Debate acerca da vivência LGBTQIAP+ dentro do contexto universitário

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Nas universidades a verdadeira inclusão se concretiza quando se adotam práticas visíveis, como os programas de ações afirmativas, como as cotas. Além disso, essa inclusão depende de uma administração universitária que prioriza a gestão social, o que significa tomar medidas democráticas, igualitárias, participativas, colaborativas e diversas, com decisões que valorizem a solidariedade em vez de focar exclusivamente em aspectos econômicos, conforme Moreira (et al. 2011).

Ainda segundo Moreira, também é crucial promover a inovação social, por meio da criação de projetos que buscam integrar e dar oportunidades aos menos favorecidos. Todos esses elementos se baseiam em um modelo de ação comunicativa e dialógica, em que os envolvidos na ação reconhecem a importância dessas práticas e concordam com sua validade. Embora possa parecer uma utopia, essa abordagem tem o potencial de se tornar realidade com empenho e dedicação.

Em muitos cenários educacionais, ainda não estão adequadamente equipados para abordar as diversas manifestações da sexualidade. Com frequência, os preconceitos e a discriminação são perpetuados nesse contexto, quer de forma velada ou até mesmo de maneira explícita. Isso torna a permanência de indivíduos LGBT um ato genuíno de enfrentamento.

A inclusão deve ser um ato que promova o crescimento humano, organizacional e social por meio de um processo abrangente de compartilhamento de conhecimentos, valores e crenças. Isso implica em integrar as minorias através de práticas que levam em consideração as circunstâncias materiais reais em que vivem, e, ao mesmo tempo, evitar a reprodução dos estigmas e exclusões presentes na sociedade (Magalhães et al., 2017).

E para falar mais sobre a vivência LGBTQIAP+ no contexto universitário, o EnCena convidou Karen Oliveira, lésbica, jornalista e atualmente formada em Psicologia e atuante na área, fazendo uso da teoria Sistêmica e atuante da Terapia Afirmativa, que é para o público LGBTQIAP+ .

Encena: Sabemos que você agora é uma profissional de psicologia. Durante seus estudos, como percebeu a preparação dos futuros psicólogos em relação ao atendimento e apoio às questões específicas enfrentadas pela comunidade LGBT?

 

Karen: Pela minha experiência, no contexto acadêmico faltam debates, inserção de disciplinas focadas na temática e preparação científica. Apesar de sabermos que nas universidades que ofertam cursos de Psicologia há variação de grades curriculares, em geral elas abordam essa temática de forma superficial. Por exemplo, durante toda a minha graduação não foi falado sobre psicoterapia afirmativa, que é focada em pessoas LGBTQIAP+. O meu conhecimento sobre essa vertente foi resultado apenas de estudo próprio. A falta de visibilidade traz consequências negativas tanto para os estudantes, que serão futuros psicólogos, quanto para os que virão a ser seus pacientes. Portanto, ainda falta preparação a nível institucional e capacitação dos acadêmicos quanto a ferramentas, postura e ética no atendimento desse grupo minoritário.

 

Encena: Como mulher lésbica, você sentiu segurança para expressar sua orientação sexual durante os estudos universitários? Poderia compartilhar um pouco sobre sua experiência nesse sentido?

 

Karen: Em alguns momentos sim, mas, como já mencionei, esse debate foi muito raso dentro do ambiente acadêmico durante a minha graduação. Infelizmente, na minha vivência, em algumas situações, faltou acolhimento e não houve muito espaço e/ou visibilidade, causando estresse de minoria e potencialização de mecanismos de defesa.

 

Encena: À medida que você avançou na carreira, atualmente como psicóloga, você sente que a aceitação da diversidade sexual é mais efetiva nos ambientes profissionais do que nos contextos acadêmicos? Por quê?

 

Karen: Acredito que é difícil haver uma aceitação totalmente efetiva, visto que a construção social é heteronormativa e o Brasil é o país que lidera o ranking de mortes pelo crime de LGBTfobia. Há situações de homofobia em todos os espaços. Mas, talvez pela hierarquização institucional existente na universidade, quando existe o título de ser uma profissional, pode ser que haja mais respeito em alguns espaços, além da possibilidade de atendimento ao público LGBTQIAP+. Mas, ainda enquanto profissionais, infelizmente não estamos imunes ao preconceito e às violências.

 

Encena: Em sua opinião, quais são os principais desafios que as universidades ainda enfrentam quando se trata de garantir a inclusão e o respeito aos direitos LGBT?

 

Karen: Acredito que seja necessário as universidades desenvolverem mecanismos de acolhimento, inserção, inclusão, integração, respeito, validação e métodos para a permanência dos estudantes que fazem parte da comunidade. É importante que a temática seja trabalhada com professores, que sejam promovidas palestras, rodas de conversa e projetos que abordem a inclusão. Também há a necessidade da criação de mais disciplinas que falem sobre gênero e sexualidade e que haja, para além do papel, intolerância com os preconceitos que possam ser vivenciados.

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Danilla Façanha fala sobre os desafios da volta aos estudos após a maturidade

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“Não desista quando ainda estiver na superfície, aprofunde-se com a certeza que a fé lhe dá e com a plenitude que a maturidade traz.” (Danilla Façanha) 

O EnCena entrevista a acadêmica de Psicologia do Ceulp/Ulbra, Danilla Façanha, natural de São Paulo-SP, crescida e criada em Teresina – PI e atualmente residente em Palmas- TO. Danilla é filha, esposa, mãe de 3 filhos e 2 netos. É formada em Serviço Social, Pedagogia, especialista em Educação, em Neuropsicopedagogia clínica/institucional, Análise do comportamento-ABA e agora formanda em Psicologia (2022/2). Trabalha atualmente em uma escola como Coordenadora Pedagógica e cursa psicologia na companhia de sua filha. 

Danilla fala ao (En)Cena sobre sua experiência em retornar aos estudos após a maturidade, conciliar a vida agitada, envolvendo o trabalho, a família e os estudos. E o que a levou a esse novo desafio foi o amor em aprender sobre o ser humano.

(En)Cena – Como foi a sua escolha pela Psicologia?

Danilla Façanha – Eu já era formada em Serviço Social, pós-graduada na área social, atuava nesta profissão,  mas não me sentia totalmente realizada e então decidi que queria outro curso superior  mas tinha que ser Psicologia. Neste tempo, 2017, fiz o vestibular na modalidade portadora de diploma, que neste edital previu 1 vaga para Psicologia. Então fiz e passei nesta única vaga apenas. Naquele momento entendi que a Psicologia era para mim, pois só tinha esta vaga e Deus me deu a oportunidade. Então agora era só eu a estrada da Psicologia. Muito feliz e determinada comecei a minha jornada neste curso rumo à Miracema do Tocantins, pois o campus da Federal para o curso de Psicologia está lá!  

(En)Cena –  Como foi a sua jornada de estudante para conciliar família e trabalho com estudos em outra cidade?

Danilla Façanha – Foi difícil. Eu acordava às 5:00h da manhã, pegava o ônibus que passava às 6:00h da manhã e seguia rumo à Universidade. Chegava lá por volta das 7:45h e a aula começava às 8:00h. O curso era integral e a grade fechada, logo eu ficava o dia todo na cidade de Miracema TO, todos os dias da semana e retornava a noite para Palmas. Fiz essa jornada por 4 períodos e no 5º período me transferi para a Ulbra TO. 

(En)Cena – Como foi a sua experiência de transferência de faculdade?

Danilla Façanha – Para mim foi muito boa, pois estudar na cidade em que a gente mora é o ideal e agora eu pude desfrutar melhor do curso! Na Ulbra vivi novas experiências acadêmicas, uma delas foi os estágios psicoterápicos em clínica. Aprendi de fato em 1 ano de clínica atendendo pacientes e sendo supervisionada pelos meus Professores Psicólogos Orientadores o que de fato é a clínica Psicológica! Simplesmente aumentou e firmou mais ainda a minha paixão pela Psicologia Clínica!

(En)Cena – Muitos filhos ao escolherem uma carreira preferem seguir a formação dos pais, mas como é a experiência de poder cursar Psicologia juntamente com a sua filha?

Danilla Façanha – Nossa, foi muito agradável para mim esta situação. Não foi uma situação planejada, eu já era formada, mas sempre quis fazer Psicologia, então fiz vestibular e passei na Universidade Federal do Tocantins e me matriculei. Ocorre que a Rebeca, minha filha, ao sair o resultado do ENEM daquele ano, ela colocou a nota para Psicologia e também passou. Nesta ocasião, em Fevereiro de 2018, quando saiu o resultado da aprovação da Beca, foi que a nossa “ficha caiu”, que iríamos estudar juntas! É uma situação diferente e nada comum, mas foi muito agradável viver este momento de formação acadêmica com minha filha. No curso eu  procurei ao máximo ser leve com ela para deixá-la solta e livre para cursar a sua primeira graduação. Afinal não queria que o meu processo atrapalhasse o dela. Assim tentei permitir que o meu lado mãe se neutralizasse em muitos momentos para que o meu lado colega de curso aparecesse. Creio que essa atitude lhe permitiu viver o processo com muita leveza e criação da sua própria autonomia. Eu nunca precisei fazer nada por ela e nem ela por mim no sentido de uma fazer pela outra, pelo contrário cada uma fazia o seu, seguia as sua escolhas tanto é que na escolha da abordagem para o estágio clínico, ela escolheu análise do comportamento e eu escolhi Psicologia Analítica, com orientadores e manejo clínico diferente. O lado bom que fazíamos uma pela outra era trocar ideias, discutir sobre assuntos das matérias da psicologia, trabalhos, sobre as apresentações de seminários e casos clínicos, uma troca de conhecimento muito rica uma vez que estávamos se formando no mesmo curso! Ela por sua vez sempre foi muito madura e soube administrar muito bem esta condição, afinal não deve ser fácil fazer seu curso superior com sua mãe na mesma sala (rsrsrs) Foi muito lindo tudo! 

(En)Cena – Como foi a adaptação durante o período da pandemia com as aulas de forma remota na universidade, o trabalho e a família?

Danilla Façanha – Foi muito bom este período. Estudei bastante e o online não me impediu de realizar as propostas acadêmicas. Pelo contrário, me instigou mais ainda pela busca do conhecimento. Nesse período da pandemia, aproveitei e também terminei o meu curso de Pedagogia, que havia começado em 2019, concluí todo com estágio do maternal ao ensino médio em escola regular. Ainda fiz duas especializações simultâneas na área de educação. 

(En)Cena – O que te motivou a fazer psicologia?

Danilla Façanha – A riqueza do conhecimento sobre o ser humano. Toda a complexidade que envolve as relações humanas e o potencial oculto sobre o que nós somos. Amo estudar e aprender sobre o ser  humano, sobre a simbologia que nos rodeia e que a expressamos envolto da persona que criamos e apresentamos na sociedade. Há um fascínio sobre isso que me encanta.

(En)Cena – Cursar Psicologia exige bastante tempo para estudar. Diante disso, quais são os maiores desafios para conciliar os papéis que você exerce e a universidade?

Danilla Façanha – O maior desafio sem dúvida é conciliar o trabalho e o estudo, pois ambos requerem um gasto de energia significativamente grande. O trabalho é essencial, é dignificante e amo trabalhar em escola, porém é o que detém a maior parte do meu tempo, como também é o que me consome mais energia física e psicológica neste momento. Escola é um ambiente vivo, rico em diversidade e manifestação humana, o que justifica todo esse gasto de  energia, pensamento lógico e analítico.  Já a faculdade é a minha fonte de refúgio, pois lá na academia estudo, aprendo e sei que a cada dia fico mais perto de alcançar o sonho de ser psicóloga! Há uma frase que diz assim: “Trabalhe no que você gosta e você não precisará trabalhar um dia sequer”, é sobre isso: prazer!

(En)Cena –  Qual dica você deixa para quem pretende cursar psicologia? 

Danilla Façanha – A principal dica é: Goste de pessoas, de gente, de ser humano! 

Dica 2: Saiba ouvir. Uma escuta qualificada é grande parte do processo terapêutico.

Dica 3: Olhe o ser humano com uma lente expandida com a percepção da complexidade e riqueza de fatos únicos que guarda a vida e a história de cada um.

Dica 4: Tenha em mente que todas as suas convicções e crenças são somente sua e que devem permanecer assim, pois ética é uma palavra que você vai conjugar desde o primeiro período do curso e se quiser ter uma história profissional bem feita, esta ética lhe acompanhará!

Dica 5: Ame a Psicologia, entenda-a como parte de sua vida, de seu processo de individuação e crescimento, assim sendo você irradia luminosidade científica por onde atuar!

(En)Cena –  Qual a área de atuação você pretende focar depois da formação?

Danilla Façanha – Gosto muito das variadas atuações e abordagens da  psicologia, mas pretendo focar no atendimento com adultos e jovens  na Psicologia Analítica. Já com o público infantil atuarei em Avaliação Neuropsicológica e reabilitação neurocognitiva. As crianças são minha paixão clínica, também (rsrs)

(En)Cena –  Qual mensagem você deixa para os nossos leitores?

Danilla Façanha – Deixo a mensagem do autor de uma das abordagens que sou apaixonada a Psicologia Analítica, Carl Jung: “Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana.”. 

 

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Uma criança controla minha vida

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Todas as atividades básicas desenvolvidas por um adulto foram aprendidas ainda na sua primeira infância, como a alfabetização, caminhar, falar, tudo é aprendido ainda criança e somente aperfeiçoado com o decorrer dos anos. Esta é uma das razões pela qual a criança tem uma percepção de tempo distinta de um adulto, nessa fase da vida, tudo é novidade, tudo tem um impacto extremamente significativo e que irá definir sua vida como pessoa. Quanto mais complexa for uma habilidade, mais difícil será para a criança absorvê-la a ponto de entender todas as suas etapas e executá-la de forma eficiente.

Tal situação também se repete em outros aspectos da vida do indivíduo, a forma como o homem ou a mulher se porta na sociedade dependerá principalmente de como se deu a sua criação e desenvolvimento infantil. Assim como no campo das habilidades funcionais, no campo psicológico a percepção do infante sobre os eventos e a forma com que este lida (com ou sem o auxílio de seus guardiões), influenciará diretamente em sua personalidade, hobbies, vieses sociais, preferências musicais e literárias, definindo, literalmente os rumos de sua vida.

Literalmente, o adulto, na grande maioria das vezes, é o resultado das somas de suas experiências de vida, porém, no mais íntimo dos aspectos, suas reações sociais serão determinadas pelo seu inconsciente.

Leandro Karnal, assim como outros estudiosos defendem que o ser humano sempre terá traumas em sua vida que guiarão seu futuro. Partindo da premissa de que todo novo evento para uma criança é algo desconhecido por esta, pode ser entendido como um episódio traumático que está experimentando. A principal diferença será a intensidade e as consequências que estas situações irão representar posteriormente.

Fonte: Imagem de wayhomestudio no Freepik

O indivíduo que vivenciou episódios de abusos sexuais e psicológicos terá sua vida amorosa e, muitas vezes até social, determinadas pelo seu inconsciente que está ferido e se encontra em sofrimento, a criança interior pede socorro e, caso negligenciada, conduzirá o adulto por um campo emocionalmente deturpado e sem conexões lógicas.

Mas, ainda que a mulher ou o homem tenha tido uma infância saudável, irá agir de acordo com as percepções de sua versão infantil pois foi neste período de sua vida que adquiriu a base dos seus gostos e interesses pessoais. Para que ocorra uma mudança desta perspectiva é necessário grande esforço do indivíduo e suporte profissional para lhe auxiliar no processo de transformação.

REFERÊNCIAS

KARNAL, Leandro. O dilema do porco-espinho: como encarar a solidão. São Paulo: Planeta do Brasil, 2018.

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Dia das Crianças: data para refletir sobre o valor e importância da infância

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Comemorado no dia 12 de outubro, o Dia das Crianças celebra a importância da garotada, na vida dos adultos, além de valorizar a fase da infância, responsável pela construção de sua identidade. Doce, pipoca, diversão e muita risada não podem faltar, nessa data tão especial aos pequenos. No entanto, é preciso relembrar que a criação de uma criança precisa acontecer na saúde, educação e condições sociais favoráveis ao seu desenvolvimento físico e psicológico.

Conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) a criança e o adolescente devem usufruir de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, mas na prática difere-se bastante. Diariamente a mídia notícia os disparates das desigualdades entre as classes sociais, no Brasil. Todas as crianças têm direito a frequentar uma escola, mas nem todas estão matriculadas. Nesse contexto, Ana Maria Frota aponta que nem todas as crianças vivem no país da infância, e destaca que alguma são nascidas em bolsões de misérias.

Fonte: Freepik

Sua análise faz alusão as diferenças sociais nos quatro cantos do país, que não oferecem as mesmas condições de desenvolvimento na infância.  Fator preocupante, porque a construção de um adulto confiante e seguro começa na fase da infância. Mukhina (1996) considera que o desenvolvimento máximo das qualidades das crianças, no que diz ao aprendizado são alçados quando se consideram suas peculiaridades, em diferentes idades. Por isso, a necessidade de a criança crescer em um ambiente familiar seguro e saudável.

De acordo com Cardoso (2012) a promoção do brincar é um grande facilitador para seu aprendizado, em especial, quando a criança toma a iniciativa. Para ele, essa atitude cria um ludicidade inerente ao saber infantil junto com a participação do adulto nessa descoberta, no caso é a brincadeira. Cardoso conceitua esta ideia como um desempenho assistido. Esse apoio ofertado à criança faz com ela sinta-se segura e confiante para novos aprendizados.  Nesse sentido, faz-se ser indispensável a presença do adulto.

Fonte: Freepik

Rossana Coelho e Barbara Tadeu observam que o brincar da criança deve ser levado para sala de aula, no artigo “A importância do Brincar na Educação da Criança”. Segundo a publicação, cabe aos educadores orientar os espaços em que as crianças devem ficar para o desenvolvimento de atividades lúdicas focados no ensino aprendizagem, além de um bom material pedagógico.  A relação positiva entre pais e professores contribuem para o crescimento das crianças no que diz ao aprendizado, enquanto futuros adultos também.

Para proteger as crianças e adolescente vítimas de violência doméstica o Governo Federal, por meio do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos disponibiliza o disque 100, forma gratuita denunciar. Essa informação é pertinente porque, conforme dados ministério 81% das violências contra esse público acontecem dentro de casa.  Vamos brincar, celebrar e salvar vidas.

REFERÊNCIAS

Brasil. Lei n. 8069, 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso 07, de out. 2021.

Brasil. Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Disponível em https://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/noticias/2021/julho/81-dos-casos-de-violencia-contra-criancas-e-adolescentes-ocorrem-dentro-de-casa. Acesso 07 De out 2021.

Cardoso, G. B. (2010). Pedagogias participativas em creche. Cadernos da Educação de Infância.

Cardoso, M. G. (2012). Criando contextos de qualidade em creche: ludicidade e aprendizagem. Minho: Universidade do Minho, Instituto de Educação.

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A terapeuta da terapeuta

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Desde o início do ano tenho vivido a experiência de atender online no estágio em clínica psicanalítica uma estudante de psicologia de uma faculdade de Brasília. De estudante para estudante e de futura terapeuta para futura terapeuta nossa relação tem sido rica e amistosa, colecionando valiosos episódios de transferência positiva a despeito das inegáveis adversidades.

É preciso lembrar que em A Dinâmica da Transferência de 1912, Freud explica “como surge necessariamente a transferência numa terapia analítica e como ela chega a desempenhar seu conhecido papel no tratamento” (FREUD, 2010, p. 101).

Todo ser humano teria um modo característico de conduzir a vida amorosa, no que tange: às condições que estabelece para o amor, aos instintos que satisfaz e aos objetivos que coloca. E esse padrão é repetido diversas vezes em diferentes relacionamentos experimentados pelo sujeito. Contudo, somente parte do mencionado padrão, “impulsos que determinam a vida amorosa”, estaria acessível à personalidade consciente daquele que o pratica, outra parte está inconsciente. Ou seja, “foi detida em seu desenvolvimento, está separada tanto da personalidade consciente como da realidade, pôde expandir-se apenas na fantasia ou permaneceu de todo no inconsciente, de forma que é desconhecida da consciência da personalidade”  (FREUD, 2010, p. 101).

A teoria freudiana identifica tipos de transferência de ocorreriam no contexto da análise e deveriam ser manejados com destreza pois seriam significativamente capazes de interferir nos resultados dela.

Fonte: encurtador.com.br/emyNP

Contudo, o desafio não para por aí, no manejo dos investimentos libidinais que a colega, potencialmente conhecedora dos conceitos e teorias de psicologia e psicanálise, endereçaria a minha pessoa. Mas, acima de tudo, a angústia gerada pela responsabilidade de conhecer o papel e os efeitos da minha contratransferência na relação com ela.

Confesso que este componente, terapeuta da terapeuta, não tem impedido nosso trabalho de alcançar alguns frutos valorosos, colhidos do relato pessoal da paciente nas sessões. E, acima de tudo, da permanência dela nas sessões validando o desejo da futura analista que vos fala acerca da continuidade da análise.

Mas, não é possível ignorar que o mencionado componente caracteriza nossa relação terapêutica e causa repercussões nas relações transferenciais e contratransferências num esforço conjunto de medir as palavras, acertar os conceitos e demonstrar uma segurança teórica e técnica no decorrer das sessões.

Destaco especialmente a sessão em que a paciente dedicou-se a uma fala longa e detida para explicar como tinha compreendido parte dos apontamentos que eu fizera nas sessões, bem como o uso de algumas técnicas de pontuação do discurso dela a partir do texto as “Cinco lições de psicanálise” escrito por Freud em 1909.

Fonte: encurtador.com.br/nKL58

Noutro momento, ainda, foi marcante para mim, enquanto terapeuta em formação, as precisas observações que a colega fizera sobre meu hábito, nada correto de anotar as falas dela na sessão e das minhas notas coletar apontamentos. De tal modo que ela confessou fixar sua atenção nas minhas expressões e no que eu poderia estar anotando para antever aquilo que poderia ser pontuado e, defender-se ou preparar-se para aquilo.

De pronto devo dizer que, após o choque da fala da paciente e do coerente feedback da minha orientadora/supervisora, abandonei o hábito de anotar nas sessões. Passei a dedicar meus esforços ao exercício da atenção flutuante.  

Tal situação, de fato, consiste em verdade na mais pura resistência da minha parte a ser vencida ou ressignificada em cada nova sessão como terapeuta em formação. E a ser trabalhada tanto na supervisão técnica quanto em minha análise pessoal de modo a garantir a qualidade mínima exigida pelo tripé psicanalítico.

Fonte: encurtador.com.br/cjwzJ

Porém, a despeito do caráter especialmente desafiador de atender uma futura colega de profissão que conhece bem as técnicas que estão sendo utilizadas no setting e que aponta na minha fala a percepção que teve sobre o manejo destas durante a sessão, trata-se de uma experiência riquíssima e um exercício ímpar que tem me permitido experimentar e treinar, sob qualificada supervisão, a arte de estar no lugar de objeto resto a despeito de quem seja aquele que ocupa a poltrona à minha frente.

Referências:

FREUD, Sigmund, 1856-1939. Observações psicanalíticas sobre um caso de paranoia relatado em autobiografia: (“O caso Schreber”): artigos sobre técnica e outros textos (1911-1913) / Sigmund Freud ; tradução e notas Paulo César de Souza. — São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

FREUD, Sigmund, 1856-1939. Cinco lições de psicanálise, Leonardo da Vinci e outros trabalhos (1909) / Sigmund Freud ; file:///C:/Users/User/AppData/Local/Temp/freud11.pdf.

Santos, Manoel Antônio. A transferência na clínica psicanalítica: a abordagem freudiana. Temas psicol. vol.2 no.2 Ribeirão Preto ago. 1994.

ISOLAN, Luciano Ransier. Transferência erótica uma breve revisão. 189. Transferência erótica – Isolan Rev Psiquiatr RS maio/ago 2005;27(2):188-195

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Empatia e positividade durante a pandemia

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Com a pandemia, as pessoas tiveram que se isolar e se afastar socialmente umas das outras. A internet é um recurso interessante para lidar com esse momento de maneira positiva. Essa situação fez tudo parar, comércio, eventos culturais, museus e shoppings. Apesar disso, a internet continua exatamente igual. Por isso, ela pode ser uma aliada para manter a mente ocupada.

É comum sentir insegurança nesse momento e pensar em coisas do tipo ‘Como será minha vida após isso tudo?’ ou ‘Vou manter meu emprego com essa crise?’ e ainda ‘Será que vou conseguir pagar minhas contas?’. Para que a pessoa não fique pensando somente em coisas negativas, é fundamental estar com a mente ocupada. Desse modo, quando ocupamos a mente, não damos margem para pensar em coisas ruins nem nos deixamos abater diante de notícias sobre o coronavírus.

Ter algo para fazer aumenta a sensação de bem-estar, além de nos manter motivados. Aproveite os recursos da internet nesse momento para ocupar seu tempo. Pode-se aprender com videoaulas de algum curso, de alguma dança, fazer exercício físico com aplicativos que monitoram a atividade, conectar-se por vídeo-chamadas com amigos, ver filmes entre outros.

“Mantenha-se Positivo” – Fonte: encurtador.com.br/coyX4

Quando vemos a internet desta forma, ela pode se tornar uma grande aliada. Portanto, ocupe seu tempo com atividades que tragam prazer e com pessoas que passem mensagens positivas. Aproveite para buscar novas atividades que possam exercitar a criatividade. Busque viver esse momento de maneira positiva.

Além disso, é muito importante que as pessoas mantenham a esperança durante a pandemia. Caso contrário, pode-se ter problemas psicológicos. A depressão, por exemplo, está ligada à negatividade e à impossibilidade de um bom desfecho em alguma situação. Ver notícias boas como de pessoas que se recuperaram e de vizinhos que pensam no coletivo podem trazer ânimo. Tudo isso traz um propósito de vida e ajuda a manter a saúde mental.

Nesse momento, a empatia é primordial. A covid-19 nos fez perceber que, ao pensar no outro, podemos colaborar para que todos cheguem a um bem comum. Devemos estar atentos para ajudar o outro, seja indo ao mercado ou farmácia para quem é do grupo de risco, quanto não estocar alimentos ou álcool gel e ver outros sem. Essa crise veio nos mostrar que sozinhos não conseguimos vencer. Precisamos sempre pensar no próximo.

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Reinventando no Caminho… 2

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No mundo real, somos preparados para viver com os pais até certa idade e depois tomar asas e voar rumo ao seu destino, porém é confortante saber que se tem para onde voltar caso necessário. Assim vivi por 15 anos da minha caminhada neste mundo.

Indo e vindo, bebendo da água da sabedoria de meus pais, abastecendo-me para seguir em frente novamente. Até que, ao ser tomada de susto, percebo que não tenho mais um ninho pra onde voltar… e agora, o que fazer?

Desesperar-me? Desistir? Fugir para uma aldeia longínqua?

Não eram as opções viáveis…

Fonte: encurtador.com.br/eFGTX

A única coisa possível a se fazer naquele momento era novamente me reinventar. Sem o conforto do lar paterno, sem um ombro pra me apoiar, tive que vivenciar o luto pela perda dos pais, administrar a vida que agora se descortinava sabendo que dali para frente não teria mais como voltar para casa.

O único recurso era criar meu próprio lar. Minha casa de passagem. Meu espaço de consolo. Juntei as forças novamente na reconstrução da vida solitária, porém desejosa de fazer dela celebres encontros, novas amizades, novos convívios, novos amores, novo futuro, novo presente.

Carpe Diem.

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Dezenas de estudantes são beneficiados com Orientação Profissional

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Sob a coordenação da Profa. Dra. Ana Beatriz Dupré, o projeto de Orientação Profissional atendeu dezenas de estudantes no último semestre. A ação é baseada no livro Orientação Profissional sob o enfoque da Análise do Comportamento, de Cynthia Borges Moura, que tem um andamento que dura de 8 a 10 semanas.

Durante o semestre, houve o desenvolvimento dos encontros em grupo de Orientação Profissional no Centro Educacional São Francisco de Assis, conduzidos pelas acadêmicas Letícia Antunes e Nayara Ferreira Marques. Já as acadêmicas Karlla Garcia Ferreira e Paula Renata Casimiro Pereira, Lílian Baptistella Lambert e Victória Resplandes D’Assunção Bosch e Alessandra Soares Araújo e Ítalo Bezerra de Sousa desenvolveram as atividades, respectivamente, Serviço Escola de Psicologia do Ceulp/ULBRA – SEPSI, na Paróquia São João Batista e com adolescentes em Medidas Socioeducativas – CREAS.

Dentre as ações do projeto, houve a Sessão Individual de pré-orientação; Sessão Definindo o problema de escolha; Sessão Conhecendo-se para escolher; Sessão Relacionando características pessoais e profissões; Duas sessões seguidas com o intuito de investigar as profissões, de modo a selecionar profissões de interesse e realizar leituras sobre as de interesse, além de promover a discussão acerca da importância da pesquisa e da informação profissional sobre a seleção de critérios de tomada de decisão; Sessão Olhando as profissões por outra perspectiva; Sessão Selecionando critérios de decisão; Sessão Analisando o futuro diante da escolha presente e Sessão individual pós-orientação, com intuito de fornecer feedback a cada participante sobre seu desempenho e desenvolvimento ao longo do processo de orientação.

Além disso, a acadêmica Rafaela A. Martins, que compõe a equipe, desenvolveu sua pesquisa de TCC com baseada no programa que o projeto de extensão tem seguido, com o seguinte tema: Dinamizando um Protocolo de Orientação Profissional.

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Pessoas excessivamente voltadas para si mesmas tornam-se frias, diz Alberto Nery

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Psicólogo referência em Logoterapia também alerta que universidades devem ampliar os campos teóricos, hoje focado na Psicanálise ou nas linhas comportamentais

O (En)Cena entrevista o professor da Faculdade de Psicologia do Centro Universitário Adventista de São Paulo – UNASP, Alberto Domeniconi Nery, que vem desenvolvendo um profícuo trabalho de divulgação da Logoterapia, abordagem de base humanista e fenomenológica ainda pouco explorada nas universidades brasileiras.

Na entrevista, Alberto Nery chama a atenção para a retomada do processo de ‘coisificação’ do ser humano, como se o mesmo fosse um homem-máquina. Além disso, alerta para os riscos do fim das utopias, o que acaba gerando um cenário de desesperança e medo. No mais, dentre outros aspectos, Nery destaca a importância de o psicólogo dialogar com várias áreas do conhecimento, como religião, filosofia e sociologia, processo que só enriquece a atuação profissional.

Alberto Nery é mestre em Psicologia Social e do Trabalho pela USP (2014), possui graduação em Teologia pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo (1999) e graduação em Psicologia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (2005). Atualmente cursa o Doutorado em Psicologia Social na Universidade de São Paulo, atua como Psicólogo Clínico e professor na Faculdade de Psicologia do Centro Universitário Adventista de São Paulo – UNASP, além de ter experiência de atuação como professor, capelão e pastor em igrejas e instituições da Igreja Adventista do Sétimo Dia.

(En)Cena – Qual o panorama do ensino da Logoterapia nas universidades brasileiras?

Alberto Nery – Na verdade, a presença da Logoterapia nas universidades brasileiras ainda é muito pequena. A maior parte das pessoas com as quais converso, tanto aquelas que já conhecem a teoria, quanto aquelas que estão conhecendo através de uma aula, palestra ou conteúdo que postei nas redes sociais, acabam me falando a mesma coisa: que durante a graduação nunca ouviram falar da Logo. Esse foi o meu caso, por exemplo. Então o que acaba acontecendo é que depende muito do professor, principalmente os de teorias humanistas-existenciais, teorias da personalidade, história da psicologia… Se eles não falam, a Logo não aparece. É uma pena.

As universidades brasileiras em geral preferem ensinar psicanálise e psicologia experimental e suas variantes. Mesmo a psicologia humanista-existencial tem pouco espaço. No Unasp-SP, onde leciono, não temos uma disciplina específica de Logoterapia, mas em todas as disciplinas que ministro, faço questão de mostrar a teoria. Além disso, oferecemos a prática clínica de Logoterapia nos últimos semestres.

A partir das minhas experiências, entendo que deveria haver mais espaço para Logoterapia na Universidade, pois o interesse dos alunos é enorme. As supervisões ficam sempre cheias e com lista de espera… Há um desejo dos estudantes de Psicologia em conhecer outras teorias e assuntos, e a Logoterapia atende essa necessidade, principalmente pela sua perspectiva holística, que abre espaço para um olhar positivo sobre a espiritualidade humana.

(En)Cena – Viktor Frankl foi um grande exemplo de fé no futuro e de resiliência… estes conceitos estão em xeque, na contemporaneidade. Quais as consequências psicológicas decorrentes da degradação das utopias?

Alberto Nery – A consequência direta é uma vida voltada apenas para si mesmo e para o momento que a pessoa vive. As pessoas se tornam mais frias. A perda da esperança no futuro é um dos piores golpes que a sociedade recebe, pois prejudica o desenvolvimento de projetos de vida que envolvem o que está por vir. Essa aliás é uma das características mais fortes da contemporaneidade.

(En)Cena – Há um aspecto transcendente na obra de Frankl. Isso se coaduna com a noção de lançar-se para o futuro. Seria uma boa alternativa para uma sociedade excessivamente imediatista?

Alberto Nery – Totalmente. A Logoterapia incentiva o indivíduo a viver de forma responsável no presente, compreendendo que aquilo que faz hoje irá se refletir no seu futuro. Além disso, apresenta a noção de transitoriedade da vida, o que nos leva a entender que o presente, seja ele bom ou ruim, vai passar, por isso precisamos nos planejar para o que está por vir também.

(En)Cena – Ao que parece, uma das bases epistemológicas da Logoterapia é a Fenomenologia, que faz uma forte crítica ao positivismo ou a ‘coisificação’ do ser humano – a partir do conceito de homem máquina. Parte da Psicologia flerta com esta ideia. Qual a sua opinião sobre o assunto?

Alberto Nery – Pois é, parece que vivemos uma espécie de “revival” das tendências reducionistas e deterministas da passagem do séc 19-20. As mesmas que Frankl e os representantes da Psiquiatria Existencial tanto criticaram. Dessa vez, no entanto, elas se apresentam sob a bandeira da Psicologia Evolutiva e das Neurociências. A meu ver, os efeitos diretos disso são os mesmos que Frankl já apontou no passado. A tendência de olhar para o ser humano como uma “máquina que precisa ser consertada”, e a falta de expectativas positivas em relação ao ser humano. O que prejudica o processo de evolução do mesmo. Mais uma vez, citando Frankl: “se olhamos para o ser humano como ele é, fazemos dele alguém pior. Precisamos olhar o seu potencial, para que ele seja o que pode vir a ser…”

(En)Cena – Atualmente, quais teóricos do cenário internacional vem tocando os estudos em Logoterapia?

Alberto Nery – Estive no último Congresso Mundial de Logoterapia em Moscou, e fiquei animado com o que vi. Muitos teóricos ao redor do mundo levando a Logoterapia adiante. Não daria para citar todos aqui, mas os que me chamaram mais a atenção foram: Dr. Carl Becker (um americano radicado no Japão), Dr. Haddon Klingberg (EUA), Dr. Geronimo Acevedo (um dos pioneiros na América Latina) e o Dr. Marshall Lewis (EUA). Fora isso temos o Dr. Alexander Bathyanny que dirige o Instituto Viktor Frankl de Viena. Mas obviamente estou simplificando aqui, pois há muitas pessoas desenvolvendo a Logoterapia no mundo atualmente.

(En)Cena –  Por que muitos psicólogos ainda não conseguem compreender a interface entre a Psicologia e a Espiritualidade? Há uma diferença substancial entre Espiritualidade e Religião, sim?

Alberto Nery – Eu diria que o problema é que os psicólogos, de maneira geral, sequer têm a oportunidade de estudar o tema nos diferentes programas de graduação e pós-graduação. Como não há espaço para este assunto, então a maioria dos psicólogos não está preparada para lidar com o mesmo. Em alguns casos ainda se ensina que espiritualidade ou religiosidade não é um assunto que deva ser tratado na clínica, isso é um absurdo dado que mais de 90% da população brasileira se classifica como religiosa em algum grau.

Então o que temos na verdade, é uma falta de oportunidades para se ensinar e discutir o assunto. Por outro lado, sempre que o tema é trazido à tona, pelo menos da parte dos estudantes em psicologia, o interesse é grande. Na Universidade de São Paulo, por exemplo, nós temos vários grupos de estudos voltados para essa psicologia religião espiritualidade. Há mais de 30 anos o professor Geraldo Paiva desenvolve essa área, e mais recentemente o professor Wellington Zangari tem promovido o estudo da psicologia da religião e espiritualidade e liderado esses grupos.

Meu orientador, o Dr. Esdras Vasconcellos, pioneiro no estudo e ensino do stress no Brasil, é outro representante da Psicologia na USP que abre o caminho para o estudo da Religiosidade e da Espiritualidade sob a perspectiva da Psicologia da Saúde, tanto em suas aulas como nas dissertações e teses que orienta. Além disso temos a presença do Professor Francisco Lotufo, uma das referências na área, lecionando regularmente no Instituo de Psicologia da USP.

Certamente, hoje no Brasil, a Universidade de São Paulo é um dos lugares mais abertos a esse tipo de estudo. Mesmo sendo uma universidade laica. Creio que isso já está ajudando a mudar esse cenário. Quanto a diferença entre religiosidade e espiritualidade, entendemos que sim, ela existe. E de maneira bem simplificada diríamos que a religião é um sistema de crenças e práticas mais formalizado, ela é a forma, é como a religiosidade se mostra em boa parte dos casos. Já a espiritualidade, tem mais a ver com o conteúdo, com a atitude daquele que crê em algo ou alguém. Não é necessariamente formalizada ou institucionalizada. A espiritualidade pode acontecer na religião ou fora dela basicamente. Essa seria uma das diferenças fundamentais.

(En)Cena –  Quase sempre um bom profissional de Psicologia não fica circunscrito apenas a esta área de saber. É comum ter psicólogos que também se graduam e/ou se especializam em Filosofia, Sociologia, Teologia, Pedagogia e Neurociência, só para citar alguns exemplos. Quais suas outras áreas de interesse/pesquisa? Por quê?

Alberto Nery – No meu caso as áreas de interesse são múltiplas. Minha primeira formação foi em teologia e trabalhei dentro dessa área por quase 15 anos. Ainda hoje é um dos meus grandes interesses em termos de leituras e estudos pessoais. No entanto filosofia também ocupa um lugar importante.  Até porque, a meu ver, é impossível compreendermos o indivíduo contemporâneo sem estudar filosofia e também a sociologia.

Como estou na área do ensino, a pedagogia também faz parte dos meus interesses, não tem como fugir. E das Neurociências nós não podemos escapar, uma vez que ela é parte importante da psicologia. Enfim acho que eu me enquadro no cenário que você descreveu… Assim como muitos outros psicólogos. Nós pertencemos a uma área que nos permite esse olhar múltiplo e colocar isso em prática é essencial. Em termos práticos e de pesquisa tenho estudado principalmente a psicologia da religião, a psicologia da saúde e a psicologia clínica. Minhas pesquisas e estudos estão praticamente todos dentro dessas áreas de abrangência e principalmente, nas zonas de intersecção entre elas.

(En)Cena – O senhor está à frente do Instituto de Psicologia e Logoterapia, em São Paulo, e tem uma forte presença nas redes sociais, com a divulgação das ideias de Frankl. Já há formação on-line oferecida pelo instituto? Em que pé se encontra?

Alberto Nery – O IPLOGO (Instituto de Psicologia e Logoterapia) é o Instituto que eu criei. É uma ideia relativamente nova, que surgiu com o primeiro curso livre de Logoterapia que ministrei em 2017. Desde 2018, iniciei um curso de formação presencial com duas turmas. Na medida em que comecei a divulgar o meu curso e o trabalho do meu Instituto, principalmente através do meu Instagram @logoterapiabr, foi surpreendente o fato de que a grande maioria das pessoas que me procuravam e procuram, são de outros lugares e apresentam uma demanda de uma formação em cursos on-line.

Em função disso no momento estou trabalhando para dar o curso presencial ao modelo Ead. Em agosto abrirei inscrições para a primeira turma de formação em Logoterapia on-line do Brasil. A expectativa que tenho é a de conseguir atingir um número de pessoas que não teria acesso a uma formação em Logoterapia de outra forma. Vale lembrar que iniciativas dessa natureza já são realizadas com sucesso nos Estados Unidos e na Austrália.

(En)Cena –  O senhor também tem uma carreira na docência do ensino superior. Como é conciliar a clínica com a docência?

Alberto Nery – Sim, eu também leciono em um curso de graduação em psicologia no Unasp-SP, e realmente a conciliação da clínica com a docência é um desafio, uma vez que ambas exigem bastante da gente. Por outro lado, a docência nos obriga a estarmos em constante atualização e estudando sempre, o que acaba tendo um impacto positivo na clínica, uma vez que estamos sempre bem preparados. Mas o grande desafio, creio que seja a questão do tempo disponível. Então acabamos fazendo alguns malabarismos para dar conta de ambas as atividades

(En)Cena –  O que mais gostaria de destacar?

Alberto Nery – Gostaria de destacar, que a meu ver, embora com algumas décadas de atraso, finalmente a Logoterapia está encontrando seu lugar na psicologia brasileira. Vejo iniciativas em diferentes lugares, e vejo principalmente o grande interesse dos psicólogos no assunto. Isso é muito importante, porque trata-se, a meu ver, da teoria mais adequada para compreensão do indivíduo contemporâneo.

E, além disso, é uma teoria que pode ser estudada em conjunto, em paralelo com outras. Sendo assim, o conhecimento da Logoterapia só acrescenta em termos de teoria e prática para os psicólogos, ainda que eles sejam de diferentes abordagens. Então, creio que nos próximos anos, ouviremos falar cada vez mais sobre a Logoterapia e teremos cada vez mais logoterapeutas atuando no Brasil. Particularmente, tomei isso como uma missão pessoal e tenho me esforçado para que o cenário mude. Não tenho dúvidas de que isso irá acontecer. Obrigado pela oportunidade de falar da Logoterapia aos alunos da ULBRA.

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