardim Gramacho, no Rio de Janeiro. Lá encontrou a senhora Estamira Gomes de Souza e resolveu então fotografá-la, ela concordou, mas com uma condição, ele teria que conversar com ela depois. Marcos Prado cumpriu o combinado e ficou encantado com o discurso desconexo, diferente, que ora fazia sentido, ora não fazia sentido algum. Eles ficaram próximos. Então, em uma de suas conversas, após Estamira desvendar que ele tinha a missão de revelar a verdade dela, Marcos decide fazer o documentário: ESTAMIRA, lançado em 2006, que retrata a vida dessa senhora (JUHAS; THIAGO, 2011).

O documentário participou do festival de Cinema do Rio de Janeiro, em setembro de 2004. Desde esta data o filme começou a aparecer com frequência na imprensa. Em 28 de julho de 2006, o documentário estreou no circuito de cinemas do Rio de Janeiro e São Paulo tendo presença nos jornais até 2007, ano de lançamento da película em formato de DVD. Foram quatro anos de filmagem, três Natais registrados, ou seja, muitas idas ao lixão (CARVALHO, 2010).

A Biografia

Nas palavras de Estamira:

“A minha missão, além de eu ser Estamira, é revelar a verdade, somente a verdade. Seja mentira, seja capturar a mentira e tacar na cara, ou então ensinar a mostrar o que eles não sabem, os inocentes… Não tem mais inocente, não tem. Tem esperto ao contrário, esperto ao contrário tem, mas inocente não tem não”.

Segundo Szabô et al (2013), Dona Estamira narra sua história de 62 anos de vida, sendo que 20 deles foram vividos no aterro sanitário. Os filhos ajudam a construir a sofrida e inóspita trajetória da mãe. Hernani, Carolina e Maria Rita contam a respeito do passado, da convivência e da percepção a respeito do quadro clínico da mãe. Estamira ficou sob os cuidados de sua mãe e do avô após o falecimento do pai, sua mãe sofria de transtornos mentais e o avô além de abusar dela sexualmente, a levou para um bordel, quando tinha apenas 12 anos de idade, ficou lá por cinco anos, até conhecer o seu primeiro marido, com quem teve o primeiro filho.

O casamento não durou muito, pois o marido era mulherengo e agressivo. E passado algum tempo depois, Estamira conhece seu segundo marido. Após casar-se novamente com um emigrante italiano, tem um segundo filho.  Confessa que amava o companheiro, porém o relacionamento também era conflituoso. O novo marido insistia em internar sua sogra em um hospício, Estamira relutou bastante, mas acabou cedendo e sua genitora foi para o Hospital Psiquiátrico Pedro II.

O relacionamento fracassou por motivos comuns ao casamento anterior. Estamira é expulsa da casa do italiano e então, recomeça sua vida no Jardim Gramacho e é de lá que retira o sustento da família. Assim que se instalou ali, foi buscar a mãe no sanatório psiquiátrico, que era famoso até meados da década de 80, pelos maus tratos a seus pacientes (SZABÔ et al, 2013).

Carolina conta do recomeço no lixão depois da separação dos pais, disse que a rotina de Estamira como catadora era muito desgastante, chegando a dormir várias noites na rua ao relento, aquela realidade insalubre descontentava os filhos que convenceram a mãe de procurar um novo emprego. No novo trabalho tudo parecia favorável até que um certo dia, voltando de uma confraternização da firma, foi estuprada no caminho. E outro episódio de violência sexual aconteceu próximo a sua casa. Mais ou menos nessa época que Estamira começa a apresentar distúrbios psíquicos (CARVALHO, 2010).

Ela reage de forma muito negativa quando o assunto é Deus ou Jesus Cristo, manifesta crises de raiva, euforia e delírios de grandeza. Até se coloca como superior a Deus, nos seus delírios, mas nem sempre foi assim, segundo a filha Carolina a mãe era uma mulher religiosa antes dos distúrbios mentais e acreditava que todo aquele sofrimento pelo qual estava passando era uma provação divina (CARVALHO, 2010).

Segundo Carvalho (2010), o filho Hernani já contou com a ajuda do padrasto italiano para levar a mãe do aterro imobilizada, em busca de uma internação, em algum hospital psiquiátrico do Rio de Janeiro, essa atitude a deixou revoltada e inconformada. O filho é protestante e diz que evita a mãe porque ela blasfema contra religiões e principalmente contra a dele. Evita também por ela ser “clinicamente completamente louca”. Também coloca que “espiritualmente falando ela tem influências demoníacas”. Ele confessa o desgaste da relação e se diz cansado, o que justifica o distanciamento dos dois. Já Carolina não concorda com as internações e prefere as coisas do jeito que estão sem a necessidade da mãe ser amarrada e dopada.

Conforme Sousa (2007), Estamira não mede as palavras e sua indignação vem à tona, acompanhada de delírios, que por sua vez tem a coerência e a lucidez de abarcar os valores falidos de nossa sociedade, uma verdadeira denúncia social de nosso tempo. Um exemplo tem haver com a burocratização do saber referindo-se aos doutores, como: “copiadores de receita”. Questiona, portanto, os automatismos das prescrições e expõe uma falta de originalidade nos atendimentos do serviço de saúde mental, a maneira ainda preponderante de enxergar o quadro clínico do paciente pautado no modelo médico, ou seja, isolando a singularidade do sujeito.

Outra problemática levantada pela protagonista é o consumismo exacerbado de nossa cultura, ela se refere ao lixo dizendo: “Isso aqui é um depósito de restos. Às vezes é só resto. E às vezes vem também descuido. Resto e descuido”. O homem se apega ao desnecessário e precisa frequentemente recorrer à compra numa ilusória busca de prazer, que é imediato e que não preenche as lacunas existenciais pendentes, dessa forma, o desperdício é inevitável, até porque há uma constante substituição, ou seja, é um ciclo vicioso.

O documentário e a personagem problematizam o desamparo humano, seja ele, biológico, familiar, também social, econômico e político. E Estamira não só vivencia todos os dias esse descaso, como aproveita a oportunidade de ser ouvida para estampar sua revolta, mostra o que faz-se questão de ser ignorado, esquecido, deixado de lado. Mostra que além dos rótulos ela tem identidade própria, ela tem sentimentos, história, sabedoria e traumas. (JUHAS; THIAGO, 2011).

Ela fala, grita, pensa, demonstra, faz, olha, argumenta. Sua voz é o fio condutor de toda a narrativa do documentário, e revela o quanto o poder narrar e expressar um sofrimento faz a vida resistir, mesmo no meio dos escombros e dos detritos” (SOUSA, 2007, p.52).

Estamira morre no dia 28 de julho de 2011, no Hospital Miguel Couto, Rio de Janeiro, mais uma vez negligenciada, vítima do caos da Saúde Publica precária de nosso País. Faleceu em decorrência de uma septicemia (infecção generalizada).

Relação entre o documentário e o tema crise

Os CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), NAPS (Núcleos de Atenção Psicossocial) e CERSAMs (Centros de referência de Saúde Mental) são os então “serviços de atenção à crise” que propõem outra intervenção que não a asilar/hospitalocêntrica preponderante antes da reforma psiquiátrica e da luta antimanicomial, houve uma reformulação da assistência em Saúde Mental. (FERIGATO; CAMPOS; BALLARIN, 2008).  Mas será que depois dessa reformulação o sujeito que sofre psiquicamente tem o suporte que necessita? Sente-se acolhido? Reconhece aquele espaço como um apoio, o qual pode confiar?

No documentário o que fica claro pela personagem é uma contundente crítica ao atendimento prestado pelo serviço, como mencionado anteriormente, refere-se aos médicos como “copiadores de receita”, não compreende a rapidez com que se chega a um quadro clínico, numa breve conversa, e como logo uma medicação universal é prescrita, sem o cuidado de pensar se aquela seria a melhor opção para o seu caso em específico.

De acordo com Ferigato; Campos e Ballarin (2008), a medicação não pode ser vista como a única e suficiente solução para o paciente, no que tange o rebaixamento da sintomatologia, mas de ser ministrada no intuito de estabelecer condição de relação diferente entre paciente e seu problema, equipe e meio ambiente.

[…] cada decisão de uma intervenção farmacológica deve estar incluída dentro de uma estratégia geral que tem em seu centro o projeto terapêutico singular do usuário e não a simples eliminação dos sintomas. Caso contrário, da mesma forma que os psicotrópicos podem representar um importante meio de trabalho e de comunicação dentro e fora da instituição, facilitando a relação entre o paciente e a vida, quando mal administrado, podem também representar o maior obstáculo desta mesma relação. (SARACENO et al., 2001, apud FERIGATO; CAMPOS; BALLARIN, 2008, p. 39)

Agressões conjugais, estupros, traições, miséria e outros, segundo Portella, Bueno e Nardi, (2001 apud CARVALHO, 2010) são possíveis estressores ambientais causadores de distúrbios mentais. Porém estes fatores ambientais psicossociais devem pressionar uma vulnerabilidade específica, como genes ou hereditariedade. O filme traz estes dois fatores – hereditariedade e ambiente.

A crise, elucida Ferigato; Campos e Ballarin (2008) pode emergir de uma situação imprevisível, por exemplo a morte, ou previsível como gravidez e envelhecimento. “Nesta perspectiva o adoecimento é entendido como uma forma de adaptação e de reação do sujeito frente aos estímulos internos ou externos ao organismo” (p. 24).

O documentário proporciona um espaço de escuta a Estamira e dessa forma ela aproveita a oportunidade para jogar para fora tudo que a muito tempo se acumulava. Segundo Carvalho (2010), mesmo em um lugar tão insalubre e fétido, Dona Estamira encontra formas de driblar uma realidade aparentemente intolerável, ela se distrai e interage com os colegas de trabalho e naquele lugar ela se vê livre dos preconceitos que seus distúrbios e a própria sociedade lhes traz.

REFERÊNCIAS:

CARVALHO, H. E. Loucura no Cinema e no Jornal: olhar da divulgação científica com análise fílmica e de repercussão do documentário Estamira na mídia impressa brasileira. 2010. 76 f. Monografia (Especialização em Divulgação da Ciência, da Tecnologia e da Saúde) Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2010.

FERIGATO, Sabrina; CAMPOS, Rosana Teresa Onoko; BALLARIN, Maria Luisa GS. O atendimento à crise em saúde mental: ampliando conceitos. Revista de Psicologia da UNESP, v. 6, n. 1, 2008.

JUHAS, Thiago Robles; SANTOS, Niraldo de Oliveira. Ainda em cartaz, “Estamira”: A Psicanálise nas telas do Cinema. Estud. psicanal.,  Belo Horizonte ,  n. 36, p. 157-164, dez.  2011 .   Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-34372011000300015&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em  09  maio  2016.

RICARDO VILLELA (Rio de Janeiro) (Ed.). Morre Estamira: personagem-título de premiado documentário brasileiro. 2011. Disponível em: <http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2011/07/morre-estamira-personagem-titulo-de-premiado-documentario-brasileiro.html>. Acesso em: 10 maio 2016.

SOUSA, Edson Luiz André de. Função: Estamira. Estud. psicanal.,  Belo Horizonte ,  n. 30, p. 51-55, ago.  2007 .   Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-34372007000100007&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em:  09  maio  2016.

SZABÔ, Alexandre ET al. VII JORNADA DE SOCIOLOGIA DA SAÚDE. ISSN: 1982-5544, 2013, Curitiba. OS DELÍRIOS DE ESTAMIRA: DA INVISIBILIDADE À EXCLUSÃO SOCIAL. Núcleo de Estudos e Pesquisas em Bioética – NEB. Faculdades Pequeno Príncipe. Curitiba, 2013.

FICHA TÉCNICA DO FILME: 

ESTAMIRA

Diretor: Marcos Padro
Elenco: Estamira
Pais: Brasil
Ano: 2006
Classificação: Livre

Compartilhe este conteúdo:

Abordagem CPR Emocional: o empoderamento do indivíduo em crise

Compartilhe este conteúdo:

Como parte da programação do III Fórum Internacional: Novas Abordagens em Saúde Mental Rio de Janeiro/RJ, a partir das 14h pôde-se acompanhar a apresentação do estadunidense Oryx Cohen, líder expoente da abordagem CPR Emocional, um programa desenvolvido com o objetivo de que pessoas ajudem umas as outras em situações de crise, de maneira mais humanizada e atenciosa.

Oryx definiu os peritos na abordagem através da perspectiva Junguiana do arquétipo do Curador Ferido, onde pessoas que se curaram das próprias feridas e desenvolvem a capacidade de ajudar outras pessoas passando por crises. Cohen, que se considera um Curador Ferido, aponta o problema de não se ouvir as pessoas que ouvem vozes e estão em situação de crise, sendo a aprendizagem da escuta completa a mensagem da CPR.

Citando dados dos Estados Unidos, o palestrante apontou os crescentes números envolvendo diagnósticos e definições de doenças mentais, levantando a hipótese de que essas doenças podem ser na verdade, reações a um mundo traumatizante. Assim como se descobriu que ao longo da história vários diagnósticos psicológicos foram na verdade errôneos e em uma visão presentista, absurdos seriam os diagnósticos atuais também equivocados?

Perpassando a dinâmica pós-moderna, onde se constata cada vez mais insatisfação quanto a modelos escolares, de trabalho e nas relações interpessoais, Cohen aponta um problema comunitário, de modo que os indivíduos apresentam reações ao seu ambiente.

Segundo Góis (1993, apud CAMPOS, 1996, p.11) “a psicologia comunitária […] estuda a atividade do psiquismo decorrente do modo de vida do lugar/comunidade, sendo seu problema central a transformação do indivíduo em sujeito”. Desse modo a produção de subjetividade que se faz a partir da inserção de um sujeito a um dado contexto social, apresenta características históricas, culturais e ideológicas, sendo que a atuação deve estar voltada para a tomada de consciência acerca dessa realidade singular, diluindo o que é despotencializante.

A abordagem CPR apresenta-se, portanto, alinhada aos ideais da Psicologia Comunitária, buscando transformar o indivíduo em sujeito ativo em seu meio, sendo ele o motor de sua própria cura. Isso seria possível, segundo Cohen, com um tratamento mais humano e autêntico, focado na conexão (Conect) com o outro; no empoderamento (emPower) desse indivíduo em crise; e a revitalização (Revitalize) da esperança e senso de pertencimento a sua comunidade (CPR).

A apresentação de uma abordagem que contempla uma perspectiva empoderadora, questionadora, e que sugere uma escuta completa e envolvida com o Outro, certamente merece atenção e reconhecimento. As ideias apresentadas por Cohen contemplam aspectos fundamentais para se pensar Saúde Mental e Psicologia, e, portanto foram extremamente proveitosas para fomento de pensamento reflexivo e para formação profissional.

REFERÊNCIA:

CAMPOS, Regina H. de F. (org). Psicologia Social Comunitária. Petrópolis: Vozes, 1996.

Compartilhe este conteúdo: