Promoção de saúde mental por meio da arte e cultura é tema de intervenção de estágio
14 de novembro de 2024 Gabriel Mascarenhas-Pereira
Mural
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No último sábado (09), os alunos do Estágio Básico em Saúde Mental finalizaram suas atividades com a devolutiva no Canto das Artes em Taquaruçu, Palmas – TO. A ação foi conduzida pelos estagiários Anne Karoline Linhares de Araujo, Gabriel Mascarenhas Pereira, Lorrany Barros Godoy e Tiago Oliveira da Silva, sob a orientação da professora Mariana Miranda Borges (Psicóloga, CRP 23/784) e pela supervisora de campo, psicóloga Betânia Cristina da Luz Pontes (CRP 23/076).
O estágio ocorreu entre os meses de agosto e novembro, com encontros semanais todos os sábados pela tarde. Foram exercidas atividades voltadas a arteterapia, musicalização, reciclagem, interação com literaturas e um cinema composto por um catálogo de filmes, com temáticas pertinentes à cultura brasileira, educação, responsabilidade social e meio ambiente.
Na devolutiva, ocorreu um momento de diálogo em que os estagiários compartilharam com o campo, uma síntese das observações, aprendizados e intervenções realizadas durante o período de atuação, além de receberem um feedback a respeito dessas atividades.
A professora Mariana Miranda Borges comentou sobre a importância do momento: “A devolutiva é um espaço de avaliação das atividades desenvolvidas no estágio e os efeitos desta experiência na aprendizagem dos alunos e das pessoas acompanhadas por eles, neste processo. A partir disto é possível fazer um redesenho da relação do campo com o estágio e da disciplina. Todas as atividades desta disciplina foram utilizadas a metodologia da cartografia com a intenção dos discentes mapearem os afetos produtores de subjetividade e foi rico perceber o quantos os estagiários estavam disponíveis para subjetivarem através da arte e afeto.”
O Canto das Artes é um ponto cultural do Estado do Tocantins. Trata-se de uma Organização Não Governamental que tem o intuito de promover atividades de saúde mental à comunidade de Taquaruçu por meio da arte e da cultura. Fundado informalmente em 2004, o Canto das Artes iniciou com encontros literários e musicais que atraíam crianças e adolescentes da comunidade local, interessadas nas expressões artísticas ali promovidas.
Com o passar do tempo, as atividades foram se expandindo para incluir oficinas voltadas à arte, cultura e preservação ambiental, consolidando a missão da instituição de promover uma melhor qualidade de vida e fomentar uma atuação cidadã consciente, crítica e sustentável.
O estágio realizado faz parte da disciplina de Estágio Básico em Saúde Mental, que tem como objetivo proporcionar ao aluno o desenvolvimento de habilidades práticas, como observação, descrição e compreensão das psicopatologias em diferentes contextos e etapas do ciclo vital. Além disso, visa capacitar o estagiário para realizar intervenções que promovam a saúde mental, tanto no nível individual quanto no coletivo, avaliando os resultados dessas ações.
27 de junho de 2022 Ariana Campana Rodrigues
Relato
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Fonte: arquivo pessoal
No dia 13 de maio de 2022, vivenciei uma experiência incrível, ao lado de alguns colegas da turma de Estágio Básico em Psicopatologia, matéria ministrada pela professora Ariana Campana Rodrigues, no curso de graduação em Psicologia do CEULP/ULBRA. Conhecemos a equipe de profissionais residentes em Saúde Mental do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS II) e os profissionais responsáveis e atuantes no local. Foi uma manhã de bastante aprendizado: entendendo sobre o funcionamento da unidade e seus desafios diários.
De acordo com a PORTARIA Nº 336, DE 19 DE FEVEREIRO DE 2002 um CAPS II deve conter: 1 médico psiquiatra, 1 enfermeiro com formação em Saúde Mental, 4 profissionais de nível superior de outras categorias profissionais: psicólogo, assistente social, terapeuta ocupacional, pedagogo, professor de educação física ou outro profissional necessário ao projeto terapêutico, 6 profissionais de nível médio: técnico e/ou auxiliar de enfermagem, técnico administrativo, técnico educacional e artesão.
Mas, de acordo com os relatos, essa realidade ideal de profissionais é um pouco reduzida no município de Palmas-TO, sendo possível contar nos dedos quantos funcionários de fato são atuantes. Junto a isso, muitos dos residentes também atuam em outras unidades além do CAPS. Tivemos a oportunidade de estar com residentes formados em farmácia, enfermagem, educação física, psicologia e terapia ocupacional.
De acordo com o Ministério da Saúde (2015), os CAPS são pontos de atenção estratégicos da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS): serviços de saúde de caráter aberto e comunitário constituídos por equipes multiprofissionais, atuantes sob a ótica interdisciplinar, que realizam prioritariamente atendimento às pessoas com sofrimento ou transtorno mental, incluindo aquelas com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, seja em situações de crise ou nos processos de reabilitação psicossocial. Cada um em sua área territorial e diferentes modalidades (BRASIL, 2011). Esse modelo veio para combater a forma asilar antiga.
Falar de CAPS, também é ressaltar a importância da Reforma Psiquiátrica e a suas conquistas. Em 2001 foi sancionada a lei Paulo Delgado, a Lei Federal 10.216, que redireciona a assistência em Saúde Mental e privilegia o oferecimento de tratamento em serviços de base comunitária, ao mesmo tempo que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas com transtornos mentais. Mas infelizmente não institui mecanismos claros para a progressiva extinção dos manicômios. Logo a luta contra um modelo antimanicomial ainda é bastante atual. A data que marca as comemorações da luta é 18 de maio. Nessa luta está o combate à ideia de que se deve isolar a pessoa com sofrimento mental em nome de supostos tratamentos.
O CAPS II, propositalmente, é um local que tem a aparência de casa, para que a pessoa que frequenta o serviço se sinta confortável, criando vínculos mais fortes e melhor adesão ao tratamento. Fiquei maravilhada com a estrutura e a sensação de acolhimento presente ali. O espaço externo amplo e arborizado foi o maior responsável por essa sensação.
Os estagiários nos contaram também como é feita a adesão de uma pessoa ao serviço. Qualquer pessoa que tenha interesse pode ir por vontade própria, sendo encaminhada para um momento de acolhimento com os residentes ou outros membros da equipe. São então identificadas as demandas, feito o direcionamento das pessoas, que podem permanecer ou ser indicadas para outros lugares. Os residentes destacaram que esse processo de escolha é feito de forma multidisciplinar, e que nada ali é pensado de forma individual. Se a pessoa tem o ‘’perfil’’ para o serviço, é então pensado para ela um Projeto Terapêutico Singular, em que práticas multidisciplinares são acionadas, pensados de acordo com a subjetividade de cada indivíduo e suas demandas.
De acordo com a Portaria/ SAS/MS n.º 341 de 22 de agosto de 2001, dentro de sua área assistencial, um CAPS II deve funcionar no período de 08 às 18 horas, em 02 (dois) turnos, durante os cinco dias úteis da semana. A assistência prestada ao paciente no CAPS inclui as seguintes atividades:
a — atendimento individual (medicamentoso, psicoterápico, de orientação, entre outros);
b — atendimento em grupos (psicoterapia, grupo operativo, atividades de suporte social, entre outras);
c — atendimento em oficinas terapêuticas executadas por profissional de nível superior ou nível médio;
d — visitas domiciliares;
e — atendimento à família;
f — atividades comunitárias enfocando a integração do paciente na comunidade e sua inserção familiar e social;
g — os pacientes assistidos em um turno (04 horas) receberão uma refeição diária, os assistidos em dois turnos (08 horas) receberão duas refeições diárias.
Quanto ao funcionamento dos grupos, os residentes manifestaram a imensa vontade de retorno pois, durante a pandemia, os grupos foram suspensos. Eles nos contaram com entusiasmo que existem projetos em andamento, mas que o período pandêmico trouxe dificuldades, resultando em algumas mudanças no funcionamento das atividades. Apontam que aos poucos estão se reestruturando. A necessidade de servir refeições é uma dessas dificuldades, pois no momento elas não estão sendo servidas Logo, até o presente momento deste relato, os grupos não estão funcionando. Os profissionais tentam suprir algumas demandas de forma individual, ficando impossibilitados de exercer outras.
Os grupos, nas modalidades de “psicoterapia, grupo operativo, atividade de suporte social, entre outras” (Brasil, 2004, p. 32), são preconizados como atividades terapêuticas nos CAPS, constituindo mais um mecanismo de “cuidado que visa à autonomia e corresponsabilização do sujeito em seu tratamento, atribuindo-lhe poder de contratualidade em seu processo de reabilitação psicossocial” (Firmo & Jorge, 2015, p. 219). Por isso seria muito importante que a realização dos grupos fosse retomada.
Outro ponto relatado nas nossas conversas foi sobre a saúde mental dos residentes e como eles conseguem conciliar a rotina intensa da residência com sua vida pessoal e os momentos de lazer e prazer. Muitos relataram a dificuldade dessa separação no começo, mas que hoje conseguem “desligar’’ dos assuntos e dos acontecimentos quando chegam em casa. Outros relataram sobre a importância dos momentos de lazer com a família e a psicoterapia. Juntos também fazem reuniões, que antes eram mais frequentes, para que possam relaxar e ter momentos de lazer.
Sobre a saúde mental de residentes em áreas profissionais da saúde, as publicações de estudo são escassas. Carvalho, Melo-Filho, Carvalho e Amorim (2013) investigaram 178 estudantes e observaram a elevada prevalência de transtornos mentais comuns (TMC) na população estudada (51,1;.j%), com maior incidência entre médicos do que entre não médicos, indicando necessidade de estratégias para melhorar a qualidade de vida dos residentes.
Apesar de todos os desafios, as rotinas intensas de estudos, a carga horária de 60h semanais, aulas que acontecem a cada 15 dias, os residentes evidenciaram sua paixão por trabalhar com a Saúde Mental, nos incentivando bastante a investir nos estudos para a residência e a viver essa experiência, dita como única. Falaram um pouco como é o funcionamento do edital de seleção, que a residência tem a duração de 2 anos e sobre como o conhecimento adquirido é de extrema importância para o currículo profissional.
Conversamos um pouco sobre as mudanças que vêm ocorrendo por conta da situação da extinção e posterior retomada da FESP (Fundação Escola de Saúde Pública) no município de Palmas . A Fundação, criada por meio de lei municipal em 2013, tem por missão promover atividades de pesquisa, extensão e inovação para os trabalhadores do SUS e para a comunidade, atuando na formação e educação permanentes (Conselho Regional de Biologia, 2022). Infelizmente, com sua extinção temporária, houve um enorme retrocesso, pois ela se incorporou temporariamente com a Secretaria Municipal de Saúde, o que trouxe a preocupação de que certas ações deixassem de ser priorizadas ou até mesmo descontinuadas.
Como percebido ao longo desse relato, os aprendizados em apenas uma manhã foram muitos, trazendo o nosso olhar a outros campos de atuação, além do âmbito clínico tradicional, nos permitindo compreender a importância de tal serviço para a população. Minha percepção é que, mesmo sendo um serviço de imensurável valor, o CAPS ainda é desvalorizado e por vezes negligenciado, o que nos faz refletir, como futuros profissionais, o quanto precisamos, sim, exercer nosso dever ético de propagar os ideais da Reforma Psiquiátrica.
Referências:
BRASIL. Ministério da Saúde. Lei n° 10.216. Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10216.htm. Acessado em 21/05/2022.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Especializada e Temática. Centros de Atenção Psicossocial e Unidades de Acolhimento como lugares da atenção psicossocial nos territórios: orientações para elaboração de projetos de construção, reforma e ampliação de CAPS e de UA / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Especializada e Temática. Brasília: Ministério da Saúde, 2015.
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Reforma Psiquiátrica e política de Saúde Mental no Brasil. Documento apresentado à Conferência Regional de Reforma dos Serviços de Saúde Mental: 15 anos depois de Caracas. OPAS. Brasília, novembro de 2005. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/Relatorio15_anos_Caracas.pdf. Acessado em 21/05/2022.
O referido Plano Estratégico que se apresenta elegeu a Escola Estadual Cívico-Militar Maria dos Reis Alves Barros como foco de ação interventiva, e verificou os seguintes problemas: a baixa autoestima dos/as estudantes, bem como a busca pela imagem perfeita visada nas redes sociais, o bullying entre os adolescentes e a crescente demanda de adoecimento psíquico, como a ansiedade. Com vistas à problematização e ao enfrentamento dos problemas elencados, este relato de experiência apresenta a execução de uma intervenção, cujo procedimento terá na utilização de grupos operativos a sua referência principal.
Quanto à escola, vale destacar que a mesma foi criada pelo Decreto Estadual de Lei Nº 2.785 de 29 de junho de 2006, e inaugurada no dia 29 de junho de 2006. O nome da escola é uma homenagem à Profa. Maria dos Reis Alves Barros, pioneira na educação do distrito de Taquaruçu, e localiza-se no bairro Taquari, no município de Palmas-TO. O perfil dos/as estudantes da escola encontra-se em torno da faixa etária de 09 a 18 anos de idade, no período diurno, nas modalidades do ensino fundamental e ensino médio. No período noturno há exceções de idade para os alunos inseridos no mercado de trabalho, a partir dos 18 anos, sendo a maioria desses/as estudantes, trabalhadores e pais (responsáveis) de famílias.
O perfil dos/as estudantes se mostra desafiador, pois compete à árdua missão de alinhar as aprendizagens desiguais em sala de aula; situação de distorção idade/série; abandono e evasão escolar; formação de vida familiar e social fragmentada, em razão de problemas econômicos; convivência realidade presente ou próxima de drogas lícitas e ilícitas; violência doméstica; a gravidez precoce que tem interrompido a vida escolar de muitas adolescentes, entre outros desafios mais relevantes.
Relato de Experiência
O modelo de trabalho escolhido foi o de Grupos Operativos, este que tem como objetivo principal proporcionar uma experiência de aprendizado grupal, visando a faixa etária de adolescentes. O grupo operativo em questão é regido pelos acadêmicos do curso de psicologia, odontologia e educação física do Ceulp/Ulbra. Referente às escolhas de estratégias para serem aplicadas na resolução dos problemas, foi utilizada a dinâmica de grupo para tal objetivo. Com essa ferramenta foi possível trabalhar diversos aspectos dos indivíduos inseridos nesses grupos, como: melhora na habilidade de comunicação e relacionamento interpessoal, melhor percepção de si mesmo, instigar a interação afetiva entre os indivíduos e entre outros (ZIMERMAN, 2000).
Todas as intervenções educativas ocorreram no dia 09/04/2022 (sábado) das 07:30 às 12:00, facilitada pelos acadêmicos do CEULP/ULBRA, sendo supervisionados pela Professora Micheline Pimentel Ribeiro Cavalcante que administra a disciplina: Práticas Interprofissonais de Educação em Saúde.
Um dos temas propostos para o grupo, foi referente a Ansiedade, Técnica de Meditação mindfulness e Bruxismo. No primeiro momento foi a palestra e discussão sobre a ansiedade e a técnica das tiras de papel que continham palavras relacionadas ao tema (medo, fraqueza, suor intenso, nervosismo, preocupação, sensação de perigo, respiração acelerada e pensar claramente). No segundo momento foi a palestra sobre Bruxismo. E por último foi a técnica de meditação mindfulness (atenção plena) que teve duração de 10m. Quanto à experiência nessa intervenção, devido à preparação no decorrer da semana, foram as várias expectativas no sentido de se estar motivado, tranquilo e centrado na proposta. Ao chegar na escola houve bom acolhimento por algumas professoras que já estavam no local. Às 08:00, as turmas de alunos foram distribuídas nas salas. Apesar do aparecimento de alguns tumultos foi possível dar início à prática educativa, com a presença de um pequeno contratempo de não ter dado certo a demonstração dos slides, focando apenas na exposição verbal do tema. A princípio alguns alunos estavam dispersos, mas aos poucos eles foram interagindo de forma positiva. É importante ressaltar que o último grupo trabalhado correspondeu à prática de forma mais interativa, houve mais dialética em forma de trocas de ideias no qual alguns alunos pediram sugestões de temas de redação para o vestibular. Referente ao tema ansiedade e bruxismo, foi possível associar que o bruxismo está intimamente ligado à ansiedade e explicar que hábitos adquiridos no dia a dia, em excesso, por eles podem afetar o mesmo.
Foram trabalhadas também oficinas sobre aceitação e autoestima, onde foram trabalhadas questões de imagem real e as relações com as redes sociais, aceitação, forma de lidar com a opinião do outro, cuidado com os amigos, tentar entender o porquê da mudança de comportamento, as relações com os pais e familiares, a procrastinação com o uso excessivo das redes sociais. Nas dinâmicas em grupo, foram trabalhadas a dinâmica da caixa do espelho e do papel numerado. A dinâmica do espelho consiste em colocar um espelho dentro de uma caixa, e perguntar aos participantes quem é a pessoa mais importante de sua vida? Após a resposta, entrega-se a caixa e ao abrir se vê no espelho, observando que a pessoa mais importante é ele. A dinâmica do papel numerando e distribuindo dois pares de números e chamar um par por vez em que um fala ao outro uma qualidade e se pergunta se sabiam que o outro tinha conhecimento desta qualidade.
Dinâmicas referentes à estética corporal, a estética facial e influência na mídia foram utilizadas para levar aos alunos um conhecimento acerca dos extremos com o cuidado estético e consequentemente seus malefícios com reflexos a ansiedade e transtornos psicológicos e ainda os cuidados basilares que devem ser cultivados para a manutenção da saúde e da estética como um todo.
Outra oficina trabalhada pelos acadêmicos, refletiu sobre o Bullying, onde foram trabalhadas questões que há uma associação ou uma simultaneidade entre os atos que caracterizam os diferentes tipos de bullying, em como a intimidação sistemática pode se dar por meio de agressões físicas, social psicológico, verbal, material, cyberbullying , expressões depreciativas, ameaças, perseguição, chantagem, isolamento social, além da tentativa de entender o porquê da mudança de comportamento, as relações com os pais e familiares, observando o comportamento tanto das vítimas quanto dos agressores, na busca de identificação de alguns padrões. Na dinâmica proposta pela oficina de Bullying, foi realizada uma dinâmica da empatia, a dinâmica foi realizada da seguinte forma, os alunos foram instruídos a formar duas filas, ficariam frente a frente, deveriam observar um colega por 1 minuto, durante a observação a música seria usada como concentração. Pouco depois, uma fila foi retirada da sala e outra permaneceu. Quando foram separados, foi necessário que eles mudassem três coisas neles, cabelo, roupas, tirar ou colocar acessórios etc. Quando eles voltaram para a sala com a outra fileira, os demais estarão de costas para eles, então eles se virarão para a frente e olharão para o mesmo colega por 1 minuto. Depois que a observação terminou, as instrutoras começaram a questionar se haviam observado alguma mudança em seus colegas. A intenção da dinâmica era sobre a importância de observar quando alguém do convívio não está se sentindo bem, cabisbaixo com algo, por algum sofrimento, até mesmo sofrido bullying na escola por algum colega. E ter alguém para ouvir sem ter nenhum julgamento é bastante importante. Assim, todos têm a possibilidade de se colocar no lugar do outro. Foi realizada a dinâmica do papel amassado também, onde cada participante recebe uma folha. Em seguida, o instrutor deve pedir que, todos os membros, olhem bem para aquela folha e depois a amassem e formem uma bolinha. Em seguida, peça que todas as pessoas tentem desamassar o papel e deixá-lo igual ao que estava antes. Todos os membros vão tentar voltar o papel ao normal e até mesmo sugerir ideias para que fique como antes, entretanto, cada folha estará alterada e não terá mais a mesma forma de antes de ser amassada, trazendo a reflexão acerca do bullying, onde agressões físicas e verbais ocorrem e mesmo que em determinado momento cessem, esse sujeito tende a não voltar a ser quem era, podendo sofrer consequências emocionais por toda a sua vida.
Fonte: acervo dos autores
Considerações Finais
Este trabalho teve como objetivo uma intervenção na perspectiva de grupos operativos, considerando temas acerca da ansiedade, bullying entre adolescentes, autoestima e as redes sociais, bem como da imagem perfeita, trabalhando-os com jovens do ensino médio Escola Estadual Cívico-Militar Maria dos Reis Alves Barros, com visitas presenciais dos acadêmicos da faculdade do CEULP/ULBRA como facilitadores. Para a condução do grupo, assuntos estudados sobre Pichon e Zimerman se fizeram presentes, associando-se assim, prática a teoria.
Com relação às atividades desenvolvidas, foram divididos e organizados temas para o encontro que aconteceriam ao sábado, das 7:30hrs às 12hrs, no dia 09/04/2022. Inicialmente, procurou-se conhecer melhor os participantes, bem como entender o que eles buscavam com suas participações no grupo e em seguida transmitir o conhecimento visando aprendizado e troca de experiências. O encontro foi marcado por grandes discussões acerca da temática, visando provocar nos participantes do grupo a busca pelo amor-próprio, autoaceitação e educação em saúde, proporcionando momentos descontraídos e de reflexão.
Ao final das atividades, foi possível perceber que os grupos onde a faixa etária era maior, o alcance bem como a participação dos envolvidos era maior. Outra percepção reflete a carência percebida de apoio emocional dos participantes, com alguns jovens apresentando pensamentos destrutivos e incapacitantes, entretanto, outros participantes buscaram as facilitadoras para esclarecer algumas dúvidas e outros temas não abordados, além de demonstrar interesse sobre o futuro e suas formações. No geral, todos os alunos foram bem comunicativos, muitos participaram corretamente e foi possível realizar uma bela apresentação para todos.
Avaliamos o projeto de intervenção como uma experiência enriquecedora, pois beneficia o desenvolvimento pessoal e profissional da equipe. Além disso, as atividades que os alunos realizaram possibilitaram perceber mudanças nas percepções e práticas dos alunos. Trabalhar de forma integrada facilita o alcance dos objetivos das atividades propostas.
Referências bibliográficas
PICHON-RIVIÈRE, Enrique. O processo grupal. Trad. Marco Aurélio Fernandes. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
ZIMERMAN, David E. Como trabalhamos com grupos. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
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Estagiando no SUS: relato de experiência
8 de janeiro de 2022 Brenda Karelly Silva de Souza
Relato
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A psicologia me proporcionou um estágio em uma UBS (Unidade Básica de Saúde), que é considerada a principal porta de entrada no SUS, onde se encontram as equipes de Estratégia de Saúde da Família (ESF) que são compostas por médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e Agentes Comunitários de Saúde, conforme as necessidades regionais também poderão ser incorporadas outros profissionais. Segundo o Ministério da Saúde (1997):
Os profissionais das equipes de saúde serão responsáveis por sua população adscrita, devendo residir no município onde atuam, trabalhando em regime de dedicação integral. Para garantir a vinculação e identidade cultural com as famílias sob sua responsabilidade, os Agentes Comunitários de Saúde devem, igualmente, residir nas suas respectivas áreas de atuação.
Nesse estágio pude acompanhar o trabalho dos Agentes Comunitários de Saúde em uma região de Palmas, Tocantins. Durante a experiência visitei as casas de moradores da região junto aos ACS, que são responsabilizados por micro áreas onde recolhem informações a respeito de cada indivíduo daquela região. E tive a oportunidade de observar os conceitos doutrinários sendo colocados em prática. Porém também pude perceber as dificuldades encontradas na realização dos serviços.
Fonte: encr.pw/VLKFx
A partir do trabalho dos ACS percebi como são realizados a promoção e a manutenção da saúde, onde cada agente realiza seu trabalho de forma a atender os indivíduos em seu todo, analisando suas necessidades levando em conta a equidade, atendendo pessoas que também não poderiam ir até a UBS, se preocupando com o mínimo como aspectos sociais, culturais, biológicos e psicológicos.
Porém, apesar de o SUS ter obtido grandes avanços, é necessário a participação da população cobrando seus direitos, fato que foi reforçado sempre pelos agentes em seu trabalho. Os mesmos encontram dificuldades diárias como a falta de material para realização do seu trabalho, e pontuaram que sem a cobrança da comunidade para com o governo, participando das reuniões que ocorriam nas UBS uma vez por mês não seria possível a melhora desses aspectos.
Segundo os relatos dos ACS apesar de realizarem campanhas com a população como outubro rosa, faltavam materiais básicos como luvas para realização dos exames de prevenção, o que acarretava em agentes desmotivados com o trabalho, pois apesar de realizarem sua parte é necessário a presença do controle social seja pela participação da população cobrando por seus direitos, ou pela participação da mesma em Conselhos e Conferências de saúde, não eximindo o governo dos seus deveres com a saúde.
Fonte: encr.pw/XhDcP
A falta de materiais perfaz por influenciar também na saúde dos ACS que se sentiam desmotivados e preocupados com o trabalho, relatando sintomas como estresse, desânimo, e algumas vezes insônia. Os ACS também sofriam com cobranças da população devido morarem na região onde trabalham, e falta de melhores recursos de trabalho como mais computadores.
Por fim, os ACS relataram não se sentirem sem esperanças de melhora devido a falta de responsabilidade do governo com seu dever, e também falta de motivação pela falta de reconhecimento de seus trabalhos que é crucial para o funcionamento da Atenção Básica de Saúde. E ressaltaram ainda a parcela de responsabilidade da população na melhora do Sistema Único de Saúde, que existe para atender as necessidades da mesma, porém tem de começar a ter participação social mais ativa.
REFERÊNCIAS
BRASIL, Ministérios da saúde. Saúde da Família: uma estratégia para a reorientação do modelo assistencial, publicada em Brasília, 1997.
Já nos aproximamos do final do semestre letivo. Todas as atividades se tornaram urgentes e inadiáveis e ontem vivi um desafio interessante: precisei me despedir da minha primeira paciente na clínica escola a quem chamarei simbolicamente de Anna O, em homenagem à analisanda de Breuer e Freud que inaugura os estudos de psicanálise.
Sobre verdadeira Anna O. é preciso dizer, ao menos, que também não tinha esse nome. Era Bertha Pappenheim, que aos 21 anos quando foi diagnosticada com histeria, doença exemplar da época Vitoriana, pelo médico Joseph Breuer.
A jovem estava recolhida em seu quarto sofrendo de contraturas, de paralisia no lado esquerdo do corpo, mergulhada em mutismo e delírios diversos quando recebeu os primeiros cuidados por meio de catarse e hipnose de Breuer.
Anos depois, em decorrência do tratamento de Freud, por meio da psicanálise, Bertha Pappenheim se tornou a primeira assiste social da Alemanha dedicando-se a acolher jovens judias pobres e inúmeras órfãs que eram levadas a prostituição.
O caso de Anna O. descrito por Freud no Livro Estudos Sobre Histeria, deixa claro que era preciso ouvir e interpretar as falas que vinham do inconsciente, o que os sonhos poderiam revelar e fazer de toda dor, sofrimentos banais. Com isso, Freud inaugura a psicanálise, tratamento que propõe a cura pela fala; inicia a noção da sexualidade na origem das neuroses, desenvolve a ideia da reversibilidade dos sintomas histéricos e, também, identifica evidências do amor de transferência.
Fonte: Imagem no Freepik
Voltemos à história da minha Anna O.!
Confesso que adiei o dia da despedida ao máximo, afinal, esses momentos propiciam os temíveis feedbacks e as avaliações. E eu estava insegura sobre qual seria a percepção da minha primeira paciente sobre o resultado do nosso ano de terapia.
Quanto a isso é preciso destacar que o trabalho desenvolvido com ela, que é estudante de psicologia, foi muito marcado pela transferência e pela contratransferência. Desde uma interação facilitada por uma transferência positiva iniciada nos primeiros contatos, até os desafios intensos do manejo continuado de transferência negativa, nos dois meses finais. Além, da inegável, contratransferência causada pelo fato de a minha Anna O. ser estudante de psicologia, conhecer das teorias e técnicas que eu aplicava nas sessões e, por fim, utilizar-se deste conhecimento como meio de resistência ao processo terapêutico.
Para o dia da despedida, eu ensaiei ao máximo todas as saídas previsíveis a fim de ter apoio em caso de dificuldades. E se ela não dissesse nada, isso significaria que ela não havia gostado do trabalho? E se ela fizesse uma crítica dura, ainda poderia ser interpretada como transferência negativa?
Enfim, como eu iria lidar com o meu ego narcisista de psicóloga em formação ante ao feedback da paciente que pegou o início da minha prática ainda tão rudimentar?
Foi assustador! Mas como os prazos não esperam, me lancei ao desafio.
E no final deu tudo certo. Ela chorou a sessão toda. Confessou que também tinha medo do dia da despedida. Agradeceu a disponibilidade e o trabalho desenvolvido: mais por ela do que por mim. Que fique claro! Disse ter ficado surpreendida com a clínica de ênfase em psicanálise, pois quando se dispôs a iniciar a terapia imaginava que ia apenas “se conhecer melhor” e não esperava que a experiência e a transferência fossem provocar tantas dores e tantas conquistas.
Fonte: Imagem no Freepik
Confesso que eu só não chorei, porque, afinal psicólogo não chora! Faz semblante de analista!
Mas que eu precisei lembrar disso várias vezes, eu precisei.
O bacana da experiência foi perceber na prática que o esforço do estudo, do empenho e da coragem de se arriscar mesmo sendo ainda tão iniciante trouxe resultado útil à paciente, apoiando-a a alcançar alterações concretas em suas relações e no manejo dos seus sintomas.
Quando eu lembro que perdi noite de sono preocupada com a possível ideação suicida de Anna O., mal consigo reconhecer a moça que falava comigo na última sessão. Sua libido não estava mais regredida, ela conseguiu trabalhar, não deixou a faculdade, não tinha mais crises de insônia ou de ansiedade, nem levantava a cada 10 minutos para ir ao banheiro durante a sessão.
Contudo ela ainda continua a ser minha Anna O. E como se dispôs a manter a terapia na clínica escola da Ulbra, na ênfase da psicanálise, certamente será o maravilhoso desafio de outro colega a partir do próximo ano.
REFERÊNCIAS
FREUD, Sigmund, 1856-1939. Obras completas, volume 2 : estudos sobre a histeria (1893-1895) em coautoria com Josef Breuer / Sigmund Freud ; tradução Laura Barreto ; revisão da tradução Paulo César de Souza — 1a ed. — São
Paulo: Companhia das Letras, 2016.
FREUD, Sigmund, 1856-1939 Cinco lições de psicanálise, Leonardo da Vinci e outros trabalhos (1909) / Sigmund Freud.
SANTOS, Manoel Antônio. A transferência na clínica psicanalística: a abordagem freudiana. Temas psicol. vol.2 no.2 Ribeirão Preto ago. 1994
ISOLAN, Luciano Ransier. Transferencia erótica uma breve revisão. 189 Transferência erótica – Isolan Rev Psiquiatr RS maio/ago 2005;27(2):188-195
Desde o início do ano tenho vivido a experiência de atender online no estágio em clínica psicanalítica uma estudante de psicologia de uma faculdade de Brasília. De estudante para estudante e de futura terapeuta para futura terapeuta nossa relação tem sido rica e amistosa, colecionando valiosos episódios de transferência positiva a despeito das inegáveis adversidades.
É preciso lembrar que em A Dinâmica da Transferência de 1912, Freud explica “como surge necessariamente a transferência numa terapia analítica e como ela chega a desempenhar seu conhecido papel no tratamento” (FREUD, 2010, p. 101).
Todo ser humano teria um modo característico de conduzir a vida amorosa, no que tange: às condições que estabelece para o amor, aos instintos que satisfaz e aos objetivos que coloca. E esse padrão é repetido diversas vezes em diferentes relacionamentos experimentados pelo sujeito. Contudo, somente parte do mencionado padrão, “impulsos que determinam a vida amorosa”, estaria acessível à personalidade consciente daquele que o pratica, outra parte está inconsciente. Ou seja, “foi detida em seu desenvolvimento, está separada tanto da personalidade consciente como da realidade, pôde expandir-se apenas na fantasia ou permaneceu de todo no inconsciente, de forma que é desconhecida da consciência da personalidade” (FREUD, 2010, p. 101).
A teoria freudiana identifica tipos de transferência de ocorreriam no contexto da análise e deveriam ser manejados com destreza pois seriam significativamente capazes de interferir nos resultados dela.
Fonte: encurtador.com.br/emyNP
Contudo, o desafio não para por aí, no manejo dos investimentos libidinais que a colega, potencialmente conhecedora dos conceitos e teorias de psicologia e psicanálise, endereçaria a minha pessoa. Mas, acima de tudo, a angústia gerada pela responsabilidade de conhecer o papel e os efeitos da minha contratransferência na relação com ela.
Confesso que este componente, terapeuta da terapeuta, não tem impedido nosso trabalho de alcançar alguns frutos valorosos, colhidos do relato pessoal da paciente nas sessões. E, acima de tudo, da permanência dela nas sessões validando o desejo da futura analista que vos fala acerca da continuidade da análise.
Mas, não é possível ignorar que o mencionado componente caracteriza nossa relação terapêutica e causa repercussões nas relações transferenciais e contratransferências num esforço conjunto de medir as palavras, acertar os conceitos e demonstrar uma segurança teórica e técnica no decorrer das sessões.
Destaco especialmente a sessão em que a paciente dedicou-se a uma fala longa e detida para explicar como tinha compreendido parte dos apontamentos que eu fizera nas sessões, bem como o uso de algumas técnicas de pontuação do discurso dela a partir do texto as “Cinco lições de psicanálise” escrito por Freud em 1909.
Fonte: encurtador.com.br/nKL58
Noutro momento, ainda, foi marcante para mim, enquanto terapeuta em formação, as precisas observações que a colega fizera sobre meu hábito, nada correto de anotar as falas dela na sessão e das minhas notas coletar apontamentos. De tal modo que ela confessou fixar sua atenção nas minhas expressões e no que eu poderia estar anotando para antever aquilo que poderia ser pontuado e, defender-se ou preparar-se para aquilo.
De pronto devo dizer que, após o choque da fala da paciente e do coerente feedback da minha orientadora/supervisora, abandonei o hábito de anotar nas sessões. Passei a dedicar meus esforços ao exercício da atenção flutuante.
Tal situação, de fato, consiste em verdade na mais pura resistência da minha parte a ser vencida ou ressignificada em cada nova sessão como terapeuta em formação. E a ser trabalhada tanto na supervisão técnica quanto em minha análise pessoal de modo a garantir a qualidade mínima exigida pelo tripé psicanalítico.
Fonte: encurtador.com.br/cjwzJ
Porém, a despeito do caráter especialmente desafiador de atender uma futura colega de profissão que conhece bem as técnicas que estão sendo utilizadas no setting e que aponta na minha fala a percepção que teve sobre o manejo destas durante a sessão, trata-se de uma experiência riquíssima e um exercício ímpar que tem me permitido experimentar e treinar, sob qualificada supervisão, a arte de estar no lugar de objeto resto a despeito de quem seja aquele que ocupa a poltrona à minha frente.
Referências:
FREUD, Sigmund, 1856-1939. Observações psicanalíticas sobre um caso de paranoia relatado em autobiografia: (“O caso Schreber”): artigos sobre técnica e outros textos (1911-1913) / Sigmund Freud ; tradução e notas Paulo César de Souza. — São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
FREUD, Sigmund, 1856-1939. Cinco lições de psicanálise, Leonardo da Vinci e outros trabalhos (1909) / Sigmund Freud ; file:///C:/Users/User/AppData/Local/Temp/freud11.pdf.
Santos, Manoel Antônio. A transferência na clínica psicanalítica: a abordagem freudiana. Temas psicol. vol.2 no.2 Ribeirão Preto ago. 1994.
ISOLAN, Luciano Ransier. Transferência erótica uma breve revisão. 189. Transferência erótica – Isolan Rev Psiquiatr RS maio/ago 2005;27(2):188-195
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Psicologia hospitalar frente à terminalidade da vida
Sobre a atuação da Psicologia Hospitalar Simonetti (2004, p. 15), caracteriza como “um campo de entendimento e tratamento dos aspectos psicológicos em torno do adoecimento”.
Este relato tem como objetivo descrever a vivência de estágio curricular em Psicologia no campo hospitalar durante o período de agosto de 2019 a março de 2020, do curso de graduação promovido pelo CEULP/ULBRA. O estágio foi realizado na Unidade de Cuidados Intensivos (UCI) do Hospital Geral de Palmas-TO (HGP), supervisionado pelas Psicólogas Izabela Querido e Muriel Rodrigues. As vivências das estagiárias (Diane Karen, Karla Roberta e Thais Raianny) possibilitaram um olhar voltado aos processos de adoecimento e terminalidade bem como favorecer desdobramentos e conexões com a teoria vigente sobre o assunto. O livro central em discussão foi concebido pela autora Claudia Arantes (2016) denominado “A Morte é um Dia que Vale a Pena Viver”.
Sobre a atuação da Psicologia Hospitalar Simonetti (2004, p. 15), caracteriza como “um campo de entendimento e tratamento dos aspectos psicológicos em torno do adoecimento”. Desse modo, o conteúdo surge a partir do momento em que o sujeito se esbarra com a doença. Circunstância que se manifesta carregada de particularidades, que incorporam o paciente, a família e a equipe de saúde. No que se refere à duração dos atendimentos neste espaço a psicologia hospitalar configura-se por sua natureza breve, voltada ao aqui-agora onde emergem as demandas de caráter imediato. Devido a imprevisibilidade a permanência do paciente, óbito ou alta, troca de plantões, há necessidade de certa flexibilidade e estratégia. Por vezes a oportunidade de contato com paciente chega a ser um atendimento único. Sendo assim deve ser objetivo, ter início, meio e fim (SIMONETTI, 2004).
Meu primeiro dia de estágio começou em uma manhã de quinta-feira, um dia ensolarado, cheio de expectativas. Cheguei na portaria do hospital cumprimentando todos com um largo sorriso no rosto, vesti meu jaleco e me dirigi para a UCI com entusiasmo, nada escapava do meu olhar curioso naquele curto trajeto da portaria do hospital até a UCI. Assim que entrei na unidade, a Psicóloga Izabela Querido, dispondo de toda sua simpatia e carisma me cumprimentou e logo em seguida comunicou sobre o óbito ocorrido nas primeiras horas daquela manhã, e que iríamos realizar nossa primeira tarefa do dia “suporte a notícia de óbito”.
Fonte: encurtador.com.br/yCDK5
Nesse momento fiquei paralisada por segundos. Segundos esses em que vivenciei sensações ansiogênicas, estava visivelmente nervosa com o novo desafio, meus pensamentos foram tomados por dúvidas e incertezas, “o que falar para uma pessoa que acabou de perder seu ente?”, “e se eu errar?”. Enquanto eu esperava os familiares chegarem, fui até o leito onde o paciente se encontrava, ali o enfermeiro responsável prestava os seus últimos atendimento por aquele paciente já sem vida.
Foi só nesse momento, com o contato com a morte e o morrer que refleti sobre o desafio que é falar da vida por esse caminho. A morte é um tabu na nossa sociedade, Arantes (2016, p. 17) diz que no curso de medicina se aprende sobre muitas coisas, menos sobre mortalidade. “Na faculdade não se fala sobre a morte, sobre como é morrer. Não se discute como cuidar de uma pessoa na fase final de doença grave e incurável”. Nesse sentido falta espaço de reflexão para discutir a finitude da vida não só nos cursos de graduação, como também nos espaços sociais que envolva toda comunidade.
Kübler-Ross (2017) diz que ao estudar o enfrentamento da morte entre povos e culturas arcaicas se tem a impressão que o fenômeno sempre foi rejeitado e até mesmo abominada. A psiquiatria explica a morte do ponto de vista que é negado pelo inconsciente, ou seja, o inconsciente nega o fim da vida quando se trata da própria finitude, e se o morrer for aceito, será remetida a algo ruim. Portanto, desde os tempos antigos a morte é ligada a fenômenos malignos, a um acontecimento detestável.
Fonte: encurtador.com.br/doyz5
Em seguida os familiares do paciente chegam a UCI, e com ela toda dor e sofrimento de encarar a morte. Participar e dá apoio ao comunicado de óbito é sempre uma tarefa difícil, necessita de um grande dispêndio de energia. A difícil tarefa de comunicado a notícias difíceis é papel do médico(a) responsável pelo paciente. Entretanto a função primordial para o profissional de saúde é preservar a vida, não estando preparados para lidar com a morte. Não é raro ouvir relatos que o profissional médico perdeu sua sensibilidade diante da morte por ser muito técnico, chegando a ter uma postura frio. Na UCI do Hospital Geral de Palmas observamos que a equipe médica, assim como os demais profissionais que ali trabalham exercem uma conduta acolhedora quando se fala de terminalidade da vida.
Arantes (2016, p. 38) relata que estar com uma pessoa em estado terminal “não é viver pela pessoa o que ela tem para viver”. Destaca dois sentimentos que nos difere das demais espécies, a empatia e a compaixão. Empatia é a capacidade psicológica de sentir o que o outro está sentindo se caso estivesse vivenciando a mesma situação que ela. O que pode ser um risco para o profissional de saúde, pois corre o risco de assumir a incapacidade de cuidar. A compaixão é diferente da empatia, ela permite entender o sofrimento do outro é buscar meios para o alívio da dor, é um estado emocional de piedade. “A empatia pode acabar, mas compaixão nunca tem fim. Na empatia, às vezes cega de si mesma, podemos ir em direção ao sofrimento do outro e nos esquecermos de nós. Na compaixão, para irmos ao encontro do outro, temos que saber quem somos e do que somos capazes”. O que Arantes transpassa é a importância de se ter compaixão e o risco de se colocar no lugar de sofrimento dos pacientes.
A(O) Psicóloga(o) no seu papel de suporte a notícia de óbito (comunicado de má notícia) é de facilitador entre a comunicação da equipe de saúde e os familiares do paciente, é sobretudo se fazer presente, compreender os fenômenos psicológicos, acolher, demonstrar interesse e respeito, fazer uso quando necessário de estratégias de intervenção em crise. “A(O) psicóloga(o) atuando junto à equipe deverá intervir sempre que identificar demandas emocionais de sofrimento e desadaptações, sem esperar ser solicitado […]” (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2019, p. 71)
Fonte: encurtador.com.br/cHJOY
A UCI é uma ala que recebe muitos pacientes em estado terminal, a maior parte dos pacientes são idosos acometidos por câncer, acidente vascular encefálico, traumatismo cranioencefálico, doenças pulmonares, cardiovasculares e degenerativas ou por alguma condição crônica de saúde. Me recordo quando um paciente recebia alta hospitalar, toda equipe banhava-se de felicidade, mas quando o mesmo paciente retornava dias depois, a equipe junto com os familiares expressava tristeza. Tristeza por ver todo o sofrimento e dor daquele mesmo paciente que dias antes estava estável, tristeza por estar acompanhando o fim do ciclo da vida, mas tendo a certeza que todos os esforços e recursos estão sendo aplicados para o paciente viver com qualidade de vida.
O ambiente hospitalar é ligado a tristeza, dor e sofrimento. A dor é uma experiência sensorial e/ou emocional vivenciada de forma única por cada sujeito, passando por mecanismos exclusivos de percepção, expressão e comportamento. O sofrimento é descrito como um estado de aflição que ameaça à integridade física, sendo absoluto e único para cada pessoa. Nessa perspectiva temos os Cuidados Paliativos que consiste em um conjunto de práticas de assistência de uma equipe multidisciplinar, que objetiva a qualidade de vida do paciente incurável e de seus familiares, diminuindo assim seu sofrimento (ARANTES, 2016).
A criação dessa especialidade médica titulada “Cuidados Paliativos” se deu pela busca da humanização para o atendimento em equipe de pacientes que se encontram sem possibilidade terapêutica de cura de uma determinada doença. Os Cuidados Paliativos no contexto da Psicologia se trata de uma modalidade na qual a(o) profissional dessa área, trabalha com o objetivo de propiciar uma melhor compreensão do paciente acerca da sua condição atual de vida, visando oferecer conforto para suas aflições e consequentemente aliviar as dores emocionais, dessa forma respeitando o seu tempo diante da finitude de seu ciclo vital (REZENDE; GOMES; MACHADO, 2014).
Uma das experiências marcantes no estágio diante da terminalidade, foi com a filha de uma paciente da UCI (chamaremos a paciente internada de Liz), que estava vivenciando seus momentos finais de vida. A equipe do hospital solicitou a realização de uma conferência a fim de obter assentimento do familiar responsável sobre a nova modalidade de cuidados (os paliativos). Visando também com essa ação estabelecer a confiança e uma parceria com a filha (que chamaremos aqui de Glória). Contudo ela se recusou, pois acreditava muito no reestabelecimento das condições vitais da mãe. Glória sempre quando a visitava, estimulava reações físicas, contato, comunicação com a paciente, ainda que estivesse sedada ou inconsciente. E da maneira dela, de forma surpreendente foi capaz de estabelecer uma comunicação com a mãe. O que motivava Gloria a acreditar em uma recuperação.
No entanto, apesar das tentativas de restabelecimento, o intenso cuidado depositado pela filha, e de toda equipe da UCI, Liz já não tinha mais perspectiva de cura para sua doença. E as medidas até então adotadas eram invasivas e apenas aumentavam sua dor. Assim foi solicitado uma conferência familiar com Gloria, para que autorizasse a inclusão de Liz na perceptiva de cuidados paliativos, pois muito ainda podia se fazer pela paciente, na perspectiva de oferecer uma maior qualidade de vida. O que mais uma vez foi recusado pela filha de Liz, possivelmente pelas crenças sobre o tipo de cuidado. Desse modo a Psicologia entrou não para confronto, apontando sua negação a morte, menos ainda para convencimento do melhor tipo de cuidado, mas como parceira. Afinal, a familiar compreendia bem o que estava acontecendo, entretanto escolheu enfrentar daquela forma. E a decisão foi respeitada até o momento em que sua mãe veio a falecer.
O dia-a-dia de cuidados na UCI é cansativa. Diariamente são realizados inúmeros procedimentos junto ao paciente, além de atividade administrativas e preenchimento de protocolos. Muito se pensa que o ambiente hospitalar é silencioso e tranquilo, entretanto a realidade é o oposto. A UCI é um ambiente estressor tanto para os profissionais quanto para os pacientes. O local é ruidoso devido o funcionamento dos equipamentos; o clima é gelado 24 horas; não há janelas, com isso os pacientes não conseguem se orientar quanto ao tempo, não sabendo se é dia ou noite; as visitas são controladas, sendo realizadas em horário pré-determinado com duração de uma hora, muitas vezes é necessário conceder visita estendida e autorizar um número maior de visitantes. Portanto a UCI é um local ansiogênico, onde a dor, o medo e a morte estão sempre presentes.
A experiencia de atuar no campo da Psicologia Hospitalar nos proporcionou vivenciar momentos de alegria, tristeza, medo, afeto, empatia, compaixão, surpresa e até mesmo momentos inusitados, onde tivemos que muitas vezes mediar conflitos entre equipe e familiar do paciente, ouvir palavras desagradáveis ao comunicar uma má notícia. Contudo, estabelecemos um vínculo afetivo com os pacientes, familiares e principalmente com a equipe de profissionais que nos acolheu como parte da família UCI.
E assim finalizamos nosso ciclo de estágio com o sentimento de pertencimento a ciência de codinome Psicologia, levando o desejo de atuar profissionalmente no campo hospitalar.
REFERÊNCIAS
ARANTES, Ana Cláudia. A morte é um dia que vale a pena viver. 1. ed. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA (Brasil). Referências técnicas para atuação de psicólogas(os) nos serviços hospitalares do SUS. Conselho Federal de Psicologia, Conselhos Regionais de Psicologia e Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas .1. ed. Brasília-DF : CFP, 2019.
KÜBLER-ROSS, Elisabeth. Sobre a morte e o morrer: O que os doentes terminais têm para ensinar a médicos, enfermeiras, religiosos e aos seus próprios parentes. WWF Martins Fontes, 2017.
PESSINI, Léo. Humanização da dor e sofrimento humanos no contexto hospitalar. Bioética, Brasília, v. 10, n. 2, p. 51-72, 2002.
REZENDE, Laura Cristina Silva; GOMES, Cristina Sansoni; MACHADO, Maria Eugênia da Costa. A finitude da vida e o papel do psicólogo: perspectivas em cuidados paliativos. Revista Psicologia e Saúde, 2014.
REZENDE, Laura Cristina Silva; GOMES, Cristina Sansoni; MACHADO, Maria Eugênia da Costa. A finitude da vida e o papel do psicólogo: perspectivas em cuidados paliativos. Revista Psicologia e Saúde, 2014.
O estágio teve foco na psicologia-social-comunitária que se caracteriza por trabalhar com sujeitos sociais em condições ambientais específicas.
A matéria de Estágio Básico III, do curso de psicologia do Ceulp-Ulbra, me proporcionou um contato direto com o Sistema Único de Saúde (SUS), no qual tive a oportunidade de conhecer de perto um pouco da Unidade Básica de Saúde (UBS), especificamente o trabalho dos Agentes Comunitários de uma Saúde (ACS’s) em Palmas-TO.
Os encontros ocorreram entre os dias 26 de fevereiro de 2019 e 13 de junho de 2019, sendo supervisionado pela professora Lauriane dos Santos, que a princípio explicou como funciona o sistema, logo após, tivemos a experiência de ir para o campo. A finalidade do estágio foi de entender melhor qual o papel dos ACS’s na UBS e nas visitas domiciliares; identificar os principais problemas e dificuldades dos ACS’s enfrentados no ambiente de trabalho; e por fim, propor uma intervenção com os mesmos a partir dos problemas que percebemos e que nos foram apresentados.
O estágio teve foco na psicologia-social-comunitária que se caracteriza por trabalhar com sujeitos sociais em condições ambientais específicas.
“A psicologia social comunitária visa promover a consciência e minimizar a alienação, procura promover a participação reflexiva dos grupos com os quais trabalha na definição das prioridades de atuação, planejamento, execução e avaliação de suas atividades.” (Campos,2002).
No primeiro encontro, fomos solicitados para conhecer a Unidade Básica de Saúde (UBS), e os Agentes Comunitários de Saúde (ACS’s), com o intuito de criar vínculo. A princípio fomos recebidos muito bem, tanto pelos ACS’s, quanto pela equipe da UBS. Nesse primeiro contato, explicamos então como aconteceriam esses encontros e qual a finalidade dos mesmos.
No dia 21/05/2019, às 08:00 horas, proporcionamos uma discussão e reflexão em torno do tema “Assertividade”. Essa dinâmica possibilitou uma reflexão sobre como agimos diante de certas situações, se somos assertivos, passivos ou agressivos. A intervenção durou em torno de 1 hora.
Fizemos algumas perguntas que se encaixavam no que é ser: Agressivo, Passivo ou Assertivo. Todos os ACS pegaram uma pergunta e leu. Solicitamos a resolução do problema, da forma que eles acham melhor. Todos os ACS leram a sua pergunta e propôs uma solução. Depois foi discutindo o tema assertividade relacionando com as perguntas.
Os ACS reagiram de forma positiva a esse diálogo, interagindo sobre esse tema, e compartilhando situações que eles já vivenciaram que se encaixam no que estávamos discutindo. Ocorreu uma autorreflexão sobre como eles agem em determinadas situações, se agem de forma assertiva, passiva ou agressiva. A discussão possibilitou também entender como agir para ser uma pessoa assertiva, sem que isso lhe tire a saúde mental.
Portanto após a experiência de estágio, adquirimos um entendimento sistêmico do SUS, Atenção Primária de Saúde e o papel dos ACS’s na unidade Básica de saúde. Propomo-nos a desenvolver com eles momentos de análise sobre a importância do seu papel no trabalho e a autorreflexão. Tivemos uma melhor compreensão dos papéis que os ACS’s exercem no ambiente de trabalho, como é a rotina nas visitas domiciliares, o jeito que cada ACS conhece e se preocupa com as famílias que fazem parte dessa Unidade de Saúde, compreendemos melhor os estressores do dia-a-dia que esta profissão traz. E por fim, promovemos reflexões sobre o quanto o trabalho dos ACS’s é importante para muitas famílias que precisam.
ACS é um personagem ambíguo: ao mesmo tempo em que é considerado agente transformador da sua comunidade (por trabalhar e morar nela), sofre por não ter as ferramentas e conhecimento necessário para realizar a transformação que a profissão exige. Assim, o ACS é descrito como um personagem “híbrido e polifônico”. (MENDES; CEOTTO, 2011, p. 498).
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Sistema Único de Saúde (SUS): Estrutura, princípios e como funciona. 2013-2019. Disponível em: <http://portalms.saude.gov.br/sistema-unico-de-saude>. Acesso em: 30 abr. 2019.
Através da disciplina Estágio Básico III do curso de Psicologia do CEULP/ULBRA ocorreu uma intervenção com os Agentes Comunitários de Saúde (ACS) de um setor de Palmas-TO. Previamente houve um apanhado teórico em sala de aula com a professora Lauriane dos Santos, com a finalidade de compreender melhor o papel e a importância que desempenham nessa profissão que é a porta de entrada da saúde publica.
Assim, o estágio teve como finalidade desenvolver a postura de pesquisador-participante, usando da ótica da Psicologia Social Comunitária, onde se investigou situações-problema e o impacto que essas tinham no dia a dia do profissional de saúde e, posteriormente, foram propostas intervenções que pudessem vir a ser de ajuda e significado para os mesmos.
Dessa forma, do dia 12/03/2019 a 04/06/2019 houve um acompanhamento da rotina dos ACS, onde foi vivenciado na pratica que eles cumprem um papel que vai além do que o papel da sua profissão exige, eles são “facilitadores do acesso aos serviços de saúde e ouvintes das queixas dos usuários na atenção básica”, e isso os torna imprescindíveis para a atenção primária (SANTOS; VARGAS; REIS, 2014, p. 324).
Neste sentido, os primeiros encontros foram com o caráter de formação de vínculo, pois como Ribeiro (1994) afirma, o psicólogo precisa ter uma sensibilidade e competência nos primeiros momentos, visto que eles são decisivos para a vida do grupo. Assim, além de acompanhamento, os estagiários participaram de reunião e palestra junto com os ACS e puderam vivenciar como funciona a comunicação entre os profissionais de cada área (psicologia, fisioterapia, enfermagem, assistente social) no Centro de Saúde da Comunidade (CSC).
A reunião foi de grande esclarecimento para muitos e a proposta para melhorar a comunicação e o fluxo dos usuários foi de manter uma reunião mensal para levantamento de dúvidas e problemáticas e, dessa forma, não sobrecarregar a equipe. Pode-se perceber o engajamento e a cooperação de todos os presentes, e ate solicitaram a nós estagiários alguma opinião sobre tudo o que foi falado. Após a reunião nos reunimos com a psicóloga do CSC para discutir a primeira intervenção, onde levando em consideração relatos da intervenção passada, onde eles ficaram com uma resistência sobre dinâmicas de grupo e palestra onde apenas eles ouviam.
Fonte: Arquivo pessoal
Primeira intervenção
Para a primeira intervenção, nos juntamos a outro grupo de estagiários de psicologia, e através disso levamos estudos de casos para uma roda de conversa, onde participaram todos os ACS presentes no dia. Assim ocorreu como uma troca de conhecimento, onde eles contribuíram com a experiência profissional e algumas opiniões pessoais. Foram apresentados casos sobre depressão e violência doméstica, que foram assuntos que perpassaram durante as conversas na sala de trabalho onde eles ficam.
Essa primeira intervenção foi coordenada por mim e auxiliada pela estagiária Raab, sendo que o restante ficou como observadores para anotações do debate, dessa forma caracterizou-se como um grupo operativo que Pichon-Rivière (1988) define ter como objetivo a promoção de um processo de aprendizagem para os sujeitos envolvidos.
O caso da depressão era sobre um pai de família que perdeu o emprego recentemente e fazia bicos para levar sustento para casa, com o tempo ele foi diminuindo a quantidade de bicos mesmo tendo várias possibilidades, e ficava mais tempo em casa deitado no quarto. Foi passada a palavra aos ACS para começarem, quando muitos se manifestaram falando sobre o pai ter algum problema de verme, sobre a situação do local e como isso poderia impactar na saúde do mesmo. Em determinado momento uma ACS se manifestou e tocou na possibilidade de depressão e disse que teria que ver quanto tempo ele estava assim, se isso vem de antes do emprego ou foi pela questão da perda do emprego, e isso fez com que o restante mudasse um pouco a visão do que estava ocorrendo com o personagem do caso.
A atividade permitiu o compartilhar de vivências pessoais, além da percepção e reflexão de cada um ali presente. Os ACS, à medida que foram comentando sobre o caso, direcionavam algumas dúvidas sobre a visão da psicologia, onde fui pontuando algumas coisas que eles mesmos haviam falado e levando alguns questionamentos a mais como: Quais outros fatores poderiam ser motivadores da aparente depressão, que não estavam na história? Como poderíamos ajudar no primeiro momento essa pessoa? Em seguimento as respostas para tais perguntas foram desenvolvidas por todos os presentes, chegando a respostas e reflexões em que os dois lados puderam contribuir.
O segundo caso foi sobre um pai de família que passava no bar na volta do trabalho, bebia até tarde da noite e quando chegava em casa acordava todo mundo querendo a janta, e nisso a esposa se levantava para esquentar a janta e muita vezes era violentada fisicamente enquanto o filho assistia. Esse caso foi levado apenas com a intenção de que o primeiro poderia ser rápido, mas foi ele o gatilho para muitos conteúdos de fundo profissional e pessoal dos ACS. Logo se iniciou uma discussão entre eles sobre casos que acontecem no território onde fazem cobertura, e como agiram diante deles, sobre risco quando se denuncia casos assim, sendo que atualmente alguns só fazem se a vítima não tiver condições reais de defesa, como crianças e idosos.
No seguimento da intervenção, uma ACS contou dois casos pessoais que ocorram com pessoas bem próximas, e após o relato perguntou o motivo que uma dessas pessoas conseguiu sair e seguir a vida enquanto a outra não. Dessa forma, foi pontuada a questão de rede de apoio que segundo Brito e Koller (1999), são a existência de vínculos que desempenham diferentes papéis permitindo que o indivíduo se desenvolva emocionalmente. Assim a importância desses vínculos quando passamos por dificuldades onde não sabemos como prosseguir, onde no caso apresentado ficou evidente que uma das pessoas teve um apoio durante todo o processo, e a outra apenas no início.
Então um ACS perguntou “o que prende uma mulher no relacionamento abusivo?”, e após algumas respostas de outros colegas presentes, um dos coordenadores disse que um provável e comum motivo poderia vir da infância, onde os pais batem nos filhos e dizem que o fizeram por amor, então a criança cresce entendendo que apanhar é sinônimo de amor. E após isso houve uma comoção entre todos os ACS apontando um para o outro falando sobre os filhos e como eles tratavam os mesmos em momentos que precisavam corrigir um comportamento errado. A intervenção foi finalizada e deixando no ar essa última questão para fins reflexivos. Os feedbacks quanto à intervenção, e de forma bem positiva parabenizaram os estagiários verbalizando que foi a melhor intervenção onde houve de fato um aprendizado.
Fonte: Arquivo pessoal
Segunda intervenção
Neste encontro a estagiária Raab ficou como coordenadora principal e eu a auxiliei, contamos também com a presença da psicóloga Ângela, que nos auxiliou nessa segunda intervenção. Assim mantivemos o mesmo formato de estudo de caso, em que foi levado o tema Relações Interpessoais, pois achamos pertinente devido à reação de todos com o final do caso de violência doméstica. O caso constituía em uma família com uma filha de cinco anos que passava o dia na creche e a noite não recebia atenção dos pais que estavam cansados, ocupados e pela insistência da menina acabam batendo nela. O debate sobre o caso andou em paralelo com questões da vida real, e assim houve diversos momentos catárticos nos quais muitos colocaram para fora frustrações e medos sobre suas relações parentais.
Através das vivências levadas para a intervenção, pude notar demandas vindas de casa e de experiências passadas com a família antecessora, e dessa forma conduzimos a intervenção, levando uma reflexão crítica sobre como os ACS poderiam contribuir para tornar melhorar o relacionamento familiar. Nesse momento uma ACS verbalizou sobre a dificuldade em demonstrar carinho e afeto com os filhos e que uma filha mais velha estava praticando o mesmo comportamento com o namorado. Ela comentou que a filha mais nova vinha pedir abraço e que ela não sabia como reagir e dizia apenas para ela que depois fazia isso.
Sendo assim, Silva (2002) afirma que “o trabalho em grupo favorece a troca de experiências, a reflexão e a discussão dos temas, aumentando as possibilidades de que novas atitudes e práticas sejam adotas e modeladas por seus membros”, e acredita-se que através dos feedbacks constantes dos agentes isso foi proporcionado a todos.
O acompanhamento do dia a dia e a participação de reuniões com a equipe NASF me proporcionaram uma visão e conhecimento ampliado de como é a prática e como isso se faz fundamental para a formação do psicólogo. Dessa forma, ser o elo entre o CSC e a comunidade e ser parte indispensável no SUS não é uma simples tarefa. Ela exige doação, exige força física e, principalmente, psicológica.
Em suma, a partir do contato com a atenção primária, do conhecimento adquirido sobre a lógica da territorialização e da clínica ampliada através do contato com o trabalho dos ACS, me fez valorizar, mais que antes, essa profissão, onde fui presenteado com inúmeras lições sobre gratidão e superação.
Referencias
BRITO, R. C.; KOLLER, S. H. Desenvolvimento humano e redes de apoio social e afetivo. In: CARVALHO, Alysson Massote (org.). O mundo social da criança: natureza e cultura em ação. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1999.
PICHON-RIVIÈRE, E. Teoria do vínculo. São Paulo: Martins Fontes, 1988.
SANTOS, I.E.R.; VARGAS, M.M.; REIS, F.P. Estressores laborais em agentes comunitários de saúde. Revista Psicologia Organizações e Trabalho, v. 14, n. 3, p. 324-335, 2014.
SILVA, R. C. Metodologias participativas para trabalhos de promoção de saúde e cidadania. São Paulo: Vetor, 2002.