“Eu não sou um homem fácil” – a inversão de papéis de gênero

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Damien (Vincent Elbaz) bate a cabeça e acorda em um mundo invertido onde o gênero masculino é o oprimido. A proposta francesa, inicialmente de comédia pastelão, subitamente nos imerge num mundo inverso onde as mulheres são o “sexo forte”, evidenciando a verdade do avesso. 

“Eu Não Sou um Homem Fácil” (título original: “Je ne suis pas un homme facile”) é um filme francês de comédia lançado em 2018. Dirigido por Eleonore Pourriat, o filme explora questões de gênero e igualdade através de uma premissa única. A história segue Damien (Vincent Elbaz), um mulherengo sexista que, após sofrer um acidente, acorda em um mundo onde os papéis de gênero foram invertidos. Neste mundo, as mulheres ocupam as posições de poder e influência, enquanto os homens são frequentemente objetificados e subjugados. Damien precisa se adaptar a essa nova realidade, enfrentando desafios que as mulheres enfrentam cotidianamente, como o sexismo no trabalho e o assédio sexual.

A sociedade retratada no filme evoca distopias frequentemente encontradas em filmes de ficção científica, sendo criações imaginárias usadas para satirizar e evidenciar aspectos da nossa realidade que uma parte da população talvez nunca tenha identificado – geralmente, aquela que não é oprimida. Em obras como ‘1984’, de George Orwell, é o cidadão comum que ousa vislumbrar além das limitações impostas. Em ‘Fahrenheit 451’, livro de Ray Bradbury adaptado para o cinema por François Truffaut, esse indivíduo tenta acessar algo proibido. Em ‘Jogos Vorazes’, de Suzane Collins,  vemos a espiral de opressão sendo quebrada por uma jovem que provém do estrato mais pobre daquela sociedade. No filme de Pourriat, um homem de nossa sociedade patriarcalista é transportado para uma realidade onde o matriarcado é uma norma estabelecida. Nessa sociedade, são as mulheres que detêm o poder, invertendo completamente os tradicionais papéis de gênero.

É possível observar, então, uma temática profundamente conectada ao sexo e à política, áreas que, segundo o filósofo Michel Foucault, são particularmente afetadas pela dinâmica de exclusão de discursos. Foucault exemplifica esse fenômeno de exclusão no artigo ‘A Ordem do Discurso’ ao discutir o descrédito historicamente atribuído à loucura. Desde a Idade Média, o discurso dos indivíduos considerados loucos é descartado como algo destituído de verdade e relevância. Essa mesma dinâmica de exclusão permeia o discurso feminista, visto que, na ótica machista, as mulheres são rotuladas como psicologicamente instáveis. Isso explica por que as reivindicações do movimento feminista frequentemente são descredibilizadas.

O filme aborda essa questão de forma direta. Em uma cena, por exemplo, Damien, já imerso no mundo invertido, renuncia ao seu cargo como assistente pessoal de Alexandra (Marie-Sophie Ferdane), uma escritora renomada. A resistência dela em aceitar sua demissão é acompanhada de acusações de que ele está se excedendo, atribuindo seu comportamento a uma crise de estresse. Quando ela se vê sem argumentos, recorre à desculpa de que ele está adotando um discurso “masculinista” (equivalente, neste universo, ao feminismo) como forma de justificativa para ignorar sua decisão.

                                                                                                                                  Netflix Brasil/reprodução

Um mulherengo sexista acorda em um mundo onde os papéis de gênero foram invertidos.

O longa possui algumas falhas, como a falta de exploração do fato de que, nessa sociedade “matriarcal”, os homens são livres para expressar emoções, deixando de abordar adequadamente a forma como o machismo prejudica, também, os homens. De acordo com os dados obtidos pela OMS em 2019, homens apresentaram um risco 3,8 vezes maior de morte por suicídio que mulheres, além de figurarem em uma estatística dez vezes maior de morte por crimes violentos. De acordo com os dados, as expectativas sociais em relação aos homens são capazes de aumentar o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis, vícios, acidentes de trânsito e homicídios, além de contribuírem para o aumento das taxas de suicídio.

De tal forma que é possível apontar que o enredo dedica muito tempo ao relacionamento entre Damien e Alexandra. É compreensível que esse relacionamento sirva como pano de fundo para explorar a realidade invertida, oferecendo nuances às personalidades dos protagonistas, permitindo-lhes transcender os rótulos limitantes impostos pela sociedade. Porém, no universo criado há tantos pontos que poderiam ter sido mais explorados. A trama provoca temas como a religião em que, os personagens citam a divindade com pronomes femininos e como, historicamente, o matriarcado foi imposto a partir da visão de que as mulheres, por terem o poder de gerar uma vida em ventre, são o sexo mais forte.

Ademais, “Eu não sou um homem fácil” retoma um tema frequentemente debatido pelo feminismo, mas o faz de uma perspectiva única, desafiando até mesmo aqueles que não são militantes do movimento a sair de suas zonas de conforto. Apesar da abordagem muitas vezes leve, ele lança na tela uma realidade desconfortável para o espectador — uma realidade cruel de violência verbal e física que as mulheres passam diariamente.

Em última análise, embora o filme apresente exemplos tangíveis de assédio e padrões estéticos aos quais as mulheres são frequentemente submetidas, é crucial reconhecer que o machismo vai muito além do que é retratado. Estupro, feminicídio, violência doméstica e a negação do direito ao próprio corpo são questões extremamente urgentes que os movimentos feministas expõem e combatem incansavelmente. O que não é retratado tão fielmente no filme.

FICHA TÉCNICA

  • Título Original: Je ne suis pas un homme facile
  • Duração: 98 minutos
  • Ano produção: 2018
  • Estreia: 13 de abril de 2018
  • Distribuidora: Netflix
  • Dirigido por: Éléonore Pourriat
  • Classificação: 14 anos
  • Gênero: Comédia; Romance; Drama;
  • Países de Origem: França

Referências:

COSTA, Juliana. “Eu não sou um homem fácil” traz ironia como arma. Palmas-TO. Disponível em <: https://www.folhape.com.br/cultura/critica-eu-nao-sou-um-homem-facil-traz-ironia-como-arma/68955/  >. Acessado em 27 out. 2023.

VIEIRA. Letícia. Feminismo de “Eu não sou um homem fácil” silencia seus próprios aliados. Palmas-TO. Disponível em <: https://medium.com/@mcarolinasoares_86413/feminismo-de-eu-n%C3%A3o-sou-um-homem-f%C3%A1cil-silencia-seus-pr%C3%B3prios-aliados-88c21c0dac95>. Acessado em 27 out. 2023.

(Sem autor definido) Os efeitos da masculinidade tóxica na saúde do homem. Disponível em <: https://summitsaude.estadao.com.br/desafios-no-brasil/os-efeitos-da-masculinidade-toxica-na-saude-do-homem/ >

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Masculinidade: um debate iminente

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Recentemente o cantor Tiago Iorc lançou uma música intitulada “Masculinidade”. A letra traz confissões e desafios impostos a ele como homem na cultura e sociedade ocidental contemporânea. A letra levantou temas muito relevantes e pertinentes a discussões, como o consumo da pornografia, o machismo enraizado nas relações afetivas, assim como o patriarcado como estrutura de poder para marginalização de grupos já excluídos socialmente, como as mulheres, e a supremacia masculina.

Contudo, o público feminino destacou o agravo e “erros” contidos na música, pois o artista, segundo o público feminino, converte o abusador em potencial em uma suposta vítima, se esvaziando de toda e qualquer responsabilidade sobre seus atos. Dessa forma, é importante salientar que, para discorrer sobre masculinidade, é preciso discutir paralelamente sobre feminilidade e o movimento feminista.

Durante muitos séculos, a referência anatômica masculina serviu de parâmetro para referenciar as mulheres, que eram consideradas “homens invertidos”, pois no lugar do órgão genital peniano estava a vagina e os ovários seriam os testículos. Logo, a existência feminina não existia se não fosse a referência masculina. Isso foi denominado como monismo sexual, que é um só modelo de identidade e gênero sexual e vigorou até uns séculos atrás (SILVA, 2000).

Fonte: Rafael Trindade / Divulgação Tiago Iorc

A partir disso a referência da perfeição estava na anatomia masculina e em sua estrutura fálica, que era a principal característica que o diferenciava dos demais corpos. Inversamente a isso, a anatomia feminina era algo frágil e inferior, o que era considerado muitas vezes profano e funcionava como uma espécie de “bode expiatório” dos desvios de conduta dos homens. Com isso, qualquer outra forma de manifestação e relacional estava atrelada ao modelo masculino, como o orgasmo, as formas de reprodução e o sexo (SILVA, 2000).

Uma sensível mudança começou a acontecer a partir do século XIX, que apresentou outro modelo sexual, não sendo apenas o masculino como molde de referência. Ou seja, a mulher não era apenas um homem invertido, mas um corpo diferente do homem que carregava responsabilidades, deveres e papéis sociais a serem cumpridos com a solidificação da burguesia capitalista e europeia (BOTTON, 2007).

Contudo, ainda não se tinha igualdade e/ou equidade de direitos e deveres em ambos os gêneros, pois a mulher ainda estava restrita ao ambiente privado, que era o lar e seus cuidados. Toda a estrutura social delimitou rigorosamente esses papéis, que eram muito bem definidos e deveriam ser executados a todo custo (CITELI, 2001).

Fonte: Imagem por rawpixel.com no Freepik

A masculinidade herdada dos séculos anteriores funcionava mais como uma performance sobre como ser homem, que era basicamente não ser mulher e muito menos homossexual. A sua identidade social assim como seu gênero requerem deste mesmo homem uma postura de perfeição em sua conduta na sociedade. Isto é, em meio a problemas e obstáculos do cotidiano, este homem deveria mostrar o melhor de si na melhor das hipóteses, como bravura, agilidade, esperteza, entre outras características que o endeusavam (NADER; CAMINOTI, 2014).

Essa era a concepção construída e mantida pela sociedade burguesa da masculinidade e o papel do homem na sociedade. Por conseguinte, não demorou muito até a conta vir, pois com as adversidades que este homem enfrentava, foi possível concluir que não era tão alcançável assim executar esse papel, de um super-homem. Logo, se tinham dois extremos, a mulher sufocada em suas demandas domésticas e na vida privada, sendo considerada inferior e o homem calcado às responsabilidades públicas sendo visto como o superior de tudo e todos (SILVA 2006).

Contudo, percebeu-se que paralelo a luta feminista e suas reivindicações sociais assim como suas conquistas, havia gradualmente a mudança dessa concepção doentia e tóxica da burguesia sobre a visão do homem. Isto é, este novo homem contemporaneamente já aceitava suas limitações e fragilidades, bem como mudanças na postura e comportamentos, pois já não vigorava mais a conduta de um deus e sim de um ser humano corruptível (BOTTON, 2007).

Fonte: Freepik

Mesmo este novo homem admitindo ser um ser humano falho, frágil assim como a mulher e com limitações, ainda não se sabe ao certo como definir a masculinidade, uma vez que a cultura e condutas sociais se transformam ao decorrer do marco histórico. Logo, a identidade de uma masculinidade homogênea fica ainda vaga e ao mesmo tempo em aberto recebendo novos conceitos e mutações, mas sem chegar a um consenso definitivo (SILVA, 2000).

Entretanto, mesmo havendo esta mudança profunda, ainda prevalece a visão burguesa na maioria das condutas sociais masculinas, de um homem forte, intocável e superpoderoso, além de esperar da figura feminina uma postura de submissão e servidão. Isso dá margens a comportamentos de desvio de conduta, como o feminicídio, pois quando um homem não aceita certa decisão vinda de uma mulher, é capaz até mesmo de matá-la (SCHARAIBER, 2012).

Isso notadamente provém de uma cultura que cultua o falo, e não a subjetividade, e alicerçada pelo patriarcado e machismo, o produto nada mais seria que um homem com a certeza de que pode tudo, principalmente no corpo e atitudes da mulher. E muitas vezes esse homem é reforçado e amparado socialmente, desde às instituições sociais até aos seus pares comuns (SCHARAIBER, 2012).

O que fica de reflexão é: como esse homem na sociedade se vê e o que pode ser feito para enfim reafirmar sua identidade sem ser de forma doentia e/ou violenta? Sabe-se que espaços terapêuticos desempenham uma ótima função na escuta ativa e na melhora de problemas, mas até a busca por aderência do público masculino pode encontrar dificuldades, pois “falar demais” é considerado uma característica feminina e consequentemente, inferior.

Fonte: Divulgação campanha contra a violência do governo do estado.

REFERÊNCIAS

BOTTON, F. B. As masculinidades em questão: uma perspectiva de construção teórica. Revista Vernáculo, n. 19 e. 20, 2007.

CITELI, M. T. Fazendo diferenças: teorias sobre gênero, corpo e comportamento. Revista Estudos Feministas, v. 9, n.1, pp-1-15, 2001.

NADER, M. B.; CAMINOTI, J. M. Gênero e poder: a construção da masculinidade e o exercício do poder masculino na esfera doméstica. In: ENCONTRO REGIONAL DE HISTÓRIA DA ANPUH-RIO: SABERES E PRÁTICAS CIENTÍFICAS. XVI, 2014, Rio de Janeiro. Anais eletrônicos. Rio de Janeiro: Apuh-Rio, 2014. Disponível em: http://www.encontro2014.rj.anpuh.org/resources/anais/28/1400262820_ARQUIVO_Generoepoderaconstrucaodamasculinidadeeoexerciciodopodermasculinonaesferadomestica.pdf. Acesso em: 18 nov. 2021.

SCHRAIBER, L. B. et al. Homens, masculinidade e violência: estudo em serviços de atenção primária à saúde. Revista Brasileira de Epidemiologia, v.15, n.4, pp-790-803, 2012.

SILVA, S. G. A crise da Masculinidade: Uma Crítica à Identidade de Gênero e à Literatura Masculinista. Psicologia: ciência e profissão, v.26, n.1, pp.118-131. 2006.

SILVA, S. G. Masculinidade na história: a construção cultural da diferença entre os sexos. Psicologia: ciência e profissão, v.20, n.3, pp.8-15. 2001.

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A importância da análise da obra “Relacionamentos Destrutivos- Se ele é tão bom assim, por que me sinto tão mal?”

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E foram felizes para sempre…  Essa frase curta e cheia de emoção foi o roteiro de muitas mulheres que cresceram com as narrativas vendidas pela indústria cinematográfica de Hollywood.  Quem nunca suspirou com o filme Uma linda mulher, interpretada pela talentosa Julia Roberts, que fez um papel de garota de programa, até encontrar com o seu salvador e grande amor, Edward Lewis, personagem vivido pelo galã Richard Gere. Muitas mulheres cresceram com esse enredo, ao acreditar que depois de tanto sofrimento, será recompensada com um relacionamento cheio de amor. 

Foi nesse contexto que muitas acreditaram no sonho do príncipe encantado, sujeitaram-se a vivenciar relacionamentos tóxicos, abusivos, acreditando que não encontrariam outra pessoa melhor. E para quebrar esse paradigma e resgatar a autoestima feminina, a escritora Avery Neal publicou a obra intitulada “Relacionamentos Destrutivos- Se ele é tão bom assim, por que me sinto tão mal?” (2018), no intuito de alertar o público feminino sobre os perigos e traumas de relacionar-se com pessoas manipuladoras. 

Identificar situações de manipulação, reconhecer sinais de alerta sobre relacionamentos abusivos, bem como não entrar mais em uma relação desse tipo são algumas das abordagens do livro que pretende ajudar a trilhar um caminho feliz e saudável.  A ideia da escritora é despertar a autoestima, bem como salvar vidas, haja vista que muitas mulheres são vítimas de violência doméstica. O Brasil está entre os países que mais matam mulheres, pelo crime de feminicídio, ódio e desprezo à figura feminina. 

Fonte: Freepik

Os homens também passam por relacionamentos abusivos, mas as mulheres são as maiores vítimas. Somente no ano de 2020 foram feitas mais de 100 mil denúncias de violência doméstica contra a mulher, pela Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos, pelo número 180.  “Os padrões de qualquer tipo de abuso são semelhantes. Nunca vi um relacionamento fisicamente abusivo que também não o fosse verbal, emocional e psicologicamente” (Neal, 2018).

Neal (2018) aponta que pelo fato do homem ser fisicamente maior e mais forte que as mulheres, estabelece uma diferenciação de poder, “e as mulheres muitas vezes se sentem intimidadas em algum nível, mesmo que de maneira inconsciente.” Esse posicionamento explica porque as mulheres são vítimas de violência doméstica, e bem como os números são altos no Brasil.

Neal (2018) esclarece que existem diferentes tipos de abuso. “O abuso normalmente tende a acontecer de forma sutil e gradual, o que muitas vezes impossibilita a vítima em notar o comportamento abusivo do parceiro” (Neal, 2018). Por isso, a importância da construção de uma base solidificada de amor-próprio e uma alta estima saudável para pôr fim a esse ciclo abusivo.  Por fim, “um relacionamento saudável é aquele que cura, é aquele em que os parceiros se respeitam, se amam, se apoiam e se encorajam” (Lauriano, 2020).

Fonte: Freepik

Referências

Lauriano, Paola. Entre os relacionamentos saudável e abusivo: e “corte de névoa e fúria” de Sarah j. Maas(2020) Disponível em < https://repositorio.animaeducacao.com.br/bitstream/ANIMA/16258/1/TCC-Letras-2020-Paola-Lauriano.pdf

NEAL, A.  Relações destrutivas: se ele é tão bom assim, por que eu me sinto tão mal? São Paulo, Editora Gente, 2018.

Revista Conexão e Literatura. Relacionamentos. Artigo sobre o livro Relacionamentos  Destrutivos- Se ele é tão bom assim, por que me sinto tão mal?”  Disponível em < http://www.revistaconexaoliteratura.com.br/2018/04/livro-relacoes-destrutivas-se-ele-e-tao.html>. Acesso: 29, de out, de 2021.

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Bravura e sobrevivência – (En)Cena entrevista a advogada Flávia Paulo

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“Mesmo antes da pandemia, o Brasil já era o 5º país do mundo no índice de feminicídios [1], há anos figura entre os piores em termos de desigualdade de renda e é considerado o país que mais mata pessoas LGBTQI+ [2]. Após a pandemia esses índices irão demonstrar cenários complicados para nós mulheres”.
Flávia Paulo

Uma pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais e da Universidade de Campinas aponta que a população LGBTQI+ se sentem mais vulneráveis ao desemprego e à depressão por causa da pandemia. Segundo dados do Núcleo de Gênero e Diversidade – NUGEN [3], divulgados em 2020, dos dez mil brasileiros entrevistados 44% das lésbicas; 34% dos gays; 47% das pessoas bissexuais e pansexuais; e 42% das transexuais temem sofrer algum problema de saúde mental durante a pandemia do novo coronavírus.

O estudo revela ainda que 21,6% dos LGBTs entrevistados estão desempregados enquanto que o índice total no Brasil é de 12,2%, segundo o IBGE.

Neste contexto, a revista (En)Cena entrevista a advogada, militante ativista do movimento lésbico e usuária ativa das redes sociais Flávia Paulo aponta sua perspectiva sobre os desafios de ser mulher, LGBTQI+, atuar como jurista e ter sucesso profissional no Brasil da pandemia. Destaca, ainda, os impactos positivos de saber a hora de parar, desligar-se do trabalho e manter uma vida pessoal equilibrada para manter saúde mental e reinventar formas de sobrevivência no pós-pandemia.

Flávio Paulo. Foto – Arquivo pessoal

(En)Cena – Considerando o seu lugar de fala, de mulher, advogada, ativista do movimento lésbico e usuária ativa das redes sociais: o que é ser mulher no Brasil, durante a pandemia da COVID 19?

Flávia Paulo – As limitações dentro desse padrão no qual faço parte, são evidentemente sentidas no cotidiano. Para ser mulher neste contexto precisamos encarar de frente e com muita bravura todas as limitações que são impostas a nós. A pandemia gerada pelo novo Corona vírus intensificou todas as crises que já faziam parte das realidades aqui no Brasil. Um dos temas que a covid-19 trouxe à tona para a sociedade brasileira foi a dimensão da divisão sexual do trabalho em relação ao trabalho não-pago realizado no interior das famílias. No cenário brasileiro, a crise sanitária se soma à crise de governança, resultando num pandemônio que produz mais precariedades e violências contra as classes minoritárias. A voz da mulher merece ter além de espaço, força, pois nada adianta os disfarces de oitivas seguidos de engavetamento de suas ideias e pensamentos. As redes sociais estão cada vez mais sendo utilizadas para demonstrar essas realidades. Utilizo as minhas redes sociais para o fim comercial e também para a criação da minha persona, mulher, lésbica, advogada e independente para que com isso eu consiga gerar sentimentos de acolhimento para aquelas que se sentem muitas vezes desestimuladas a serem quem elas querem ser ou se sentem indiferentes e possam ter coragem de assumir uma vida livre ou pelo menos tentar.

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(En)Cena – Como a saúde mental (sentimentos e emoções) das mulheres interfere em tomadas de decisões acertadas ou equivocadas em termos de direito?

Flávia Paulo – Acredito que seja de forma individual, pois temos mulheres técnicas nas quais nada ou quase nada interfere suas emoções e sentimentos nas tomadas de decisões, como temos também em contrapartida mulheres que se deixam levar por sentimentos e emoções que acabam influenciando em decisões que deveriam ser tomadas apenas por critérios técnicos. Mas entendo, que seja algo mais relacionado à capacidade humana do que a distinção entre gêneros. Conheço homens, advogados, juristas, extremamente emocionais e que se deixam ser influenciados a ponto de tomarem decisões técnicas baseadas em sentimentos. Já recebi decisões judiciais baseadas claramente em sentimentos pois não se enquadram no código de processo civil, no direito material e sim na mais pura opinião pessoal do magistrado.

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(En)Cena – Quais estratégias você indica para que as mulheres mantenham saúde mental no curso de um processo judicial?

Flávia Paulo – O que você faz quando desliga o seu computador é um fator que irá determinar se terá saúde mental ou não. Com o computador aberto, sofrendo as pressões tanto de clientes, como de colegas e magistrados, eu entendo ser muito improvável que a mulher consiga ter saúde mental. Me refiro a máquina (computador) pois estamos em pandemia, e a advocacia hoje acontece de forma virtual, na máquina. E desligar a máquina e tentar ter sua vida pessoal longe dela, eu vejo como primordial para uma saúde equilibrada, caso contrário você será consumida aos poucos. Mas a máquina pode ser estendida a qualquer tipo de objeto ou pessoas que te liguem ao seu trabalho. Ter sua vida pessoal é primordial.

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(En)Cena –  Na sua opinião, qual seria o caminho para as mulheres no pós-pandemia?

Flávia Paulo – Importante destacar que na história, toda crise social atingiu com mais intensidade as mulheres e isso será sentido no mundo pós-pandemia. Isto porque esse impacto é maior nas mulheres e isso está ligado ao machismo estrutural. A sobrecarga e acúmulo de funções, a carga mental invisível. Isso tudo terá uma consequência nos próximos anos que será perceptível. É preciso, ainda, contextualizar que mesmo antes da pandemia, o Brasil já era o 5º país do mundo no índice de feminicídios, há anos figura entre os piores em termos de desigualdade de renda e é considerado o país que mais mata pessoas LGBTQI+. Após a pandemia esses índices irão demonstrar cenários complicados para nós mulheres. Essa polarização de mulheres contra homens, feministas contra não feministas, isso tudo já está muito mais ativado agora no cenário epidêmico e terá graves consequências contra os direitos das mulheres e contra sua própria dignidade, o que será externamente sentido quando a pandemia não for mais o foco e a sociedade entender o que as mulheres tiveram que se submeter durante a pandemia. E como nos ensinou Angela Davis: “Precisamos nos esforçar para erguer-nos enquanto subimos”. E com isso as mulheres mais uma vez terão que reinventar formas de sobrevivência.

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Notas:

[1] Mapa da Violência de 2015, organizado pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso).

[2]Observatório de assassinatos trans.  https://exame.com/brasil/pelo-12o-ano-consecutivo-brasil-e-pais-que-mais-mata-transexuais-no-mundo/

[3]https://wp.ufpel.edu.br/nugen/2020/09/02/pesquisa-da-ufmg-e-unicamp-aponta-que-populacao-lgbt-esta-mais-vulneravel-ao-desemprego-e-a-depressao-por-causa-da-pandemia/

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Exaustão e exclusão – (En)Cena entrevista a professora Dra Camila Craveiro

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A cada ano, no mês março, em que se comemora o “Dia da Mulher” em diversos países, é praticamente impossível não esbarrar em textos, frases de efeito e uma infinidade de produções na mídia e nas redes sociais que se propõem a discorrer sobre a dor e delícia de ser mulher. Em muitos casos, “A mulher” é retratada como a mãe devotada que se aproxima da uma figura sagrada da Virgem Maria. Ou ainda, aparece como a heroína dos filmes e quadrinhos criados por homens, que enfrenta suas batalhas sempre sorrindo e luta, habilmente, usando uma maquiagem perfeita e um salto agulha.

Entretanto, essa época do ano também convida a refletir sobre desafios tipicamente atribuídos ao feminino: feminicídio e violência doméstica; dupla ou tripla jornada de trabalho; equilíbrio entre maternagem e mercado de trabalho; indústria da moda e da beleza e outros temas. A partir de tais problemas, é preciso pensar: o que é ser mulher? Será possível reduzir e resumir toda pluralidade do feminino em um conjunto de palavras ou conceitos?

Lacan, psicanalista francês do século XX, afirma que “a mulher não existe”, por não haver um constructo que abarque todas as parcialidades do sujeito feminino. Existem muitas mulheres distintas e é preciso considerá-las uma a uma, em suas especificidades e nos seus lugares de fala. Com isso, diante da necessidade de saber sobre a saúde mental das mulheres, no Brasil e durante a pandemia, apresentam-se entrevistas com sujeitos femininos que falam de si e do seu lugar neste contexto plural.

Dra Camila Craveiro

Na primeira entrevista da “A mulher não existe! O que significa ser mulher, no Brasil, na pandemia?”, o Portal (En)Cena conversou com a professora Dra Camila Craveiro para entender mais sobre:  o que é ser mulher, no Brasil, durante a pandemia da COVID 19.

Camila Craveiro é PhD em Ciências da Comunicação pela Universidade do Minho, em Portugal, coordenadora do curso de Publicidade da UNIGOIÁS, corresponsável pelo podcast Meia Taça e se dedica aos estudos descoloniais de gênero e migração.

(En)Cena – Camila, considerando o seu lugar de fala, de mulher, professora, publicitária, mãe e usuária ativa das redes sociais: o que é ser mulher no Brasil, durante a pandemia da COVID 19?

Dra Camila Craveiro – Quando falamos de mulheres, enquanto um grupo, essa necessariamente é uma superinclusão. Ainda que seja uma estratégia também de criar coletividade, uma ação grupal. Dentro do meu lugar de fala, da minha mulheridade, eu sinto um cansaço mental e psicológico muito grande durante a pandemia. Primeiro porque ela “starta” diferentes medos: da ausência, da morte, do desemprego, de não produzir a contento…E lidar com esse medo cotidianamente é muito complicado. Além disso, há os papéis sociais que eu desempenho enquanto mãe, professora, usuária das redes sociais e produtora de podcast. Tudo isso precisa ter minha atenção, dividida e focada ao mesmo tempo, algo que não é fácil. Mas eu sou uma mulher branca, de classe média alta, no Brasil, durante a pandemia e estou totalmente ciente dos privilégios dos quais eu gozo dentro dessas categorizações.

(En)Cena – Depois de ter estudado mulheres migrantes por 5 anos, na sua opinião, como podemos compreender o sofrimento emocional das venezuelanas que chegam ao Brasil, durante a pandemia?

Dra Camila Craveiro – Eu acho que a gente precisa rever algumas questões que são mesmo do campo da Sociologia das Migrações. A primeira delas diz respeito à dupla vulnerabilidade de ser migrante e ser mulher. Neste caso, destaca-se especialmente as migrantes econômicas.  Segundo Sassen (2003), a feminização das migrações, ou seja, a tendência de aumento da migração de mulheres em relação ao número de homens, deve-se, na verdade, à feminização da pobreza, à feminização da sobrevivência. Então, são mulheres que deixam as suas casas e, em alguns contextos, deixam suas famílias, para migrarem para países em que haveria maiores recursos de emprego e recursos materiais, para que elas possam também enviar dinheiro aos seus lares de origem. (…) À vulnerabilidade das venezuelanas, sexual e econômica, se soma o estereótipo negativo, pois criou-se no Brasil a ideia de uma invasão. Uma invasão de venezuelanos famintos, miseráveis e que aqui estão para concorrer pelos postos de trabalho e por alguns dos benefícios sociais dos quais gozamos.

No contexto de pandemia, as mulheres imigrantes encontram um país fechado em termos de oportunidades, especialmente, no caso das mulheres indocumentadas. Isso quer dizer de mais uma vulnerabilidade, ou seja, as assimetrias sociais que elas vivenciam as colocam numa posição de vulnerabilidade e de restrição do seu poder de margem de agência, de estratégia de sobrevivência, o que, sim, causa um dano emocional e uma subjetividade ferida.

Fonte: Arquivo Pessoal

(En)Cena – Na sua opinião, qual seria o caminho para as mulheres no pós-pandemia?

Dra Camila Craveiro – Eu torço, eu espero, eu anseio que o caminho pós-pandemia seja um caminho de ressurgimento. Ressurgimento da capacidade de mobilização, de estratégias de luta, da força que se perdeu ou que foi minada durante a pandemia. Essa exaustão que a gente falou anteriormente, foi uma exaustão sentida em todas as camadas sociais de mulheres. Eu espero que uma vez superado este contexto (quando estivermos todas vacinadas), que possamos retomar planos, sonhos e estratégias. Eu espero que a gente ressurja mais fortes, dispostas a lutar por aqueles que são nossos direitos, para garantir a promoção daquilo que já foi assegurado e pela conquista do que ainda está no nosso horizonte. Minha esperança é uma esperança de luta e de resiliência, para que a gente comece também a construção de uma sociedade que promova a igualdade de gêneros, ou seja, a igualdade de oportunidades.

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As mulheres, a pandemia e o isolamento social

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Com a pandemia da COVID-19, não apenas a saúde biológica da mulher foi afetada, mas também todas as suas relações, sejam elas relações de amizade, familiares ou conjugais. Pesquisas demonstram impactos relacionados ao aumento da violência doméstica, desemprego, isolamento social, luto entre outros fatores. Os impactos causados pela pandemia nos contextos econômicos e sociais podem impossibilitar o atendimento das necessidades básicas das mulheres no contexto familiar, o que é causado devido a fatores como desemprego, isolamento social e etc (SANTOS et al, 2020).

Segundo dados da OMS, com o isolamento social ocorrido devido a pandemia da COVID-19 houve um aumento de 22,2% nos casos de feminicídio entre os meses de março e abril de 2020 em alguns estados do Brasil no ano de 2020, comparado ao ano anterior, ligado a isso ainda foi verificado a diminuição do número de denúncias da violência doméstica (SANTOS et al, 2020). Ocorre ainda aumento na incidência da depressão e ansiedade na população brasileira, indicando maior prevalência em mulheres (SILVA et al, 2020).

Em uma pesquisa realizada com 200 mulheres por acadêmicas de psicologia, os pontos relatados como os que mais afetam as mulheres no processo da pandemia e do isolamento social são:  incertezas quanto a patologia (62,5%),  necessidade de isolamento social (57,5%), perder entes queridos (53,5%), as mídias sociais/informações (50,5%), a sobrecarga de tarefas (46%), falta de estabilidade financeira (32%), falta de rede de apoio (17,5%) e o cenário político (2%).

Fonte: encurtador.com.br/mCWZ9

Diante de um contexto onde percebem-se impactos sociais, econômicos e sociais, o contexto familiar e as relações conjugais podem também apresentar-se vulneráveis. Sobre o distanciamento social nas relações, 43,5% das mulheres dizem ter se sentido mais sozinhas do que de costume, 39% disseram estar distante de seus familiares, 24,5% relataram que apesar de não mudarem sua forma de se relacionar enfrentaram dificuldades e 15,5% informaram não terem enfrentado dificuldades e nem alterações em seus relacionamentos.

De acordo com Insfran e Muniz (2020), as mulheres têm enfrentado durante a pandemia dificuldade pelo distanciamento de redes de apoio como escolas, creches, babás, avós. Devido ao contexto pandêmico, a rede de apoio social como por exemplo, a rede familiar, foi fragilizada devido ao distanciamento social causando mudanças percebidas no enfrentamento do luto (SILVA et al, 2020). Alguns fatores citados pelas mulheres como origem do luto foram morte, desemprego, separação, isolamento social e adiamento/mudança de planos e sonhos.

Ainda de acordo com a pesquisa, 23,5% das mulheres afirmaram também que tiveram problemas em seus relacionamentos devido ao isolamento social. Alguns fatores apontados como origem dos problemas foram: problemas já existentes sem relação com o isolamento social (42,6%), distanciamento social (38,3%), problemas de ordem financeira (36,2%), violência doméstica (4,3%) e agravamento de questões relacionais que aconteciam antes (2,1%).

Fonte: encurtador.com.br/diBP1

Apesar de todos os impactos econômicos e sociais para as famílias e em especial as mulheres, ainda são encontrados relatos de famílias e casais que não sofreram com os efeitos da pandemia. Apontando não terem passado por maiores mudanças em suas rotinas ou suas relações sociais, ou que conseguiram desenvolver novas formas de relação e manejo dos problemas (SILVA et al, 2020).

Segundo a pesquisa, 83% das mulheres afirmaram não terem tido alterações em seu estado civil durante a pandemia, 76,5% dizem não terem tido problemas nos seus relacionamentos devido isolamento ou distanciamento social, 21,5% relatam se sentirem sempre amparadas em casa durante a pandemia.

REFERÊNCIAS

INSFRAN, Fernanda; MUNIZ, Ana Guimarães Correa Ramos. Maternagem e Covid-19: desigualdade de gênero sendo reafirmada na pandemia. Diversitates International Journal, v. 12, n. 2, p. 26-47, 2020.Disponível em:<http://www.diversitates.uff.br/index.php/1diversitates-uff1/article/view/314> Acesso em 26 mar. 2021.

SILVA, I.M. et al. As Relações Familiares diante da COVID-19: Recursos, Riscos e Implicações para a Prática da Terapia de Casal e Família, Pensando fam.,  Porto Alegre ,  v. 24, n. 1, p. 12-28, jun.  2020. Disponível em:<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-494X2020000100003> Acesso em 26 mar. 2021.

SANTOS, L.S.E. et al. Impactos da pandemia de COVID – 19 na violência contra a mulher: reflexões a partir da teoria da motivação humana de Abraham Maslow, 2020. Disponível em:<https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/pps-915> Acesso em 26 mar. 2021.

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Violência Doméstica e Feminicídio é tema de Minicurso no Caos 2019

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Carlos trouxe o fato histórico da famosa ‘Caça às Bruxas’, relembrando como mulheres que tinham conhecimento sobre ervas medicinais foram consideradas bruxas

Nesta terça-feira (21) iniciaram-se as programações do Caos 2019, o Congresso Acadêmico de Psicologia do Ceulp/Ulbra. Na ocasião, o psicólogo Carlos Mendes Rosa ministrou o minicurso “Da violência doméstica ao feminicídio: um caminho a ser interrompido”.

Como ponto inicial da discussão, Carlos trouxe o fato histórico da famosa ‘Caça as Bruxas’, relembrando como mulheres que tinham conhecimento sobre ervas medicinais foram consideradas bruxas e por isso mais de 1 milhão delas foram mortas nas fogueiras.

Com isso, foi possível traçar um pensamento histórico e profundo, de como o preconceito contra a figura do feminino remonta aos tempos remotos e ainda perdura até os dias de hoje.

O psicólogo ainda apontou fenômenos como Objetificação da Mulher, Cultura do Estupro, Assédio Moral e Sexual, Machismo e Feminismo. Desta forma salientando como mulheres se tornam as vítimas desse sistema extremante opressor e machista, sendo mortas apenas pelo fato de serem mulheres.

Tais pautas se mostram atuais e pertinentes no que tange a atuação do Psicólogo como promotor de saúde mental no âmbito social e político. Uma vez que, entender sobre as dinâmicas que perpassam a violência contra a mulher, prepara os psicólogos que futuramente lidarão com as vítimas e os agressores em sua atuação profissional!

 

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Violência contra a mulher: estado de alerta

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Falta de atenção do parceiro, descaso, indiferença, ausência de carinho, desmerecimento, agressões verbais, instabilidade emocional e afetiva… Um tipo de VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER que também precisa ser combatido…

Eu preciso escrever sobre isso……

Quem nunca?…. Conheceu um “gentleman”… Ah! O príncipe dos nossos sonhos. Inteligente, gostos afins… Meu Deus! Ele até advinha nossos pensamentos. É conexão de outras vidas.

Fonte: https://bit.ly/2XFSGg8

Não há outra explicação!

Então, nós, mulheres super bem resolvidas, até relutamos no início com indagações do tipo “Esse cara é muito perfeito! Tem alguma coisa errada”… “Melhor ir com calma!”

Mas é tanta felicidade quando estamos juntos que, aos poucos, vamos “baixando a guarda”… E… inevitavelmente, entregamo-nos de corpo e alma a essa nova relação.

Tudo bem! Estamos felizes!

O problema reside, em alguns e não raros casos, quando começamos a sofrer com um assédio, um tipo de violência velada que causa tanta dor e traumas quanto a violência física. E o enredo dessas histórias de agressividade parece muito previsível. Pois, o conto de princesas do início do relacionamento vai, aos poucos, sendo substituído por capítulos de novela mexicana. Não pela previsibilidade da tessitura narrativa, contudo pelas lágrimas jorradas motivadas pela tristeza que ocupa, sem pressa, o lugar que outrora era da euforia.

Fonte: https://bit.ly/2H4zvro

Tudo começa com “pequenos descuidos” materializados na demora para pequenas respostas, como a de um “bom dia!” no WhatsApp. Acrescido de esparsas ligações telefônicas … Depois, os carinhos se tornando escassos… Vem a irritabilidade com futilidades do cotidiano… A reclamação por bobagens… Dessa forma, você começa a “pisar em ovos”, mede minuciosamente suas palavras… Passa a viver em um constante ESTADO DE ALERTA. Esforço hercúleo para não magoar ou irritar o “dito cujo”

Logo, você passa a ponderar “Tem alguma coisa errada! Acabou o amor e afinidade que nos unia?” Esse é o ponto crucial. Porque enquanto fazemos essa pergunta, ainda estamos lúcidas para refletirmos acerca da realidade que nos cerca. Todavia, algumas vezes, permitimos a mudança desse questionamento para “O que EU estou fazendo de errado?”

Então, quando o parceiro percebe que está nas mãos dele “o controle” da situação, muitas vezes, o “príncipe” se transforma em nosso ALGOZ.

E ele não terá piedade em nos fazer sentirmos CULPADAS por essa mudança tão drástica e negativa no relacionamento. Como estamos apaixonadas, perdemos um pouco o senso da razão. Por isso, a partir disso, oprimidas e subjugadas, é comum nos sujeitarmos a situações, dantes nunca imaginadas.

Vamos “aprendendo” a nos conformar com o descaso com que passamos a ser tratadas, com as brigas constantes, com as humilhações, com as inseguranças e instabilidades que nos trazem um dos piores dos sentimentos: a angústia.

E se alguém nos pergunta “Por que você se permite viver assim?”

Fonte: https://bit.ly/2C5zI9o

Temos medo de admitir que por ter sido “tão bom no início”, lá no fundo, ainda nutrirmos a esperança de que tudo volte a ser como antes…

Infelizmente, quase nunca volta!

Passamos a ter uns pensamentos bizarros do tipo “melhor estar com alguém a ficar sozinha”. Certo! Somos livres para fazermos nossas escolhas. Contudo, temos que nos questionar “Merecemos estar junto de alguém …  Mas A QUE PREÇO?”

Se custar sua PAZ, sua AUTOESTIMA, seu AMOR-PRÓPRIO, sua LUCIDEZ… É UM PREÇO CARO DEMAIS.

Se você, mesmo assim, estiver disposta a pagar, todo meu respeito à sua decisão.

Mas se você decidir que o valor para estar ao lado desse alguém é alto demais pelo pouco, ou quase nada que você recebe, não tenha medo de colocar um ponto final.

Há sofrimento com essa decisão? Sim! E muito…

Afinal, dói desconstruir o “conto de fadas com final feliz” que idealizamos… Porém, a dor será muito maior se nos mantivermos em um relacionamento que VIOLENTA nossa essência de mulher que merece RESPEITO, inclusive e sobretudo, à integridade dos nossos sentimentos.

Não podemos nos contentar com migalhas de carinho, lapsos de atenção, restos de afetividade… Afinal, MERECEMOS um relacionamento em que haja reciprocidade.

Então, que tenhamos a sabedoria para rompermos as amarras de dependência afetiva que nos impedem de sermos plenas.

Fonte: https://bit.ly/2IVoDOa

Que saibamos lutar contra toda forma de violência que nos agrida e aprisione.

A maturidade nos possibilita compreender um ditado antigo de nossas avós “Antes só (e feliz) do que mal acompanhada”!

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Violência contra a mulher: mais de 940 casos registrados

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Os dados referem-se ao período de janeiro a julho. Nudem alerta para a importância rede de atendimentos que ofereça proteção às mulheres.

Dados da Defensoria Pública do Estado do Tocantins (DPE-TO) revelam que 943 denúncias de violência doméstica contras mulheres chegaram à Instituição somente no período de janeiro a julho deste ano, o que sugere uma média de mais de 150 casos por mês. Ao todo, considerando as denúncias e outras situações relacionadas ao assunto, como o contraditório e orientações, entre outras, foram 1.084 atendimentos nessa área.

O relatório do departamento de Estatística da Corregedoria Geral da DPE-TO mostra, ainda, que a maior quantidade do total de atendimentos desta área, no primeiro semestre deste ano, foi em Palmas (570), seguida de Araguaína (318), e Gurupi (121). Em municípios menores do interior do Estado há poucos casos de atendimento nesta área, a exemplo dos registrados em Aurora do Tocantins (1), Novo Acordo (2) e Wanderlândia (3).

Coordenadora do Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher (Nudem) da DPE-TO, a defensora pública Vanda Sueli Machado explica que os poucos registros nas cidades do interior não querem dizer que há pouca violência, mas que, possivelmente, existe ainda muito medo em denunciar. “Por residirem em cidade pequena, onde todos se conhecem, o medo e a vergonha de denunciar são maiores”, disse a Defensora Pública.

De acordo com Vanda Sueli, a violência contra a mulher, seja doméstica ou nas ruas, ainda é muito elevada, principalmente para as que possuem menos instrução e consciência dos seus direitos. Nesse cenário, são comuns os atendimentos de casos reincidentes. “Há muitos casos em que a mulher desiste da medida protetiva por dependência financeira. Ela volta para casa somente porque o homem é o responsável pelo sustento do lar. A maioria das mulheres não tem emprego fixo e são subordinadas ao homem”, disse a coordenadora do Nudem.

Lei Maria da Penha
Os casos de violência no Brasil são amparados com medidas judiciais pela Lei Maria da Penha, que completa 12 anos nesta terça-feira, 7 de agosto. Trata-se de um grande marco no combate à violência contra a mulher no Brasil desde que Constituição Federal passou a dar fundamento constitucional ao combate à violência doméstica, obrigando ao Estado criar mecanismos para coibir a violência familiar (artigo 226, § 8º). Testemunhas também podem fazer denúncias de forma anônima.

Fonte: goo.gl/gUD8DD

De acordo com a coordenadora do Nudem, antes da referida Lei as mulheres vítimas de violência estavam completamente desamparadas judicialmente. “As regras não eram tão rígidas e não havia tanta proteção, por isso, muitas mulheres sequer denunciavam por medo de vingança dos companheiros”, considera. Porém, mesmo tendo uma das melhores Leis de combate à violência doméstica, o Brasil ainda tem uma das maiores taxas de feminicídio do mundo, com uma mulher sofrendo algum tipo de agressão a cada 7 minutos.

Nudem
O Nudem é um núcleo especializado, instituído especialmente para atender às mulheres vítimas de violência. Entre as atribuições estão: prestar orientação e apoio de natureza sócio-jurídica, encaminhar os casos de acordo com as suas especificidades à rede de proteção e defesa da mulher, desenvolver ações de prevenção mediante atendimento especializado de orientação e assistência jurídica, psicológica e social; e realizar estudos e pesquisas voltadas à temática, com vista à elaboração das políticas públicas dirigidas à proteção da mulher vítima de violência doméstica e familiar, dentre outros.

Denuncie
Os principais meios de denúncias relativas à violência doméstica é o “Ligue 180” e “Disque 190”, que podem ser acionados gratuitamente. Em casos de violência sexual, a vítima deve procurar o Serviço de Atenção às Pessoas em Situação de Violência Sexual (Savis), que funciona no Hospital Maternidade Dona Regina (HMDR), em Palmas. Pode procurar, ainda, hospitais ou postos de saúde públicos para atendimento de primeiros socorros e narrativa da agressão.

Outra iniciativa é ir à Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam), registrar Boletim de Ocorrência, requerer as Medidas Protetivas de Urgência (MPU) e/ou representar criminalmente. A vítima pode comparecer ao Nudem da Defensoria ou à DPE-TO em sua cidade para receber orientações jurídicas e requerer representação criminal, bem como ações necessárias, como guarda de alimentos, divórcio, reconhecimento de união estável e danos morais e materiais, dentre outros. O telefone do Nudem é (63) 3218-6771.

Conheça as principais formas de violência doméstica no Brasil:

–  Humilhar, xingar e diminuir a autoestima
–  Controlar e oprimir
–  Expor a vida íntima
–  Atirar objetos, sacudir e apertar os braços
–  Forçar atos sexuais desconfortáveis
–  Impedir a mulher de prevenir a gravidez ou obrigá-la a abortar
–  Controlar o dinheiro ou reter documentos
–  Quebrar objetos pessoais

Leia também:

Defensoria disponibiliza arquivo para download com o número do Disque Denúncia 180
http://www.defensoria.to.def.br/noticia/29010

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