Maria da Penha: a luta sobrepujando a dor

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“Um dia, ele tinha chegado de viagem de tarde, e nós tínhamos um compromisso com uma amiga. Nós saímos pra fazer essa visita, voltamos, arrumei as crianças na cama e fui dormir. Eu acordei com um estampido dentro do quarto. Eu fui me mexer e não consegui, então eu pensei: ‘puxa, o Marco me matou’”. [1]

Cearense, bioquímica e dona de uma história de sofrimento que teve repercussões internacionais, Maria da Penha Maia Fernandes é uma brasileira que não descansa no combate à violência doméstica. Seu nascimento data o ano de 1945, na cidade de Fortaleza, [4] onde cresce e forma-se na UFC. Mais tarde torna-se mestre em Parasitologia em Análises Clínicas, pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP [2]. Por ironia do destino a escolha da sua área profissional deu-se pelo desejo de diminuir a dor das pessoas, por meio de medicamentos [3], mal sabia ela que em breve sofreria agruras e dores que as medicações não poderiam resolver.

Fonte: http://migre.me/wc8ty
Fonte: http://migre.me/wc8ty

Foi no período de pós-graduação na USP que Maria conheceu o futuro marido e pais de suas filhas, era ele Marco Antônio Heredia Viveros. Colombiano e também bolsista na mesma universidade, era graduado em Economia. Durante o namoro foi um rapaz de saltar olhares, de “bom” porte físico e muito prestativo, mas passava por grandes dificuldades financeiras para manter o lazer com a companheira, esta era quem o custeava [3]. Aflorados por um sentimento conjugal, casaram-se e logo tiveram a primeira filha. Devido a não naturalização e desemprego de Marco e uma segunda gestação do casal, decidiram sem êxito ir para cidade natal de Maria da Penha.

Em 1983, após um bom tempo da transição do marido prestativo para o economista bem-sucedido, agressivo com a esposa e filhas e com graves problemas emocionais, aconteceu a primeira tentativa de homicídio, um tiro nas costas enquanto ela dormia. Posteriormente, após quatro meses entre internação e cirurgias, ao retornar para casa ela sofre a segunda tentativa, quase é eletrocutada ao tentar usar o seu próprio chuveiro. Então se inicia a sua peregrinação por justiça – denúncias, audiências e descaso do sistema judiciário Brasileiro – que se estendeu por 19 anos.

Fonte: http://migre.me/wc8ut
Fonte: http://migre.me/wc8ut

Somente mediante a publicação de sua autobiografia no livro “Sobrevivi… Posso contar”, em 1994, e quatro anos depois com o auxílio do CEJIL (Centro pela Justiça e Direito Internacional) e do CLADEM (Comitê Latino-Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher) foi que Maria da Penha conseguiu notoriedade para seu caso. Aliando-se, denunciaram o Brasil para Comissão Interamericana de Direitos Humanos e da Organização dos Estados Americanos (OEA) [4]. Desse modo:

O Brasil foi responsabilizado pela maneira negligente com que os casos de violência contra a mulher eram julgados no país. Foi a própria OEA que exigiu do governo brasileiro a criação de uma legislação específica. Foi criado um consórcio de ONGs e juristas para discutir e fazer um projeto de lei. Foram feitas várias audiências públicas, e o projeto foi aprovado pelo Congresso com unanimidade. [1]

Ainda nesse contexto, foi criado um projeto de lei (pelo Governo Federal via Secretaria de Políticas Públicas da Mulher), aprovado na Câmera e no Senado, que tornou-se (no dia 7 de agosto de 2016) a atual Lei 11.340, mais conhecida como Lei Maria da Penha. Esta cria mecanismos para coibir qualquer tipo de violência contra mulher no âmbito doméstico e familiar [5], visto que até então havia “tolerância” de natureza patriarcal em relação a tal fato.

Fonte: http://migre.me/wc8tV
Fonte: http://migre.me/wc8tV

No que tange aos fundamentos da Logoterapia desenvolvida por Viktor Frankl (1991), onde a busca de sentido na vida é a força motivadora do ser humano, o sofrimento de Maria da Penha pode ter lhe suscitado um sentido para sua vida. De acordo com Frankl (1991) pode-se satisfazer a vontade de sentido (da vida) por três maneiras distintas: trabalho, amor e sofrimento. Este último “consiste em transformar uma tragédia pessoal num triunfo, em converter nosso sofrimento numa conquista humana” [6]. É nessa perspectiva que Maria sai da mera passividade de sofrer, transmutando-se num ser ativo que não cessa ao alcançar a justiça para sua fatalidade, mas que encontra sentido em auxiliar suas semelhantes na luta contra a violência doméstica, as quais passam ou podem passar por algo análogo.

Nesse ínterim, Maria da Penha – ícone internacional da luta, perseverança e resiliência – é o exemplo vivo que a luta se sobrepõe à dor. Até mesmo a paraplegia, causada pelas tentativas de homicídio por parte do marido, não foi capaz de pará-la no decurso de sua peleja para puni-lo e aos demais brasileiros que de alguma forma agridem a mulher. A partir da Lei 11.340/2006, também foram criados outros meios confronto  em prol da justiça, como: o disque 180 (Central de atendimento à mulher), o Observatório para Implementação da Lei Maria da Penha (LMP), a Campanha “Compromisso e Atitude pela Lei Maria da Penha – A lei é mais forte e o Instituto Maria da Penha (IMP), o qual é fundadora.

FB-MariadaPenha1

Premiações e reconhecimentos [7]:

  • Sanção da Lei (07/08/2006)
  • Medalha Jorge Careli – Rio De Janeiro – (08/2009)
  • Batismo do Navio “Sergio Buarque de Holanda” Porto de Mauá – (2010)
  • Reedição do Livro “Sobrevivi…Posso Contar” (2010)
  • Comenda Mulher Coragem – Promoção de Direitos Humanos, concedida pela Embaixada dos Estados Unidos no Brasil (04/2010)
  • Ordem de Cruz de Dama Isabel la Católica, concedida pela Embaixada da Espanha no Brasil (09/2011)
  • Ordem Rio Branco
  • TEDEX Fortaleza – Apresentação de Maria da Penha no 1º Tedex em Fortaleza (06/2012)
  • Women in the World faz doação ao Instituto Maria da Penha (12/2012)
  • Participação de Maria da Penha na Campanha do World Bank “Homem não bate em Mulher” (03/2013)
  • Prêmio de Direitos Humanos 19ª Edição- Categoria Igualdade de Gênero (12/2013)
  • Prêmio Rio Mar Mulher (03/2015)
  • Medalha da Abolição Ceará – (04/2015)
  • Troféu Rosa de Ouro – FECAPES Clube (06/2015)
  • Prêmio Cláudia Hors Concours 2016 (10/2016)
  • Prêmio Franco-Alemão de Direitos Humanos e Estado De Direitos (12/2016)

REFERÊNCIAS:

[1] VELASCO, glória. ‘Foi a glória’, diz Maria da Penha sobre criação da lei há 10 anos.  Jornal G1, São Paulo, 01 ago. 2016. Disponível em: <http://g1.globo.com/politica/noticia/2016/08/foi-gloria-diz-maria-da-penha-sobre-criacao-da-lei-ha-10-anos.html>. Acesso em 03 de março de 2017.

[2] FERNANDES, Maria da Penha Maia & GUERREIRO, Cláudia. Perfil – Maria da Penha. Desafios do desenvolvimento, ano 10, 77. ed., Brasília, 07 out. 2013. Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option=com_content&view=article&id=2938:catid=28&Itemid=23>. Acesso em 03 de março de 2017.

[3] FERNANDES, Maria da Penha Maia. Sobrevivi… Posso contar. 2. ed. Fortaleza: Armazém da Cultura, 2014.

[4] Maria da Penha. Disponível em: http://www.institutomariadapenha.org.br/2016/index.php/sobre-maria-da-penha/minha-historia>. Acesso em 02 de março de 2017.

[5] REPÚBLICA, Presidência da. LEI Nº 11.340, DE 7 DE AGOSTO DE 2006. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm>. Acesso em 02 de março de 2017.

[6] FRANKLViktor Emil. Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração. São Paulo: Vozes, 1991.

[7] Premiações e Reconhecimentos. Disponível em: <http://www.institutomariadapenha.org.br/2016/index.php/sobre-maria-da-penha/premiacoes-e-reconhecimentos>. Acesso em 02 de março de 2017.

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Estão abertas as inscrições para o I Prêmio Maria Beatriz Sá Leitão de Psicologia

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Com o tema Experiências em Psicologia e Direitos Humanos, a premiação será voltada para os profissionais e estudantes de Psicologia.


O Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro abre inscrições para o I Prêmio Maria Beatriz Sá Leitão – Experiências em Psicologia e Direitos Humanos. Profissionais da área de Psicologia e estudantes poderão inscrever seus trabalhos ate o dia 19 de julho. Os vencedores irão receber o prêmio em dinheiro.

O prêmio tem como objetivo dar visibilidade a atuação de profissionais de Psicologia e estudantes na promoção e defesa dos Direitos Humanos no Brasil, nos mais diversos campos de inserção da Psicologia.

Os interessados em participar deverão inscrever trabalhos inéditos abordando a Psicologia como instrumento de transformação social.  O prazo para o encerramento das inscrições será no dia 19 de julho.  A premiações serão feitas em duas categorias, sendo:

Categoria Profissional

1º lugar: R$ 2.800,00 (dois mil e oitocentos reais)

2º lugar: R$ 2.100,00 (dois mil e cem reais)

Categoria Estudante

1º lugar: R$ 1.700,00 (hum mil e setecentos reais)

2º lugar: R$ 1.400,00 (hum mil e quatro reais)

Maiores informações sobre a premiação e edital através do link:http://www.crprj.org.br/premiomariabeatriz/.

Com informações do CRP-RJ.

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Ciclo de debates sobre Saúde Mental no Amazonas

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Serão quatro debates, uma oficina e uma mostra de cinema. As inscrições são gratuitas e haverá certificação


Começou no dia 1º de junho o evento Diálogos Sobre Saúde Mental, na Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas (Aleam), em Manaus.  Com o tema Rede de Atenção Psicossocial no Amazonas, o evento tem a participação do Conselho Regional de Psicologia da 20ª Região, da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Centro Universitário Uninorte e da Liga Acadêmica de Psiquiatria do Amazonas, entre outros parceiros.

O Diálogo Sobre Saúde Mental trata-se de um ciclo de debates intersetoriais sobre Saúde Mental, envolvendo pesquisadores, estudantes, usuários da rede de atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS), familiares de pacientes e profissionais que atuam neste campo.

Programação

A programação vai até novembro, com quatro debates, uma oficina e uma mostra de cinema sobre Direitos Humanos e Saúde Mental.  Neste dia 1º de Junho, será discutida a Rede de Atenção Psicossocial no Amazonas. As atividades acontecerão no Auditório Senador João Bosco, na Aleam, das 8h às 17h. A entrada é gratuita e as inscrições serão feitas no local.

No dia 8 de junho, aconteceu na Aleam, no Auditório Belarmino Lins, será debatida a temática Desafios do Tratamento do uso Abusivo de Álcool e outras Drogas. A entrada também será gratuita e as inscrições feitas no local. O evento vai de 8h às 12h.

O Diálogo Sobre Saúde Mental será retomado em Agosto. No dia 3, haverá uma oficina sobre Reabilitação Psicossocial, das 8h às 17h, no Auditório Senado João Bosco, na Assembleia Legislativa do Amazonas.

Já no dia 10 de agosto, a Psicodinâmica do Trabalho: Um olhar sobre a Saúde Mental será o tema do debate. As atividades novamente serão no Auditório Senador João Bosco, das 13h às 17h.

No mês de setembro, no dia 17, o debate será no Centro Histórico de Manaus. Durante o evento será discutido o tema:Loucura, Arte e Cultura. Finalizando a programação, acontece em outubro a III Mostra de Cinema Vida em Foco: Direitos Humanos e Saúde Mental. A programação terá dois dias, 15 e 16, novamente Assembleia Legislativa, de 8h às 17h.

Lembrando que todos os eventos, conforme a organização, terão entrada gratuita e certificação aos participantes. Além disto, as inscrições serão feitas nos locais dos eventos. Mais informações no https://www.facebook.com/dialogossobresaudemental?fref=ts.

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Congresso Internacional de Direitos Humanos acontece em Palmas

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Evento será realizado no Tribunal de Justiça do Tocantins. A inscrição é gratuita


Palmas será sede do III Congresso Internacional de Direitos Humanos. Com o tema “Respeito aos Direitos Humanos com o advento da Globalização e Diversidade das Configurações Sociais”, o encontro será realizado no auditório do Tribunal de Justiça do Tocantins (TJ-TO) entre os dias 22, 23 e 24 de abril.

As atividades do Congresso são parte do Programa de Mestrado Profissional e Interdisciplinar em Prestação Jurisdicional e Direitos Humanos da Universidade Federal do Tocantins, em parceria com a Escola Superior da Magistratura Tocantinense (ESMAT). Com representantes de diversos países, como Brasil, Chile, Espanha, França, Paraguai, Portugal, Reino Unido, o congresso busca respostas aos grandes e atuais desafios em defesa da cidadania ao redor do mundo.

Durante os três dias, as discussões vão girar nos seguintes eixos temáticos: As Cortes Constitucionais e a Garantia dos Direitos Fundamentais; Os Direitos Humanos e as Diversidades Culturais, e Os Direitos Humanos e a Liberdade de Expressão. O III Congresso Internacional de Direitos Humanos dará certificado de carga horária de 20 horas.

A inscrição é gratuita e pode ser feita no seguinte link: http://wwa.tjto.jus.br/secretaria_academica/inscongresso.aspx?cod=558. No ato do credenciamento, durante a abertura do evento, o inscrito deverá efetuar a doação de 1kg dos seguintes alimentos não perecíveis: açúcar, feijão, arroz, farinha de trigo e macarrão, ou 1 litro de leite tipo longa vida. Todos os itens deverão ter data de validade superior a 30 dias.

Toda a programação e demais informações estão disponíveis no endereço: http://wwa.tjto.jus.br/esmat/index.php? option=com_content&view=article&id=1846&Itemid=414

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2º Fórum de Direitos Humanos e Saúde Mental

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O evento tem como tema “Direito às Diversidades: Cidades, Territórios e Cidadania”.


Com o objetivo de problematizar as violações de Direitos Humanos das diferentes formas de viver nas cidades, a Associação Brasileira de Saúde Mental realiza o 2ª Fórum Brasileiro de Direitos Humanos e Saúde Mental, com o tema “Direito às Diversidades: Cidades, Territórios e Cidadania”. O evento acontece entre os dias 4 e 6 de junho de 2015, na cidade de João Pessoa – Paraíba, com foco em movimentos sociais, pesquisadores, estudantes, ativistas e militantes que desejam construir uma ampla Mobilização Social e Popular em favor de Cidades Inclusivas, Justas e Solidárias.

Atualmente, diante da multiplicidade cultural, vivenciamos o crescimento de violência e crimes contra segmentos considerados diferentes do que a sociedade contemporânea tem como padrão. As principais formas são preconceito racial, social e sexual. Cabe então as poderes públicos e à própria sociedade zelar pelo direito à expressão destas diferenças.

Nesse contexto, as cidades se tornam palcos onde esses discursos e práticas discriminatórias se materializam, seja pela ação dos sujeitos políticos, seja pela ação das instituições na consecução das políticas públicas. Vale destacar que durante parte da história social brasileira ações e políticas baseadas no higienismo, na medicalização social e na segregação dos considerados como diferentes ou anormais geraram graves violações aos Direitos Humanos.

Por isso o 2º Fórum de Direitos Humanos e Saúde Mental será um importante espaço de reflexão sobre ações que visem mobilizar setores sociais para questionar e lutar contra os discursos de ódio e de intolerância e a crescente monopolização das cidades em favor do lucro e da exclusão social. A programação conta com rodas de conversa, mesa redonda, tenda com Paulo Freire, oficinas, cursos, feira de economia solidária, mostra de cinema e vídeo sobre Direitos Humanos e Saúde Mental e atividades artísticas e culturais.

Clique aqui para fazer sua incrição e conferir a programação completa.

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I’m Here: para além da imanência dual

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“You are a good dreamer”

O diretor Spike Jonze é reconhecido no meio cinematográfico por uma série de inventivas obras fílmicas, que mesclam criatividade e sensibilidade reflexiva, como é o caso de Quero ser John Malkovich (Being John Malkovich) de 1999, Adaptação (Adaptation) lançado em 2002 e Onde vivem os monstros (Where the Wild Things Are) de 2009. No caso do curta-metragem I’m here há uma diferenciação desta riqueza inventiva no tom do enredo utilizado, que prioriza um cenário futurista, mas não distópico, onde há o convívio entre máquinas humanoides com os seres humanos.

 

 

Em alguns momentos o constructo narrativo de I’m here faz lembrar os ricos contos The Second Renaissance Parts I & II e Matriculated da coletânea Animatrix dos irmãos Washovisky ou nas estórias de Eu Robô de Isaac Asimov, no modo como os robôs, devido à sua alta inteligibilidade e carga sentimentalista, passam a desenvolver manifestações de questionamentos de sua própria existência, no engendramento de uma nova alteridade de sua “espécie” em contrariedade aos seus criadores, os humanos.

 

E esta relação não de todo harmoniosa, demostrada pelo desprezo dos humanos em relação às máquinas, um tema recorrente no curta-metragem, como pode ser percebido já nas cenas iniciais do robô acidentado no meio de um cruzamento de veículos, ou então na indiferença das atividades de trabalho dos robôs em seus ambientes trabalho, ou também na recusa dos humanos de aceitar o fato dos robôs realizarem atividades humanas, pois percebe-se que o “vale do estranhamento” ainda permanece nos autômatos, as vezes beirando o aspecto caricatural. De igual maneira, a “alimentação” das máquinas é um ponto de destaque, em seu momento solitário com o fio conectado à fonte.

 

Spike Jonze soube aproveitar a diferenciação de ambientes em seu curta-metragem, com uma rica seleção de paisagens que vai de cinzentas passagens diárias, focando na rotina monótona de uma sociedade industrial não tão distante do mundo contemporâneo, ao uso de luzes e cores primárias tanto em ambientes fechados como tomadas ao ar livre, enriquecendo a carpintaria artística dos elementos visuais da obra. Este aspecto da direção de arte é fundamental para a aclimatação melancólica e de busca por uma libertação do cotidiano que dá o tom à projeção.

 

 

E no mesmo tom, a espacialização dos cenários cativos dos personagens também expressa, em grande parte, as suas personalidades, a ambientação e dinâmica entre as locações enriquecem ainda mais o papel dos espaços na expressividade imagética de I’m here. A paleta de cores escolhida pela direção de arte acompanha a tonalidade narrativa do curta-metragem, dando prioridade para tons pasteis que se entrecruzam com a iluminação de acordo com o momento em que o conto esteja se desenvolvendo. Durante o dia, o aspecto crepuscular ou de aurora – dos raios solares se afastando ou aproximando em interação com o sistema de objetos em cena –, ganha destaque, seja no caminhar das ruas, no assento do ônibus ou no encontro sob uma árvore entre o par romântico apresentado por Jonze. E à noite cabe alguns momentos de fuga da realidade vivida pelos protagonistas, com alteração da sonoridade como enxerto ilustrativo da vontade de libertação de suas rotinas em meio aos humanos.

 

A aliança entre carga dramática, roteiro, diálogos, ambientação e direção de arte aumentam consideravelmente a qualidade do breve filme. A corporeidade, ações, situações e decisões dos autômatos remetem às sensações humanas, não perdendo o seu arquetípico mecatrônico peculiar – como se pode observar no formato da cabeça de vários destes robôs, similares a gabinetes de computadores. Observa-se em complemento a este recurso visual os closes dados aos olhos das máquinas que, inevitavelmente, potencializam a carga dramática destes seres no conceito usual de nós humanos devem ser desprovidos de manifestações sentimentais. Como na focalização do fitar robótico que servirá como trampolim narrativo para o breve estudo de personagens proposto por Jonze.

 

 

Outro ponto que merece destaque em I’m here é sua excelente banda sonora, embasada em canções de conjuntos indies como Aska e The Lost Trees, fortalecendo a atmosfera introspectiva dos personagens, e alguns complementos sonoros de mixagem eletrônica, devido à temática robótica do roteiro, sem deixar de dar o devido apuro de qualidade para a multiplicidade de passagens trabalhadas, que vão dos aspectos lúdicos, melancólicos, bucólicos aos de introspecção subjetiva, comuns nos pouco mais de trinta minutos de exposição da estória.

 

 

Sheldon, o protagonista do curta-metragem interpretado por Andrew Garfield, nos é apresentado como um robô extremamente introvertido, com fala calma e baixa, desajeitado e solitário, e suas vestes na maior parte variando em tons de cinza ajudam a transmitir tal sensação, sem deixar de demonstrar educação e afetividade no trato com os humanos. E, neste comportamento, há uma inteligência e vontade de expressar seus sentimentos, habilidades e gostos com alguém. A cena em que o robô olha por uma fresta e suspira fundo a um longínquo avião dá uma mostra de como Sheldon almeja uma saída feérica do seu cotidiano, que, magistralmente, é representado como uma mimese de sua introversão, até o momento em que este conhece Francesca – cujas cores vermelha e amarela, associadas à mesma, dá uma pista dos momentos de imprevisibilidade que está sujeira seu jeito de ser –, e todos estes elementos se invertem, dando um novo sentido para sua vida, abalada pela extrovertida e impulsiva personalidade da robô, interpretada doce e eloquentemente por Sienna Guillory que reforça esta personalidade numa miríade entre dança, música, bon vivant e carpe diem, apesar da inerência do imponderável na adoção deste estilo de viver, que, de maneira parecida, mas com intensidade maior, deseja a fuga da sua rotina diária, como ilustrado no diálogo de ambos sobre seus sonhos.

A relação de sentimento surgida por Sheldon em relação a Francesca é tratada pelo diretor da maneira mais intensa possível, nos comoventes momentos de transposição – no ato de transcendência que sustenta esta decisão, pelo amor sentido em relação à Francesca – do corpo, inicialmente parcial e depois total, de um para outro, extinguindo a necessidade de uma linguagem imagética correlata sobre tal ação, ficando claro o sacrifício de vida para a manutenção da estadia existencial do outro, para que a unidade dual estabelecida no sentimento mútuo não seja perdida pela causalidade da “morte” de um ou outro, superando este obstáculo por meio da transposição corporal apresentada. Em tempos onde a edificação de domos de coisificações para alimentar demonstrações de apreço, carinho, amor e compaixão se tornou quase uma palavra de ordem social, cultural e comercial, há uma clara reflexão sobre a necessidade de transcendermos esta barreira, para uma redescoberta do leque de sentimentos que são inatos ao ser humano, e, no caso deste pequeno filme, estão mais próximos de sua definição e propósito, nos robôs que compõem a trama.

 

 

Portanto, há uma delicadeza imensurável na metáfora estabelecida por Spike Jonze em seu pequeno argumento cinematográfico. Com a ajuda das excelentes atuações dos atores escalados para viver o par de apaixonados, contribuindo de maneira inigualável para o aspecto tragicômico estilístico de I’m here, que, em poucos minutos expressa gêneros como comédia, romance, drama, ficção científica, fantasia, traços distópicos e até mesmo, porque não, uma utopia dual entre autômatos que ultrapassaram a sensibilidade afetiva de seus criadores.

 

Não é sabido se I’m here é um projeto isolado de Jonze, ou uma amostra de um trabalho para um vislumbre futuro para uma obra maior e mais elaborada, de certa forma o projeto que mais se aproximou da temática do curta-metragem foi o seu mais recente trabalho, Her, também relacionado à capacidade sensível das máquinas. O que fica com esta delicada e magnífica estória fílmica é a mensagem do sentimento que possa existir nos imensuráveis códigos binários de um sistema operacional maquinário, podendo, como é o caso do curta-metragem, se assemelhar ou ultrapassar os próprios sentimentos humanos, inclusive chegando ao ápice da superação da imanência pelo próximo, ou pelo ente que se ama.

FICHA TÉCNICA:

I’M HERE

Direção: Spike Jonze
MúsicaSam Spiegel.
País: EUA
Duração: 35min
Ano: 2010

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Região Norte terá I Seminário “Psicologia, povos indígenas e direitos humanos”

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O encontro discutirá propostas aprovadas durante o I Encontro realizado em 2013


A Região Norte do Brasil terá o I Seminário de Psicologia, Povos Indígenas e Direitos Humanos. O Seminário é promovido pelos Conselhos Regionais de Psicologia (CRP 20, CRP 10 e CRP 23) e a Associação Brasileira de Saúde Mental (ABRASME). O evento acontecerá no dia 4 de setembro de 2014, em Manaus(AM).O evento contará com a participação de diversos palestrantes da área de Psicologia, Coordenação Indigenista, Direito e Políticas Públicas. No formato das apresentações o seminário será divido em três mesas redondas os palestrantes irão falar sobre Povos Indígenas, Políticas Públicas e Psicologia, Direitos Humanos, Políticas Públicas de Saúde e Educação Indígena e Psicologia e Povos Indígenas: Experiências do Sistema Conselhos de Psicologia.

As atividades do I Seminário “Psicologia, Povos Indígenas e Direitos Humanos da Região Norte” tem parceria da ABRASME, e acontecerão em auditório da Faculdade Nilton Lins, no mesmo local do 4º Congresso Brasileiro de Saúde Mental (a se realizar de 4 a 7 de setembro/2014).

As inscrições para o I Seminário Psicologia, Povos Indígenas e Direitos Humanos podem ser realizadas através do link: http://www.congresso2014.abrasme.org.br/. As Inscrições são gratuitas.

Fonte:  Associação Brasileira de Saúde Mental (ABRASME)

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Campanha “Amor de Mãe Muda o Mundo” é lançada em Uberlândia (MG)

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Projeto inédito é um investimento na valorização da figura materna como agente formador dos seres humanos.


Projeto inédito é um investimento na valorização da figura materna como agente formador dos seres humanos. Atividades,que acontecerão ao longo do mês de maio, englobam ‘Caminhada das Mães’ no Parque do Sabiá, exposição e palestras.

A concepção de um adulto inteligente, feliz e bem integrado pode estar relacionada com o afeto recebido desde o nascimento, tanto pelos pais, quanto amigos e familiares. Mas de todos esses amores, o amor de mãe sem dúvida é o mais admirável e extremamente importante na formação de uma criança como indivíduo.

Em Maio (mês das mães), Uberlândia recebe a campanha inédita, “Amor De Mãe Muda O Mundo”, que pretende, através de várias atividades educativas,mostrar e destacar para o público da cidade e região a importância das mães e dos processos ligados à maternidade na criação e formação de um ser humano.

O projeto será desenvolvido e coordenado pelo psicólogo Leonardo Abrahão, segundo quem oobjetivo do movimento é firmar Uberlândia como um pólo inspirador de Saúde Mental. “Nossa intenção é mostrar à sociedade que uma maternidade bem sucedida possui íntima relação com a boa formação dos indivíduos que precisam estar preparados para viver em sociedade”, destaca Abrahão.

Atividades em Maio

Além da Caminhada das Mães, que acontecerá no Parque do Sabiá no dia 10/05, às 19h, para lançamento do projeto, ocorrerá também durante o mês mini-palestras em escolas, hospitais e organizações ligadas ao universo infantil e maternal, como lojas de roupas para bebês.

Entre os dias 9 e 30/05, acontecerá na galeria Boulevard Fundinho a exposição “Quem Tem Mãe Não Tem Medo”, com imagens, depoimentos e declarações referentes à relação “Mães & Filhos” e ao parto humanizado.

Rede de relacionamentos como meio de reflexão

A Campanha Amor de Mãe Muda o Mundo pretende também construir uma rede de relacionamentos e discussões entre as mulheres de Uberlândia com vistas ao desenvolvimento de projetos sociais ligados ao eixo temático feminilidade-maternidade-humanidade. A comunicação acontecerá via Facebook (facebook.com/amordemaemudaomundo) e Instagram (AMORDEMAEMUDAOMUNDO).

Segundo Abrahão, “mulheres e mães terão assim oportunidade de refletirem a respeito da importância que possuem para a formação e a Saúde Mental da humanidade, tendo em vista que os investimentos afetivos que fazem em seus filhos guardam íntima relação com o desenvolvimento psíquico daqueles que serão os adultos de amanhã”.

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