Como a inteligência artificial tem sido usada para contribuir na criação de uma rede de ódio?

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O discurso de ódio é algo que vem se tornando cada vez mais comum de ser presenciado, tanto fisicamente, quanto virtualmente. O termo “discurso de ódio” é originário do termo em inglês hate speech, e pode ser definido como um conjunto de palavras que intimidam, assediam ou insultam um individuo com base na sua cor, raça, sexo ou religião, e que tem a capacidade de instigar violência e ódio contra tais indivíduos (MOURA, 2016). Esse discurso dá a ideia de que o indivíduo, por causa de suas particularidades e diferenças, deve ser inferiorizado ou menosprezado. Essa externalização do ódio pode ser, e na maioria das vezes é, facilmente identificada, pois são feitas explicitamente, porém em alguns casos pode ser feita subliminarmente, que pode ser difícil de identificar.

O grande avanço tecnológico nos últimos anos fez com que boa parte da população ficasse conectada à internet. Segundo um estudo realizado pela Statista (2022), banco internacional de estatísticas, o Brasil possui cerca 159 milhões de pessoas utilizando as mídias sociais diariamente. Esse número, segundo pesquisa realizada pela Cuponation (2021), faz com que o Brasil fique no top 5 das nações que mais utilizam as mídias sociais.  Com a grande quantidade de pessoas conectadas às redes sociais, a interação entre elas fica cada vez mais fácil e rápida. Essas interações, com a falsa sensação de que tudo é permitido e anônimo, faz com que pessoas com más intenções expressem o seu ódio, que por muitas vezes repletos de preconceitos, a outras pessoas que não fazem parte do seu grupo social.

Fonte: encurtador.com.br/jsX01

Nesse contexto, a Inteligência Artificial (IA) tem sido usada nas redes para a criação de bolhas que propiciam o engajamento, mas, em contrapartida, favorece a disseminação de discursos de ódio. Em uma entrevista realizada para a revista MIT Technology Review, Frances Haugen, ex-gerente de produto do Facebook, afirma que o algoritmo da rede social e a forma de negócios da empresa fazem com que a prioridade seja o lucro ao invés da segurança das pessoas. Os algoritmos do Facebook são treinados para identificarem qual postagem causaria mais engajamento para determinado usuário. Segundo Haugen, essa classificação baseada em engajamento é perigosa e sem integridade, pois esse algoritmo também favorece a desinformação e o extremismo.

O algoritmo do Facebook na verdade é composto por vários algoritmos juntos, como algoritmos que classificam as preferências de cada usuário, e algoritmos que detectam conteúdos ruins como nudez ou spam, esses algoritmos são chamados de algoritmos de aprendizado de máquina. Esses algoritmos são treinados e baseados de acordo com as interações do usuário, que conseguem identificar por exemplo se você gosta de cachorros fofos passando pelo seu feed de acordo com os seus clicks e comentários em publicações. Essas informações podem ser ainda mais refinadas de acordo com o sexo e idade do usuário. Isso faz com que o engajamento da plataforma seja muito mais poderoso, pois faz com que os usuários passem muito mais tempo na rede social. E essa recomendação não se limita apenas a coisas boas, segundo uma publicação de Horwitz e Seetharaman (2020) no Wall Street Journal, 64% dos grupos extremistas tiveram suas assinaturas baseadas em recomendações dos modelos de “Grupos nos quais você deve participar” e “Descubra”, e isso mostra o quanto podem ser prejudiciais esses algoritmos.

Fonte: encurtador.com.br/gkKSU

Segundo Nandi (2018), a inteligência artificial (IA) pode também ser um grande aliado no combate ao discurso de ódio presentes nas redes sociais, porém ainda existem problemas que fazem com que isso não seja totalmente possível. A necessidade de ter uma supervisão humana faz com que a avaliação do discurso de ódio seja mais demorada ou até mesmo ineficaz. Outro problema que pode ser encontrado é que a IA consegue identificar as frases, porém tem dificuldade de entendê-las.

Uma abordagem diferente da inteligência artificial pode ser usada para ajudar no combate ao discurso de ódio presente nas redes sociais. Segundo o artigo Can Artificial Intelligence Predict The Spread Of Online Hate Speech? (2019), publicado pela Forbes, anteriormente os algoritmos de inteligência artificial analisavam o conceito em torno das publicações para decidir se as publicações eram ou não consideradas hostis. Já nessa nova abordagem que foi coordenada pela IBM, a ideia não era decidir se a postagem é ou não de ódio, e sim onde e como se inicia esse discurso e como isso se desdobra para o mundo real.

A análise consistiu em definir uma lista de palavras que fazem parte de discursos de ódio, baseados em terrorismo islâmico e violência anti-islâmica, com dados de tweets e publicações no Reddit feitas por cerca de 15 milhões de usuários. Depois que os dados foram analisados e classificados pela inteligência artificial, foi feito uma linha do tempo, e constatou que após incidentes de violência anti-islâmica, os discursos de ódios nas redes sociais aumentaram consideravelmente, e que esses discursos não se concentram apenas aos muçulmanos mas a todos os grupos que são minorias.

Considerando todo esse contexto, podemos concluir que a tecnologia não é neutra, mas tão pouco é boa ou má. Na verdade seu impacto se deve à forma como as pessoas a utilizam. Assim, como há algoritmos de IA sendo usados para criar bolhas de ódio, há, também, cientistas buscando na IA a detecção de onde e como se originam esses discursos. Talvez, em um dado momento consigamos combater e punir essa disseminação de ódio, muita coisa já começou nesse aspecto, muitos crimes já estão sendo trazidos à tona.

Referências:

CAN ARTIFICIAL INTELLIGENCE PREDICT THE SPREAD OF ONLINE HATE SPEECH? [S. L.]: Forbes, 30 ago. 2019. Disponível em: https://www.forbes.com/sites/bernardmarr/2019/08/30/can-artificial-intelligence-predict-the-spread-of-online-hate-speech/?sh=351757277167. Acesso em: 11 nov. 2022.

CASEIRO, Sofia. O impacto da inteligência artificial na democracia. In: IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS DE COIMBRA: UMA VISÃO TRANSDISCIPLINAR. p. 135.

CUPONATION. USUÁRIOS REDES SOCIAIS: pesquisa aponta crescimento de usuários das redes por país. 2021. Disponível em: https://www.cuponation.com.br/insights/redessociais-2021a2026. Acesso em: 11 nov. 2022.

HORWITZ, Jeff; SEETHARAMAN, Deepa. Facebook Executives Shut Down Efforts to Make the Site Less Divisive: the social-media giant internally studied how it polarizes users, then largely shelved the research. Wall Street Journal. New York, p. 1-1. 20 maio 2020. Disponível em: https://www.wsj.com/articles/facebook-knows-it-encourages-division-top-executives-nixed-solutions-11590507499. Acesso em: 11 nov. 2022.

MIT TECHNOLOGY REVIEW. [S. L.]: Mit, 05 out. 2018. Disponível em: https://www.technologyreview.com/2021/10/05/1036519/facebook-whistleblower-frances-haugen-algorithms/. Acesso em: 08 dez. 2022.

MOURA, Marco Aurelio. O discurso do ódio em redes sociais. Lura Editorial (Lura Editoração Eletrônica LTDA-ME), 2016.

NANDI, José Adelmo Becker. O COMBATE AO DISCURSO DE ÓDIO NAS REDES SOCIAIS. 2018. 58 f. TCC (Graduação) – Curso de Tecnologias da Informação e Comunicação, Universidade Federal de Santa Catarina, Araranguá, 2018.

STATISTA. Internet usage in Brazil – Statistics & Facts. 2022. Disponível em: https://www.statista.com/topics/2045/internet-usage-in-brazil/#topicOverview. Acesso em: 11 nov. 2022.

STEIN, Marluci; NODARI, Cristine Hermann; SALVAGNI, Julice. Disseminação do ódio nas mídias sociais: análise da atuação do social media. Interações (Campo Grande), v. 19, p. 43-59, 2018.

Observação: artigo desenvolvido na disciplina “Tecnologias Criativas” do Programa Extensionista Interdisciplinar “Tecnologias para a Vida” dos cursos de Ciência da Computação, Sistemas de Informação e Engenharia de Software da Ulbra Palmas.

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AlphaGo e a capacidade de uma IA de replicar a individualidade humana

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“AlphaGo é o primeiro programa de computador a derrotar um jogador Go humano profissional, o primeiro a derrotar um campeão mundial Go e é sem dúvida o jogador Go mais forte da história”[3]. Especula-se sobre quando as máquinas terão a capacidade de pensar por conta própria? Este questionamento vem mesmo que de forma muito discreta, carregado de um sentimento de assombro, pois não podemos imaginar como será o mundo quando isso acontecer, porém, o AlphaGo pode nos dar um vislumbre de como isto pode ser possível.

O jogo Go tem sua origem na china e pode ter sido criado há mais de 3.000 anos [3], em uma síntese, pode ser descrito assim:

Dois jogadores, usando pedras brancas ou pretas, se revezam colocando suas pedras em um tabuleiro. O objetivo é cercar e capturar as pedras do adversário ou criar estrategicamente espaços de território. Uma vez que todos os movimentos possíveis tenham sido executados, tanto as pedras no tabuleiro quanto os pontos vazios são computados. O maior número ganha [2].

Fonte: encurtador.com.br/fhJ16

O que torna este jogo um desafio para a IA é que as possibilidades são praticamente ilimitadas e cada jogada pode ir além de uma técnica ou estratégia, ela pode refletir o humor ou o sentimento do competidor, sua individualidade. Assim, poderia um computador ser capaz de construir sua própria individualidade? O AlphaGo utiliza redes neurais profundas [2] e formou seu estilo próprio (sua individualidade?) baseando-se em jogos de competidores amadores e profissionais, jogando milhares e milhares de vezes contra outros competidores assim como contra a si próprio.

Em nossa vida são nossas vivências na infância, em um dado  local ou em uma determinada comunidade, por exemplo, que definem quem nós somos,  por isso, mesmo que com formação e níveis de inteligência semelhantes, os jogadores humanos são diferenciados, fazem suas escolhas não apenas baseado na lógica, mas nas suas experiências.  A ideia de usar algoritmos de IA cada vez mais potentes no AlphaGo é torná-lo capaz de também tomar decisões nas experiências que formam suas redes e seus dados. Assim, por mais que seu código tenha sido programado por uma equipe de desenvolvedores extremamente competente, não foram eles que lhes disseram quais decisões deveriam tomar mediante cada partida, foram sua incontáveis experiências, acertos e erros que o fizeram ser capaz de derrotar o campeão mundial dez anos antes do que se esperava ser possível por um computador [2].

Fonte: encurtador.com.br/jBHM1

O fato de o software necessitar que alguém mova as peças fisicamente para ele talvez nos dê uma leve sensação de conforto ao saber que ele ainda precisa de um representante humano para concretizar suas ações, mas a implementação de um recurso como este é apenas questão de tempo. Contudo, os esforços em fazer o AlphaGo se tornar cada vez mais capacitado tem como fim auxiliar a humanidade [2] em questões onde a tomada de decisão correta pode significar a vida ou a morte de um paciente, por exemplo.

Por mais assustador que possa parecer ter um computador que pensa por conta própria e que é melhor que um humano nisso, somos nós quem os mantemos e  nos beneficiamos de seus feitos, de modo que as possibilidades de utilização de um software deste nível são inimagináveis, seja na área jurídica ou médica onde uma decisão baseada em experiência tende a ser mais assertiva. O AlphaGo pode ser muito mais que um jogador de tabuleiro e se tornar o avanço necessário para uma sociedade ainda mais desenvolvida.

REFERÊNCIAS:

[1] https://ai.plainenglish.io/how-deepminds-alphago-became-the-world-s-top-go-player-5b275e553d6a

[2] https://youtu.be/EfSWcJ_8Jqg

[2] https://www.deepmind.com/research/highlighted-research/alphago

Observação: artigo desenvolvido na disciplina “Tecnologias Criativas” do Programa Extensionista Interdisciplinar “Tecnologias para a Vida” dos cursos de Ciência da Computação, Sistemas de Informação e Engenharia de Software da Ulbra Palmas.

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Algoritmo da Vida, uma tecnologia de esperança!

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Os esforços para ajudar o combate ao suicídio continua de forma crescente. De acordo com  com a Organização Mundial da Saúde (OMS), dados publicados em setembro de 2022 indicam que mais de 700 mil pessoas morrem por ano devido ao suicídio, o equivalente a uma a cada 100 mortes registradas. Dessas pessoas, a faixa etária majoritária são os jovens entre 15 a 29 anos de idade [1].

Existem grandes campanhas movidas no intuito de prevenir o suicídio e a depressão. Uma delas é o Setembro Amarelo, conhecido nacionalmente  por promover campanhas de conscientização e apoio às pessoas com vulnerabilidade psicológica. Durante o mês da campanha são realizadas ações sociais, como caminhadas, propagandas televisivas e a oferta de cursos gratuitos de prevenção ao suicídio.

Fonte: encurtador.com.br/fvAHO

A causa para a o suicídio é aberta a muitos contextos, provinda muitas vezes pela depressão. Essa doença  decorre de fatores  biológicos  (fatores genéticos), fatores psicológicos(personalidade e vivências ao longo da vida),   fatores  clínicos   (incluídos   transtornos   psiquiátricos),  fatores sociais e fatores ambientais (clima frio e localização geográfica, como estar afastado do convívio social) [2].

Com essa perspectiva, a empresa SAP Brasil, especializada em desenvolvimento de softwares, realizou em 2019 o evento SAP NOW que aconteceu na cidade de São Paulo. Durante o evento, foi apresentado em conjunto com a Amazon Web Service (AWS) o lançamento do ‘Algoritmo da Vida’, um algoritmo que tem como objetivo a prevenção de suicídio com base nas atividades nas redes sociais.[3]

Fonte: encurtador.com.br/lKNY2

Segundo Luciana Coan, diretora de comunicação integrada e responsabilidade social corporativa na SAP Brasil em entrevista ao Aberje Trends 2020, o Algoritmo da Vida busca identificar e oferecer ajuda às pessoas com depressão e tendências suicidas, no ambiente digital [4]. Ou seja, a ideia inicial foi criar uma ferramenta que pudesse agir em um primeiro contato de forma automática, sem necessariamente a intervenção humana. 

A proposta inicial apresentada contou com a parceria da rede social Twitter. Para que fosse possível verificar os resultados reais, a plataforma com o então algoritmo buscava associações de palavras e combinações de frases que continham os termos “solidão”, “fracasso”, “medo”. Feito a análise de posts com esses termos, o algoritmo foi capaz de identificar contas consideradas de risco ao suicídio, dessa forma era feito o encaminhamento destes perfis para especialistas para a realização de uma checagem cuidadosa e detalhada para identificar contextos, ironias e recorrência de termos e periodicidade. O Algoritmo da vida está em atividade desde janeiro de 2019 e já detectou mais de 300 mil menções no qual contém palavras e expressões de caráter depressivo.

Exemplo de publicação que o algoritmo captaria

Para a HarrisLogic (https://harrislogic.com/), empresa criada para desenvolver soluções que integram tecnologia e saúde, essa tecnologia representa a revolução da saúde mental, ao trabalhar a favor do paciente com base nas informações reunidas, contribuindo para que tratamentos sejam orientados de acordo com seu histórico. Uma ferramenta criada para salvar vidas. [5].

Dessa forma, a tecnologia em conjunto com outras áreas de conhecimento, pode desenvolver ferramentas que impactam de forma benéfica na vida das pessoas. É visível a desmistificação do uso da tecnologia em áreas em que antes não era popular o uso de meios tecnológicos. O Algoritmo da Vida pode ser o pontapé inicial para o surgimento de outras futuras ferramentas que podem contribuir para a vida das pessoas.

Referências

[1] https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2022/setembro/anualmente-mais-de-700-mil-pessoas-cometem-suicidio-segundo-oms

[2] Turecki  G,  Brent  DA,  Gunnell  D,  O’Connor  RC, Oquendo   MA,   Pirkis   J,   et   al.   Suicide   and  suicide  risk.  Nat  Rev  Dis  Primers.  2019;5(1):74. DOI: 10.1038/s41572-019-0121-0

[3] https://convergencia.digital/sap/sap-brasil-aws-e-africa-agregam-ti-ao-algoritmo-da-vida-na-prevencao-ao-suicidio/

[4] https://www.aberje.com.br/algoritmo-da-vida-solucao-tecnologica-no-combate-a-depressao

[5] https://news.sap.com/brazil/2019/10/tecnologia-como-ferramenta-de-prevencao-ao-suicidio-bl0g/

Observação: artigo desenvolvido na disciplina “Tecnologias Criativas” do Programa Extensionista Interdisciplinar “Tecnologias para a Vida” dos cursos de Ciência da Computação, Sistemas de Informação e Engenharia de Software da Ulbra Palmas.

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O quão sufocantes podem ser os avanços tecnológicos para a privacidade?

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O quanto os anunciantes sabem sobre você? A pergunta é simples, e a resposta também deveria ser, ou não seria? A forma de distribuição de anúncios por parte dos anunciantes sempre foi realizada de maneira generalizada,  às vezes focada em nichos, nem sempre se sabia até onde ela conseguiria atingir. Mas isso mudou, e mudou de maneira completamente radical, porque entramos na era digital, tudo se tornou rápido e instantâneo. A forma que os anúncios passaram a chegar até você sofreu uma total reviravolta. Isso se dá pelos dados e informações, traços que você passou a deixar para trás quando começou a utilizar a internet. Tudo que você gosta e não gosta acaba se tornando dados públicos, que são utilizados para direcionar a você anúncios de seu interesse, são os chamados “anúncios direcionados”.

E isso vai muito além de apenas coisas que você deixou de gostar no verão passado, isso envolve todos os seus dados pessoais. Já parou para pensar que alguém pode saber o que você está fazendo ou aonde você está? Melhor ainda, todos os lugares em que esteve no último mês? Parece assustador, como um tema para um bom conto de ficção científica, só que não seria tão terrível se fosse apenas uma ficção.

Fonte: Imagem no Freepik

O governo americano rastreia seus cidadãos em  uma base diária [1], e esses dados de localização não vêm diretamente de companhias telefônicas, e sim de parceiros de localização. Mas de onde sai esses dados de localização se não das companhias telefônicas? De aplicativos que utilizam esse recurso no seu celular. Sabe esse seu aplicativo para ver a previsão do tempo? Então é por aí que começa, aplicativos como o exemplificado que de primeiro relance oferecem serviços de forma gratuita na verdade lucram, e lucram bastante, porque você é na verdade o produto deles.

Fonte: Imagem no Freepik

Em sua matéria [3] no jornal Intelligencer, Max Read relata a assustadora experiência de ter uma campainha inteligente da Ring, que pertence à gigante Amazon. Ele aborda sobre as práticas de segurança adotadas pela empresa e questiona a real eficácia do produto e também o destino das gravações realizadas pelo mesmo, considerando que os dados obtidos pelo equipamento podem ser mantidos somente para si ou compartilhados com um feed do aplicativo da fabricante.

Fonte: Imagem no Freepik

Adentrar neste método de compartilhamento abre espaço para diversos questionamentos a respeito do custo benefício de ter a privacidade reduzida em troca de segurança, pois nem sempre estas soluções se mostram benéficas, como mostra o resultado da investigação da NBC News [4] sobre as câmeras destas campainhas. A investigação feita constata que não há uma uma avaliação da eficácia do envio das filmagens para o feed, não havendo índice de melhora na redução da criminalidade dos pontos em que as câmeras foram instaladas, levando assim a uma exposição aparentemente “desnecessária” da vizinhança.

Fontes:

[1] The New York Times. The Government Uses ‘Near Perfect Surveillance’ Data on Americans. Disponível em: https://www.nytimes.com/2020/02/07/opinion/dhs-cell-phone-tracking.html Acesso em: 18 de Novembro de 2021.

[2] The New York Times. All This Dystopia, and for What?. Disponível em: https://www.nytimes.com/2020/02/18/opinion/facial-recognition-surveillance-privacy.html Acesso em: 18 de Novembro de 2021.

Wind Map. wind map. Disponível em: http://hint.fm/wind/ Acesso em: 18 de Novembro de 2021.

[3] READ, Max. I Got a Ring Doorbell Camera. It Scared the Hell Out of Me. The Intelligencer. Doylestown. 13 fev. 2020. Disponível em: https://nymag.com/intelligencer/2020/02/what-its-like-to-own-an-amazon-ring-doorbell-camera.html. Acesso em: 22 nov. 2021.

[4] FARIVAR, Cyrus. Cute videos, but little evidence: Police say Amazon Ring isn’t much of a crime fighter. Nbc News: Hundreds of police departments have signed agreements with Ring to gain access to footage filmed on home surveillance cameras. New York City. 15 fev. 2020. Disponível em: https://www.nbcnews.com/news/all/cute-videos-little-evidence-police-say-amazon-ring-isn-t-n1136026. Acesso em: 22 nov. 2021.

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O que é metaverso? E o que esperar do futuro da internet?

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O conceito metaverso começou a ganhar a mídia após o anúncio da Meta (antigo Facebook Inc.) de investir na criação de um ambiente virtual que integre todos os seus serviços e tecnologias em um só lugar[1]. Considerado como o “próximo capítulo da Internet” ou “Internet 3D”, esse  universo virtual vai permitir às pessoas interagir e realizar vários tipos de atividades de forma imersiva, como trabalhar, jogar, fazer compras, sair com os amigos. Esse mundo será criado a partir da junção de diversas tecnologias, como realidade virtual, realidade aumentada, NFTs, criptomoedas.

Apesar de parecer uma novidade,  o termo metaverso já foi abordado no ano de 1992, no livro Snow Crash, um livro de ficção científica escrito por Neal Stephenson. Na história, humanos na forma de avatares interagem uns com os outros em um mundo virtual [2]. Além disso, jogos que exploram o metaverso já existem desde os anos 2000. Por exemplo, o Second Life, que é um ambiente virtual e tridimensional que simula a vida real e social do ser humano através da interação entre avatares.

Fonte: Imagem no Pixabay

Os games são uma parte essencial do metaverso, mas o metaverso não irá se limitar aos jogos, eles são apenas a porta de entrada, um primeiro passo nessa nova tecnologia [3]. A plataforma de games Roblox, por exemplo, já é um tipo de jogo mais atual que tem a ideia de metaverso, conta com 700 milhões de usuários e é baseado em mundo aberto, que permite que os jogadores criem seus mundos virtuais e os demais jogadores possam interagir com esse mundo.

Mas qual a diferença do metaverso e a realidade virtual? A realidade virtual (RV) possibilita uma imersão completa em um mundo simulado, uma vez que é ela quem vai garantir o transporte a esse outro mundo digital. Mas a RV não é tudo. A construção desse universo amplo e integrado dependerá de muitas outras tecnologias, incluindo criptomoedas e NFTs[4].

Fonte: Imagem no Pixabay

Gigantes companhias de tecnologia, como a Google, Microsoft, Amazon estão investindo nessa nova fase da internet. Não é um interesse exclusivo da Meta, a Microsoft por exemplo anunciou recentemente no evento Ignite 2021 a chegada de avatares 3D ao Teams. Com todo esse aporte tecnológico e financeiro das principais empresas, o avanço do metaverso se dá a passos largos mas ainda com bastante cautela, isso por que essa tecnologia pode revolucionar o cenário atual, mas para que isso aconteça é necessário que as pessoas tenham acesso à tecnologia de ponta como 5G, óculos de realidade virtual, computadores mais robustos, e essa não é a realidade da maioria das pessoas.

O metaverso pode se tornar o novo “terceiro lugar”, termo criado pelo sociólogo Ray Oldenburg que se refere a lugares onde as pessoas passam a maior parte do tempo, como a casa (“primeiro” lugar) e o trabalho (“segundo” lugar)[5]. Atualmente já permanecemos bastante tempo conectados, seja por meios de smartphones, computadores, smarts tvs e videogames, e com cada vez mais a presença de dispositivos inteligentes (IoT) esse tempo tende a aumentar de forma que a realidade virtual se conectará com a realidade física.

O metaverso irá impactar a forma como vivemos e como nos relacionamos, teremos a possibilidade de passar mais tempo em outra realidade, de mudar nossos hábitos, comportamentos e cultura. Mas existem alguns questionamentos que nos fazem pensar sobre o futuro dessa tecnologia, por exemplo, qual vai ser o limite entre realidade física e realidade virtual? E até onde as ações no mundo virtual irão interferir no  no mundo físico? Ainda é cedo para termos respostas sobre esses questionamentos, até porque  o metaverso está em fase inicial, mas a partir dos planos das gigantes de tecnologia é possível identificar que esse futuro está próximo. O potencial do metaverso é muito grande, mas o seu sucesso está diretamente ligado ao comportamento das pessoas e ao seu impacto nas relações que estas estabelecem em seu meio, mas também ao acesso a essas tecnologias, que ainda estão potencialmente fora do alcance da grande massa.

Referências:

1.https://canaltech.com.br/apps/metaverso-desencadeia-compra-desenfreada-por-imoveis-virtuais-203657/

2.https://mittechreview.com.br/brasil-tem-chance-de-liderar-a-corrida-pelo-metaverso/

3.https://www.bbc.com/portuguese/geral-59438539

4.https://www.techtudo.com.br/noticias/2021/11/software-microsoft-quer-entrar-no-metaverso-com-avatares-3d-no-teams.ghtml

5.https://mittechreview.com.br/metaverso-pode-ser-nova-internet-e-vira-prioridade-das-big-techs/

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Concordo com os termos (malefícios) e desejo continuar

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Ao criarmos uma conta em qualquer plataforma online, há sempre uma pergunta antes de finalizarmos o cadastro: Você concorda com os termos de uso? E ao concordar, quase que automaticamente sem ao menos nos perguntar com o que estamos compactuando, é permitido uma série de usos de dados, informações e ainda concordamos com o modo em que a plataforma nos tratará dali para frente [1].

As redes sociais são onde atualmente mais produzimos dados de valor para uma grande estrutura onde as gigantes da tecnologia faturam bilhões, a venda de anúncios. Trata-se de um mercado tão lucrativo e obscuro em seus segredos que de tempos em tempos participantes desse sistema são levados a júri. Como é o caso do Facebook[2].

Já houve vários casos sobre esse assunto, mas um dos mais polêmicos remete às eleições do presidente dos Estados Unidos, onde o Facebook sofreu um forte abalo com a revelação de que as informações de mais de 50 milhões de pessoas foram utilizadas sem o consentimento delas pela empresa americana Cambridge Analytica para fazer propaganda política[2].

Porém o fato que iremos dar atenção vai um pouco mais a fundo desse emaranhado de interesses. Para que a estrutura de venda de anúncios esteja em pleno funcionamento, as centenas de algoritmos por trás do Facebook trabalham em cada ação dos usuários para traçar perfis cada vez mais detalhados. O que antes era “Homem, entre 18 e 25 anos, Brasil”, agora está cada vez mais direcionado para os nichos comportamentais “Homem, entre 18 e 25 anos, tem interesse em ciclismo e politica de direita, acessa conteúdo de curiosidades históricas, Brasil”[3].

Todas essas informações poderiam ser consideradas apenas como uma estratégia de negócios agressiva e eficiente por alguns e até conveniente para outros ao mostrar anúncios e conteúdos personalizados ao perfil de quem utiliza a rede social. No entanto, a ex-gerente de produto da Facebook, Frances Haugen, foi a público expor os malefícios que esses algoritmos podem trazer à sociedade em uma escala quase que global.

Fonte: Imagem no Pixabay

Acontece que, segundo a ex-funcionária, as linhas de códigos desenvolvidas e treinadas para traçar perfis e entregar anúncios e conteúdos direcionados (para que, no fim, gere interesse de terceiros comprar esse veículo de comunicação) estão polarizando as opiniões, ajudando na disseminação de discursos de ódio, entregando conteúdos nocivos a mentes fragilizadas e promovendo uma espécie de “bolha social”[3].

Para exemplificar a gama da nocividade, pesquisas apontaram que adolescentes que apresentam indícios de comportamento depressivo estão recebendo em suas redes sociais mantidas pelo Facebook (agora conhecida como Meta) conteúdos melancólicos e cada vez mais negativos, podendo formar uma espiral que puxa tudo que é apresentado na tela para um contexto mais nocivo a cada clique.

Essa nocividade se estende a quem consome conteúdos extremistas e de discursos de ódio, o que leva ao indivíduo a estar sempre recebendo um reforço positivo para posições negativas.

É realmente assustador, mas o pico do terror se dá quando Francês Haugen declarou em tribunal que a gigante do vale do silício dona do Facebook e do Instagram tem conhecimento desses “desvios de conduta” em seus algoritmos. Alguns relatórios datados de 2016 já demonstravam essas tendências e Francês continua em seu depoimento dizendo que a empresa escolheu conscientemente o lucro ao invés da segurança[3].

Não que seja surpreendente uma multinacional bilionária subjugar necessidades humanas a troco de alguns dólares a mais. Os tribunais são lentos e com dinheiro quase ilimitado, grandes empresas como o Facebook não temem à lei, pois multas referentes a processos perdidos são irrisórias perto do quanto faturaram com a irresponsabilidade.

Fonte: Imagem no Freepik

O mundo on-line não é mais um equipamento que você deixa na sala e compartilha com todos da casa. Com a popularização dos smartphones e a facilidade no acesso à internet, as horas conectadas aumentaram drasticamente. Não se tem mais a necessidade de haver uma intenção para acessar as mídias sociais, elas estão onipresentes, a cada momento uma notificação mostra isso.

Essa aproximação do ser humano com a internet e as mídias sociais maximiza a influência que recebemos e entregamos via megabits. Qualquer pessoa pode ser ouvida, qualquer pessoa pode ser calada, qualquer pessoa pode ser atacada, tudo isso do conforto e segurança de uma tela. Nesse contexto, atos passíveis de interpretação de integridade como o caso dos algoritmos do Facebook estão na palma da mão de bilhões de pessoas antes de receberem um veredito.

Enquanto isso, os usuários continuam sendo levados a pensar serem protagonistas e guias de suas próprias redes sociais. Grupos com ideias perigosas e violentas continuam recebendo novos membros trazidos pelos rastreadores de interesses, adolescentes continuam sendo soterrados por conteúdos nocivos à saúde mental, pessoas continuam achando que estão em completa razão quando toda sua bolha social pensa o mesmo.

E todos continuam curtindo e compartilhando enquanto o que permanece são as perguntas: Quantos segredos que afetam bilhões de pessoas serão mantidos por um punhado de corporações? Até quando o usuário dirá “concordo com os termos e desejo continuar”?

Fonte: Imagem no Freepik

Referências

[1] COSTA, Thaís. O que está acontecendo com o Facebook?: Entenda por que a maior rede social do mundo pode estar caminhando em direção ao fim. In: COSTA, Thaís. Https://rockcontent.com/br/blog/facebook-vazamento-de-dados/: Thaís Costa, 23 mar. 2018.

[2] POZZI, SANDRO. EUA multam Facebook em 5 bilhões de dólares por violar privacidade dos usuários: Empresa é punida com multa recorde pelo vazamento de dados no caso Cambridge Analytica. In: POZZI, SANDRO. EUA multam Facebook em 5 bilhões de dólares por violar privacidade dos usuários: Empresa é punida com multa recorde pelo vazamento de dados no caso Cambridge Analytica.

[3] HAO, Karen. O denunciante do Facebook diz que seus algoritmos são perigosos. Eis o motivo. In: HAO, Karen. O denunciante do Facebook diz que seus algoritmos são perigosos. Eis o motivo.. Https://www.technologyreview.com/2021/10/05/1036519/facebook-whistleblower-frances-haugen-algorithms/: Karen Hao, 5 out. 2021.

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Bioimpressão de órgãos

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Nas longas sessões de filmes clássicos da sessão da tarde, onde existem cenários futurísticos com carros voadores nos jetsons ou blade runner, até teorias físicas e astrofísicas presentes de forma cartunesca para justificar eventos e fatos nos quadrinhos da marvel, temos uma ideia de como a indústria do entretenimento ou a arte  imagina – inspira- os próximos passos da ciência.

Nos últimos anos, o ramo de tecnologia aplicada à medicina parece estar iniciando o caminho para a geração de órgãos sintéticos. Sim! como o corpo do homem bicentenário, ou o olho do Thor. Mais além, como a arte imagina a ciência, por que não uma mão e olhos aprimorados como em cyberpunk 2077? O futuro é promissor, mas vamos entender melhor como essa tecnologia funciona e qual é o status atual tanto de sua utilização no mercado quanto da capacidade atual de gerar tecidos e órgãos.

A tecnologia de Bioimpressão possui etapas similares à da impressão 3D. Sendo basicamente as seguintes etapas [1] :

  • Etapa de pré-processamento, nesta etapa necessita-se de um BioCAD / Blueprint ou simplesmente do projeto do tecido para a bioimpressão;
  • Etapa de processamento ou bioimpressão 3D, nesta etapa são utilizados componentes, como células ou esferóides, materiais sintéticos ou biomateriais, hidrogéis e biomoléculas;
  • Etapa de pós-processamento é a etapa de maturação do tecido bio impresso. Ela necessita de sistemas fechados e controlados para a maturação do tecido bio impresso, podendo ser equipamentos chamados biorreatores, essenciais para o desenvolvimento do tecido bio impresso.
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Há portanto uma importante relação multidisciplinar que propicia a existência dessa tecnologia. Para isso, os ramos da engenharia tecidual, da biofabricação, da bioimpressão e da tecnologia da informação se entrelaçam dando origem à possibilidade de construção de órgãos funcionais sintéticos.

Vale destacar que a engenharia de tecidos já existia desde os anos 80, período no qual já era possível cultivar células de um coração. Outros avanços que merecem menção são: o desenvolvimento de uma orelha nas costas de um camundongo em meados dos anos 90 e, em 2019, a impressão de um cubo 3cmx3cmx3cm de um coração humano [2]. Para um leigo parece pouco ou inexpressivo, mas se trata de um grande avanço, que demarca o início do foco de mais estudos na área que possibilitará o desenvolvimento completo de órgãos.

A implementação da impressão se dá objetivamente pela inserção de célula por célula – seja muscular, endoteliais ou células tronco – fixadas por hidrogel de textura semelhante ao gel de cabelo que obviamente é composto por materiais biologicamente compatíveis com as células que comporão o tecido ou órgão em questão. Em alguns artigos esse hidrogel pode ser de biotina ou fibrina. Conforme pode ser visto no vídeo abaixo.

Vídeo – Bioimpressão de órgãos humanos

“Atualmente temos próteses e implantes adequados para tecidos ósseos e para cartilagem. Mas por conta dessa complexidade bioquímica e biomecânica dos osteocondrais, não existe um biomaterial comercialmente adequado para esse tipo de implante. Por isso, os médicos acabam tendo bastante dificuldade de tratar lesões nos joelhos dos pacientes, por conta da dificuldade da especificidade da região osteocondral”[3].

“Nos últimos anos, ocorreu bastante progresso na pesquisa referente a tecnologia de bioimpressão e sua aplicação na geração de análogos de tecidos, incluindo pele, válvulas cardíacas, vasos sanguíneos, ossos, cartilagem, estruturas da córnea, fígado, tireoide e tecido cardíaco” [1].

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Consoante a isso, há o problema de não ser possível, ainda, a impressão de órgãos plenamente funcionais, portanto há alguns passos que precisam ser dados antes de se alcançar o patamar desejado, a bioimpressão também enfrenta dificuldades para encontrar materiais que promovam o melhor ambiente possível para o crescimento das células que formariam o órgão. Os polímeros sintéticos utilizados na impressão, apesar de serem fortes e adaptáveis para melhorar a viscosidade e a capacidade de se imprimir os órgãos, não são biodegradáveis e não possuem uma boa adesão para suportar o crescimento adequado de células, ou seja, não possuem uma boa biocompatibilidade. Por outro lado, polímeros naturais não são tão fortes nem possuem a adaptabilidade dos sintéticos, porém oferecem uma adesão melhor para o crescimento de células. Estudos estão sendo feitos para que um material que combine as qualidades dos dois tipos de polímeros, como na Universidade de Swansea, que propôs a utilização de polímeros baseados na utilização de plantas, combinando a resistência da célula vegetal com a adesão para o suporte do crescimento das células [4].

Outro problema com a bioimpressão é a vascularização dos tecidos impressos, uma vez que as ferramentas atuais muitas vezes não possuem a capacidade de criar a vascularização de calibre apropriado para os tecidos. No corpo os vasos sanguíneos carregam nutrientes e oxigênio para as células e levam das células o lixo celular [5]. Assim como o problemas dos polímeros, existem estudos sendo feitos para solucionar esse problema, como uma nova impressora da Cellink and Prellis Biologics[6] e o modelo SWIFT de impressão, do Instituto Wyss de Harvard [7].

Por fim, para avançar nessa área deve se ter ciência que esse estudo agora é muito mais sistemático, e necessita de uma nova abordagem computacional para compreender  sistemas biológicos complexos de tecidos. Com isso, o BioCAE (plataformas integradas para estimar processos biológicos) poderá se tornar a chave para etapas importantes dos processos de Biofabricação e Bioimpressão de tecidos”[1]. Para o sucesso do BioCAE na área da bioimpressão, é imprescindível o avanço no conhecimento biológico e  na compreensão da relação entre células e tecidos.

“Compreender o fenótipo celular e tecidual, redes de interação de linhagens celulares, células induzidas/editadas e de tecidos é crucial para o desenvolvimento de novos Bioprocessos e Bioprodutos, como a biofabricação de tecidos e futuramente órgãos”[1]. O conhecimento é a chave para o desenvolvimento em qualquer área de conhecimento, e uma das barreiras no contexto da bioimpressão é entender a fundo como as células funcionam e suas relações, por isso a importância da análise sistemática. “A análise sistemática e o uso de métodos computacionais como o BioCAE auxiliará de forma significativa o desenvolvimento de Bioprocessos e Bioprodutos, minimizando os custos, o tempo e o uso de animais”[1].

Em vista dos fatos apresentados, poder gerar um órgão utilizando tecnologia deixa de ser algo distante dos filmes de  ficção científica e se torna algo possível de se alcançar. Graças à sua evolução, a ciência dá passos cada vez mais largos em direção a este objetivo, deixando as pessoas esperançosas com os incontáveis avanços na área da saúde que serão proporcionados pela bioimpressão de órgãos e fabricação de bioprodutos. É entendido que ainda há bastante obstáculos pela frente, além de vários erros a serem cometidos, mas devemos nos manter confiantes no progresso, pois como dizia Carl Sagan, “existem muitas hipóteses em ciência que estão erradas. Isso é perfeitamente aceitável, eles são a abertura para achar as que estão certas”.

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REFERÊNCIAS

[1]https://www.biofabricacao.com/bioimpressao-3d

[2]https://www.uol.com.br/tilt/noticias/redacao/2019/09/20/bioimpressao-o-futuro-nos-orgaos-humanos-impressos-em-laboratorio.htm

[3]https://www1.cti.gov.br/pt-br/noticias/cti-renato-archer-lidera-ranking-do-cen%C3%A1rio-de-pesquisa-em-bioimpress%C3%A3o-na-am%C3%A9rica-latina

[4]Bioprinting organ challenges: an emerging technology (medicaldevice-network.com)

[5] Recent advances and challenges in materials for 3D bioprinting – ScienceDirect

[6] CELLINK and partner Prellis Biologics awarded Merck Innovation Award – Cellink Global

[7] A swifter way towards 3D-printed organs (harvard.edu)

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Existe privacidade em um mundo cada vez mais tecnológico?

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Em um contexto mundial mais tecnológico, os dispositivos móveis fazem parte da vida das pessoas, os mais comuns são os celulares, tablets, relógios e notebooks. A tecnologia existe para auxiliar o homem nas tarefas do dia-a-dia, e com isso muitas empresas oferecem recursos e serviços que fazem a diferença, por exemplo: o email que se conecta a uma agenda e permite que outros dispositivos sincronizem a mesma agenda entre os demais dispositivos, auxiliando as pessoas a lembrarem das tarefas mais importantes do dia a dia. Contudo, após os casos internacionais de Edward Snowden, Cambridge Analytica e outros, muitas pessoas se deram conta de que os serviços gratuitos não são de graça e que, serviços que não cobram por sua utilização querem algo em troca, algo conhecido como o novo petróleo, também conhecido como dados [1]. Diante de outros acontecimentos, as pessoas começaram a ver a importância dos dados e como eles podem nos auxiliar a encontrar novas respostas ou nos deixar vulneráveis.

Comercialmente, os dados são muito importantes para as empresas, a partir deles é possível entender melhor o ambiente de negócios ou criar novas campanhas de marketing. Entretanto, a coleta de dados como, endereço, CPF e outras informações pessoais, permitem às empresas realizarem ações que impactam diretamente a vida dos clientes, como, os serviços da Google que solicitam informações e, caso as cláusulas de serviços sejam aceitas, o cliente pode fornecer os dados sobre sua localização em tempo real. As empresas, por questões judiciais, precisam oferecer um ambiente seguro de armazenamento dos dados, porém, não há nada que seja totalmente seguro, e caso haja um vazamento de dados, uma pessoa mal intencionada pode utilizar essas informações e invadir a privacidade das pessoas.

Neste contexto de abundância de dados, a privacidade é um tema que vem sendo discutido por diversas vezes em um mundo cada vez mais conectado, e mais tecnológico. À medida que o tempo passa, as tarefas que antes eram consideradas difíceis e complexas, se tornaram simples e práticas com a ajuda dos dispositivos móveis, como fazer cálculos, por exemplo, que para nós seres humanos é algo bem complexo de ser feito, quando em de grandes proporções sem o auxílio de alguma ferramenta. Mas a que custo? É realmente segura? A batalha mundial pelos dados está acontecendo, e as pessoas ou organizações que detém a maior quantidade de dados de outras pessoas exercem maior influência e inferência. Clarissa Véliz em seu livro ‘Privacidade é poder’ analisa as consequências para a sociedade com a exploração de rastros digitais das pessoas [2].

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Edward Snowden diz que precisamos de ferramentas que não possam ser violadas [3]. Snowden é ex-funcionário da NSA (Agência de Segurança Nacional dos EUA) que tornou públicos detalhes de vários programas que constituem o sistema de vigilância global da empresa, e que o país usa para espionar a população americana e vários países da Europa e da América Latina, entre eles o Brasil, inclusive fazendo o monitoramento de conversas da ex-presidente Dilma Rousseff com seus principais assessores [4]. Mas porque seria tão importante dados de outros líderes de outros países ? Dados pessoais podem se tornar uma arma nas mãos de determinadas pessoas e/ou instituições. Snowden ainda disse em entrevista que não podia deixar que o governo dos Estados Unidos destruísse a privacidade, a liberdade da Internet e os direitos básicos de pessoas em todo o mundo em nome de um maciço serviço secreto de vigilância que eles estão desenvolvendo [4].

Outro fator de preocupação é a popularização da Internet das Coisas (Internet of Things – IoT), agora, televisores, geladeiras e outros equipamentos  domésticos produzem dados  e com isso novas discussões sobre a segurança da informação e das pessoas. Problemas sempre existiram, não há produto perfeito, essa tecnologia evoluiu muito nos últimos anos em vários aspectos por causa dos benefícios que podem ser extraídos em muitos cenários [5]. No começo já era esperado a existência de problemas, pois estamos falando de uma tecnologia que estava fora da caixa quando começou, com a crescente demanda da automatização de tarefas juntamente com a disponibilidade de conteúdos gratuitos e reconhecimento do valor das informações geradas por esses sensores ou aparelhos.

O futuro desta tecnologia parece ser bem promissor, com a união do mundo físico com o digital. Grande parte das aplicações destinadas a utilização desse tipo de tecnologia ainda são para as empresas, que buscam baratear a mão de obra e aumentar a sua carga de produção [6]. Talvez a pandemia tenha feito muitas pessoas verem o real potencial de fábricas ou lojas que usam IoT no seu ambiente, de que esse é o próximo passo para uma nova revolução que pode ser temida, mas também muito aguardada [7]. Assim, independentemente, da vontade de uns ou temores de outros, a tendência é que cada vez mais o mundo esteja conectado em vários níveis, desde aplicações simples como ligar o ar-condicionado quando estiver perto de casa ou mais complexas, por exemplo, a utilização na construção civil para prevenir acidentes.

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Recentemente Frances Hauguen, ex-funcionária do Facebook, relatou uma série de denúncias para o The Wall Street Journal, provando com documentos internos que os algoritmos do Facebook fomentam intencionalmente a discórdia e que são projetados para causar dependência entre os usuários. Mas por que o Facebook está tão interessado em manter os usuários conectados por um maior tempo possível? Shoshana Zuboff chama de capitalismo de vigilância está coleta de dados. A economia digital se nutre deles. Ela os processa, refina e os serve aos anunciantes para que possam personalizar sua publicidade, ou às empresas, para que planejem novos serviços. Quanto mais detalhes souberem sobre cada usuário da internet, melhor será a estratégia para abordá-los e lhes oferecer um produto [2].

A evolução tecnológica, acentuada pela popularização de diversas ferramentas (software ou hardware), provocou mudanças significativas na sociedade, resultando em consequências positivas e negativas. Positivamente, a tecnologia quebrou paradigmas, por exemplo, profissionais do mundo todo podem compartilhar conhecimento sobre qualquer assunto nas redes sociais; pessoas, com equipamentos minimamente adequados, podem acessar iniciativas globais de educação de qualidade, oferecidas por profissionais de universidades de renome como Harvard ou Oxford. Negativamente, com a popularização das redes sociais, também potencializou discursos polêmicos e o surgimento de movimentos agressivos, como o “cancelamento” de pessoas na internet ou de grupos radicais de diversos espectros políticos. Em todos os contextos, positivos, negativos ou neutros há a geração de dados , cada vez mais precisos, que fornecem o padrão do caminhar de uma pessoa, da digital, do rosto, entre outros.  A geração de dados em si parece ser inevitável, mas com qual finalidade esses dados serão utilizados é que pode produzir consequências positivas ou não, em todo caso, há um longo caminho a percorrer no que tange à conscientização das pessoas sobre esse contexto.

Fonte: Imagem no Freepik

Fontes:

[1]https://bakertillybr.com.br/dados-novo-petroleo/

[2]https://brasil.elpais.com/tecnologia/2021-10-19/ideias-para-salvar-nossa-privacidade-em-meio-a-batalha-mundial-pelos-dados.html

[3]https://www.telesintese.com.br/edward-snowden-precisamos-de-ferramentas-que-nao-possam-ser-violadas/

[4]http://g1.globo.com/mundo/noticia/2013/07/entenda-o-caso-de-edward-snowden-que-revelu-espionagem-dos-eua.html

[5]https://www.mckinsey.com/industries/technology-media-and-telecommunications/our-insight/laying-the-foundation-to-accelerate-the-enterprise-iot-journey

[6]https://www.ibtimes.com/mckinsey-iot-2030-forecast-machinefi-economy-explosion-coming-3339071

[7]https://www.mckinsey.com/business-functions/mckinsey-digital/our-insights/iot-value-set-to-accelerate-through-2030-where-and-how-to-capture-it

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Robô Victor, uma simples IA ou um futuro juiz?

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Um robô seria capaz de ditar sentenças de um caso?

Victor é uma inteligência artificial criada para agilizar os processos jurídicos no Supremo Tribunal Federal que custou cerca de R$ 1,6 milhões [2][5]. Recebeu esse nome em homenagem a Victor Nunes Leal, ministro do STF entre os anos de 1960 e 1969, autor da obra “Coronelismo, Enxada e Voto” de 1948 e principal responsável pela sistematização do STF, o que facilitou a implantação de uma inteligência artificial dentro do meio jurídico [3].

Victor, a Inteligência Artificial do Supremo Tribunal foi desenvolvida pela agência de tecnologia do STF em parceria com a Universidade de Brasília, como uma ferramenta para acelerar os processos que aguardam julgamento nos tribunais do país, uma solução hábil que garante ganhos de tempo para todos que a utilizam. Mas a pergunta que não quer calar, uma IA seria capaz de ditar uma sentença e substituir os juízes e advogados que fazem parte da Ordem dos Advogados do Brasil?

Calma, a pergunta será respondida. Mas qual a necessidade de implantar uma IA em uma ciência que tangencia inexoravelmente os valores morais que sustentam as sociedades humanas?

Com a crescente demanda de ações judiciais em todo o Brasil e com a necessidade de respostas rápidas e adequadas para os cidadãos que buscam prestação jurisdicional efetiva, o STF concentrou seus esforços para buscar meios eficientes que automatizassem a resolução de ações repetitivas. Isso foi feito com o devido amparo dos princípios constitucionais do processo legal e buscando a celeridade processual.

Victor não é uma máquina que dita sentenças ou decide sobre a vida de uma pessoa, isso é uma atividade humana. O robô utiliza um algoritmo baseado em Machine Learning (Aprendizado de Máquina) com a finalidade de analisar casos semelhantes e agilizar o processo de buscas por casos que podem ter a mesma avaliação judicial, para aumentar a velocidade dos trâmites dos processos e auxiliar o trabalho do STF.

Para obtenção de um bom desempenho da IA, foi realizada uma separação das peças de acordo com o tema de repercussão, com isso foi possível identificar cinco peças processuais: acórdão, recurso extraordinário, agravo de recurso extraordinário, despacho e sentença [4]. Através da separação das peças foi possível utilizar os conjuntos de dados a serem treinados para que o Victor pudesse reconhecer padrões na base de dados do STF e, consequentemente, encontrar as peças processuais semelhantes.

Machine Learning, segundo a IBM [1], é uma tecnologia que possibilita aos computadores aprenderem através da associação de respostas por meio de diferentes conjuntos de dados, podendo ser imagens, vídeos, números ou qualquer outro tipo de dados que o computador possa interpretar. Essa tecnologia permite que os computadores sejam treinados e melhorados à medida em que forem tendo experiências com os dados acessados. Após a etapa de treinamento o sistema baseado em Machine Learning será capaz de aprender sozinho, resultando em uma maior precisão dos resultados em um menor período de tempo.

É inegável que novas tecnologias têm ganhado espaço em todas as áreas do conhecimento. Para as ciências jurídicas não seria diferente, embora, esse fenômeno cibernético ainda seja controverso para o mundo jurídico. De um lado existem entusiastas da tecnologia no Direito, os quais acreditam que a Inteligência Artificial poderá revolucionar a área eliminando especialmente discordâncias e disparidades epistemológicas típicas de uma ciência humana e social. Nesse sentido, um robô seria capaz de ditar sentenças em um processo de modo absolutamente técnico e racional. Por outro lado, também há posicionamentos mais tradicionais sobre essa discussão. Para esse público, a possibilidade de uma máquina decidir os rumos de uma lide é absolutamente inconcebível. No entender destes tradicionalistas a “magia do Direito” se encontra no seu dinamismo, elemento esse que possibilita discordâncias ferozes, debates acalorados e mudanças de paradigmas que movimentam as ciências jurídicas intensamente.

Para aqueles que já possuem o famigerado poder de império, não parece razoável ver sua força decisória se esvaziar em favor de uma máquina ou programa de computador. Retomando o questionamento inicial deste ensaio, talvez não haja uma resposta correta, mas sim uma que seja possível em um dado tempo e espaço. Concretamente, tem-se que a utilização do robô Victor, no STF, assim como em outros tribunais brasileiros, não está programada para prolatar juízos terminativos ou definitivos, essa tecnologia visa apenas auxiliar na tramitação dos processos e aumentar a velocidade da avaliação judicial, separando e identificando as peças contidas nos documentos que chegam ao STF, a fim de facilitar a vida dos ministros.

Usar de recursos tecnológicos como robôs para auxiliar os trâmites processuais é uma jogada excepcional para área do conhecimento que, por vezes, ainda resiste às novas tecnologias e parece pouco interessada em reverter seu status quo.

Portanto, como fechamento desta reflexão fica o seguinte questionamento: pode haver um futuro juiz digital?

Referências

[1] https://www.ibm.com/br-pt/analytics/machine-learning

[2] https://cryptoid.com.br/banco-de-noticias/victor-e-o-nome-do-robo/

[3] https://portal.tce.go.gov.br/-/inteligencia-artificial-chegou-ao-stf-com-victor

[4] https://www.advogatech.com.br/blog/@NayaraAzevedo/victor-o-primeiro-projeto-de-inteligencia-artificial-do-stf-qs3oyyu

[5] https://bernardodeazevedo.com/.

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