Gregos e romanos continuam a influenciar nossas vidas até hoje

Compartilhe este conteúdo:

Ao analisar o livro “Amor, Sexo e Tragédia” é possível conhecer que na atualidade existem muitas semelhanças com a Grécia Antiga. Trata-se de um olhar da sociedade, que dita, como devemos ser ou agir. Mas, ao mesmo tempo, sofre grandes conflitos e divisão de pensamentos. Dito isso, o presente documento focará nos capítulos “O Corpo Perfeito”, “Coisa de Homem” e “O corpo feminino-macio e esponjoso, depilado e recatado”, por Simon Goldhill.

A civilização grega vai muito além da sua mitologia. Nossa sociedade sofre grande influencia por parte dos gregos da antiguidade e a herança que recebemos ainda é facilmente encontrada no nosso cotidiano. Os jogos olímpicos, possivelmente são um dos legados mais óbvio. Esse evento, que acompanha as mais diversas modalidades e que é acompanhado pelo mundo todo, teve origem na Grécia Antiga e era considerado um ato religioso. Os jogos aconteciam em ginásios, local este de grande importância para os gregos. Lá os homens ficavam nus e recebiam todos os tipos de educação. Praticavam exercícios físicos para fortalecer o corpo para os jogos olímpicos, e, até mesmo para a guerra. Além disso, também estudavam música e poesia.

A cultura Grega Antiga é frequentemente associada à nudez. Para especialistas há uma diferença entre estar nu e a nudez. Estar nu para os gregos é algo acidental, é como ficar sem roupa de forma não intencional ou então se trata de uma parte de encenação de nobreza, mas a nudez é uma atitude intencional. É como um uniforme que se veste e quando se tira a roupa: “nudez é o uniforme dos justos”. Também questiona os costumes sociais, amorosos e percepções acerca da sexualidade. Traz reflexões gerais acerca do corpo feminino e aborda algumas polêmicas, referindo-se com insulto ao corpo feminino, pois a história sempre falou bastante do corpo masculino, e até o capítulo 2 do livro “Amor, Sexo e Tragédia”, o autor trata apenas deste assunto. O capítulo 3, “O corpo feminino – macio e esponjoso, depilado e recatado” traz a narrativa a ser contada sobre a exibição do corpo feminino (Goldhill, 2007).

Fonte: goo.gl/sXukR6

Pode-se dizer que o corpo feminino seja considerado ainda objeto particular para o discurso médico, legal, religioso, midiático, cotidiano, artístico e literário, de acordo com Goldhill.

 O Corpo Perfeito

Desde sempre é possível ver as pessoas buscando diversas formas de alcançar o corpo perfeito, mas o que é ele, afinal? Levando em conta que, desde a antiguidade não é tão fácil se ter o tal sonhado corpo perfeito. Na Grécia Clássica exigia-se muita dedicação e isso significava praticar exercícios físicos no ginásio.  Segundo Goldhill o ginásio testava a masculinidade, e não apenas atividades físicas. Era também um lugar de encontros eróticos. Homens se exibiam e comparavam uns aos outros e a si mesmo em referência do que era um corpo perfeito. Mas, entretanto, houve uma época em que os gregos tiveram como inspiração nas suas obras de arte: estátuas que representavam um modelo de corpo ideal. As estátuas são figuras de homens nus e fortes, mas ao mesmo tempo, magros e nem exageradamente musculosos, como vemos nos dias atuais.

Considerava o homem como o centro do universo, mas, sobretudo existia uma grande ameaça, pois se quisesse deixar um grego furioso, era comparar o seu corpo ao corpo de uma mulher.
Embora na Grécia Antiga lançasse um novo olhar sobre a representação do corpo humano, tal cultura do corpo estava ligada a quase todos os aspectos e era visto como uma representação da lua, das estrelas, do sol, das ondas ou das ideias de justiça, de vingança e da persuasão.

Coisa de Homem

Para cada um, os símbolos do corpo têm um significado, e em cada época vê-se e interpreta-se de diferentes formas; as leituras do corpo vão mudando de tempos em tempos. O “belo corpo” ou “modelo de corpo” é uma herança clássica que sobrevive em dias atuais. “Todas essas imagens corporais nos ditam como ser, como pensar sobre nós mesmos, como nos enxergarmos”. No entanto, a diferença entre o mundo antigo e atual dificulta a obtenção de uma visão clara do porque fazemos exatamente o que fazemos com as imagens do corpo, e o que esta imagem diz sobre quem somos.

Fonte: goo.gl/PwKQvw

A forma como se via esse corpo era muito complexa. Exibiam-se estátuas com pênis eretos, que era a simbologia de fertilidade e virilidade. Porém, a tradição cristã cobria com folhas o falo, que era sempre representado com o pênis ereto. A alguns eram arrancados e guardados em gavetas de museus.  Entretanto, o falo era uma arma para proteger jardins e pomares contra ladrões, representando assim uma ameaça e um símbolo de poder.

O homem grego dava grande importância ao corpo forte e sadio, as estátuas exibiam corpos esculturais, mostrando músculos bem definidos. Na Roma antiga isto também era valorizado, e além de estátuas, também tinham campainhas de portas na forma de pênis, e lamparinas na forma de genitais grotescos e exagerados, que foram encontrados por escavadores.

Goldhill, diz que é difícil saber quão normal, quão cafajeste ou quão divertido, algumas peças pareceriam aos olhos romanos. E surge a dúvida de como elas exatamente eram usadas.
A beleza masculina era vista como uma dádiva, um presente dos deuses para dizer o mínimo. “Até tinham uma palavra para isso – Kaloskgathos – o que significa ser bonito de se ver e, além disso, uma boa pessoa”.

Fonte: goo.gl/ZToxqN

Com o tempo estes símbolos foram modificados e atualizados conforme a época e normas vigentes. Os curadores e os guardiões da moral têm a lei ao seu lado, pelo menos na Inglaterra moderna e na maioria dos países ocidentais. Há muitos anos a lei inglesa define pornografia a exibição de pênis ereto. É a única coisa que você não pode mostrar na televisão ou jornais. Na televisão britânica, pode-se mostrar a simulação do ato sexual, violência sádica de mulheres nuas (depois das 21h), mas mesmo em um programa médico a ereção de um homem não é permitida. (Goldhill, 2007)

O corpo feminino – macio e esponjoso, depilado e delicado

Até agora o livro falou muito sobre o corpo masculino, o que não é de surpreender. Mas também existe uma narrativa sobre o corpo da mulher, o que nos leva automaticamente a fazer um paralelo entre histórias do sexo feminino e masculino. O belo foi, por séculos ou milênios, um qualificativo associado ao homem e aos artistas ditos masculinos, e não a mulher. Daí entender que, uma história da beleza é, em princípio e por muito tempo, uma história masculina. As mulheres não representavam a si mesmas, mas eram representadas por homens e, portanto, as imagens de mulher e da beleza feminina foram construções do imaginário masculino. Uma idealização. É um véu que cobre algumas coisas e deixa outras a mostra, uma forma de censura.

Para censurar o homem era fácil. Pênis flácido “ok”, pênis ereto “jamais”. Mas para reconhecer os sinais de desejo em uma mulher é mais difícil, então não se sabe exatamente o que proibir. Se o problema é a excitação sexual, qual é o sinal físico no corpo de uma mulher? E o que, no corpo de uma mulher, não poderia excitar um espectador masculino? Desde a Segunda Guerra Mundial os limites do aceitável vêm mudando radicalmente, durante muito tempo uma linha divisória ferozmente mantida era o pelo púbico, qualquer visão dele era eliminada de filmes e revistas. As estátuas masculinas sempre tiveram pelos púbicos, porém nada de pelos púbicos para as mulheres. No texto temos uma história engraçada para ilustrar, mesmo talvez ela sendo apenas uma invenção. Dizem que o crítico de arte vitoriano Ruskin, que cresceu acostumado com essas imagens, chocou-se tanto ao ver os pelos púbicos de sua mulher na noite de núpcias que o casamento nunca chegou a ser consumado.

Fonte: goo.gl/EuqKW5

Junto às formas gregas de representação, herdamos alguns dos antigos preconceitos de gênero. Enquanto estátuas de homens nus sempre povoaram as cidades, a primeira estátua de uma mulher nua chocou os cidadãos e foi desprezada e vendida para uma ilha vizinha. Nessa Ilha de Cnidos ela foi exposta em um templo ao ar livre. Esta ilha se tornou um dos mais famosos locais de turismo do mediterrâneo antigo, ela era famosa por sua beleza erótica. Os homens babavam e até se apaixonavam, e de acordo com uma história engenhosa, um rapaz teria tentado mesmo copular com ela deixando as marcas de sêmen na coxa da estátua, o que faz com que os ouvintes olhem fixamente entre as pernas de Afrodite.

Enquanto nas estátuas masculinas o homem está disponível ao olhar do público, a estátua feminina faz um jogo de esconder e revelar, o observador sempre procura ver o quanto do corpo está a mostra. Como é exatamente que a observação de imagens corrompe o observador? Quando é que o prazer de observação se torna um impulso perverso? A verdade é que ser um homem bonito era fundamental, mas ser uma mulher bonita era um problema, a beleza feminina leva os homens a loucura e os submetem a elas, inaceitável.

Uma mulher pode ser sensual e bela, mas seu corpo é subjugado à regulamentação e ao controle dos homens. Não se pode olhar para uma mulher da mesma forma que se olha para um homem. A medicina é uma das maneiras como o lugar da mulher na sociedade é demarcado, é a disciplina dominante na percepção da carne e dos ossos humanos, e a medicina grega persistiu como modelo para a ciência ocidental por muito tempo, formulando a nossa compreensão do corpo, e modificando a nossa visão sobre o corpo da mulher. O cânone perfeito é masculino. O sistema grego de representação dos corpos femininos e masculinos nos faz sentir o corpo como fundamento da existência, o ser humano é uma coisa física. Mas quem realmente quer ser amado somente pelo corpo? Há uma história grega dentro de todos nós ao olharmos no espelho, mas histórias podem ser mudadas.

Dele e dela – uma história de amor?

A história do desejo moderno, como a do corpo moderno, tem uma base que remonta à Grécia e que, da mesma maneira que o corpo, ressalta de forma chocante, tanto a nossa diferença do mundo clássico como o que dele herdamos. Muitos românticos dizem que o amor é igual no mundo inteiro, mas não é. A sociedade ocidental moderna privilegia uma mutualidade de vínculos ao longo do tempo e as pessoas que rejeitam o ideal de reciprocidade – até que a morte nos separe – são estigmatizadas como sedutor, mulherengo, prostituta, etc.

Mas não existe norma moral ou ideal parecido na Atenas antiga. Isso não significa que os homens clássicos não eram afetuosos, a relação entre homens e mulheres era expressa muitas vezes como um laço de responsabilidades, obrigações e respeito. A família deve continuar, assegurada através de gerações. Mas sentir desejo pela esposa só pode constituir um erro trágico ou cômico, como Sêneca diz: “Deitar-se com a esposa como se fosse ela uma amante é tão odioso como cometer suicídio”.

Fonte: goo.gl/uUr47p

Como marido, o eros de um homem poderia ser dirigido a uma amante, um menino, uma prostituta e embora fosse muito arriscado, à esposa de alguém. Declarações de paixão públicas e explícitas deveriam excluir a própria esposa. Na obra de Homero, o desejo sexual, para um homem, representava sempre um perigo, e para a mulher, um sinal de corrupção da norma adequada. Naquele universo, quando um homem sentia desejo ele deveria se precaver. Os malvados pretendentes de Penélope sentem desejo quando estão sendo burlados em direção à morte. A mesma configuração é feita nos dramas da clássica cidade de Atenas. Qualquer mulher que articule seu desejo sexual torna-se monstruosa, como Medéia, que assassina os próprios filhos, e Clitemnestra que assassina o marido.

Apesar do grande objetivo em comum de manter um lar por meio do vínculo do casamento, o vínculo hierárquico entre homem e mulher não deixa espaço para o desejo sexual recíproco e compartilhado. O homem adulto quer ser tratado com respeito, humor e deferência, mas não quer ser submetido ao controle do outro. Autocontrole significa controlar seus desejos, sua mulher e seu lar, se isso toma conta dele, corre-se o risco de ser alvo do ridículo, humilhação e destruição. Uma piada sobre isso, conta Plutarco, descreve um homem que era zombado pelos amigos pois a garota com quem se relacionava não gostava dele de verdade, então ele responde: “Quando vou ao restaurante como peixe, e não me importo com o que o peixe pensa de mim”. Brutal, mas capta como era a reciprocidade, “Você me ama?” não era uma pergunta grega.

Considerações Finais

Considerando que a beleza e o asseio eram para os gregos antigos dois requisitos importantes, tanto em esculturas como em vasos, podemos admirar homens e mulheres vestindo túnicas de pregas suaves e em poses graciosas. Proponhamos que os corpos eram usados como linguagem, status, beleza nu ou coberta, identificando raça, religião e expressando a cultura de cada povo. A diferença é o que faz cada um tão especial. Não fomos feitos padronizados, somos únicos. Corpos culturalmente transformados para a convivência e aceitação pacifica com o meio e, sem essa de diferença de homens e mulheres, por exemplo.

O conhecimento sobre o corpo e vivência no corpo é o que nos possibilita compreender a nossa existência no mundo, pois é por meio dele que construímos significados e assim ocupamos espaços, comunicamos, interagimos e nos constituímos como identidades individuais e coletivas.

 Partindo deste pressuposto, somos todos iguais, porém com diferenças e formas de visualizar o mundo. Tudo se define através de sua cultura. A cultura americana, por sua vez, os corpos cultivados e aceitos são esbeltos, definidos e com músculos trabalhados, porém sempre existe o outro lado, onde os padrões são diferentes para diversos povos e épocas; muitas vezes o que é considerado algo bizarro e feio, para alguns povos, é algo com significado especial, e para outros busca pela aceitação social.

Fonte: goo.gl/6PQHsH

Contudo, a filosofia grega juntamente com o pensamento e a ética cristã e o direito romano, são o tripé da sociedade ocidental. Levando em conta todo esse legado, percebemos a enorme influência dos gregos em nossa cultura e o seu papel decisivo para nos definir ocidentais.

REFERÊNCIAS:

GOLDHILL, Simon. Amor, sexo & tragédia: como gregos e romanos influenciam nossas vidas até hoje. Tradução: Claúdia Barbela. Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed., 2007.

A beleza na Grécia Antiga e Hoje. Disponível em < http://www.ensinarhistoriajoelza.com.br/a-beleza-na-grecia-antiga-e-hoje/ >. Acesso 02 mar. 2018.

Compartilhe este conteúdo:

É preciso combater a amnésia histórica, educacional e artística

Compartilhe este conteúdo:

O grupo composto pelos acadêmicos Elisete, Iolanda, Rísia e Wagner apresentaram a obra de Goldhill, que discorre como a Grécia Clássica influencia nos modos de ser, até hoje. A dinâmica ocorreu dentro da disciplina de Antropologia. O grupo introduziu o tema através de uma encenação, na qual Iolanda e Wagner dialogavam sobre Platão, Sócrates e seus ensinamentos.

Grupo encenando. Foto: Sabrinne Silva.

Durante o diálogo, foi abordada a bibliografia de Platão e suas correntes filosóficas. Trata-se de um grande filósofo, discípulo de Sócrates, que estudou leitura, escrita, poesia, pintura e música. Já Sócrates, foi considerado um dos principais pensadores gregos, tendo influenciado profundamente a filosofia ocidental. Defendeu seus ideais e, segundo o grupo, morreu em função deles, uma vez que optou por permanecer na prisão para enfrentar a execução.

Sócrates questionava as visões tradicionais e defendia a vontade do povo. Acreditava que a democracia partia de três princípios básicos, sendo eles a responsabilidade, igualdade e liberdade. A responsabilidade dizia respeito ao poder público em executar suas funções. A igualdade dizia respeito aos direitos iguais perante a lei. E a liberdade ao direito de expressão sem censura. Após abordar estes conceitos, foi transmitido um vídeo ao qual conceituava democracia e sua evolução, enquanto poder da população.

Fonte: https://goo.gl/894kV8

De acordo com o grupo, existem diferenças entre o sistema antigo e o moderno de democracia. No sistema Ateniense, dizia-se a vontade do povo, porém, as decisões eram restritas a uma Assembleia soberana, que representava um grupo particular desta comunidade. Enquanto o sistema moderno propõe a democracia como poder do povo, no qual cada cidadão exerce seu poder de escolha através de mecanismos como o voto. Assim, a eleição de um representante, embora o partido escolha os representantes a serem votados, partem de programas coletivos, constituindo assim as opções às quais os cidadãos têm como escolha.

Baseado em Platão, há uma justificativa para o sistema moderno democrático, que consiste na crença de que o eleitorado não possui habilidade suficiente para votar diretamente sobre temas complexos, havendo assim, a necessidade de um representante que o faça. Já na contemporaneidade, o eleitorado não elege representantes em prol de uma figura que o represente. Foram apresentados três fatores que podem estar associados à escolha de representantes, são eles: ignorância, interesse próprio e volatilidade. O que demonstra que atualmente os representantes são escolhidos em prol desses fatores, e não pelo bem coletivo, tal como proposto no sistema ateniense.

A partir dessas reflexões, chega-se aos questionamentos feitos por Simon Goldhill: “O que você pensa que é?”, “Aonde pensa que vai?”, “De onde pensa que vem?”, dentre outros. A reflexão trazida é que a contemporaneidade é cercada por pensamentos disseminados no passado. Devemos utilizar do conhecimento antigo para que os mesmos erros não sejam cometidos. Para Simon Goldhill, ignorar a história é impedir a evolução, portanto, deve-se fugir da amnésia histórica, educacional e artística, para que então possamos compreender o presente e evoluir enquanto sociedade.

Simon Goldhill. Fonte: https://goo.gl/mwNPQu

Após a conclusão, foram narradas algumas frases que demonstram os pensamentos de Sócrates e Platão. Houve ainda a realização do sorteio de um livro, onde o integrante Wagner escolheu aleatoriamente um número e através da lista de chamada disponibilizada pelo professor, a aluna Lorena correspondia ao número escolhido e foi sorteada.

Nesse ínterim, foi uma apresentação enriquecedora, uma vez que o grupo utilizou de vários recursos para prender a atenção dos demais colegas. Houve um grande empenho em repassar o conteúdo de forma dinâmica, ao qual foi demonstrada uma excelente habilidade de encenação. O conteúdo foi apresentado de forma leve, o que facilitou a absorção das ideias e pensamentos dos autores estudados. Foi uma experiência inovadora, gratificante e envolvente.

Finalização da apresentação. Foto: Sabrinne Silva.

Nota: A apresentação sobre esta temática ocorreu na sala 203, no dia 08 de novembro de 2017, no período noturno, na disciplina de Antropologia do curso de Psicologia do Ceulp/Ulbra.

Compartilhe este conteúdo:

Amor, Sexo e Tragédia: como Gregos e Romanos nos influenciam até hoje

Compartilhe este conteúdo:

O livro Amor, Sexo e Tragédia mostra que o que a maioria das pessoas faz na atualidade já existia na Grécia Antiga. O modo de olhar da sociedade Ocidental deve muito à cultura e à civilização dos gregos e romanos. Muitas foram as contribuições deste modelo civilizatório para o ocidente, e mesmo na atualidade, muito do modo de pensar e ver o mundo ainda contém influências advindas desta época. Dito isso, o presente ensaio focará nos capítulos “O corpo feminino-macio e esponjoso, depilado e recatado”, “Dele e dela-uma história de amor?”, “O amor grego” e “Um homem é um homem é um…” por Simon Goldhill.

Não é hábito do dia-a-dia questionar-se acerca da etiologia dos costumes sociais, amorosos e percepções acerca da sexualidade. O corpo e a sexualidade não é apenas o que a medicina explica. Através de análises da maneira como a sociedade lida com estes aspectos é possível entender a representação que foram para Gregos e Romanos. Não por menos, que as obras de artes por eles deixadas falam muito sobre isto.

Fonte: http://zip.net/bctHxC

Reflexões gerais acerca do corpo feminino produzem uma polêmica nos meios. A história sempre falou bastante do corpo masculino, e até o capitulo 2 do livro “Amor Sexo e Tragédia”, o autor, trata apenas este assunto. O capitulo 3 “O corpo feminino – macio e esponjoso, depilado e recatado” traz a narrativa a ser contada sobre a exibição do corpo feminino (Goldhill, 2007).

Pode-se dizer que o corpo feminino seja considerado ainda objeto particular para o discurso médico, legal, religioso, midiático, cotidiano, artístico e literário. De acordo com Goldhill:

Mas as coisas são bem diferentes e bem mais obscuras quando se trata do corpo feminino e da procura por sinais inaceitáveis de excitação sexual. Como muitos homens aturdidos, a lei também tem maior dificuldade em reconhecer os sinais do desejo sexual em uma mulher, e não sabe exatamente o que proibir. Se o problema é a excitação sexual, qual é seu sinal físico no corpo de uma mulher? E o que, no corpo de uma mulher, não poderia excitar um espectador masculino? (GOLDHILL, 2007, p.40).

Muitas destruições existiram durante e após este período, mas o ser humano nunca perdeu sua capacidade de se reinventar e reconstruir sua existência sobre escombros, dramas, catástrofes e dificuldades as mais diversas (Brazil, 2005).

O quarto capítulo, “Dele e dela – Uma história de amor” trata-se da exaltação do corpo feminino perfeito, no qual atrai olhares e exalta os corações humanos, versa sobre a cultura da Grécia, em relação as diversas formas de expressar o amor e da sua influência no mundo moderno. Diante disso o autor aponta que,

Atualmente, as normas sociais e os tabus das regras atenienses sobre o desejo são menos conhecidos. Mas a questão de como os atenienses amavam é extraordinariamente esclarecedora para nossas próprias, e mais íntimas, atitudes com relação a nós mesmos e a nossos corpos (GOLDHILL, 2007, p. 47).

Apresenta que, a forma como o amor é visto no mundo contemporâneo, quando se trata do corpo, desejo moderno, remota um pensamento, cultura e costumes da Grécia antiga, o que contradiz o clichê moderno que “o amor é igual no mundo inteiro”.

Fonte: http://zip.net/brtHC9

Cada um tem suas particularidades em relação ao amor, podendo haver história de amor com pessoas do mesmo sexo. No entanto, o Ocidente Moderno traz sempre aquela ideia de que o amor mais aceito é aquele no qual ocorre entre sexos opostos, independentemente da idade (GOLDHILL, 2007). Conta uma história de um homem que transou com uma garota de 13 anos, antes de se casarem, e que logo depois se matou, seja considerado a figura arquetípica do herói romântico. O fato de Romeu simbolizar o papel do amante na imaginação moderna, tem muito mais haver com a peça de Shakespeare, do que com os verdadeiros fatos da história.

Na cultura moderna, o nome Romeu – “o que há em um nome? ”- evoca imediatamente um suspiro lacrimejante em direção a uma sacada e a busca do amor verdadeiro apesar das barreiras das restrições sociais e disputas familiares (GOLDHILL, 2007, p.48). Percebe-se, com tais fatos relatados uma proximidade com relações na sociedade contemporânea, na qual não existe apenas um modelo de relacionamento, pois cada ser humano é livre para fazer suas próprias escolhas.

Se tratando da Grécia clássica não existe história relacionada a amor perfeito ou amor desventurado. Traz como exemplo a história de Ulisses e Penélope, visto como uma história de amor na qual o esposo é convocado para uma guerra, e Penélope aguarda com fidelidade seu retorno para casa. No entanto, não existe nesse relacionamento expressões de amor apaixonado, como: “eu te amo”, “senti sua falta”, como seria o mínimo esperado pelo Ocidente moderno, tendo em vista que o esposo estava longe de casa (GOLDHILL, 2007).

Fonte: http://zip.net/bmtHvP

Sócrates personifica o marido grego, quando no leito de morte expulsa a esposa lacrimosa para passar suas últimas horas conversando com seus companheiros. Paixões monstruosas e assassinas corrompem os corpos das heroínas das tragédias gregas, mas elas não são jamais destruídas por um belo e delicado amor. Não existe “Romeu e Julieta na Grécia clássica” (GOLDHILL, 2007, p. 48).

Os gregos, ao se referir ao amor costumam fazer uso da palavra eros para expressar os seus profundos sentimentos de desejo, atração e não o amor propriamente dito no sentido romântico, visto como algo divino, puro. Nesta perspectiva, o autor Goldhill (2007, p. 48), alude que, “em um contexto sexual, ele é com frequência escrito como uma doença, uma chama ardente e destrutiva, que não é absolutamente desejada por sua vítima”.

O amor eros não espera esse reconhecimento de amar e ser amado, como vemos na sociedade moderna essa necessidade, ou seja, no amor eros não faz diferença se o amor é ou não reciproco, não interessa se será feliz ou infeliz, o que importa é a satisfação do desejo no momento.

O capítulo 5 intitulado de “O amor grego” mostra que na relação de homens com homens, antigamente os mais velhos podiam ficar com meninos que estavam entrando na puberdade, que tinham por volta de 12 anos. Os homens mais velhos procuravam no menino o chamado “Corpo Perfeito”, que era quando um menino tinha um corpo definido como das estatuas da antiga Grécia. Os garotos que possuíam pelos nascendo no rosto já mostravam a passagem da adolescência para a fase adulta. Com isso os mais velhos não podiam mais ter relações com esses garotos, porque na ideologia deles estavam perdendo a beleza pura.

Fonte: http://zip.net/bktHDV

Para o homem grego na cidade clássica, o desejo que um cidadão adulto livre sente por um menino livre constituiu o modelo dominante de laço erótico. Nenhuma outra forma de contato masculino tem o mesmo prestigio, a mesma aceitação ou as mesmas pretensões ao êxtase erótico” (GOLDHILL, 2007, P.55).

Para que os homens mais velhos ficassem com os garotos, eles tinham que dar presentes e conselhos sobre a vida, e sempre estavam por perto dos garotos para mostrar que  estavam realmente interessando neles. No ato da relação sexual os garotos precisavam permitir que eles o tocassem. Sem a permissão, os mais velhos não o poderiam fazer.

Os mais velhos tinham muita paixão e desejo pelos garotos, porém a paixão não era mútua. Esse assunto pode ser relacionado com a homossexualidade, porém, a diferença é que hoje não está presente a questão da idade, podendo ter relações entre homens com qualquer idade.

Fonte: http://zip.net/bwtG8X

O capítulo seis do livro “Amor, Sexo e Tragédia”, trata de um assunto bastante complicado na atualidade, a masculinidade. Tal assunto é bastante difundido na sociedade contemporânea por diversos setores como o feminista, o homossexual e até mesmo o masculino. Ser do sexo masculino, por muito tempo significou ser um ideal de macho, alfa, provedor do sustento da casa, que de maneira alguma poderia demonstrar sentimentos, pois assim seria uma demonstração de fraqueza a qual ainda hoje é difundida. Porém nem sempre foi assim e é sobre isso que o presente capítulo discorre.

O autor inicia falando, que hoje em dia sempre que a masculinidade é questionada, se olha para o passado para a sociedade grega, com olhos saudosistas ou de total reprovação. Isso acontece porque, a Grécia antiga é vista sob duas visões, como um mundo pagão cujo os vícios foram gradativamente sendo rejeitados em detrimento do surgimento de uma moralidade moderna, ou como um paraíso perdido anterior à prisão do desejo pela sociedade moderna.

A verdade é que a vida social, civil e política na Grécia era comandada por homens, e o mais elevado status social era delegado aos homens detentores do saber. Naquela época era muito comum a prática da pederastia, que consiste em uma relação sexual entre homens mais velhos (os mestres) e um rapaz mais jovem (que ofereciam sede pelo conhecimento e sua beleza), ou seja era totalmente permitida e até bem vista a prática da homossexualidade.

Muitas vezes os gregos usavam a mitologia metaforicamente, para explorar a fronteira entre o humano do bestial. O autor cita no capítulo o exemplo dos sátiros, criaturas metade humano e metade bode, que faziam tudo o que os meninos bem-comportados não podiam fazer. Geralmente os sátiros eram desenhados em jarras que eram enchidas de vinho, os homens brincavam de sátiros, nas ocasiões em que se reuniam e bebiam juntos se tornavam semelhantes aos sátiros, ou seja, sátiros cruzavam e descruzavam as fronteiras da adequação masculina.

Fonte: http://zip.net/bmtHvW

Trazendo para um contexto atual, o ponto principal em que o autor toca é que existe uma enorme fragilidade da masculinidade, tanto na Grécia antiga, quanto na nossa cultura ocidental. E que embora a masculinidade seja reforçada por regras e expectativas, existem oportunidades para driblar de forma brincalhona ou transgressora, os limites e fronteiras.

Com a chegada da sociedade pós-moderna, bastante reconhecida pela época dos avanços tecnológicos, medicinais e políticos, muita coisa mudou, mas a Grécia e a Roma clássicas continuam como pano de fundo. O modo como as pessoas vivem os corpos, a sexualidade, e suas percepções mudaram pouco em comparação com o que os gregos e romanos viviam. Pode-se afirmar que a mudança principal ocorreu na maneira como é vivenciada, divulgada e vista. Enfim, a sociedade ainda vive explicitamente influenciada pela cultura clássica, no que diz respeito aos corpos, a mídia, a moda e a produção cultural.

FICHA TÉCNICA:

AMOR, SEXO E TRAGÉDIA – COMO GREGOS E ROMANOS INFLUENCIAM NOSSAS VIDAS ATÉ HOJE

Autor: Simon Goldhill
Editora: Zahar
Páginas: 300
Ano: 2007

REFERÊNCIAS:

GOLDHILL, Simon. Amor, sexo & tragédia: como gregos e romanos influenciam nossas vidas até hoje. Tradução Claúdia Barbela. Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed., 2007.

CARLOS BRAZIL, Universia Brasil, Maio 2005. Disponível em: <http://noticias.universia.com.br/ciencia-tecnologia/noticia/2005/05/27/481369/humanidade-no-pos-segunda-guerra.html# >. Acesso em: 15/03/2017.

Compartilhe este conteúdo:

Os percursos da Democracia: reflexão, crítica e conflito

Compartilhe este conteúdo:

A democracia é, atualmente, uma forma de governo que abrange todo o Ocidente. De origem grega, o termo designa o poder que é exercido pelo povo (demos: povo; kratía: poder). O presente trabalho aborda, sobretudo, a perspectiva de Goldhill (2007), para compreender o contexto de desenvolvimento desse sistema, bem como contrastá-lo com a democracia moderna. O contexto social da Grécia Antiga, mais precisamente em Atenas, no século VI a.C., contribuiu para a adoção de diversas medidas políticas, estas culminando em uma forma de governo democrático.

As sociedades ocidentais afirmam constantemente a relevância de uma política fundamentada na democracia. Esta é compreendida como a melhor estrutura de governo, desprezando-se aquelas que lhe são opostas, tais quais os regimes ditatoriais. Mais que mero exercício popular do poder, a democracia implica em reflexão, crítica e conflito [1]. Desde o seu surgimento “A discussão era indispensável […]. O povo ateniense queria que cada questão lhe fosse apresentada sob todos os seus diferentes aspectos e que lhe mostrassem claramente os prós e os contras” [2].

Fonte: http://zip.net/bptHNj

Considerando seu emprego usual nos discursos políticos de grande parte das sociedades, convém voltar-se aos primórdios da democracia para além da origem conceitual. A exploração histórica que remete a Atenas de 2.500 anos atrás se justifica ao passo que “Os democratas precisam questionar que forma deve tomar seu governo, e como ele se compara com outras formas de autoridade, hoje e no passado” [1]. O panorama fornecido pela Grécia Antiga permite que se compreenda os rumos que a democracia tomou no decorrer dos séculos, bem como suas possibilidades e limitações.

Primórdios da democracia

Atenas era governada por uma classe privilegiada de aristocratas, os quais detinham o poder político e econômico. Antes de a democracia ser implementada de fato, Goldhill destaca dois nomes que a influenciaram positiva e negativamente. O primeiro, Sólon, foi líder da cidade-Estado em 590 a.C. De acordo com o autor, dentre as medidas adotadas, destaca-se o direito de todos os cidadãos em recorrer a um júri, e a servidão tornou-se ilegal quando implicava em empréstimos feitos pelos abastados aos mais pobres. Tais ações foram positivas visto que favoráveis às classes populares.

O segundo líder, Pisístrato, tornou-se um ditador em 560 a.C. Sua influência é considerada negativa devido a liderança de um grupo de homens das colinas, visto que “A tirania era o trunfo desse […] grupo” [1]. Apesar de ser reconhecido como um tirano, o autor mencionado revela que Pisístrato realizou grandes obras que contribuíram ao desenvolvimento cultural de Atenas.

Bustos de Sólon e Psístrato, respectivamente.

Após a queda de Pisístrato e seus liderados, entra em cena a figura principal a firmar a estrutura para o estabelecimento da democracia: Cleistenes. Em 508 a.C., ele conquistou a liderança de Atenas e propôs

[…] a completa reorganização da política referente ao espaço de Atenas, e com isso o senso de pertencimento, de cidadania. Ele requeria que todo cidadão – cidadãos emancipados do sexo masculino, maiores de 18 anos – se registrasse em uma deme. […] O importante impacto político dessas bases se dava no estabelecimento de estruturas de autodeterminação em cada uma das comunidades, concedendo a elas um senso de responsabilidade por tudo o que acontecia ali [1].

As demes eram como distritos, porém, constituídas com base no sentimento de pertencimento de cada cidadão que a habitava. Atenas organizava-se em dez conjuntos de demes, formando tribos que autogeriam-se e possuíam estruturas religiosas e financeiras próprias [1]. A responsabilidade tratada acima se relaciona ao fator de grande destaque na democracia ateniense: o poder concedido aos homens, que de forma igualitária tomavam as decisões referentes a cidade-Estado. Por meio da Assembleia e das cortes populares, Cleistenes contribui à participação popular na tomada de decisões políticas, retirando da autocracia os privilégios quanto a tais questões.

A participação ativa na política era um sinônimo de cidadania, algo sobremodo relevante para os atenienses. No entanto, estabeleceu-se às custas da exclusão de mulheres, homens escravos, menores de idade ou aqueles que não fossem atenienses (nascidos em Atenas, bem como os seus genitores). Betthany Hughes destaca em documentário [3] que, “De cada três pessoas que moravam em Atenas uma era escrava. Os atenienses eram vigorosos democratas porque tinham […] os prisioneiros de guerra feitos escravos para realizar o trabalho sujo”. Corroborando com a ideia de Aristóteles quanto ao servilismo inato de determinadas classes [1], tem-se uma das bases inconvenientes sob as quais a democracia se desenvolveu.

Cleistenes. Fonte: http://zip.net/bvtHx7

Apesar dos aspectos negativos dessa democracia, a partir de Cleistenes,

Pela primeira vez, o povo de um Estado estava comprometido com a autodeterminação, com a autonomia e a responsabilidade para tomar decisões – a tarefa de governar. Cleistenes estabeleceu os princípios estruturais por meio dos quais a democracia ainda funciona: cidadania baseada em afiliações locais e nacionais, instituições administradas por e para os cidadãos, estruturas de poder combinadas e responsáveis, num sistema de controle mútuo das repartições governamentais [1] .

Estrutura democrática ateniense versus democracia moderna

O funcionamento da democracia na antiga Atenas revela o quão engajado estava o cidadão ateniense no agir político da cidade-Estado. Ali, a participação era o estandarte. Assim, é delineado o contraste entre o agir democrático em seus primeiros tempos com o dos tempos hodiernos, onde os indivíduos limitam-se a assistirem passíveis o desenrolar político de sua comunidade.

O significado de cidadania unia os cidadãos atenienses, independentemente da posição social que eles tivessem.  Aos que eram das classes mais baixas e não tivessem condições financeiras para participar de certa atividade política, como uma eleição, outorgava-se lhes dinheiro para que pudessem ir ao local no qual exerceriam papel de sujeitos democráticos. O ideal era que todos participassem enquanto sujeitos que conheciam e se importavam com seu sistema de tomada de decisões.

O modo pelo qual eram escolhidos os oficiais – exceto o posto de General –, através de seleção aleatória ou pela sorte, deixava claro que todo e qualquer cidadão poderia ser um personagem importante no agir político de sua cidade. Assim sendo, essa forma de seleção dava enorme possibilidade a grande parte dos cidadãos atenienses de atuarem em cargos públicos. Goldhill [1] ressalta que, numa década, “[…] entre um quinto e um décimo de todos os cidadãos serviria no Conselho […]”, onde eram deliberados assuntos importantes ao povo.

Fonte: http://zip.net/bvtHyk

O sujeito democrático ateniense era ativo, poderia (e deveria) decidir acerca de todos os temas importantes para a comunidade, desde as leis até iniciativas de guerras. O indivíduo se envolvia em questões cujos desfechos inevitavelmente afetariam sua vida. É evidente o contraste com as democracias ocidentais modernas, cujos cidadãos são aficionados por direitos e, de modo geral, limitam-se a somente verem seus representantes tomarem decisões por eles, muitas vezes sem consultar seu eleitorado.

Na democracia ocidental moderna, uma parcela reduzida de indivíduos é tida como apta para o agir político; na antiga, todos os cidadãos poderiam desenvolver em si o sujeito democrático, sendo personagens ativos e determinantes. Mesmo o cargo de general, ou a magistratura – postos mais elevados, sendo esta última determinada pelo sorteio de uma lista final –, “[…] permaneceram estritamente sob a autoridade da Assembléia, e não podiam dirigir ou instruir a Assembléia ou o Conselho” [1].

Ainda que distinta da incipiente democracia grega, o atual sistema assemelha-se àquela no que tange a três princípios, a saber: a liberdade de expressão, a igualdade perante a lei e a responsabilidade. O primeiro implica na liberdade que todo cidadão tem para falar, expressar-se nos eventos públicos ou governamentais. Embora o referido princípio subsista até os dias de hoje, é perceptível que na prática não ocorra da forma que deveria ser. Muitos cidadãos vivem uma falsa liberdade, onde são tolhidos e induzidos pelas classes superiores a não expressarem-se.

A igualdade perante a lei, como o termo sugere, indica que, em julgamento, um cidadão não deve ser privilegiado em detrimento de outro, ou da lei publicada. As reformas de Sólon, no que tange ao direito de apelação a corte, seguidas das ações de Cleistenes, contribuíram com o decrescimento da estrutura hegemônica autocrática.

Diferentemente das cortes modernas, não havia juízes ou advogados profissionais […]. Cada reivindicador tinha de falar por si próprio, e era julgado pelos colegas. […] Esse era um processo em aberto, debatido e anotado publicamente, regulamentado pelo estatuto da lei publicada. A seleção aleatória dos jurados evitava o suborno e decisões políticas tendenciosas […] [1].

Embora atualmente encontre-se prerrogativas tais quais o foro privilegiado em determinadas instâncias políticas, em suma, a isonomia prevalece como um princípio fundamental da democracia.

Fonte: http://zip.net/bqtH4d

A responsabilidade, por sua vez, implica em que “[…] todo homem [deve] […] se responsabilizar pela coletividade de cidadãos. Isso significa que cada homem é responsável por seu voto e suas ações, e que ele pode ser responsabilizado” [1]. Reforçando o que foi mencionado, sabe-se que a democracia grega funcionava com base em uma população restrita, excluindo escravos, mulheres e menores de idade. A democracia atual, no entanto, sobressai-se – com algumas reservas – pela conquista do direito ao voto, independente de gênero ou classe social. Contudo, Goldhill questiona determinada inércia dos cidadãos modernos, bem como o desagrado com a estrutura democrática vigente.

Críticas ao modelo democrático

Para explicar os caminhos que a democracia atual tomou, o autor citado propõe uma análise das críticas a tal sistema, principalmente aquelas feitas por Platão. Suas influências a democracia moderna residem principalmente em proposições quanto a especialização necessária para se atuar em determinado cargo, incluindo os políticos. Platão criticava a não exigência de preparo técnico e intelectual dos governantes, bem como alegava a incapacidade dos cidadãos para decidir acerca de temas políticos.

A oposição de Platão “[…] à democracia em nome da lei e da ordem continua a prover uma autoridade intelectual fundamental para governos totalitários (e democracias nervosas)”. Para o filósofo, a democracia ateniense aproximava-se da anarquia, enquanto Esparta, conhecida por um sistema social e leis rigorosas, era o modelo ideal de governo fundamentado na “ordem social” [1].

Soldados espartanos. Fonte: http://zip.net/bntG6J

Tratando-se de ordem social, outro filósofo aparece como influente no modelo atual de democracia. Sócrates, segundo afirma Goldhill, “[…] foi executado pela Atenas democrática, devido àquilo em que acreditava. O que ele ensinava, e como o fazia, parecia muito perigoso para ser tolerado pela sociedade”. O autor expressa a relação de Sócrates com a fragilidade do sistema democrático, no que tange ao “[…] equilíbrio entre a liberdade de expressão e as exigências da ordem social” [1].

Platão e Sócrates ainda hoje movem questões clássicas de democracia e liberdade de pensamento. De certo modo, ambos apresentam posições distintas, porém, mobilizam a reflexão já proposta anteriormente: a democracia implica em crítica, conflito entre “liberdade individual e a regulamentação da comunidade” [1] e divergência de opiniões. O percurso histórico acerca da democracia revela as potencialidades e fragilidades, tanto nos primórdios quanto atualmente. Winston Churchill afirma que “A democracia é a pior forma de governo, tirando todas as outras” [4]. Apesar de ter se expandido como uma estrutura de governo desejável, percebe-se que ela implica, inevitavelmente, em que haja constante discussão, tanto sobre suas bases quanto sobre os rumos a serem tomados.

É notável que a democracia moderna ampliou alguns de seus princípios, no entanto, outros decresceram no decorrer do tempo. O engajamento percebido nos atenienses, por exemplo, bem como seu grande poder de decisão política são exemplos de aspectos nos quais os cidadãos modernos mostram-se estagnados. Algumas sociedades atuais, ditas democráticas, sequer contam com a participação de parcelas significativas da população para a escolha de seus líderes. Assim como Platão afirmava, supostamente deve-se confiar as decisões mais importantes a sujeitos capacitados.

Fonte: http://zip.net/bftG35

O descontentamento com a democracia atual, conforme abordado, pode ser analisado de acordo com diversos pensamentos, dentre eles os dos filósofos Sócrates e Platão. Além das reflexões anteriores quanto a dinâmica da democracia, as proposições desses filósofos fornecem lentes para se avaliar o sistema atual, bem como os seus impasses com a ordenação social. Considerando o posicionamento de Churchill, bem como o de Goldhill, para que se mantenha a democracia deve-se sempre questioná-la e compará-la com os modelos anteriores, ou seja, implica em conhecer sua história.

REFERÊNCIAS:

ALMEIDA, J. B. Grécia – a caminho da democracia. Disponível em: <http://www3.pucrs.br/pucrs/files/uni/poa/direito/graduacao/tcc/tcc2/trabalhos2007_2/Jeronimo_Basil.pdf>. Acesso em: 04 mar. 2017.

[1] GOLDHILL, S. Amor, sexo e tragédia: como gregos e romanos influenciam nossas vidas até hoje. Tradução Cláudio Bardella. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2007. Parte III, cap. 1-5.

[2] COULANGES, 2004, p. 356 apud ALMEIDA, s.d., p. 25.

[3] A HISTÓRIA da democracia (Athens: The Truth About Democracy). Apresentação: Betthany Hughes. 2007. (95 min). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=P3yVRkvP-w4>. Acesso em 01 mar. 2017.

[4] CHURCHILL apud GOLDHILL, 2007, p. 149.

Compartilhe este conteúdo:

Safo e um ideal de amor ainda contemporâneo

Compartilhe este conteúdo:

O objetivo deste texto é discorrer sobre a influência dos gregos em nossas vidas cotidianas, ainda hoje, e de como o amor romântico é presente e de como este amor ânsia por Safo, além de ponderarmos sobre o que é natural. Mas o que é amor, desejo, realidade e sexualidade? Sempre existiram homossexuais e heterossexuais, independente das diferentes maneiras que os povos lidaram com o tema. É necessário que se faça uma discussão neutra sobre amor grego, se é que isso é possível, e descomprometida de posicionamento, mas carregada de possibilidades.

Esta análise transita nas tradições greco-latinas, que estão muito mais presentes em nossa vida do que imaginamos. Do lazer à política, da psicanálise à religião, o mundo clássico está por trás de todo o sistema de pensamento ocidental. Conhecer tais dados antigos, mas comumente atuais, se faz necessário para entendermos a aparentemente conturbada época em que vivemos, marcada por tantas formas de amar em tantos cantos, em tantas histórias.

maos-dadas

Fonte: http://migre.me/vsRNE

É preciso entender, então, as mais variadas formas de amar entre os gregos. Desta forma, há Eros, o amor desejo; Philia, o amor amigo; Ludus, amor divertido e Pragma, Amor maduro. Sobre este último, o psicanalista Erich Fromm disse que gastamos muita energia “caindo na paixão” e precisamos aprender mais como “ficar de pé no amor”. Talvez nos apropriar mais de um amor Ágape, aquele expresso de forma abnegada, despretensiosa, caridosa. Mas o que percebemos é a força crescente de um individualismo absoluto, o amor Philautia (auto-amor). Como disse Aristóteles, “todos os sentimentos amigáveis por outros são uma extensão dos sentimentos do homem por si mesmo”. Assim, cresce um amor narcisista.

Para tal discussão, conhecer sobre Safo nos ajuda a entender como nos posicionar diante de tais formas de amor. Safo foi uma poetiza grega, membro da aristocracia, nascida na Ilha de Lesbos por volta de 630 a.c, eternizada como a primeira mulher conhecida como homossexual, provavelmente devido a um famoso poema de Ovídio, o qual representa uma carta de Safo e devido a alguns de seus poemas eróticos serem dedicados a outras mulheres.

Devido à forma como escrevia e sua posição na sociedade, Safo foi exilada para a Sicília ainda jovem. Cinco anos depois do exílio, retornou a ilha de Lesbos e em Mitilene inaugurou uma escola para mulheres. Nessa escola, Safo ensinava poesia, dança, arte e música para suas alunas. No local também eram desenvolvidas atividades físicas, banquetes, cultos religiosos e concursos de beleza. As alunas, chamadas de hetarai (companheiras), vinham de todos os lugares da Grécia para serem discípulas de Safo, e há indícios de que se relacionavam amorosamente com ela e entre si.

safo-de-lesbos-jpg-1

Fonte: http://migre.me/vsSBj

Lá, as alunas aprendiam a serem “mulheres completas”, ou seja: graciosas, femininas e elegantes, segundo a ideia de feminilidade de Safo. Há alguns que dizem que a poetisa as preparava para o casamento. A partir do século XVIII houve uma maior discussão acerca da sexualidade de Safo. A maioria dos estudiosos acredita que Safo realmente mantinha relações tribais, entretanto ainda não há um consenso sobre isso. Os pesquisadores que defendem a teoria de uma Safo lésbica, utilizam como forte argumento a existência de diversos paralelos entre imagens e palavras de poemas de pederastas e de poemas da poetisa. Além disso, também se utilizam da tradução da palavra lesbiazén (felação), “fazer como as mulheres de Lesbos”, para justificar a existência de lésbicas na Ilha e transformar Safo em uma famosa amante de mulheres.

_____________________

“Nem as garotas de Pirra ou Metimna [aldeias de Lesbos] me deleitam, nem o resto da multidão de mulheres lésbias. Nada é para mim Anactória, nada a bela Cidro; Átide não mais me apraz aos olhos, como antes, nem uma centena de outras a quem amei, não sem reprovação. Homem desavergonhado, o que outrora pertenceu a muitas garotas, agora é só teu”. Safo

_____________________

Safo mostra brilhantemente como a Grécia se parece com a imaginação sexual moderna; é a figura pela qual falamos do desejo, pintamos o desejo, fantasiamos o desejo. O que herdamos da Grécia está por toda parte. De certa forma os gregos nos levam a reflexão, em suas histórias, que os mesmos encontraram diversos tipos de amor em seus relacionamentos com uma ampla gama de pessoas – amigos, família, esposas, estranhos e até mesmo consigo. Este pensamento pode nos trazer um contraste com nossa obcecada procura por uma única relação romântica, onde esperamos encontrar todos os diferentes amores empacotados em uma única pessoa ou alma gêmea.

familia-amor

Fonte: http://migre.me/vsSwq

A mensagem do amor grego, personificada em Safo, traz para nós a reflexão de alimentar as variedades de amor e conectar-se às suas muitas fontes, de acordo com que vive cada um no seu sentido de vida e nas mais variadas relações. Não procurar apenas eros, mas cultivar philia passando mais tempo com velhos amigos, ou desenvolver o seu ludus, dançando noite afora. Talvez esta seja a mais natural forma de amor advinda para o ser humano, suas mais variadas formas de amar e satisfazer-se com cada uma delas, em cada momento, com cada pessoa, de diferentes formas. Abandonando assim nossa busca pela perfeição junto ao outro, apenas pelo viés erótico.

REFERÊNCIAS: 

GOLDHILL, Simon. Amor, sexo e tragédia. Rio de Janeiro: Zahar, 2009.

MUNIZ, Fernando. Prazeres ilimitados – Fernando – Como transformamos os ideais gregos numa busca excessiva pela satisfação dos desejos. São Paulo: Nova Fronteira, 2015.

NEWMAN, Sandra. História da Literatura Ocidental sem as partes chatas – Um guia irreverente para ler os clássicos sem medo. São Paulo: Editora Cultrix, 2014.

PHARTÉNIO. Sofrimentos de Amor. Tradução do Grego, Introdução e Comentários. 2015.

ZIMERMAN, David. E. Os quatro vínculos – Amor, Ódio, Conhecimento, Reconhecimento na Psicanálise e em nossas vidas. Porto Alegre: Artmed, 2010.

Compartilhe este conteúdo:

Entretenimento é apenas diversão?

Compartilhe este conteúdo:

A sociedade moderna foi moldada a partir de aspectos herdados de civilizações antigas. Dessa forma, é interessante repensarmos os costumes atuais e seus modos de conduta, fundamentando-os, com a influência das tradições gregas e romanas. Pois, como afirma Goldhill (2007), o modo dos costumes, da civilização greco-romana e Ocidental que marca os tempos atuais, estão mais presentes em nosso cotidiano do que podemos imaginar.

A história possui uma relação direta com o homem atual, e conhecê-la, em seus aspectos culturais, incluindo o entretenimento, que será o foco dessa discussão, nos ajudará na compreensão da conturbada época em que vivemos, e na reflexão sobre o homem enquanto ser que age pautado na construção social de seus próprios atos e que, assim, vai construindo seu futuro. As tradições greco-romanas estão presentes nas nossas vidas, até nas formas pelas quais os humanos se divertem, esta é a reflexão de Goldhill (2007) sobre o entretenimento nas civilizações Ocidentais. Além disso, o autor trás um alerta à condição humana frágil de reprodução das formas de diversão, socialmente herdada e construída, e diretamente ligada a questões subjetivas que revelam muito sobre nós mesmos.

teatro-de-dioniso

Fonte: http://migre.me/vqkrM

Segundo Goldhill (2007), a sociedade atual é uma Grécia imaginária, ao qual está presente no sistema de pensamento ocidental toda a lógica cultural deste mundo clássico. Acarretando, em nossa história e vivência, uma amnésia educacional e artística, pois não refletimos sobre nossas práticas de entretenimento e não a reconhecemos como uma tradição greco-romana. É passado, mais surpreendentemente, é presente e futuro, já que as relações humanas não são fáceis de lidar no que tange ao aspecto mudança. Morin (1997) discorre sobre o lazer nos tempos modernos como um produto da sociedade industrializada, está relacionado ao tempo gasto com diversões em detrimento do trabalho exaustivo, enfadonho e alienante.

Há uma grande confusão e preocupação no âmbito do papel do entretenimento, pois é sabido que as peças teatrais, as tragédias da Grécia antiga, que hoje se estendem ao cinema e ao teatro, comovem o público em grande nível de engajamento emocional e produz resultados que para o Estado, podem ser repugnantes, e por isso o entretenimento é alvo de controle. De certa forma, a confusão está em um pensamento desordenado da dualidade do Estado em querer controlar e se preocupar com a imagem pública e ao mesmo tempo garantir a liberdade de expressão. “A frase irritantemente maliciosa “mero entretenimento”, ou “é apenas diversão”, constitui um sinal desse pensamento confuso. É uma afirmação que quer evitar qualquer reflexão séria sobre os conflitos da vida cultural.” (Goldhill, 2007, p. 197).

plateia-rindo-pipoca

Fonte: http://migre.me/vqjOG

Vemos, então, que ao se tratar do que é divertido, muitas vezes nos deparamos com o caráter descontraído do entretenimento, e por isso é deixado de lado a problematização e reflexão do mesmo, pois até a própria expressão “é apenas diversão” deixa subjacente às implicações sociais que o entretenimento nos trás. Já que é notório que, diz muito sobre nós mesmos as forma pelas quais nos divertimos. É por isso que certas formas de entretenimento incomodam tanto a sociedade, pois elas falam quem somos. Estão obscuras as implicações desconfortantes, psicológicas e sociais, que fundamentam qualquer tipo de entretenimento. Já que o divertido é pra ser descontraído, por que não disfarçar a tensão social e deixar de lado o que isso diz sobre nós mesmos?

Antigamente, peças teatrais refletiam casos trágicos que expressavam o conflito, a sátira, os traumas psicológicos acarretados pelos piores sentimentos humanos, hoje em dia, o mesmo é feito no cinema, no teatro, na música, na dança, nas artes em geral. Os jogos de gladiadores da Roma clássica, hoje expressados nas artes marciais e no cinema. A competição pelo poder dos status sociais hoje, também é visto na civilização greco-romana. Tudo isso está ligado às formas de entretenimento atual, que são antigas, mas bem atuais.

gladiator-gladiador-filme

Fonte: http://migre.me/vqjZM

Para Morin (1997) o homem moderno procura se afirmar como sujeito privado, se afastando dos problemas políticos e religiosos, passou a ser um espectador vendo a vida através de lentes, passivo no espetáculo. Mas, contudo, ativo, pois o entretenimento reflete o sujeito e sua subjetividade. E que, sobre tudo, dizem mais dos seres humanos do que eles gostariam, trás sua subjetividade e aspectos ruins de sua natureza, e a dualidade dos conflitos inconscientes, e os papeis sociais do que você é e do que gostaria de ser. Nesse sentido Goldhill (2007) disserta  que na Grécia antiga o teatro era parte da própria cidade, representava como o povo a compreendia. No entanto, para Platão o entretenimento se tornava um impeditivo na formação do cidadão responsável devido impacto intelectual e psicológico que influenciava os indivíduos.

O povo grego utilizava as festas como a Grade Dionísia, festival religioso que acontecia anualmente em Atenas para louvar o deus Dionísio, como um acontecimento social e um espetáculo político de demonstração de poder. No Império Romano os jogos eram distribuídos ao longo do ano, trazia para a arena o fascínio do povo pela morte humana e dos animais, demonstração da virilidade, assim como, as tensão sociais.

O que fazemos constitui grande parte do que somos, e é por isso que o entretenimento – como passamos nosso tempo – é uma parte integral de nossa autodefinição. O contraste entre as formas de entretenimento contemporâneo e as tragédias atenienses do festival da Grane Dionisíaca revela um buraco no centro de nossa cultura pública. (Goldhill, 2007, p. 209)

É um choque, e nos faz pensar, pois no caso dos gladiadores, demonstram que os status valem mais do que a vida humana. Podemos ver que entretenimento não “é apenas diversão”, é claro que é lazer, mas trás consigo a subjetividade humana e reflete o homem como um espelho e o defini como ser, bom ou ruim. Como afirma Goldhill (2007), “são frágeis às fronteiras daquilo que nos orgulhamos de considerar uma civilização moderna. […] o que diz sobre nós o fato de que gostamos de assistir a essas coisas em nome do entretenimento?”.

 

REFERÊNCIAS:

GOLDHILL, S. Isto é entretenimento!. In: GOLDHILL, S. Amor, Sexo e Tragédia. Como gregos e romanos influenciam nossas vidas até hoje. Rio e Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1ª ed. v.1 p.195-233, 2007.

MORIN, E. Uma cultura de lazer. in: MORIN, E. Cultura de massa no século XX: neurose. Rio de Janeiro. Forense Universitária, 9º ed. v.6 p.67-85, 1997.

Compartilhe este conteúdo: