Participação no mercado de trabalho e formalização são menores entre tocantinenses com deficiência

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Os tocantinenses que possuem alguma deficiência estão menos presentes no mercado de trabalho. É o que aponta o estudo Pessoas com Deficiência e as Desigualdades Sociais no Brasil, divulgado nesta quarta-feira, 21, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2019, a taxa de participação para essas pessoas era de 33,9%, quase a metade do que entre àquelas sem deficiência (63%). Esse indicador mede a proporção de ocupados e de desocupados da população com 14 anos ou mais de idade.

Conforme o estudo, que tem como principal fonte a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) 2019, publicada em agosto do ano passado, a taxa de desocupação no Tocantins, por sua vez, era ligeiramente superior para pessoas sem deficiência (7,6%) do que para as pessoas com deficiência (6,9%). Mais enquanto quase metade (40,6%) dos trabalhadores sem deficiência estavam empregados em postos formais, esse indicador (taxa de formalização) era de 24,7% entre aqueles com deficiência.

“Há dificuldades em entrar no mercado de trabalho, e quando elas conseguem, essa vaga é proporcionalmente mais informal, de pior qualidade e com menos direitos. Também existem diferenças entre os tipos de deficiência. No caso das pessoas com deficiência mental, a inserção no mercado de trabalho é ainda mais difícil”, explicou o analista do IBGE Leonardo Athias.

População com deficiência

A edição 2019 da PNS identificou que 8,4% da população do país com dois anos ou mais de idade tinham algum tipo de deficiência. A maior proporção foi observada no Nordeste (9,9%), e a menor, no Centro-Oeste (7,1%). Entre as unidades da Federação, as maiores concentrações de pessoas com deficiência estavam em Sergipe (12,3%) e na Paraíba (10,7%), enquanto as menores estavam no Distrito Federal (5,2%), seguido por Mato Grosso (5,6%). No Tocantins, 9,4% da população com dois anos ou mais tinham alguma deficiência.

A pesquisa também constatou que a deficiência se concentra na população mais idosa e do sexo feminino: 31% das pessoas com 60 anos ou mais tinham alguma deficiência, enquanto entre as pessoas de dois a 59 anos esse percentual caiu para 5,4%. Entre as mulheres tocantinenses o percentual ficou em 9,9% e entre os homens 8,7%.

Acesso a benefícios

No Tocantins, cerca de 548 mil pessoas viviam em domicílios com rendimento inferior a meio salário mínimo per capita, sendo que 8,5% (47 mil) tinham alguma deficiência. Segundo a pesquisa, 53,8% (25 mil) dessas pessoas com deficiência receberam algum benefício social em 2019. O restante, 46,2% (22 mil), não tiveram acesso a benefícios.

O saneamento básico e a internet no domicílio também foram abordados no estudo. Apenas 18,9% das pessoas com deficiência tinham acesso simultâneo a serviços de esgotamento sanitário por rede coletora, pluvial ou fossa ligada à rede, água por rede geral e coleta de lixo (seja direta ou indireta). Entre aqueles sem deficiência, esse percentual era de 25,1%. Enquanto 80,2% dos tocantinenses sem deficiência tinham internet em casa, essa proporção era de 58,1% para as pessoas com deficiência.

Educação

O estudo também apontou uma diferença entre pessoas com deficiência e sem deficiência em relação à educação: entre os tocantinenses de 10 anos ou mais com deficiência, a taxa de analfabetismo foi de 32,7%, contra 7,9% do restante da população dessa faixa etária sem deficiência. Já entre a população idosa (de 60 anos ou mais) a taxa foi de 42,4% (com deficiência), contra 31,4% (sem deficiência).

A pesquisa revelou, por fim, que 72% da população tocantinense com deficiência acima de 18 anos não tinha nenhuma instrução ou possuía apenas o ensino fundamental incompleto; 10% tinha o ensino fundamental completo e médio incompleto; 13,3% estava no grupo de ensino médio completo e superior incompleto e apenas 4,4% tinha nível superior completo. Entre as pessoas sem deficiência, esses percentuais foram de: 35,2%, 13,9%, 36,6% e 14,3%, respectivamente.

Autor:

Unidade Estadual do IBGE no Tocantins

Supervisão de Disseminação de Informações

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Estratégias Lúdicas: a inserção da criança com deficiência no ambiente escolar

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Sabemos que a inserção da pessoa com deficiência no ambiente escolar é um tema constantemente debatido no campo social, seja pela busca em entender como o processo se desencadeia, buscando agir pontualmente em situações emergenciais, inclusive pela busca de elencar aspectos relevantes na influência desta inserção no ambiente escolar.

O livro destaca por inúmeros fatores relacionados à inclusão da pessoa com deficiência no contexto escolar de maneira holística, onde o sujeito seja entendido por completo, entendido e respeitado. A atuação do psicólogo possui importância extremamente significativa na busca por tais objetivos e justamente por este motivo é tão importante falarmos acerca da temática abordada.

Importante salientar que a atuação do psicólogo nesse processo inclusivo possibilita a compreensão de fatores familiares e sociais na influência do desgaste ou desmotivação escolar, algo essencial quando se fala sobre sermos empáticos ao lidarmos com as dores e mazelas alheias.

Fonte: encurtador.com.br/sMS13

Precisamos discutir cada vez mais perspectivas sobre a mudança contínua de um cenário que têm gerado exclusão ao invés de promover a inclusão, e esse é um desafio diário no campo de atuação profissional, algo que precisamos despertar em todos os profissionais inseridos neste contexto, afinal a partir do momento em que verdadeiramente trabalharmos juntos então poderemos ser a iniciativa que o mundo precisa.

Interessante à discussão acerca desta temática, porquê de alguma maneira é extremamente necessário que desencadeemos uma ampla reflexão acerca da inclusão social, inclusive torna-se plausível mencionar que para isto devemos nos amparar em uma análise multiprofissional que seja capaz de compreender a pessoa com deficiência dentro do próprio contexto que esteja inserida, ajudando-a de forma eficaz e contundente.

Fonte: encurtador.com.br/btBFH

[…] a Escola pode melhor do que nunca e, em todo caso, pela única maneira concebível numa sociedade que proclama ideologias democráticas, contribuir para a reprodução da ordem estabelecida, já que ela consegue melhor do que nunca dissimular a função que desempenha. Longe de ser incompatível com a reprodução da estrutura das relações de classe, a mobilidade dos indivíduos pode concorrer para a conservação dessas relações, garantindo a estabilidade social pela seleção controlada de um número limitado de indivíduos, ademais modificados por e pela ascensão individual, e dando assim sua credibilidade à ideologia da mobilidade social que encontra sua forma realizada na ideologia escolar da Escola libertadora. (Bourdieu; Passeron, 1992, p. 175-176).

O livro em questão justifica-se em realizar um debate construtivo acerca deste assunto, onde consequentemente mostra-se junto a uma diversidade de ideias distintas, onde antes de qualquer opinião deve-se priorizar o bem-estar da pessoa com deficiência e a garantia de que haja minimamente respeito ao analisar e discutir a temática no âmbito social.

FICHA TÉCNICA

Autora: Kelem Zapparoli

Formato: 14x21cm

Idioma: Português

Capa comum – 2 de janeiro 2012

Páginas: 152

Ano de publicação: 1º edição – 2012 / 2º edição – 2014

 

Referência:

BOURDIEU, R. K. Inclusão: construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro, WVA, 1997.

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A ascendência familiar no progresso das pessoas com deficiência

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A revelação da deficiência de um descendente pode originar um convívio traumático, que muda, mexe com o nível emocional de todos os membros da família. Por meio do diagnóstico, a família toda, busca se remodelar, na intenção de se adaptar, no objetivo de rebuscar o equilíbrio familiar, visto que, todos os membros da família serão tocados.

No decorrer da gestação até o nascimento do bebê, há em alguns integrantes da família uma intensidade de sentimentos, objetivos, probabilidades, ideias, quando acontece o nascimento da criança, que são desfeitas quando a verdade impõe uma situação distinta daquela anteriormente imaginada. A origem de um bebê “imperfeito”, quer dizer, deficiente justifica um impacto emocional aos pais, e essencialmente nas mães, e também à equipe de saúde responsável por comunicar o diagnóstico.

No tempo em que o diagnóstico ainda não foi notificado, manifesta-se um sentimento de negação da deficiência do filho, proporcionando aos pais um intervalo essencial para passar pelo impacto que virá depois. Em algumas ocasiões, as emoções preliminares dos pais e familiares, são repentinas e estáveis, porém, para outros familiares podem durar anos ou se tornarem permanentes.

Para os genitores do sujeito diagnosticado com alguma deficiência, este retrata o luto do filho projetado, aquele imaginado e esperado. Desta forma, para que o descendente verdadeiro, venha a ter existência, passe a ser aprovado, recebido é necessário que os pais e a família, passem pelo processo de luto do filho idealizado (BARBOSA; CHAUD; GOMES, 2008).

Conforme a forma que estes familiares passem por este luto, começam a produzir expectativas que vão de positivas até negativas. É primordial destacar, que essas expectativas também podem ser manipuladas pelas explicações que constituem a causa da deficiência (BRUNHARA; PETEAN, 1998).

Melhor dizendo, na imensa maioria dos casos, as mães anseiam que o desenvolvimento do filho progrida ou seja normal, ou seja, a obstinada busca pela “milagrosa” cura. Depois da passagem pelo período de luto do filho “ideal”, e adequação à nova realidade dos familiares, afloram as possibilidades a frente do filho “verídico”, isto é, com deficiência.

REFERÊNCIAS

ANACHE, A., A.; MITJÁNS, A., M. Deficiência mental e produção científica na base de dados da CAPES: o lugar da aprendizagem. Revista Semestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (ABRAPEE), Campinas,SP, v.11, n.2, p. 253-274, jul/dez. 2007.

BARDIN, L. Análise de Conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011.

BARBOSA, M. A M.; CHAUD, M. N.; GOMES, M. M. Vivências de mães com um filho deficiente: um estudo Fenomenológico. Acta Paulista de Enfermagem, São Paulo, SP, v.21, n.1, p.46-52, Jan/Fev. 2008.

BASTOS, O.M.; DESLANDES, S., F. A experiência de ter um filho com deficiência mental: narrativas de mães. Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, RJ, v.24, n.9, p.2141-2150, set.2008.

BRUNHARA, F. C. R. & PETEAN, E. B. L. Expectativas dos Pais Quanto ao Desenvolvimento de seus Filhos Portadores de Deficiência. Anais do II Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento. Gramado, R.S, 1998.

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A sexualidade da pessoa com deficiência

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Dentre os muitos grupos que estão à margem da sociedade, as pessoas com deficiência compõem a classe de maior vulnerabilidade, não somente pela invisibilidade das suas pautas mas também pela negação da existência de qualquer dignidade nas suas experiências de vida no setor público e no interior de movimentos sociais (LOPES, 2019).

As pessoas com deficiência já vivem rodeadas de estigmas e preconceitos, fatores que se mostram em evidência quando o assunto é sobre a sexualidade desses indivíduos. Estigmas e crenças errôneas consideram pessoas com deficiência muitas vezes incapazes e infantis, ou seja, pessoas que não poderiam exercer uma sexualidade saudável ou mesmo não apresentam sexualidade (assexuadas), também são vistas como incapazes de cuidar ou gerar filhos, manter relacionamentos saudáveis e consentir relações sexuais.

Segundo Silva (2006), o estigma a pessoas com deficiência, leva as mesmas, a serem tratadas pelo seu rótulo e não pela sua individualidade, o que pode ocasionar em generalizações sobre como esses indivíduos devem viver devido suas condições, o sujeito a quem é imposto esse estigma, incorpora e se identifica com esse rótulo, que determina o modo como deve comportar-se.

Devido aos preconceitos direcionados pela família e o meio social a que está pessoa está exposta, grande parte dessa população não tem acesso a informação ou orientação sexual, o que pode agravar os casos de abuso sexual, e doenças sexualmente transmissíveis e influenciar ainda comportamentos considerados inadequados (como a masturbação em público) que influenciam nas crenças da hipersexualidade. Ocorre ainda grande influência da esterilização compulsória, que impulsiona as pessoas com deficiência de abrirem mão da possibilidade de terem filhos.

Fonte: l1nq.com/QiNI4

Tais fatores estão amplamente ligados ao capacitismo, que pode ser interpretado com o preconceito ligado as pessoas com deficiência que podem influenciar cada vez mais nas crenças populares errôneas e preconceituosas a respeito da sexualidade da pessoa com deficiência. O que influencia na falta de acesso a informação dessas pessoas sobre o seu corpo, e sua sexualidade, métodos contraceptivos, busca e criação de políticas públicas que possam dar suporte a esses indivíduos, e ainda a criação de novas leis que façam acontecer a inclusão desses indivíduos na sociedade não apenas em meios sociais, mas também levando em conta suas necessidade e desejos biológicos e psicológicos. O empoderamento dessas pessoas então surge como um meio de agir diante os preconceitos.

O empoderamento é um processo coletivo e individual, que propicia o desenvolvimento de potencialidades, tornando o sujeito capaz de tomar decisões sobre sua vida levando em conta suas vontades. Esse conceito dá início a uma compreensão sobre promoção da democracia e atenuação da vulnerabilidade das pessoas com deficiência, pois proporciona seu fortalecimento, e sua crença de valor em si mesmo, como um indivíduo capaz de tomar decisões e fazer escolhas (DANTAS; SILVA; CARVALHO, 2014). A solidificação dos estudos sobre a deficiência, na década de 1960 aumentou à ação pela reivindicação de direitos e a luta das pessoas com deficiência para tornarem-se protagonistas de suas vidas (DINIZ et al., 2009).

Apesar de toda a luta pela inserção educacional, social e ao acesso à saúde para pessoas com deficiência, não ocorrem muitas discussões sobre a inclusão afetiva e sexual desses indivíduos. Quando uma pessoa com deficiência é conceituada como um sujeito que não exerce ou não é favorecido de sua sexualidade, negligencia-se o acesso à informação sobre orientação e educação sexual e cuidados referentes a situações de abuso (MAIA; RIBEIRO, 2010).

De acordo com Ramalho e Souza (2005) em diversos aspectos a vida do portador de deficiência, é bem parecida dos demais, dispõem momentos de alegria e conquistas, em outras palavras, bons e maus instantes como qualquer ser humano, se divergem em uma especificidade, são vítimas do preconceito de discriminação.

REFERÊNCIAS

DANTAS, Taísa Caldas; SILVA, Jackeline Susann Souza; CARVALHO, Maria Eulina Pessoa de. Entrelace entre gênero, sexualidade e deficiência: uma história feminina de rupturas e empoderamento. Rev. bras. educ. espec.,  Marília ,  v. 20, n. 4, p. 555-568,  Dec.  2014 .   Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-65382014000400007&lng=en&nrm=iso>. Acesso em:   15  set  2020.

DINIZ, D.; BARBOSA, L.; SANTOS, W. R. Deficiência, direitos humanos e justiça. São Paulo.2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-64452009000200004>. Acesso em: 15  set  2020.

LOPES, L, S. A luta das pessoas com deficiência pelo direito de estar no mundo. Justificando Mentes Inquietas  Pensam Direito. 4 de julho de 2019. Disponível em: <https://www.justificando.com/2019/07/04/a-luta-das-pessoas-com-deficiencia-pelo-direito-de-estar-no-mundo/>. Acesso em: 15  set  2020.

MAIA, Ana Cláudia Bortolozzi; RIBEIRO, Paulo Rennes Marçal. Desfazendo mitos para minimizar o preconceito sobre a sexualidade de pessoas com deficiências. Rev. bras. educ. espec.,  Marília ,  v. 16, n. 2, p. 159-176,  Aug.  2010 .   Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-65382010000200002&lng=en&nrm=iso>. Acesso em:  15  set  2020.

RAMALHO C, E; SOUZA J, B, R. Dificuldades da inclusão do deficiente físico no mercado de trabalho. Revista Científica Eletônica de Administração. 2005. São Paulo. Disponível em: <http://faef.revista.inf.br/imagens_arquivos/arquivos_destaque/msnp3KrdnoUlhbw_2013-4-26-12-19-25.pdf>. Acesso em: 15  set  2020.

SILVA, Luciene. O estranhamento causado pela deficiência: preconceito e experiência. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, v.11, n.33, p. 424-561, 2006.   Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v11n33/a04v1133.pdf>. Acesso em: 15  set  2020.

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A Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla deste ano busca transformar o conhecimento em ação

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A Semana reforça a necessidade de cumprir o que está na legislação brasileira para a garantir os direitos das pessoas com deficiência  

Com o tema ‘É tempo de transformar conhecimento em ação’, a Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla inicia amanhã, 20, e vai até o dia 28 de agosto, com a finalidade de realizar ações focadas na promoção do conhecimento dos direitos dessa parcela da população para que sejam respeitados e cumpridos efetivamente.

A Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla foi criada pela Federação Nacional Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAES) que inicialmente foi titulada de Semana Nacional da Criança Excepcional pelo Decreto n° 54.188, de 1964, mas em 2017 foi alterada pela Lei n° 13.585 com o nome atual.

Durante a Semana Nacional, Secretaria de Cidadania e Justiça (Seciju), juntamente com a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) do Tocantins, levará informações a fim de sensibilizar as pessoas sobre o tema e assegurar direitos igualitários, inclusão social e cidadania às pessoas com deficiência.

Fonte: Apae Brasil

A gerente de Diversidade e Inclusão da Seciju, Nayara Brandão, fala que a Pasta vai trabalhar o tema com blitzes informativas em diversos pontos públicos da cidade, como shoppings centers, parques e feiras, além da entrega de cestas básicas às famílias. “A Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla é de suma importância e tem o objetivo de conscientizar a sociedade sobre a importância da inclusão, do respeito e dos direitos. Durante esta semana a Gerência de Diversidade e Inclusão Social estará levando informações para toda a sociedade através de blitz educativa com entrega de cartilhas”, explica a gerente.

A Semana

A diretora da Apae de Palmas, Ruth Coelho Dias Cavalcante, esclarece que a campanha permeia os trabalhos desenvolvidos pela instituição ao longo de todo ano, como instrumento de defesa e garantia de direitos e mobilização social. “O objetivo é divulgar conhecimento sobre as condições sociais das pessoas com deficiência intelectual e múltipla, como meio de transformação da realidade, superando as barreiras que as impedem de participar coletivamente em igualdade de condições com as demais pessoas”, frisa a diretora.

“Hoje o Brasil tem uma das legislações mais avançadas do mundo no que se refere à garantia de direitos das pessoas em situação de deficiência, no entanto, na prática, a maior parte do que se assegura na lei não é acessível a todos e o tema veio provocar o debate nacional sobre direitos a partir de conteúdos acessíveis sobre transporte, moradia, acesso à educação, saúde e assistência social, pensando em como assegurar que esses direitos se efetivem na vida diária dessas pessoas”, enfatiza a diretora da Apae.

Fonte: encurtador.com.br/yHN04

O que é deficiência intelectual e múltipla

De acordo com a Apae, a deficiência intelectual é um transtorno de desenvolvimento que faz com que o indivíduo tenha um nível cognitivo e comportamental muito abaixo do que é esperado para sua idade cronológica. Já a deficiência múltipla é quando pessoas são afetadas em duas ou mais áreas, caracterizando uma associação entre diferentes deficiências, com possibilidades bastante amplas de combinações.

Apae

A Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) nasceu em 1954 no Rio de Janeiro e hoje está presente em mais de 2 mil municípios em todo o território nacional e só na Apae do Tocantins, mais de 14 mil pessoas são atendidas nas 32 unidades do Estado.

Na Apae de Palmas, o trabalho debruça-se em promover a inclusão social das pessoas com deficiência intelectual e múltipla em todos o seu ciclo de vida, por meio das atividades nas áreas da educação, assistência social, proteção dos direitos, saúde, esportes, auto defensores, artes, danças, fonoaudiologia, psicologia, fisioterapia com implementação Pedsuit, todos atendimentos gratuitos às famílias dos assistidos.

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Crip Camp: Revolução pela Inclusão

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Um recorte da luta por direitos dos deficientes

O documentário Crip Camp: Revolução Pela Inclusão, retrata as vivências no inovador acampamento para pessoas com deficiência nos anos 70, bem como aborda posteriormente a batalha política por reconhecimento de igualdade e pelos direitos sociais e civis dessas pessoas. Influenciado pelo movimento hippie, o Camp Jened era uma colônia de férias, ao norte do estado americano de Nova Iorque, sendo considerada o fator motivacional para, mais tarde, um grupo de jovens com deficiência se mobilizarem em torno da causa que lutava pelos direitos de igualdade em uma sociedade que desconsiderava a inclusão. Tal mobilização mais tarde se tornaria um movimento de grande impacto nos Estados Unidos, o 504 Sit-in, que exigia a regulamentação de uma importante seção da lei norte-americana, concernente aos direitos das pessoas com deficiências.

A princípio, o documentário explora a rotina do acampamento, onde parecia não haver diferença entre os monitores e os campistas. Ali havia cadeirantes, jovens com paralisia cerebral e espinha bífida, entre outras condições. Contudo, tais condições eram meros detalhes onde todos estavam unidos pela semelhança entre si. Ali, compartilhando suas experiências, os jovens relatam suas inseguranças e sobre a realidade fora daquele lugar carregada de rejeição e exclusão. Mas a experiência vai muito além das conversas sobre a vida, a ponto de compreender uma vivência surreal de acolhimento e aceitação.

Na colônia de férias, onde eles vivem o que não é costumeiro, sentem como se a deficiência não fosse uma limitação ou algo que os diferem dos demais, pois todos têm isso em comum. Com as atividades que eles desenvolvem, o que aprendem e até mesmo as relações amorosas os fazem se sentir iguais, diferentemente de como se sentem fora do acampamento.

Para contextualizar a época desses eventos descritos, em contrapartida é abordado no documentário instituições de “cuidados especiais” para pessoas com deficiência, onde o modelo segregacionista de cuidados era a prática de saúde adotada. Essas estruturas asilares aplicavam práticas desumanas de cuidados. Os internos viviam em meio a sujeira, recebiam uma má alimentação, dormiam em lugares que não favoreciam o bem-estar físico, eram muitas as atrocidades cometidas em seu interior que violavam os direitos humanos.

Fonte: encurtador.com.br/dBIT9

O documentário apresenta questões históricas vivenciadas por essas pessoas, como a exemplo iniciando na idade média, por alguns séculos elas eram tidas como aberrações, ou “criaturas” que estivessem sob alguma forma de castigo celestial, podendo ser retratadas em filmes e etc. como tais. Sendo assim começou o afastamento por parte da sociedade dessas pessoas, pondo-as em instituições fechadas ou até mesmo em sua maioria, sanatórios. O que ocorria há até pouco tempo atrás como relatado no próprio documentário, que estes quando em atividades na cidade eram tidos como problemáticos para os “normais”.

Contudo, ao considerar o ambiente inclusivo do Camp Jened, onde todos são eles próprios, sem os estereótipos e rótulos, fica clara que, no que tange às deficiências, o problema não era com as pessoas com deficiência, mas o problema era com os que não tinham nenhuma deficiência. No acampamento, eles brincavam, cantavam, namoravam, eram irreverentes e faziam jus ao espírito da contracultura de sua época, vivendo à sua maneira de uma forma inspiradora e motivacional.

McGill (2020), analisando a experiência do Camp Jened salienta a irreverência e o ativismo no brilho do verão, cujo radicalismo moldou várias gerações. Quanto à irreverência, isso é explícito nas filmagens da época, onde os jovens não têm nenhuma inibição quanto a falar de temas tidos como tabus, tal qual a sexualidade e o corpo humano. Isso pode chocar aqueles que não esperam tal comportamento dessas pessoas, devido à suas deficiências. Contudo, o documentário deixa implícita a lição de que eles, por serem jovens, por serem humanos, têm as mesmas necessidades que os demais, as quais variam apenas em sua intensidade e as circunstâncias pessoais.

Desde 1951 até seu encerramento em 1977, o acampamento proporcionou lugar onde adolescentes com deficiências podiam atuar e sentir-se livres. Isso compreendia uma abordagem permissiva do comportamento, e também uma cultura política que abriu caminho para o ativismo futuro. Suas discussões mostram que eles eram cientes de suas dificuldades, e ainda mais cientes de seus direitos, os quais eram cerceados pelos preconceitos alheios e pela inadequação das edificações, na contramão da acessibilidade.

Fonte: encurtador.com.br/pwMU4

A fala dos campistas revela seus desafios. Jimmy Lebrecht queria ser parte do mundo, mas não via ninguém como ele nesse mundo, tentava se encaixar em um mundo que não foi construído para ele. Segundo ele, todos no acampamento viram que suas vidas poderiam ser melhores, e que não há nada para lutar se o indivíduo não sabe que algo a ser conquistado existe. Para Steve Hoffman, todos eles querem ficar sozinhos às vezes, pensar sozinhos, mas lhe negavam o direito à privacidade. Para Corbett O’Toole, o mundo não os queria por perto, queria-os mortos. A realidade era, “será que sobreviverei? Será que recuo? Será que luto para estar aqui?”. Ele dizia que alguém poderia chamar isso de raiva, mas ele via como impulso para estar disposto a prosperar, ou não conseguiria nada.

Para Judith Heumann, quem na infância contraiu poliomielite e, por consequente, a levou a precisar de cadeira de rodas, um dos verdadeiros problemas é que, ao crescer deficiente, a pessoa não é considerada nem homem, nem mulher, é pensada como alguém deficiente e até mesmo assexual. Heumann não acreditava sentir vergonha de sua deficiência, mas sentia mais exclusão. Para essa jovem, que anos mais tarde lideraria a luta internacional pelos direitos das pessoas com deficiência, se ela e as pessoas como ela não se respeitassem a si próprias, e não exigissem o que elas acreditam que deveria ser delas, não iriam conseguir.

A inspirador papel de Judith Heumann, com seu espírito de liderança que a acompanha desde a juventude, é um dos mais comovedores no documentário. Em uma cena, durante o acampamento, ela lidera e coordena seus companheiros acerca dos ingredientes para um almoço. Abaixo, fotografias de Heumann quando jovem e atualmente. Anos mais tarde seria uma das organizadoras de um ato que pressionaria Washington, e posteriormente se converteria em uma das principais ativistas pelos direitos das pessoas com deficiência, a nível mundial.

No acampamento, a experiência de aceitação por parte dos outros traz à tona uma verdade inspiradora, o fato de que a mudança é possível, de que os direitos podem ser desejados e, principalmente, é possível lutar por eles até as últimas consequências. Bastaria que eles estivessem unidos em prol das causas coletivas.

Fonte: encurtador.com.br/uxzM5

Apesar da liberdade proporcionada no acampamento, os próprios jovens reconhecem que aquela colônia de férias era uma utopia, que passaria tão logo acabasse o verão e eles voltassem para suas cidades. Razão pela qual houve choros na despedida, prestes a retornarem à agitação e impaciência na cidade grande.

Porém, a feliz vivência no acampamento mostrou-lhes que a realidade poderia ser diferente do que vinha sendo, e que deveriam lutar, ir atrás dos seus direitos porque, se ficassem resignados, ninguém iria fazer algo ao seu favor. Assim sendo, mais tarde houve um movimento que lutou pela aplicação da Lei de Reabilitação, mais precisamente a seção 504 da referida lei, que atesta que organizações que recebem recursos federais não podem discriminar uma pessoa por causa de sua deficiência.

Houve resistência por parte das autoridades, mas – após fortes manifestações, ocupação do prédio federal da Secretaria de Saúde, Educação e Bem-Estar Social, por duas semanas, além de greve de fome, aliado ao apoio de pessoas ligadas à causa LGBT, aos Panteras Negras e a uma igreja progressista – o secretário Joseph Califano regularizou a aplicação da seção 504.  Hoje os EUA detêm a Lei dos Americanos com Deficiência, que garante aos americanos portadores de necessidades especiais a proteção dos seus direitos civis de ter um emprego, de ter acesso à educação, saúde, transporte e lazer.

Entre os envolvidos nesse movimento pela aplicação da lei, incluindo Judy Heumann, uma dos organizadores dos protestos – quem segura um cartaz na foto acima, e fala ao microfone na fotografia abaixo – havia pessoas que fizeram parte do Camp Jened.

Fonte: encurtador.com.br/qHIY5

Esse era o ápice de uma experiência iniciada no acampamento, a qual desde o primeiro momento envolvia união, validação das emoções e dos discursos, e resultou na coletiva demanda pelos direitos que o Estado, a todo custo, ignorava e buscava esquivar-se disso.

Assim sendo, a emocionante experiência daquela colônia de férias ensina como uma vivência compartilhada com um número reduzido de pessoas pode resultar em lutas contra um sistema indiferente à inclusão, o que leva mudança para milhões de cidadãos. Nesse caso, o governo da maior potência mundial viu-se encurralado e obrigado a cumprir com sua obrigação. Além disso, a experiência do surreal acampamento – que não deixou de ser um experimento social ousado – mostra que, muitas vezes, pessoas com deficiência são mais compreendidas entre os seus iguais, pessoas que passam por lutas semelhantes às suas. O Camp Jened ensina que o problema não é do que não consegue usufruir plenamente de um lugar ou serviço, mas do ambiente que não propicia um direito basilar. Por isso há um dito de que, se um lugar não é apto para todas as pessoas, tal lugar é deficiente.

Obviamente a dimensão política que, de alguma forma, germinara naquele acampamento é estupendamente maravilhosa, isso é bem ressaltado no documentário. Entretanto, a obra também prova como qualquer pessoa pode ter uma vida satisfatória, desde suas vivências sociais até sua íntima vida sexual. McGill (2020) cita que o documentário homenageia a irreverência que tornou a experiência do acampamento tão poderosa. É evidente que, assim como ocorria afora, o Camp Jened era uma amostra da contracultura, particularmente ousado em seu trato com a deficiência.

Retratada no documentário, Denise Sherer Jacobson, escritora com paralisia cerebral, conta como conheceu seu marido banqueiro no Camp Jened. Ela relata sua experiência de contrair gonorreia desde o seu primeiro encontro sexual, e como estava orgulhosa de si perante a reação perturbada do seu médico, pelo fato de ela ser sexualmente ativa. Jacobson, então, fez um mestrado em sexualidade humana. O documentário termina com ela, de volta ao local onde existiu o acampamento, a dizer “quase quero sair da minha cadeira de rodas e beijar a merda do chão”. Abaixo, uma fotografia de Denise, quando mais jovem, em cuja blusa se lê: “Por trás dessa camiseta está uma mulher sensual”.

Fonte: encurtador.com.br/jtMZ3

FICHA TÉCNICA DO DOCUMENTÁRIO

Nome: Crip Camp: Revolução pela Inclusão

Nome Original: Crip Camp

Cor filmagem: Colorida

Origem: EUA

Ano de produção: 2020

Gênero: Documentário

Duração: 106 min

Classificação: 14 anos

Direção: Nicole Newnham, James Lebrecht

Referências

Alexa Fernando. 11 Memorable Quotes from Crip Camp. Disponível em: <https://accessnow.com/blog/memorable-quotes-from-crip-camp/ >. Acesso em 12 de maio de 2021.

Judith Heumann. Wikipedia. Disponível em: < https://es.wikipedia.org/wiki/Judith_Heumann >. Acesso em 12 de maio de 2021.

McGill, Hannah. Crip Camp review: irreverence and activism in the glow of summertime. Disponível em: < https://www2.bfi.org.uk/news-opinion/sight-sound-magazine/reviews-recommendations/crip-camp-1970s-disability-rights-documentary>. Acesso em 12 de maio de 2021.

Crip Camp: A interview with Filmmaker Jim LeBrecht About Acessibility, Universal Design, and Spaces of Freedom. Disponível em: < https://archinect.com/features/article/150185908/crip-camp-an-interview-with-filmmaker-jim-lebrecht-about-accessibility-universal-design-and-spaces-of-freedom >. Acesso em 13 de maio de 2021.

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A vivência da pessoa com deficiência visual durante a adolescência: Hoje eu quero voltar sozinho

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O filme retrata a vivência do jovem Leonardo, quem tem cegueira desde a infância, e sua forte ligação afetiva com Gabriel, seu colega de classe recém-chegado à escola. Com leveza e sensibilidade, a trama retrata os desafios de viver com a cegueira, o preconceito contra demonstração de afetos homoafetivos, e também contra a possibilidade de que uma pessoa com deficiência possa ter um relacionamento afetivo e, por regra, seja assexual.

Antes da chegada de Gabriel, Leonardo era muito apegado à Giovana, sua colega de classe e melhor amiga. Na verdade, ela era sua única parceira na escola, além de ajudá-lo no caminho de volta para casa.

Apesar de não ter outras ligações sociais importantes – excetuando sua família – Leonardo vê na sua colega um acolhimento mais que suficiente. Isso vai muito além do que oferecer suporte no caminho de volta para casa, ou ser colega de grupo para fazer trabalhos escolares, está no modo como ela o trata como alguém autônomo na medida do possível.

Na verdade, Giovana demonstra querer que seu relacionamento com Leonardo vá além da amizade. Quando ela pensa em levar a relação de ambos a outro patamar, demonstra que vê Leonardo como alguém capaz de dar amor, independentemente de sua cegueira, capaz de amar como todo ser humano, então, quer buscar nele tal amor, viver com ele uma experiência romântica, embora para muitos seja absurdo alguém com deficiência amar e ser amado.

Obviamente, o forte vínculo que ela tem com ele, as experiências escolares e sociais, é a base desse desejo. Não as experiências em si, mas os sentimentos envolvidos que tornam maiores as vivências interpessoais, para não serem meros encontros frios e superficiais. Isso mostra que os relacionamentos e afetos envolvidos nascem das experiências entre pessoas, e não necessariamente se devem a aspectos como cor da pele ou condições médicas de uma das partes.

Fonte: encurtador.com.br/fHNZ5

Mas, Giovana tem dificuldade em revelar o que sente pelo amigo, o que torna mais difícil para ela é o fato de que ele não poderá ver seus sinais de interesse. A jovem vê seu desejo mais distante da realidade quando o novo aluno chega, e Leonardo passa a gastar mais tempo com Gabriel, tanto para atividades escolares quanto para momentos de lazer. Ressentida, sentindo-se trocada e preterida, Giovana se afasta do velho amigo, sem imaginar que o que está germinando entre os dois vai mais além da amizade.

Gabriel é importante para Leonardo desde o momento em que ele ouviu a voz dele pela primeira vez, na sala de aula. As vivências entre ambos se tornam mais complexas no decorrer do tempo, das obrigações escolares, dos momentos de lazer. A cegueira do colega parecer não ter relevância para Gabriel. Na verdade, este às vezes esquece que Leonardo é cego, quando lhe pergunta se ele viu um vídeo da internet e outros lapsos do tipo.

No entanto, ambos vão ao cinema, onde Gabriel descreve as cenas de um filme para Leonardo na melhor forma possível. A essa altura da história é visível que a deficiência, embora seja reconhecida como tal, não é importante o suficiente para causar embaraços e desconforto para nenhuma das partes. Leonardo, obviamente, já conhece sua falta de visão. Gabriel, por sua vez, mal a percebe, enquanto volta-se para o amigo em sua totalidade.

Ambos nutrem sentimentos recíprocos, contudo, não sabem disso. Gabriel, ao mesmo tempo em que investe em tempo com Leonardo, parece muito ligado às garotas da escola, o que confunde o protagonista. Assim, descobrir a verdade só é possível com o tempo e o rumo que a relação toma.

Além da tensão sexual, Leonardo lida com o bullying na escola e uma mãe superprotetora. Ele está bem integrado na escola, tem ferramentas assistivas que lhe dão suporte, mas isso irrita alguns colegas, os quais o ridicularizam abertamente. Isso prova como a integração isoladamente não basta, e que grande parte do problema reside numa opinião tortuosa, generalizada, sobre o que é ter deficiência. Tal preconceito existe mesmo dentro de sua própria família. Na verdade, é o no seio familiar que isso parece mais forte, graças à mãe que teme pelo filho, dando à cegueira um drama exacerbado e até mesmo fatalista.

Fonte: encurtador.com.br/eiyM9

A inclusão envolve um pleno acolhimento da pessoa com deficiência, em sua plenitude, indo além de prédios adequados, envolvendo uma mudança de cunho social, onde o preconceito e o bullying não têm vez. Chega a parecer utopia um mundo melhor, e ao mesmo tempo algo desesperador, se for levado em conta que até numa escola de alto padrão, onde a educação implicaria em respeito às diferenças, haja formas tão desumanas de tratar o outro. O que pensar, então, das escolas precárias onde a desordem e violência parecem regra do dia?

O tratamento social dispensado às pessoas com deficiência, geralmente, tem sido movido por desconfiança e chacota, e muitas vezes indignação contra os direitos dessas pessoas, os quais são vistos como privilégios.

Se para uns as pessoas com deficiência são privilegiadas, para outros eles são absurdamente incapazes, e quanto mais grande for o desejo dessas pessoas, maior ainda é o senso de que elas não conseguem o que querem. Quando Leonardo conta aos pais sobre sua vontade de fazer intercâmbio, é frustrado pela reação negativa da mãe com relação a tal ideia.

Segundo Vigo (2015) os estereótipos resultam em preconceitos, e lhes dão base de sustentação. Julgar precipitadamente é concluir antes de ter conhecimento cabal e fundamentado, e manter tal conclusão mesmo que haja provas contrárias, sendo, portanto, juízo parcial, obstinado e geralmente desfavorável a quem é julgado. A genitora não vê possibilidade de o filho cego estudar fora do país, e mesmo após ele provar que havia intercâmbio disponível para pessoas cegas, ela se mostra determinadamente contrária a isso.

Enquanto isso, o personagem principal lida com as incertezas quanto a Gabriel, ao mesmo tempo em que o tesão mostra quão claro e indubitável é o desejo. Não tem sua amiga por perto para revelar-lhe o segredo. Aparentemente Leonardo não tem receio com relação ao que os outros acharão de sua homossexualidade, mas muito mais sofre por não saber se o que sente é recíproco, e desconhecer qual seria a reação de Gabriel.

Fonte: encurtador.com.br/fnBLQ

Leonardo parece ter uma cegueira simbólica quando ele, consciente ou inconscientemente, seja por não contemplar cenas de intolerância ou por ser alguém de mente aberta, ignora os tabus e a aversão social às relações homoafetivas. Assim, com paz e inquietação, seguro do que sente, mas confuso quanto ao outro, nutre o desejo através das memórias, fantasias e masturbação.

Em alguns aspectos o filme parece um ponto fora da curva, se considerado o contexto social onde os preconceitos e estereótipos, a superproteção familiar, a educação sexual incompleta e as barreiras arquitetônicas são as principais condições que impedem o desenvolvimento e exercícios da sexualidade das pessoas com deficiência (CARVALHO; SILVA, 2018).

Além disso, há uma perspectiva cultural e histórica de pensar a deficiência não somente como uma marca corporal ou um diagnóstico, mas também como uma identidade política e social, uma identificação burocrática, administrativa e também um termo em disputa (GAVÉRIO, 2019).

Assim sendo, muitas famílias mantêm trancafiadas pessoas com deficiência ou em constante vigília. Isso oferece à família maior segurança, embora não necessariamente implique em segurança para os indivíduos com deficiência. É comum o tabu quando a família lida com um membro com deficiência, no que tange à possibilidade dessa pessoa manter relações sexuais saudáveis, inclusive há tabu quanto a educa-la a usar métodos contraceptivos e contra doenças sexualmente transmissíveis (GAVÉRIO, 2019).

Dutra (2019) cita a importância de saber que “deficiência” e “sexualidade” são construções sociopolíticas. Embora o senso comum considere que a deficiência e a sexualidade sejam coisas orgânicas e naturais aos humanos, tais categorias não vêm dos próprios sujeitos, mas são construídas na sua sociedade.

Fonte: encurtador.com.br/fivEP

Há um conceito, “looping”, que explica como uma prática social, que é nomeada cientificamente depois de muito tempo, torna-se categoria científica que passa a ser absorvida pelos indivíduos aos quais as práticas foram nomeadas. Os sujeitos se apropriam do termo e o transformam. Depois a Ciência se volta a esse termo transformando, o que resulta em tensão entre as práticas sociais e os saberes sociais dessas práticas (GAVÉRIO, 2019).

Há necessidade de uma educação sexual por parte de pais e professores, para que compreendam a sexualidade de crianças com deficiência, quem, na puberdade, terão desejos e curiosidades semelhantes aos das outras crianças da mesma idade, as quais não possuam deficiência. A diferença é que as com deficiência costumam ser mais vigiadas, e têm sua sexualidade abordada por muitos mitos. Em síntese, essas pessoas são tidas como naturalmente hipossexuais ou hipersexuais, ou mesmo assexuais.

Dutra (2019) sugere que, ao tratar da sexualidade e deficiência, propositalmente usar termos como “foder”, “trepar” ou qualquer outra equivalência em Português, para tirar a carga de inocência e infantilidade que frequentemente é lançada sobre pessoas com deficiência. Pois, ao tirar esse véu, todos se tornam somente humanos que fodem, que se masturbam e se relacionam amorosamente com outras pessoas. Afinal, como diz Centeno (2019), estar vivo é estar atravessado pela disposição ao prazer.

No que tange a Hoje quero voltar sozinho, é um mérito do filme o fato de ele, além de não romantizar a deficiência nem a dotar de drama excessivo, explorar com maior complexidade a vida do jovem protagonista. O foco não é o fato de ter ou não ter visão, pois isso é apenas detalhe de uma vida, mas a obra se debruça em um ser humano e tudo que lhe diga respeito, isto é, suas ansiedades, alegrias, sua vida erótica e as formas que usa para lidar com a tensão sexual, seu papel como amigo e colega de aula, de pessoa autônoma não apesar da deficiência, mas com a deficiência.

Independentemente de qualquer deficiência, é possível amar e ser amado, querer e ser querido, é possível estar excitado e provocar tesão, é possível explorar o novo, ter experiências raras, ter noção de um filme mesmo sem vê-lo, é possível mesmo ir para o exterior. É possível voltar sozinho para casa, ou mesmo acompanhado de um amor.

Fonte: encurtador.com.br/iqtX8

FICHA TÉCNICA DO FILME

Direção e Roteiro: Daniel Ribeiro

Produção: Daniel Ribeiro e Diana Almeida

Produção Executiva: Diana Almeida

Direção de Fotografia: Pierre de Kerchove

Direção de Arte: Olivia Helena Sanches

Montagem: Cristian Chinen

Produção: Lacuna Filmes

Elenco: Ghilherme Lobo, Fabio Audi e Tess Amorim

REFERÊNCIAS

CARVALHO; Alana Nagai Lins de; SILVA, Joilson Pereira da. Sexualidade das pessoas com deficiência: uma revisão sistemática. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/pdf/arbp/v70n3/20.pdf>. Acesso em 18 de maio de 2021.

CENTENO, Antonio. Estar vivo es estar atravessado pela disposição ao prazer. [Entrevista concedida a] Víctor M. Amela. Disponível em <https://www.lavanguardia.com/lacontra/20170501/422188080583/estar-vivo-es-estar-atravesado-por-la-disposicion-al-placer.html>. Acesso em 18 de maio de 2021.

DUTRA, Mari. Por que a sexualidade das pessoas com deficiência ainda é tabu. Disponível em: < https://www.hypeness.com.br/2019/06/por-que-a-sexualidade-das-pessoas-com-deficiencia-ainda-e-tabu/>. Acesso em 18 de maio de 2021.

GAVÉRIO, Marco Antonio. Por que a sexualidade das pessoas com deficiência é tabu. [Entrevista concedida a] Mari Dutra. Disponível em: <https://www.hypeness.com.br/2019/06/por-que-a-sexualidade-das-pessoas-com-deficiencia-ainda-e-tabu/>. Acesso em 18 de maio de 2021.

VIGO, Iria Reguera. ¿Son los estereotipos siempre malos? Prejuicios y estereótipos. Disponível em: <http://rasgolatente.es/estereotipos-malos-prejuicios-y-estereotipos/>. Acesso em 17 de maio de 2021.

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Intocáveis: desdramatizando limitações

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O filme “Intocáveis” retrata como Philippe, um homem endinheirado, após sofrer um acidente que o deixou tetraplégico, se relaciona com Driss, um jovem problemático,  sem experiência em cuidar de pessoas, mas que é contratado para ser seu assistente. Envolvendo drama e comédia, a obra é um retrato sensível da vida com deficiência, além de ressaltar a importância das relações que envolvam sinceridade e empatia, deixando de lado a pena pelo outro.

Os opostos são evidentes no filme. Um casmurro homem na meia idade e um jovem folgazão. Um milionário e seu cuidador cuja família vive em um reduto miserável da França. Contudo, dessas aparentes contradições e mundos opostos o filme absorve diversas lições, sem deixar de lado a leveza ao tratar os dramas. Se a diversidade é algo natural, o fato desses opostos torna-se um detalhe belo das diferenças humanas, as quais, não obstante, resultam na união entre esses polos distintos.

O que parece desgastado clichê, a ideia de que todos os seres humanos são sociais, e têm necessidades uns dos outros para as mais variadas situações, é retratada como amostra na história desses dois homens, e serve como premissa ao longo do filme, sem ênfase excessiva na tetraplegia do personagem central, pois ele, mais que tetraplégico, é pai de uma adolescente conturbada, tem apreço pela arte, tem tido aproximações com uma mulher, ainda preza pela aventura apesar do acidente que marcou o resto de sua vida, entre outros aspectos que seriam ignorados por uma perspectiva enviesada e reducionista.

A enorme diferença entre os dois personagens principais faz com que ambos aprendam um do outro, apoiando-se para superar os obstáculos de cada um. Em um mundo onde sujeitos com certas deficiências são rotulados a ponto de sofrerem exclusão, onde as pessoas são separadas por “aqueles sim, aqueles não”, o filme relembra que as aparências não importam – ou não deveriam importar – Driss, o cuidador, não julga Philipe por sua deficiência, nem Philipe julga seu cuidador por um histórico supostamente perigoso.

Fonte: encurtador.com.br/uvzFQ

O preconceito é derrubado quando as partes envolvidas se permitem conhecer e serem conhecidas, ainda que no fundo existam pequenas desconfianças, sobretudo por parte da família de Philipe. A grande questão é não permitir que essas suspeitas se tornem gritantes a ponto de determinarem o comportamento que leva à exclusão e intolerância.

Certamente com frequência somos, em alguma medida, movidos por estereótipos, que são crenças sobre outros grupos, as quais são generalizadas, num mecanismo usado para simplificar o mundo e dirigir nossa atenção ao que é relevante. Tais convicções podem estar corretas, equivocadas ou exageradas (VIGO, 2015). Os estereótipos podem ser mais ou menos certeiros, mas há problema quando são generalizados e tomados como verdades absolutas.

Segundo Vigo (2015), os estereótipos resultam em preconceitos, e lhes dão base de sustentação. Julgar precipitadamente é concluir antes de ter conhecimento cabal e fundamentado, e manter tal conclusão mesmo que haja provas contrárias, sendo, portanto, juízo parcial, obstinado e geralmente desfavorável a quem é julgado. Assim, os preconceitos nos coagem contra certas pessoas, simplesmente porque as identificamos com um grupo em particular. Isso é refletido como atitude através de sentimentos, predisposições, cognições e crenças. Em síntese, os estereótipos são as crenças que temos sobre um grupo, e os preconceitos são as atitudes, geralmente negativas, as quais levamos a cabo com relação a dado grupo social.

Vale ressaltar que, devido a um mundo complexo, onde recebemos grandes quantidades de informação de diversas fontes, que nos implicam na necessidade de tomar decisões, tais decisões precisamos tomá-las sem tempo suficiente para analisar tudo que é recebido. Assim, é necessário algum mecanismo para simplificar a realidade, sendo a categorização um desses mecanismos, com a qual organizamos o mundo classificando objetos e pessoas em grupos. Se classificamos as pessoas em grupos, podemos conseguir informação relevante e útil sem demasiado esforço (VIGO, 2015). O problema é que os preconceitos e estereótipos sirvam, não apenas como método rápido de obter informação, para usarmos essas informações de forma maléfica e injusta com outras pessoas.

Fonte: encurtador.com.br/hxX24

Driss nunca sentiu pena de Philipe, contudo, com seu carisma exacerbado, demonstrou empatia. – Na verdade, por justamente perceber que não era visto como coitado pelo rapaz, que o homem o contrata. Numa cena simbólica, após ouvir acerca do fato de Driss ser uma pessoa suspeita, negro, de uma “gente que não tem pena de ninguém”, Philippe responde que quer alguém sem piedade de sua condição.

É dito que sentir empatia pelos outros resulta na percepção de ver capacidades, e não as deficiências. Pelo contrário, sentir pena é portar-se como superior com relação à pessoa que supostamente provoca pena. Nesse caso, uma suposta compaixão tem na base um senso de ter tido sorte, ao contrário do outro que padeceu um infortúnio e é incapaz de muita coisa. Philippe percebia que seus parentes o tratavam como uma criança fragílima, digna de proteção e misericórdia, ao contrário de Driss, quem chegava a parecer indiferente à condição daquele sob seu cuidado.

No trato com pessoas com deficiência, é importante ter o cuidado de que as palavras e atitudes não denotem um paternalismo frio ou dramático, nem um senso de superioridade com relação ao outro. Afinal, indo além da mobilidade reduzida, todos têm algum tipo de deficiência ainda que mínima, razão pela qual recorremos a técnicas e ferramentas assistivas – como, além de cadeiras de rodas, os óculos etc. – que nos permitam uma melhor vida.

É preciso considerar que as habilidades funcionais das pessoas variam muito. A visão e audição variam de perfeita a nenhuma, os níveis de alfabetização e memória variam conforme as condições como dislexia, autismo, demência e estresse. Também as habilidades físicas das pessoas variam conforme as diferenças de mobilidade, destreza, força e níveis de dor (DUGGIN, 2016).

Fonte: encurtador.com.br/cvxF3

Contudo, reconhecer isso é um desafio numa sociedade capacitista, que não enxerga uma pessoa com deficiência como um ser humano “normal”, mas como indivíduo inferior, de menor valor, que não deve ser tratado da mesma forma. É preciso reconhecer que, no contexto brasileiro, em 2018 havia 14 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência (DIAZ, 2021).

Por fim, cabe citar que o filme também mostra como levar a vida com humor a torna maravilhosa. Todos têm defeito, às vezes rir deles pode fazer bem. Driss e Philipe têm uma vida repleta de ironias e dificuldades, mas eles não ficam estagnados nisso. Assim sendo, a principal lição do filme nos mostra que a deficiência não deve causar piedade na sociedade, mas ser tida como parte do que é ser humano, logo, não provocando surpresa ou desconfiança nos que não apresentam aparente condição médica. Quando se tem essa perspectiva, o sujeito é considerado mais além de sua deficiência, tido como alguém com potencialidades e que tem algo a oferecer, como qualquer pessoa.

Ficou evidente como as relações são importantes no processo de inclusão, indo além das meras mudanças de infraestruturas em prol da acessibilidade. Quando as relações são genuínas e marcadas pela conscientização, longe dos preconceitos, a deficiência torna-se apenas um detalhe, porque o sujeito, apesar de suas limitações, tem consigo mais do que possa sugerir seus aspectos externos.

Fonte: encurtador.com.br/djkOV

FICHA TÉCNICA DO FILME

Título Original: Intouchables

Duração: 112 minutos

Ano produção: 2011

Estreia: 31 de agosto de 2012

Distribuidora: California Filmes

Dirigido por: Eric Toledano, Olivier Nakache

Orçamento: € 9 500 000 milhões

Classificação: 14 anos

Gênero: Drama

Países de Origem: França

Referências

DIAZ, Luccas. O que é capacitismo e por que todos deveriam saber. Disponível em: <https://guiadoestudante.abril.com.br/atualidades/o-que-e-capacitismo-e-por-que-todos-deveriam-saber/>. Acesso em 17 de maio de 2021.

DUGGIN, Alistair. What we mean when we talk about accessibility. Disponível em: <https://accessibility.blog.gov.uk/2016/05/16/what-we-mean-when-we-talk-about-accessibility-2>. Acesso em 17 de maio de 2021.

VIGO, Iria Reguera. ¿Son los estereotipos siempre malos? Prejuicios y estereótipos. Disponível em: <http://rasgolatente.es/estereotipos-malos-prejuicios-y-estereotipos/>. Acesso em 17 de maio de 2021.

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Incluir e socializar ou normalizar os anormais – Eu deficiente

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A falsa segurança de normalidade, inserido e socializado desmoronou quando a condição antes tida como “normal”, mudou radicalmente para uma condição diferente, precisando de um auxílio biônico para ouvir melhor. Não sendo isso os monstros das minhas madrugadas, o contraste teria vários nomes, viria de várias formas, estaria em vários lugares, teria várias faces. O nosso olhar se prende ao cerne de algo, quando somos pego por uma força que nos atrai, algo tão forte que construído pelo tempo em nós corpos ambulantes, torna-nos resistentes comparados aos heróis de quadrinhos. Foi quando surgiu em determinada conversa, sobre a vontade de fazer uma pós, que um amigo falou sobre a possibilidade de inscrever-me como aluno especial no Programa de Pós-graduação do Núcleo de Estudos das Diversidades, Intolerâncias e Conflitos da FFLCH, USP, mais conhecido como Diversitas, que surgiu em mim a força de tentar.

A viagem semanal que faço a cidade de São Paulo deslocou meu corpo de um costume completamente diferente do que era de praxe, para essa cidade que atrai pessoas do mundo inteiro, em que ser normal ou anormal não faz muita diferença. Os corpos que geram imunidade e sobrevivem diante do determinismo, onde pessoas não procuram saber o nome do outro nem ao menos se cumprimentam, assim o povo dessa metrópole socializa-se e vive nessa grande bolha.

Está em São Paulo seria um sonho realizado, embora já tenha tido outras passagens por esta cidade, mas foi no Programa de Pós-Graduação que passei a ter um convívio mais próximo da cidade paulistana. Aos poucos, fui aprendendo a conviver com um trânsito absurdo, andar em ônibus, trem e metrô lotados, onde por muitas vezes somos jogados literalmente para fora na saída. Entender o que estava acontecendo comigo, nessa cidade, tornou-se visível a partir da disciplina Corpo, Conhecimento e Compreensão na Cidade, este corpo sou eu, tendo que me adaptar, conhecer, compreender esse espaço. O que antes era visto apenas como uma oportunidade de socializar, incluir pessoas, abriu-se o leque sobre necessidades maiores.

A experiência inicial, todas as semanas, de fazer parte de um espaço, de diversidade densa, contraste claros, aprendendo sobre os reflexos de experimentação que os corpos passam é um processo de desconstrução do pensamento do “eu corpo” pertencente à coletividade que começa logo nas primeiras aulas.

Fonte: encurtador.com.br/iklpT

A interdisciplinaridade de conversação, a experiência em conviver com a diversidade explicita que há na cidade, instiga mais ainda uma luta alimentada a alguns anos por inclusão e socialização como fundamental a dignidade humana. Segundo o que está elencado no escopo da Constituição de 1988, o que é percebido na cidade mais desenvolvida do Brasil é o desrespeito avassalador a esse direito.

Uma das leituras iniciais feitas neste processo foi Courtine (2013), Decifrar o Corpo, a partir de então entender o corpo como meio e não dissociá-lo da imagem e verbo. Enquanto a linguística e imagem é indícios fortes de identificação, o corpo não seria apenas o meio, mas também como suporte de imagem, existindo um corpo no meio que conversa de várias formas. O paralelo às minhas observações foi se provocando, de corpos com deficiência em Palmas, para corpos zumbis; linguagem de sinais, para linguagem de quem pertencem às favelas; imagens de corpos que dormem ao céu aberto expostos ao perigo, para minha casa simples em Palmas, um tripé que dialogou comigo no experimento inicial do meu corpo.

Assim tenta-se normalizar esses corpos dentro de seus espaços, assim como na cidade parisiense, em que os corpos eram usados como atrações para burguesia, expostos para trazer prazer aos poderosos. Quanto mais bizarro fosse a deficiência e maior capacidade intelectual tivessem, mais pessoas seriam atraídas. Uma prática de superveniência pelos próprios familiares desses corpos, tudo por um retorno financeiro.

Nos dias atuais a exposição tem outra roupagem, perguntei-me algumas vezes, enquanto estudante, com holística acadêmica, científica de pesquisador, se não seria um meio de blindagem, separar-me das imagens que falam; não me relacionando com imagens internas e externas ao ponto de me sentir um corpo incluído, nessa coletividade; assim como outros grupos distintos que apreciam esses corpos chamando-os por outros nomes.

Fonte: encurtador.com.br/bnIOR

Nas idas e vindas a cidade São Paulo, balbuciei comigo se na condição de pessoa com deficiência, eu não estaria me distanciando daquilo que meu próprio corpo sofre, com discriminação, rechaço, olhar analítico, essa maneira incineradora que se tem para com as minorias. Ao me deparar como essa cidade, que se difere muito da minha, na diversidade, estrutura, economia, cultura, procurei não me ultrajar de uma máscara para viver esta experiência.

É inaceitável admitir que dentro de um mesmo espaço, a diferença que há de proteção, dignidade, seguridade para esses corpos sejam tão grandes e que a vitrine a que são expostos tem outros nomes, arquitetura, patrocinadores, desde que continuem como entretenimento.

As quartas-feiras, no meu translado para universidade, vivenciei experiências incríveis, em todos os meios de transportes, seja no ônibus do aeroporto de Guarulhos para Congonhas, ubers, trem, metrô e transporte coletivo. Sempre que me identificava, surgiram vários comentários e perguntas, dentre eles “nunca ouvir falar em Palmas”, “Tocantins ficar em qual Estado?”, “estudar na USP não é para qualquer um”. Fiquei abismado quando certo dia ao sair com um colega do curso, dirigi-lhe a pergunta, se ele não se sentia incomodado com tantas pessoas jogadas pelas ruas, enquanto passávamos por alguns. Ele respondeu que não, que ainda não tinha visto ninguém; era comum aquele tipo de situação em São Paulo.

Visitar durante as minhas aventuras, vários locais, na busca de decifrar corpos, de entender os movimentos da cidade; sair com demais colegas para estudos em campo, avenida paulista, Luz, Brás, e Santo Amaro, que virou minha segunda casa; viver essa experiência foi desafiador, as diferenças mudam de nomes, mas as essências dos corpos continuam as mesmas. Tem algo neste deslumbre experimental, que nos une independente do Estado brasileiro em que vivemos. É a maneira de como nossos corpos são usados, para interesse estatal ou de quem comanda essa máquina.

Fonte: encurtador.com.br/bkwHV

Começa-se a perceber características antes não vistas, de um corpo que entra em movimento de acordo ao ambiente, para que não seja destruído, esmagado, rechaçado, excluído por não ser adaptável como outros. Quando se tem no imaginário, a perceção de quanto maior o desenvolvimento, mais esses corpos estariam incluídos, socializados, normalizados. No entanto a verdade salto pelos olhos, a gente desconstrói o velho discurso, de que o Brasil é do povo brasileiro.

O multiculturalismo territorial brasileiro, tem sido preponderante na disseminação do entendimento trazido pelos tratados, convenções e estatutos e todas as formas, garantindo a diversidade e igualdade como princípios fundamentais; para a democratização por meio de políticas públicas; alcançando a efetivação. Isso é visto no Brasil como algo muito complexo, devido o histórico de políticas públicas fragilizadas e inoperantes. O desafio, talvez, seja desconstruir o ensinamento existente por décadas de não exclusão, mas sim inclusão.

A morosidade do Estado em cuidar de assuntos inerentes ao seu povo, em baila, o cidadão que sofre a discriminação e a sua inclusão no convívio social, com portas abertas para recebê-lo na educação; com programas voltados para atender suas necessidades básicas, preparando-o para a vida; de maneira plena. São direitos garantidos na constituição e também estabelecidos nas diretrizes da educação nacional. É o mínimo que se espera de um Estado democrático e de uma governança com o povo e para o povo.

Fredrich Müller (2000), no livro “Quem é o Povo?”, trata em um dos capítulos sobre “Povo” como ícone, correspondente àquela situação que, em termos jurídicos, já não se fundamenta em nenhum tipo de relação entre governantes e governados. A falha no regime político-jurídico deste povo, em que se visualizam brechas na legitimidade da democracia, mesmo existindo um povo ativo ou até mesmo em um regime em que o povo não legitima juridicamente, mas é chamado a participar concedendo tal legitimidade.

Fonte: encurtador.com.br/bdqLP

A manipulação ideológica, neste caso, está escancarada na palavra “povo”, usada pelos seus governantes, para que pareçam que atuam em nome dos seus cidadãos, sendo que não o fazem. Neste sentido, mistificam o povo como entidade abstrata, genérica, apoiadores do regime político-jurídico, apenas com concepções ideológicas. Passando a ser utilizado um discurso político do povo, para o povo, pelo povo; servindo apenas como uma ideologia para dominação das massas dentro do Estado.

Müller trata em um dos capítulos sobre exclusão, talvez este seja o capítulo mais importante do livro, já que é nele que o autor fala acerca da busca pela legitimidade democrática, como uma forma de se acabar com a exclusão social, política, econômica e jurídica de parcelas da sociedade.

Pode haver situações ocasionadas por condicionantes econômicos ou sociais, em que parcelas da sociedade, ainda que juridicamente incluídas, acabam por não ter acesso aos sistemas prestacionais estatais.

Quando a situação de parcela da sociedade chega a esse ponto, não se pode falar mais de simples “marginalização”, mas sim de “exclusão”, no sentido de que esses grupos populacionais dependem (negativamente) das prestações dos mencionados sistemas funcionais da sociedade, sem que tenham simultaneamente acesso às mesmas “(no sentido positivo)”.

Fonte: encurtador.com.br/giFL7

Há forte interferência da esfera econômica no dia a dia dos cidadãos e esta interferência, muitas vezes, traz reflexos também para a própria legitimação da democracia.

O contraste visto em uma cidade, tida como a mais evoluída economicamente do país, em que tem em suas ruas, tantos corpos perambulando, excluídos, vivendo completamente fora de um contexto de dignidade, respeito e valoração, põe em questão o que seja uma democracia.

Quanto a Palmas, uma cidade tida como a mais nova capital dos pais, diferencia-se em muito de São Paulo; seja à economia, educação, tecnologia, emprego, saúde; além dessas díspares situações, existe ainda uma grande discriminação da pessoa com deficiência, do idoso, homossexuais, transexuais, índios, quilombolas, negros etc… Uma minoria que ainda desconhece algumas conquistas, como existente em São Paulo, a exemplo da casa de apoio aos transexuais, situada nas proximidades da cracolândia, que apoia e cuida daqueles que a procura.

Em geral, a experiência adquirida pelo meu corpo, diante dos contrastes existentes, entre ambas as cidades, tem afetado o meu conhecimento e consequentemente meu crescimento pessoal, o que ocasionou várias perguntas, quanto a percepção e decifração do corpus na cidade? Do indivíduo pertencente a essa coletividade? De como meu corpo se sentiria, incluído, normalizado enquanto eu deficiente?.

Fonte: encurtador.com.br/ensO5

Referência:

MÜLLER, Friedrich. Quem é o povo?: a questão fundamental da democracia. São Paulo: Max Limonad, 2000.

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