Feliz sem filhos: apontamentos acerca da maternidade compulsória

Compartilhe este conteúdo:

Patrícia Orfila: patriciaorfila@uft.edu.br

Este texto foi escrito pensando especialmente nas meninas e mulheres que se sentem atormentadas por dúvidas a respeito da maternidade, mas, é preciso pontuar que falo do lugar de mulher branca, bissexual e de classe média, que tem consciência da branquitude como lugar de privilégio e que muitas das escolhas realizadas a partir deste lugar específico, ainda estão longe de ser opções concretas para a maioria das mulheres negras da classe trabalhadora.

Se seguirmos a lógica do essencialismo de gênero, que atribui qualidades inatas a mulheres e homens, ter tantas dúvidas sobre a maternidade, já representa em si um sinal de alerta, pois, se fosse algo tão natural, como pregam os religiosos, não deveria ser um tema envolto de polêmicas e sofrimentos. A obra “Um Amor Conquistado: o Mito do Amor Materno”, de Elisabeth Badinter (1985), nos traz subsídios para compreendermos como o amor materno não é inato à natureza feminina e que faz parte de um comportamento social que varia ao longo da história, da geografia e dos costumes.  

A necessidade de demonstrar que se leva uma vida dentro da normativa social, o medo de ser chamada de louca, o desejo de ser aceita pela comunidade ou de ter o afeto e a proteção masculina, leva mulheres a se vigiarem mutuamente, a julgarem-se e a competirem entre si.

Todas fomos tão inundadas pelos dispositivos amorosos e maternos, um deles simbolizado na metanarrativa do “sagrado amor de mãe”, que quando uma mulher se diz feliz sem filhos, irrita absurdamente o coletivo. Já se perguntaram o porquê essa felicidade incomoda tanto? Já pararam para pensar no sofrimento que poderia ter sido poupado, se pudéssemos ter tido contato com narrativas de mulheres insurgentes, para além da maternidade, caso nossa sociedade não fosse tão conservadora e silenciasse ou estigmatizasse essas mulheres nas normas da estrutura patriarcal?

A socialização feminina é uma construção histórica, cultural e política e precisa ser amplamente discutida, portanto, quando mulheres relatam suas experiências divergentes, abrem possibilidades de conhecimento e partilha com outras que buscam informações sobre o tema. Precisamos construir condições para que se sintam livres para negar a maternidade e aprenderem com outras mulheres, como a vida pode ser gratificante sem ela.

Para grande parte das mulheres não é fácil expor suas experiências pessoais e contar as pressões sociais que sofreram, logo, aconselhar outras mulheres a reagirem à maternidade compulsória e até mesmo a repensarem o estatuto do casamento, deveria ser algo tão normal quanto o contrário. Não deveríamos subestimar a inteligência das mulheres e sim termos liberdade de dialogar com as que se sentem inseguras com a ideia de se tornarem mães e sobre a obrigatoriedade social do casamento. Lembrando que a duração de um matrimônio depende bastante do comportamento feminino, pois são as mulheres sempre a fazer as maiores concessões e algumas pagam com a própria vida, conforme comprovam as estatísticas de feminicídio. 

As religiões continuam a forjar o futuro da maioria das mulheres e devemos levar em conta que podemos nos enganar muito sobre o destino de muitas delas, pois o futuro de nenhuma está predeterminado. A educação de base feminista precisa fazer parte das novas formas de socialização nas escolas e no ambiente familiar, incentivando a escrita e as narrativas de mulheres sem qualquer tipo de censura, incluindo o tratamento do aborto como questão de saúde pública. 

Podemos ver as expressões de felicidade das outras mulheres diante da maternidade e nos solidarizarmos com elas, mas isso não pode ser um fator que impeça que outras possam falar abertamente sobre o desejo contrário, mostrando que a vida sem filhos pode ser tão agradável quanto a vida com eles. 

Mães se sentem atacadas quando outras mulheres tornam público o desejo de não procriarem, argumentam que não é necessário deixar tão explícita a questão, pois isso fomenta o preconceito contra elas e as crianças. Estaríamos, então, prejudicando mães e crianças quando abordamos sobre a ditadura da maternidade? A busca por conhecimento é o princípio básico de uma educação libertadora e no acolhimento de meninas e mulheres que podem se sentir inadequadas aos padrões sociais. 

Medo da solidão? Nem filho e nem marido aplacam a solidão, sabemos de muitas histórias ao nosso redor que comprovam isso. É possível nos sentirmos muito solitárias mesmo fazendo parte de uma grande família. Talvez, algumas que me leem não tenham coragem de assumir que se sentem deprimidas mesmo cercadas de filhos.

A solidão só é insuportável se não nos propomos a enfrentá-la e só é dilacerante se deixarmos a opinião pública guiar nossos passos. A solidão só massacra se não tolerarmos a nossa própria companhia; ademais, o tema da solidão é um clássico da filosofia, faz parte da nossa eterna contradição humana. 

Quantas e quantas vezes mulheres são chamadas de egoístas pelo fato de terem escolhido a não maternidade? E por que essas mulheres deveriam carregar culpa por dispor de tempo para cuidar de si? Por que estão erradas em não quererem adotar? Por que são arrogantes se apreciam viajar? Por que são estranhas se preferem estar sozinhas? Por que são egoístas se gostam de se presentar? Por que são inadequadas se resolvem não serem escravas de um homem? 

O fim de semana de uma mulher solteira e sem filhos pode ser muito saudável e satisfatório, pois, poder fazer escolhas é um privilégio, como dormir até mais tarde ou passear na praia, limpar a casa ou andar de bicicleta, trabalhar ou descansar, afagar o gato ou molhar as plantas. Talvez o egoísmo esteja no oposto, imaginar que filhos sejam a garantia de companhia no envelhecimento. 

Ainda podemos falar sobre a maternidade redentora, aquela que aos olhos do senso comum, torna a mulher um ser humano iluminado, agora que adquiriu a autoridade por gerar uma vida no seu ventre e até mesmo de cura para aquelas que ainda não tiveram filhos. 

Inveja da maternidade? É possível se sentir ótima sem engravidar, parir e cuidar de filhos, talvez o único problema seja não falarmos sobre o assunto sem tabus e com mais frequência.

Mas por que inundar as mulheres com imagens negativas sobre o envelhecimento? Será que não podemos sonhar com uma velhice satisfatória, com saúde, acesso a cultura e o mínimo de dignidade? Também é possível acreditar no casamento, mas não apenas nesse casamento tradicional; acreditar no amor, mas não nesse afeto submisso, que apaga a mulher e exalta o homem; acreditar na monogamia, não na monogamia baseada na opressão machista; acreditar nas diversas formas de família, não apenas na heteronormativa e até na vontade de ser mãe, mas não de forma compulsória e que coloca as mulheres em uma corrida insana contra o tempo. 

A socialização feminina também motiva mulheres a engravidarem, com o objetivo de induzir casamentos ou até mesmo para mantê-los. A hipervalorização das características fisiológicas das mulheres, centrada no aspecto da reprodução, coloca as mulheres como meras reprodutoras, incapazes de tomar decisões racionais por razões hormonais, sempre preocupadas com o período fértil e cuja “voz da natureza” surge como um imperativo  essencialista, que pesa bem mais para as mulheres do que para os homens. 

Em algum período da vida, elas podem ser vorazes na busca de parceiros sexuais e por isso serem consideradas verdadeiras caçadoras, mas com o tempo descobrem que elas próprias eram a caça, pois embora valentes e cheias de vontades, nunca conseguiam penetrar, tampouco pertencer aos territórios masculinos. Mulheres assertivas e que vão atrás das suas próprias conquistas podem amargar uma busca eterna por parceiros de vida, tentando encaixá-los em amplos aspectos dos seus interesses pessoais e políticos, enquanto esses mesmos homens só as enxergavam como parceiras sexuais. 

Para a psicóloga Vasleska Zanello, “os homens aprendem a amar muitas coisas, enquanto as mulheres aprendem a amar os homens” (ZANELLO, 2018, p.269), uma boa  parte delas passa grande parte da vida buscando parcerias masculinas, que podem nunca encontrar, sobretudo no campo intelectual. A socialização masculina acontece no formato de clubes onde mulheres não são bem-vindas e quando entram servem meramente de objetos sexuais. Quando feministas fazem campanhas contra o assédio sexual, a favor da legalização do aborto e mostram dados reais sobre feminicídio são acusadas de misandria, por homens que se sentem ameaçados, isso apenas nos mostra que o machismo e a misoginia são problemas estruturais referentes ao patriarcado.

arquivo pessoal: Patrícia Orfila

Há quem diga que mulheres com muita autonomia são infelizes por suas escolhas divergentes, nada mais salutar do que elas próprias narrem suas histórias. Devem escrever para aquelas que não sonham com o status de procriadoras e cuidadoras; para aquelas que se sentem desamparadas pela religião, pela família, pela escola e pelo Estado; escrever simplesmente porque gostariam de ter lido sobre o assunto quando eram elas as que tinham dúvidas e destacar que num planeta com 7,5 bilhões de habitantes, incentivar a maternidade compulsória é um grande contrassenso. Por esse e tantos outros motivos incômodos, meninas e mulheres com muitas dúvidas sobre a maternidade deveriam optar por não terem filhos. 

O texto enviado pela cronista Leila Guerriero a escritora Lina Meruane, autora do livro Contra os Filhos, é o desfecho deste artigo: “Nunca me comoveu a ideia de parir. Ainda me diverte o assombro que as palavras não quero produzem. Há aqueles que elaboram um consolo (Bom, logo a vontade vem), ensaiam suspeitas (talvez ela não possa e diz que não quer) ou se zangam (você não pode ir contra o instinto materno). Meu caso é mais simples. Não quero. Nunca quis. Não tenho vontade. Nem sequer penso nisso todos os dias. Diria que nem sequer penso nisso todos os anos.” 

Referências: 

BADINTER, Elisabeth. Um amor conquistado: o mito do amor materno. Tradução Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.

MERUANE, Lina. Contra os filhos. Tradução Paloma Vidal. São Paulo: Editora Todavia, 2018.

ZANELLO, Valeska. Saúde mental, gênero e dispositivos. Cultura e processos de subjetivação. Curitiba: Appris, 2018. 

Compartilhe este conteúdo:

Como as relações sociais influenciam no desenvolvimento humano?

Compartilhe este conteúdo:

É consenso entre os teóricos e pesquisadores a correlação entre felicidade e saúde com a manutenção de boas relações sociais.

Sabe-se que todos os seres humanos passam por diversas situações, que desde a concepção ou até mesmo antes, influenciam em seu desenvolvimento. Ao buscar por produções bibliográficas, a autora Gonçalves (2016) descreve que os acontecimentos que precedem uma gestação poderão intervir durante todo o desenvolvimento da vida que será gerada. Fatos como por exemplo, a aceitação ou não da gravidez, se houve um planejamento, expectativas geradas em relação ao sexo da criança e em caso de não ter sido o esperado, como reagiram diante da situação frustrada. 

Ainda sob a perspectiva de Gonçalves (2016), a autora lembra que as fases que marcam o desenvolvimento da vida humana perpassam por diversas formas e épocas que podem sofrer alterações diante do meio no qual a pessoa encontra-se inserida, mas que apesar disso, o início do ciclo da vida é um processo em que ocorre de uma única forma em todos os seres humanos. O fator inicial para esse acontecimento se dá por meio da ocorrência da fecundação do espermatozoide com um óvulo, sendo assim, o marco inicial para uma nova vida ser gerada e com o decorrer do tempo, passará por diversas transformações até chegar o momento em que estará pronto para o nascimento. 

Após o nascimento, a vida que foi gerada passa por diversas transformações até o fim de sua existência. Trazendo o ponto de vista de Papalia e Feldman (2013), no primeiro ano de vida as crianças apresentam um crescimento mais acelerado, mas tendem a delongar esse crescimento durante os três primeiros anos de vida. As autoras ainda enfatizam que a fonte de maior “vitamina” para que esse crescimento ocorra de forma mais saudável, é por meio do aleitamento materno, pois além de auxiliar no crescimento, ajuda no desenvolvimento cognitivo e nos processos sensoriais. 

Voltando para Gonçalves (2016), a autora utiliza-se dos estudos de Papalia, Olds e Feldman e da autora Bee, onde expõe a divisão da infância em três etapas, sendo a primeira de 0 a 3 anos de vida, onde ocorre esse crescimento e desenvolvimento de forma mais acelerada e é nesse momento em que a criança começa a apresentar o processo inicial da fala e começo de sua locomoção, iniciando esse, por meio do engatinhar até conseguir dar os primeiros passos. A segunda fase se inicia dos 03 anos aos 06 anos de vida, é exposto que nessa fase as crianças começam a apresentar um ganho na sua coordenação motora, enquanto no crescimento apresenta uma queda no processo. Apresenta também a capacidade de imaginação, onde exerce por meio de brincadeiras, começam a interagir com outras crianças e adquirir o conhecimento de diferenciação dos gêneros (meninas e meninos).

Ao partir para a terceira e última fase da infância, sendo essa de 06 anos aos 11 anos de idade, ainda de acordo com Gonçalves (2016) sob a perspectiva de Papalia, Olds e Feldman, o desenvolvimento físico continua de forma mais lenta, mas a criança sofre mudanças em sua estatura e peso, as relações de amizades ganham mais espaço e importância nesse momento e explica que essas aproximações se dão com crianças que são semelhantes a si, como por exemplo, em idade, classe social, cor e sexo. As amizades nessa fase exercem a função em auxiliar no desenvolvimento das habilidades sociais daquela criança, ajuda no processo de separação de valores em que ela tem conhecimento advindo do ambiente familiar, contribuindo no processo de autoconhecimento e identidade de gênero.

Após a fase da infância, passa-se para a adolescência, sendo essa segundo a Lei nº 8.069 de 13 de julho de 1990, que discorre sobre o Estatuto da Criança, que são considerados adolescentes pessoas com 12 anos até os 18 anos de idade. De acordo com Papalia e Feldman (2013), essa fase se dá início por meio do surgimento da puberdade, momento em que há a produção de diversos hormônios sendo produzidos no corpo daquele sujeito. Hormônios esses que darão origem ao surgimento dos pelos pelo corpo, alteração na voz dos meninos, crescimento dos seios nas meninas e outras diversas mudanças físicas.  Além das mudanças físicas, nesse período é possível notar, ainda referindo-se ao livro Desenvolvimento Humano de Papalia e Feldman (2013), os adolescentes em busca de suas identidades, sentimento de pertença, descobertas envolvendo questões sexuais, mudanças nas relações familiares.

Logo após, entra-se na fase adulta, denominada por Papalia e Feldman (2013) como adultos jovens. Essa etapa é marcada por uma maturidade no modo de pensar, nomeado pelas autoras com Pensamento Pós-Formal, complexidade dos julgamentos morais, entradas em faculdade e consequentemente no ramo trabalhista, independência de sua família de origem, saindo de casa e como resultado, gere uma nova reestruturação nas relações familiares, escolhas de parceiro e início da família que será construída por aquele adulto jovem, criando assim, seu próprio padrão familiar. 

Seguindo adiante, Papalia e Feldman (2013) descrevem a vida adulta intermediária incluindo pessoas de 40 anos aos 65 anos de idade. Fatores como gênero, classe social, saúde e raça influenciam nos aspectos vividos por esse público. Em relação a características neurológicas, é possível experienciar declínios cognitivos nessa fase, ocasionando como consequência, algumas doenças neurológicas. Além disso, ocorre mudanças físicas que passam a serem percebidas com o passar do tempo, mudanças na vida sexual, problemas de saúde. Pessoas nessa faixa etária experienciam o início da saída do ambiente de trabalho e apresentam um novo papel na sociedade, tendo os filhos longe de casa, trazendo um possível sofrimento, o momento em que se tornam avós e um novo relacionamento com os filhos. Apesar disso, ainda é possível vivenciar outras formações de relacionamentos e estilos de vida.

O último aspecto do ciclo vital se dá ao adentrar na fase denominada de velhice.

“O envelhecimento primário é um processo gradual e inevitável de deterioração física que começa cedo na vida e continua ao longo dos anos, não importa o que as pessoas façam para evitá-lo. Nessa visão, o envelhecimento é uma consequência inevitável de ficar velho. O envelhecimento secundário resulta de doenças, abusos e maus hábitos, fatores que em geral podem ser controlados (Busse, 1987; J.C. Horn e Meer, 1987). Essas duas filosofias do envelhecimento podem ser comparadas ao conhecido debate natureza-experiência, e como sempre, a verdade está em algum ponto entre os dois extremos” (PAPALIA; FELDEMAN, 2013, p. 573).

Nesse período é possível notar cabelos grisalhos e em alguns casos, ocorre até mesmo a perda dos cabelos, pele com menos elasticidade, presença de rugas e outras mudanças físicas notáveis. Pessoas que estão vivenciando essa fase podem apresentar baixa no seu sistema imunológico e problemas cardíacos. Em relação ao envelhecimento cerebral, este pode sofrer variações de acordo com o estilo de vida que aquele idoso levou ao decorrer de sua vida, assim como os seus processos cognitivos.

Após uma breve exposição sobre o ciclo vital, passemos ao contexto das relações sociais. De acordo com Rodrigues (2018), se faz necessário a ocorrência das relações, pois são por meio delas que o homem consegue desenvolver-se, obtém a comunicação, sendo essa colocada pelo autor como uma necessidade básica da humanidade e também  a concepção das relações interpessoais. A primeira experiência e contato de interação social ocorre no meio familiar, onde o sujeito tem o contato com regras sociais, costumes e valores morais daquele meio em que encontra-se inserido. Conforme vai crescendo, esse sujeito amplia suas relações sociais e afetivas, sendo necessário também, a presença de qualidade nessas relações. Essa ampliação ocorre por meio do ambiente escolar, formação de amizades, trabalho e relações afetivas. 

Ilustração de uma idosa e um homem adulto jovem.
Fonte: Imagem de Mohamed_hassan no Pixabay.

“Vivemos rodeados de pessoas, mas não necessitamos apenas da presença de outros; carecemos também da presença de pessoas que nos valorizem, em quem possamos confiar, com quem possamos comunicar, planear e trabalhar em conjunto. Não surpreende, portanto, que a investigação realizada nesta área tenha revelado que as relações sociais, em quantidade, mas especialmente em qualidade, são importantes para manter o bem-estar físico e mental ao longo da vida” (RODRIGUES, 2018, p. 1).

 Resende et al. (2006), expõem que uma boa interação social traz o benefício de auxílio no aumento da competência adaptativa e essa ocorre por meio manuseio das emoções, orientação afetiva e cognitiva e por meio da ocorrência de feedback. Ao utilizar os estudos de Erbolato, os autores pontuam que as relações interpessoais trazem regulação ao longo do ciclo vital, trazendo mudanças e adaptações independentemente da fase em que o indivíduo encontra-se vivendo, além disso, “aumento do senso de bem-estar em adultos, bem como melhora no funcionamento físico” (EVERARD et al., 2000 apud RESENDE et al. 2006).

Outras obras trazidas por Resende et al. (2006) enfatizam outros aspectos positivos como fortalecimento da saúde, obtenção do significado de vida, auxílio na redução de estresse, criação do cultivo de hábitos saudáveis e aumento do controle pessoal, o que irá impactar positivamente no bem-estar psicológico daquele sujeito. 

“Um aspecto essencial do bem estar psicológico é a capacidade de acomodação às perdas e de assimilação de informações positivas sobre o self, um sistema composto por estruturas de conhecimento sobre si mesmo e um conjunto de funções cognitivas que integram ativamente essas estruturas ao longo do tempo e ao longo de várias áreas do funcionamento pessoal” (NERI, 2001a apud RESENDE et al. 2006).

Entrando na fase da vida adulta tardia, as autoras Papalia e Feldman (2013) trazem dados de pesquisas achadas em que evidenciam resultados de que mesmo quando ocorre a diminuição da rede de amizade de pessoas mais velha, essas tendem a apresentar um círculo de relações mais íntimas de suma importância, trazendo benefícios como a ajuda em manter a mente e a memória funcionando de uma boa forma, essas relações se dão por meio dos amigos íntimos e de membros da família. As autoras ainda expõem que quando as pessoas nessa fase recebem apoio emocional advindo dessas redes de relacionamentos em que estão inseridas, tendem a apresentar uma satisfação na vida, mesmo quando estão vivenciando situações estressoras ou alguma traumática. As relações positivas melhoram a saúde e o bem-estar do sujeito.

Por outro lado, Papalia e Feldman (2016) colocam que sujeitos em que vivem uma vida de forma isolada, estão propícios a viverem de forma solitária, sendo a solidão um fator de risco, pois de acordo com as autoras, pode intensificar o processo de declínio físico e até mesmo cognitivo. Rodrigues (2018) evidencia que o viver em solidão dos idosos se dá em sua maioria devido aos acontecimentos que geram como resultados percas, como é o caso do momento em que aposentam-se, filhos saem de casa e vão construir suas famílias, morte do cônjuge ou separação, sendo necessário nesses momentos, um amparo maior aos idosos por parte de sua rede de apoio e também da criação de projetos sociais em que deixem-os engajados nos processos sociais, pois como complementa Papalia e Feldman (2016), ao receber apoio emocional advindo das relações sociais, é possível perceber que o sujeito experimenta sentimentos de utilidade, sente-se valorizado e pertencente ao grupo em que está sendo inserido.

Para Papalia e Feldman (2016) as relações de amizade ganham um papel de suma importância para os idosos, pois com o passar dos anos, essas amizades tendem a se tornarem mais saudáveis e felizes, como consequência, apresentam uma melhor capacidade em lidar com as mudanças que ocorrem com o envelhecimento, aumento na perspectiva de vida e finalizam informando que o vínculo íntimo para os idosos proporciona bem-estar a partir do momento em que o sujeito se sentirá valorizado e querido mesmo passando por situações de perdas (envelhecimento, queda nos processos cognitivos, entre outros ocorridos).

Ilustração representando uma interação social entre idosos.
Fonte: Imagem de RosZie no Pixabay.

Dessa forma, se faz necessário um olhar humanizado e acolhedor para com as pessoas que estão vivenciando o processo de envelhecimento, se faz necessário a manutenção e fortalecimento das redes de apoio em que estão inseridos, criação de projetos que gerem valorização e participação ativa desses idosos e principalmente a mudança nas perspectivas da velhice, sendo essa fase possível de mudanças, aprendizagens e ressignificações.

Referências

BRASIL. Lei nº 8.060 de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Brasília. Disponível em <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm> Acesso em: 22 fev 2023. 

PAPALIA, Diane E. Desenvolvimento humano [recurso eletrônico] / Diane E. Papalia, Ruth Duskin Feldman, com Gabriela Martorell; tradução: Carla Filomena Marques Pinto Vercesi… [et al.] ; [revisão técnica: Maria Cecília de Vilhena Moraes Silva… et al.]. – 12. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre: AMGH, 2013.

PERES GONÇALVES, J. (2016). CICLO VITAL: INÍCIO, DESENVOLVIMENTO E FIM DA VIDA HUMANA POSSÍVEIS CONTRIBUIÇÕES PARA EDUCADORES. Revista Contexto & Educação, 31(98), 79-110. Disponível em: <https://doi.org/10.21527/2179-1309.2016.98.79-110> Acesso em: 22 fev. 2023.

RODRIGUES, R. M. Solidão, Um Fator de Risco. Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, [S. l.], v. 34, n. 5, p. 334–338, 2018. DOI: 10.32385/rpmgf.v34i5.12073. Disponível em: <https://www.rpmgf.pt/ojs/index.php/rpmgf/article/view/12073>. Acesso em: 5 mar. 2023.

RESENDE, Marineia Crosara de et al . Rede de relações sociais e satisfação com a vida de adultos e idosos. Psicol. Am. Lat.,  México ,  n. 5, fev.  2006 .   Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1870-350X2006000100015&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  05  mar.  2023.

Compartilhe este conteúdo:

Entre todas as escolhas, prefiro ser feliz

Compartilhe este conteúdo:

Recentemente fui indagada por uma conhecida sobre o que eu estava esperando para o futuro, muitos me apresentaram padrões e metas como condições de suas realizações. Percebi naquele momento que estava muito distante da realidade dos meus colegas.

Disseram-me que precisava escolher o que eu queria fazer, que eu deveria sacrificar boa parte da minha vida em prol do meu sucesso profissional. Disseram-me ainda que eu deveria escolher muito bem a pessoa que seria minha parceira, de modo que escolhesse alguém com riquezas que pudessem me sustentar.

Fonte: encurtador.com.br/cwTU1

Em boa parte do tempo não entendia a obsessão das pessoas em querer controlar minhas escolhas, me sentia diante de um cerco de opiniões alheias que ansiavam ditar as regras do meu comportamento. Muitas das vezes a pressão vinha de casa, meus pais me dando sugestões autoritárias e cada uma mais infeliz que a outra.

Em uma epifania percebi que seguiria um caminho triste e sem engajamento caso seguisse os desígnios de terceiros e, caso algumas de suas “ideias” dessem errado, somente eu arcaria com as consequências dos erros experimentados. Pus um ponto final em tudo, decidi que eu gostaria mesmo era ser feliz, feliz amorosamente, profissionalmente.

Por isso, busquei encontrar um verdadeiro amor, que estive disposto em se tornar um único ser comigo, busquei ainda trabalhar com aquilo que tinha como meu hobbie preferido, assim, além de fazer algo prazeroso pude receber por isso. A vida não precisa ser arduamente negativa para alcançar objetivos que sequer pretendem ser alcançados, podemos escolher a felicidade, mesmo que esta não esteja aparente no cotidiano de nossas vidas.

Compartilhe este conteúdo:

Amor e fantasia: o que gostamos no outro?

Compartilhe este conteúdo:

O escritor francês Stendhal (1783-1842) disse que, quando se está apaixonado, o que você ama não é a outra pessoa, mas o estado eufórico de estar apaixonado (STENDHAL, 1822). Quando se observa por esse ângulo, no início do relacionamento o que amamos não é a pessoa em si, mas as sensações que são geradas por esse sentimento, o aumento da frequência cardíaca, da energia, calor, bochechas vermelhas, pupilas dilatadas, a excitação, e o prazer que são desencadeadas por meio da liberação de neurotransmissores como a adrenalina e dopamina. 

O ser humano tem a necessidade de afeto, de ficar próximo, de amar e ser amado. A afetividade influencia nossos pensamentos, e nosso comportamento e formas de nos relacionarmos com o outro. A dimensão afetiva é feita de  sentimentos, emoções, relacionado a si mesmo, e ao mundo externo. Ela é essencial para a nossa humanidade, pois sem ela não passaríamos de autômatos (CARDELLA, 2009).

O ser humano é fundamentalmente social, se comunicar, interagir e estabelecer conexões parece de nossa natureza, por outro lado, a solidão pode ser uma fonte significativa de sofrimento, então o afeto demonstra ser  essencial na constituição humana, proporcionando acolhimento e sentimentos positivos, o afeto é fundamental na promoção do bem-estar. E frequentemente é durante essas interações humanas que se percebe que, diversas vezes, se manifesta a dificuldade de gerenciar os sentimentos e principalmente quais as expectativas sobre a outra pessoa.  

No drama Sul Coreano “Clean With Passion for Now” de 2018, a protagonista depois de uma série de eventos, percebe que passou anos de sua vida apaixonada por seu veterano da faculdade, não por ele ser uma pessoa legal, que se encaixava nas suas expectativas amorosas, mas sim pelas sensações que o sentimento desencadeou nela, e quando ela finalmente conhece melhor seu “crush”, ele não é exatamente um cara agradável, assim ela reflete que estava encantada pela ideia que tinha construído dele.  

Imagem by jcomp on Freepik

Na busca por afeto, é comum que se busque o encaixe perfeito, o par ideal, que se apresenta como a solução de um conflito interno, a necessidade de se sentir completo. No entanto, entre expectativa e realidade quase sempre a decepção se apresenta, ao ver o outro como você deseja e não suas reais características, defeitos e qualidades, e esperar que essas fantasias sejam respondidas, baseados em convicções pré-estabelecidas e a idealização sobre o outro, gera no mínimo descontentamento e relações que não vão muito longe. 

Relacionamentos são cercados por princípios e transições, uma dinâmica transformadora, no contato da subjetividade com o outro o do indivíduo consigo, é uma construção que movimenta o desenvolvimento da vida, que aparenta ser uma necessidade humana, que não é simples e demanda atenção e cuidado. Como Bauman (2004, p. 10) declara “[…] os relacionamentos são como a vitamina C: em altas doses, provocam náuseas e podem prejudicar a saúde.”. 

Inícios de relacionamentos são carregados de expectativas, porém em concordância com Bauman (2014), o ato de se relacionar é movimentar-se pela neblina sem nenhuma certeza, então com começos tão ambiciosos, essas relações se tornam fragilizadas, e tendem a não durar, assim um círculo vicioso toma forma, a necessidade por afeto inerente ao ser humano, que leva a essa busca incessante pelo relacionamento perfeito, que geralmente não se concretiza, que gera relações quebradiças, decepções e corações partidos.       

Vivencia a decepção em um relacionamento amoroso é mais comum do que a descoberta da felicidade, a criação da ideia de achar o par perfeito é uma narrativa fantasiosa, que quase sempre acaba se divergindo da realidade, manter uma relação saudável requer tempo, disposição, equilíbrio, e se responsabilizar pela própria felicidade, assim um relacionamento se constitui como um constante processo de aprendizagem, sobre si mesmo e o outro.

Referências:

BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos vínculos humanos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004. 

CARDELLA, Beatriz H. Laços e nós: amor e intimidade nas relações humanas. São Paulo: Ágora, 2009.

STENDHAL, H. Do Amor. Trad. Roberto Leal Ferreira. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

Compartilhe este conteúdo:

Passa amanhã

Compartilhe este conteúdo:

66 anos, já estou velha, cadê a sabedoria?

Isso realmente me incomoda, pois me dou conta de que das duas coisas, não conquistei nada ainda; sim, porque a velhice não é uma conquista, a despeito da “nobreza” que se possa emanar disso, é apenas uma (con)sequência da vida; e a sabedoria, por mais que eu abra e feche os olhos, por mais que eu me belisque, não sinto em mim os eflúvios da danada.

Aliás, até por não ser uma sábia (ainda), preciso pesquisar um modelo ideal para mim. Hoje é bem mais fácil, com o advento da tecnologia, posso em segundos, estar ao lado do velho pescador que apenas do soprar do vento sabe o custo benefício de se colocar a jangada na água. Ou estar entre os monges tibetanos para conhecer a retumbância do silêncio, em horas incontáveis de concentração.

Resolvi seguir os passos de alguém a quem me serve de modelo, pela simplicidade e verdade que carrega em seus ensaios; Este modelo é Michel de Montaigne (1533-1592), pois bem, ele afirma que “É necessário conhecer a ti mesmo”, Reitera ainda que “É preciso que cada um construa uma sabedoria à sua própria medida. Cada um só pode ser sábio de sua própria sabedoria”.

Sobre sua primeira fala me parece uma tarefa que conseguiria fazer.  Sem querer fazer apologia a cerca dos meus saberes, penso que ao longo do tempo acumulei alguns poucos conhecimentos, mas seria o caminho certo e o suficiente?

“Sobre os saberes Montaigne escreve: “[c] proclamai a nosso povo, sobre um passante: ‘Oh, que homem sábio!’ e sobre outro: ‘Oh, que homem bom!’ […] Seria preciso perguntar quem sabe melhor, e não quem sabe mais.” (MONTAIGNE, 2002, p. 203).

Fonte: Imagem de Nato Pereira por Pixabay

É uma baita reflexão para mim e para quem está nesta busca em saber o quanto e como quer ser sábio. Eu sei, melhor, ou sei mais? Confesso que está questão é inacabada em meu pensar. Um dos grandes problemas que enfrentei foi me debruçar na compreensão desta construção da sábia que quero ser, como poderia eu, separar-me de mim e me ver dentro da sabedoria que doravante ousaria perseguir.

Adentrando mais no mundo deste notável homem, busco através dele salientar o quanto de sabedoria preciso, e se realmente preciso. É certo que alguma preciso, mas para me tornar sábia, daqueles de renome, tal qual o meu modelo, o que seria necessário?

Minhas indagações chegaram ao modelo de sábio para Montaigne. Sim, ele também o tinha, um sábio senhor de alcunha Sêneca um importante escritor e filósofo do Império Romano. Pois bem, conforme ele a  sabedoria carece de alma plena, e sobre isto ele afirma que,

“A alma do sábio é semelhante à do mundo supralunar: uma perpétua serenidade. Aqui tens mais um motivo para desejares a sabedoria: alcançar um estado a que nunca falta a alegria. Uma alegria assim só pode vir da consciência das próprias virtudes: apenas o homem forte, o homem justo, o homem moderado podem ter alegrias” (SÊNECA, 2009, Carta 59, p. 215).

Achei de extrema relevância, porém um tanto quanto profundo para uma iniciante. Porém ainda me acho inacabada em tanta virtude.

Fonte: Imagem de Gerd Altmann por Pixabay

Quero  ser uma sábia contente, satisfeita, feliz, mesmo sem os atributos que Sêneca propõe e também,  não que eu não veja isso no modelo de sábio que citei acima,  mas já que me ocorreu escolher, vou me preparar bem.

Escolha. Aí que tá, sinto que lá na frente isso pode ser um complicador do quadro final; isso para a sábia que quero para mim.

Veja bem, na música, por exemplo, não me machuca ouvir uma música erudita, mas e o sambinha, será que embaça a estirpe?

O jejum… Ih meu, e o xtudo, o escaldado com dois ovos, o mocotó, o pão com salame? É, sinto que aí vai dar problema.

A festa com os amigos, as madrugadas, isso tem que ser negociado.

O futebol, o desfraldar das bandeiras, o grito de gol, nada disso?

Sei que não é sábio criticar tudo, mas é muito importante botar as cartas na mesa; que tipo de sabedoria me compraz?

Algum lampejo de sabedoria eu já tenho adquirido, por exemplo, nos vários momentos em que me sentei nas escadarias da praça, em aruanã, e vi a majestosa descida do rio Araguaia, acompanhado de arabescos avermelhados do sol se pondo; aprendi que beleza é unguento para a alma.

Aprendi que o mais gigantesco dos gestos é o perdão; talvez por isso, tantos sentem dificuldades em praticá-lo. Inclusive eu mesma.

Por outro lado, todo meu conhecimento (deveras pouco) de aritmética, matemática, física, não me permite calcular a intensidade de dor, no suspiro de uma mãe velando um filho.

Pronto, feito meu esqueleto de sábia, posso sentir que ainda estou muito presa aos velhos costumes (graças a deus!). De antemão já peço desculpas a Montaigne e Sêneca, os ensinamentos foram de grande valia, com certeza me servirão para o meu modelo; mas meu pão com salame, meu samba e, sobretudo meu futebol, no momento em que meu porco (Palmeiras) é tão soberano, trazem a resposta que preciso caso seja perguntado: “quer ser sábia hoje?”, ao que placidamente responderei:

Passa amanhã!

Referências

MELO, Wanderson Alves. (2009). A visão de Montaigne sobre o homem no mundo. Disponível em: https://pensamentoextemporaneo.com.br/?p=100. Acesso em 26/08/2022

THEOBALDO, M.C. Sêneca, Montaigne e a utilidade dos saberes. In: PINTO, F.M., and BENEVENUTO, F., comps. Filosofia, política e cosmologia: ensaios sobre o renascimento [online]. São Bernardo do Campo, SP: Editora UFABC, 2017, pp. 199-225. ISBN: 978-85-68576-93-9. https://doi.org/10.7476/9788568576939.0011.Acesso em 26/08/2022.

Compartilhe este conteúdo:

Por que fazemos o que fazemos? – Uma reflexão acerca da motivação

Compartilhe este conteúdo:

Qual é o propósito de tudo o que fazemos? O objetivo desta reflexão é buscar ter uma consciência mais aguçada em relação às razões que nos levam a fazer ou a deixar de fazer certas coisas, com base no livro do filósofo e escritor brasileiro Mario Sergio Cortella.

O livro, publicado pela Editora Planeta do Brasil, traz dentro dos seus 20 capítulos, pontos acerca da relevância do propósito no âmbito do trabalho, e como a busca por ser reconhecido e valorizado vai muito além do ganho salarial. Na capa está estampado o desenho de um alvo, remetendo a um objetivo, uma pretensão, algo que se almeja alcançar. No decorrer da leitura, nota-se que ele escreve mais voltado para o ramo empresarial, mas de forma alguma impede que as reflexões sejam levadas para outras áreas de nossas vidas a partir de diferentes associações e interpretações.

A palavra “propósito” em latim significa “aquilo que eu coloco adiante”.

O que estamos buscando? A clareza sobre esta questão dá mais sentido a nossa existência. No primeiro capítulo já nos é apresentada que a ideia de uma vida com propósito retoma um princípio do pensador alemão Karl Marx, do séc. XIX: a recusa à alienação. Alienado é aquele que não pertence a si mesmo. Uma pessoa alienada é alheia a algo. Ela não faz nada com intenção, não têm consciência direta no que produz, está vivendo automaticamente. No trabalho alienado, desumanizado, não existe a percepção autoral.

Fonte: encurtador.com.br/aor89

Atualmente, no ramo organizacional, a consciência do que se faz e o porquê é algo de muito valor. As empresas inteligentes incentivam isso nos funcionários, pois produz engajamento e inovação, que sejam pensadas outras formas de se fazer aquilo que se faz cada vez melhor. Não simplesmente fazer um trabalho de forma robótica e automática. No capítulo 3, “Odeio segunda feira”, aborda como a situação profissional e o desgosto com ela são as grandes causadoras do ódio coletivo à este dia. Na verdade quando a pessoa não se encontra naquilo que faz, precisa rever os propósitos que tem para aquilo que está fazendo. O propósito reordena as nossas ações.

Steve Jobs dizia “que a única maneira de fazer um excelente trabalho é amar o que você faz”. Sim, mas o autor traz a reflexão de que é mais fácil procurar gostar daquilo que se faz do que fazer o que gosta.

É possível ser feliz na empresa?

Segundo Cortella, a felicidade não é possível em lugar nenhum de maneira inteira, exclusiva, hegemônica. Há uma grande obsessão pela ideia da felicidade, e as pessoas acabam vivendo mais a expectativa do que a realização. O autor aborda no capítulo 10 sobre a ética do esforço, que a fixação hedonista de que encontrar prazer no mundo do trabalho, na empresa, é fora de propósito. Que quem entra no circuito do trabalho achando que irá encontrar um prazer imenso acaba se frustrando rapidamente. Porque trabalhar dá trabalho. O prazer de um trabalho bem realizado muitas vezes é a consequência de eventos anteriores não tão gratificantes. Como por exemplo, enquanto estou escrevendo esta resenha (em pleno sábado), estou abdicando de algo que no momento poderia ser muito mais prazeroso. No capítulo 12 ele traz o questionamento “por que eu faço o que faço”? E traz outra pergunta na sequência: “Por que não faço o que não faço?” nos mostrando que não há escolha sem exclusão, não há decisão sem abdicação. Se eu entendo a minha vida como resultante de opção livre, consciente, deliberada, intencional, todas as vezes que escolho, sei que deixo outras coisas de lado.

No contexto da psicologia, há uma diversidade enorme nos conceitos de motivação, e tais conceitos abordados de maneiras muito diferentes.

Vernon (1973) traz um conceito de motivação logo na primeira página do seu livro: Motivação Humana.

“A motivação é encarada como uma espécie de força interna que emerge, regula e sustenta todas as nossas ações mais importantes. Contudo, é evidente que motivação é uma experiência interna que não pode ser estudada diretamente”. (Vernon, 1973, p.11).

No início do trecho citado, motivação é uma força sem que se especifique de que natureza. Logo após, a motivação é tida como uma experiência interna, algo que sentimos e ninguém pode observar. No senso comum, costumamos utilizar esses dois significados como dois aspectos de um mesmo fenômeno. Motivação é uma força interna que nos leva a agir, e por ser interna só nós mesmos a podemos sentir.

Fonte: encurtador.com.br/owJS4

Para finalizar este resumo sucinto do livro, que em suma trata dos pilares do entendimento do ser humano como um ser que trabalha e se sustenta, levando em consideração alguns pontos que despertaram mais interesse, percebo que algumas questões estão atreladas ao surgimento da motivação, como estar em um ambiente onde haja aprendizado, pois aprendizado gera crescimento. Além disso, ter desafios a serem cumpridos e conseguir conquistar metas, fazem o sujeito se sentir competente, e isto é algo extremamente gratificante, principalmente quando há o reconhecimento desse esforço no dia a dia.

As insatisfações com o labor podem ser revistas a partir de algumas reflexões, se buscadas por uma lógica de trabalhar não apenas para o seu sustento, ou pagar as contas, e sim que seja algo socialmente relevante, que o esforço do trabalho repercuta em algo melhor ou um bem maior, algo de valor que não seja mensurado em números, mas sim que o sujeito se identifique e sinta que há um propósito positivo por trás disso, ou seja, que essa força que nos faz levantar e prosseguir, essa capacidade interna que nos faz agir nos alcance, para que possamos obter maior qualidade de vida não só dentro das organizações, mas em toda a amplitude da nossa existência.

Mario Sergio Cortella é um filósofo, escritor, educador, palestrante e professor universitário brasileiro. É autor de vários livros, entre os quais Por que Fazemos o que Fazemos?, em que analisa a vida profissional na contemporaneidade.

FICHA TÉCNICA 

Título: Por que Fazemos o que Fazemos?
Autor: Mario Sergio Cortella
Editora: Planeta
Páginas: 174
Ano: 2019

Compartilhe este conteúdo:

A felicidade como obrigação

Compartilhe este conteúdo:

Desde que a felicidade virou uma espécie de obrigação, fazemos uma confusão entre a noção de saúde mental e felicidade. Mas saúde mental não é o mesmo que felicidade, saúde mental tem relação com a capacidade acolher, de lidar e de elaborar nossos afetos, sejam eles bons ou ruins, felizes ou não.

Nesses tempos de pandemia e isolamento social, nós, os profissionais psi, estamos sendo convocados a ofertar para as pessoas receitas de felicidade e serenidade. Eu tenho dito o seguinte: quem está alegre, despreocupado, sem sonhos estranhos e não chorou (ao menos pra dentro) nessas últimas semanas, ou não entendeu direito o que está acontecendo ou está completamente descolado da realidade. Ainda mais no Brasil, onde a estupidez do presidente instaura para nós uma dupla ameaça: a da pandemia e a do pandemônio – como alguém já sinalizou.

Por isso, se você está com medo, angustiado, preocupado, choroso e com seu sono perturbado, isso indica que está com a saúde mental em dia, afinal, esses são os afetos adequados para a situação em que vivemos. São esses afetos que vão nos fazer tomar os cuidados necessários (por nós e pelos outros), buscar informações de qualidade, nos mobilizar e cobrar as providências devidas dos nossos líderes e instituições.

Fonte: encurtador.com.br/ehFKM

Por outro lado, os negacionistas, os criadores de teorias conspiratórias, os compartilhadores de mentiras, os manifestantes contra o isolamento social, os defensores das medidas genocidas do (des)presidente e que acham graça de seus comentários estúpidos, esses sim – caso não sejam movidos por cinismo ou ausência total de empatia – estão psiquicamente adoecidos; delirantes, débeis, descolados da realidade partilhada, colocando sob ameaça a própria vida e a do outro.

Sendo assim, caso você se sinta mergulhado em afetos ruins nesta quarentena, não se preocupe, você está totalmente saudável, talvez a questão seja definir o que fazer com esses afetos, como acolhê-los e atravessá-los sem paralisar completamente ou entrar em desespero. E isso é uma coisa que a maioria de nós já experimentou uma vez na vida e cada um conhece (e se não conhece deveria conhecer) suas melhores ferramentas para lidar com esses afetos difíceis: música, escrita, choro, dança, conversa, silêncio, gatos, cães, amigos, samba, trabalhos manuais, movimento político, arte, yoga, sonho, vinho, reza, grito, livros, ópera, videogame, abraço, memes, chocolate, pastel, promessa, mandinga, e tantas outras novas ferramentas, que podem até mesmo serem inventadas nesse momento.

Fonte: encurtador.com.br/gksGK

O sofrimento humano é algo profundamente individual, mas em alguns momentos – e a pandemia do Covid 19 é um deles – podemos experimentar uma forma de sofrimento coletivo. Todo sofrimento psíquico tem causas e efeitos políticos, porque está diretamente relacionado com a forma pela qual nos enlaçamos com o mundo que nos cerca. No caso do sofrimento coletivo, tal efeito político, se dá numa escala muito maior. Por isso, os que estão com sua saúde mental em perfeita ordem, são os mesmos capazes das ações políticas necessárias ao enfrentamento desse momento histórico.

O Brasil e o mundo contam com os angustiados, os insones, os preocupados e os tristes.

Compartilhe este conteúdo:

Ideal de corpo a partir de assimilação/aprendizagem pela mídia

Compartilhe este conteúdo:

Cai as fronteiras entre os famosos e seus seguidores. Os próprios jovens e adultos jovens – ou qualquer outro indivíduo comum –, hoje, se veem impelidos a aspirar à fama

A excessiva preocupação com o corpo, sobretudo no que se refere a um ideal de corpo para homens jovens, não é algo que tenha eclodido do século XX para o XXI e, logo, não se trata de uma invenção contemporânea e/ou disciplinar ao estilo foucaltiano, mas, antes, um modo de encarar a masculinidade que remete desde a Grécia Clássica (GOLDIHILL, 2007). Ainda assim, é inegável o papel que as modernas tecnologias de informação (através das mais variadas plataformas e mídias) exercem para que o corpo, na contemporaneidade, ocupe o lugar central na constituição de um modelo de bem-estar subjetivo (LIPOVETSKY, 2007) calcado em discursos tecnocientíficos e mercadológicos que chancelam o autocuidado como uma das instâncias inalienáveis deste período histórico (BAUMAN, 2008).

Neste contexto, os jovens contemporâneos superam o ideal de sucesso e felicidade não com a perspectiva de acréscimo de bens materiais e conquistas de longo e médio prazos, algo que pautava a Modernidade Sólida – numa referência que Bauman (2008) faz a busca por segurança que marcou os séculos XIX e XX – mas, antes, ao encontrarem no corpo a última fronteira para um dos mais disputados territórios pós-modernos, o uso dos prazeres (LOCKE, 1997). E esta dinâmica, em parte pode ocorrer por um processo de assimilação e/ou aprendizagem oriunda da mídia (DEBORD, 1997).

Fonte: encurtador.com.br/cuE04

Ora, se o Renascimento e, mais à frente o Iluminismo, é uma ruptura com aproximadamente mil anos de desprezo pelo corpo, num extremo que Nietzsche (2005) identifica como o niilismo e a moral asceta cristã, por outro lado, num desdobramento sem precedentes, o momento atual é de uma afirmação da imanência onde a dialética da positividade – num cenário onde se é proibido proibir – (HAN, 2015) aponta para o corpo como uma das últimas fronteiras de autorrealização – num cenário de defesa da saúde e educação pelo corpo –, já que a felicidade como algo a ser alcançada pelo corpo coletivo, pela sociedade como um todo, parece ser uma utopia que foi enterrada desde a queda do Muro de Berlin (PONDÉ, 2014).

Vale ressaltar que ainda nas décadas de 70 e 80 do século XX (FOUCAULT, 1999) observou-se que as tentativas de padronização e, depois, realce dos corpos configuraram-se, na verdade, como uma espécie de docilização, que nada mais é que uma tentativa de a sociedade exercer poder sobre os corpos individuais dos sujeitos, seja para docilizá-los, no sentido de discipliná-los a um conjunto de regras, seja para que estes alcancem o máximo de eficácia dentro do sistema liberal de produção.

Fonte: encurtador.com.br/beuwz

A configuração destas relações de forças ocorre de maneira sistêmica, onde ainda não se pode dizer que as diretrizes sobre um ideal de corpo saem exclusivamente desta ou daquela instituição de caráter hegemônico. Antes, é fruto de acordos que envolvem vários dispositivos. Não se pode negar que entre estes dispositivos se destacam os produtos midiáticos de teor pegagógico – aqui apontados como filmes, programas de TV, novelas, jornais, telejornais, webjornais, propagandas, tutoriais em redes sociais eletrônicas, etc –, que apresentam modelos identitários que, de longe, mostram um sujeito para além de um ‘homem de massa’ (EHRENBERG, 2010), agora revestido de uma performance aparentemente individual – só aparentemente, pois a performatividade deixa de ser original quando o que a move, ou seja, o desejo de realização pessoal pela espetacularização da própria vida (DEBORD, 1997) não se restringe mais a uma classe artística distante. Qualquer um, pelo disciplinamento adequado em relação ao corpo e, seguidas as formas de interações nas mídias sociais eletrônicas, estaria apto a alcançar tal patamar. Surge a era do protagonismo. Neste caso em particular, é de se chamar a atenção a quantidade de personais trainers, por exemplo, que têm perfis em redes sociais online de compartilhamento de fotos e vídeos entre seus usuários, e que exercem discursos de autoridade diante de uma plateia virtual que replica tais categorias para suas relações cotidianas, notadamente no que se refere a construção de um ideal de corpo.

Neste ínterim, para Dornelas; França (2014) a ostentação se generaliza entre os jovens de todas as camadas sociais. Um marco foram os chamados “rolezinhos” ocorridos em São Paulo-SP em 2013, quando muitos jovens de periferia – negros, em sua maioria – ocuparam alguns dos maiores shoppings da capital paulista para fazer uma celebração ao consumo. Isso ocorre porque parte da música consumida por estes jovens – o funk, sobretudo – não mais faz referência exclusiva a atos de resistência e denúncias sociais. Os modos de inserção, de aceitação pelo outro agora são atravessados pela esfera do consumo. Mesmo que não ocorra o ato em si do consumo, estar num templo do consumo, entre amigos, já cria a esfera de pertencimento. Desta forma, na esteira das tentativas de se fazerem reconhecidos e levando-se em conta que o consumo substitui simbolicamente a cidadania (KEHL, 2012), os jovens não apenas têm que comprar, eles precisam se adornar e tornar públicos estes adereços (DORNELAS; FRANÇA, 2014), seja através de encontros presenciais, seja através da publicização em redes sociais eletrônicas.

Fonte: encurtador.com.br/pqz79

Por trás deste movimento – o que em alguma medida pode configurar, também, parte da motivação da procura por ideais de corpo – é a busca do sucesso como meta. Desta forma, cai as fronteiras entre os famosos e seus seguidores. Os próprios jovens e adultos jovens – ou qualquer outro indivíduo comum –, hoje, se veem impelidos a aspirar à fama, afinal um dos maiores medos da contemporaneidade é a invisibilidade (BAUMAN, 2007). Neste sentido, a ostentação tem sido traço balizador de socialização, configurando como poder de barganha e indicativo de percursos que almejam o sucesso, mesmo que não se possa saber, ao certo, se tal contenda irá se concretizar.

Sobre este tema Baudrillard (1995) sustenta que o consumo pode se configurar como um desejo de ascendência social, já que se configura como uma oportunidade rápida de inclusão. O consumo material ou cultural como compulsão, por esta ótica, funciona como um compensador das deficiências sociais historicamente estabelecidas, possibilitando a aparente ascensão de classe. Ostentar pelo consumo ou afirmação do corpo como instrumento de poder (BIRMAN, 2012), assim, são tentativas de se criar espaços de afirmação e de reconhecimento (PEREIRA, 2013).

Já a pedagogia do corpo (EHRENBERG, 2010), que passa a ser medido, aumentado ou diminuído (no sentido de obter hipertrofia ou perder peso) e tonificado, antes mesmo de ser amplamente disseminado nas redes sociais foi a tônica de ideais corporificados em filmes e, no campo empresarial, saudado como exemplo a ser seguido no que tange aos protocolos de ascese que levam a mudanças rápidas no mercado de trabalho, pois o cuidado com o corpo é um dos exemplos da materialização da hiper-racionalização das práticas sociais (BIRMAN, 2012).

Fonte: encurtador.com.br/mFWY5

É possível mudar o corpo com relativa facilidade, num sistema de autogestão que realça a individualidade e o sentido de protagonismo pessoal, também é possível impingir tais transformações em outras esferas da vida, como no campo afetivo e profissional, e nas relações de comunicação, agora mediadas pelas mídias sociais eletrônicas (BAUMAN, 2008).

Mas, neste ínterim, indaga-se qual o peso dos produtos midiáticos sobre a base subjetiva dos jovens, e se é possível aferir que tais produtos midiáticos impactam na forma como os sujeitos traçam suas estratégias de vida. Para Ehrenberg (2010) e Chauí (2006), estes produtos – notadamente os que estão de acordo com um ideal de bioascese (excesso de autogerenciamento com o próprio corpo, que gera autorreferencialidade subjetiva) se assemelham aos programas de treinamento dos atletas e, por sua vez, podem se configurar como um convite implícito a uma dinâmica performativa por parte do sujeito. As redes sociais eletrônicas, neste contexto, se apresentam como um cenário perfeito de troca do espaço privado pela dimensão da exposição pública, já que o protagonismo não pode ocorrer às escuras, é necessário publicizá-lo. Ainda não se pode aferir com exatidão, no entanto, qual o real impacto dos produtos midiáticos sobre este ideal de corpo, embora se saiba que a mídia produz simulacros (CHAUÍ, 2006) que acabam servindo de fontes balizadoras de padrões comportamentais, em que pese a pouca quantidade de estudos sobre o tema no país.

De qualquer forma, no cenário sociológico (BAUMAN, 2008) e filosófico (DEBORD, 1997) se percebe, através de métodos dedutivos e estudos de casos, que à medida que as sociedades se desenvolvem tecnologicamente elas tendem a comportar – ou até mesmo a estimular – a espetacularização individual das vidas de seus componentes, que se alternam entre ‘atores’ e ‘espectadores’ numa dinâmica que se retroalimenta e se expande a uma velocidade relativamente constante. Desta forma, o corpo como palco de representação de um modo de ser não mais se restringe aos ambientes puramente esportivos. Ele é perseguido nas corporações, nas relações afetivas e, também, nos modelos identitários interpelados pelos produtos midiáticos (EHRENBERG, 2010).

Fonte: encurtador.com.br/bkGLV

O corpo esculpido então passa a ser a explicitação de um ideal de realização do sujeito, ideação esta implícita na dinâmica de forças políticas e nos discursos que permeiam as narrativas midiáticas, particularmente a partir dos heróis retratados nos cinemas, nos protagonistas de programas de TVs e nos tutoriais diversos de redes sociais eletrônicas, onde o discurso de autossuperação ganha a tônica e norteia o paradigma da autorreferencialidade que, em casos extremos, pode levar ao narcisismo patológico (FREIRE COSTA, 2004).

Assim, um corpo esculpido e tonificado pela ascese resultante de atividades físicas regulares, estimuladas pelos produtos midiáticos com teor pedagógico, configura-se então como uma forma de capital pessoal (GOLDENBERG, 2010) – assim como o processo educativo, em si, já se inscreve em tal cenário – que na contemporaneidade pode ser exaltado de diferentes formas, notadamente a partir de uma comunicação não linear, constituída a partir da exaltação de um sujeito individual, que produz e (re)produz a si próprio, sobretudo na forma como se apresenta esteticamente para o mundo.

Fonte: encurtador.com.br/deiwU

Referências

BAUMAN, Z. Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadoria. São Paulo: J. Zahar, 2008.

BIRMAN, J. O sujeito na contemporaneidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012.

CHAUÍ, M. Simulacro e poder. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2006.

DEBORD, G. A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997.

DORNELAS, R.; FRANÇA, V. No Bonde da Ostentação O que os “rolezinhos” estão dizendo sobre os valores e a sociabilidade da juventude brasileira? Revista Eco Pós, v. 17, n. 3, 2014. Disponível em: <https://revistas.ufrj.br/index.php/eco_pos/article/view/1384>. Acesso em: 02 dez. 2017.

EHRENBERG, A. O culto da performance: da aventura empreendedora à depressão nervosa. Aparecida, SP: Ideias & Letras, 2010.

FOULCAULT, M. A ordem do discurso. 5. ed. São Paulo: Loyola, 1999.

FREIRE COSTA, J. O vestígio e a aura: corpo e consumismo na moral do espetáculo. Rio de Janeiro: Garamond, 2004.

GOLDENBERG, M. O corpo como capital. Rio de Janeiro: Estação das Letras, 2010.

GOLDHILL, S. Amor, sexo & tragédia: como os gregos e romanos influenciam nossas vidas até hoje. Rio de Janeiro: Zahar, 2007.

HAN, B. C. Sociedade do Cansaço. São Paulo: Vozes, 2015.

KEHL, M. R. A juventude como sintoma da cultura. 2012. Disponível em: <https://pt.scribd.com/doc/166494178/A-Juventude-Como-Sintoma-Da-Cultura>. Acesso em: 01 dez. 2017.

LIPOVESTKY, G. A felicidade paradoxal: ensaio sobre a sociedade de hiperconsumo. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

LOCKE, D. Ensaio acerca do entendimento humano. São Paulo: Nova Cultural, 1997. (Coleção Os Pensadores).

PEREIRA, A. B. Rolezinhos: o que esses jovens estão roubando da classe média do Brasil? [25 dez. 2013]. Portal Geledés. Entrevista concedida a Eliane Brum. Disponível em: <www.geledes.org.br/em-debate/colunistas/22538-rolezinhos-o-que-estes-jovens-estao-roubando-da-classe-media-brasileira-poreliane-brum>. Acesso em: 28 jan. 2014.

PONDÉ, L. F. A era do ressentimento. São Paulo: Leya Brasil, 2014.

Compartilhe este conteúdo:

E se a busca excessiva pela felicidade nos torna infelizes?

Compartilhe este conteúdo:

Adotar pensamentos positivos de sucesso e felicidade, livrar-se dos negativos, esquecer-se de fracassos e viver sob a lógica de “você atrai o que você pensa” ou sob o culto ao “evangelho” do otimismo parece não chegar à solução desejada.

Pergunte a si próprio se você é feliz, e você deixa de sê-lo.
John Stuart Mill

Em uma sociedade obcecada pela busca da felicidade, somos paradoxalmente fracassados para encontrá-la. Ao contrário do que se imagina, a vida moderna pouco contribui para o aumento da felicidade da população. O acréscimo do capital das grandes nações e toda a facilidade advinda dos meios tecnológicos parece não ter ocorrido concomitante ao aumento do bem estar das pessoas. Talvez, sejamos a sociedade mais deprimida e cansada de todos os tempos.

Os adoecimentos psíquicos de hoje com alta prevalência tais como depressão, burnout, TDAH são, na perspectiva do filósofo contemporâneo Byung-chull Han, efeitos de uma sociedade da positividade, que se alimenta do excesso de tudo que maximize o desempenho das pessoas:  superprodução, superdesempenho e supercomunicação. Essa sociedade, na visão do filósofo, consequencia em uma geração vítima de infartos psíquicos: esgotamento e depressão. E este mesmo sujeito, esgotado e deprimido, encontra-se em uma busca desesperada por liberdade, maximização do desempenho, prazer e felicidade (HAN, 2017).

 Os livros de autoajuda, talvez a apoteose da sociedade pós-moderna na busca pela felicidade, são repletos de conteúdos tais como: 10 passos para a felicidade, 7 hábitos de pessoas de sucesso, como influenciar pessoas, como ter uma mente milionária e como desenvolver liderança etc. Eles demonstram que a busca por soluções simplistas para os problemas complexos dos homens é bastante rentável e popular. Alguns autores chamam de regra dos 18 meses para explicar que a pessoa mais inclinada para comprar um livro de autoajuda é a mesma que 18 meses antes comprou um livro deste gênero que, obviamente, não solucionou seus problemas e não trouxe a desejada felicidade. Não há pesquisas, de rigor científico, que comprovem a eficácia desses conteúdos.

Paradoxalmente,  as tentativas de eliminar tudo o que é negativo, como os  fracassos, as incertezas, tristezas, sofrimentos e a ansiedade não só não resolvem o problema, como podem torná-los mais poderosos, gerando vidas sufocantes e sem sentido. O fracasso dessas tentativas é exemplificado pelo psicólogo Daniel Wegner (1994) e a teoria do processo irônico: nosso esforço para evitar e eliminar pensamentos  e comportamentos negativos os tornam predominantes. Não existe abordagem simples para a felicidade. A imersão no positivismo e otimismo não nos deixa mais felizes.

Sem o propósito de demonizar a busca por soluções práticas aos incômodos da vida (eventualmente, elas são bem-vindas e necessárias), a intenção é estimular a reflexão que essa busca excessiva da felicidade, centrada no culto ao otimismo e anulação do negativo, é contraproducente! Isto porque as estratégias utilizadas são baseadas em soluções simplistas e universais que não comportam os problemas humanos complexos. Contraditoriamente, podem produzir resultados indesejados, ou seja, pode gerar mais infelicidade e insatisfação. Adotar pensamentos positivos de sucesso e felicidade, livrar-se dos negativos, esquecer-se de fracassos e viver sob a lógica de “você atrai o que você pensa” ou sob o culto ao “evangelho” do otimismo parece não chegar à solução desejada.

O psicólogo Steve Hayes tem uma abordagem interessante para explicar como a fuga de situações emocionalmente difíceis pode ser uma armadilha e acabar aumentando o problema. A linguagem teria um papel protagonista nesse cenário, isto porque somos ensinados, desde criancinhas, a discriminar e nomear não apenas componentes externos do mundo objetivo, mas também pensamentos, memórias, sentimentos e sensações corporais, os denominados eventos privados (SKINNER, 2003) ou subjetivos.  Nossa cultura e sociedade nos ensina que a felicidade é cotidiana e almejada e a tristeza é ruim e deve ser evitada, e se nos sentirmos tristes é porque temos um problema que deve ser encontrado e eliminado (SABAN, 2015).

Por meio da aprendizagem, somos instruídos  a atribuir o status de causalidade à sentimentos e pensamentos para explicar porque estamos em um determinado estado ou porque fizemos o que fizemos. Hayes denominou de “silogismo lógico” o sistema em que esse processo ocorre, que funcionaria sob cinco aspectos de raciocínio. 1) Todo comportamento é causado; 2) razões são causas; 3) pensamentos e sentimentos são boas razões; 4) os pensamentos e os sentimentos são causas e, finalmente, 5) para controlar o resultado devemos controlar as suas causas. Logo, por associação, acabamos chegando ao resultado de para controlar o resultado devemos controlar os sentimentos e pensamentos. (HAYES, 1987). Assim, trazendo esse raciocínio para nosso tema específico, a felicidade (um efeito) seria produto (causa) de pensamentos e sentimentos positivos. Talvez o mercado dos livros de autoajuda e o evangelho do otimismo  e da motivação sejam fundamentados nessa perspectiva.

Mas esse caminho é cheio de armadilhas! Sentimentos e outros estados privados não são passíveis de controle direto. Um exercício bobo, porém didático, para ilustrar esse pressuposto: experimente não pensar, durante um minuto, em urso polar. Conseguiu? Eu imagino que não. Vamos tentar mais uma vez: agora imagine que você está conectado a um detector de mentiras de excelente precisão  e que pode captar qualquer reação de ansiedade sua. Então, você recebe a instrução de que você não pode de maneira alguma sentir ansiedade e, caso você sinta, levará um tiro na cabeça. Advinha o que você sentirá?

Hayes (1987) assinala que não precisamos mudar sentimentos e pensamentos para modificar outros comportamentos ou ter uma vida bem sucedida. O problema, na verdade, não seriam os pensamentos e sentimentos, mas nossa tentativas de controle e nossa fugas que visam eliminar vivências subjetivas aprendidas como “negativas” tal como a tristeza, o oposto da felicidade.

Quantas decisões tomamos na tentativa de eliminar incômodos, desconfortos, incertezas?  Vivências subjetivas estas que aprendemos serem negativas e contraditórias à felicidade. É claro que fugir de eventos difíceis e dolorosos (os aversivos!) têm um valor importante para nossa sobrevivência. No entanto, se dependermos de eliminar tudo o que é negativo para sermos felizes, jamais seremos. E negar esse “lado” da experiência humana pode resultar em alívio imediato (um reforço negativo), mas em longo prazo produz vidas de desespero, medo, ansiedade e, conforme bem colocou Sidman (1995, p. 231) “esmaga a engenhosidade e a produtividade, transforma a alegria em sofrimento, confiança em si em medo e amor em ódio.” As coisas dão errado, relacionamentos acabam, demissões acontecem e as pessoas morrem! A vida não é um laboratório! Uma porção de eventos são incontroláveis e nos esquivar de tudo que é ruim e tentar cultivar sempre pensamentos positivos não parece produzir os resultados que são vendidos por aí.

Viver plenamente, na abordagem do psicólogo Hayes, não significa não vivenciar sentimentos, pensamentos, sensações corporais e memórias, mas vivenciá-los como de fato são: sentimentos, pensamentos, sensações corporais e memórias que se transformam em um fluxo contínuo de experiências e contextos. Ou seja, seus pensamentos e sentimentos fazem parte de você, mas  não são você.

 Precisamos superar a ruminação e planejar saídas reais para o que nos paralisa, para o que nos torna infelizes. Aprendemos a primeiro nos sentir motivados e com vontade de agir para, então, agir, mas que sentido tem esperar se sentir como se estivesse fazendo algo ANTES de fazê-lo? Somos tão incrivelmente dinâmicos e versáteis e temos a capacidade de coexistir com a “vontade de não fazer” e, ainda assim, fazer, por exemplo.

Para além do que já foi discutido, não podemos deixar de lado a existência de uma “indústria da felicidade” que associa o consumo de bens à experiências felizes e produz lucros gigantescos para o capitalismo. A Coca-Cola indica: abra a felicidade! O Magazine Luiza chama: vem ser feliz! E o Baú da Felicidade está há 50 anos associando produtos e dinheiro à felicidade. Através da mídia, somos bombardeados de narrativas e imagens de pessoas alegres, sorridentes e esteticamente consistentes com o padrão cultural vigente e suas histórias de sucesso e  felicidade emparelhadas a roupas, calçados, celulares, cerveja, carros, status social etc. Em contrapartida, a “felicidade” gerada pelo consumo de bens parece não ter duração e profundidade em sua natureza. Ao que é possível perceber, é, na verdade, instantânea,  frágil e fugaz. Pegando emprestado o termo de Bauman sobre a sociedade pós-moderna, é possível compreender que esse tipo de felicidade (se é que podemos denominar assim) é, na verdade, líquida: ela escorre pelas mãos e não tem durabilidade. Citando a psicóloga Lauriane Santos em seu post em uma rede social: sapatos novos calçam pés, roupas novas vestem corpos. Nenhum deles traz felicidade… talvez tragam uma euforia pontual, a qual é dissolvida na próxima coleção primavera-verão.

Ser feliz é uma meta? Certamente, muitas pessoas responderiam que sim. Quando somos questionados sobre o que desejamos da vida é comum a resposta: ser feliz! Ou mesmo, ter dinheiro e ser bem sucedido, muitas vezes concebidos como sinônimos de felicidade.

Metas são objetivos a serem alcançados e são planejadas com tempo pré-definido para ser operada e gerar os resultados. Mas se a felicidade é uma meta, e metas têm prazos de validade, estaria a felicidade condicionada ao eterno cumprimento de metas? Eleger a felicidade como meta talvez não seja efetivo. O filósofo Han é categórico ao afirmar que  “o sentimento de ter alcançado uma meta definitiva jamais se instaura […] não é capaz de chegar à conclusão. A coação do desempenho o força a produzir mais. Assim, jamais alcança um ponto de repouso da gratificação” (2015, p. 85). Nos aniversários, nas festas de réveillon, nas mudanças e conquistas, desejar felicidade ao outro faz parte de uma prática verbal culturalmente estabelecida e mantida.  E aqui cabe mais uma reflexão: a felicidade parece estar sempre em algum lugar que não seja o presente; parece que habita não o agora, mas um futuro que custa chegar (ou nunca chega). Parece que as coisas que mais tememos e desejamos se encontram em um lugar não vivido: o futuro.

Essa é mais uma armadilha da felicidade. É óbvio que podemos (e devemos) planejar e prever situações futuras que nos gerem boas vivências subjetivas. O problema reside no fato de estarmos demasiadamente presos às expectativas de felicidade futura e nos resignarmos do único momento que nos pertence: o agora.

Outra “face” da felicidade é a segurança, que seria consequência de controle, previsibilidade e rigidez. No entanto, há um erro importante já explorado anteriormente: o controle é frágil e a busca desenfreada por segurança pode até nos deixar mais inseguros. A única constante da vida é sua impermanência! E se viver é estar em um constante fluxo de experiências, interações com outrem e com coisas, alternâncias entre perdas e ganhos, dor e gozo… se a vida é, em uma inerência, finita, talvez o que nos paralisa, o que nos entristece não seja essa “sentença”, mas a tentativa contraproducente de eliminá-la e de fugir dela. Mais uma vez reitero que a busca por segurança também tem um valor importante para a sobrevivência, a questão discutida são os excessos do controle de processo naturais da vida, mas que são aprendidos como negativos e acabam se tornando alvos de esquivas, como as tristezas e ansiedades.

E então, o que deixa as pessoas felizes? A famosa pesquisa de Harvard do Departamento de Desenvolvimento Humano,  respondeu ao questionamento sobre o que faz as pessoas felizes e saudáveis.  Por 75 anos, monitoraram 724 homens. Dois grupos: secundaristas de Harvard e garotos de um dos bairros mais pobres de Boston. A abordagem da pesquisa envolveu desde questionários e conversas com familiares, a exames de sangue e tomografia dos  cérebros. Não é a fama, a riqueza, ou trabalhar mais e mais, a mensagem mais clara é: bons relacionamentos nos mantém felizes e saudáveis.  Conexões sociais com a família, comunidade e amigos são importantes e a solidão mata. Não se trata da quantidade de pessoas próximas e não é casual estar em um relacionamento amoroso ou casado produzir, necessariamente, felicidade. O importante é a qualidade dos relacionamentos de proximidade que as pessoas nutrem (MINEO, 2017).

No leito de morte, é provável que seja difícil encontrar alguém que deseja ter passado mais tempo trabalhando, por exemplo. Em síntese, relacionamentos íntimos de qualidade são melhores preditores de felicidade e saúde do que genes, QI, status social e dinheiro (MINEO, 2017). É uma conclusão que vai ao encontros de sabedorias antigas e confronta o culto vigente da felicidade condicionada a consumo de bens.

“O dinheiro não traz felicidade!” Talvez Bill Gates e um morador de rua tenham visões diferentes ante essa afirmativa. A questão que fica é: tendo suas necessidades básicas contempladas,  o dinheiro traz felicidade? No Japão, uma das maiores potências  do mundo, é um país rico, mas infeliz. A “obsessão “ dos japoneses pelo desenvolvimento econômico pode ter sua raiz na necessidade de reerguer o país após destruição da Segunda Guerra Mundial. A questão é que o índice de suicídio e overworking (morte por excesso de trabalho, originalmente conhecido lá como “karoshi”) são assustadores e ascendentes. As pessoas estão morrendo de tanto trabalhar! (GORVETT, 2016)

Paralelamente, o pequeno país Butão concebe a felicidade como responsabilidade do governo, que tem o dever de dispor condições favoráveis a ela para sua população. Lá foi criado a Felicidade Interna Bruta (FIB) como indicador de desenvolvimento da nação, pautada em valores de colaboração, convivência com a comunidade, respeito a natureza, espiritualidade. É um modelo alvo de algumas críticas, no entanto, apresenta parâmetros na direção de sérias pesquisas sobre a felicidade como sendo uma consequência não do consumo de coisas, mas de relações de qualidade.

A Dinamarca, nação com alto padrão de vida e igualdade social, com educação gratuita até a faculdade e saúde universal para toda a vida é um dos países mais felizes do mundo. Para além disso, o que deixa realmente os dinamarqueses felizes, de acordo com o economista Cristian Bjonrskov, é o alto nível de confiança que as pessoas têm entre si e nas instituições (PREVIDELLI, 2014).

Por fim, este texto não tem a pretensão de esgotar as discussões sobre a felicidade nos tempos atuais e outras perspectivas, não abordadas aqui, podem dialogar e até mesmo apresentar posicionamentos contrários ao que foi exposto. O diálogo é bem vindo e deve acontecer. Mas por ora, é isto! E para finalizar, gostaria de levar o leitor a uma última reflexão: imagine a felicidade de algo muito bom te acontecer, como realizar um grande sonho…

Ainda terá sentido se você não tiver alguém importante para compartilhar?

Happiness only real when shared (Into the wild, 2008)

REFERÊNCIAS: 

GORVETT, Z. ‘Morrer de tanto trabalhar’ gera debate e onda de indenizações no Japão. BBC News, 2016. Disponível em:<https://www.bbc.com/portuguese/vert-cap-37463801>. Acesso em 01 dez. 2016.

HAN, B. Sociedade do Cansaço. Petrópolis: Vozes, 2017.

HAYES. S. C. A Contextual approach to therapeutic change. In N. Jacobson (Ed.) Psychotherapists in clinical practice: Cognitive and Behavioral Perspectives. New York: Guilford, 1987, p. 327-387. Tradução experimental Adriana C. B. Barcelos; Verônica Bender Haydu. Disponível em: <http://www.uel.br/grupo-estudo/analisedocomportamento/pages/arquivos/Hayes_%20Texto%20ACT.pdf>. Acesso em 20 mar. 2017.

MINEO, L. Goog genes are nice, but joy is better. The Harvard Gazette. Health & Medicine. 2017. Disponível em:<https://bsc.harvard.edu/links/good-genes-are-nice-joy-better>

SABAN, M. T. Introdução à Terapia de Aceitação e Compromisso. Belo Horizonte: Artesã. 2015.

SKINNER, B. F. Ciência e Comportamento Humano. 11. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

SIDMAN, Murray. Coerção e suas Implicações. Campinas: Psy. 1995.

PREVIDELLI, A. O que torna a Dinamarca o país mais feliz do mundo. Abril, 2014. Disponível em:<https://exame.abril.com.br/mundo/o-que-torna-a-dinamarca-o-pais-mais-feliz-do-mundo/>. Acesso 01 dez. 2018.

WEGNER,  .D. M. Ironic processes of mental control. Psychol Rev. 1994 Jan;101(1):34-52. Disponível em:<https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/8121959>. Acesso em 02 dez. 2018.

Compartilhe este conteúdo: