Amor Líquido: a empatia corroída

Compartilhe este conteúdo:

O que dizer do amor no mundo pós-moderno? A pós-modernidade trouxe consigo a onda do imediatismo, das trocas constantes. Sendo assim, o costume de “concertar” foi substituído pelo de “adquirir um novo”. Vemos isso explicitamente em várias situações do cotidiano, não sendo diferente nas relações “amorosas” atuais. As quais se tornaram tão líquidas que quem troca frequentemente de “amor” são consideradas pessoas habilidosas.

Seguindo essa onda, e com o intuito de aperfeiçoar suas habilidades, as pessoas trocam tão facilmente de relacionamento com o objetivo de adquirir experiência para que possa fazer com que seu próximo relacionamento seja mais emocionante e excitante. De acordo com Bauman (2004, p. 11)

Essa é, contudo, outra ilusão… O conhecimento que se amplia juntamente com a série de eventos amorosos é o conhecimento do “amor” como episódios intensos, curtos e impactantes, desencadeados pela consciência a priori de sua própria fragilidade e curta duração”.

É possível ver que tal atitude não é a busca pelo amor em si, pois se assim fosse essa compulsão por experimentar novos amores tornar-se-ia em experiências frustrantes e não em uma forma de prazer.

Segundo Bauman, (2004, p. 12) “o amor é uma hipoteca baseada num futuro incerto e inescrutável” sendo possível então dizer que, por se tratar de algo tão misterioso e incerto tornou-se líquido, pois o medo exacerbado desse futuro inconstante faz com que as pessoas sejam rasas em seus relacionamentos, com o desejo de não se frustrarem posteriormente.

Outro fator que traz certa aversão a um relacionamento sério e duradouro é o compromisso, que é exigido nesse caso, e a insegurança. Sendo que para manter esse compromisso é necessário abrir mão de várias coisas e ter que adaptar-se a outras, assemelhando-se a um investimento que pode ser cheio de riscos, trazendo incertezas e inseguranças. Estar em um relacionamento traz inúmeras incertezas, o que a solidão por sua vez também traz.

Fonte: https://goo.gl/mcbnm6

Bauman em sua obra compartilha da mesma ideia de Lévi-Strauss em relação ao  sexo, sendo ele o encontro da natureza e da cultura. Contudo o desejo sexual para o autor é incontestavelmente social pois se estende em direção ao outro e necessita dele para não se sentir incompleto. Infelizmente nossa cultura produziu o que o sexólogo Sigusch, chama de ciência sexual, com um olhar frio e distante prometendo tirar o homem sexual de sua miséria, mas apenas o tornando objeto natural de investigação científica.  

Atualmente a medicina compete com o homem no papel de reprodução oferecendo catálogos de doadores de esperma atraentes, para que você reproduza sem necessitar do ato sexual, fazendo assim uma separação do sexo e a reprodução. O autor reflete sobre a influência da sociedade consumista e imediatistas, em que filhos deixaram de representar bons investimentos, e pontes entre a mortalidade e  imortalidade (hereditariedade, legado de uma família) e passaram a ser objetos de consumo emocional. Todo objeto a ser consumido tem seu custo, e o custo de ter filhos  tem se tornado cada vez mais alto na líquida modernidade em que vivemos, tanto o custo monetário quanto o custo emocional. Se dar conta de tal compromisso tem causado diversos conflitos até mesmo patologias.  

Este autor assim como afirma a separação do sexo e a reprodução, concorda com a ideia de Erich Fromm, sobre a separação entre o sexo e o amor. Devido esta separação tem se tornado algo frustrante, pois a união dos dois era a única maneira de ter uma fusão genuína. O sexo nos dias atuais tem ganhado cada vez mais sua independência de outros domínios da vida, o que Bauman chama de sexo puro que seria algo sem restrições, consequências, sendo apenas para prazer e alegria. O que ele critica mostrando através do relato do terapeuta  Volkmar que esta pureza nada mais é do que uma falsa felicidade.

Através da liquida racionalidade moderna, os compromissos duradouros tem sido visto como limitadores e opressores, e a única forma deste posicionamento mudar, seria libertar o sexo da soberania da racionalidade do consumidor. A característica principal do consumismo, é usar e logo em seguida descartar, assim abri espaço para algo mais novo e melhor, isto favorece a rotatividade e a leveza. O sexo puro tem se adaptado a esses padrões de compra, garantindo segurança e libertação das restrições, um sexo seguro.  A relação sexual de curta duração, apenas um episódio, seria livre de contágio mais repleto de incertezas.  

As consequências da líquida modernidade não param por aí, a cultura nos nossos dias tem se tornado algo maleável da qual não se pode escapar, mas o que é herdado biologicamente é apenas uma questão de escolha. Coloca o homem em um dilema de qual identidade sexual irá assumir, e na facilidade de se não se sentir satisfeito pode mudar a qualquer momento, digamos o foco principal está na “alterabilidade”. Esta facilidade trás consigo o sentimento de incompletude e irrealização contínua, pois esta ansiedade não tem fim é como um veneno.  

Bauman faz uma crítica ao uso de celulares e redes sociais que se tornaram constantes, mas tem afastado as pessoas do contato real, do compromisso, tornando as conexões breves e banais. As conexões virtuais estabeleceram um padrão para as outras proximidades, agora a proximidade pessoal, face-a-face não parece ser tão vantajosa quanto a virtual. Pois dispensa as habilidades necessárias que uma proximidade pessoal precisa, e o desuso destas fazem que sejam esquecidas. Até namorar é feito de modo virtual, assim a pessoa está livre de remorsos, perdas e sofrimento, pelo fato de poder terminar escolhendo a opção deletar, é o que o autor coloca como a principal vantagem do namoro virtual.  

Fonte: https://goo.gl/tVHk6k

A economia tem imposto padrões sobre os homens que agora para serem aceitos, e reconhecidos tem a obrigação de entrar no jogo do consumismo. Os vínculos passam a ser simples mercadorias deixando de satisfazer a necessidade de convívio, sendo, é claro, controlados pelo mercado. A solidariedade a amizade são vistas hoje como algo a se combater pela economia, pois os seres humanos são vistos como objeto de consumo.

Freud em ‘O mal-estar na civilização’ traz a ideia de que vivemos em uma civilização onde todos estão preocupados com seus próprios interesses e buscam a todo o momento a sua felicidade pessoal. Esse seria o tipo de razão promovida por nossa civilização, que muito contrasta com o conceito de “amar o próximo como a si mesmo”. Pois para algo ser aceito como preceito fundador de uma civilização, tem que fazer sentido, e segundo ele essa concepção que vem da teologia é algo absurdo. Nós só amamos quem por nós é considerado merecedor, e devido considerarmos que no outro a quem amamos, há tantas semelhanças conosco, que acabamos amando neles o ideal de nós mesmos. Dessa forma o que torna ainda mais difícil amar o outro (que pode ser qualquer pessoa, inclusive um estranho) é não identificar nele um sentimento recíproco, ou a mínima consideração por nós. Essa forma de amar é então contrária a natureza humana, portanto é considerado um ato de fé que segundo Bauman “o ser humano rompe a couraça dos impulsos, ímpetos e predileções ‘naturais’”.

Esse salto de fé é o ato fundador da humanidade. Deparamos-nos agora com uma passagem decisiva do instinto de sobrevivência para a moralidade. O amor-próprio é considerado uma questão de sobrevivência, pois nos permite lutarmos para nos mantermos vivos, a “agarrar a vida”, nos torna resistentes. O conceito de amar o próximo com a si mesmo, “torna a sobrevivência humana diferente daquela de qualquer outra criatura viva” segundo Bauman. Mas para desenvolvermos o amor-próprio precisamos ser amados por outros. E quando há uma recusa desse amor gera em nós uma auto-aversão.

Vivemos em uma sociedade que ao longo de toda a sua história houveram muitos episódios de desumanidade, como quando no texto é citado a morte de meio milhão de crianças em função do bloqueio militar imposto pelos Estados Unidos ao Iraque, regado de discursos desumanos onde se tentou justificar um ato horrendo nas palavras da embaixadora norte-americana Madeleine Albright que disse ao ser interrogada acerca do trágico acontecimento: “achamos que era um preço que valia ser pago”. Não existe se quer humanidade’ nesse discurso.

A forma de relacionamento na contemporaneidade é descrita por Anthony Giddens como “relacionamento puro” baseado pelo interesse do que cada um pode ganhar, na condição de poder ser rompido a qualquer momento e só tem uma continuidade se ambas as partes estiverem proporcionando satisfações suficientes. As relações estão se tornando cada vez mais frágeis, sem confiança, sem um compromisso visando um futuro duradouro.

Relações barradas

A liquidez moderna e seus aspectos xenofóbicos moldam a sociedade a um longo período, porém tal modelagem na atualidade atua como um vulcão em erupção. Totalmente em vigência a discriminação dos povos imigrantes ganha cada vez mais páginas de jornais e noticiários, tais povos tornam-se notícia a todo instante.

Diante toda divulgação da calamidade ocorrente estão os olhos atentos dos espectadores, leitores, internautas que recebem a notícia e em algumas ocasiões demonstram espanto, choque (tais sentimentos que denotam susto estão cada vez mais escassos, atribuição está à continuidade sucessiva dos acontecimentos), porém voltam a sua rotina comum. Quem está tomando o café da manhã no primeiro momento ao abrir a página do jornal experimenta a sensação de engasgo, nó na garganta, mas alguns instantes depois continuam a se deliciar com seu desjejum e aquelas pessoas de histórias impactantes, deprimentes se tornam insignificantes durante o decorrer do dia, são esquecidas, é como se nunca tivessem existido, oferecer ajuda se torna fora de cogitação.

Fonte: https://goo.gl/kQ226P

São pessoas frágeis, desgastadas, violentadas que experimentam o ódio mortal de toda uma nação.  Perambulam buscando alento, a esperança de um dia obter um país, uma cidade, um lar se torna cada vez mais uma utopia. Não possuem uma terra, na busca da fuga do sofrimento se submetem a todo tipo de situação, são renegadas pelos seus, o local de partida já não às querem mais, o local de destino repugnam sua presença. E assim tais povos vagam em uma imensidão de desalento demarcada por lonas e barracas que podem ser desmontadas a todo o momento, os campos de refugiados.

Afirmar que há um sentimento repugnante perante os imigrantes talvez seja um termo forte demais, porém não é.  Cada vez mais a culpa de toda desgraça ocorrida em um continente, território, país recai sobre os refugiados. Ninguém ousa recebê-los, pois seria como receber uma doença contagiosa mortal. O poder público por sua vez desempenha o papel de exclusão com excelência, tirando o máximo de proveito possível, consegue eleição, reeleição com o discurso xenofóbico de ataque. “ O poder de excluir não seria um marco da soberania se o poder não tivesse primeiro se unido ao território.” (BAUMAN, 2004). Os governantes desviam o foco de toda calamidade existente em seu próprio governo, atribuindo a culpa de todos os males aos recém-chegados.

E se todo esse investimento contra a entrada e permanência fosse revestido em políticas de ajuda, se todo recurso financeiro direcionado para construção do muro entre fronteiras, por exemplo, fosse remanejado para construção dessa população sem perspectiva. Talvez assim não só o país seria grande novamente, o ser humano teria a chance de entrar em estado de evolução.

Vivencia-se atualmente um estado de urgência, onde a chama que busca por mudanças queima ardentemente. A falta de humanidade é uma problemática real vivenciada cotidianamente. A onda do individualismo, a globalização, acabou corroendo a empatia pelo próximo, evidenciando assim que a fase atual é uma das mais críticas e lamentáveis das fases já vividas no decorrer do trajeto da vida humana.

REFERÊNCIA:

BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004.

Compartilhe este conteúdo:

Hipermodernidade: somos reféns de nossa própria genialidade?

Compartilhe este conteúdo:

É comum e acredito que todos que tenham um mínimo de estudo acadêmico já tenham ouvido falar na tal contemporaneidade, essa palavrinha bonita, que soa um tom diferenciado e complexo define a realidade da nossa atual sociedade. A partir dos anos 80 e 90 com a implantação da informática, a facilidade de trocar informações, a velocidade em que as informações podiam ser transmitidas e recebidas, possibilitou ao homem a capacidade de superar as distâncias.

1

Fonte: professoragiseleleite.jusbrasil.com.br

A pós-modernidade, a qual estamos vivenciando hoje, nos trouxe uma gama de possibilidades, prazeres e superações incríveis, como por exemplo, a mutação genética, a robótica, os computadores que são capazes de pensar pelos seus donos, a previsão quando possível dos fenômenos da natureza, a descoberta de galáxias e planetas, jogos eletrônicos, os aviões, os carros luxuosos, a energia eólica, o pré-sal, entre tantos outros.

A busca de conhecimento na pós-modernidade trouxe sim coisas maravilhosas para a humanidade, possibilitou a cura de doenças, o congelamento de corpos vivos para serem descongelados anos depois, partes do corpo humano robotizado, a fim de proporcionar ao outro uma melhor qualidade de vida, quando o mesmo já não tem mais um dos membros. As descobertas, inovações, o que se pode tirar de proveito de todo esse saber é imensurável.

2

Fonte: www.syntagmaeditores.com.br

Porém será que estamos fazendo isso com sabedoria e limitação? Segundo Lipovetsky & Charles (2004) a nossa sociedade, tão inteligente e criativa tornou-se escrava do próprio produto. Só é possível ser feliz se tivermos o último lançamento daquele carro importado, do celular, dos utensílios domésticos, o homem é refém do próprio trabalho, pois já não pensa sem uma memória de computador, não grava mais seus números de telefone na cabeça porque o celular, o tablete, o e-mail, já fazem isso por ele.

A vontade de ter cada vez mais para então ser mais feliz ou encontrar a felicidade num pote de ouro, mas o pote não aparecerá no fim do arco íris; o homem pós-moderno tem consciência disso e por isso trabalha cada dia um pouco mais. Nesse ritmo de conquistar o que não se precisa, só lhe resta tempo para si, para a supervalorização do seu corpo, seu cabelo, suas roupas, seus bens, seus lucros. O outro só é importante se puder lhe oferecer algo em troca, pode ser status, dinheiro, mas em último caso amor, embora o homem também precise, mas para isso ele compra um cachorro e está tudo resolvido, afinal tudo se resolve na base do dinheiro, eu compro um cachorro, automaticamente compro afeto.

Neste ínterim, nossa sociedade é caracterizada pelo consumismo excessivo. “Nasce uma nova sociedade moderna. Trata-se não mais de sair do mundo da tradição para aceder à racionalidade moderna, e sim de modernizar a própria modernidade […]” (LEPOVETSKY & CHARLES, p. 56, 2004).

3Fonte: blog.runrun.it

Em concordância com os autores Lepovetsky e Charles (2004), a hipermodernidade nos rouba o que temos de mais precioso, o tempo. Não temos tempo mais para nos amar, nos observar, para refletir sobre nossas vidas, nossos atos, essa hipermodernidade nos aprisiona em nós mesmos de modo que não percebemos que estamos perdidos num mundo predominantemente fictício. Não são reais as fotos visualizadas nas redes sociais, a felicidade comprada também não existe, o dinheiro, os bens, a tecnologia não traz felicidade, então porque corremos tanto atrás disso, acreditando que é sinônimo de felicidade? Porque não conseguimos enxergar a verdade por trás da informação? Estamos acorrentados em nós mesmos e o pior, estamos presos por vontade própria.

Somos ensinados desde a escola a não pensar, não criticar e aceitar o que já é determinado, somos ensinados a nos conformar com a vida que temos, ou somos incitados a trabalhar e buscar a vida que queremos ter. Na segunda opção nos tornamos escravos da falácia pós-moderna de que se trabalharmos mais e mais, teremos o que desejamos. O que é uma grande mentira, pois não existe lugar para todos no topo da pirâmide da classe social.

4Fonte: www.administradores.com.br

Os autores Lepovetsky e Charles (2004), relatam que a pós-modernidade com seu turbilhão de informações, deveres, novidades, atualizações no mercado de trabalho, a busca frenética pelo novo, traz algumas consequências.

“Com a precarização do emprego e desemprego persistente, crescem os sentimentos de vulnerabilidade, a insegurança profissional e material, o medo da desvalorização dos diplomas, as atividades subqualificadas, a degradação da vida social. Os mais jovens temem não achar lugar no universo do trabalho e os mais velhos, perder definitivamente os deles.” (LEPOVETSKY; CHARLES, 2004, p. 71)

O imediatismo da pós-modernidade carrega em si um agravante social, o aumento do índice de desempregados e pessoas incapacitadas para continuar em suas profissões, uma vez que devem estar o tempo todo se atualizando, e assim como as máquinas, serão substituídos. Como é possível ter uma vida social, lazer, familiar, profissional, acadêmica e não deixar nenhum ponto de fora? É possível se dividir em mil pedaços sem que um lado fique prejudicado? Eu me pergunto, como uma mulher casada, com filhos, profissional, trabalhadora dentro e fora do lar, conseguiria acompanhar as dinâmicas da pós-modernidade e ainda acompanhar de maneira integral e com devida importância o desenvolvimento dos seus filhos e dar atenção ao seu marido, que assim como ela deve estar na mesma luta? Como esse casal/família conseguiria se desenvolver de forma saudável?

Atualmente a sociedade do século XXI, possui um grande desafio, o de não perde a sua humanidade, fazer da tecnologia e da ciência apenas meios de facilitar a vida, não permitir que o homem se torne robóticos ao ponto de trabalhar demais e mesmo assim ser trocados e substituído, quando apresentar a incapacidade para a atualização, assim como já ocorre com as máquinas.

Referência

LIPOVETSKY, Gilles; CHARLES, Sébastien. Os tempos Hipermodernos. Tradução: Mario Vilela. – São Paulo, Editora: Barcarolla, 2004.

Compartilhe este conteúdo:

Bauman: vida de constantes incertezas

Compartilhe este conteúdo:
tumblr_static_filename_640_v2
Fonte: www.tumblr.com

O livro Vida Líquida, do sociólogo polonês Zygmunt Bauman, traz provocações interessantes acerca da contemporaneidade. No capítulo 1, o autor nos fala sobre a necessidade infundada que as empresas – assim, como as pessoas também – têm de estar em constante mudança. Adotam um espírito sem constância e procuram ferozmente “motivos” nos outros para mudarem. A mesmice é vista como um erro fatal para todos os jogadores do Mundo Capitalista. A perpetuação do que é concreto agora é uma ameaça para os seres humanos dessa sociedade que visam que as raízes devem ser cortadas e trocadas por próteses que podem ser retiradas a qualquer momento sem aviso prévio, assim eliminando os “fracos” da jogatina dos “Poderosos”.

O capítulo 2 traz como assunto principal a formação dos Heróis. Há alguns séculos, os heróis eram as pessoas que tinham ideais puros e lutavam por alguma causa nobre e morriam para ajudar as minorias, além de ser quase santificados pelo povo. Na sociedade consumista, os heróis perderam sua “eternidade” e se tornaram Celebridades. Não carregam em suas falas e discursos lemas igualitários ou praticam boas ações. Apenas tem rosto bonito, estão na mídia constantemente, tem seus cabelos copiados por multidões, suas vidas são vigiadas 24hs por dia. A individualidade e a futilidade tornam-se o glamour dos heróis do século XXI. A morte por alguma causa é vista como loucura ou fanatismo.

[…] a sociedade de consumo líquido-moderna despreza os ideais do “longo prazo” e da “totalidade”.

No capítulo 3 temos como abordagem principal a formação da cultura. Na sociedade líquido-moderna não são os marcos históricos, lembranças, memórias ou glórias passadas que fazem de algo um “produto cultural”, mas seu valor no mercado. Se as pessoas querem consumir determinado lugar ou coisa, aí sim teremos um produto comerciável e não uma Utopia. São os mercados que ditam o que é “essencial” para a cultura e não o inverso. No século XXI não há espaço para valorização nacional e sequer regional. A globalização vem para derrubar barreias não só geográficas, mas ideológicas, econômicas, educacionais e até culturais. Há uma necessidade de uma “cultura global” que seja identificada como um produto pronto para consumo e preparado para ser jogado “no lixo” quando se torna obsoleto.

22
Fonte: http://www.cienciahoje.org.br/revista/materia/id/834/n/lixo_eletroeletronico

Um mercado de consumo propaga a circulação rápida, a menor distância do uso ao detrito e ao depósito de lixo, e a substituição imediata dos bens que não sejam mais lucrativos”.

O capítulo 4 abre alas com o assunto construções modernas, ou seja, a vida urbana atual. Bauman nos traz vários dados que confirmam suas suposições e estudiosos que analisam a fundo esse problema que afetado toda a população do século XXI: O Medo Onipresente.

Percebemos que as arquiteturas atuais trabalham em prol do isolamento social. Não proporcionam convívio com os demais vizinhos. As residências tornaram-se fortalezas humanas e preparadas para “guerras” invisíveis e irreais. A maior guerra não se encontra nas ruas ou nos campos de concentração do século XX, mas em nossas mentes. Formos dominados pelo estado permanente de Insegurança e nosso “sensor-aranha” a todo o momento detecta algo inimigo inventado pelo Estado e o Mercado.

A vida urbana se transforma num estado de natureza caracterizado pelo domínio do terror, acompanhado pelo medo onipresente”.

Talvez seja porque as inovações tecnológicas, os governos, a mídia e o mercado produziram um ambiente em que é cada vez mais fácil “apagar, desistir, substituir”. E a velocidade com que isso ocorre é que dá à vida esse caráter inconstante. É como se cada pessoa estivesse eternamente à procura de algo que possa ser seu novo objetivo ideal (uma espécie de Santo Graal), mesmo sem compreender porque havia buscado o já ultrapassado objetivo que ainda tem em mãos. Assim, a rapidez com que as variáveis mudam é condição necessária e, quem sabe, suficiente para a sobrevivência no mundo líquido-moderno.

No capítulo 5 Zygmunt trata sobre nós Consumidores. Nesse capítulo uma nova faceta nos é apresentada. Somos apenas peças no tabuleiro dos “Poderosos Chefões” do Mercado Global. O mercado não quer satisfação plena de seus consumidores. Ele quer o contrário. Geram constantemente produtos que criem mais insatisfação em seus clientes. A insatisfação é a válvula que move o mercado atual, sem isso tudo seria perdido. Todas nossas frustrações, dores, sofrimentos podem ser “curados” num shopping center, esse que é o símbolo máximo da nossa sociedade.

333
Fonte: http://www.syhus.com.br/2015/09/24/duvida-7-quantos-socios-eu-posso-ter/

A sociedade de consumo consegue tornar permanente a insatisfação”

O capítulo 6 nos traz como tema central a Educação. Na sociedade de consumo o processo educacional tornou-se tão volúvel quanto seus atores principais. Todo o conhecimento parece ter virado um “produto” assim como alimentos, roupas e sapatos. Encontramos agora a Indústria do Conhecimento, que mostra que toda informação tem prazo de validade e as pessoas necessitam sempre estarem se atualizando. Nesse ritmo o termo APRENDIZAGEM tornou-se o sinônimo de Educação. Isso causa um desconforto nos educadores, pois apresenta o conhecimento como arma principal para o jogo dos “Chefões”, entretanto o conhecimento é tão obsoleto quanto um celular do ano passado, porque já foi lançado um da nova geração. Nesse diálogo antagônico, as pessoas pisam em um campo-minado e podem ser excluídas da guerra, simplesmente porque seu conhecimento tornou-se “ultrapassado”.

Aqui a educação das universidades não condiz com o que o MERCADO quer e o diálogo torna-se cada vez mais contraditório e caminha para um rumo que pode afetar os princípios conhecidos pelos educadores e apenas satisfazer o “Chefão”.

A velocidade com que o indivíduo transita entre o amor e o desapego, entre a relevância e o descaso, entre o moderno e o ultrapassado, entre o essencial e o desnecessário provoca um aumento exponencial do lixo. Cada pessoa carrega consigo seu lixo particular, que precisa ser despejado em algum lugar. E isso acontece através da ajuda dos mais diversos meios, desde terapias e pílulas mágicas até religião e sistemas educacionais.

A vida líquida, assim como outras obras de Bauman, traz uma reflexão apoiada na revisão de alguns conceitos (como cultura, progresso, amor, medo, consumo) presentes e em constante mutação na sociedade atual. São vários livros permeados pela mesma premissa: o mundo líquido-moderno.

555
Fonte: http://concurseirosbr.com/7-maneiras-simples-de-estudar-informatica-para-concursos/

A mudança educacional está se tornando cada vez mais vinculada ao discurso da eficiência, da competitividade, da efetividade de custos e da contabilidade”.

No capítulo final da obra, Bauman fecha o livro com chave de ouro falando de todos os temas anteriores juntamente com a responsabilidade do Estado em influenciar nas escolhas das pessoas.

Para Bauman, “a vida líquida é uma vida precária, vivida em condições de incerteza constante”. Mas, parece-me que a vida sempre foi assim, uma série finita de incertezas permeada por artifícios capazes de produzir um sentimento relativo e breve de estabilidade.

As pessoas parecem querer ser enganadas. Sabem que estão sendo enganadas, mas deixam-se ser levadas pelo Mercado. Nisso entraria a ação do Estado na ajuda de “escolhas certas”, onde produtos e serviços realmente visassem a satisfação e a felicidade das pessoas e não alimentar um ciclo completamente vicioso.

Compartilhe este conteúdo: