Rei do show: $84 milhões contra o preconceito e o racismo

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Vocês já ouviram uma música chamada Rewrite the stars, e uma chamada This is me? Essa é uma das músicas mais icônicas e inesquecíveis que já escutei, elas pertencem a um filme, do gênero musical, que é um grito de $84 milhões contra o preconceito e o racismo. Se você não conhece, corre para conhecer que você não vai se arrepender.

Só para começar, a música “This Is Me” ganhou o prêmio de “Melhor Canção Original em Filme” no 75º Golden Globe Awards. Ela também foi indicada para “Melhor Canção Original” no 90º Academy Awards, mas perdeu para “Remember Me”. Além disso, foi indicada para o Grammy Award de Melhor Canção Escrita para Mídia Visual na 61ª edição do Grammy Awards.

A trama se passa no século XIX e é inspirada na vida de P.T. Barnum, considerado um dos pais do circo moderno. Barnum era um sonhador de origem humilde que, desde a infância, sonhava com um mundo mágico. Ele desafiou as convenções sociais ao se casar com a filha do patrão de seu pai e abriu um museu de curiosidades. Após falir em seu empreendimento, resolveu criar um grande e curioso show com as mais diversas pessoas, e a partir daí começa a sua aventura.

(Alerta de spoiler) Barmun inicia sua procura por pessoas diferenciadas, em diversos lugares, e vai criando esse maravilhoso show, em meio a muita música, encontra um sócio o qual o ajuda com esse novo sonho, e cada pessoa que ele encontra é uma baita de uma surpresa, cada um com suas características diferentes, e talentos singulares.

Dentre os diversos “mini” dramas que se desdobram ao longo do filme, um que realmente me empolgou foi a relação entre Anne e Phillip. Phillip, um jovem branco, desafia todas as expectativas familiares ao se apaixonar por uma mulher negra. É muito bom acompanhar os altos e baixos desse relacionamento. Uma das canções mais belas do filme, “Rewrite the Stars”, é apresentada justamente nessa parte da trama. Traduzi uma parte dela aqui em baixo, para terem uma ideia.

“Você que decide, e eu que decido

Ninguém pode dizer o que nós podemos ser

Então, por que não reescrevemos as estrelas?

E talvez o mundo possa ser nosso hoje à noite”

 Lettie Lutz é outra personagem de grande importância no filme. Ela assume a liderança do grupo, quando o mesmo se encontra em uma situação extremamente desconfortável. Barnum, ao que parece, sente vergonha deles e os impede de entrar em uma festa de gala. E é nessa parte que aparece a música This is me, aquela que também já mencionada, e que ganhou o prêmio de melhor canção original em filme.

“Quando as palavras mais afiadas quiserem me cortar

Eu vou enviar um dilúvio, vou afogá-las

Eu sou corajosa, eu tenho feridas

Eu sou quem eu deveria ser, essa sou eu

Cuidado, porque aí vou eu

E estou marchando na minha própria batida

Não tenho medo de ser vista

Eu não peço desculpas, essa sou eu”

                                                                                                                              Fonte: adorocinema.com

Uma das mais simbólicas músicas do filme: This is me

O filme tem muitos assuntos a abordar, um dos temas principais é aceitação do próximo e a luta contra o preconceito, o empoderamento, e busca de seus sonhos, o musical, é uma obra de arte na fotografia e nas próprias músicas, é emocionante, e ainda existem inúmeras tramas vale a pena conhecer.

Referências:

O rei do show, Adoro cinema, [S.D.]. Disponível em: https://www.adorocinema.com/filmes/filme-170828/. Acesso em: 02 de outubro de 2023;

O Rei do Show,moviescrit.blogspot,2017. Disponível em: moviescrit.blogspot.com/2017/12/o-rei-do-show.html. Acesso em: 02 de outubro de 2023.

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LGBTQIA+: Acadêmicos de Psicologia realizam evento sobre “lugar de fala” e reafirmação da vida

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Os acadêmicos de Psicologia da Ulbra Palmas, Eduardo Barros Carneiro, Romário Milhomens da Silva e Waldoyana de Kácia Alves de Queiróz, realizam o manejo de Grupo terapêutico para a comunidade LGBTQIAPN+ de Palmas, sob a supervisão do Prof. Sonielson Luciano de Sousa. A próxima ação dos acadêmicos é a mediação de um evento público no dia 30/09/2023, às 17h no Parque dos Povos Indígenas. O Grupo Terapêutico tem a finalidade de abrir espaços para que a Comunidade LGBTQIAPN+ se reúna e compartilhe suas vivências, garantindo e reafirmando o seu Lugar de Fala.

O Grupo Terapêutico foi criado pensando em atender a população LGBTQIAPN+, para oportunizar aos seus integrantes perceberem melhor o seu momento, seu empoderamento e Lugar de Fala ante a uma perspectiva social capaz de reconhecer e respeitar sua história de vida. A proposta é realizar momentos em que as pessoas possam ser ouvidas e acolhidas da melhor forma possível. Ante a inviabilidade social e desigualdades de acesso pessoal, profissional e até familiar, uma escuta entre iguais, onde o compartilhar promova fortalecimento dessa população incansável, na busca de validação de direitos mínimos.

Assim será esse momento, para acolher, ouvir e compartilhar, fortalecendo assim uma rede de apoio entre os pertencentes a essa Comunidade, valorizando pessoas, informando sobre os seus direitos, valorizando a sua história, mostrando o seu Lugar de Fala e reafirmação da vida.

Os acadêmicos têm realizado ações de divulgação nas redes sociais, em locais de grande fluxo desta população, além de canais oficiais da Universidade. O projeto tem ganhado notoriedade e reconhecimento por parte das pessoas que tem participado e acompanhado as redes sociais.

O grupo terapêutico é um trabalho de extensão do Projeto CRESCER da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA/PALMAS), na disciplina de Intervenção em Grupo. O presente trabalho tem parceria com a Instituição Casa A+ que fica localizada no Plano Diretor Norte da capital.

A casa A+ é uma organização não governamental e que acolhe a população LGBTQIA+ em situações de vulnerabilidades sociais. Buscando promover, fortalecer a saúde e os direitos humanos, sociais, econômicos, culturais e ambientais para a superação do HIV/AIDS. São quatro encontros com a comunidade dando a oportunidade de Lugar de fala, ocasião em que as pessoas LGBTQIA+ compartilham suas vivências com outras pessoas, assim, gerando o fortalecimento e vínculo com o grupo.

A realização do evento conta com a participação dos acadêmicos de Psicologia, Casa A+ e população. O presente trabalho tem o objetivo de ouvir as demandas da comunidade e contribuir nesse processo. Devido diversas demandas da comunidade LGBTQIA+, os acadêmicos estarão atentos e acolhendo a população que ainda sofre com tanta discriminação e violência.

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A coragem de ser imperfeita

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Coloquei aqui a palavra IMPERFEITA no feminino, porque servirá para pessoas, tanto quanto para dar um espaço especial às mulheres, que segundo pesquisas do IBGE, mostram o quanto se preocupam mais em atender estes padrões, se cobram mais e são mais cobradas a respeito e o quanto fazem crescer no mercado setores gerais em busca pela perfeição. Eu diria para evitar e rejeição, ou quem sabe ter aceitação, ou quem sabe estar pronta para competição, afinal, quem teve sempre pouco lugar ao sol, ou na sombra, luta com afinco para ocupar seu espaço. E essa ação tem um preço alto, e que bom que já estamos aqui negociando tais valores e tais situações, essa conta parece não ter fim e a gente quer equilibrar, para pelo menos não ficar no prejuízo. Então acompanhe até o final e ocupe seu lugar nesta fase de possibilidades.  

Segundo Brené Brow (2012), professora e pesquisadora na Universidade de Houston, há 16 anos estuda a coragem, a vulnerabilidade, a vergonha e a empatia, voltados para este aspecto do enfrentamento das imperfeições, seus estudos contribuem muito para que entendamos por que as mulheres buscam tanto essa tal perfeição em muitos de seus papeis. Muitas adoecendo para entregar suas metas desafiadoras, e muitas outras adoecendo pela frustração das irreais  expectativas e comparativas desleais de uma rede que movimenta bilhões, as custas de quem ainda não se fortaleceu na autoestima, por que está ocupada demais trabalhando, estudando, malhando, se montando esteticamente, se frustrando e morrendo aos poucos, ao invés de viver.

Elas investem mais em tudo, é o que mostram as pesquisas mais recentes, elas estudam mais, consomem mais, adoecem mais também e se tratam mais, as mulheres avançam na carreira em mais de uma área, compram mais livros, fazem mais cirurgias reparadores, consomem mais medicação, mais roupas, mais acessórios e andam viajando mais, pasmem, essa busca pela satisfação perfeita, pelo bem-estar perfeito, não para. Perfeição que cá entre nós, caro leitor, não existe, é essa busca sem fim que aumenta os padrões cada dia, que ocupa a pessoa de tais afazeres e compromissos, não apenas financeiros, mas que envolve energia e tempo, que muitas vezes impede de se ter contato consigo mesma. (IBGE, 2020)

 

Fonte: https://www.incimages.com/uploaded_files/image/1920×1080/getty_502964352_128031.jpg

 

As pessoas buscam perfeição não apenas na imagem, no corpo, mas também na forma de agir, nos comportamentos, nos mais variados papéis sociais que o feminino ocupa e vem crescentemente ocupando-se, ficando sem tempo para se perceberem. Dinheiro é tudo quando se tem um negócio, e assim passamos a ter um negócio que não para de consumir (HONEGGER, 2018).

Vamos falar de um assunto que costuma ser evitados por causar grande desconforto. Respeito, vulnerabilidade, medo, vergonha e imperfeição são aspectos que mostram quanto não estamos totalmente no controle e tudo bem. Isso pode incomodar você.

E assim seguimos, buscando sermos perfeitos em nossas criações, ou a partir de insights que a vida nos trás e permitimos existir possamos trazer mais equilíbrio em nossas vidas.

 

Fonte: https://thewaywomenwork.com/wp-content/uploads/2012/09/the-most-common-attribute-of-successful-women.png

 

Vivemos da falta dizia Freud, e aprendemos a preenchê-la, construindo nossas relações com o mundo, segundo Piaget, em todo nosso desenvolvimento, nossas crises, nossas histórias imperfeitamente perfeitas, como na poesia de Carlos Drummond de Andrade, e assim entendemos a beleza do ser humano, pela arte de amar, como nos escreve Erich Fromm.

Se conseguimos nos amar, como imperfeitos que somos, ao olhar para o outro, conseguiremos além de nos sentirmos amados, conseguiremos amar também, com empatia genuína, nos apoiar, nessa caminhada longa de crescimento, entendendo que estamos todos em evolução, e isso não é coisa fácil, nem coisa qualquer.

Imperfeitos que somos, distorcemos nosso olhar, pela falta que temos, pelas nossas próprias dores, pelos nossos medos e assim nos tornamos vulneráveis em busca de nossas expectativas, que podem nunca ser alcançadas …

A idealização, gera sonhos, imagens e não nos aproxima do real, porque o real nem sempre bonito nos encanta, nos faz exigente nas relações, acabamos por cobrar demais de nós e dos outros.

 

Fonte: https://therapyinbeverlyhills.com/wp-content/uploads/2018/11/Successful-Black-Woman-1920×1280.jpg

 

A verdade não cala, mas nem sempre quer ser vista, o mundo digital mostra isso, quando corrigimos rapidamente todas as nossas imperfeições, e com os semelhantes, quase iguais, por que não toleramos as diferenças, mesmo levantando a bandeira dela, quando nos esforçamos para fora, ao invés de olhar para dentro.

Se você faz o movimento para dentro, muito difícil ter energia para tudo que está fora, o olhar para o amor-próprio se faz diferente do amor narcisista, e muitos movimentos e bandeiras para fora, são na maioria narcisistas, com o desejo pelo que falta, não para o que contribui de fato.

Precisamos primeiro dar conta de nós mesmas, para depois cuidar da(o) outra(o), e assim nos certificarmos, antes de curar alguém, se esta pessoa está disposta a desistir das coisas que a deixaram doente. (Hipócrates).

Para levar luz a alguém encontre primeiro a sua, será um excelente caminho.

Como diz Jung, fazer o encontro de nossa luz e nossa sombra, nos torna mais inteiras(o), mais verdadeiros, mais reais, mais vivos inclusive, dentro de uma ética e dentro do que faz bem.

 

Referencias 

BROW, Brené. A coragem de ser imperfeito –  Como aceitar a própria vulnerabilidade, vencer a vergonha e ousar ser quem você é. Tradução de Joel Macedo, 2012. 

HONEGGER, Jessica. O poder ser imperfeita – tradução de Elza Nazarian. São Paulo-SP: editora Buzz, 2019.

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Caos 2019: Sessão técnica aborda o movimento #ELENÃO no jornal El País

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Na tarde desta quinta, 23 de maio, no Congresso Acadêmico de Saberes em Psicologia (CAOS), realizado no Ceulp/Ulbra, o tema “ O movimento #ELENÃO NO JORNAL EL PAIS: uma expressão do empoderamento feminino no Brasil´´ foi abordado na sala 219 durante uma sessão técnica mediada pela Profa. Me. Thais Moura Monteiro. A apresentação foi realizada pela psicóloga egressa da Ulbra Janaína Vilares da Silva.

Para iniciar sua fala, Janaína fez uma contextualização do assunto, esclarecendo para os presentes o momento político que se passava durante sua pesquisa, sendo esse o de que o Partido dos Trabalhadores (PT) após 14 anos no poder, sofreu junto a Dilma Rousseff um impeachment, abrindo espaço para seu vice ocupar o poder e para possíveis candidatos da eleição que se aproximava entrarem em ação, entre eles, Jair Messias Bolsonaro.

Este que desde o início de sua campanha gerou repulsa em grande parte da população e como Janaína deixa claro, as mulheres principalmente tomaram frente ao movimento inicialmente online #ELENÃO, onde vários grupos com milhares de pessoas expressavam sua indignação com o então candidato à presidência Bolsonaro.

Com as eleições se aproximando o maior grupo com a pauta #ELENÃO foi hackeado, o que segundo a palestrante só aumentou o engajamento das participantes, estas que organizaram após o ocorrido passeatas por todo o país para expressar publicamente sua indignação contra um candidato que representava o machismo e a misoginia.

O jornal El País é citado como um dos veículos de informação que cobriu o movimento de empoderamento no Brasil de forma ética e reflexiva. Janaína ressalta que apesar da vitória de Bolsonaro nas urnas, o movimento #ELENÃO foi de extrema importância, porque possibilitou o aumento da visibilidade da luta feminina contra a misoginia.

 

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Mônica: entre quebra de paradigmas e vestidos vermelhos

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“Quem inventou a garota típica?

Quem está trazendo o novo e melhorado modelo?

E aí está outra jogada de marketing.”

– The Skits – Typical Girls

A dona da rua mais conhecida do mundo infanto-juvenil, Mônica, inicialmente foi coadjuvante de Cebolinha, mas, com seu típico atrevimento, toma os holofotes e lidera sua primeira revista em 1970. O cartunista Mauricio de Sousa, inspirado em sua filha, desafia a opinião pré-concebida da mulher como sexo frágil ao criar Mônica.

Cheia de marra e atitude, sua principal característica é sua força sobre-humana, geralmente atribuída a personagens masculinos, enquanto o intelecto pertence as mulheres, mas contradizendo novamente, esse último pertence ao Cebolinha e seus planos infalíveis. A personalidade de Mônica é claramente uma oposição à essa forma de pensar, já que a força não precisa estar presente em detrimento da feminilidade, Mônica prova isso ao manter trejeitos relacionados ao feminino como gostar de ursinhos e vestidos.

Fonte: encurtador.com.br/dfRS4

Uma “sacada de mestre” de Mauricio de Sousa em 1970 ao iniciar uma ideia que ultimamente vem tomando força na literatura e cinema mundial. O novo modelo feminino que sai de par romântico à protagonista e salvadora da própria história, quebrando paradigmas das limitações impostas para a mulher. Representando para várias gerações a independência e capacidade para ser o que quiser, inclusive a dona e garota mais forte da rua, mas que chora ao perder seu coelhinho de pelúcia.

Mas Mônica não é só força! Muito poder pode transformar ou revelar um sujeito abusivo, mas ela permanece altruísta, sem sua força subir à cabeça, usando-a para defender os oprimidos e a si mesmo do bullying, para conquistar seu espaço na turma.

Fonte: encurtador.com.br/bsQUY

Por isso que para mim, Mônica é uma personagem inspiradora para várias gerações, ela faz mesmo todos achando que não é capaz, é resiliente, autêntica e líder nata. Espero que todas as garotas que cresceram com ela, incluindo eu, e as que ainda irão conhecê-la, encontrem em si mesmas a maior beleza que há: ser sua própria fortaleza.

Além de um personagem, Mônica se tornou marca e referência. O seu legado vai desde brinquedos e macarrão instantâneo, até ser a primeira personagem de histórias em quadrinhos do planeta a receber o título de Embaixadora do UNICEF, por ensinar crianças sobre educação, amizade e família. A dona da rua que conquista o mundo!

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Ascensão feminina e a escada do conhecimento: Simone de Beauvouir

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Simone de Beauvouir, importante filósofa, escritora, professora, ativista, é uma grande pensadora do século XX, por ter posicionamentos extremamente futuristas e avançados para a mentalidade de sua época vigente (arrisco-me em dizer que os temas considerados por ela, são ainda hoje pesados para boa parte das pessoas). Nascida em Paris em 09 de janeiro de 1908, teve uma família rica, que apesar de vigorosa e tradicional, teve a sorte de ter espaço e possibilidade de estar em uma academia, que se opunha ao comum: era possível dialogar intelectualmente, sem que o sexo fosse um pressuposto.

Diante dessa possibilidade de crescimento, pôde enxergar a sociedade por diversos prismas, resultando em seus livros, pelos quais escrevia com letras grafais para que seus leitores gravassem suas linhas, que apontavam o caminho torto de uma sociedade machista e patriarcal que nela se inscrevia. Colocou-se como voz e tornou-se visível, não só na literatura, mas para toda uma sociedade, e claro, a todos os incomodados com sua visão de mundo; sendo em sua maioria homens, que recusavam-se em sair de suas redomas de pensamento, e suas posições privilegiadas para olhar para baixo, e assim, enxergar ‘o lugar das mulheres’.

Suas obras de cunho social são até hoje de grande respaldo positivo por ter grande embasamento teórico em temas que abrangem liberdade e igualdade de gênero, sendo assim, ela continua sendo um marco para o crescimento do feminismo. Mas nem sempre foi assim, suas escritas pareciam amargas para a sociedade que naturalizava adoçavam a condição feminina. Trouxe então à tona o desconforto de suas críticas, que mostravam a partir de livros como “O segundo sexo” a posição secundária da mulher diante da humanidade.

Em uma entrevista dada na televisão “Questionnaire” um programa de Jean-Louis Servan- Shchreiber, ela diz que causou grande escândalo intelectual. Relata que a reação a sua obra na França foi de grande fúria, homens completamente “azedados”; até mesmo aqueles que imaginava serem liberais, de esquerda e igualitários. O motivo, segunda ela, é o fato de que o livro questionava a supremacia masculina. Tais diziam que sua obra os ridicularizavam. Em geral, mulheres receberam bem, não de imediato, mas aos poucos o sentido do livro foi aprofundado, e por conseguinte, aceito e acolhido, recebendo de suas leitoras confidências sobre reflexões diante de suas próprias realidades.

Para compreender o pensamento de Beauvouir, é importante saber que sua linha de pensamento também se baseia no existencialismo de Satre, com quem estabeleceu uma relação afetiva até sua morte. De forma simplista, podemos dizer que esse viés ideológico não acredita na existência de uma essência inicial, e sim de uma construção. Defendendo o fato de que as coisas estão em constante movimento, nunca são, sempre estão. O homem criando-se, a partir do que ele tem como repertório, inventa-se, e depois disso, cria sua essência. Produzir-se como ser, é de fato uma ideia angustiante, pois dá a responsabilidade das escolhas, dos valores, objetivos (…) logo, a liberdade é uma angústia.

Dentro desse gancho, vem parte do posicionamento da obra “O segundo sexo”, divido em dois volumes, o primeiro chamado: fatos e mitos. Que procura desmistificar a essência feminina trazida para a situação de subordinação em que se encontram. Já no segundo, denominado: Experiência vivida; relata as experiências das mulheres, mostrando a construção/condição juntamente as motivações arreigadas para que fossem construídas de tal maneira. Além disso, traz questionamentos importantíssimos como “O que é feminilidade? O que é ser mulher?”, dentre outros pontos, mas claro, não menos importantes.

Voltando ao programa de TV mencionado, o entrevistador pede para que ela explique uma de suas frases famosas e impactantes: “Ninguém nasce mulher, torna-se”. Ela responde com excelência, da seguinte forma:

“É que ser mulher não é um dado natural, mas um resultado de uma história. Não há um destino biológico ou psicológico que defina a mulher como tal. Foi a história quem a fez… primeiro a história da civilização… que resultou em seu status atual. E depois, por cada mulher em particular, foi a história de sua vida, em especial de sua infância quem a determinou como mulher, e que criou nela algo que não é um dado, uma essência, mas que cria nela o chamado “eterno feminino”, feminilidade. E quanto mais se aprofundam estudos de psicologia infantil, mais ficamos sensíveis, mais vemos com obviedade que o bebê feminino é fabricado para se tornar mulher”.

Uma de suas importantes citações, que ela julga ser de importância, é o livro da escritora italiana, Elena Belotti, “Do lado das Meninas”, que diz demonstrar o fato de que, bem antes da criança ser consciente os pais a inscrevem em seus corpos, de tal modo que mais tarde pode parecer destino sua resultante, quando na verdade, foi um molde desde de seu princípio.

É possível ver a importância, que essa grande mulher, Beauvouir nos trouxe. Aprimorando nossos horizontes ao que compreendemos como “natural”, e buscando assim um embasamento lógico, que nos faz questionar “por qual motivo somos assim? Porque agimos como agimos? ”. Entender a base de nossos ímpetos é um assunto que engloba indispensavelmente a psicologia, possibilitando um entendimento profundo da maneira como nos inserimos como ser humano, em especial, como mulher. De fato, é tentador não procurar descobrir-se a partir de suas obras, e por fim, perceber a qual forma fomos encaminhadas assim que nos entendemos como do sexo feminino, e todas as coisas que veem juntas ao rótulo de ser.

Simone morreu dia 14 de abril de 1986, entretanto suas obras são a base para a luta por igualdade, e liberdade. Suas ideias são um legado imortal e atemporal para as inúmeras injustiças que ainda acometem nossa sociedade para com todas as mulheres. Suas obras marcam até hoje a luta e resistência feminina.

 

Referências:

Entrevista com Simone(1975): https://www.youtube.com/watch?v=J-F2bwGtsMM&t=6s

Explicação sobre suas obras: https://www.youtube.com/watch?v=zhaq6AqeS_o&t=940s

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Luíz Eduardo Mendonça: vozes que empoderam em Saúde Mental

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Entre os dias 1 e 3 de junho de 2017 ocorreu, no Rio de Janeiro, o III Fórum Internacional – Novas Abordagens em Saúde Mental. Contando com a participação de vários profissionais e usuários de serviços voltados para a saúde mental, o evento proporcionou a todos a oportunidade de relatar suas experiências nesse campo.

Entre os participantes estava Luíz Eduardo Mendonça, formado em Psicologia e usuário dos programas Comunidade da Fala e Voz dos Usuários, criados com o intuito de possibilitar com que aqueles que usufruem desses serviços possam se expressar, falar o que pensam, o que desejam de mudanças e de realizações, além de relatar se estão com algum problema, em busca de ajuda para solução desse.

Luíz Eduardo relata que é um ouvidor de vozes (diagnóstico de esquizofrenia) e que uma de suas realizações é ter conquistado a formação em Psicologia. A equipe (En)Cena o entrevistou no segundo dia do evento (02/06/2017).

(En)Cena – Como você acha que poderia acontecer o processo de empoderamento com pessoas estereotipadas e estigmatizadas que possuem um transtorno mental? 

Luíz Eduardo – Eu acho que quanto as pessoas estereotipadas, a gente tem que lutar para mudar esse estigma. A pessoa deve ser aceita do jeito que ela é, com a fraqueza dela, ser acolhida da melhor maneira possível. A pessoa não pode ser jogada de lado só porque tem um problema, ela deve ser acolhida pelo grupo e pela sociedade da melhor maneira possível.

(En)Cena – Quanto aos projetos citados, como A Voz dos Usuários e A Comunidade da Fala, você participa dos dois? 

Luíz Eduardo – Sim, participo dos dois.

(En)Cena – Como você acha que esses projetos podem ajudar essas pessoas que são estigmatizadas? 

Luíz Eduardo – Bom, eu acho que esses projetos que dão voz aos usuários favorecem um melhor tratamento para eles, um tratamento mais humano. Esses dois projetos, Comunidade da Fala e A Voz dos Usuários, estão dando voz a eles, para que eles não fiquem sofrendo calados, para que eles tenham voz da melhor maneira possível e possam ser ouvidos e respeitados. Se tem algum problema, eles abrem a boca e são orientados da melhor maneira possível para serem respeitados, ouvidos, assim “eu tenho voz, eu existo, eu sou respeitado, eu tenho direitos, eu não posso ficar sofrendo calado e rejeitado”.

(En)Cena – Como você se posiciona em relação à questão da  medicalização excessiva com os pacientes que sofrem de transtornos mentais? 

Luíz Eduardo – Eu acho que o tratamento não está só no remédio, é preciso trabalhar o emocional da pessoa da melhor maneira possível. O tratamento não está só em remédio, dar remédio para pessoa ficar dopada e ficar jogada de lado. Tem que se trabalhar as questões dos desafios para que tudo possa ser resolvido e as questões possam ser trabalhadas emocionalmente, não simplesmente dar um remédio e dopar a pessoa.

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Abordagem CPR Emocional: o empoderamento do indivíduo em crise

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Como parte da programação do III Fórum Internacional: Novas Abordagens em Saúde Mental Rio de Janeiro/RJ, a partir das 14h pôde-se acompanhar a apresentação do estadunidense Oryx Cohen, líder expoente da abordagem CPR Emocional, um programa desenvolvido com o objetivo de que pessoas ajudem umas as outras em situações de crise, de maneira mais humanizada e atenciosa.

Oryx definiu os peritos na abordagem através da perspectiva Junguiana do arquétipo do Curador Ferido, onde pessoas que se curaram das próprias feridas e desenvolvem a capacidade de ajudar outras pessoas passando por crises. Cohen, que se considera um Curador Ferido, aponta o problema de não se ouvir as pessoas que ouvem vozes e estão em situação de crise, sendo a aprendizagem da escuta completa a mensagem da CPR.

Citando dados dos Estados Unidos, o palestrante apontou os crescentes números envolvendo diagnósticos e definições de doenças mentais, levantando a hipótese de que essas doenças podem ser na verdade, reações a um mundo traumatizante. Assim como se descobriu que ao longo da história vários diagnósticos psicológicos foram na verdade errôneos e em uma visão presentista, absurdos seriam os diagnósticos atuais também equivocados?

Perpassando a dinâmica pós-moderna, onde se constata cada vez mais insatisfação quanto a modelos escolares, de trabalho e nas relações interpessoais, Cohen aponta um problema comunitário, de modo que os indivíduos apresentam reações ao seu ambiente.

Segundo Góis (1993, apud CAMPOS, 1996, p.11) “a psicologia comunitária […] estuda a atividade do psiquismo decorrente do modo de vida do lugar/comunidade, sendo seu problema central a transformação do indivíduo em sujeito”. Desse modo a produção de subjetividade que se faz a partir da inserção de um sujeito a um dado contexto social, apresenta características históricas, culturais e ideológicas, sendo que a atuação deve estar voltada para a tomada de consciência acerca dessa realidade singular, diluindo o que é despotencializante.

A abordagem CPR apresenta-se, portanto, alinhada aos ideais da Psicologia Comunitária, buscando transformar o indivíduo em sujeito ativo em seu meio, sendo ele o motor de sua própria cura. Isso seria possível, segundo Cohen, com um tratamento mais humano e autêntico, focado na conexão (Conect) com o outro; no empoderamento (emPower) desse indivíduo em crise; e a revitalização (Revitalize) da esperança e senso de pertencimento a sua comunidade (CPR).

A apresentação de uma abordagem que contempla uma perspectiva empoderadora, questionadora, e que sugere uma escuta completa e envolvida com o Outro, certamente merece atenção e reconhecimento. As ideias apresentadas por Cohen contemplam aspectos fundamentais para se pensar Saúde Mental e Psicologia, e, portanto foram extremamente proveitosas para fomento de pensamento reflexivo e para formação profissional.

REFERÊNCIA:

CAMPOS, Regina H. de F. (org). Psicologia Social Comunitária. Petrópolis: Vozes, 1996.

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Visita técnica à COOPERAN de Palmas-TO

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1. Introdução

A Psicologia Comunitária pode ser considerada uma ramificação da Psicologia Social, porém, está mais voltada para a prática do psicólogo, que, em sua práxis profissional, utiliza-se de conceitos para aplicá-los em campo, unindo teoria e prática. “Entendo que é o olhar do psicólogo que diferencia sua prática dos seus pares das ciências sociais. Dado um contexto social complexo, cada pesquisador lançará seu olhar específico, colocará os ‘óculos’ de seu referencial teórico” (ARENDT, 1997).

O psicólogo comunitário atua, também, como pesquisador. É   necessário que o profissional adote o método da pesquisa-ação, inserindo-se no contexto em que pretende atuar, de modo que suas práticas interventivas vão ao encontro das reais necessidades da comunidade observada. Dessa maneira, o profissional, embasado nas metodologias que a Psicologia Comunitária traz, torna-se mediador e participante ativo no processo de transformação que passa a ocorrer com a união dos indivíduos em comunidade e dotados de responsabilidades para que tais mudanças aconteçam.

Fonte: http://zip.net/bvtJJJ

 

A comunidade torna-se, então, objeto transformado e ao mesmo tempo transformador. O psicólogo comunitário, inserido na mencionada, tem a função de mediar intervenções, reuniões, diálogos e outras práticas, apenas para dar início ao processo de transformação, tornando clara a importância da participação ativa dos sujeitos nesse.

1.1 Objetivo

A visita técnica, relatada no presente, objetivou a busca pelo contato direto com a realidade vigente no contexto da COOPERAN de Palmas/TO, de modo a observar, na prática, o que é estudado em sala de aula, na matéria de Psicologia Comunitária.

2. Metodologia

A metodologia usada no presente estudo se deu por meio de pesquisa aplicada, qualitativa e descritiva, haja visto que foi realizada visita a campo, na comunidade (cooperativa) COOPERAN e, através de diálogo/entrevista, obteve-se informações acerca da convivência e do trabalho executado na cooperativa.

3. Conhecendo a COOPERAN

COOPERAN designa a associação, no modo de cooperativa, entre pessoas com o objetivo em comum de unir forças para trazer melhorias ao meio ambiente, através da coleta de materiais recicláveis. Iniciou-se há cerca de 12 (doze) anos e hoje conta com 15 (quinze) cooperantes e o presidente da cooperativa. Para a entrevista, realizada na visita técnica, disponibilizou-se a dona Maria, cooperante e pioneira na COOPERAN. De início, apresentou-se um pouco retraída, mas logo que iniciou sua fala, apresentou relatos importantes sobre a cooperativa.

Fonte: http://zip.net/bmtH73

Sobre as expectativas das visitantes em relação ao local, admite-se que não foram atendidas. Esperava-se um local bem estruturado e organizado, porém, chegando lá, deparou-se com um galpão, uma pequena área e um lote sem cobertura, sem piso e sem muro, com os materiais espalhados pelo chão, conferindo-lhe um triste aspecto de “lixão”. Dona Maria relatou sobre as várias necessidades que a cooperativa apresenta. Entre elas, a estrutura, que precisa ser melhorada, acrescentando a cobertura, o piso e o muro, como foi citado acima. Necessita também de um galpão maior, com mais maquinários (prensador e balança), com baias (separadores de materiais) e outro caminhão para a coleta.

A coleta apresenta-se com grande dificuldade também, pois a cidade carece de coleta seletiva, pelo menos, nos comércios, sendo essa uma das causas pelas quais a cooperativa vem lutando para conseguir do governo. Outro aspecto, apontado por dona Maria, diz respeito ao descaso dos órgãos de saúde para com a cooperativa. Quando lhe foi perguntado se eles recebiam visitas de psicólogos e agentes de saúde, ela responde negativamente, afirmando que são esquecidos por esses. Em relação à convivência e a execução do trabalho entre os cooperantes, dona Maria relata que é boa, havendo respeito e distribuição das funções. Porém, ela atenta para a necessidade deles se unirem mais, praticarem o diálogo e se conhecerem melhor.

4. Considerações Finais

A visita feita a COOPERAN foi de grande proveito, pois tivemos contato direto com a realidade dos indivíduos que trabalham ali. Pudemos ver de perto as dificuldades de realizar um trabalho tão lindo, mas que ainda carece de apoio da comunidade, ONG´s e do Governo. A convivência é boa, mas percebe-se que pode melhorar, e logo melhorando também a qualidade de trabalho. Está faltando mais união e empoderamento da equipe. Para ajudar nesse processo, precisaria de uma equipe profissional multidisciplinar. Um profissional de grande importância e que está em falta é o psicólogo. A senhora que foi entrevista relata que sente mesmo a necessidade de um apoio psicológico, já que as dificuldades são muitas, e estas afetam também o emocional.

Fonte: http://zip.net/bstJBq

 

O papel do psicólogo nesta entidade serviria como forma de aprimoramento de um trabalho maravilhoso que eles já fazem, sendo de muita importância, pois os ajudaria a encontrar uma maior cognição social, maior união, maior autoestima e maior autonomia dos sujeitos para buscarem melhores condições básicas para continuarem efetuando seus trabalhos.

Nós enquanto alunas percebemos nessa visita que ser psicólogo comunitário é muito difícil, pouco reconhecido, mas de muita necessidade em entidades como essa. Cabe a nós mudar esse quadro e buscar sempre a melhoria e autonomia de equipes tão raras e importantes como essa que tivemos o prazer de conhecer um pouco mais sobre sua realidade.

Fonte: http://zip.net/bctJb9

 

REFERÊNCIAS:

ARENDT, Ronald J. J. Psicologia comunitária: teoria e metodologia, Scielo Brasil, Rio de Janeiro, vol.10 n.1, mar. 1997. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-79721997000100003>. Acesso em: 28 mai. 2016.

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