A dor é minha

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Passei por um processo depressivo que foi difícil de superar e longo de acabar. O que digo de minha experiência é que quando se está ali afundado numa inércia de tristeza consigo mesmo é muito difícil que se tenha força e energia para ir atrás das pessoas que sempre estiveram presentes em sua vida.

Dessa forma, é esperado – e isso não é um julgamento de valor, porque cada um sabe a dor e as questões suas próprias que já têm de carregar – que haja, naturalmente, uma percepção da depressão e uma consequente ajuda do amigo, do parente ou de quem estiver mais próximo.

No meu caso, eu tive pessoas que me ajudaram muito nesse processo que digo, meus caros, é algo de tirar você do seu próprio eixo. Mas outras pessoas, algumas próximas, deixaram de ser presentes, e pode ser por várias razões. Como disse, se sua própria dor já é difícil de carregar, que dirá a de uma outra pessoa que precisa de ajuda.

Quando tudo passou, me separei, mudei de casa, de hábitos e não me chateei com essas pessoas. Talvez me decepcionei um pouco. Mas isso não me torna, e não os torna melhores ou piores. Nós passamos a vida conhecendo as pessoas em todas as situações que vão aparecendo. Sendo assim não há como adivinhar a reação de todos diante de uma situação difícil como a depressão de uma pessoa próxima.

Eu fui muito bem assistido, tanto pelos profissionais que me guiaram como por outras pessoas.
E esse texto não se trata de uma cobrança. É um relato sobre a condição humana diante da dor do outro. As relações, elas acabam, recomeçam, ressignificam e esse é o ciclo tão difícil de compreender de nossas vidas.

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“Respire Fundo” – sombras da maternidade

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O filme “Respire Fundo” conta a história da personagem Julie (Amanda Seyfried) que é autora, desenhadora e escritora de livros infantis. De maneira sensível, a obra retrata a realidade por trás da maternidade e dos transtornos mentais, indo contra a lógica de que o papel de mãe é perfeito, quebrando de fato a romantização que impera na sociedade.

No decorrer do filme, temos acesso ao seu passado complexo. Em relação ao seu meio familiar na infância, a personagem sofreu violência física e emocional por parte do pai na infância. Sendo assim, os traumas a seguiram até o momento presente onde engravidou e se tornou mãe. As vivências passadas a moldaram e de certa forma repercutiram em dúvidas, questionamentos, receios e sofrimento. Apesar da ausência e afastamento do pai, suas lembranças a perseguem. Por essa razão, compreender a personagem se torna fácil. A atuação espetacular favorece a empatia pela sua história e pelos seus sentimentos; somos balançados pelo seu receio central se será uma boa mãe e se deveria se ausentar ou não da vida dos filhos, o que a faz repensar a própria sobrevivência.

Fonte: Freepik

A sociedade comumente romantiza a sociedade, quase que impedindo que a maternidade tenha o seu lado obscuro e desafiador. Por isso se constitui como um assunto tabu e bastante estigmatizado, que requer diálogos e reflexões para maior aceitação das infinitas facetas que a fase da maternidade pode possuir. 

O filme, então, é um grande ensinamento e de maneira singular, demonstra como a tristeza pode influenciar e impactar a vida de uma mãe, que mesmo com uma rede de apoio, com uma profissão estabelecida, não encontra sentido e não visualiza um futuro promissor ou o momento presente de gerar um filho e criá-lo, uma ação potente e bonita quando permeada de sentimentos funcionais e bonitos. A rede de apoio que a cerca também expõe a importância de se ter pessoas ao redor que saibam escutar e enxergar além… Ou seja, a obra traz exemplos nítidos de experiências que muitos atravessam na vida real.

Fonte: Freepik

No DSM-5-TR, versão mais recente e atualizada do manual de classificação, a “depressão pós-parto” não é apresentada e reconhecida como uma patologia específica. Entretanto, é incluído o especificador de episódio depressivo após o perinatal em até quatro semanas. A personagem se enquadraria em muitos dos possíveis sintomas, enfrenta prejuízos em sua vida em decorrência da sua vivência interna, muitas vezes silenciosas, porém que implica fortemente em reações e consequências na vida de uma pessoa. As consequências são vistas para além do emocional e mental, seu meio social e familiar também são afetados, o que corrobora com um Transtorno Depressivo Maior por indicador com início após o parto, no puérpero. 

A personagem realiza tratamento psiquiátrico e medicamentoso, expondo a importância do apoio especializado para o enfrentamento de transtornos mentais como a depressão. Medicação esta que é, de maneira analógica, como aquilo que devolve a cor ao seu mundo. Paralelamente, a personagem busca encontrar um sentido e se reencontrar, sobreviver… Na escrita e no desenho, consegue se expressar e se encontrar em certos momentos. 

O clímax da história de dá com a morte da personagem, que a mesma consegue descrever em uma de suas histórias infantis: ela relata um monstro que devorava as estrelas no céu e compara as estrelas com o seu amor pelos filhos, como algo que nem sempre seria visível, mas que sempre existiria de alguma forma os acompanhando. O sofrimento dela, apesar de silencioso, carregava uma potência estratosférica, repercutindo no seu desejo de alcançar uma perfeição e ser a melhor mãe que poderia sim, entretanto, a depressão e o peso da maternidade, tomaram forma e cresceram, fugindo de seu controle.

Essa obra cinematográfica representa uma fase da vida de muitas mulheres que se encontram em uma encruzilhada ditada pela pressão social e suscetíveis a terem transtornos psicológicos que podem afetar a sua saúde física e mental, intensificando os sentimentos de incapacidade e culpa perante a ação de ser mãe em um contexto novo e sensível como gerar um filho e criá-lo. Ou seja, é uma obra que caracteriza a vivência de muitas mulheres e por isso, de extrema importância para fomentar reflexões e diálogos acerca do assunto.

 

Referências:

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION – APA. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5-TR. 5a ed, texto revisado. Porto Alegre: Artmed, 2023.

GONÇALVES A. L. C; SILVA J. A; PRETO V. A. Análise Reflexiva: Depressão pós – parto e suas consequências emocionais para o binômio mãe e filho no Brasil. UniSALESIANO Araçatuba. Disponível em: https://unisalesiano.com.br/aracatuba/wp-content/uploads/2021/06/Artigo-Analise-ReflexivaDepressao-pos-parto-e-suas-consequencias-emocionais-para-o-binomio-mae-e-filho-no-Brasil-Pronto.pdf . Acesso em: 13 jun. 2023.

RESPIRE FUNDO. Direção: Amy Koppelman. Produção de Trudie Styler e Celine Rattray. Estados Unidos: Stage 6 Films, 2021. HBO streaming.

 SCHWENGBER, D. D. DE S.; PICCININI, C. A.. O impacto da depressão pós-parto para a interação mãe-bebê. Estudos de Psicologia (Natal), v. 8, n. 3, p. 403–411, set. 2003. 

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Tratamento de Depressão e o Preconceito contra os Antidepressivos

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Vivemos em um tempo onde cada vez mais se torna comum termos contato com o adoecimento psíquico, seja porque nós mesmos estamos vivenciando, ou temos pessoas próximas que passam por estes desafios e assim afetam também a vida dos que os rodeiam, gerando muitas vezes busca por conhecimento acerca do que são os transtornos, como se manifestam, como podem ser tratados, e nos perguntamos qual o melhor tipo de tratamento para cada um, se realmente precisa de remédio, ou às vezes se basta somente tratar com remédio.

Um dos transtornos mais comuns que se vê na atualidade é a depressão, onde temos como características mais comuns o humor deprimido, a falta de interesse em atividade cotidianas, isolamento, e em casos mais graves pode levar até a ideação suicida. A depressão coloca o indivíduo em um sofrimento que pode chegar a níveis extremos, que pode dificultar a vivência das relações, trabalho, estudos, todas as realidades daqueles que a vivenciam.

Para falarmos sobre o tratamento mais adequado e eficaz para este adoecimento, precisamos compreender como ele acontece, suas causas, e como se dá o aprofundamento dos sintomas, e um consenso de que a depressão pode se desenvolver por diversos fatores, sendo alguns deles a predisposição genética, acontecimentos traumáticos, personalidade, sociais e de relacionamentos interpessoais, não pode ser atribuída a uma única (BARROSO, 2018).

No nosso cérebro por algum ou mais um destes motivos os neurônios para de produzir um ou mais dos seguintes neurotransmissores: serotonina, noradrenalina e dopamina, conforme Lage (2011), e com a diminuição na produção desses neurotransmissores começa a diminuir a quantidade de sinapses realizadas, e os neurônios vão sendo cada vez menos estimulados, a partir deste momento já aparecem os primeiros sintomas. É importantíssimo que desde os primeiros sintomas procure ajuda, pois a tendência é de que com o passar do tempo os sintomas se aprofundem, os neurônios que estão sendo pouco estimulados, param de produzir uma vitamina chamada BDNF, vitamina que é alimento dos neurônios, e passam a diminuir a quantidade de suas conexões, e chegando ao ponto destes neurônios deixarem de existir.

Figura 1 – Esquema de neurônios com e sem a vitamina BDNF que só é produzida em neurônios que são frequentemente estimulados.

 

Uma breve analogia para entendermos este processo natural do organismo é quando praticamos alguma atividade física, e nosso corpo vai ganhando mais músculos nas áreas mais estimuladas e vai se fortalecendo, no entanto quando deixamos de fazer atividade física tudo aquilo que havia sido adquirido de massa muscular e preparo físico logo desaparecem, dessa mesma forma se dá no cérebro humano, a medida que uma parte deixa de ser estimulada ela começa a diminuir e por fim os neurônios vão deixando de existir. Assim é possível observar os casos mais profundos de depressão que os indivíduos apresentam muita dificuldade de melhora, se dá justamente por esta perda de massa cerebral.

Partindo deste entendimento da depressão, como traçar a melhor forma de tratamento? Para este, como para muitos transtornos não há uma resposta certa que contemple todos as pessoas, cada pessoa que vive com este transtorno o experimenta de uma forma, apresenta sinais e sintomas diferentes, e isto afeta suas realidades também de formas diferentes. Por isso o tratamento para cada paciente é único, mas podemos aqui trazer aspectos essenciais para o tratamento, como ao perceber os primeiros sintomas já buscar ajuda profissional, procurar terapia para trabalhar suas questões de sofrimento e fazer psicoeducação aprendendo a identificar e lidar com os sintomas, percebendo a necessidade buscar o tratamento medicamentoso, procurar criar hábitos saudáveis, tanto em nível de alimentação quanto a atividade física, e contar com o apoio da rede de apoio, pessoas próximas com se tem bom vínculo de confiança.

Como falado para cada pessoa existe um tratamento específico, estes aspectos citados são os basilares de qualquer tratamento deste transtorno, e para além deste entram as estratégias específicas para cada realidade encontrada. E aqui nesse processo de tratamento podemos encontrar muitos desafios relacionados à adesão ao tratamento, tanto a resistência das pessoas em buscarem a terapia para trabalhar suas questões pessoais, quanto o preconceito quanto ao tratamento medicamentoso quando ele é evidenciado como necessário no caso em questão.

Trazemos ainda como marca da sociedade media certa resistência quanto a terapia, que por gerações foi tido como coisa para ‘loucos’, comportamento este que expõe os indivíduos a se permitirem sofrer muito mais do que precisam e por vezes esperar que seus sofrimentos cheguem a níveis que já atrapalham todas as áreas de suas vidas para só neste momento buscarem ajuda para lidar e manejar seus problemas. 

Outro grande problema frequente no tratamento da depressão está no preconceito ligado ao uso do medicamento, que pode se dar por diversos motivos como por não ser bem explicado aos indivíduos que começam este tipo de tratamento que ele demora certo tempo para começar a apresentar o efeito desejado de melhora nos sintomas da depressão, e que, no entanto os efeitos adversos podem começar no dia seguinte ao início do tratamento. 

Questão comum também ligada ao tratamento medicamentoso no tratamento é o medo de se tornarem dependentes pelo resto de suas vidas do remédio, no entanto não a menor parte das pessoas que fazem tratamento com antidepressivos acaba tendo que fazer uso por tempo muito mais prolongado do medicamento, justamente por estar vivenciando uma depressão mais profunda com perda de massa encefálica, o que dificulta a recuperação do indivíduo. 

Faz-se necessário compreender o porquê da demora do medicamento em trazer a melhora em relação a velocidade em trazer seus efeitos colaterais. Como visto a depressão altera o processo de produção de um ou mais dos neurotransmissores, serotonina, noradrenalina e dopamina, então a maioria dos antidepressivos age nos neurônios impedindo que ele recolha os neurotransmissores que ainda não se uniram aos receptores do outro neurônio fazendo que estes neurotransmissores passem mais tempo na fenda e possam se ligar e produzam assim a quantidade normal de sinapses (comunicação elétrica entre neurônios), com a quantidade baixa que está sendo produzida pelos neurônios.

No entanto, os mesmos neurotransmissores importantes na depressão, também estão diretamente ligados a outros processos no corpo humano, como olhos, glândulas salivares, intestino, pâncreas, rins, fígado, coração, pênis. O remédio que faz efeito nas sinapses cerebrais também faz nestes sistemas, pois usam os mesmos neurotransmissores, o que explica os efeitos colaterais dos medicamentos, algo importante a ressaltar é que estes efeitos são considerados efeitos leves que o organismo do indivíduo a curto prazo ou deixam de existir ou são assimilados pelo organismo e o indivíduo encontra meios para lidar com os efeitos no cotidiano, como a sensação de boca seca, que faz com que a pessoa passe a tomar mais água em vista de diminuir esta sensação.

Mas por que o antidepressivo não tem ação rápida, e eficaz já no primeiro dia? O cérebro tem seu sistema de segurança e Feedback, cada neurônio tem uma estrutura que analisa a quantidade de neurotransmissores lançados na fenda sináptica e envia um Feedback para o próprio neurônio, ou indicando que esta tudo normal ou esta estrutura percebe que tem um volume muito elevado de neurotransmissores e começa a agir diminuindo ainda mais a produção de neurotransmissor e diminuindo a quantidade que é lançada na fenda, só depois de alguns dias ou semanas fazendo o uso da medicação é que esta estrutura desiste de inibir a produção e as sinapses voltam à normalidade e assim a pessoa passa a sentir a melhora com o uso do remédio. 

Figura 2 – Neurônio serotoninérgico, auto receptor é destaque em roxo.

Com o passar de alguns meses fazendo o uso corretamente da medicação o neurônio que foi muito estimulado, voltou a produzir sua vitamina e pode voltar a produzir em quantidade normal os neurotransmissores que estavam sendo produzidos em baixos níveis, paralelo a este tratamento medicamentoso que trata os sintomas, se o indivíduo buscou a terapia tratou também as possíveis causas do transtorno, podendo fazer com que estes níveis de neurotransmissores não voltem a diminuir, e se organizou em relação a hábitos saudáveis, esta pessoa tem grandes chances de ter uma vida melhor sem sofrer com sintomas de depressão, e poderá deixar de fazer o uso do medicamento, fazendo o desmame de forma correta junto ao profissional competente.

Portanto, diante da percepção dos sintomas, se faz necessário buscar ajuda, fazer terapia, buscar hábitos saudáveis, e se necessário viver o processo de tratamento medicamentoso para que tão logo quanto possível o organismo possa voltar a normalidade e que possa bem viver cada aspecto da vida. 

Referências 

BARROSO, Sabrina Martins; BAPTISTA, Makilim Nunes; ZANON, Cristian. Solidão como variável preditora na depressão em adultos. Estudos Interdisciplinares em Psicologia, v. 9, n. 3, p. 26-37, 2018.

LAGE, Jorge Teixeira. Neurobiologia da depressão. 2011.

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Mindfulness e Terapia Focada na Compaixão podem ajudar no alívio de sintomas de ansiedade, depressão e estresse em professores

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É perceptível que a constante sobrecarga de trabalho ocasiona problemas físicos e mentais.  Segundo uma pesquisa promovida pelo site Nova Escola, realizada com 5 mil docentes, apontou que 60% dos professores se queixaram de sintomas de ansiedade, estresse e dores de cabeça. Durante intervenções de grupos terapêuticos, métodos são utilizados para a diminuição desses sintomas, o uso de técnicas como o Mindfulness, Terapia Focada na Compaixão podem ajudar no controle e alívio desses sintomas.

Através da Atenção Plena e da Terapia Focada na Compaixão abordadas pelo método socrático, podem controlar e reduzir quadros de ansiedade, estresse e níveis moderados de depressão. O espaço de discussão é necessário para a humanização dos professores e diminuição das patologias. O fato de poder compartilhar suas inseguranças e medos, faz com que as ansiedades diminuam.

Humanização do trabalho docente

A natureza do trabalho docente é, por si só, complexa e marcada por desafios. É recorrente, na literatura da educação, abordar a natureza do trabalho docente sem uma articulação com as condições de vida, trabalho e saúde mental do sujeito que o realiza: o professor. Ansiedade, depressão, desesperança, estresse crônico e síndrome de Burnout são os distúrbios mais listados quando se refere ao adoecimento  dos professores da Educação Básica (CNTE, 2021; Nascimento e Seixas, 2020). Além dos sintomas de saúde mental, também é comum encontrar danos físicos, tais como: problemas nas cordas vocais, lesão por esforço repetitivo e doenças do aparelho respiratório. Esse quadro aponta danos sociais, posto que indicam ausência de condições efetivas de aprendizagem de todos, em especial, as crianças. É possível que, se houver um cruzamento com o baixo desempenho das crianças em avaliações externas, se encontre uma possível raiz/origem das condições adversas nas quais ocorrem as relações sociais no interior das escolas.

Por ocasião do risco de perda do direito especial de aposentadoria, vinte e cinco anos de efetivo exercício como professor, a pauta da saúde do trabalhador da educação passou a ocupar lugar na luta sindical com a realização de pesquisa sobre o levantamento da saúde do profissional de educação. Os resultados surpreenderam a todos: sindicalistas, pesquisadores e gestores da educação. O adoecimento físico era realidade visto o quantitativo de licença para tratamento de saúde; mas a pesquisa, à época, trouxe à luz dados até então obscuros no que se refere à saúde mental do professor (CODO, 2002; CNTE, 2003). Nessa pesquisa, realizada em parceria com a Universidade de Brasília, os elementos que constituem a Síndrome de Burnout, como a exaustão emocional, a perda de envolvimento pessoal e a despersonalização contribuíram, significativamente, para o tema saúde dos trabalhadores da educação ocupar lugar no cenário nacional.

Fonte: Imagem por Freepik

Em busca no google com os descritores “professor” e “adoecimento” encontra-se, aproximadamente 1.100.000 resultados em 0,48 segundos. Ocupar lugar no cenário nacional parece ter sido na multiplicação de estudos que apreendem a realidade do adoecimento do professor e a ampliação dos contratos das Redes de Ensino de Plano de Saúde, porém o quadro só tem se agravado.  Em estudo bibliográfico Nascimento e Seixas (0000) afirmam que essa realidade não difere quanto o estabelecimento, se público ou privado, ou o nível de atuação, se Educação Básica ou Superior.

Os professores da Educação Básica perderam o direito à aposentadoria especial de 25 anos. Viveram o isolamento social no contexto da pandemia e as escolas foram fechadas por dois anos. O estudo “Novas formas de trabalhar, novos modos de adoecer” teve como objetivo central conhecer os impactos do trabalho remoto na saúde emocional dos trabalhadores em educação promovido pelo CNTE e os resultados são, de igual mota, aterradores, tais quais já apontados pelas pesquisas publicadas: 24% com depressão, 20% ansiedade e 20% alto nível de estresse; além de transtornos mentais e síndrome de Burnout. Que empresa é produtiva com um quadro de pessoal tão acometido por adoecimento mental? E quando essa “empresa” é uma instituição de ensino, de educação escolar?

O espaço de discussão é necessário para a humanização da categoria e diminuição das patologias. O fato de poder compartilhar suas inseguranças e medos,

faz com que as ansiedades diminuam. Ressalta-se que de maneira geral é dada muita importância a discussão de dados objetivos, homem máquina, produtivo. Porém, são os aspectos subjetivos que evitam explosões e encenações no ambiente de trabalho.

O inventário da saúde do professor realizado pelo CNTE, em parceria com o Laboratório de Psicodinâmica e clínica do Trabalho da UnB, aponta que é necessário o alargamento do diálogo nas relações de trabalho, bem como o compartilhamento de experiências para melhorar as relações pessoais no interior das escolas. No pós pandemia a síntese do inventário aponta que a realidade no interior das escolas pode assim ser sintetizada: “trabalhadores hiperativos, competição exacerbada, descarte dos diferentes, exigências incompatíveis com a realidade, desvalorização das entregas, falta de autonomia, opressão burocrática, disponibilidade plena e flexibilidade total, tomando a máquina como ideal da produtividade humana foram alguns dos sintomas verificados nesse novo modelo de trabalho.” De fato, observa-se que o professor deverá tomar consciência dessas condições e há que se resgatar a consciência sobre sua capacidade de prestar a atenção em si e nas suas próprias sensações para, assim, tomar seu lugar de professor nas relações de trabalho no interior da escola.

Em face a esse grave quadro de adoecimento mental do professor indica-se, a seguir, as técnicas que estão sendo propostas para serem aplicadas em Grupo Terapêutico de professores da Educação Básica.

 

O que é dinâmica de grupo

O ser, da espécie humana, torna-se ser humano na convivência. Não nasce pronto com os das demais espécies: torna-se. O ser humano sendo um ser social somente existe em função de seus relacionamentos grupais. Segundo  Zimerman e Osório (1997) citado por MELO (2014), “todo indivíduo é um grupo na medida em que, no seu mundo interno, há um grupo de personagens introjetados, como os pais, os irmãos entre outros, que convivem e interagem entre si” (p. 01). Desse modo observa-se que para compreendermos o ser humano, devemos estudar sua vida em grupo.

Reunidas em grupo, as pessoas apresentam maior riqueza e complexidade das qualidades da dimensão humana, como a comunicação, por exemplo. O campo do conhecimento sobre a convivência em grupo e de suas relações com os outros grupos e com as instituições mais amplas é denominado dinâmica de grupo. A dinâmica de grupo desenvolveu-se no século XX. ocasião em que, sobretudo, psicólogos e sociólogos passaram a dar um tratamento mais científico ao estudo de grupo (MELO, 2014).

Fonte: Imagem no Freepik

Kurt Lewin é considerado o fundador da moderna dinâmica de grupo. Com seu trabalho na Universidade de Iowa, por volta dos anos 1940, e, mais tarde, no Massachusetts Institute of Technology (MIT), Lewin estabeleceu esse campo de estudo e atraiu pesquisadores e recursos financeiros para este tipo de pesquisa. Os artigos de Lewin publicados na década de quarenta do século XX e depois reunidos nos livros Teoria de campo em Ciência Social (1965) e Problemas de dinâmicas de grupo (1978), prepararam o terreno para investigações e publicações do pós-guerra.

Para Lewin (1978), um grupo é mais do que a soma de seus membros: consiste numa totalidade dinâmica que não resulta apenas da soma de seus integrantes, tendo propriedades específicas enquanto totalidade, princípio da Escola da Gestalt. Possui estrutura própria, objetivos e relações com outros grupos que atuam no mesmo espaço físico. A essência de um grupo não é a semelhança ou a diferença entre seus membros, mas sua interdependência. Lewin caracteriza um grupo como sendo um todo dinâmico, o que significa que uma mudança no estado de uma das suas partes provoca mudanças em todas as outras.

Nesse sentido, as tentativas com vistas à realização dos objetivos grupais criam no grupo um processo de interação entre as pessoas, que se influenciam reciprocamente e pode haver a produção de novos significados e metas. São esses os resultados que almejamos na proposição deste projeto de intervenção em grupo de professores da Educação Básica com a aplicação das técnicas apresentadas a seguir.

O que é Mindfulness

A tradução para o português significa atenção plena. Cada vez mais é comum não observarmos nossa rotina diária. Às vezes, ao final do dia nem lembramos das atividades realizadas. Isso decorre de um estilo de vida no qual as atividades e ações ocorrem no “piloto automático”, sem a devida atenção do fazer. A técnica da atenção plena, com base no funcionamento fisiológico do ser humano, orienta-nos a dar atenção à prática da consciência sem julgamentos e no momento presente. Afirmam os pesquisadores que a prática diária e cotidiana da atenção plena pode transformar o cérebro humano reduzindo o estresse e liberando a criatividade, portanto, melhorando o desempenho da pessoa como um todo.

Estudos realizados pela Universidade Britânica e Universidade de Tecnologia de Chemnitz(2017) demonstram que a prática da atenção plena promove alterações em duas áreas do cérebro humano, quais sejam: o córtex cingulado anterior localizado ao fundo na região da testa, atrás do lobo frontal. Essa região está associada à autorregulação, ou seja, capacidade de dar direção intencional à atenção e ao comportamento, o que nos leva a suprimir reações automáticas.

Fonte: Imagem por pressfoto no Freepik

A outra região do cérebro que sofre alteração com a prática da atenção plena é o hipocampo, no qual encontrou-se quantidades de massa cinzenta aumentada nos participantes de programas de atenção plena, na pesquisa citada acima. O hipocampo localiza-se no interior da região temporal em cada hemisfério e é parte do sistema límbico, estruturas interiores associadas à emoção e à memória e é coberta por receptores do cortisol, hormônio do estresse. O hipocampo pode ser danificado pelo estresse crônico, tornando-o menor. Essa área é importante para a resiliência, aptidão essencial para os dias atuais estressantes.

Neurocientistas descobriram que a prática da atenção plena afeta áreas do cérebro relacionadas com a percepção, a consciência corporal, a tolerância à dor, a regulação da emoção, a introspecção, o pensamento complexo e o senso de si mesmo.

Mindfulness ou atenção plena é o processo de perceber ativamente coisas novas. Quando você faz isso, se coloca no momento presente. Torna-se mais sensível ao contexto e à perspectiva. Essa é a essência do envolvimento, do engajamento. O processo do Mindfulness é gerador de energia, não consumidor.

O que é Terapia Focada na Compaixão

A Terapia Focada na Compaixão (TFC) enraiza-se em uma análise evolucionista e funcional de sistemas básicos de motivação social (e.g., viver em grupos, formar hierarquias e rankings, buscar parceiros sexuais, ajudar e compartilhar com aliados e cuidar de iguais) e diferentes sistemas emocionais funcionais (e.g., responder a ameaças, buscar recursos e estados de contentamento/segurança).

Além disso, há cerca de 2 milhões de anos atrás, os (pré-)humanos começaram a evoluir uma série de competências cognitivas para a racionalização, reflexão, antecipação, imaginação, mentalização e criação de um senso de self socialmente contextualizado. Essas novas competências podem causar grandes dificuldades na organização de motivações e sistemas emocionais arcaicos.

A TFC sugere que nosso cérebro evoluído é, portanto, potencialmente problemático por conta de seu “design” básico, sendo facilmente induzido a comportamentos destrutivos e problemas de saúde mental (chamamos isso de “cérebro complicado”, “tricky brain”). Contudo, mamíferos e especialmente seres humanos possuem também motivações e emoções evoluídas para o comportamento afiliativo, de cuidado e altruísmo que pode organizar nosso cérebro de maneira a se distanciar significativamente de nossos potenciais destrutivos.(GILBERT, 2014)

Assim, a TFC salienta a importância de desenvolver a capacidade das pessoas de acessar (de maneira mindful), tolerar e direcionar motivações e emoções afiliativas para elas mesmas e os outros, além de cultivar a compaixão interna como uma maneira de organizar nosso “cérebro complicado” de formas pró-sociais e mentalmente saudáveis.

Maiêutica Socrática

A Maiêutica Socrática ou o Diálogo Socrático, refere-se a um questionamento gradual e sistemático sobre uma temática específica, acarretando um eventual debate de paradigmas e conclusões, possuindo como objetivo principal a percepção de lacunas lógicas ou não acuradas.

Segundo Beck et al., (1979); J.Beck, (1997) e Overholser, (1993), os objetivos do questionamento socrático envolvem a obtenção de informações, assim como o conhecimento acerca da demanda. Além disso, abrange a identificação de estratégias de enfrentamento e a identificação de estressores, considerando o funcionamento biológico, psicológico e social. Abrange fomentar a conversão de queixas vagas em problemas concretos, construindo a decisão colaborativa a respeito do enfoque relacionado aos problemas.

Fonte: Imagem por frimufilms no Freepik

Ademais, abrange examinar o significado atribuído pelos integrantes aos eventos e avaliar as consequências de pensamentos, emoções ou comportamentos. Observa-se a identificação de cognições específicas associadas a emoções ou comportamentos  disfuncionais, assim como a avaliação das auto verbalizações dos integrantes. Segundo Arlinda dos Santos Melo (2012), na medida em que o paciente identifica questões para as quais desconhece as respostas, pode se motivar a aprender e tentar descobrir soluções para as suas dificuldades.

Considerações finais

É importante um olhar crítico para a saúde mental do professor em adoecimento psíquico. Entender que questões psicológicas e emocionais afetam ações do cotidiano é necessário para que uma intervenção terapêutica seja aplicada, a fim de promover uma saúde mental equilibrada do sujeito para que dessa forma sintomas psíquicos sejam aliviados. Sintomas de ansiedade, depressão e estresse têm aumentado em níveis alarmantes, compreender que um plano de ação precisa ser implantado, pode evitar um sofrimento psíquico maior, que pode ocasionar em outros sintomas.

Observa-se que com os conhecimentos adquiridos e os resultados advindos do bem estar proporcionado com a prática das técnicas aplicadas, possam corroborar aos participantes, em alguma medida, a ressignificação do estilo de vida, propiciando o autoconhecimento e desenvolvendo uma postura empática se empenhando em tornar as relações de trabalho menos conflitivas e pesadas. A intervenção em grupo terapêutico com professores é fundamental para psicoeducação e para contribuir com a diminuição desses quadros de sintomas psicológicos, consequentemente, refletindo em uma melhor qualidade no ensino e na aprendizagem dos estudantes.

Referências

BRUM, Eliane. Exaustos-e-correndo-e-dopados. Jornal Online El País Brasil. Publicado em 4 de julho de 2016. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2016/. Acesso em: 02 de maio de 2022.

CARVALHEIRO, Gabriela; TOLFO, Suzana da Rosa. Trabalho e depressão: um estudo com profissionais afastados do ambiente laboral. Disponível em https://www.scielo.br. Acesso em: 03 de maio de 2022.

CASTANHEL, Flavia Del; LIBERALI, Rafaela. Redução de Estresse Baseada em Mindfulness nos sintomas de câncer de mama: revisão sistemática e metanálise. Einstein: São Paulo, 2018. Disponível em https://www.scielo.br/ Acesso em: 3 de maio de 2022. 

CODO, Wanderley. (Org.). Educação: carinho e trabalho. 3. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.

Confederação Nacional dos trabalhadores da educação. Retrato da Escola, n. 3 Brasília, DF: CNTE, 2003.

DOURADO, L. F. Editorial. Retratos da Escola, Brasília, DF, n. 11, v. 6, p. 297-299, jul./dez. 2012.

GILBERT, Paul. As origens e a natureza da terapia focada na compaixão. British Journal of Clinical Psychology (2014), 53, p. 6-41

GOUVÊA, Leda Aparecida Vanelli Nabuco de. As condições de trabalho e o adoecimento de professores na agenda de uma entidade sindical Saúde debate 40 (111), Oct-Dec/2016 Disponível em: https://doi.org/10.1590/0103-1104201611116   Acesso em 26/06/2022

HEBERLE, Andréia Yess; , Lisandra Antunes de. Grupos terapêuticos em saúde mental – uma modalidade na prática dos serviços de atenção à saúde mental. Disponível em: http://www.uniedu.sed.sc.gov.br/ Acesso em: 3 de maio de 2022.

NASCIMENTO, Kelen Braga & SEIXAS, Carlos Eduardo. O adoecimento do professor da Educação Básica no Brasil: apontamentos da última década de pesquisas. Disponivel em https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/20/36/ Acesso em 27/06/022

PARISI, Silvana. Separação amorosa e individuação feminina: uma abordagem em grupo de mulheres no enfoque da Psicologia Analítica. Tese de Doutorado em Psicologia, Universidade de São Paulo. São Paulo: 2009. 272 pág

MELO, Armando Sérgio Emerenciano de et alli. Conceitos básicos em intervenção grupal Encontro Revista de Psicologia  (Volume 17/ 26 – 2014)

Autores:

Alília Cesário dos Santos
Dilsilene Maria Ayres de Santana
Kassandra Quedi Valduga
Matheus Gouveia

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A Independência depressiva

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Há duzentos anos o Brasil conquistava a independência de Portugal, se tornando uma nação solidificada, regida pelo Imperador Dom. Pedro I. De lá para cá, algumas “coisinhas” foram modificadas, por exemplo, vivemos em uma República Federativa em um Estado Democrático de Direito. Temos interações físicas e virtuais que nos conecta e permite interagir com todo o globo terrestre.

A passagem do tempo, as revoluções que ocorreram nesse período, trouxe novidades para a civilização. O acúmulo de conhecimento científico foi grandioso, assim como foi assombroso o avanço tecnológico, bem como o consumo alavancado de produtos supérfluos.

O Brasil moderno é independente, possui autonomia, mas sua população sofre diariamente com um mal silencioso, a depressão e o suicídio.

No último levantamento do IBGE, cerca de 16 milhões de brasileiros sofrem com algum tipo de depressão. Outros índices já mostram que, somente em 2022, cerca de 451 mil pessoas já encerraram o ciclo natural de suas vidas através do suicídio.

Mas por que isso? O que leva uma pessoa à depressão, o que faz com que alguém idealize ou até mesmo cometa o suicídio?

Fonte: Imagem de Heather Plew por Pixabay

Podendo ser enquadrado nos CIDs F32, F33, F34, F38.1, F41.2, por exemplo, a depressão pode ser descrita como um transtorno de causas multifatoriais, posto que não tem como origem uma causa universal, vez que pode surgir em decorrência de um evento traumático, questões genéticas e, até mesmo, alimentares.

Biologicamente associado aos baixos níveis de serotonina, dopamina e noradrenalina, os chamados “hormônios da felicidade”, a depressão cria nos indivíduos alguns comportamentos comuns, como a baixa autoestima, auto depreciação, complexos de inferioridade, tristeza profunda.

A depressão é, muitas vezes, incapacitante, impedindo o indivíduo de apreciar sua vida de forma plena e satisfatória, posto que muitas vezes este se sente preso em seus próprios devaneios.

Existe o ditado popular que diz que a pessoa com depressão é aquela que vive remoendo o passado, o que não deixa de ser verdade. Muitas vezes a pessoa deixa de viver plenamente sua vida em detrimento de eventos passados traumatizantes que bloquearam certos aspectos de seu desenvolvimento cognitivo.

Mas quais os perigos da depressão, e, por que eles estão diretamente ligados ao suicídio?

Bem, a depressão, como dito, é causada por questões multifatoriais que desregulam os hormônios humanos que influenciam a felicidade e o bem-estar de um indivíduo. Os sentimentos que decorrem da depressão muitas vezes são depreciados pela própria sociedade que os enxergam como fraqueza e menosprezando a luta individual do depressivo, demonstrando uma faceta totalmente apática.

A frieza e o excesso de cobrança, que resulta inclusive em outros transtornos, como o Burnout, agravam a auto depreciação juntamente com o complexo de incapacidade. A dor e a sensação de isolamento, até mesmo de banalização do problema faz com que os indivíduos se tornem cada vez mais solitários, se sentindo incompreendidos, afetando-os tanto profissionalmente quanto socialmente.

Fonte: Imagem de Victoria_Regen por Pixabay

É sempre importante lembrar que a depressão é um mal que pode atingir qualquer pessoa, independente da sua condição financeira ou status social, porém, há uma forte predisposição em determinados grupos sociais. Atores, profissionais liberais, pessoas públicas possuem grandes históricos depressivos, dada a cobrança que paira sobre estes.

Não raro há notícias de celebridades que sucumbiram à depressão e acabaram cometendo suicídio. Mas por que suicidar-se? Como um indivíduo entende que essa é a solução para seus problemas? A ideação suicida, o desejo da sua própria morte, é um sentimento inexplicável para aqueles que nunca o tiveram.

Em uma analogia nada convencional, imagine-se sentindo a dor de quebrar um braço ou ferir gravemente alguma parte do seu corpo, seu desejo imediato é que aquela dor acabe, que todo o sofrimento físico que está sentindo pare. No aspecto emocional, a dor depressiva pode ser levianamente comparada a um luto constante. O pesar carregado pelo indivíduo lhe causa tanta tormenta que este busca medidas para interromper aquele sentimento, e é aqui que se inicia grande parte do problema.

Não que seja regra, mas, na maioria dos casos, alguém com depressão sempre irá buscar meios para interromper essa dor. Alguns recorrerão aos antidepressivos, outros buscarão mudar seus hábitos alimentares, outros tantos pensarão que são capazes de lidar com aquilo sozinho e, por fim, tem aqueles que recorrem ao uso de substâncias químicas ilícitas ou a ingestão de álcool e nicotina.

A forma escolhida para lidar com este cenário influenciará diretamente na forma que a depressão irá reagir no corpo da pessoa. Infelizmente, aqueles que recorrem ao uso de álcool e outras substâncias dependentes acabam tendo uma tendência viciosa que sempre lhes fará sempre aumentar a dose dos “inibidores do sofrimento”, que pode acabar levando à morte intencional ou não do portador.

Chester Bennington (à direita), participando do programa Carpool Karaoke, junto com os membros da sua banda Linkin Park, 3 meses antes de ter cometido suicídio. Fonte: encurtador.com.br/muUV6

O suicida é, muitas vezes, uma pessoa que carrega uma culpa interna tenebrosa, avassaladora, onde não enxerga mais alternativas para interromper ou superar aquela dor, o sentimento de solidão acentuado pelas diversas facetas sociais que demonstram completo descaso com seu quadro psiquiátrico, muitas vezes dentro de sua própria casa com seus familiares, acaba lhe conduzido a cometer este ato fatal para sufocar e “destruir” a dor que lhe consome.

Como é cediço, o suicídio não resolve o problema, ele somente cessa a dor que o indivíduo carrega, porém lhe impede de prosseguir com sua vida, rouba-lhe todos os momentos que poderia usufruir caso conseguisse superar aquele quadro psíquico.

Por isso, no mês de setembro, mesmo mês que no Brasil se comemora a independência nacional, é criada a campanha chamada Setembro Amarelo, que incentiva a conscientização sobre a depressão e também busca reduzir os índices de suicídio em todo o globo.

Whindersson Nunes, humorista brasileiro que declarou sofrer de depressão. Fonte: encurtador.com.br/zSV27

Conscientizar-se sobre a depressão, ser solicito àqueles que se encontram nesta condição é conceder uma nova chance à vida, e lutar de forma silenciosa contra um dos maiores inimigos da sociedade moderna.

Assim como a independência do pais requereu esforços de toda uma população, a “independência” da sociedade da depressão também dependerá de um esforço mútuo de todos os personagens possíveis.

REFERÊNCIAS

BARBOSA, Fabiana de Oliveira; MACEDO, Paula Costa Mosca; DA SILVEIRA, Rosa Maria Carvalho.Depressão e o suicídio. Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar.Rev. SBPH vol.14 no.1, Rio de Janeiro. 2011.

CIVIDANES, Giuliana. Causas da depressão são multifatoriais. Brasil Telemedicina. Disponível em: <https://brasiltelemedicina.com.br/artigo/causas-da-depressao-sao-multifatoriais/> publicado em 28 jan 2015. acesso em 06 set 2022.

IBGE: depressão aumenta 34% e atinge 16,3 milhões de brasileiros. Disponível em: <https://noticias.r7.com/saude/ibge-depressao-aumenta-34-e-atinge-163-milhoes-de-brasileiros-18112020>. Acesso em 07 set 2022.

SABINO, Alline. Taxa de suicídio no Brasil aumento 43% em 10 anos. Disponível em <https://www.portalnews.com.br/mundo-gospel/2022/06/162279-taxa-de-suicidio-no-brasil-aumento-43-em-10-anos.html> acesso em 07 set 2022.

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Eu nunca quis…

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O dia foi agradável, diria até feliz, mas logo aquela felicidade se esvaiu e deu espaço para minha dor lacerante.

Mesmo sendo considerada a mais animada da turma, detentora do título de descolada, tudo cai ladeira abaixo quando retiro a fina camada de maquiagem que esconde a minha real faceta.

Meus amigos e familiares até pensam que eu estou bem, até comentaram as recentes mudanças no meu corte de cabelo, vestimenta, comportamento, mas sem real interesse pelo que se passa comigo.

Quando cheguei no meu apartamento, sentei-me no sofá com as luzes apagadas, refletindo se realmente deveria fazer isso.

Eu imaginava que a minha mente estaria bagunçada, cheia de dúvidas, mas pelo contrário, estava límpida, serena, dando a sensação de que essa era a única alternativa viável.

Pensei em deixar alguma mensagem de despedida, mas percebi que não aliviaria a dor.

Tomada a decisão, percebi que meu cérebro começou a trabalhar de uma forma que tudo parecia simples e rápido de resolver, sem aquele peso moral da decisão, me sentia finalmente livre da dor que carreguei durante toda minha existência.

Por longos minutos me senti aliviada, até mesmo feliz e ansiosa para fazer o que estava por vir.

Pensei nos métodos, pensei na eficácia, nada poderia dar errado. O planejamento foi demorado, percebi que já era madrugada quando senti fome.

 Ao me levantar, senti um leve impulso de verificar as minhas notificações no celular que esteve todo esse tempo no modo silencioso.

Me espantei, recebi um texto enorme da pessoa que mais me machucou na minha vida, a que mais fez com que eu me sentisse inútil e incapaz. Esse texto era um pedindo de desculpas, nele continha histórias que eu nem lembrava que ele tinha feito comigo.

Quando terminei de ler a carta do meu pai, toda aquela certeza, todo aquele impulso ruiu, um terrível choro de alívio e dor dominou meu corpo, esqueci tudo que tinha que fazer. Aquilo me salvou.

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Setembro amarelo: crescer precisa doer?

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Dentre as várias experiências que tive na faculdade, uma das mais ricas foi quando tive oportunidade de fazer uma intervenção com um grupo de jovens entre 14 e 17 anos, através deles, todo o conhecimento que havia absorvido a cerca de desenvolvimento humano pôde ser comprovada ali frente aqueles adolescentes contando suas vivências. Seus relatos me aproximaram de tudo que exaustivamente havia estudo, para ter sucesso em minha empreitada.

Pois bem, foram oito encontros de muita emoção, conhecimento, integração, união, diversão e entretenimento.  Foi neste clima de aprender que me dei conta que este universo de adolescer é complexo e difícil de lidar para quem o vive, e que gostaria de levar ao conhecimento do leitor o que se passa no mundo psíquico desses jovens.

Minhas percepções diante da experiência e minha análise diante dos relatos me dão conta de que a adolescência é marcada por uma fase de muitas transformações, tanto físicas, quanto psicológicas. O corpo sofre um processo muito grande de transformações, e em um ritmo acelerado.

As incertezas, dúvidas, as mudanças físicas e emocionais, se tornam problemas grandes demais para serem assimilados. É um processo de preparação de quem ainda há pouco era criança, e se vêm como quase adultos, num piscar de olhos. Estas transformações na mente e no corpo causam grandes instabilidades.

Fonte: Imagem por pikisuperstar no Freepik

Com estas mudanças pungentes e ao mesmo tempo conflitantes, os adolescentes podem se sentir pressionados a definir suas identidades sem ainda estar preparados, o que pode causar ansiedade, depressão, e o uso de drogas para entorpecer os sentimentos.

De acordo com o apontado na pesquisa de Grolli, Wagner, Dalbosco (2017), durante este processo de busca pela identidade, tornam-se frequente conflitos e desentendimentos familiares, podendo ser um momento de bastante dificuldade para o adolescente.

Salientar que é necessário que se tenha uma atenção diferenciada, a estes grupos, seria desnecessário, pois, ao deixar a infância os jovens se deparam com uma série de situações de difícil entendimento.

Ao entrar na puberdade as mudanças se apresentam, assim como uma pressa nas formas de fazer, de demonstrar conteúdos e capacidades, um novo despertar para o pensar e o agir.

Tudo ao redor é difícil de compreender, algumas decisões e vontades das outras pessoas não fazem sentido, não conseguem enxergar com clareza que profissão seguir, de quem gostar ou de como gostar desse alguém. Sentem também dificuldades na compreensão dos conflitos enfrentados pelos outros. Nem sempre a família se apresenta como um ponto de apoio; os pais sempre sobrecarregados, não se dão conta dos conflitos que os filhos estão enfrentando.

Sobre esta aparente indiferença dos pais e da sociedade, Foucault (1967) afirma que, “Em uma sociedade frequentemente surda, cega e muda, voltada para a ótica do ter, sob o manto da liquidez, a família se apresenta como uma política em dificuldade” (FOUCAULT, 1967, n.p).

Fonte: Imagem por pch.vector no Freepik

É nesta fase que podem surgir problemas tais como, a depressão, o uso de drogas ilícitas e ideações suicidas.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) conferiu à depressão o quarto lugar entre as vinte doenças de maior AVAD (anos de vida perdidos por morte prematura e “incapacidade”) e a projeção é de que ela alcance o segundo lugar nos próximos 20 anos (Zavachi e cols., 2002).

Ainda segundo a OMS, (World Health Organization [WHO], 2001), quase metade de todas as mortes violentas são em decorrência do suicídio, traduzindo-se em quase 1 milhão de vítimas ao ano, e entre 10 a 20 milhões de pessoas tentam suicídio por ano. As estimativas realizadas apontam que, em 2020, as vítimas poderiam ascender a 1,53 milhões, e de 10 a 20 vezes mais pessoas realizarão intento suicida (Baptista, 2004; Psic, 2011; L. D. de M. Souza et al., 2010).

Percebi ao estar em contato com aqueles jovens, e através de seus relatos, o quanto é tênue seus sentimentos, que bailam entre as incertezas de estarem bem, e a vontade de desistir, por não se sentirem com capacidade bastante de enfrentamento.

Desde aquela experiência que minha bandeira é astiada no sentido de que temos enquanto sociedade, pais e educadores achar a ponta desse iceberg, precisamos com urgência desenvolver nossos sensos críticos, termos um aprofundamento dessas estruturas e despertar nos jovens suas capacidades, a fim de favorecer reflexões, afastar a solidão, leva-los a ter outras visões sobre a interação social, e a aquisição de repertórios sociais e que é de suma importância neste estágio da vida.

Fonte: Imagem por Freepik

Conforme Campos, Del Prette, Del Prette, “Apresentar bom repertório de habilidades sociais facilita o enfrentamento de eventos estressantes que, de maneira geral, funcionam como gatilhos para o desenvolvimento de transtornos depressivos. (CAMPOS, DEL PRETTE, DEL PRETTE, 2014).

Sabemos de inúmeras receitas e soluções, não tem dado certo, como ajudar, quem pode ajudar efetivamente, onde temos falhado?

Existem serviços públicos suficientes para atender essas demandas, são de fácil acesso, temos profissionais capacitados para atender, entender, e intervir antes que o processo se dê?

Os profissionais que a cada seis meses invadem os mercados de trabalho estão prontos para de fato acolherem e dar significado a todas as particularidades desses sintomas?  Vamos nos conscientizar que precisamos de ferramentas eficazes para prevenir um mal tão alarmante e que causa tanta dor.

Sim, porque uma coisa é se falar de setembro amarelo, outra e entender na íntegra o que o movimento propõe de fato. A conscientização sempre será uma ótima aliada, mas diante de dados tão exorbitantes, necessitamos ampliar as redes de apoio, precisamos de um trabalho de mãos dadas.

Enquanto escola, família, sociedade temos que procurar soluções. Não podemos minimizar o sofrimento, jogar para debaixo do tapete, é necessário procurar ajuda, precisamos nos envolver, sair de nossa plácida e cega visão de que o sofrimento do outro é menor. Não vamos chorar pelo leite derramado, vamos levantar das nossas poltronas macias, desligar nossos celulares e prestar atenção nos pedidos de socorro. Basta de banalizar as relações, vamos dar as mãos em prol de uma luta que é nossa. O jovem de hoje é nossa esperança para um futuro melhor, vamos cuidar deles com carinho e atenção que merecem.

Vamos decorar a máxima de Delores:

Aprender a ser; Aprender a conhecer; Aprender a conviver; Aprender a fazer. Jacques Delors (1998).

Afinal, crescer não precisa doer.

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Psiquiatria perinatal: diagnóstico e tratamento

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O livro Psiquiatria Perinatal Diagnóstico e Tratamento é livro de extrema relevância a ser discutido, especialmente pelo avanço constante acerca da investigação dos transtornos mentais da lactação e gravidez. Torna-se válido enfatizar nesse contexto a depressão pós-parto, visto que se tem uma diferenciação conceitual entre depressão pós-parto (DPP), baby blues e psicose puerperal, considerando que são termos utilizados no contexto deste estudo.

O livro discute de uma maneira dinâmica e clara todos esses conceitos, fator que por sinal leva-nos a perceber a necessidade de discutirmos cada vez mais acerca da Psiquiatria Perinatal. A manifestação da depressão pós-parto (DPP) acontece geralmente a partir das primeiras quatros semanas após o nascimento do bebê, alcançando sua intensidade máxima durante os seis primeiros meses posteriores.

Interessante observar que pode ser de intensidade leve, transitória ou agravar-se até uma neurose ou desordem psicótica. Os primeiros dias após o nascimento do bebê são um misto de sentimentos para as mães, sendo os hormônios os principais responsáveis por essa mudança.

Os sintomas da depressão pós-parto (DPP) iniciam como os sintomas do baby blues, más pioram cada vez mais quando não há procura de ajuda. A puérpera sente-se incapaz de cuidar do bebê, medo de machucar, exausta, nervosa, com vontade de sumir ou morrer. A (DPP) requer acompanhamento psicológico ou psiquiátrico. (MORAES et al., 2006).

O baby blues é o distúrbio de maior frequência, é caracterizado por uma melancolia ocasionada pelas alterações hormonais que acontecem com a mãe após o parto, quando a produção de leite se inicia e os hormônios que estavam relacionados à gestação sofrem mudanças, não dar para prevenir, porém é um quadro passageiro que é caracterizado por hiperemotividade, estado de fragilidade, falta de confiança e de incapacidade para cuidar do bebê. É considerado um quadro leve e transitório, tendo remissão espontânea.

Os sintomas são: irritação, ansiedade, medo, vontade de chorar sem motivo, entre outros. Isso acontece devido às mudanças hormonais e também insegurança frente ao novo momento de vida. (SCHWENGBER; PICCININI, 2003).

FICHA TÉCNICA

Título Original: Psiquiatria Perinatal – Diagnóstico e Tratamento

Autores: Alexandre Augusto Jatobá Vasconcelos, Chei-Tung Teng

Editora: Atheneu -RJ

ISBN:  853880166X 9788538801665

Formato: Capa comum

Páginas: 176

Ano: 2010

REFERÊNCIAS

MINISTÉRIO DA SAÚDE (BR), Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Manual técnico pré-natal e puerpério: atenção qualificada e humanizada. Brasília (DF): MS; 2006.

MORAES, I. G. S. et. al. Prevalência da depressão pós-parto e fatores associados. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 40, n. 1, p. 65-70, ago. 2006.

SCHWENGBER, D. D., & PICCININI, C. A. O impacto da depressão pós-parto para a interação mãe-bebê. Estudos de Psicologia, Natal, v. 8, n. 3, p. 403-411, set. / Dez, 2003.

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Considerações acerca da depressão pós-parto

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O sofrimento psíquico vivenciado por uma parcela significativa de mulheres, após o nascimento do bebê, que implica em transformações de natureza psicoafetiva na vida das mesmas, pode ser compreendido como a manifestação da chamada depressão pós-parto. Esse tipo de transtorno, tem sido bastante estudado, justamente por apresentar certa dificuldade, em ser de fato notificado o seu real acontecimento, incidindo em dúvidas e por vezes ainda, em intervenções inadequadas (COUTINHO; SARAIVA, 2008).

 

Fonte: Imagem no Freepik

Para melhor compreensão da manifestação da depressão pós-parto, se faz necessário enfocar que esse tipo de sofrimento psíquico pode ser caracterizado, enquanto mal-estar moderno, uma espécie de transtorno reativo amplamente identificado em vários perfis humanos. Nesse sentido é imprescindível ampliar as discussões acerca do assunto, pois faz parte de um contexto atual, que por muito tempo foi sequer mencionado e precisa ser melhor estudado, principalmente pelos profissionais de saúde em geral, que atendem cotidianamente casos dessa natureza, e ainda não se sentem, em sua grande maioria, seguros em identificar a ocorrência desse transtorno, muito ainda confundido com outras transformações que podem ocorrer naturalmente no puerpério (COUTINHO; SARAIVA, 2008).

De acordo com Coutinho e Saraiva (2008), o nascimento de um bebê provoca várias transformações dentro de uma família, pois implica em alterações e novas adaptações na rotina diária, que podem está associados ao surgimento de problemas emocionais, e nesse contexto, a evolução para o sofrimento psíquico que, pode se encontrar manifesto na esfera afetiva, na dor mental, bem como na esfera física e também nas condições fisiológicas em geral.

Dessa forma, o puerpério é considerado como um período caracterizado por transformações de ordem biológica, psicológica e social, sendo a depressão pós-parto um episódio associado com o nascimento do bebê que se inicia ainda na gestação, sendo continuada após o parto. E apesar da etiologia da mesma, não ser totalmente conhecida e haver ainda discordâncias, no âmbito da literatura, são apontados critérios para sua classificação relacionados primeiramente, a fatores hormonais e fisiológicos, seguidos dos fatores sociodemográficos, e posteriormente os fatores psicossociais (ARRAIS; ARAÙJO, 2017).

Fonte: Imagem no Freepik

De acordo com Schmidt, Piccoloto e Müller (2005), os sintomas da depressão pós-parto incluem irritabilidade, choro com frequência, sentimento de desamparo, falta de motivação, desinteresse sexual, alterações na alimentação e sono, entre sensação de incapacidade e queixas psicossomáticas. Em situações consideradas mais graves, podem se manifestar pela intensa melancolia, que pode evoluir para pensamentos delirantes, episódios psicóticos, ocasionando em alguns casos na ocorrência de abandono do bebê ou infanticídio. 

Diversos fatores estão associados ao desenvolvimento da depressão pós-parto e em sua grande maioria se relaciona com o bebê, como prematuridade, intercorrências neonatais, e ainda malformações congênitas, porém ainda podem ser reconhecidos os fatores socioculturais, como decepções na vida profissional, bem como fatores físicos relacionados as alterações hormonais. Sendo recentemente identificados como também importantes, os seguintes fatores a serem considerados: a situação socioeconômica, baixa autoestima, dificuldades na relação conjugal e a gravidez não desejada (SCHIMIDT; PICCOLOTO; MÜLLER, 2005).

Segundo Schimidt, Piccoloto e Müller (2005) atualmente vem se apresentando uma associação entre a depressão pós-parto e problemas posteriores do desenvolvimento das crianças, incluindo comprometimento da saúde física, o que ocasiona numa readaptação da rotina familiar, o que pode causar sofrimento e adoecimento.  Vale ressaltar que, além disso, é importante acrescentar, que os impactos dessa problemática na vida da mãe e do filho são das mais diversas e estudos apontam para interferências diretas na percepção quanto a sua função materna, ocasionando em sintomas da depressão pós-parto.

A depressão pós-parto se apresenta, antes de tudo, com a expressão de uma dor vivenciada a partir da experiência da maternidade, com isso os enfrentamentos são de natureza íntima no campo da percepção que impacta o emocional e marca o corpo e os pensamentos das mulheres a desenvolvem, mas também surgem no espaço coletivo, quando estas não são compreendidas e até julgadas. Portanto, ao olhar essa problemática é importante observar, que trata-se de um sujeito em sofrimento, que não escolhe, mas que se apresenta e que necessita ser cuidado.

Fonte: Imagem no Freepik

Referências: 

ARRAIS, A. da R.; ARAÚJO, T.C.C.F de. Depressão pós-parto: uma revisão sobre fatores de risco e de proteção. Psic., Saúde & Doenças vol.18 no.3 Lisboa dez. 2017. Disponível em: http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1645-00862017000300016. Acesso em 25/10/2021.

COUTINHO, M. da P. de L.; SARAIVA, E. R. de A. Depressão pós-parto: considerações teóricas. Estud. pesqui. psicol. v.8 n.3 Rio de Janeiro dez. 2008. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-42812008000300014. Acesso em 25/10/2021.

SCHIMIDT, E. B.; PICCOLOTO, N. M.; MÜLLER, M. C. Depressão pós-parto: fatores de risco e repercussões no desenvolvimento infantil. Psico-USF, v. 10, n. 1, p. 61-68, jan./jun. 2005. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/pusf/v10n1/v10n1a08.pdf. Acesso em 25/04/2019. Acesso em 25/10/2021.

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