
Tag: mente

Cotidiano

Divertida Mente: Quem disse que é fácil crescer?
Com duas indicações ao OSCAR:
Roteiro Original e Animação
“Ousar é perder o equilíbrio momentaneamente. Não ousar é perder-se.”
Soren Kierkegaard
A recém-lançada animação Divertida Mente, da Pixar, conseguiu unir numa única produção uma“atmosfera lúdica”, descontraída, comum a filmes do gênero e, de quebra, inseriu uma temática bem atual, densa e de forte teor filosófico-psicológico: o longo e doloroso – mas enriquecedor – processo de amadurecimento de uma criança que, paulatinamente, entra na adolescência e se vê diante de uma explosão de emoções, típicas para a fase.
O filme mostra, dentre outras coisas, que crescer pode ser uma jornada turbulenta. A personagem Riley é a prova disso! “Ela é retirada de sua vida no meio-oeste americano quando seu pai arruma um novo emprego em São Francisco. Como todas as pessoas, Riley é guiada pelas emoções – Alegria (Amy Poehler), Medo (Bill Hader), Raiva (Lewis Black), Nojinho (Mindy Kaling) e Tristeza (Phyllis Smith)”. Essas emoções vivem no centro de controle dentro da mente de Riley, de onde lhe ajudam com conselhos em sua vida cotidiana. “Conforme Riley e suas emoções se esforçam para se adaptar à nova vida em São Francisco, começa uma agitação no centro de controle. Embora Alegria, a principal e mais importante emoção da garota, tente se manter positiva, as emoções entram em conflito sobre qual a melhor maneira de viver em uma nova cidade, casa e escola”.
A animação aborda alguns dos temas-chave para a psicologia, desde a sua gênese filosófica (como a combinação dos quatro temperamentos da personalidade, de Galeno), passando pelo fato de que os vínculos emocionais na primeira infância são parte essencial da natureza humana (que impactam na formação da personalidade de Riley), além de enfocar comportamentos moldados por reforços positivos e negativos (Skinner) e, por fim, desembocando na dinâmica biopsicosocial, onde aspectos biológicos, psicológicos e sociais se mesclam para definir esta enigmática energia (ainda longe de ser compreendida integralmente, objeto inclusive de “disputas” epistêmicas) que, dentre outros nomes, é chamada de psique.
No início do filme, há uma clara ênfase aos aspectos biológicos em detrimento dos demais enfoques (mas, não se enganem, de forma geral o diretor irá “passear” por todos eles), e o dualismo cartesiano dá a tônica, com a clara separação entre corpo e mente, fundamental para que se desenvolvesse a pujante ciência do comportamento humano.
Sobre os quatro temperamentos da personalidade, defendido por Galeno (melancólico, fleumático, colérico e sanguíneo) se derivam as emoções básicas presentes na produção da Pixar. Estas emoções “disputam” entre si a dinâmica de interações de Riley e a prevalência de uma ou outra (ou a combinação de várias delas) é o que definiria as “memórias-raiz” que teriam impacto direto na formação da personalidade da pequena.
No “centro do controle”, estas emoções acompanham o desenrolar de cada intercâmbio e a composição das memórias; à noite, durante o sono, observam a consolidação de dadas memórias, num frenético movimento de armazenamento e/ou descarte das experiências e composições imagéticas. “Se algum dos humores se desenvolve demais, o tipo correspondente de personalidade passa a dominar. Uma pessoa sanguínea é afetuosa, alegre, otimista e confiante, mas também pode ser egoísta. Alguém fleumático é quieto, gentil, tranquilo e racional, mas também pode ser lento e tímido. A personalidade colérica é irritadiça e, por fim, o melancólico é acompanhado pela tristeza, cuidado excessivo e o medo, mas desenvolve uma introspecção criativa” (com adaptações – Ed. Globo, 2014, pág. 19). Qual seria, então, a predominância de Riley, num filme que ora apela para a tábula rasa aristotélica, ora enfoca na “vontade” kantiana como fator determinante para a superação dos conflitos? As respostas podem gerar novas perguntas, num ciclo interminável.
É possível observar, nestas interações apresentadas na animação, que os padrões repetitivos e os condicionamentos – bem como os reforços positivos ou negativos decorrentes deles – são os grandes responsáveis pela memorização mais eficaz e, consequentemente, a repetição ou não de tais padrões como algo que, finalmente, “se incorpora” no modo de encarar o mundo.
Ícone desta abordagem, B. F. Skinner defendeu que “o comportamento é aprendido primordialmente a partir dos resultados das ações”. Assim, um organismo atua sobre o seu ambiente e recebe um estímulo que reforça um comportamento operante. “Para distinguir esta situação daquela que envolve o condicionamento clássico, Skinner cunhou o termo ‘condicionamento operante’”, sendo que a maior diferença entre os dois é que, neste último, há a representação de um processo de duas mãos, “no sentido de que a ação, ou o comportamento, atua sobre o ambiente tanto quanto o ambiente define o comportamento” (- Ed. Globo, 2014, pág. 82).
Riley, então, experimenta uma longa infância feliz, cheia de reforços positivos, onde a Alegria mantém a liderança absoluta no “centro de controle mental”. Neste período, como defenderia Skinner em sua tese, “programas de reforço positivo eram capazes de configurar comportamentos com mais eficiência” (pág. 83), numa constante retroalimentação onde a Alegria se fortalecia dia após dia.
Mudança como fator de instabilidade
Mas para “embaralhar” a trama (e a mescla de enfoques teóricos), o diretor Pete Docter faz a transição da mente enraizada na infância para a instável adolescência. Além disso, de quebra, um processo de mudança de cidade trás a tona um novo panorama, onde a Alegria perde a sua liderança para a Tristeza e a dúvida. Acabara-se de se instalar, então, o Medo. “Sintomaticamente, um acidente na central interna de comando lança a Alegria e a Tristeza para fora dali, deixando a Raiva, o Medo e o Nojinho no controle. Ou seja, bem-vindos ao mundo instável da adolescência. […] Mantém-se a história num bom ritmo alternando as desventuras de Riley neste novo cotidiano, os conflitos com os pais e a confusão em sua mente, com a Alegria e a Tristeza vivendo uma epopeia para voltar à central de comando, atravessando locais como a Terra da Imaginação e o Pensamento Abstrato”.
E é neste momento, de encontros e desencontros, e de grandes descobertas, que salta aos olhos as interações biopsicosociais. Riley, então, apresenta-se como fruto de um “mix” de “diálogos” que envolvem fatores biológicos, psicológicos e, claro, as trocas sociais, num movimento em que, em tese, nenhum desses fatores tem maior peso que o outro, mas disputam igual espaço, onde se torna impossível tangenciar a compreensão integral do ser sem que uma das partes tenha que ser levada em conta. Desta forma, as construções subjetivas interagem e “interpenetram” incessantemente com os fatores biológicos e sociais – e vice e versa.
E especificamente no filme, a adolescência, então, apresenta-se como um outro nascimento, onde os fatores biológicos, as estruturas internas de memória e repetição (ou aversão) e os laços afetivo-sociais dão o tom. Neste ínterim, “a consciência de si e do ambiente intensifica-se muito, tudo é sentido de maneira mais aguda, onde se busca a sensação por si mesma” (- Ed. Globo, 2014, pág. 47). Como diria o psicólogo/psicanalista Stanley Hall (responsável pelo lastro teórico para várias pesquisas contemporâneas), esta é uma fase em que o adolescente fica suscetível a intempéries e à depressão, requerendo, portanto, especial atenção. É daí que surge a conhecida “curva de desesperança”, “cujo início é os onze anos de idade, atinge o pico aos quinze e, a partir daí, começa a cair de modo regular até os 23 anos”.
Vale ressaltar que as causas de depressão (entre jovens), fortes alterações de humor e grande inquietação apresentadas por Hall também têm eco na atual visão biopsicosocial e soam familiares para parte dos estudiosos contemporâneos. Elas se baseiam, predominantemente, num eventual sentido de rejeição e, claro, em alterações biológicas importantes. Esta autoconsciência do adolescente, em frenética formação, levaria à “autocrítica e à censura de si e dos outros […]”, num ritmo em que as “as habilidades de raciocínio avançadas dos adolescentes permitem que eles ‘leiam nas entrelinhas’, mas, ao mesmo tempo, ampliam a sensibilidade com que enfrentam as situações”, estando portanto vulneráveis a responder às provocações/demandas de forma explosiva. Até que se chegue à temperança aristotélica e, por fim, à maturidade, ainda há um looooooooongo caminho a ser percorrido.
Divertida Mente entrete e educa as crianças, e abre um leque de compreensão para os adultos. O filme mostra quão intricadas são as dinâmicas de formação/consolidação da personalidade, além de reforçar o papel do entendimento acerca das trocas sociais e, por fim, revela o valor de perceber e superar as emoções conflitantes. Não é fácil crescer! Assumir o controle da mente, das próprias emoções, requer tempo e diligência. Nas palavras do existencialista Kierkegaard (1813-1855), do desejo de ser “um outro” diferente, há uma angústia básica decorrente das primeiras tentativas e erros.
Nesta busca de reconhecer-se (firma-se no mundo), a sobrepujação da aflição só viria, portanto, na superação mesma do entendimento do que é o eu. Assim, “ser quem se é realmente é na verdade o contrário do desespero”. E o tempo inteiro, inconscientemente, presume-se, a jovem busca esta experiência. No caminho, deixa um lastro de dúvidas, tormentas e conflitos. Mas é justamente neste momento onde a pulsão pela vida se mostra de forma mais emblemática e tocante, num jogo poético e – paradoxalmente – alucinante. Há um celeiro de mudanças, sonhos e utopias. Por fim, como ainda pontua o dinamarquês Kierkegaard, neste processo de conquistar a si mesmo, surge o descobrir-se a si mesmo, “assim como é, sem máscaras”. O percurso é doloroso, mas libertador. Que o digam os jovens.
Mais filmes indicados ao OSCAR 2016: http://encenasaudemental.com/serie-oscar-2016
REFERÊNCIAS:
Animação Divertida Mente retrata com criatividade a explosão da adolescência. Acesso em 01/08/2015;
Divertida Mente fala sobre o desafio de amadurecer. Acesso em 02/08/2015;
O Livro da Psicologia (Vários autores) / [tradução Clara M. Hermeto e Ana Luisa Martins]. – São Paulo: Globo, 2012;
COMTE-SPONVILLE, André. Dicionário Filosófico. São Paulo: WMF, 2011;
O Livro da Filosofia (Vários autores) / [tradução Douglas Kim]. – São Paulo: Globo, 2011;
PEREZ, Daniel Omar. Amor e a procura de si. Disponível na Revista Filosofia Ciência & Vida – Ano VIII, no 99, de outubro/2014.
NIETZSCHE, Friedrich. O Nascimento da Tragédia. São Paulo: Companhia de Bolso, 2007.
FICHA TÉCNICA
DIVERTIDA MENTE
Nome Original: Inside Out
Direção: Ronnie del Carmen, Pete Docter
Origem: EUA
Ano de produção: 2015
Gênero: Animação
Duração: 102 min
Classificação: Livre

Mindfulness é forte aliado no combate aos transtornos da mente
“A ação perfeita é o fruto da meditação perfeita”
Textos Hindus
Recentemente os veículos de massa, a exemplo de algumas das maiores emissoras de TV abertas e jornais de ampla circulação nacional, vêm dando importante ênfase aos benefícios da meditação para a saúde física e mental. Em parte, isso ocorre porque as práticas terapêuticas orientais estão cada vez mais demonstrando seu potencial transformador, assumindo posições menos exóticas e “excepcionalistas”. Também há de se destacar, neste movimento, o crescente interesse da comunidade científica ocidental em (re)conhecer os benefícios da meditação. Há uma profusão de pesquisas em andamento e outras já concluídas.
Um dos estudos mais recentes, conduzido pela Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, mostra que 30 minutos diários de meditação podem atenuar sintomas de ansiedade e depressão. A prática, em seu caráter secular (fora do contexto religioso e que, portanto, pode ser usado por psicólogos, médicos e terapeutas de toda ordem), recebe o nome de mindfulness, que pode ser definido como uma ação que “tem seu objetivo em aumentar o estar consciente e atento as experiências vividas, o aqui e agora. Este propósito é reconhecer e aceitar a realidade como ela for, sem a avaliação emocional, distorções mentais ou reagindo de maneira automática”, de acordo com o programa Iniciativa Mindfulness, gerido por psicólogos clínicos de várias partes do Brasil.
Voltando aos experimentos da Universidade Johns Hopkins, que são conduzidos pelo professor Madhav Goyal, a pesquisa revelou que “a meditação parece aliviar sintomas de depressão e ansiedade com os mesmos resultados dos antidepressivos relatados em outros trabalhos”. Ainda de acordo com os pesquisadores, foi avaliado o grau de mudança desses sintomas em pessoas que tinham uma variedade de condições médicas, tais como insônia ou fibromialgia, embora apenas uma minoria tivesse sido diagnosticada com doença mental. “Goyal e seus colegas descobriram que a chamada meditação mindfulness – uma técnica budista de atenção plena –, por 30 minutos diários, também teve sucesso no alívio da dor e do estresse”, de acordo com matéria publicada em O Globo.
Além disso, para realizar a sua revisão, os pesquisadores analisaram 47 ensaios clínicos feitos até junho de 2013, com 3.515 participantes, envolvendo meditação e vários problemas de saúde física e mental, incluindo depressão, ansiedade, estresse, insônia, uso de drogas, diabetes, doenças cardíacas, câncer e dor crônica. E as descobertas não poderiam ter sido melhores. Eles acabaram por encontrar evidências de melhora nos sintomas de ansiedade, depressão e dor depois que os participantes foram submetidos a um programa de treinamento de oito semanas em meditação mindfulness. As melhoras foram moderadas, mas já demonstram um avanço. Vale ressaltar, no entanto, que a meditação, em si, não é apresentada como uma panaceia, em substituição a medicamentos usados em casos mais graves. O ideal, nestes contextos, é usá-la como auxiliar ao tratamento médico e/ou terapêutico.
De acordo com o pesquisador Madhav Goyal, “muita gente tem a ideia de que meditar significa sentar sem fazer nada, mas não é verdade. Meditação é um treinamento ativo da mente para melhorar atenção e há diferentes programas com approachs variados”, disse ao Globo.
Ainda de acordo com o periódico, a meditação Mindfulness, o tipo que se mostrou mais promissor, é normalmente praticada por 30 a 40 minutos por dia e enfatiza a aceitação dos sentimentos e pensamentos, do momento presente sem julgamento, além do relaxamento do corpo e da mente. O estudo foi publicado na revista “JAMA”.
Mais sobre a meditação
Alguns dos mais proeminentes mestres budistas, de diferentes escolas, destacam que os efeitos positivos da meditação sobre a saúde física e mental, na verdade, são um subproduto da prática. De acordo com Chogyam Trungpa, do Budismo Tibetano, “a meditação não é uma prática para tentar atingir o êxtase, bem-aventurança espiritual, ou tranquilidade, nem é a tentativa de se tornar uma pessoa melhor. É simplesmente a criação de um espaço em que somos capazes de expor e desfazer os nossos jogos neuróticos, dos nossos autoenganos, nossos medos e esperanças escondidas”.
Para o mestre zen budista Thich Nhat Hanh “o objetivo da meditação é ajudar o praticante a chegar a uma compreensão profunda da realidade. Esta introspecção tem a capacidade de libertar-nos do medo, da ansiedade e da depressão. Pode produzir compreensão e compaixão, pode elevar a qualidade de vida e trazer liberdade, paz e alegria para nós mesmos e para as pessoas ao nosso redor”.
Ainda de acordo com Thich Nhat Han, a meditação sentada é a forma mais comum de meditação, mas também “podemos praticá-la em outras posições como caminhando, em pé ou deitados. Quando lavamos roupa, cortamos lenha, regamos as plantas ou dirigimos o carro – onde quer que estejamos, o que quer que façamos, seja qual for a posição de nosso corpo, se as energias da mente alerta, da concentração e da introspecção estiverem presentes em nossa mente, em nosso corpo, então estamos praticando a meditação. Viver em sociedade, ir ao trabalho todo dia, cuidar de nossa família também são oportunidades de praticarmos a meditação. A meditação tem o efeito de nutrir e curar o corpo e a mente. E devolve ao praticante e às pessoas que o cercam a alegria de viver”, pontuou em um de seus livros.
Mindfulness
Especificamente sobre a prática de mindfulness, a proposta é delimitar uma nova forma de interação com qualquer coisa que aconteça na vida do praticante, que passa a encarar estas dinâmicas de maneira mais consciente, aberta e gentil. “A abordagem mindfulness é baseada na aceitação da nossa experiência e não na reação a experiência em si. Aceitando as condições naturais da vida criamos a habilidade de responder a essas condições de maneira mais criativa e funcional. Para fazermos isso precisamos aprender a estar conscientes (mindful) e atentos as nossas respostas e reações que é o que propões os treinamentos em mindfulness”, diz a apresentação do projeto Iniciativa Mindfulness, que conta com o apoio da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
Ainda de acordo com este projeto, sendo um treinamento que integra mente-corpo, o mindfulness permite que as pessoas mudem a maneira que elas experienciam seu dia a dia, transformando a maneira que elas pensam e sentem sobre as próprias experiências. “A prática em si exige disciplina e perseverança, especialmente no mundo de hoje onde a impressão que se tem é que é difícil tempo para qualquer coisa. Com a velocidade do mundo atual estamos cada vez desconectados de si mesmos, cheios de tarefas, obrigações, responsabilidades e pressões. Todas essas características do mundo atual levam as pessoas a um constante sentimento de opressão característico do considerado mal do século atual. […] O treinamento em mindfulness propõe uma volta a si mesmo, aumentando a consciência e atenção aos nossos atos, mudando a maneira como agimos, vivemos e nos relacionamos”, destaca o informativo do projeto.
Por fim, o propósito da meditação mindfulness é libertar os praticantes dos padrões de respostas automáticas que são produzidos em decorrência da falta de atenção plena. Com a prática, “ficamos mais atentos e conscientes dos hábitos que determinam nossa maneira de se comportar e de se relacionar com o mundo”.
(Fonte: Iniciativa Mindfulness)
Em Palmas há espaços e grupos organizados que, de forma integral ou parcial, desenvolvem atividades de meditação com abordagens iguais as apresentadas pela dinâmica de Mindfulness. Confira:
– Brahma Kumaris Palmas (fones: 8101-5127/3215-5960 Adriana Mioto)
– Luare Instituto de Yoga (fones: 8123-2406/9236-9549 Márcia Ayroza)
– Instituto Maitri Yoga – Acro Yoga e Tai Chi (fone: 9937-6178 Douglas Erson)
– Isilda Sales Yoga (fone: 8120-4807)
– Sheyla Baraki Yoga (fones: 8131-0503/8409-2336)
– Zen Budismo Palmas (fone: 8112-9265 Sonielson Sousa)
Referências:
Meditação tem resultado similar aos dos remédios para ansiedade e depressão. Acesso em 23/07/2015.
Meditação ajuda a proteger o cérebro de doenças psiquiátricas, diz estudo. Acesso em 26/06/2014.
Projeto Iniciativa Mindfulness. Acesso em 23/07/2015.
Meditação tem resultado similar aos dos remédios para ansiedade e depressão. Acesso em 23/07/2015;
Meditação altera fisicamente o cérebro. Acesso em 23/07/2015;
Pesquisa do Albert Einstein comprova que meditação faz bem a saúde. Acesso em 23/07/2015.

Uma Mente Brilhante: a linha tênue que separa a loucura da sanidade
“É somente nas mais misteriosas equações do amor que nenhuma lógica ou razão real podem ser encontradas”
John Nash em seu discurso ao receber o Prêmio Nobel
O filme Uma Mente Brilhante vem nos mostrar a linha tênue que separa a loucura da sanidade. Lançado em 2001, tem como ator principal Russel Crowe que interpreta o ilustre John Nash.
John Nash, um exímio matemático de pensamento não convencional que deixa a desejar em suas habilidades de interação social, consegue uma bolsa de estudos na Universidade de Princeton, em meados da década de 1940, onde trava uma constante busca por uma ideia original, que lhe rendesse prestígio e reconhecimento pela comunidade científica, e tem como conflito principal uma luta mental entre a fantasia e a realidade causada pela descoberta de seu quadro esquizofrênico.
O convívio social com os colegas de faculdade era mínimo, haja vista que John possuía delírio de grandeza, se julgando superior aos demais. A única pessoa com quem mantinha relação mais estreita era seu colega de quarto, e posteriormente amigo, Charles.
Em sua ânsia por provar sua genialidade, John deixa de frequentar as aulas, e consequentemente, apresentar resultados de sua pesquisa. É somente depois, em uma mesa de bar, que Nash encontra sua grande ideia: a teoria dos jogos não corporativos, contradizendo anos de economia moderna. Este insight lhe possibilitou investimentos em sua pesquisa e o reconhecimento tão esperado; é convidado para ministrar aulas na Universidade e possui papel fundamental no Pentágono, decifrando mensagens codificadas para o governo dos Estados Unidos.
Neste interím, John conhece William, militar do serviço secreto que delega a ele missões de cunho sigiloso que, segundo o agende, podem comprometer sua vida e de quem o rodeia. Por outro lado, Nash que antes não possuía talento algum para o contato social, se vê apaixonado por Alicia, então sua aluna na época. Ao se casarem, os grandes dramas da real condição de John vêm à tona. Os quadros alucinatórios, já existentes, começam a se revelar e tomar maiores proporções quando, a medida que Alicia toma conhecimento da situação patológica do marido, seus delírios já afetavam seu convívio com os demais, principalmente com a família.
Ao ministrar uma palestra na Universidade de Harvard onde, a propósito, conhece Marce, a sobrinha de Charles, John se vê “perseguido” por um grupo de homens que, em seu delírio, tratava-se dos militares russos que estavam caçando-o, nada mais eram do que um grupo de homens do hospital psiquiátrico acompanhados do médico que iria interná-lo a pedido de sua esposa.
É neste momento, então, que se inicia o verdadeiro drama do personagem que é diagnosticado com esquizofrenia e descobre, paulatinamente, que muitos momentos vividos e pessoas conhecidas nunca existiram, não eram reais. Valemo-nos de ressaltar a forma como o filme foi produzido, utilizando-se da cronologia para perpassar as fases e conflitos que o personagem experimentou, até nos ser apresentada a esquizofrenia paranoide. Ao tratar da psicopatologia em questão, concomitante aos tratamentos oferecidos em 1950, a saber: a internação, medicamentos e insulinoterapia, é cabível notar que estas formas de tratamento enfatizam a doença e culpabilizam o indivíduo, reduzindo-o a si, desconsiderando suas esferas psicossociais.
O uso da medicação e as sessões de insulinoterapia afetavam seu convívio com a esposa e o faziam sentir-se inferior.Apesar das teorias e abordagens psicológicas já existentes, não há relato de tratamento psicoterápico com John. Pela recente descoberta e utilização dos fármacos, acreditava-se que a internação e os medicamentos eram as melhores e mais eficazes intervenções para aquela época.
Não obstante, no momento que John expõe seu filho a uma situação de perigo surge-lhe um insight que o faz perceber que suas alucinações, as pessoas que acreditava ser reais, Charlie, Marce, William, não coabitavam no mundo real. Este momento foi crucial para John criar suas próprias estratégias de lidar com o surto psicótico, haja vista que os efeitos colaterais produzidos pelos medicamentos influenciavam diretamente em sua capacidade cognitiva e afetava seu relacionamento com a esposa. A partir de então, John volta a dedicar-se aos estudos, tornando-se professor e, desta forma, desenvolvendo sua capacidade, então escassa, em criar vínculos interpessoais, utilizando-se do diálogo para diferenciar o real do imaginário e, a posteriori, ganha o Prêmio Nobel da Economia.
É notório ressaltar que a participação de sua esposa Alicia foi fundamental para sua recuperação, pois foi com o apoio familiar que John propôs-se a superar seus monstros, quando a destruição de sua família, aquilo que conquistou, foi posto em cheque. Conforme supracitado anteriormente, ao falarmos dos métodos de tratamento da época, os quais colocavam em destaque o indivíduo unicamente, trazemos aqui a crítica a estas formas, haja vista que, tal como seres sociais que somos e, podemos inferir que as patologias surgem nas interações negativas que mantemos com outrem, é somente na relação com o outro que podemos encontrar a solução, é compreender a dinâmica e complexidade do ser humano, a nível biológico-psicológico-social, que poderemos auxiliá-lo em sua busca por ser completo.
FICHA TÉCNICA
UMA MENTE BRILHANTE
Gênero: Drama
Direção: Ron Howard
Roteiro: Akiva Goldsman
Elenco: Russell Crowe (John Forbes Nash Jr.), Ed Harris (William Parcher), Jennifer Connelly (Alicia Nash), Paul Bettany (Charles), Josh Lucas (Hansen), Christopher Plummer (Dr. Rosen)
País: EUA
Ano: 2001
Nota: Esse texto é resultado de um trabalho elaborado como demanda da turma de Psicofarmacologia do Curso de Psicologia do CEULP/ULBRA, turma de 2014/1, sob a orientação Prof. MSc. Domingos de Oliveira.

Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças: o que se perde em esquecer?
“Abençoados sejam os esquecidos, pois tiram o melhor de seus equívocos.”
Nietzsche
Segundo Albert Schweitzer (ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 1952), “felicidade nada mais é do que ter boa saúde e memória ruim”. E qual de nós, especialmente nos dias de hoje, assoberbados de informações, de explicações sobre traumas, permeados por doenças que ganham forma justamente pelo excesso de relações entre fatos e lembranças, não gostaria, vez ou outra, de simplesmente ESQUECER.
A possibilidade de ESQUECER é a premissa central do filme “Brilho eterno de uma mente sem lembranças”. Mas, talvez a questão principal lançada pelo fantástico roteiro de Charlie Kaufman (de Quero ser John Malkovich) esteja naquilo que deixamos para trás ao esquecer, aquilo que perdemos. Se nossas lembranças, sejam elas boas ou más, constrangedoras ou edificantes, humilhantes ou prazerosas, definem, de certa forma, quem somos, até que ponto poderíamos escolher o que esquecer sem nos apagar também nesse processo?
Esse é um dos questionamentos que vem à tona enquanto acompanhamos a história de Joel e Clementine. Jim Carrey (Joel), longe da leveza que costuma imprimir nos personagens dos vários filmes cômicos que protagonizou, mostra-nos um homem enfadado pela rotina, rodeado por um mundo opaco, cansado, introspectivo, subjugado, mas cuja vida parece mudar ao conhecer a colorida e cheia de vida Clementine. Tudo na personagem de Kate Winslet (Clementine) nos remete a uma ideia de excesso de vida, seja a cor laranja de sua jaqueta, seja o azul/vermelho/laranja dos seus cabelos. Mas, assim como o cabelo muda de cor rapidamente, o humor de Clementine também é alterado com frequência. Ela, como alguns de nós, se cansa facilmente da rotina e questiona-se sobre o motivo de ter que permanecer em um relacionamento no qual parece não ser mais feliz.
Esses dilemas e a sua impulsividade fizeram com que Clementine decidisse pela opção mais rápida e, talvez, mais fácil de tirar Joel de sua vida. Talvez fosse difícil demais para ela carregar a responsabilidade de ser o “brilho” que faltava ao seu cotidiano opaco ou, na verdade, estivesse cansada de ter que se importar com alguém. Já que parece que à medida que nos importamos com alguém aumenta a probabilidade de termos que lidar com o sofrimento.
É nesse contexto que o Dr. Howard Mierzwiak, um cientista que conseguiu sucesso ao criar um sistema que permite mapear a memória e, a partir disso, apagar rotas indesejadas que se definem na arquitetura da mente, entra na vida de Clementine. Ela procura a clínica que promete o esquecimento milagroso e apresenta as justificativas necessárias para realizar o procedimento. Assim, Joel passa a ser apenas um espaço apagado em sua memória, um espaço disponível para ser ocupado por novas lembranças, novos amores.
“Deixar as pessoas recomeçarem é lindo. Olhamos para um bebê e é tão puro, tão livre e tão limpo. Os adultos são essa confusão de tristezas e fobias.”
Através de um bilhete da Clínica Lacuna, Joel entende que foi banido da vida de Clementine. Não há mais lembranças do primeiro encontro, nem das histórias que contavam um ao outro antes de adormecer, nem das infindáveis brigas. Ele não existe mais em sua memória, logo, não existe em sua vida.
E enquanto assistimos a tudo isso com aquela sensação de estarmos vendo mais um filme de ficção científica, pesquisas, como as citadas a seguir, são apresentadas cada vez com mais frequência em sites especializados ou, de forma mais superficial, na mídia de uma forma geral.
Um novo estudo do MIT [1] revelou um gene que parece ser fundamental para o processo de extinção de partes da memória. Segundo Li-HueiTsai, pesquisador do instituto de Aprendizagem e Memória do MIT, aumentar a atividade desse gene, conhecido como Tet1, poderá, por exemplo, beneficiar pessoas com transtorno de estresse pós-traumático, pois isso facilitará a substituição de memórias relacionadas ao medo a partir de associações com memórias mais positivas. O gene Tet1 parece controlar um pequeno grupo de genes necessários para a extinção da memória. “Se houver uma maneira de aumentar significativamente a expressão destes genes, então o processo de extinção pode se tornar muito mais ativo”, diz Tsai.
Já a equipe liderada por Courtney Miller, do The Scripps Research Institute (TSRI) na Flórida, conseguiu apagar com sucesso memórias associadas às drogas em camundongos e ratos, fornecendo esperança para a recuperação de viciados ou pessoas que sofrem de transtorno de estresse pós-traumático [2]. Eles observaram, por exemplo, que o desejo de drogas por ex-dependentes de metanfetaminas é desencadeado por associações de memória. Assim, o retorno de um paciente de uma clínica de reabilitação à sua rotina diária pode se tornar uma experiência terrível, já que as lembranças associadas ao vício podem retornar de forma mais intensa.
Os testes realizados após a alteração da estrutura das células nervosas nos camundongos e ratos revelaram que eles perderam “imediatamente e persistentemente” todas as memórias associadas com a metanfetamina. Todas as outras lembranças, tais como recompensas alimentares ou choque nas patas, ainda estavam intactas [2]. Miller diz:
“Não muito diferente do que é apresentado no filme “Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças”, estamos à procura de estratégias para eliminar seletivamente evidências de experiências anteriores relacionadas ao abuso de drogas ou a um evento traumático. Nosso estudo em camundongos nos mostrou que podemos fazer exatamente isso, ou seja, apagar memórias relacionadas às drogas sem prejudicar outras memórias”.
E é com essa ideia de apagar uma experiência traumática, que no caso é sua relação com Clementine e, especialmente, uma forma de esquecer o fato de que foi sumariamente e literalmente apagado de sua vida, que Joel também procura os serviços do Dr. Mierzwiak. Desta forma, inicia-se uma nova fase no filme, que se passa dentro da mente de Joel.
O interessante de percorrermos essa jornada com o Joel é que podemos entender não apenas como ele vê a Clementine de forma consciente, mas, especialmente, como ele a percebe em seu subconsciente.
E é a Clementine construída por ele, em seu subconsciente, que traz à tona as formas e nuances mais profundas do seu relacionamento. Quando a vemos falar e interagir com ele, na verdade estamos vendo a marca mais profunda que ela deixou em seu subconsciente, ou seja, tudo ali é ele, é a forma que ele percebe o mundo com ela.
Em um dado momento nessa jornada, o entendimento de que o procedimento de exclusão da memória de suas vivências com ela está sendo realizado, faz com que ele tente criar meios para confundir o sistema, pois se arrepende de ter desejado apagá-la. Assim, ele leva-a a partes de sua memória em que o programa não poderia alcançar, já que o mapeamento realizado considerou um encadeamento de lembranças vividas com ela através de objetos, cheiros, locais. E é esse desejo inconsciente de estar com ela que o faz buscá-la mesmo depois que o procedimento é concluído com sucesso, ainda que, em tese, já a tivesse esquecido.
Com isso, retornamos ao início do filme, que na verdade é o seu final, já que o roteiro não é linear. E aquelas duas pessoas, esquecidas de sua vida em conjunto, voltam a se encontrar.
Ele, achando que estava agindo por impulso pela primeira vez na vida, desiste de ir ao trabalho e pega um trem em direção à praia. Mas, na verdade, seu impulso é um ato movido pelo subconsciente, onde as sensações vividas não foram totalmente apagadas e a lembrança da praia, que foi o lugar em que a conheceu, ainda estava presente, mesmo sem um significado consciente.
Em meio à jornada de Clementine e Joel, outras histórias se cruzam, como o fato de que em qualquer ambiente existem aqueles que vão se aproveitar de determinadas situações. Por exemplo, se o uso do cartão de crédito de alguém provoca estragos financeiros terríveis, o que dirá do uso de suas memórias? É isso que um dos funcionários da clínica faz ao ter acesso às memórias do romance do casal. Por achar que estava apaixonado por Clementine, tenta reconstruir as ações do Joel para que ela pudesse se apaixonar por ele, já que seguindo um raciocínio lógico, isso poderia ser provável.
Mas, a lógica não explica a maior parte das questões que permeia os sentimentos humanos. Ainda que o Joel tivesse sido apagado da memória de Clementine, as emoções que ela viveu e as sensações que tais emoções provocaram ainda estavam vívidas em seu subconsciente e refletiam nas formas mais variadas em seu dia-a-dia. Sem cair em um dramalhão vazio, a mensagem que o filme remete nesse aspecto é que mesmo seguindo um manual com regras e palavras adequadas, o funcionário da clínica não conseguiu atingir as emoções de Clementine. Assim, por mais que ela não se lembrasse da pessoa que encontrou no trem indo em direção a praia, o “conjunto de fatores” que formava aquele indivíduo despertou nela um interesse imediato.
As pesquisas que tem como temática o mapeamento da memória apresentam uma série de justificativas embasadas em problemas complexos. Esses problemas vão desde a dependência química até traumas terríveis vivenciados na infância (como abuso sexual). A questão, claro, é o limite que será imposto ao uso desses métodos. Será que algum dia poderemos modelar nossas memórias como modificamos nossa aparência em cirurgias plásticas? Quem decidirá que tipo de intervenção é “saudável”?
Somos apenas a soma das nossas memórias ou o somatório dessas experiências está intrinsicamente relacionado há algo que já se encontra inscrito em nosso DNA? Apagar um evento traumático poderá modificar o que esse evento já causou ou os danos dessa remoção poderão causar mais perturbações do que o próprio incidente?
A frase que deu título ao filme foi extraída de um poema de Alexander Pope, um dos maiores poetas britânicos do Século XVIII:
“Feliz é o destino da inocente vestal ! Esquecendo o mundo e sendo por ele esquecida. Brilho eterno de uma mente sem lembranças! Toda prece é ouvida, toda graça se alcança.”
Será que o esquecimento é, de fato, uma benção? A impressão que temos, ao final do filme, é que ter uma mente sem lembranças nem sempre significa ser tocado pelo brilho eterno. Antes de criarmos meios para apagar, talvez seja necessário entendermos o complexo conjunto de variáveis envolvido no processo de esquecer.
REFERÊNCIAS:
[1] How old memories fade away – Discovery of a gene essential for memory extinction could lead to new PTSD treatments. Disponível em http://web.mit.edu/newsoffice/2013/how-old-memories-fade-away-0918.html
[2] Scientists successfully erase unwanted memories. Disponível emhttp://www.medicalnewstoday.com/articles/265957.php
FICHA TÉCNICA:
BRILHO ETERNO DE UMA MENTE SEM LEMBRANÇAS
Direção: Michel Gondry
Roteiro: Charlie Kaufman
Elenco: Jim Carrey, Kate Winslet, Kirsten Dunst, Victor Rasuk, Mark Ruffalo, Tom Wilkinson, Elijah Wood
Ano: 2004
Premiação: Oscar de roteiro original (Charlie Kaufman)

Água na pedra: sonhos líquidos que inundam a sociedade construída de asfalto e calor
” Dentro de cada um de nós há um outro que não conhecemos.
Ele fala conosco através dos sonhos “
Carl Jung
Arte: Salvador Dali
Uma máxima que reverbera e transcende o tempo afirma que “Os sonhos impulsionam a vida”. Essa leitura suscita o pensamento que desencadeia o ato de escrever. Por isso, esclareço que o objetivo deste texto reside na reflexão. E, convenhamos que o ato de refletir se torna mais salutar quando embalado pela poesia de Mário Quintana que eternizou os sonhos ao divagar
“Sonhar é acordar-se para dentro”
Mas, em uma sociedade contemporaneamente tão consumista, competitiva e excludente, ainda há espaço para sonhos?
Alfred Schopenhauer (1788-1860), filósofo alemão, defendia que o sonho constituiria o elo da corrente que liga a consciência do estado sonambúlico à consciência do estado de vigília. Logo, sonhos são reflexos do nosso consciente.
Sigmund Freud (1858-1939) no seu Traumdeutung (Interpretação dos Sonhos), publicado em 1900, afirma que o conteúdo dos sonhos é a via real para o acesso ao inconsciente. Dessa forma, os sonhos seriam a tentativa de realização de um desejo reprimido inconscientemente.
Diante destas postulações, cumpre-nos entender que sonhar é inerente à essência humana. Constituindo-se, assim, uma inevitável, deliciosa e desafiadora ação da enigmática mente humana, segundo minha visão particular.
Contudo, comporto-me neste texto como o “sapo tanoeiro” de Manoel Bandeira ao insistir na pergunta “Ainda há espaço para nossos sonhos?”
Na tentativa de elucidar este questionamento, aproprio-me da experiência do engenheiro Francis Alÿs (estudante das Artes) que percorreu as ruas de Copenhague empurrando uma pedra de gelo até que ela derretesse completamente. E para quem está se questionando qual o objetivo desta experiência, surpreendi-me com a resposta que consiste na constatação de que “há ações que não nos levam a lugar algum”.
Foto: Francis Alÿs, Paradox of Praxis I (Sometimes doing something leads to nothing), 1997. Cortesia do artista e David Zwirner Gallery, Nova Iorque. © 2011 Francis Alÿs.
Pautada na experiência e constatação de Alÿs, reflito que sonhos realmente alimentam a vida. Literariamente conceituando, Sonhar é colorir o sentido da existência. Mas, sonhar por sonhar significa querer colorir a vida sem pincéis e sem tinta. Por isso, para concretizá-los, exige-se ação, planejamento e iniciativa. Precisamos gerenciar nossos sonhos, por meio de estratégias e metas, para alcançarmos suas realizações.
Logo, sempre haverá espaço para os sonhos. Então, sugiro que sonhemos com mais intensidade, mas também com mais ação. Exemplifico com o relato de que sempre sonhei em caminhar sobre as nuvens. Por isso, passei anos da minha vida, construindo tijolos imaginários. Mas, lutei para transformar esse sonho em realidade.
Para que isso acontecesse, um dia, guardei todos os meus tijolos imaginários dentro de uma mala e fiz minha primeira viagem de avião. O sonho se tornava realidade, eu andava sobre as nuvens….
Perceberam a diferença? Se eu continuasse com meus tijolinhos imaginários que construiriam uma escada para caminhar sobre as nuvens, eu, talvez, jamais sentisse o céu. Eu continuaria empurrando minha pedra de gelo pelas ruas da minha vida. Estaria me esforçando, sim, para alcançar um sonho, contudo, seria um esforço inútil.
Ratifico que “Sonhos são reais necessidades”, como poetizou Fernando Pessoa
Dever de Sonhar
Eu tenho uma espécie de dever, dever de sonhar, de sonhar sempre,
pois sendo mais do que um espetáculo de mim mesmo,
eu tenho que ter o melhor espetáculo que posso.
E, assim, me construo a ouro e sedas, em salas
supostas, invento palco, cenário para viver o meu sonho
entre luzes brandas e músicas invisíveis.
Defendo que os sonhos transformam nossa existência. Acredito que funcionem como água vivificadora que umedece essa sociedade inospitamente em processo de petrificação. Assim, sonhar embebe as durezas e o calor da vida permitindo com que, em meio às pedras do cotidiano, nasçam as rosas, como a rosa no asfalto de Carlos Drummond de Andrade
A Flor e a Náusea
“…Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.
Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.
Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio”.
Finalizo aludindo Fernando Pessoa que sentenciou “Navegar é preciso. Viver não é preciso”. Acrescento que “Sonhar é preciso e inevitável”.