São Tibira, indígena, homossexual e o primeiro corpo a ser esmagado pela homofobia no Brasil

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 São Tibira, o primeiro caso de homofobia registrado no Brasil

“Minha vida, meus mortos, meus caminhos tortos, meu sangue latino, minh’alma cativa. Rompi tratados, traí os ritos…”  Secos e Molhados – Sangue Latino

Em 2014, o antropólogo Luiz Mott, professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e fundador do Grupo Gay da Bahia (GGB), uma ONG que historicamente tem produzido dados sobre a discriminação contra a comunidade LGBTQIAP+ no Brasil, lançou um livro intitulado “São Tibira do Maranhão – 1613-1614, Índio Gay Mártir”. Este livro acendeu a luz para que enxergássemos a figura, até então, desconhecida: Tibira do Maranhão.

Tibira do Maranhão, um indígena pertencente à etnia tupinambá, foi executado em 1614 por causa de sua orientação sexual, especificamente por ser homossexual. A decisão de condenar a morte foi tomada por líderes religiosos católicos que estavam em uma missão no Brasil naquela época. Um desses líderes foi o entomólogo francês Yves d’Évreux (1577-1632), um frade capuchinho que colonizou o Brasil. D’Évreux detalha a execução de Tibira do Maranhão em seu livro intitulado “História das Coisas Mais Memoráveis ​​Acontecidas no Maranhão nos Anos de 1613-1614”.

Desde então, Luiz Mott tem trabalhado incansavelmente para aumentar a visibilidade desse episódio. Ele teve apoio de um líder religioso que vem de uma visão cristã independente, o arcebispo primaz da Santa Igreja Celta do Brasil, que expressou seu reconhecimento pelo martírio e pela santidade de Tibira do Maranhão. Desde que seu livro foi publicado, Mott liderou uma iniciativa para que Tibira do Maranhão fosse reconhecida não apenas como mártir, mas também como uma figura santa, assim iniciando o processo de canonização. Em 2016, as autoridades do Maranhão marcaram esse reconhecimento ao inaugurar uma placa em homenagem a Tibira na Praça Marcílio Dias, localizada em São Luís.

Uma pesquisa realizada com base nos dados do Sistema Único de Saúde (SUS) evidenciou que a cada hora uma pessoa LGBTQIAP+ é agredida no Brasil. Entre o período de 2015 e 2017 analisou-se esses dados, 24.564 notificações de violências contra pessoas da comunidade foram registradas, o que entende-se que, em média, são mais de 22 notificações por dia, ou seja, quase uma notificação por hora (PUTTI, 2020). São Tibira foi, infelizmente, o primeiro caso de homofobia registrada no Brasil, sendo um indígena morto pelas mãos de um colonizador de forma bruta, por sua etnia já era considerado por eles um ser sem notoriedade e por sua orientação, o mesmo foi condenado à morte.

Falando de identidade sexual é importante falar sobre a cisheteronormatividade, a qual é responsável por tentar ditar qual a identidade sexual e de gênero é a correta, a conformidade à cisheteronormatividade advém de uma visão do mundo cristão monoteísta (ORNELAS, 2021). Com a história do São Tibira vale analisar a colonização das sexualidades, que pode estar relacionada a dispositivos políticos, ideológicos, raciais, econômicos e científicos que estão profundamente entrelaçados (FERNANDES, 2017).

                                                                                  Fonte: Theodor de Bry/Reprodução

Cena descrita por Pietro D’Anguiera em “De Orbe Novo”, com Vasco Nuñez de Balboa assassinando o irmão de um cacique no Panamá e 40 de seus companheiros por estarem vestidos de mulher, em 1513.

Esses mecanismos afetam várias comunidades (rurais, urbanas, indígenas, quilombolas, ribeirinhas, entre outras) por meio da imposição da cisheteronormatividade, que é uma parte integrante da estrutura de poder colonial que molda as normas morais e familiares, bem como a divisão de papéis de gênero no trabalho. Nesse contexto, é crucial entender que a sexualidade desempenha um papel fundamental na compreensão da dinâmica colonial, abrangendo questões que vão além do âmbito estrito do sexo, como casamento, laços familiares, vida doméstica, alianças políticas, habitação e outras mais, não sendo fechado ao sexo, estrito senso (FERNANDES, 2017).

A cisheteronormatividade e a imposição compulsória da heterossexualidade, instaladas durante o período da colonização europeia, estão enraizadas em discursos e práticas religiosas, políticas e civilizacionais que se baseiam em fundamentos científicos, teológicos e socioculturais (FERNANDES, 2017). Esse processo de colonização e imposição de uma cultura dominante afeta diretamente os corpos e as identidades sexuais, planejando estabelecer uma norma moral baseada no modelo de família cristã binária e hegemônica, criando assim dinâmicas de exploração e subordinação como meio de manter o poder e preservar a cultura branca, patriarcal e heterossexual da era moderna/colonial (FERNANDES, 2017)

A colonização sexual afeta diretamente a vida dos povos originários, já que os mesmos eram obrigados a seguir as idealizações colocadas por colonizadores, como forma de apagarem suas identidades. Em uma entrevista para à Rádio CNN, Danilo Tupinikim afirma que “é sempre importante pensar no quanto a colonização afetou os povos indígenas, e com questões de gênero e sexualidade não foi diferente”.

                                                                               Fonte: Yasmin Velloso/Mídia NINJA

Povos indígenas e LGBTQIAP+ enfrentam batalha dupla contra o preconceito

O processo de colonização imposto às comunidades indígenas representou um esforço deliberado de implementação de um ‘projeto de civilização’ que envolve a negação e a destruição de suas visões de mundo e conhecimentos, abrangendo seus costumes linguísticos, hábitos alimentares, práticas educacionais, identidades sexuais, sistemas religiosos e todas as outras formas de convívio comunitário. Esse processo e projeto continuam a ter impactos significativos até os dias atuais. A perspectiva colonizadora, que se estende desde o mito renascentista do ‘bom selvagem’ até a desumanização dos povos originários, está profundamente entrelaçada com a religião cristã e sua ênfase no ‘puritanismo ocidental, que valorizava a virgindade, o celibato, o casamento e outros valores semelhantes (Trevisan, 2018).

A visão dos missionários jesuítas no Brasil foi centrada na percepção de que o corpo ameríndio era visto como refletindo uma natureza corrompida. A atenção primordial dos jesuítas recai sobre o corpo ameríndio, abordando questões como a cauinagem, a luxúria (incluindo a sodomia), a nudez, os rituais antropofágicos e a poligamia, entre outros aspectos. No entanto, para os jesuítas, essa intervenção não se limitava ao corpo físico dos indígenas, mas visava, sobretudo, à transformação da alma por meio do corpo (Fernandes, 2017).

A história de São Tibira do Maranhão, o primeiro caso de homofobia documentado no Brasil, serve como um trágico lembrete das profundas raízes da discriminação contra a comunidade LGBTQIAP+ e não só isso, como a colonização ajudou na dissipação da identidade sexual dos povos originários em nosso país. São Tibira do Maranhão está em processo de tornar-se um mártir para a história do Brasil e, de modo geral, que isso nos sirva como lembrete de que na comunidade LGTQIAP+ não existe apenas uma luta, e que há sujeitos com mais de uma luta que vai para além da homofobia.

REFERÊNCIA

 

FERNANDES, Estevão R. “Existe índio gay?”: a colonização das sexualidades indígenas no Brasil. Curitiba: Editora Prismas, 2017. 245p.

GARCIA, Amanda; VIDICA, Letícia; BRITO, Leticia. Indígenas da comunidade LGBTQ sofrem duplo preconceito. CNN Brasil. 2022. Disponível em: <https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/indigenas-da-comunidade-lgbtq-sofrem-duplo-preconceito-afirma-ativista/>. Acesso em 13 setem. 2023.

ORNELAS, Gabriel Mattos. Se há LGBTfobia não há agroecologia: coletivos de juventudes LGBTQIAP+ e processos educativos sobre diversidade afetiva, sexual e de gênero. ReDiPE: Revista Diálogos e Perspectivas em Educação, v. 3, n. 2, p. 92-102, 2021. Disponível em: <https://periodicos.unifesspa.edu.br/index.php/ReDiPE/article/view/1693> Acesso em 11 setem. 2023.

PUTTI, Alexandre. Um LGBT é agredido no Brasil a cada hora, revelam dados do SUS. 2020. Disponível em:<https://www.cartacapital.com.br/diversidade/um-lgbt-e-agredido-no-brasil-a-cada-hora-revelam-dados-do-sus/>. Acesso em 11 setem. 2023.

TREVISAN, João Silvério. Devassos no paraíso: a homossexualidade no Brasil, da colônia à

atualidade. 4ª ed – Rio de Janeiro: Objetiva, 2018.

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As múltiplas interfaces da gestão em saúde pública no corpo humano e sexualidades

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Os primeiros relatos de gestão em saúde estão presentes na vida dos seres humanos desde os primórdios – mesmo que esse conceito e suas complexidades não possuíssem tais definições, pois culturas e povos antigos já possuíam formas de gerir e administrar recursos naturais e financeiros com a finalidade da melhoria da qualidade de vida dos indivíduos ali presentes.

Recursos financeiros inexistentes em determinadas regiões e populações, assim como a ausência de políticas públicas voltadas para a saúde biopsicossocial, foram responsáveis por determinar a relação de biopoder entre os corpos estabelecendo uma relação biocultural de quem possui (possuía) direito à saúde e a melhorias nas condições de vida ao longo dos séculos – práticas e relações de poder que permanecem até o presente no cotidiano, nas vivências e também nas políticas educacionais.

Fica evidente, numa análise antropológica e social, que toda cultura tradicional possui um curandeiro, benzedeiro e/ou xamã que utilizava da relação divindade-deidade-energia celeste-terrestre para estabelecer diagnósticos aos corpos enfermos, enfermidades físicas, psíquicas ou espirituais ou dentro das três vertentes, criando prioridades para os atendimentos. Por vezes, era necessário que esses corpos doentes fossem encaminhados ou permanecessem em local específico para o tratamento e sua reabilitação. Trazendo essa realidade para os dias atuais, pode-se entender que essa se traduz em uma das práticas e ações da gestão em saúde pública.

Não distante da realidade tocantinense, o curandeirismo, as parteiras, assim como o xamanismo e o saber local em relação às práticas de saúde ainda existem em determinadas regiões, e tais práticas, não deixam de consideradas como ações que proporcionam o bem estar físico/psíquico e espiritual dos indivíduos.

No século XXI, o desejo de controle dos corpos e suas sexualidades, mesmo após a implantação e funcionamento do SUS, incluindo toda a sua complexidade e logística, faz muitos políticos sob influência do neoliberalismo desejarem e lutarem para sua dissolução e privatização, fazendo com que os corpos que ali se encontram necessitando de qualquer nível de atenção e assistência de saúde sejam rotulados como brancos e negros, magros ou gordos, heteros ou gays – o que facilita a compactação de dados populacionais, classes sociais e, a partir de tais dados, se estabelecem as relações de incidência e prevalência de determinantes de doenças, por gênero, idade, etc.

O complexo sistema de gestão em saúde pública é permeado de interfaces que permitem que cada esfera estadual ou municipal tenha acesso e disponibilidade aos recursos físicos, financeiros, logístico, equipe multiprofissional para a manutenção em todos os seus ciclos da vida, incluindo, promoção, prevenção, recuperação e reabilitação das doenças, diagnóstico, tratamentos em todas as faixas etárias e dos mais complexos procedimentos de saúde. Todavia, a construção dos corpos não é meramente biológica, inclui outras perspectivas, como a social, a política e a histórica, ainda que se invisibilizem.

Como a saúde e a educação ainda parecem ser inimigas em determinados assuntos, como “as sexualidades”, pode-se concluir que a gestão em saúde pública, por meio da atenção primária não entra nas escolas utilizando a promoção à saúde por dois motivos: o primeiro, por desconhecimentos dos profissionais de saúde sobre a temática sexualidade e, o segundo, porque os profissionais da educação, para cumprirem metas e objetivos educacionais, são atores no palco de ideologias religiosas e políticas em que as escolas se transformaram, o que oculta formas de existir de um corpo humano sexual e seus gêneros.

Quando as escolas se deparam com situações que fogem à sua capacidade técnica-educacional e ensinagem, se limitam a promover encontros para evidenciar ações preventivas de doenças e problemas já existentes como as Infeções Transmitidas Sexualmente, gravidez na adolescência, higiene corporal, etc. Nesse caso, estabelecer uma relação de esclarecimento sobre o corpo de cada indivíduo, incluindo suas interfaces sociais, as formas violências existentes e sua construção não meramente biológica, é algo que deve ser questionado quando se ouve frases do tipo “meninos devem vestir azul, e meninas cor de rosa”.

Por outro lado, distante dessa discussão, as Conferências Nacionais de Saúde (CNS), de 2003 até 2017, apontaram a importância da discussão e da formação de profissionais no cuidado em saúde coletiva em relação às questões de gênero, sexualidade, orientação sexual e com a comunidade LGBTIQ+.

Em 2006, a Organização de Saúde (OMS) deixou clara a importância da discussão sobre a temática gênero nos currículos dos profissionais de saúde com a finalidade de diminuir a desigualdade no acesso à saúde. Mesmo diante de tantas evidências e documentos que permeiam a construção biológica-social-política do ser humano e seus corpos, a educação ainda está parada no tempo e no espaço, dificultando ações no tocante à Educação Permanente sobre os gêneros e as sexualidades, reproduzindo discursos sexistas e homolesbotransfóbicos de que o ensino de educação sexual e sexualidades transformará crianças em “viados e sapatões”.

O SUS e a Gestão em Saúde Pública

Pensar na conceituação do Sistema Único de Saúde (doravante SUS), desde a sua concepção até a sua forma prática e aplicável, como o direito a todos os cidadãos brasileiros constitui um grande marco para a universalidade do atendimento em saúde em diferentes esferas. Porém, não se pode esquecer que tal movimento de construção e consolidação do SUS somente foi possível através do Movimento Sanitário e da Reforma Sanitária nos anos de 1970 e 1980, pautados em estabelecer a igualdade, a integralidade e a universalidade no campo da saúde pública. Lembrando que, nessas décadas, o Brasil já vivenciava uma grande desigualdade entre as classes sociais e também nos serviços de saúde.

Confirmando essa ideia, Paim (2008, p. 38) afirma que, com base na tese de que a RSB representa um projeto de reforma social, poder-se-ia considerar a hipótese de que ela foi concebida como reforma geral, tendo como horizonte utópico a revolução do modo de vida, ainda que parte do movimento que a formulou e a engendrou tivesse como perspectiva apenas uma reforma parcial.

É evidente que o desenho estruturado e pensado para a Gestão em Saúde Pública do SUS não responde à sua complexidade, pois a sua concepção democrática ainda está pautada em ações políticas que impedem ou diminuem a sua eficácia, assim como a realização de ações de promoção e prevenção à saúde em sua totalidade.

Fonte: Pixabay

Quando se afirma que as ações políticas interferem nas ações e na gestão de saúde pública, deve-se entender seus efeitos sobre os corpos, os gêneros, as sexualidades e a Educação Permanente em Saúde, tendo em vista que a escola é um local onde circulam ideologias políticas e religiosas. Dado que os municípios possuem autonomia para gerir as ações de saúde pública, tais temáticas não são abordadas e ou implantadas nestes municípios. Para Junqueira (2009 apud ARAÚJO, 2018, p. 217), a escola como ambiente como um ambiente público representante e legitimado socialmente, assume várias vezes a função de reprodução de discurso e práticas excludentes, tornando-se muitas vezes, como um espaço institucional de opressão, o que deve, ainda, a participação ou a omissão dos sistemas de ensino da comunidade, das famílias, da sociedade, as instituições e o Estado.

Por sua vez, Castanheira (1990, p. 222) descreve algumas dificuldades, […] os conflitos entre a necessidade institucional de estabelecer normas para o atendimento, e as necessidades mais imediatas trazidas pelos usuários”; ou, ainda, “o conflito entre os interesses de grupos de trabalhadores da unidade, e de cada trabalhador individual, com as normas da instituição, de um lado, e com as demandas dos usuários, de outro.

E ainda, conforme aponta Cecílio, Mehr (2003, p. 199), […] o denominado ‘sistema de saúde’ é, na verdade, um campo atravessado por várias lógicas de funcionamento, por múltiplos circuitos e fluxos de pacientes, mais ou menos formalizados, nem sempre racionais, muitas vezes interrompidos e truncados, construídos a partir de protagonismos, interesses e sentidos que não podem ser subsumidos a uma única racionalidade institucional ordenadora.

Os novos horizontes que são propostos pelo SUS dentro dos seus aspectos éticos, cogestão, gestão e movimentos reflexivos somente terão êxito quando os novos olhares e saberes produzidos pela população, em consonância com as políticas públicas de saúde, se constituírem democraticamente, trazendo à tona a execução e a fiscalização para as quais o SUS foi pensado e estruturado.

Visando a constituição não meramente biológica e ideológica do ser humano, entendemos que os gêneros fazem parte da saúde pública, assim como as sexualidades pertencem aos corpos. Foram esses mesmos corpos que pensaram e estruturaram o SUS. Contribuindo com a construção do gênero na saúde pública, Ferraz e Kraiczyk (2010, p. 71-72) esclarecem que: se gênero é uma das dimensões organizadoras das relações sociais que produz desigualdades, então a política de saúde construída no âmbito do SUS deve reconhecer a existência dessas desigualdades e respondê-las, com vistas à promoção da equidade de gênero. […] Ao atribuir significados para a diferença sexual, categorizando e valorizando diferentemente atributos femininos e masculinos, as mais diversas culturas e sociedades transformam a diferença sexual em desigualdades que se expressarão em todas dimensões da existência humana, inclusive nos modos de adoecer e morrer.

Descrever e definir o Sistema Único de Saúde Brasileiro, não é uma tarefa simples, uma vez que implica descrever a complexidade do ser humano e sua existência em múltiplas esferas e, ainda, a evolução desses corpos em suas múltiplas interfaces e territorialidades. Isso exige disposição social e política para que o SUS tenha acesso universal. Porém, alguns pontos de conceituação e construção do SUS são necessários e devem ser evidenciados, dentre os quais está a Constituição Brasileira (1988, p. 63): Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes: I- descentralização, com direção única em cada esfera de governo; II- atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais; III- participação da comunidade.

E ainda, Brasil (1990a, p. 69) descreve no Capítulo II, dos Princípios e Diretrizes:

Art. 7º As ações e serviços públicos de saúde e os serviços privados contratados ou conveniados que integram o Sistema Único de Saúde (SUS) são desenvolvidos de acordo com as diretrizes previstas no art. 198 da Constituição Federal, obedecendo ainda aos seguintes princípios:  I – universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência; II – integralidade de assistência, entendida como conjunto articulado e contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema; III – preservação da autonomia das pessoas na defesa de sua integridade física e moral; IV – igualdade da assistência de saúde, sem preconceitos ou privilégios de qualquer espécie; V – direito à informação, às pessoas assistidas, sobre sua saúde; VI – divulgação de informações quanto ao potencial dos serviços de saúde e a sua utilização pelo usuário; VII – utilização da epidemiologia para o estabelecimento de prioridades, a alocação de recursos e a orientação programática; VIII – participação da comunidade; IX – descentralização político-administrativa, com direção única em cada esfera de governo: a) Ênfase na descentralização dos serviços para os municípios; b) regionalização e hierarquização da rede de serviços de saúde; X – integração em nível executivo das áreas de saúde, meio ambiente e saneamento básico; XI – conjugação dos recursos financeiros, tecnológicos, materiais e humanos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios na prestação de serviços de assistência e saúde da população; XII – capacidade de resolução dos serviços em todos os níveis de assistência; e XIII – organização dos serviços públicos de modo a evitar duplicidade de meios para fins idênticos.

Ao discutir as concepções que constituem a complexidade do SUS, não se pode esquecer que a existência desse sistema de saúde se deve à pressão dos movimentos sociais que entenderam que saúde é um direito de todos. Não distante desses movimentos, para esse trabalho, o enfoque central é na sua função correspondente à educação em suas múltiplas vertentes e definições.

Porém, para que isso aconteça se faz necessário relembrar o seu financiamento, a sua diversidade e a sua própria estrutura. Entretanto, para discutir o financiamento do SUS, é preciso ter em mente que ele advém dos impostos recolhidos pelos cidadãos, ficando assim com recursos advindos da União, dos estados e municípios, além de fontes suplementares de financiamento. Isso também vale para as regiões onde não existem estruturas de saúde pública, quando o SUS contrata os serviços em hospitais particulares, não deixando a população sem atendimento de saúde.

Para que o acesso acontecesse de forma igualitária, foi utilizada a estratégia de descentralização dos serviços de saúde pública, ficando assim a União, estados e municípios responsáveis pela integralidade dos atendimentos, conforme a Lei Complementar nº 141, de 13 de janeiro de 2012, e a Emenda Constitucional n. 29 de 2000. Contribuindo com essa afirmativa, Pereira et al (2004, p. 48) esclarece que: organizar o sistema de saúde com direção única em cada esfera de governo por meio da descentralização política, administrativa e financeira da União, estados e municípios é um meio para atingir os objetivos do SUS. Portanto, descentralização seria uma diretriz que obedece aos princípios do SUS. Em contrapartida, a descentralização tornou-se um traço estruturante do sistema de saúde brasileiro que muitas vezes confunde-se com um princípio, a ponto de alguns autores apresentá-lo dessa forma.

Nesse contexto a forma igualitária parece não contemplar todas as esferas e níveis correspondentes ao SUS, pois quando se pensa nas temáticas gêneros e sexualidades, a política individual ou coletiva assegurada pela atenção primária e suas funções não conseguem adentrar nas escolas na forma de Educação Permanente em Saúde, ou simplesmente educação em saúde, como direito de todos que ali se fazem presente para produzir esclarecimentos e reconhecimento. A questão que se impõe é: por que isso acontece? Na busca de uma resposta, chega-se à conclusão que a mesma política que assegura cirurgias de readequação de gênero, atendimentos para situações de violências e garantia para o acompanhamento psicoterápico, não é capaz de ultrapassar os muros das escolas.

Corpo, Gênero e Sexualidades nas práticas de educação permanente em saúde Pública.

Definir o que é um corpo e ter um corpo é um tanto complexo nesse momento em que se vive um retrocesso permeado de sexismo e ideologias cerceadoras. Porém, é preciso considerar que as definições e nomenclaturas não excluem a essência do ser humano, mas podem levá-lo a estados de auto reconhecimento ou de cerceamento ideológico, tendo em vista que ter um pênis/vagina não é a essência de homens/mulheres. Nesse contexto, emergem questionamentos sobre o ser e estar enfermo em um hospital onde se ouvia constantemente frases como “esse é meu filho, e ele é macho”.  Desse fato, pode-se questionar o que é ser macho? O que é ser fêmea? O que é ter um corpo estigmatizado? Será que ter um corpo estigmatizado é também ter um corpo assexuado?

Outrossim, em um primeiro momento, é evidente que as escolas excluem as sexualidades e os gêneros, uma vez que a escola é composta por seres humanos e estes possuem gêneros e sexualidades. Nessa linha de raciocínio, Sampaio (2017, p. 12) esclarece que: para viver em sociedade é essencial a transformação do homem de um ser biológico para um ser humano, e é por meio da aprendizagem com as relações experimentadas que se constroem os conhecimentos que vão permitir o seu desenvolvimento mental (interação ser humano-ambiente físico social).

Fonte: Pixabay

Neste caso, o ser macho e o ser fêmea, são distinções de gênero que não definem em essência o que é ser homem e mulher em um contexto mais amplo. Mas, quando se depara com as atividades de saúde pública e ou livros de biologia, fica evidente que, biologicamente, ser macho é possuir uma genitália denominada de “pênis”, e ser fêmea é possuir uma genitália denominada “vagina”. Tais atributos e formas inadequadas de interpretação, são situações que aumentam os índices de violências físicas e psicológicas entre os alunos e também no convívio social.

A estigmatização dos corpos e suas sexualidades permanece na construção dos saberes e vivências escolares e em sociedade, o que faz com que o estigma de ser gênero divergente e/ou vivenciar as sexualidades e a orientação sexual diversa de macho e fêmea heterossexual atraia o julgamento de que a comunidade LGBTIQA+ é responsável pelo amento dos números de casos de infecções sexualmente transmissíveis. Nesse sentido, a importância da Educação Permanente em Saúde (EPS) nas escolas se torna essencial como forma de esclarecimento e também de acolhimento aos alunos.

Quando nos deparamos com os inúmeros conceitos de saúde/educação nesse momento, a educação permanente atende à proposta que estamos evidenciando pois, “essa seria uma educação muito mais voltada para a transformação social do que para a transmissão cultural” (GADOTTI, 2000). Ricaldoni e Sena (2006) complementam essa ideia de educação permanente em saúde uma vez que: é necessário que os serviços de saúde revejam os métodos utilizados em educação permanente, de forma que esta seja um processo participativo para todos. Ela tem como cenário o próprio espaço de trabalho, no qual o pensar e o fazer são insumos fundamentais do aprender e do trabalhar (p. 838).

Ao reconhecer que a sexualidade é como uma impressão digital de todos seres humanos e que estes possuem dois grandes órgãos sexuais no corpo (o cérebro e a pele), fica evidente que todos os seres humanos são seres sexuais, pois a sexualidade não representa apenas o ato sexual, mas o afeto, a amizade, a orientação sexual, o amor e a reprodução. Nesse sentido, a escola é o local onde a EPS, com as temáticas sexualidades e gêneros, deve se fazer presente, independentemente da relação ideológica, religiosa e político-partidária dos municípios e estados, tendo que em vista que a escola é formada por seres humanos em processo de construção de si e seus corpos.

“Serás Deus ou Deusa, que sexo terás”: desafios para a gestão em saúde pública.

A complexidade do que é ter e ser um corpo, em suas múltiplas dimensões e ideologias, é uma tarefa difícil quando existe uma dicotomia entre o corpo produto de ciência biológica que alimenta os dados e gera a resposta da gestão em saúde pública e o corpo real que vivencia e experimenta o estar no mundo, vivenciando seu gênero social e suas inúmeras sexualidades. Veiga-Neto (2016, p. 74) esclarece que: se a sexualidade que articula o corpo com a população, é a norma que articula os mecanismos disciplinares (que atuam sobre o corpo) com os mecanismos regulamentadores (que atuam sobre a população). A norma se aplica tanto ao corpo a ser disciplinado quanto à população que se quer regulamentar[…] sem apelar para algo que seja externo ao corpo e à população em que está esse corpo.

Na dualidade existente no contexto da realidade vivida e os recursos públicos, parece existir uma lacuna, pois, como cabe lembrar, a vigilância sanitária e a vigilância epidemiológica demonstram índices crescentes acerca das inúmeras formas de doenças crônicas e também um aumento significativo de novas nomenclaturas sobre transtornos, porém ainda não definiram que os gêneros masculinos e femininos, “macho e fêmea”, não são mais a base de uma construção de saúde pública. E parece que, quanto mais se fixam ideias e afirmações de que os corpos são meramente biológicos, mais transtornos emergem, demonstrando que uma vida reprimida, coercitiva e automedicada é fruto de uma ingerência e/ou negligência por parte das três esferas de poder.

Contribuindo com essa afirmativa Moulim (2020, p. 19) descreve que: trazemos dentro de nós mesmo um novo pecado original, um risco multiforme que teve origem em nossos genes, modificado pelo nosso meio ambiente natural e sociocultural e pelo modo de vida. Na sala de espera do médico, agora, há cinco bilhões de clientes aguardando pacientemente. […] aí está o paradoxo da grande aventura do corpo no século XX, o exibicionismo da doença não é mais admissível, reduzido pelo ideal de decência.

Fonte: Pixabay

Tais repressões e situações são evidenciadas quando recursos de saúde pública são destinados para a atenção primária para que sejam realizadas atividades sobre educação em “saúde” com temas sobre os corpos e as sexualidades – que não acontecem por ideologias religiosas que já definiram o que é ser homem e mulher e como o sexo deve ser praticado, expresso nos livros de biologia ou em livros considerados sagrados. Ribeiro e Motta (1996, p. 40), nesse contexto, esclarecem que “não há aprendizagem se os atores não tomam consciência do problema e se nele não se reconhecem, em sua singularidade”.

Para esclarecer melhor essa dicotomia entre a função da atenção básica no tocante à Educação Permanente em Saúde e o não-poder provindo de ideologias cerceadoras, Vilanova (2018, p. 37) demonstra em seu trabalho pessoas em situação de violência sexual entre 0 e 14 anos, no ano de 2017, na cidade de Palmas, Tocantins.

Observa-se, no gráfico acima, que a forma preventiva de atenção à saúde nas escolas sobre temas que envolvem as sexualidades ainda é falha, tanto por parte da gestão e políticas públicas em saúde quanto por parte das Secretarias de Educação e Saúde, sejam elas estaduais ou municipais. Porém, como forma de direito à saúde em sua totalidade, as vítimas de violências possuem atendimento em núcleos especializados, exceto nas situações que envolvem o reconhecimento de seu corpo e de práticas sexuais abusivas.

Além disso, é significativo o aumento dos casos de transtornos dismórficos corporais, automutilações infanto-juvenil e o interesse pelos corpos estigmatizados por parte dos estados e municípios. Mas tais alterações comportamentais e vivenciais ainda não obtiveram fizeram com que os poderes públicos esquecessem suas ideologias, suas visões religiosas e políticas para permitir que a atenção básica de saúde e/ou Instituições de Ensino Superior adentrassem nas escolas para promover a educação sexual. Para Bonfim et al (2016, p. 240), o Transtorno Dismórfico Corporal (TDC) é caracterizado por um comportamento perceptivo distorcido em relação à imagem corporal e uma preocupação com um defeito imaginário na aparência ou inquietação exagerada em relação a imperfeições corporais identificadas.

Teriam os poderes públicos medo de que as Instituições de Ensino Superior em parceria com as Secretarias de Saúde incitem o uso do divulgado, mas nunca revelado, kit gay? Ou, que tais ações esclareçam os alunos sobre as violências e o reconhecimento dos seus corpos e gêneros?

Uma tentativa de responder a esses questionamentos aponta para a criação ideológica e uma falsa política cerceadora direcionada pelo público religioso ao mesmo tempo em que se acredita que o (re)conhecimento sobre os corpos traz questionamentos que muitos professores e escolas não estão dispostos a aceitar e explicar a seus alunos. Se há a ensinagem e o discurso escolar de que a educação deve ser libertadora, torna-se essencial reconhecer, aceitar e entender alunos que nasceram e foram rotulados como macho/masculino/deuses, mas sempre se reconheceram como fêmea/femininas/deusas. Se o ato de educar é libertador, onde se coloca a liberdade de estar e viver o seu corpo enquanto indivíduo? Aqui, vale lembrar que o Estado Brasileiro é laico.

Mas, se esses temas deveriam ser abordados como forma de promoção à saúde nas escolas, na verdade, são excluídos dos projetos pedagógicos por inúmeros fatores, incluindo a ausência de carga horária para ações de educação em saúde ou a invisibilidade do saber reconhecer e agir em determinadas atitudes. De acordo com Casemiro et al (2014, p. 829-830), não é de hoje que se reconhece o vínculo entre a saúde e a educação. Sob o argumento desta íntima ligação entre as duas áreas existe ao menos um consenso: bons níveis de educação estão relacionados a uma população mais saudável, assim como uma população saudável tem maiores possibilidades de apoderar-se de conhecimentos da educação formal e informal. Dependendo do local de onde se fala e de quais tintas são usadas encontram-se os mais diferentes discursos e cenários ou, dito de outra forma, sob aquele argumento cabem as mais diversas abordagens ao tema. A escola tem representado um importante local para o encontro entre saúde e educação abrigando amplas possibilidades de iniciativas tais como: ações de diagnóstico clínico e/ou social; estratégias de triagem e/ou encaminhamento aos serviços de saúde especializados ou de atenção básica; atividades de educação em saúde e promoção da saúde.

Corroborando, Moulim (2020, p. 18) descreve que: paralelamente, a preocupação com a saúde é superior taticamente a preocupação com a doença. Se a palavra do século XVIII era felicidade, e a século XIX a liberdade, pode-se dizer que a do século XX é a saúde … a saúde passou a ser a verdade e também a utopia do corpo.

No século XXI, com inúmeras fontes explicando e evidenciando a importância de se construir esses conhecimentos nas escolas e na saúde pública, ainda me questiono por que as escolas e ideologias têm tanto medo dos termos gênero e sexualidade?

A resposta provável para essa questão pode estar ligada ao desconhecimento, por parte dos professores e gestores escolares, incluindo seus financiadores, de que o corpo não é apenas uma construção biológica, mas uma junção de muitas vivências e experiências. Essa compreensão exigiria vivenciar novas matrizes de corpos, gêneros e sexualidades, aprender a conviver e realizar leituras, sair da zona de conforto que as religiões impuseram ao longo dos tempos e, portanto, mudar todos as abordagens em todos os documentos sobre educação existentes – o que seria, para muitos, desconfortável e constrangedor.

Nesse contexto, justifica-se que a gestão em saúde pública e a própria saúde pública em suas diversas esferas e complexidades, devem aprender que nada é estanque e rígido em termos políticos e sociais. Logo, a escola, como local que proporciona o primeiro convívio de muitas pessoas para a inclusão social, deveria ser vista e vivida como ponto de partida para o novo e não uma vivência do velho imposta, muitas vezes, por um livro não-científico.

Auxiliando nesses questionamentos, Lucchese  (2004, p. 11) esclarece que “no campo da ação social, as políticas públicas de saúde têm por função definir a resposta do Estado às necessidades de saúde da população” e, nesse sentido, as afirmativas mostram que tais atitudes e ações de educação permanente em saúde sobre sexualidades e os gêneros perpassariam ações simplistas e entrariam nos princípios e diretrizes do SUS, tanto no sentido individual quanto no coletivo referente à promoção, prevenção e recuperação da saúde. Contribuindo com a discussão, esclarece-se que: a promoção da saúde enfrenta esta realidade sanitária na medida em que oferece condições e instrumentos para uma ação integrada e multidisciplinar que inclui as diferentes dimensões da experiência humana a subjetiva, a social, a política, a econômica e a cultural e coloca a serviço da saúde, os saberes e ações produzidos nos diferentes campos do conhecimento e das atividades. (BRASIL, 2002, p. 12)

Finalizando, fica evidente que a gestão em saúde pública para a promoção, prevenção e recuperação e reabilitação do ser humano, no âmbito da Educação Permanente em Saúde, por temáticas que incluem o corpo, os gêneros e as sexualidades, voltadas para a escola, é pobre em recursos, suas práticas são ineficazes e os princípios e as diretrizes do SUS não são atendidos.

Fica evidente o quão o SUS é político e, por esse motivo, existem muitas divergências, falhas e também inacessibilidade. Essa ingerência e inacessibilidade dizem respeito às várias dicotomias existentes entre os corpos que construíram e utilizam o SUS diante de tabus religiosos  (novamente, o Estado Brasileiro é laico) e políticos, sustentados por uma concepção biologizante, portanto, cerceadora, de gêneros e de sexualidades.

Proporcionar discussões e reflexões sobre as políticas públicas, gestão em saúde pública, educação em saúde é algo que deve permanecer, pois um dos primeiros contatos e momentos de socialização entre indivíduos acontece nas escolas. E são essas mesmas escolas, que pertencem a um território que constitui uma Unidade Básica de Saúde, que possuem problemas individuais e coletivos que os poderes públicos preferem se isentar ou infringir políticas públicas quando os assuntos desconstroem ideologias já impostas como por exemplo, os gêneros e as sexualidades.

E essa incoerência de ser e estar em um corpo, que possui um gênero e uma sexualidade, deveria ser esclarecido nos projetos de saúde e também nas ações de Educação Permanente em Saúde. Todavia, as escolas também assumiram para si que ensinar e esclarecer sobre as temáticas é função da família e não do Estado. E, nesse constante jogo de incoerências, ingerências e incongruências, quem sofre são os alunos e alunas que estão se construindo e também construindo seu contexto social a partir da vivência nas escolas.

 

REFERÊNCIAS

ARAUJO, R.P. Estranhando o Currículo: a temática homoafetiva no ensino de literatura infantil. 1ª ed. Rio de Janeiro: Metanoia, 2018.

BONFIM, G. W.;  NASCIMENTO, I. P. C.;  BORGES, N. B.  Transtorno Dismórfico Corporal: revisão da literatura. Contextos Clínicos, vol. 9, n. 2, pp. 240-252, julho-dezembro 2016. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/cclin/v9n2/v9n2a10.pdf Acesso em 21 Jan. 2021

BRASIL. Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Convergências e divergências sobre gestão e regionalização do SUS. Brasília: 2004. (Conass Documenta, 6). https://www.conass.org.br/biblioteca/caderno-conass-documenta-n-06/  Acesso em 03 Fev. 2021

BRASIL. Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Legislação do SUS. Brasília: 2003. Conass Progestores. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/para_entender_gestao.pdf Acesso em 03 Fev. 2021

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BRASIL. Ministério da Saúde. Gestão Municipal de Saúde: textos básicos. Rio de Janeiro: Ministério da Saúde, 2001. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/gestao_municipal_de_saude.pdf Acesso em 20 Jan. 2021

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988. Disponível em: https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/518231/CF88_Livro_EC91_2016.pdf Acesso 19 Jan. 2021

BRASIL. Lei n. 8.080/90. Brasília: Diário Oficial da União, 1990a. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1990/lei-8080-19-setembro-1990-365093-publicacaooriginal-1-pl.html Acesso em 19 Jan. 2021

BRASIL. Lei n. 8.142/90. Brasília: Diário Oficial da União, 1990b. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1990/lei-8142-28-dezembro-1990-366031-publicacaooriginal-1-pl.html acesso em 19 Jan. 2021

BRASIL. Norma Operacional Básica do Sistema Único de Saúde-NOB-SUS 1/ 96. Brasília: Diário Oficial da União, 1996. Disponível em: http://conselho.saude.gov.br/legislacao/nobsus96.htm Acesso em 19 Jan. 2021

BRASIL. Ministério da Saúde (MS). Relatório Final 12ª Conferência Nacional de Saúde: Conferência Sergio Arouca. Brasília: MS; 2004. Disponível em: http://conselho.saude.gov.br/images/relatorio_12.pdf Acesso em 19 Jan. 2021

BRASIL. Ministério da saúde (MS). Brasil Sem Homofobia: Programa de combate à violência e à discriminação contra GLTB e promoção da cidadania homossexual. Brasília: Conselho Nacional de Combate à Discriminação; 2004. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/brasil_sem_homofobia.pdf acesso em 19 Jan. 2021

BRASIL. Ministério da Saúde (MS). Relatório Final da 13ª Conferência Nacional de Saúde: Saúde e Qualidade de vida: políticas de estado e desenvolvimento. Brasília: Conselho Nacional de Saúde; 2008. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/conferencia_nacional_saude.pdf acesso em 20 Jan. 2021

BRASIL. Ministério da Saúde (MS). Relatório Final da 14ª Conferência Nacional de Saúde: Todos usam o SUS; SUS na Seguridade Social Política Pública; Patrimônio do Povo Brasileiro. Brasília: CNS; 2012.  Disponível em: http://conselho.saude.gov.br/images/14_cns_relatorio_final.pdf Acesso em 20 Jan. 2021

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BRASIL. Ministério da Saúde (MS). Documento Orientador de apoio aos debates da 15ª Conferência Nacional de Saúde. Brasília: CNS; 2015.  Disponível em: http://conselho.saude.gov.br/web_15cns/docs/05mai15_Documento_Orientador_15CNS.pdf Acesso em 23 Jan. 2021

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SAMPAIO, S. Dificuldades de aprendizagem: a psicopedagogia na relação do sujeito, família e escola. 4ª ed., Rio de Janeiro: Walks Editora, 2017.

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VILANOVA, N. F. O perfil sociodemográfico de pessoas em situação de violência sexual entre 0 e 14 anos, no ano de 2017, na cidade de Palmas – TO. 2018. 65 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Curso de Psicologia, Centro Universitário Luterano de Palmas, Palmas, Tocantins, 2018. Disponível em: http://ulbra-to.br/caos/assets/download/2019/artigo_15.pdf acesso em 20 Jan 2021.

VEIGA-NETO, A. Foucault & a Educação. 3ª ed. Belo Horizonte: Autentica Editora, 2016.

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The Society: A reconstrução e vivência das atrocidades humanas

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A trama ocorre a partir das relações interpessoais entre os personagens, que tiveram de se desenrolar para a sobrevivência uns dos outros.

The Society é uma série que traz à tona nossa organização enquanto indivíduos, levantando reflexões sobre as relações de poder que rodeiam nosso cotidiano, a necessidade de regras para manter um bom convívio, revelando nossas dificuldades morais, limitações e dependência da cooperação mútua para sobrevivência humana. Seríamos capazes de nos manter, caso tivéssemos que organizar uma sociedade do zero? A cada episódio dessa trama, a pergunta fica cada vez mais fixa, pois demonstra que os seres têm sérios problemas de manter-se unidos, pois, a luta pelo poder, a desconfiança que a ambição gera, tudo isso se reflete e põe em xeque cada membro que é célula indispensável para o organismo social.

Tudo inicia com uma excursão entre os jovens de um colégio, que durante a trajetória, acabam parando no mesmo local que haviam partido, com a explicação do motorista de que eles tiveram de voltar. Sem entender o motivo, ao descerem do ônibus percebem que não tinha sinal de celular, e aparentemente toda a cidade estava vazia. Decidem então aproveitar tal liberdade para fazerem uma festa na igreja. Logo no outro dia, a preocupação já era mais evidente, nenhuma mensagem, e nenhuma pessoa além dos alunos estava ali. Todos se perguntam o que havia acontecido, sem nenhuma resposta decidem ir até a entrada da cidade, e averiguam que tudo foi tomado por uma floresta densa. 

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Após alguns dias, a ansiedade já era evidente, muitas perguntas emergiram. Todos procuravam o entendimento do ocorrido, e foi possível ver que os personagens passaram no decorrer dos episódios pelas fases do luto, de acordo com as teses de  Elisabeth Kubler; em primeira instância,  negavam o fato de que estavam sozinhos, e de que ninguém poderia voltar para buscá-los. A raiva, a barganha, depressão e aceitação também foram verificadas. Em momentos de desespero, deixavam recados na caixa de mensagens que não poderiam ser ouvidas pelos pais, barganhando, desejando sua volta. Em outros momentos, alguns ficavam extremamente apáticos e depressivos, imersos em uma tristeza profunda. 

No decorrer da história foi visto a aceitação na fala de personagem Kelly, que dizia com mais tranquilidade que talvez realmente ninguém nunca voltasse. Cria teorias reconfortantes, como a possibilidade de seus pais estarem vivos em outra dimensão, e que aquela poderia ser uma oportunidade de uma construção de uma sociedade melhor, pagando pelos pecados anteriormente cometidos pelos seus pais. 

A placa da entrada da cidade chamava-se “West Ham”, entretanto, logo depois da saída do ônibus, pôde-se perceber que na verdade a placa foi pichada, e o resultado foi “West SHam”, (tradução Sham= Farsa/falso), dando a entender que aquele lugar era sujo e mentiroso, assim como as pessoas que ali moravam.

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Várias teorias durante a história foram levantadas, a partir da observação do céu, principalmente por Gordie, o menino que entre eles mostrava-se com muitas habilidades intelectuais, notaram que um eclipse que deveria ser registrado apenas daqui 4 anos, foi avistado. A partir disso, também foi averiguado que não havia nenhum satélite em órbita, o que os fizeram pensar que talvez estivessem em um mundo paralelo.

Um cheiro forte mencionado no início da série também desapareceu, depois que foram levados de volta à cidade que agora estava rodeada pelo mistério. O motorista que os levaram no ônibus, foi um homem chamado Pfeiffer, a quem segundo Kelly foi contratado pelo seu pai para acabar com o cheiro que perturbava todos os moradores, entretanto, o custo era muito alto, então foi recusado tal serviço. 

Pfeiffer (nome de origem germânica, tendo o significado de flauta medieval), segundo as teorias de Gabriel Herdy, nos remete a um conto da Alemanha, chamado o “Flautista de Hamelin”. Aborda que a cidade de Hamelin estava sofrendo por conta da infestação de ratos, então ele se apresentou como a solução dos problemas, pois com sua flauta conseguia hipnotizar os bichos, e assim poderia matá-los, foi então prometido uma moeda por cada cabeça de rato. 

O flautista levou todos os ratos embora, afogando-os sobre o rio da cidade, entretanto por não ter apresentado as cabeças, o povo decidiu não o pagar. Voltou depois de alguns dias na cidade, hipnotizou as crianças da vila, e os afogou sobre o mesmo rio como lição. A história se repete de forma muito similar ao conto, sendo uma boa teoria de explicação para o enredo da série. O cheiro pode ser interpretado como uma peste metafórica, e todos os filhos tiveram de pagar pelos pais a “sujeira” de suas ações. 

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A trama ocorre a partir das relações interpessoais entre os personagens, que tiveram de se desenrolar para a sobrevivência uns dos outros. Alguns problemas já enraizados na sociedade vieram à tona, entretanto, modificar questões sociais não era para um bem comum distante, mas sim para que houvesse de fato uma relação de sobrevivência emergente, no qual a decisão de um, atingia todos. A reaproximação era necessária; como se estivesse regredindo na história humana, as relações afastadas do mundo contemporâneo não era mais uma realidade, deveriam aprender por si só questões já desvendadas, por meio do aprendizado e cooperação. 

As garotas  do filme, apesar de terem muitas diferenças entre si, tiveram de se unir por questões em comum. Compartilhavam o “medo da testosterona”, o que quer dizer, que estando em um lugar fechado com outros homens, elas deveriam cuidar-se para que não houvessem estupros, violência, pois já que elas eram as únicas ali, temiam que o desejo desenfreado, e a ideia dominadora que herdara da sociedade patriarcal e machista, pudesse ser desastroso a elas. 

Alguns personagens como Sam, devem ser mencionados pois se trata de uma caracterização de indivíduos marginalizadas socialmente, se trata de alguém observador, carinhoso, e a representação de uma pessoa surda, que apesar de portar essa deficiência, em nenhum momento foi um empecilho para comunicar-se. Quase todos os personagens sabiam a língua de sinais, mostrando inclusão e representatividade, pois além disso, ele se afirma como homossexual, e sua melhor amiga Becca, estava grávida dele, sendo essa uma gravidez indesejada, difícil e temida por ela. Entretanto, apesar das inúmeras dificuldades conjugais de Sam, já que na melhor das hipóteses poderia existir um heteronormativo que escondesse sua homossexualidade por repressão, Sam começou a se envolver com Gareth que suprimia seus desejos, mas que dessa vez, tentou aprender língua de sinais, e começou a se aproximar e ser sincero quanto ao que sentia.

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Além de tudo, a vida de Sam foi permeada por medo, pois seu irmão mais velho chamado Campbell, é psicopata, e agora sua nova companheira Elle estava em apuros, pois aquela relação era vivenciada pelo controle, ideal de posse, além da inconstância sobre atitudes de Campbell pudesse vir a ter. Relações abusivas também foram retratadas como nos personagens de Kelly e Harry, onde ele tinha status, popularidade e poder sobre a anterior vida no colegial. As relações aos poucos mudavam, deveriam agora racionar comida, pensar em formas de plantio, maneiras de manter todos ali seguros, e além de tudo, manter as regras a partir da democracia e unanimidade de escolha de todos. 

Entretanto, tudo isso era bem mais difícil na prática. A luta pelo poder, o machismo, e a dificuldade de seguir e manter regras tornaram-se não só complexas como letais, levando a morte de alguns personagens. Cujo o dualismo político, a luta para ascensão e controle das totalidades, por vezes, eram vistas como prioridade por alguns ao invés do bem comum. Cada vez mais era possível averiguar a frase de Maquiavel “Dê poder ao homem, e descobrirá quem ele realmente é”. A Lei de talião tornou-se vigente, a morte de alguém representava a morte do culpado, e nessa disputa muitos se corromperam, tornando as relações cada vez mais difíceis e injustas.  

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Dessa forma, a série nos traz a possibilidade de reflexão sobre nós mesmos, sobre o empecilho de nossas desvirtudes morais, a partir de uma pequena parcela de pessoas que constituíam essa nova sociedade. A série termina sem uma explicação sobre o motivo ao qual eles estavam presos, mas algo é certo, eles deveriam lutar para construir um lugar que possibilitasse a sobrevivência. A trama mostra, que muito pelo contrário, quando o poder está em jogo, muito cabeças viram degraus. Relações abusivas, machismo, homofobia, depressão, abuso de drogas, religiosidades, deficiência física e mental são temas que permeiam a série “The Society”. 

Novos episódios já estão previstos, pois os fãs da série ficaram inquietos pois desejam desfechos, e um entendimento melhor do que houve com os jovens daquele colégio. Estariam mortos, em um mundo paralelo, ou em outra dimensão? Muitas teorias foram formuladas a partir dessas dúvidas, o que coloca todos os indivíduos como os próprios personagens, imersos em suas próprias realidades, e buscando possibilidades de modificar a sociedade em um lugar melhor para si viver. Alguns interpretam como bênção outros como castigo, mas algo que não se pode negar é que eles receberam de alguma maneira a chance de reconstruir uma nova forma de organização. 

No último episódio da primeira temporada Gareth recebe um livro de Sam, chamado “A vida nos bosques” de Thoreau, leu um trecho em voz alta enquanto alguns colegas explorava o matagal que rodeava a cidade, sendo a seguinte frase: “Fui viver no bosque, porque quis viver deliberadamente, para enfrentar apenas os fatos essenciais da vida e ver se eu aprenderia o que ele tinha a me ensinar, em vez de, na hora da minha morte, descobrir que não vivi”.

encurtador.com.br/mBCQT

Estariam eles então vivendo uma sorte, uma nova oportunidade de gozar sobre fatores essenciais, de renovação psíquica sobre o que geralmente interpretamos como importante ou essencial, ou vivendo um castigo? Na redoma das ignorâncias, também se vive preso a ideias, inconclusões e medos, e sobre prioridades que por vezes adoecem, tendendo a encontrar fugas de suas próprias mazelas ao invés de modificá-las. The society é uma parcela de cada indivíduo, é uma reflexão sobre as organizações sociais, potencialidades de mudança e desfecho na história individual e coletiva que rodeia cada ser.

Referências: 

ALMEIDA, Bruno. As 5 fases do luto de Elisabeth Kubler-Ross (2014). Disponível em: https://www.psicologiamsn.com/2014/09/as-5-fases-do-luto-ou-sobre-a-morte-de-elisabeth-kubler-ross.html . Acessado em: 26 de junho de 2019.

HERDY, Gabriel, O que aconteceu com os jovens de The Society (2019). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=SLn7DfDaJTU&t=265s Acessado em: 20 de junho de 2019.

Ficha Técnica

encurtador.com.br/rsvHW

Título original: The Society

Direção: Marc Webb

Elenco: Kathryn Newton, Gideon Adlon, Sean Berdy, Natasha Liu Bordizzo, Jacques Colimon, Olivia DeJonge, Alex Fitzalan, Kristine Froseth, Jose Julian, Alexander, MacNicoll, Toby Wallace, Rachel Keller

Local:  USA

Ano: 2019

Gênero:  Drama adolescente, Mistério

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Caos 2019 irá abordar o olhar da ciência sobre a homofobia e reorientação Sexual

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Entender os contextos político, social e psíquico pelos quais opera a lógica do preconceito é de fundamental importância, tendo em vista o caráter social e humanista presentes na prática profissional dos/as psicólogos/as.

Dois dos temas mais emergentes da Psicologia, a homofobia e a reorientação sexual, terá espaço na palestra de encerramento do Caos 2019, que será ministrada pelo psicólogo mineiro Fábio Baía, no dia 24 de maio de 2019, às 19h, no auditório central do Ceulp/Ulbra.

A homofobia, hoje, é pauta recorrente na intervenção clínica por causar de uma série de danos psicológicos às vítimas. Neste sentido, entender os contextos político, social e psíquico pelos quais ela opera é de fundamental importância, tendo em vista o caráter social e humanista presentes na prática profissional dos/as psicólogos/as.

Na mesma perspectiva, Fábio Baía irá abordar a problemática da reorientação sexual, e o papel da Psicologia no processo de quebra de preconceitos, além da necessidade dos profissionais, ao seguir os princípios éticos, combater a prática da reorientação sexual, bem como promover a diversidade e da dignidade humana. Toda a palestra será balizada pelo que há de mais atual em termos de paradigmas científicos.

Fonte: Arquivo Pessoal

Fábio Baía é psicólogo pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (2006), mestre em Ciências do Comportamento pela Universidade de Brasília (2008) e doutor em Ciências do Comportamento pela Universidade de Brasília (2013). Foi membro do Conselho Superior da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás.

O palestrante também foi presidente da Associação Brasileira de Análise do Comportamento (ACBr) biênio 2016-2017 e diretor da Faculdade de Psicologia da UniRV 2015-2018. Atualmente é professor titular da Universidade de Rio Verde, Líder do Grupo de Pesquisa ‘Análise do Comportamento nos três níveis de seleção’, membro do Grupo Internacional de Pesquisadores Culturo Behavior System Sciences e coordenador do Laboratório de Psicologia Experimental (LAPEX-UniRV). Fábio também tem experiência na área de Psicologia, com ênfase em Psicologia Experimental, atuando principalmente nos seguintes temas: fenômenos sociais, metacontingência, práticas culturais, macrocontingência.

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Azul é a cor mais quente?

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O que “Azul é a Cor Mais Quente” tem a oferecer para se pensar os discursos de gênero e sexualidade que perpassam a homossexualidade feminina?

O filme, produzido por Abdellatif Kechiche e protagonizado, principalmente, por Léa Seydoux (Emma) e Adèle Exarchopoulos (Adele) foi inspirado em uma HQ chamado “Le bleu est une couler chaude” (Azul é uma cor quente) da escritora Julie Maroh. Tanto o longa quanto a história em quadrinhos tem como foco o encontro entre Adèle (que na HQ chama-se Clémentine) e Emma.

Porém, no desenrolar da história, percebe-se inúmeras diferenças na perspectiva entre as duas narrativas, o que posteriormente ao lançamento do filme, Julie Maroh considerou algo normal, já que ela não participou das filmagens e alega que o filme se trata de uma adaptação livre (MAROH, 2013).

Resumindo (e muito) o longa que tem uma duração de quase 3 horas, Adèle é uma garota de 15 anos que está descobrindo sua sexualidade e se divide entre completar o ensino médio e dar aulas para crianças. Já Emma, a jovem adulta de cabelos azuis (motivo pelo o qual se deu o nome do filme), é uma artista plástica, tem sua sexualidade resolvida e namora uma menina.

Enquanto Emma sonha em ser uma artista e frequenta vários ambientes, desfrutando de oportunidades e certos privilégios por participar de uma estrutura familiar com padrões considerados altos, Adèle é uma jovem do interior, de poucas ambições, possui pais mais simples e que são bem objetivos quando pensam no futuro.

Fonte: encurtador.com.br/ptFP1

As duas começam a se conhecer e percebem o quanto suas vidas são diferentes, mas inicialmente, isso não as impedem de iniciar um relacionamento intenso. Muito influenciadas pelos distintos contextos que estão inseridas, assumem posturas diferentes, Emma assume publicamente seu novo relacionamento e Adele permanece no “armário”.

O filme recebeu muitos elogios, teve várias premiações, tendo como uma das mais ilustre, a Palma de Ouro em 2013. Mas, um olhar mais crítico traz a tona reflexões e questionamentos que, a primeira vista, são ignorados pelo grande público e até mesmo, pelos públicos pertencentes às temáticas tratadas no longa. Um dos grandes questionamentos que surgem é sobre os discursos de gêneros e sobre as diferentes formas de se pensar a sexualidade.

A sexualidade dentro das diversas formas de expressão e a identidade de gênero, são temas que vem aparecendo com bastante recorrência na mídia. Contudo, devemos ficar atentos e nos questionarmos como essa vinculação está sendo feita, pois, muitas vezes, há uma clara reprodução das práticas heteronormativas. Portanto, mais especificamente, o que “Azul é a Cor Mais Quente” tem a oferecer para se pensar os discursos de gênero e sexualidade que perpassam as homossexualidades femininas?

A maneira que o longa foi dirigido e a forma que narra a história, possibilita ao público a (re)afirmação e uma nova (re)constituição da construção normativa e limitada das homossexualidades femininas (BATISTA, 2014), nos levando a identificar “aspectos permeados por relações de sexualidade e gênero envoltas pela dominação masculina e por um ideal heterossexista” (CAPRONI NETO, H. L.; SILVA, A. N.; SARAIVA, L. A. S, 2014, p. 247).

Fonte: encurtador.com.br/ipwES

A relação amorosa das personagens pode ser identificada como uma relação de poder que permeia a visão heterosexista, pois a trama se baseia no envolvimento de Emma, a lésbica mais masculinizada, e Adele, a garota que está descobrindo sua sexualidade e se porta na sociedade de forma mais feminina. O desfecho do filme foca, principalmente, no impacto que a primeira (Emma) causa na vida da segunda (Adele).

Pino (2007) fez pontuações importantes sobre os marcadores de gêneros supracitados e define que há um “enquadramento de todas as relações mesmo as supostamente inaceitáveis entre pessoas do mesmo sexo em um binarismo de gênero que organiza suas práticas, atos e desejos a partir do modelo do casal heterossexual reprodutivo” (PINO, 2007, p. 160).

Esse binarismo pode ser identificado novamente quando Adele e Emma vão morar juntas, e, então, a primeira passa a sentir-se insegura em relação à segunda, e acaba se envolvendo com seu colega de trabalho. Quando descobriu a traição, Emma expulsa Adéle de casa, e a partir disto, até o fim do filme, Adele se sente culpada e tenta viver sua vida sem “a menina do cabelo azul”. Depois disse, Adele mostra-se infeliz e tentar reconquistar Emma, mas sem sucesso, pois a mesma já começa a se envolver com outra mulher.

Somando mais características do longa ao que as heteronormatividades e as homonormatividades ponderam, percebemos a repetição da regra que dita que a mulher lésbica sempre deverá experimentar sexo com pelo menos um homem na sua vida. Batista (2007) argumenta que os produtos midiáticos não retratam a necessidade do contrário, ou seja mulheres héteros não demonstram, com frequência, a necessidade de se relacionarem sexualmente com outras mulheres para ter certeza da sua heterosexualidade.

Fonte: encurtador.com.br/guY28

Essa “regra” é percebida nos comportamentos de Adele mais especificamente em dois momentos, no início do filme quando a protagonista se ver interessada por mulher e ao sentir desconforto com esse desejo, se submete há experienciar uma relação com o sexo oposto, e no desenrolar da trama, quando Emma e Adele já morando juntas, entram em um conflito e a sexualidade de Adele também, e a mesma acaba se relacionado com um homem.

Outra “regra” percebida é a “descoberta” de Adele da sua sexualidade. O Filme expõe isso como um momento bastante conturbado e confuso, no qual é comum ser experienciada uma tristeza e um momento de difíceis conflitos em não se identificar como heterossexual.

Portanto, ao firmarem constantemente somente essa maneira de se vivenciar a sexualidade, os produtos midiáticos como o filme “Azul é a Cor Mais Quente” passam a sensação que não existe a exceção, de que não há a possibilidade de se perceber homossexual sem passar por uma série de traumas, tristezas e sem experimentar o sexo com um homem (BATISTA, 2007).

Smigay (2002, p.35) argumenta que “apenas um pensamento antissexista é capaz de airmar o direito a diferenças individuais, entre gêneros e intragêneros, descolados da biologia, rompendo com a perspectiva essencialista”, mas que isso somente será capaz se houver uma ampliação na perspectiva, entendo os seres para além do olhar biologicista, reconhecendo o peso da cultura e considerando a alteridade como condição básica de respeito à pluralidade, ao multiculturalismo, às múltiplas expressões eróticas, sociais, sexuais (SMIGAY, 2002).

Fonte: encurtador.com.br/muBJ9

Dessa maneira, se tratando das diversas formas de expressão da homossexualidade feminina, dentro do filme, pouco é percebido em relação a superação do preconceito. Através dessa análise, um sutil caminho para tentar dar visibilidade para o tema foi traçado, mas que ainda, muitas temáticas tem que ser trabalhadas na questão de representação, tanto de gênero quanto de sexualidade. Há uma urgência de um desprender desse padrão heteronormativo se faz presente.

É necessário ter um olhar mais atento a esses tipos de violências e ao que aparenta ser um olhar descuidado sobre essas temáticas. Estas transgressões, para além do sucesso midiático do longa, reafirmam uma série de discursos e “regras” com valores e verdades sobre gêneros, sexos e sexualidades, muitas vezes, não condizentes com a realidade.

FICHA TÉCNICA DO FILME:

AZUL É A COR MAIS QUENTE

Título original: La Vie d’Adèle – Chapitres 1 et 2
Direção:  Abdellatif Kechiche
Elenco: Léa Seydoux, Adèle Exarchopoulos, Salim Kechiouche
País:  França
Ano: 2013
Gênero: Drama, Romance

REFERÊNCIAS

BATISTA, D. C. . SERIA AZUL A COR MAIS QUENTE? Reflexões sobre hetero e homonormatividades no filme de Abdellatif Kechiche. In: X ANPED Sul, 2014, Florianópolis. -, 2014. Disponível em: <http://xanpedsul.faed.udesc.br/publicacao/caderno_resumos.php>. Acesso em: 11 maio 2019.

CAPRONI NETO, Henrique Luiz; SILVA, Alexsandra Nascimento; SARAIVA, Luiz Alex Silva. Desenhando o Mundo Ideal e Mundo Real: um estudo sobre lésbicas, trabalho e inserção social. Revista de Ciências Humanas, Florianópolis, v. 48, n. 2, p. 247, dez. 2014. ISSN 2178-4582. Disponível em:<https://periodicos.ufsc.br/index.php/revistacfh/article/view/2178-4582.2014v48n2p247/28508>. Acesso em: 10 maio 2019.

MAROH, Julie. Le bleu d’Adèle. [S. l.], 27 maio 2013. Disponível em:<http://www.juliemaroh.com/2013/05/27/le-bleu-dadele/>. Acesso em: 10 maio 2019.

PINO, Nádia Perez. A teoria queer e os intersex: experiências invisíveis de corpos des-feitos. Cadernos Pagu, v. 28, p. 160, jan./jun, 2007. Disponível em:<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-83332007000100008>. Acesso em: 11 de maio de 2019.

SMIGAY, Karin Ellen Von. Sexismo, homofobia e outras expressões correlatas de violência: desaios para a psicologia política. Psicologia em Revista, Belo Horizonte, v. 8, n. 11, p. 35, jun. 2002. Disponível em: <http://periodicos.pucminas.br/index.php/psicologiaemrevista/article/view/136>. Acesso em: 11 de maio de 2019.

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Caos 2019 irá abordar o olhar da ciência sobre a homofobia e reorientação Sexual

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Entender os contextos político, social e psíquico pelos quais opera a lógica do preconceito é de fundamental importância, tendo em vista o caráter social e humanista presentes na prática profissional dos/as psicólogos/as

Dois dos temas mais emergentes da Psicologia, a homofobia e a reorientação sexual, terá espaço na palestra de encerramento do Caos 2019, que será ministrada pelo psicólogo mineiro Fábio Baía, no dia 24 de maio de 2019, às 19h, no auditório central do Ceulp/UlbraEntender os contextos político, social e psíquico pelos quais opera a lógica do preconceito é de fundamental importância, tendo em vista o caráter social e humanista presentes na prática profissional dos/as psicólogos/as

Fonte: encurtador.com.br/guzOV

A homofobia, hoje, é pauta recorrente na intervenção clínica por causar de uma série de danos psicológicos às vítimas. Neste sentido, entender os contextos político, social e psíquico pelos quais ela opera é de fundamental importância, tendo em vista o caráter social e humanista presentes na prática profissional dos/as psicólogos/as.

Na mesma perspectiva, Fábio Baía irá abordar a problemática da reorientação sexual, e o papel da Psicologia no processo de quebra de preconceitos, além da necessidade dos profissionais, ao seguir os princípios éticos, combater a prática da reorientação sexual, bem como promover a diversidade e da dignidade humana. Toda a palestra será balizada pelo que há de mais atual em termos de paradigmas científicos.

Fonte: Arquivo Pessoal

Fábio Baía é psicólogo pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (2006), mestre em Ciências do Comportamento pela Universidade de Brasília (2008) e doutor em Ciências do Comportamento pela Universidade de Brasília (2013). Foi membro do Conselho Superior da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás.

O palestrante também foi presidente da Associação Brasileira de Análise do Comportamento (ACBr) biênio 2016-2017 e diretor da Faculdade de Psicologia da UniRV 2015-2018. Atualmente é professor titular da Universidade de Rio Verde, Líder do Grupo de Pesquisa ‘Análise do Comportamento nos três níveis de seleção’, membro do Grupo Internacional de Pesquisadores Culturo Behavior System Sciences e coordenador do Laboratório de Psicologia Experimental (LAPEX-UniRV). Fábio também tem experiência na área de Psicologia, com ênfase em Psicologia Experimental, atuando principalmente nos seguintes temas: fenômenos sociais, metacontingência, práticas culturais, macrocontingência.

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Três Anúncios para um Crime: surpreendente e contraditório

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Concorre com 7 indicações ao OSCAR:

Melhor Filme, Melhor Atriz (Frances McDormand), Melhor Ator Coadjuvante (Woody Harrelson e Sam Rockwell), Melhor Roteiro Original, Edição e Melhor Trilha Sonora.

“You’re enchained by your own sorrow
In your eyes there is no hope for tomorrow”.
-Abba, Chiquitita.

Três Anúncios Para um Crime (Three Billboards Outside Ebbing, Missouri) é um filme estadunidense de 2017, com direção e roteiro do britânico Martin McDonagh. Com sete indicações ao Oscar 2018, a película traz uma trama envolvente e imprevisível, retratando de temas polêmicos, mas nem sempre fáceis de lidar em um longa de 1h 56min de duração.

Na trama, Mildred Hayes, vivida por Frances McDormand (Fargo), teve sua filha Angela Hayes (Kathryn Newton) estuprada e assassinada, sem que o culpado pelos crimes fosse encontrado pela polícia. Ao perceber o esquecimento da polícia quanto ao crime, Mildred aluga três outdoors em uma estrada pouco movimentada na cidade de Ebbing em Missouri, no Meio-Oeste dos Estados Unidos (como o título original do filme sugere). Nos outdoors a mãe cobra justiça após meses sem investigações, provocando o xerife local Bill Willoughby (Woody Harrelson).

O xerife vivido por Woody Harrelson é o segundo maior personagem na relação tríplice entre as principais personalidades do filme. O xerife que é apontado como culpado em letras garrafais por Mildred, vive com a culpa de não ter solucionado o crime e também tem de lidar com um câncer terminal, que o torna preocupado com o futuro de sua família. Mesmo sendo o alvo da mãe enfurecida, Bill é o único personagem da trama que compreende e defende Mildred, se contradizendo entre o comportamento machista e estúpido da polícia local e uma ternura paternal hipnótica.

Fonte: goo.gl/Vu3jHQ

Bill também serve de conselheiro e inspirador para o policial Jason Dixon (Sam Rockwell), o terceiro personagem no tripé de personalidades. Dixon é uma curiosa mistura de alívio cômico e vilão: homofóbico, machista e racista, e ao mesmo tempo infantil e reprimido.

Para cada personagem na relação tri-pessoal da trama há reviravoltas que nem os melhores “palpiteiros” de filmes poderiam prever, comportando a maior virtude do filme, com um realismo de humor irônico; mas também seu maior defeito, a escolha de temas muito delicados que não são tratados com tanta delicadeza.

O tema que serve de eixo central da trama se trata do estupro de Angela Hayes. O olhar cuidadoso do diretor torna o filme repleto de detalhes, um deles pode ser o easter egg em relação ao nome “Angela Hayes”, que também foi da personagem de Mena Suvari em Beleza Americana (1999), retratada como uma “sex symbol” menor de idade, cobiçada sexualmente pelo pai de família interpretado por Kevin Spacey (sim, polêmicas à parte).

Fonte: goo.gl/ou9xxL

A violência cometida contra Angela é claramente retratada no zeitgeist social de sua cidade através do filme, e da sociedade em geral, por isso um tema tão pertinente atualmente. De acordo com Sousa (2017), os estupradores agem apoiados sob discursos machistas difundidos até eles e por eles, de modo que se acredita no direito de poder sobre as mulheres de acordo com estereótipos de virilidade e masculinidade dentro da sociedade binária.

A violação sofrida pela filha de Mildred é fruto não só da covardia de um abusador, mas também do espírito de uma época, que faz vítimas no mundo todo através da cultura do estupro. Todas as mulheres retratadas na película sofrem algum tipo de violência, e são coagidas a não revidar.

Para Sousa (2017) esses valores são difundidos socialmente, revitimizando a mulher, que se colocaria nas ‘situações de risco’, tornando-a culpada por não seguir as regras de conduta que lhe são impostas desde o nascimento. Dessa maneira, deposita-se a responsabilidade na mulher sobre os atos de terceiros contra sua integridade sexual.

Fonte: goo.gl/12TDMV

A mudança

Com tantos fatores de coerção, a violência transgeracional na família de Mildred, cometida também pela polícia, só encontrou alguma mobilização quando a personagem canalizou sua raiva para a ação nos outdoors. Ação essa, que a fez vítima de várias retaliações, por acusar um homem, xerife, detentor do poder.

Em uma participação no programa Café Filosófico, a filósofa Márcia Tiburi elucida aspectos sobre o “Mito do Sexo”, fazendo reflexões sobre a condição feminina e a relação entre sexo e poder. Segundo Tiburi (2014), historicamente o homem assume a esfera pública enquanto à mulher se atribui fortemente a função reprodutiva, tornando, portanto, o homem detentor da “lei” e do poder atribuídos a uma imagem masculina. Tal dinâmica é retratada com maestria em Três Anúncios para um Crime, na figura da polícia e de todos os agentes da delegacia, que atuam propositalmente na destruição dos planos de Mildred.

Brilhantes atuações

As participações impecáveis que renderam indicações para Frances McDormand, Woody Harrelson e Sam Rockwell, são sustentadas por uma relação dualista entre agressividade e desamparo dos personagens. Mildred encontra um sentido em seu caos, Bill encontra um fim para seu sofrimento, mas o destaque de transformação fica com Dixon, que quase em uma licença poética se transforma como ser humano no último momento, em uma epifania de revelação da bondade que já estava dentro dele.

Fonte: goo.gl/gE2SKt

A pouca coerência de Dixon que em uma cena ouve a música Chiquitita do grupo ABBA (conhecido pelas suas musicas cheias de esperança e amor), e em outra age pra prejudicar Mildred no momento em que ela mais precisa de ajuda, alcança uma redenção quase cômica após um “insight”.

“Chiquitita, me diga o que há de errado
Você está acorrentada na sua tristeza
Nos seus olhos não há esperança para o amanhã.”

Qualquer prêmio que Três Anúncios para um Crime venha a receber não será nenhum tipo de surpresa, visto suas estrondosas atuações e as minuciosas direção e fotografia. A importância da representação de temas tão atuais como a cultura do estupro e violência contra a mulher é inegável, mérito de McDonagh e todo elenco do filme.

Porém, a maior incoerência da trama é sem dúvidas a falta de atores negros em papéis importantes. O filme vencedor de quatro Globos de Outro, rendeu um prêmio para Sam Rockwell, que interpretou o policial conhecido por ter espancado um homem negro que estava sob custódia, algo que deve ser pensado. Apesar da redenção de Dixon e da grande atuação de Rockwell, nada explica falta de atores negros em um filme que aborda preconceito racial. Apenas um ator negro em um papel pouco relevante, não é o que fará o Oscar deixar de ser branco. A mesma dinâmica se aplica à homofobia, mostrando cenas extremamente violentas, porém sem dar ênfase ao personagem Red Welby, com a atuação intrigante de Caleb Landry Jones.

Fonte: goo.gl/19VjNc

Esses e outros aspectos tornam Três Anúncios para um Crime contraditório. À medida que aborda temas extremamente relevantes e delicados em segundo plano, sem os tratar com a merecida atenção; a trama central se desenvolve bem, surpreendendo na profundidade das atuações e nas reviravoltas do roteiro. Surpreendente e contraditório.

Um bom filme que sem dúvidas merece ser assistido pelos leitores desse texto. Certamente chegarão aos seus próprios e novos entendimentos.

FICHA TÉCNICA


   TRÊS ANÚNCIOS PARA UM CRIME

Diretor:  Martin McDonagh
Elenco:  Frances McDormand, Woody Harrelson, Sam Rockwell
Gênero: Drama
Ano: 2018

Referências:

SOUSA, Renata Floriano de. Cultura do estupro: prática e incitação à violência sexual contra mulheres. Estudos Feministas, Florianópolis, 25(1): 422, janeiro-abril 2017. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-026X2017000100009&script=sci_abstract&tlng=pt>. Acesso em: 13 fev. 2018.

TIBURI, Márcia. O Mito do Sexo – In Café Filosófico (14:57 min). Campinas: CPFL Cultura, 2014. Disponível em <https://vimeo.com/71103337>. Acesso em: 13 fev. 2018.

 

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Relato de experiência: homossexualidade ainda não é tema superado

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Recentemente o egresso do Ceulp/Ulbra e psicólogo Ulisses Franklin Carvalho da Cunha abordou o tema “A experiência materna diante da relação homossexual masculina: um estudo de caso”. A apresentação ocorreu durante uma edição do Psicologia em Debate.

Por ser um tema considerado tabu, é pouco discutido nas escolas, comunidade e principalmente nas famílias, onde nunca estamos preparados para receber esse tipo de notícia; justamente por não sabermos como reagir, o egresso compara a compreensão da notícia como as fases do luto descrita pela psiquiatra Elizabeth Kubler Ross.

De acordo com o Dicionário Aurélio, homossexual caracteriza-se como: ‘’Que ou quem sente atração sexual por pessoas do mesmo sexo ou tem relações sexuais ou afetivas com pessoas do mesmo sexo’’. Tendo o direito de ter um relacionamento saudável como qualquer outra pessoa, sem se limitar por optar em ter outra preferência afetiva. Uma das maiores dificuldades que uma pessoa que pertença ao grupo dos LGBT’S possa experimentar é chegar ao momento da revelação para seus amigos e sua família que por ser um grande tabu acaba tornando a jornada maior e mais complicada, pois quando uma pessoa que se encontra nessa situação toma a iniciativa de dar o passo inicial seu interior fica conturbado; é na compreensão dos parentes que se busca alento.

Fonte: goo.gl/f6J1KD

Outro ponto importante abordado foi o índice de violência contra o público LGBT, que de acordo com o Jornal GLOBO “a cada 19 horas um LGBT é assassinado ou se suicida vítima da LGBTfobia”.

O egresso comparou a experiência da mãe entrevistada em seu Trabalho de Conclusão de Curso com as fases do luto explicadas por Elizabeth Kubler Ross, que seriam: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Podendo ou não a entrevistada ter passado necessariamente por todas essas fases muito menos ter seguido sua ordem.

Seu objetivo de estudo foi conhecer e compreender como funcionava a subjetividade da mãe naquele determinado momento, tanto emocional, social e principalmente em relação à sua saúde mental. No decorrer do debate, pudemos nos aprofundar mais no assunto com relatos de vida de alguns participantes presentes que mostraram que alguns pais podem ou não aceitar a orientação sexual do filho, deixando claro que devemos tratar da situação de uma maneira menos tensa, sabendo respeitar tanto o lado da mãe como do filho, que também sofrerá com a circunstância.

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“Suicídio, Homofobia e LGBT+” é tema do Psicologia em Debate

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O evento acontece no dia 13 de setembro às 17h na sala 203 do CEULP e marca a ação do curso na campanha “Setembro Amarelo” de prevenção ao suicídio

“Suicídio, Homofobia e LGBT+ – Quem a Homotransfobia matou hoje?” será pauta de discussão da 33ª edição do “Psicologia em Debate”, que acontecerá no próximo dia 13 de setembro na sala 203, a partir das 17h. Com a orientação da Profa Me. Cristina D’Ornellas Filipakis, o tema foi desenvolvido como TCC e será apresentado pela egressa de Psicologia do CEULP Flor de Lyss Feitosa.

O Psicologia em Debate do referido dia marca a atuação do curso no “Setembro Amarelo” que é uma campanha de conscientização sobre a prevenção do suicídio, com o objetivo de alertar a população a respeito do suicídio no Brasil e no mundo.

Fonte: https://goo.gl/Tm99YH

 “Psicologia em Debate” é um espaço permanente para apresentação de trabalho de pesquisa e extensão, TCC, entre outros, dos estudantes e egressos de psicologia do CEULP/ULBRA, dando oportunidade de divulgação das atividades desenvolvidas no curso. Entre os objetivos do projeto está a instrumentalização dos alunos e o estímulo para que mais acadêmicos se envolvam em atividades científicas. 

O evento acontece desde fevereiro de 2016 sempre às quartas-feiras, na sala 203, prédio da Psicologia, no CEULP. A atividade é aberta ao público, é gratuita e vale horas complementares.

Fonte: https://goo.gl/Ng5Dys

Saiba mais sobre o Setembro Amarelo

Iniciado no Brasil pelo CVV (Centro de Valorização da Vida)CFM (Conselho Federal de Medicina)ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), o Setembro Amarelo realizou as primeiras atividades em 2014 concentradas em Brasília. Em 2015 já conseguiu uma maior exposição com ações em todas as regiões do país. Mundialmente, o IASP – Associação Internacional para Prevenção do Suicídio estimula a divulgação da causa, vinculado ao dia 10 do mesmo mês no qual se comemora o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio. O CVV – Centro de Valorização da Vida (uma das principais mobilizadoras do Setembro Amarelo) é uma entidade sem fins lucrativos que atua gratuitamente na prevenção do suicídio desde 1962, membro fundador do Befrienders Worldwide e ativo junto ao IASP – Associação Internacional para Prevenção do Suicídio), da Abeps (Associação Brasileira de Estudos e Prevenção do Suicídio) e de outros órgãos internacionais que atuam pela causa.

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