Tocantins tem 154 eleitores cadastrados com nome social

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Dados da Justiça Eleitoral apontam que o Estado do Tocantins tem 154 eleitoras e eleitores registrados no cadastro eleitoral com seus nomes sociais. Do total, 36 são de Palmas, 21 de Araguaína e 14 de Gurupi, os três maiores colégios eleitorais tocantinenses.

Segundo os dados mais recentes, de 2022, os jovens adultos são os que mais aparecem entre aqueles com nome social no título. A maioria tem entre 21 e 24 anos, seguida pela faixa etária de 25 a 29.

Números nacionais

Em 2022, o Brasil teve 37.646 eleitoras e eleitores fazendo o uso do nome social, um total de 0,02% do eleitorado apto. Comparado a 2018, foi um aumento de mais de 29 mil pessoas que optaram pelo nome social ao se registrarem ou atualizarem seus dados na Justiça Eleitoral. 

Identidade

Desde 2018, os eleitores podem utilizar o nome social impresso no título e no caderno de votação. O nome social é aquele pelo qual alguém prefere ser designado; é o modo como uma pessoa se apresenta à sociedade; é o nome com o qual ela se identifica. Pela quarta eleição consecutiva, a Justiça Eleitoral garante que pessoas transgênero, transexuais e travestis tenham esse nome em seu cadastro eleitoral.

Como incluir o nome social no título

De maneira rápida e simples, o serviço pode ser feito remotamente de acordo com as informações prestadas pela eleitora ou eleitor, basta acessar o Autoatendimento na opção “Inclua seu nome social”. A solicitação deve ser feita antes do fechamento do cadastro eleitoral, que ocorre 150 dias antes de cada eleição, e para as Eleições Municipais de 2024, o cadastro fechará em 8 de maio.

                                                                                          Fonte: www.jornalogirassol

Direitos

Toda pessoa transgênero, transexual ou travesti tem o direito de inserir o nome com o qual se identifica no documento eleitoral, no momento do alistamento ou de atualização do cadastro. A medida está prevista na Resolução nº 23.562/2018, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Regulamentada em abril de 2018 pela Portaria Conjunta TSE n° 1/2018, a resolução preconiza o disposto no artigo 3° da Constituição Federal, que estabelece “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade ou quaisquer outras formas de discriminação”,  constituindo um dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil.

Objetivos Estratégicos do TRE-TO:
1- Aprimorar mecanismos de atendimento ao cidadão;
2- Aprimorar mecanismos de transparência pública;
3- Fomentar a educação política da sociedade;
6- Aprimorar políticas e práticas de sustentabilidade;
9- Aperfeiçoar a governança e a gestão de pessoas;

Texto: Lanne Hadassa (Ascom/TRE-TO)

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Cruella – o alter ego de uma criança traumatizada

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Quem nasceu no século passado tinha alguns filmes e animações bem característicos para o público infantil, um destes fora os 101 Dálmatas. No enredo da história uma pacata família possui uma “pequena” ninhada de cachorros da raça dálmatas que são perseguidos pela vilã Cruella De Vil, que almeja criar uma peça de roupa de moda com o pelo dos pobres animaizinhos.

Recentemente foi lançado o filme da própria vilã, titulado de Cruella (2021). O filme, dirigido por Craig Gillespie, conta a história da pequena Estella (Emma Stone) e sua transformação na poderosa Cruella De Vil.

Estella é uma criança hiperativa, que sofre de uma condição rara chamada Piebaldismo, que faz com seja alvo de bullying na infância, fazendo com que esta tenha um comportamento agressivo como defesa das agressões e uma personalidade histriônica, que utiliza de sua aparência física de forma provocadora para chamar atenção dos seus pares. Esta condição da Estella é tão forte em sua personalidade que esta é fascinada pelo mundo da moda e suas pirotecnias.

Essa forma de agir é facilmente percebida pelo público no primeiro ato, quando a pequena Estella modifica seu uniforme escolar de uma forma pitoresca e extravagante, arrumando confusões sem fim.

Fonte: https://images.app.goo.gl/Jg6owZSEq1pAmMYW9

A personalidade de Estella em sua infância foi muitas vezes “contida” pela presença da mãe adotiva da garotinha, Catherine Miller (Emily Beecham), que consegue controlar as impulsividades da jovem personagem.

O filme busca apresentar ao público o lado oculto da vilã, os aspectos por trás de sua aversão pelos animais da raça Dálmatas, além de outras condições mentais que a personagem apresenta nos clássicos da Disney. Por esta razão, temos o arco do maior trauma da vida de Estella.

Sua mãe adotiva viaja uma longa distância para casa de uma “velha amiga” em busca de ajuda, e, ao chegar ao local, pede para a pequena Estella ficar no carro para que não arrume confusões, mas, no local que estavam ocorria uma grande e luxuosa festa de moda, tudo que a jovenzinha gostaria de vivenciar, razão pela qual entra de penetra e causa o maior alvoroço.

No meio desta confusão, os cachorros da anfitriã avançam atrás da Estella e esta foge para os jardins da propriedade, porém, estes continuam avançando e acabando assassinando a mãe adotiva de Estella que fica traumatizada com o ocorrido e foge, passando a morar na rua com seus novos amigos Jasper (Joel Fry) e Horácio (Paul Walter Hauser). Fato interessante é que, após o falecimento de sua mãe adotiva, Estella torna-se mais “contida”, evitando chamar atenções para si, inclusive tingindo o cabelo para uma coloração “discreta”.

Estella cresce nas ruas, aplicando pequenos golpes para sobreviver com seus amigos, mas sempre manteve em sua mente o desejo de trabalhar para ser uma estilista famosa. Sua audácia como Estella é notável, entrando em confusões e causando problemas em uma loja de roupas de luxo, com sua visão exótica e excêntrica, acaba chamando atenção da poderosa Baronesa Von Hellman (Emma Thompson), que a convida para trabalhar em sua equipe, dando início a trama principal.

No início de seu trabalho com a Baronesa, Estella cria uma relação afetiva muito forte, com grande admiração pela poderosa e influente estilista, buscando sempre se destacar nas atividades que são ordenadas.

Ocorre que, em um diálogo entre as personagens, Estella descobre que a pessoa que causara toda a tragédia de sua vida tinha sido a própria Baronesa, que acusa a mãe adotiva de Estella de ladra por ter apresentado um joia como forma de pedir ajuda.

Essa situação faz aflorar em Estella todos os sentimentos reprimidos, trazendo à tona a poderosa Cruella, apresentando neste momento os traços do transtorno bipolar que a personagem tem consigo. Cruella é o alter ego de Estella, ambas em pleno processo de simbiose atuando em conjunto, mas em momentos distintos.

Fonte: https://images.app.goo.gl/fV84FqxtX5V1kqU16

Importante destacar que, apesar de aparentar ser outra pessoa, Cruella sempre fez parte da personalidade de Estella, sendo, no entanto, reprimida muitas vezes, o que é diferente do Transtorno Dissociativo de Identidade – TDI, onde a pessoa muitas vezes não tem noção daquela “pessoa” que vive em sua mente (como é o caso de Jack e Tyler Durden do clássico Clube da Luta).

No bipolarismo, possui uma oscilação muitas vezes entre o maníaco e o melancólico, sendo que em alguns casos uma dessas condições prevalece por mais tempo sobre a outra. Interessante sobre este ponto é quanto a personagem diz “Voilà! Cruella passou muito tempo em uma caixa. Agora é a Estella quem vai fazer participações especiais”, mostrando os fortes indícios da bipolaridade da personagem e os aspectos individuais de cada personalidade.

Cruella, com seu transtorno histriônico e sua bipolaridade aflorada por uma vilã que possui fortes traços de psicopatia e narcisismo, é uma personagem marcante, irreverente, única em toda a trama, que consegue cativar o público de formas inimagináveis.

No arco final do filme, a personagem principal descobre ter parentesco com a vilã Baronesa, descobre ainda que durante toda a gestação fora uma criança rejeitada, sem o amor de sua mãe biológica e que esta havia fingido sua morte para todos.

Esta informação é recebida por Estella/Cruella cheia de muitos significados, com isso há um monólogo magnífico onde há a transformação completa da jovem Estella para a vilã Cruella:

“Hoje é um dia confuso. Minha inimiga é a minha verdadeira mãe. E ela matou a minha outra mãe.

Acho que você sempre teve medo. Não é? Temia que eu fosse uma psicopata como a minha mãe de verdade. Isso explica aquela história de ‘controle-se, tente se adaptar’. ‘Moldar-me com amor’, creio eu, era a ideia.  E eu tentei. Eu realmente tentei porque eu te amava.

Mas a verdade é que eu não sou a doce Estella. Por mais que eu tentasse. Eu nunca fui. Eu sou Cruella. Eu nasci brilhante. Eu nasci má e meio maluquinha. Eu não sou como ela. Eu sou melhor. Enfim, é vida que segue. Há muito que vingar, reivindicar e destruir. Mas eu te amo. Sempre.”

O trecho acima da narrativa reforça que a personagem tem conhecimento e aceita, ao final, sua insanidade, assumindo o manto de Cruella De Vil, a horrível vilã perseguidora de Dálmatas para fazer casacos de pele.

Pelo pode ser extraído do filme, a transformação de Estella em Cruella leva em consideração seus aspectos genéticos e também seus estresses pós-traumáticos que influenciaram na sua forma de perspectiva de vida e ainda na construção de todo os mecanismos de defesa psicológicos que a vilã apresentou durante a trama.

FICHA TÉCNICA

Título: Cruella (Original)

Ano produção: 2021

Dirigido por: Craig Gilespie

Duração: 134 minutos

Classificação: 12 anos

Gênero: Aventura – Comédia – Família

País de Origem: Estados Unidos da América

 

REFERÊNCIAS

ALDA, Martin. Transtorno bipolar. Brazilian Journal of Psychiatry [online]. 1999, v. 21, suppl 2 [Acessado 2 Março 2022] , pp. 14-17. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S1516-44461999000600005>. Epub 04 Out 2000. ISSN 1809-452X. https://doi.org/10.1590/S1516-44461999000600005.

ZANIN, Carla Rodrigues e VALERIO, Nelson Iguimar. Intervenção cognitivo-comportamental em transtorno de personalidade dependente: relato de caso.Rev. bras. ter. comportamento. cogno. [on-line]. 2004, vol.6, n.1, pp. 81-92. ISSN 1517-5545.

De Oliveira Pimentel, F., Della Méa, C.P., & Dapieve Patias, N. (2020). Vítimas de Bulliyng, sintomas depressivos, ansiedade, estresse e ideação suicida em adolescentes. Acta Colombiana de Psicología, 23(2), 205-216. http://www.doi. org/10.14718/ACP.2020.23.2.9

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Narrando a transexualidade rumo a uma psicologia compromissada

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A medicalização dos gêneros transexuais e travestis tem sido um confronto espinhoso e diversos setores contribuem, tal como grupos da sociedade e trabalhadores. No atual momento feitos significativos a esse respeito já podem ser detectados, um deles é a retirada da seção dos transtornos mentais na CID-11, colocando como condições relativas à saúde sexual.

A Psicologia tem se dispondo segundo as normas institucionais desde 2011 a favor da não medicalização dos gêneros, especialmente via Sistema Conselhos (Federal e Regionais). Há pouco tempo introduziu-se mais um feito, e principal determinação a respeito das identidades de gênero, a Resolução nº 01/2018 que estabelece normas de atuação para psicólogas/os em relação às pessoas trans (Resolução Nº 1, 2018).

Entretanto, é sabido que o ambiente político e a condição atual do país dão indícios de um penoso percurso a ser trilhado para a vitória sobre os estigmas e impedimentos de direitos e deveres do cidadão que são maiores que uma normativa; é necessário memorar que o Brasil é o primeiro do ranking internacional em episódios periódicos de transfobia. A própria Resolução já se projeta como foco de ensaios inerentes à classe e extrínsecas de boicotagem, também do desconhecimento de sua presença pela grande maioria de psicólogas e psicólogos.

Os saberes psi (Psiquiatria, Psicanálise e Psicologia) são desbravadores em internalizar o dialogo de sexualidade e gênero, mas não os pioneiros a desfazê-la. A instigação se estende aos dias de hoje, o que é observado por meio do diálogo quebradiço com os estudos de gênero, feministas e queer.

Bem como nos demais macrossociais, essa consequência incide na Psicologia hegemônica de forma que se instituiu a ideia de corpos desviantes anexados à loucura, criminalidade, com direção ao tratamento ou recolhimento. Um modelo ilustrativo dessa circunstância é o período higienista brasileiro, onde internavam de maneira compulsória sujeitos contraditórios há norma: prostitutas, dependentes químicos, LGBT. O que se assemelha há uma memória obsoleta, na realidade acompanha a atual história da Psicologia Brasileira que completa 57 anos.

Desta maneira, fica evidente a criação de modelos legítimos de existência; o que impõe o estabelecimento da contradição entre normal e patológico. Desta forma, veem-se as identidades de gênero e orientações sexuais serem foco desse ato ferrenho, ganhando terminologias diversas: histeria, perversões sexuais, homossexualismo, lesbianismo, transexualismo… por que será que não se ouve falar em heterossexualismo?

O sujeito é um ser de linguagem, prontamente, a maneira que a comunicação acontece é fruto da nossa cultura e também se comporta na constituição subjetiva. Vale pensar na disseminação do termo trans, ao mesmo tempo em que o termo cis é desconhecido. Ou, que o termo cis aparece 70 anos depois do termo trans, bem como o termo heterossexual aparece depois do homossexual.

REFERÊNCIAS

Bagagli, BP (2018). A retirada da transexualidade da classificação de doenças e sofrimento psíquico. Recuperado de https://transfeminismo.com/a-retirada-da-transexualidade-da-classificacao-de-doencas-eo-sofrimento-psiquico/

https://transfeminismo.com/a-retirada-da-transexualidade-da-classificacao-de-doencas-eo-sofrimento-psiquico/

Bento, B. (2014). O que pode uma teoria? Estudos transviados e despatologização das identidades trans. Florestan, 1(2), 46-66.

Butler, J. (2003). Problemas de gênero: Feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.

Conselho Federal de Psicologia – CFP. (2013). Nota técnica sobre processo transexualizador e demais formas de assistência às pessoas trans. Brasília, DF: o autor. Recuperado de https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2013/09/Nota-t%C3%A9cnica-processo-Trans.pdf

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A escuta na clínica psicanalítica

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Freud observou que talvez exista um tipo de fala que seja precisamente valiosa, porque até o momento foi simplesmente proibida – isso significa, dita nas entrelinhas

Lacan (1974-1975, 8 de abril, 1975)

A escuta é parte primordial da clínica psicanalítica, porém é necessário compreender que trata-se de uma escuta que vai além do simples ouvir palavras proferidas pelos pacientes que procuram a análise. Sempre que pensamos em um campo analítico, nos vem a imagem de um bom ouvinte nos esperando para que possamos através da fala, elaborar questões que nos incomodam, ou que mesmo nem sabemos que nos incomodam, um mundo psicoterapêutico de descobertas.

Fink (2017), coloca que surpreendentemente ainda são encontrados poucos bons ouvintes na clínica psicanalítica, isso se deve principalmente à nossa tendência em ouvir tudo que se relaciona com nós mesmos. Geralmente quando nos é contada uma história, imediatamente nos reportamos a algo similar que vivemos ou que acessamos, por meio das nossas vivências, onde passamos a relacionar com a experiência de que está falando e dizemos coisas como “sei o que você quer dizer” ou “sinto sua dor”.

Dessa maneira a escuta habitual é altamente narcisista e egocêntrica, já que demonstramos uma forte inclinação em relacionar o conteúdo trazido pelo outro, com nós mesmos. Lacan (1901-1981), coloca que essa situação acessa a dimensão imaginária do analista, ou seja, quando o ouvinte se compara ou mensura o discurso do outro, no tipo de imagem que se reflete por meio desse discurso, nesse caso o analista fica preso a sua autoimagem e ouve apenas o que reflete nela.

Escutar dessa forma não permite ao analista que ele consiga ouvir o que o paciente transmite na sua fala, por meio dos atos falhos, algo que inicialmente não faz sentido, pois não reflete algo sobre ele mesmo, e portanto, ao ignorar não se aprofunda em algo que se manifesta de forma representativa e pode ser simbolizado na análise. O trabalho do analista no modo imaginário reduz ou mesmo anula a compreensão do conteúdo trazido pelo paciente (FINK, 2017).

O que portanto, o analista deve escutar? Freud (1912) recomenda que na primeira vez que vai se abordar um caso, o analista não se preocupe em presumir nada, mantendo então, sua atenção flutuante, pois somente assim será capaz de ouvir as associações livres do paciente, aquilo que se apresenta de novo, diferente do que é simplesmente dito, sendo algo considerado contrário ao que queremos ou esperamos ouvir.

Fonte: Pixabay

A escuta na clínica psicanalítica se inicia quando o analista não se preocupa em compreender rapidamente o que mostra o discurso do paciente, por que a aliança não vai se dá nessa tentativa, que pode ser falha, mas sim quando ouve o que não está sendo dito em palavras, aquilo que não foi entendido, mas que por meio delas se expressa. Segundo Lacan (1993) o discurso inter-humano é a demonstração do mal entendido e para tanto, deve se levar em conta para relação, o interesse apresentado pelo analista em escutar com atenção seu paciente, deixando que ele fale longamente, interrompendo apenas para trazer para a análise a lacuna entre o que foi transmitido e o que não foi, em palavras (FINK, 2017).

Freud ao introduzir a ideia da associação livre coloca que tudo que é apontado no discurso do paciente se torna igualmente importante e a escuta é da ordem do inconsciente, por isso trata-se de uma escuta criativa, na qual está implícita um tipo de atividade silenciosa de interpretação do que se expressa por meio de várias linguagens, sendo a atenção flutuante uma forma de associação livre do analista, tendo como ponto de partida as associações do seu paciente e não o que traz no seu inconsciente (ROUSSILLON, 2012).

Figueiredo (2014) ressalta que o psiquismo inconsciente encontra formas de expressar o sofrimento, que vão além das palavras e diz que ele trabalha como um poeta a procura de imagens, analogias, metáforas, que possam expressar a realidade de um conteúdo, que foi experimentado pelo sujeito, antes mesmo que houvesse a aquisição da linguagem, por isso a escuta analítica deve privilegiar a realidade psíquica e suas diversas formas de expressão.

A história contada pelo paciente se apresenta repleta de fragmentação, lacunas e buracos, que inicialmente pode não fazer sentido, pois ainda que exista a tentativa de expressar as vozes internas, o sofrimento se apresentará por meio de sintomas, inibições, angústias e atuações. O analista confia que o sujeito se engendra na análise por que deseja simbolizar e sua escuta deve se ocupar dos estratos psíquicos silenciados por condições traumáticas que o constituíram, bem como com o significante que faz surgir o sujeito da significação, para que o material apresentado inicialmente sem sentido, passe a ter pouco sentido, até se chegar a um sentido diferente (FINK, 2017). 

Escutar a mensagem invertida transmitida na análise, por meio da articulação dos significantes trazidos pelo paciente faz surgir o analista, sua ética, sua disposição peculiar, que orienta sua prática, abrindo espaço para a manifestação do inconsciente vivo, que produz efeitos no cotidiano do sujeito e se apresenta enquanto experiência emocional inscrita no psiquismo, mas que pode produzir em análise um valor simbólico.

Referências:

FIGUEIREDO, L.C. Escutas em análise: escutas poéticas. Revista Brasileira de Psicanálise, São Paulo, v. 48, n.1, p. 123-137, 2014.

Fink, B. Fundamentos da técnica psicanalítica: uma abordagem lacaniana para praticantes; tradução de Carolina Luchetta, Beatriz Aratangy Berger. São Paulo: Blucher, Karnac, 2017

LACAN, J. Escritos. 4. ed. São Paulo: Perspectiva, 1996.

MINERBO, Marion. Diálogos sobre a clínica psicanalítica. São Paulo: Blucher, 2016.

ROUSSILLON, R. As condições da exploração psicanalítica das problemáticas narcísico-identitárias. ALTER- Revista de Estudos Psicanalíticos, Brasília-DF, v. 30, n.1, p. 7-32, 2012.

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Admirável Mundo Novo: Pré-condicionamento biológico e psicológico

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A obra Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley, foi escrita em 1931 e o futuro vislumbrado pelo autor corresponde a meados da década de 60, pois a história se passa em VII d. F (depois de Ford). Esta obra é um grande clássico da literatura universal por abordar de forma sucinta como o Estado vem tentando dominar a população e como ele vem conseguindo tal proeza, a maneira como o Estado seduz e controla toda a massa.

O livro percorre situações rotineiras e comuns das massas onde sem perceber elas estão sendo influenciadas e controladas de maneira silenciosa e velada pelo estado, e como os conceitos vão perpassando de uma massa para outra e principalmente das mais fortes para as mais fracas de maneira que acontece uma espécie de alienação generalizada, onde o controle se torna algo aparentemente normal por acontecer de uma maneira sutil sem imposições e violência, mas não deixando de ocorrer de maneira autoritária.  

Fonte: Editora Biblioteca Azul

 

Na obra o autor nos traz o conceito de distopia que corresponde a contagem de anos é feita a partir do nascimento ou do falecimento do indivíduo de Ford, por isso é utilizado o termo d.F (depois de Ford) e a.F (antes de Ford). E a distopia trazida por Huxley, não corresponde aquele conceito de que a sociedade futura era controlada por um regime autoritário, porém era controlada e mantida por um regime que estava livre da repressão e da violência, entretanto mantinha o domínio de maneiras mais sutis e implícitas, sendo pelo incentivo ao comportamento que o Estado julgava como certo e também, eliminando e não reforçando ou não considerando relevantes os comportamentos tidos como incorretos e errados, desta forma o estado reforçava apenas os comportamentos que eram de acordo com o que eles queriam, e os indivíduos eram submetidos a este controle sutil sem ao menos perceber. 

Huxley além de abordar Henry Ford, aborda também Freud. O livro começa com um professor mostrando a seus alunos uma espécie de laboratório onde são produzidos bebês, onde o controle da população é feito, eliminando ali o conceito de identidade trazido por CIAMPA (1987), onde é abordado que a identidade é formada por múltiplos personagens que ora se evocam, ora se sucedem, ora coexistem, ora se alternam. Pois nas configurações que essa sociedade se encontra e existe, os indivíduos já saem programados a agir, ser e pensar de determinada maneira, eliminando assim sua subjetividade e seu interesse e olhar próprio da vida e do mundo, eliminando também suas vontades, anseios, desejos e tudo aquilo que o compõe e o forma.

Os bebês são todos de proveta e os vínculos familiares e de amizades não existem ou são extremamente superficiais, pois as pessoas são individualistas e sozinhas, além de serem também extremamente independentes, entretanto uma independência dentro dos moldes previstos e estabelecidos pelo estado e coordenados e controlados por ele. Outra questão interessante trazida no livro é que quanto maior o número de parceiros sexuais alguém tiver, mais bem-sucedido e reconhecido dentro do sistema aquela pessoa se torna. 

As pessoas são dividias em castas que vão do Y que corresponde a classe mais baixa, o proletariado e até o Alfa++ que corresponde ao grupo de pessoas mais inteligentes e que contribuem mais para o estado, seja no meio de produção como grande empresário e investidor, ou seja no âmbito intelectual doando seu saber para o estabelecimento e melhoria das ferramentas do estado para controle e domínio velado da população. 

E desde que o bebê nasce ele já é condicionado a aceitar e a aprender a lidar com o que lhe foi imposto desde antes do seu nascimento, ou seja, ele desde o princípio será preparado para entender, aceitar e viver de acordo com o que foi estabelecido e determinado pelo estado. Essas imposições e determinações do estado para com o futuro do bebê são feitas por meio de gravações que são escutadas diariamente no turno da noite onde essas pessoas ouvem dia após dia repetidamente e exaustivamente quem elas são, o que devem fazer, como devem agir, como devem se comportar e o que é esperado que elas façam.

 De acordo com Hunter (2002), a persuasão ocorre de cima para baixo, ela vem da elite para as classes mais baixas, e no admirável mundo novo, é visível como o poder de persuasão do estado atua diretamente na vida dessas pessoas que apesar de ouvirem diariamente uma gravação sobre o que elas devem fazer, pensar e agir, elas acham isso absolutamente normal, pois vem hierarquicamente de alguém superior e que elas acreditam que seja para o bem delas e para a preservação de suas vidas, então elas seguem piamente todos os conselhos e recomendações com total normalidade. 

Vale evidenciar que no admirável mundo novo há a distribuição e uso de uma substância chamada Soma, essa substancia atua nas emoções e sentimentos dos indivíduos onde eles passam a ser controlados e determinados, ou seja, essas pessoas não possuem controle nem mesmo de suas próprias emoções e vivem como máquinas que são controladas o tempo inteiro por outra pessoa, que nesse caso é o estado que mantem esse controle e toda essa dominação das massas. Entretanto há um personagem em particular chamado Bernard Marx que não se submete ao sistema, dizem que houve algum problema na sua programação biológica que fez com que ele agisse de maneira completamente oposto e inesperada do que estava programado e determinado que ele agisse, ele então se revolta.

O governo distribui a Soma para a população periodicamente com uma frequência estabelecida e essas pessoas então fazem uso regular e de forma religiosa dessa substancia obedecendo as dosagens e a ordem que devem ser tomada, sendo que alguns chegam a tomar até seis por dia. Essa substancia faz com que as pessoas sejam mais calmas e tolerantes, faz com que elas aceitem de maneira mais completa e fácil as coisas que são estabelecidas pelo estado, inclusive um fato curioso é que sempre que alguém mostra-se diferente, irritado ou até mesmo com traços de rebeldia, sempre aparece alguém por perto para perguntar ou sugerir se essa pessoa já tomou sua dose de Soma naquele dia e até as crianças tomavam Soma regularmente. 

As pessoas que compõe essa sociedade do admirável mundo novo prestam culto a Ford e a religião seguida é o Fordismo, onde existem diversos templos onde essas pessoas prestam culto a Ford, também existe uma região isolada onde há uma reserva designada aos rebeldes ou aqueles que não aceitaram e não se submeteram as regras determinadas pelo estado, e Bernard Marx acaba indo para esta reserva onde encontra uma família composta por uma mãe e um filho que faziam parte também do admirável mundo novo, entretanto a criança nasceu na reserva, então Bernard Marx dedica-se a leva-los de volta para o admirável mundo novo, porém ele causa um extremo alvoroço e mal estar pois a mãe quebrou os protocolos e desobedeceu as regras visto que ela teve um filho fora dos padrões estabelecidos.

O jovem que nasce fora do Admirável Mundo Novo se chama John e é um personagem cheio de atitudes e com um vasto conhecimento, tanto é que grande parte de suas falas são referenciadas em Shakespeare. A chegada e a entrada dele no admirável mundo novo causa grande alvoroço porque ele é alguém de fora que está entrando em contato pela primeira vez com toda aquela loucura de controle velado e suas ideias e a forma como ele se comporta levam a grande reflexão acerca do que está acontecendo naquele lugar e a forma como estado vem controlado e tornando aquelas pessoas como fantoches.

Como supramencionado, vimos que o autor Aldous Huxley expõe de uma maneira real como o estado mantém uma relação de poder e domínio com as massas e como somos afetados diretamente por essa persuasão, o livro inteiro acontece de forma que fica explícito mesmo que de maneira implícita como a perca da identidade ou o não direito a tê-la ou a ser alguém faz com que sejamos fantoches e secundários em nossas próprias vidas, e a crítica social trazida pelo autor ao sistema que estamos imersos desde a revolução industrial é de suma importância também para a compreensão dos fenômenos trazidos e abordados ao longo dos capítulos do livro.

O posicionamento de Bernard Marx e John fazem toda a diferença no rumo que as coisas tomam e nos trazem um olhar mais apurado acerca da alienação, e de como é importante levar em consideração a sustentabilidade das relações e o respeito e a liberdade para a subjetividade se expor e existir. 

REFERÊNCIAS 

JACQUES, M. G. C. Identidade. Em: JACQUES, M. G. C. Psicologia Social Contemporânea. 

HUXLEY, A. Admirável Mundo Novo. Porto Alegre: Editora Globo, 1979.

MYERS, D. G. Preconceito. Em: MYERS, D. G. Psicologia Social. Porto Alegre: Artmed, 2014. 

MYERS, D. G. Persuasão. Em: MYERS, D. G. Psicologia Social. Porto Alegre: Artmed, 2014. 

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Sexualidade, sexo, identidade de gênero e orientação sexual: a construção do sujeito social e sua subjetividade

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A sexualidade é, sem dúvida, uma construção. Construção de valores “modernos”, de condutas éticas, de um processo contínuo da percepção de quem somos em condições históricas, culturais e de inter-relações específicas.

Embora muita gente os confunda, esses termos definem aspectos bem distintos de uma mesma pessoa. O sexo do corpo (gênero e fisiologia), a identidade de gênero (quem eu sou na sociedade), e a orientação sexual (condição biossocial). Há muito tempo a questão da sexualidade deixou de ver apenas o que é masculino e feminino, e passou a entender o que de fato se é, a busca pela realização dos desejos e a necessidade de ser livre.

A sexualidade é, sem dúvida, uma construção. Construção de valores “modernos”, de condutas éticas, de um processo contínuo da percepção de quem somos em condições históricas, culturais e de inter-relações específicas, portanto, contextualizadas localmente. (GEERTZ, 2000).

A sexualidade faz parte da personalidade do indivíduo. É um aspecto do ser humano que não pode ser separado dos outros aspectos da vida, pois influencia a forma como se relacionam, com o que as atrai, qual objeto de seu desejo, sentimentos, pensamentos, interações e ações, portanto, diz respeito a saúde física e mental.

Fonte: encurtador.com.br/iAPV0

Muitas pessoas acham que ao falar de sexualidade estamos falando de sexo. Mas é importante entender que o sexo está ligado aos órgãos genitais, ou também ao ato sexual. Enquanto que sexualidade vai além disso, é um modo de ser, de sentir, de manifestar, é a forma como vamos ao encontro do outro, a intimidade, o afeto. É tudo aquilo que somos capazes de sentir e expressar. Os sujeitos podem exercer sua sexualidade de diferentes formas, eles podem “viver seus desejos e prazeres corporais” de muitos modos (WEEKS, APUD BRITZMAN, 1996).

Podemos considerar que a sexualidade não é fixa e imutável. Ela é influenciada pelo modo como as pessoas desenvolvem suas relações interpessoais. Somos seres em contínuo processo de transformação, ou seja, somos inconstantes, pois, nossas necessidades e desejos mudam. A sexualidade não se confunde com um instinto. Nem com um objeto (parceiro), nem com um objetivo (unir dois órgãos genitais). Ela é poliforma, polivalente, ultrapassa a necessidade fisiológica e tem a ver com a simbolização do desejo (CHAUÍ, 1991, P.15).

Tudo que vivemos e sentimos acontece no nosso corpo, portanto, não é possível separar a sexualidade do corpo ou pensar no corpo sem considerar a sexualidade. Ao redor dos nossos corpos, estão os modos como percebemos, sentimos, entendemos, nos relacionamos. Isso significa dizer que a sexualidade vai muito além de fatores físicos. É caracterizada por aquilo que é subjetivo, próprio, único. É a busca pela realização dos desejos, que pode se transformar ao longo dos anos, dependendo da experiência que a pessoa se permite vivenciar, ou seja, a sexualidade está sempre aberta a novas formas de significação.

Fonte: encurtador.com.br/bKOPU

“O sexo biológico é um termo utilizado para definir o que é homem, mulher, e intersexual, baseado em características orgânicas como cromossomos e genitais. Ou seja, biologicamente nasce meninas ou meninos, em função de um órgão sexual” (LUIZ ANTONIO GUERRA, 2014). O sexo biológico é apenas a parte física da identidade de uma pessoa, que pode encontrar diferentes posturas psicológicas.

Sexo faz referência somente às características biológicas de cada indivíduo, como órgãos, hormônios e cromossomos. Sendo assim, a fêmea possui vagina, ovários e cromossomos XX; o macho possui pênis, testículos e cromossomos XY; já o intersexo (o que por muito tempo tinha o nome de hermafrodita) possui uma combinação dos dois anteriores. (CRISTIANO ROSA, 2016).

Quando falamos em sexo biológico, temos que pensá-lo como a presença de órgãos reprodutivos no corpo orgânico, conhecidos por pênis, vagina ou ambos. Porém, é importante frisar que essa marca biológica que compõe esse corpo não necessariamente irá definir a identidade afetivo-sexual. O sexo biológico é um fator inato, ou seja, pertence ao ser desde o seu nascimento, independente do gênero que o indivíduo possa vir a se identificar mais tarde.

Fonte: encurtador.com.br/gyPZ2

Identidade de gênero é a experiência subjetiva de uma pessoa a respeito de si mesma e das suas relações com outros gêneros. A pessoa se reconhece como feminino ou masculino, independente do sexo biológico ou da orientação sexual. É se identificar com determinados valores, condutas e posturas sociais, ou seja, é como ela se percebe.

Gênero é algo constituído ao longo da vida, e não é estabelecido no nascimento. Alguém pode se identificar com o gênero homem ou mulher que é dado ao nascer (então é cis) ou não (então é trans). Em outras palavras, gênero é a maneira com que você se enxerga, a interpretação que você tem de si mesmo, em sua cabeça e pensamento. (CRISTIANO ROSA, 2016).

A pessoa pode nascer com um determinado sexo biológico, porém, se identificar com outro. Geralmente sentem que seu corpo não está adequado à forma como pensam, e querem adequá-lo à imagem de gênero que têm de si. Isso se dá de várias formas, desde uso de roupas, passando por tratamentos hormonais, até procedimentos cirúrgicos, ou seja, a pessoa pode se identificar com o sexo biológico de seu nascimento, ou não, e isso necessariamente não irá definir sua orientação sexual.

Fonte: encurtador.com.br/hprCH

Cisgênero abrange as pessoas que se identificam com o gênero que lhes foi determinado quando de seu nascimento, e transgênero abrange o grupo diversificado de pessoas que não se identificam, em graus diferentes, com comportamentos e/ou papéis esperados do gênero que lhes foi determinado quando de seu nascimento (JAQUELINE GOMES DE JESUS, 2012).

A orientação sexual de uma pessoa indica por quais gêneros ela sente-se atraída. Seja física, romântica e/ou emocionalmente, diz respeito a preferência do desejo afetivo e sexual. Algumas pessoas dão-se conta dos seus sentimentos muito cedo, outras não. Mas apesar de tudo, estes sentimentos podem mudar ao longo da vida.

Toda pessoa, além do sexo, tem uma orientação íntima que define seus interesses, um impulso que configura sua atração sexual. Esse é o aspecto psicológico que complementa o sexo, possibilitando à pessoa estabelecer quais são suas preferências nas relações sexuais e sentimentais. Isso é o que define a orientação sexual da pessoa, que pode ser heterossexual, homossexual ou bissexual. Para alguns especialistas, apesar de não haver consenso, ser assexual também é uma orientação sexual. (MUNDO PSICOLOGOS, 2016).

Fonte: encurtador.com.br/bnosK

A orientação sexual refere-se ao tipo de atração que temos por outras pessoas. Sendo assim, alguém pode se interessar por pessoas do mesmo sexo (homossexual), do sexo diferente (heterossexual), dos dois sexos (bissexual), ou também pode não se interessar por ninguém (assexual). Essa atração afetivossexual por alguém é uma vivência interna relativa à sexualidade. Portanto, é diferente do senso pessoal de pertencer a algum gênero.

Esses tipos de atrações citadas não define todas as possíveis orientações sexuais. Apenas as mais comuns, pois existe uma infinidade de possibilidades para se sentir atraído. A orientação sexual existe num continuum que varia desde a homossexualidade exclusiva até a heterossexualidade exclusiva, passando pelas diversas formas de bissexualidade. (BRASIL, 2004, p. 29).

Portanto, compreende-se que a sexualidade é um dos pontos centrais na identidade do ser humano, que se manifesta através da emoção e da afetividade. É o modo como cada indivíduo vivencia suas experiências, que se tornam únicas. A sexualidade fundamenta os cuidados corporais e as relações de gênero, além de fundamentar também a busca do amor e do contato mais pleno com o outro.

Compreender a sexualidade em seu processo de contínua transformação é a condição necessária para identificar as diversas formas de vivenciar a subjetividade, no qual permite que cada indivíduo tenha uma forma única e particular de ser e sentir. Em muitos aspectos isso tem relação com aquilo que se aprende ao longo da vida, e uma das coisas que as pessoas aprendem é significar sentimentos e comportamentos.

REFERÊNCIAS

GUERRA, Luiz Antônio. Sexo, Gênero e Sexualidade. Disponível em: <https://www.infoescola.com/sociologia/sexo-genero-e-sexualidade/>. Acesso em: 20 mai. 2019.

JESUS, Jaqueline Gomes de. Orientações sobre identidade de gênero: conceitos e termos. 2012. Disponível em: <https://www.sertao.ufg.br/up/16/o/ORIENTA%C3%87%C3%95ES_SOBRE_IDENTIDADE_DE_G%C3%8ANERO__CONCEITOS_E_TERMOS_-_2%C2%AA_Edi%C3%A7%C3%A3o.pdf?1355331649>. Acesso em 20 mai. 2019.

LOURO, Guacira Lopes. Gênero, Sexualidade e Educação. 2003. Disponível em: <https://bibliotecaonlinedahisfj.files.wordpress.com/2015/03/genero-sexualidade-e-educacao-guacira-lopes-louro.pdf>. Acesso em: 27 mai. 2019.

MUNDO PSICÓLOGOS. Diferenças entre sexo, orientação sexual, e gênero. 2016. Disponível em: <https://br.mundopsicologos.com/artigos/diferencas-entre-sexo-orientacao-sexual-e-genero>. Acesso em: 20 mai. 2019.

ROSA, Cristiano. Questão de gênero. 2016. Disponível em: <https://www.jornalnh.com.br/_conteudo/2016/08/blogs/cotidiano/questao_de_genero/371790-genero-x-sexo-biologico.html>. Acesso em 20 mai. 2019.

SENEM, Cleiton José; CARAMAMASCHI, Sandro. Concepção de sexo e sexualidade no ocidente: Origem, História e Atualidade. Disponível em: <https://online.unisc.br/seer/index.php/barbaroi/issue/download/492/69>.  Acesso em: 25 mai. 2019.

SILVA, Ariana Kelly Leandra Silva da. Diversidade sexual e de gênero: a construção do sujeito social. Universidade Federal do Pará (UFPA). Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2175-25912013000100003, 2013>. Acesso em: 20 mai. 2019.

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Tokyo Ghoul: a complexidade de ter múltiplas identidades

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É melhor machucar a si mesmo do que machucar os outros. Pessoas gentis podem ser felizes assim.
Ken Kaneki

O transtorno dissociativo de identidade é visto até hoje como um grande desafio para a Psicologia e Psiquiatria. Segundo Faria (2008), o transtorno de personalidade múltipla como era visto antigamente é um transtorno mental de difícil diagnóstico devido à sintomatologia diversificada e à sua forte comorbidade. Nos dias de hoje é conhecida como transtorno dissociativo de identidade, porém só ficou sendo considerado como transtorno mental, quando a Associação Americana de Psiquiatria (APA) conseguiu diagnosticar em meados de 1980. No âmago das características da síndrome, que não é um artefato iatrogênico e cuja característica essencial é a existência dentro do indivíduo de duas ou mais personalidades distintas, cada qual dominante num momento específico, encontram-se as chamadas personalidades alternativas, múltiplas ou alters (Hacking, 1995).

Outros autores fomentam que o que origina o transtorno são traumas vividos pelos indivíduos, sendo estes na infância, adolescência ou idade adulta, podendo ser físicos, psíquicos e emocionais. Ao passar por tais perturbações o sujeito pode desenvolver outra personalidade além da sua “primária”, com objetivo de defender-se do sofrimento vivido, pois esse transtorno se relaciona com processo mental dissociativo, incumbido de defender a mente, seja pela descompensação mental, cognitiva e física, seja  pela desconexão que o sujeito faz  com sua personalidade vivida naquele momento.

Para Freud (1923/1996) “(…) talvez o segredo dos casos daquilo que é descrito como ‘personalidade múltipla’ seja que as diferentes identificações se apoderam sucessivamente da consciência.” (pp. 43). Ele em conjunto com Joseph Breuer, apresentou informações que estão em consonância com os critérios diagnósticos atuais da Personalidade Múltipla:

(…) Num mesmo indivíduo são possíveis vários agrupamentos mentais que podem ficar mais ou menos independentes entre si, sem que um ‘nada saiba’ do outro, e que podem se alternar entre si em sua emersão à consciência. Casos destes, também ocasionalmente, aparecem de forma espontânea, sendo então descritos como exemplos de ‘double consciente’ (Freud, 1910 [1909]/1996, p.35).

Esse transtorno de tão complexo que é, vem sendo descrito além da literatura em outros meios de comunicação como em documentários na BBC, Discovery Home & Healph, filmes como em “Clube da luta” e o mais atual “Fragmentado” e em animes no caso de “Tokyo Ghoul”.

Tokyo Ghoul é um anime de origem japonês que se passa na cidade Tóquio, em um mundo parecido com os de hoje. Todavia, existem outros seres que habitam a grande metrópole, indivíduos quase idênticos as outras pessoas, a única diferença é que eles sobrevivem se alimentando dos seres humanos. Daí o título da animação, um lugar em que coexistem pessoas normais e outros seres considerados por muitos como “monstros”.

É certo que humanos e os ghoul vivem em guerra, uma batalha sombria que muitos preferem ignorar, os únicos humanos que enfrentam esses seres são da organização Comissão e Contra Medidas Ghoul (CCG) ou mais conhecidas pelos ghouls como “Pombas”, eles lutam contra os ghouls desde sempre e tudo começa a mudar quando alguém adentra essa história.

O protagonista da serie é um jovem estudante de literatura chamado de Ken Kaneki. Como os demais cidadãos dessa Tokyo, Kaneki não se importa com o ghouls, tudo muda quando ele conhece a linda e devoradora de livros, como ele, Rize (Atenção, alerta de spoiler). Eles saem para um encontro na cafeteria da Anteiku, quando eles terminam ela comenta que tem muito medo dos ghouls e gostaria que ele lhe levasse em casa. Tudo fazia parte dos planos de Rize, uma ghoul mais conhecida como “Gulosa”, que vivia aterrorizando o Distrito 11. Quando Kaneki percebe o plano dela já era tarde demais; Rize, do modo mais brutal possível, tenta matar ele e por sorte ela é atingida em uma construção. Contudo, Kaneki já estava muito debilitado e precisando de um transplante de órgãos, recebe então os de Rize e acaba se tornando metade ghoul, metade humano.

O transtorno de Kaneki começa quando ele percebe não ser um mero humano, com os órgãos de Rize ele ganha novas habilidades, não obstante também perde o apetite por comidas “normais”, só conseguindo se saciar ao comer carne humana. O dilema dele inicia quando este necessita comer humanos para sobreviver. Kaneki, no entanto, luta contra essa sede considerada por ele como algo abominável e até pura maldade. Embora isso aconteça, ele percebe que pode sim tentar uma vida “normal” sendo metade ghoul, metade humano, comendo somente carne de quem morreu de forma natural (sem ser assinado por ele, no caso).

Mesmo após ter lutado contra seu lado sombrio por ser ghoul, Kaneki tem uma personalidade bondosa, gentil, que sempre coloca os outros em primeiro lugar, ao invés dele. Isso muda quando ele encontra outro ghoul, Jason, que fora torturado em prisão na CCG; utilizando-se da mesma abordagem, Jason machuca das formas mais horríveis possíveis Kaneki, que não aguentando mais tanta dor, sofrimento, desencadeia uma nova personalidade, sombria, com sede de matança.

Kaneki ao todo possui três personalidades, a primeira é a sua principal, o Ken Kaneki, antes de se tornar ghoul, ele já havia sofrido muitos traumas na infância e tendo recalcado esses sentimentos, se tornou uma pessoa solitária, mas com um grande coração. O Kaneki ghoul, após ser torturado por Jason, muda completamente de personalidade, pois além de ser massacrado fisicamente e psiquicamente, ele aceita seu lado macabro ghoul que Rize lhe proporcionou. Virando um sujeito frio, com cabelos brancos, pele mais branca do que o normal, nesse estado ele tenta ainda não ferir as pessoas que gosta, mas acaba matando muitos outros, inclusive ghouls (ele até come os ghouls). Após sofrer novo trauma, a perda de um amigo e ter se entregado para a CCG, Kaneki se torna de novo outra pessoa, agora chamado de Kaise Sasaki, um membro de um grupo especial da CCG que caça e mata ghouls. Nessa nova identidade, Kaneki não se lembra de suas outras personalidades, tão pouco do que viveu no passado, ele se intitula um ser que faz a justiça acabando com os temidos monstros Ghoul.

Do personagem em questão o transtorno dissociativo de identidade é algo profundo, interessante de se ver registrado e abordado de modo diferenciado. Contudo, é importante dizer que cada pessoa passa pelo processo traumático de modo distinto, podendo ou não desenvolver tal transtorno. Em relatos de casos descritos por Santos (2015), durante a internação de um paciente, ao falar de seu passado, ou em consultas mais demoradas, o sujeito apresentava episódios característicos de dissociação, em que mudava bruscamente o tom de voz, a fisionomia do rosto, o modo de falar e respondia como sendo outra pessoa. O tratamento ideal de TDI se dá a partir do trabalho mútuo de psicoterapia e com medicação supervisionada, prescrita por um psiquiatra. O que se espera do tratamento é que a pessoa possa equilibrar as personalidades. Um desafio e tanto para a Psicologia e a Psiquiatria.

FICHA TÉCNICA DO FILME:

Diretor: Shuhei Mota
Elenco: Masataka Kubota, Fumika Shimizu, Nobuyuki Suzuki, Shun’ya Shiraishi; 
Gênero: Suspense; Terror.
País:Japão
Ano: 2014

REFERÊNCIAS:

FARIA, M. A. O Teste de Pfister e o transtorno dissociativo de identidade. Aval. psicol. v.7 n.3 Porto Alegre dez. 2008.

FREUD, S. (1996). O Ego e o ID. Em. J. Strachey (Org. e Trans.), Edição STANDARD Brasileira das Obras Psicológicas Completas. (Vol. XIX). Rio de Janeiro: Imago. (Original publicado em 1923).

FREUD, S. (1996). Cinco Lições de Psicanálise. In. J. Strachey (Ed. e Trans.), Edição STANDARD Brasileira das Obras Psicológicas Completas. (Vol. XI). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1910[1909]).

HACKING, I. (1995). Múltipla Personalidade e as Ciências da Memória. Rio de Janeiro: José Olympio.

SANTOS, M. P.; GUARIENTI, L. D.; SANTOS, P. P.; DAURA, E. F.; DAL’PIZOL, A. D. Transtorno dissociativo de identidade (múltiplas personalidades): relato e estudo de caso. Revista Debates em Psiquiatria, 2015.

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Um dia de vivência na Aldeia Salto – Xerente

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No sábado, 11 de maio de 2019, a Equipe (En)cena acompanhou a Turma de Estágio Básico I em uma visita a aldeia Salto do povo Xerente, localizada em Tocantínia-TO. A visita foi conduzida pelas professoras Muriel e Ana Letícia e pelo professor Rogério Marquezan (UFT). A visita teve como objetivo: oportunizar os acadêmicos a entrar em contato com a dimensão social do curso de Psicologia do Ceulp/Ulbra.  A Equipe (En)cena foi convidada a fazer a cobertura do evento, e desde então já fiquei bastante animada.

O que vem à sua cabeça quando você escuta as palavras “índio” e “aldeia”? Na minha sempre vinha o que eu vi representado na literatura e alguns filmes. Ou seja, já imaginava vários índios nus, todos bem pintados, uma aldeia cheia de ocas, um rio enorme como fonte de alimento, peixe assado, muitas penas, flechas, um cacique bem idoso e nada de tecnologia. E foi com este pensamento que fui a aldeia indígena Salto, do povo Xerente, e quando cheguei lá, foi um momento de reflexão e desconstrução.

Ao chegar na aldeia já dei de cara com várias crianças e adultos vestindo roupas comuns, um galpão enorme para realizar reuniões e festas, várias casas de tijolos, um enorme campo de futebol, banheiro, energia e água encanada. Fiquei por um tempo tentando avistar o cacique, e logo descubro que o cacique estava do meu lado. Nunca imaginei, pois o homem que estava ao meu lado era jovem. Me perguntei: mas caciques não são caciques justamente por que têm mais experiência? Então por que não um idoso? Diante disto tudo fiquei um pouco confusa, confesso.

Ao visitarmos a casa da Dona Maria Madalena, índia, historiadora, professora e autora de alguns livros indígenas meu coração saltitava de alegria. Ela cantou uma música indígena linda para nossa chegada e disse com alegria o quanto estava feliz com nossa presença. A historiadora contou que na cultura Xerente tudo tem dono, um espírito, desde a água até a folha da árvore. Ou seja, é costumeiro pedir permissão para fazer uso de qualquer coisa. Caso o espírito não permita o uso, as consequências podem ser doenças físicas ou psicológicas. E a cura ou o tratamento é feita pelo pajé, que é considerado o médico dos médicos.

Dona Maria nos contou também que o respeito às diferentes famílias é muito importante. Em momento de reunião política, cada família tem seu momento de fala sem interrupções. Os mais velhos são ouvidos atentamente, e isto é ensinado desde a infância. Assim como a língua indígena Macro Jê, é ensinada as crianças até os 5 anos, e só depois disso que elas aprendem o português.

No fim do passeio fomos conhecer o rio. Descemos uma ladeira cheia de obstáculos em meio a natureza, com vários indiozinhos nos guiando. Ao chegar no local, que maravilha, uma água maravilhosa, com uma brisa sem explicação. Eu só queria mergulhar. Eu e alguns colegas entramos com a roupa que estávamos no corpo. Que sensação incrível, que prazer entrar e me banhar na mesma água que este povo forte e guerreiro também faz o mesmo. Me senti tão viva e aproveitei cada momento.

Ao chegar em casa eu refleti bastante. Pensei em toda história do índio no Brasil, da forma que a terra foi tomada de suas mãos. Foram feitos de escravos. E mesmo séculos depois, com toda tecnologia, a aldeia Salto do povo Xerente continua praticando sua cultura, aprenderam a conviver com a cultura do homem branco sem perder a identidade indígena, encontraram equilíbrio nas duas coisas.

Diante de toda experiência vivida, carrego no peito um emaranhado de sentimentos um tanto quanto ambivalente. É um misto de alegria com tristeza, pois a tristeza me invade quando penso no sofrimento que a história do índio no Brasil é contada. Mas meu coração também se enche de alegria ao ver de perto que cada índio daquela aldeia vive a identidade indígena, independente de morar em uma oca ou em uma casa de tijolo.

A visita me fez refletir sobre minha própria história enquanto mulher negra, descendente de escravos. Me fez pensar nos meus antepassados e ao invés de olhar com pena, olhei com admiração. Que povo forte. Que mesmo com o passar do tempo, que jamais percamos nossas raízes. Que o respeito à diferença seja uma lei de todos, pois independentemente da cor, raça, cultura e status, ninguém é melhor do que ninguém. Hoje sigo fortalecida e com o coração cheio de gratidão por quem fui, por quem sou e por quem serei.

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Professor Marston e as Mulheres Maravilhas: a verdadeira história por trás da heroína

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A mulher maravilha tem sim uma identidade. Porque deve ocultar seu verdadeiro eu do mundo dos homens. William Marston

A Mulher Maravilha ou Wonder Woman como é conhecida originalmente, é uma super-heroína de origem grego-romana, sendo publicadas suas histórias e aventuras desde a Era de Ouro dos quadrinhos pela editora Dc Comics, junto de uma gama de super-heróis como Batman, Superman, Flash, entre outros. Para proteger sua identidade secreta a amazona e guerreira utiliza o codinome de Diana Prince entre os humanos. Pois, depois que o piloto da Força Aérea Americana Steve Trevor caiu na ilha sagrada das amazonas, Diana começa a ficar curiosa e a pensar que existe muito mais em seu propósito do que sua Mãe, a Rainha Hipólita, havia mencionado. Assim, ela decidiu ir junto com o soldado para o mundo dos humanos, lutar por paz e justiça.

Fonte: https://bit.ly/2MZeQEW

Dessa forma é contada a história de uma das maiores heroínas de quadrinhos e do cinema que já existiu em todos os tempos, embora que, por trás de um grande herói sempre há algo a mais. No caso de nossa Mulher maravilha, existe um ingrediente secreto a se acrescentar. Visto que, sua narrativa cativa e remete a temas além do que as outras super-heroínas vinham tratando, como feminismo, autonomia para as mulheres, liberdade de expressão e sexual. Poucos sabem a verdade por trás de suas aventuras e isso se deve ao fato de existir um ponto a mais a se acrescentar em sua gênese, uma história de amor que para se consolidar, teve que enfrentar muitos outros desafios na época.

A Mulher Maravilha foi criada na década de 1940 pelo psicólogo e professor William Moulton Marston; ele preferiu esconder sua identidade por motivos pessoais e assinava os quadrinhos como Charles Moulton. O autor era um estudioso que buscava difundir sua teoria DISC, que traduzida do inglês significava: dominação, indução, submissão e conformidade, sendo interpretadas que as relações humanas se dividem na interação dessas quatros categorias de emoção. Casado com uma mulher também estudiosa, independente e de uma intelectualidade bastante invejada, Elisabeth Holloway Marston, que ao lado de seu marido, descobriu que a pressão arterial sistólica aumentava na medida em que a pessoa mentia sobre algo, assim descobriram o famoso polígrafo. Sua mulher não apenas o ajudava com suas ideias e conceitos, mas tentava se destacar em um tempo em que as mulheres lutavam pelos seus direitos. Elisabeth não apenas serviu de inspiração para a Mulher Maravilha, como também a fez existir com sua personalidade forte e força de vontade.

Fonte: https://bit.ly/2WNlqTL

Outra figura importante a ser citada para entendermos melhor a personalidade da Wonder Woman, foi Olive Byrne, uma estudante que se encantou com as mentes brilhantes dos Marston; Olive era filha de Ethel Byrne e sobrinha de Margaret Sanger, duas ativistas que lutavam pelos direitos das mulheres naquele tempo.

O casamento entre os dois ia indo “normalmente”, até que Olive entra na vida dos dois. William logo se interessa pela jovem e espirituosa mulher, quando menciona isso a sua esposa, ela o encoraja a seguir seus instintos, porém sente ciúmes de forma contida pelo marido e acaba tentando afastar a moça deles. Até que percebe que a jovem também se apaixona por ela. Logo os três decidem arriscar-se num relacionamento poliamoroso, que para os padrões do período não era visto com bons olhos, porém apimentado com exploração dos prazeres sexuais de todos, inclusive Bondage. Eles passam a viver juntos na mesma casa e para proteger sua nova família, assumem uma identidade diferente do que realmente vivem.

Não reprimindo completamente suas vidas fora dos muros de casa, William continua pesquisando e atualizando suas teorias e ligando todas as peças do quebra-cabeça de suas vidas. Até que ele percebe a personificação da heroína e maior ícone feminista dos quadrinhos dentro de seu lar. Ele encontra a mulher maravilha em suas próprias mulheres maravilhas. Elisabeth é a personalidade dela, uma mulher guerreira, autônoma que trabalha para sustentar a família, objetiva, uma secretária (identidade secreta) inteligente, que usa um laço da verdade e da justiça (polígrafo). Já Olive era a alma e o corpo da super-heroína, ela usava constantemente braceletes que desviavam balas, tinha muita bondade, sensível, acreditava na paz e na justiça.

Fonte: https://bit.ly/2WSFmod

Com as histórias da personagem,  Marston defendia os direitos das mulheres, a luta pelo sufrágio feminino, como também a independência intelectual, de trabalho para elas e soberania na expressão sexual de seus corpos. Via nela a oportunidade de mostrar a força e poder das mulheres, dentro e fora da sociedade, o que provavelmente não deixou muito feliz muitos segmentos da sociedade, que logo censuravam suas aventuras.

William, Elisabeth e Olive eram pessoas extraordinárias, que se amavam e não tinham uma vida convencional como muitos almejavam, mesmo que essa história tivesse acontecido décadas depois ou até nos dias atuais, não significa que também seriam aceitos. Professor Marston e as Mulheres Maravilhas é um filme que proporciona essa reflexão: será que estamos prontos para aceitar os outros como realmente são? Mesmo em nome do amor, tudo realmente é possível? Sendo sim ou não, podemos admitir que agora vamos ver nossa super-heroína com olhos ainda mais aguçados, seja pela sua verdadeira história, seja pelas histórias que ela ainda irá contar.

FICHA TÉCNICA DO FILME:

PROFESSOR MARSTON E AS MULHERES MARAVILHA

Título original: Professor Marston & The Wonder Women
Direção: 
Angela Robinson
 Elenco: Bella Heathcote, Rebecca Hall, Luke Evans, Connie Britton;
País: Estados Unidos
Ano: 2017
Gênero: 
Drama, biografia

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