Acadêmicas do curso de psicologia promovem roda de conversa sobre pressão estética e Transtornos Alimentares

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Na última terça-feira (29) as acadêmicas de Psicologia Camila Melo e Mariana Aires, promoveram a roda de conversa “Entre a Forma e o Fardo” como parte das atividades da disciplina de Práticas Interprofissionais de Educação em Saúde. Os participantes compartilharam reflexões e narrativas acerca de pressões estéticas, contando com as participações das professoras e psicólogas Isaura Rossatto e Ruth Cabral, que contribuíram com a discussão levantando conceitos de saúde, pressão estética e gordofobia.

“Dado ao momento em que vivemos, e a busca demasiada por padrões de belezas inalcançáveis, é preciso desnudar e questionar essas práticas, para possíveis tensionamentos e mudanças de paradigmas, partindo da discussão sobre padrões inalcançáveis.” fala pontuada pela professora Isaura, o que reverberou a reflexão de que ao colocar essa prática como inalcançável ela serve a um propósito hegemônico de perpetuação de desigualdade e manutenção do status quo dominante, que criam um ideal imaginário do qual é a base de um sistema capitalista que cria e vende o corpos magros como sendo a resposta para as infelicidades e sofrimentos. Para as psicólogas, falar sobre questões estéticas é também pensar questões socioeconômicas, de gênero, sexualidade e raça e em como esse fenômeno recai sobre cada corpo.

Foi levantado o debate de que “Para a Organização Mundial da Saúde (OMS) a definição  de saúde é “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença”.“ As pessoas insistem em estigmatizar o corpo gordo e defini-lo como doente, levando como premissas os padrões estéticos, sem considerar em profundidade a análise do que se significa saúde”, prática essa, como frisou a professora Ruth Cabral que “recai de forma violenta sobre pessoas gordas, pois impossibilita que as mesmas tenham acesso a espaços básicos por falta de estruturas que a comportem, e também na falta de garantia de direitos, como acesso à saúde pois resumem este corpo a uma única demanda, e a inúmeras violências e negligências”. Seguido pela fala da professora Isaura sobre a necessidade de distinguir gordofobia e opressão estética, pois o primeiro recai sobre todos, porém o outro é o retrato de violência, perda de direitos e acesso de alguns corpos.

Fonte: Exposição – Opressões estéticas

 

Foram abordados os múltiplos abandonos, ou condicionamentos que pessoas gordas sofrem no ramo dos afetos, sendo o último a ser escolhido como figura de amor, pela carência de representação estética, que coloca o corpo gordo como não desejável. Refém de discursos de cunho individualista que afirmam que basta querer para alcançar o desejável corpo padrão, vendidos por ilusões capitalistas. O que reforça a necessidade de deslegitimar esses preconceitos tanto na prática quanto nos discursos que naturalizam e perpetuam violência, e assim com informação e quebra de padrões buscar alcançar uma realidade mais leve e sustentável que não oprima corpos.

Na foto: as acadêmicas Camila Melo e Mariana Aires, do curso de psicologia, da Ulbra-Palmas.
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The 90’s are back! a influência midiática e a perpetuação da pressão estética

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O ressurgimento dos “anos 2000” e o impacto biopsicossocial da obsessão pelo emagrecimento.

Nos últimos anos, os padrões de beleza têm se mostrado quase impossíveis de acompanhar devido à sua constante evolução, que ocorre quase na mesma velocidade que as mudanças nas coleções de moda rápida. Este fenômeno reflete uma era onde a estética é transitória e altamente influenciada por ícones da cultura pop, como a família Kardashian-Jenner. Desde meados dos anos 2010, as mulheres deste clã estabeleceram um novo padrão estético com corpos voluptuosos e lábios carnudos, que não apenas mantiveram a atenção do público sobre elas, mas também contribuíram significativamente para a construção de seus impérios comerciais (Smith, 2017).

Um exemplo notável é a Kylie Cosmetics, lançada por Kylie Jenner em 2015. Em dois anos, a empresa foi avaliada pela Forbes em US$ 800 milhões, ilustrando o poderoso impacto de sua influência estética (Forbes, 2017). A própria Kylie, desde os 15 anos, popularizou os lábios preenchidos, influenciando uma geração inteira. A Sociedade Americana de Cirurgiões Plásticos (2016) relatou que os procedimentos de preenchimento labial saltaram de 1,8 milhão em 2010 para 2,6 milhões em 2016, destacando a ascensão dessa tendência estética.

Recentemente, no entanto, observou-se uma guinada das irmãs Kardashian-Jenner em direção a um físico mais esguio, alinhado com a reemergente estética dos anos 2000 e o aumento do uso de medicamentos para emagrecer, como o Ozempic. Este retorno ao padrão de magreza extrema, ou “size zero”, levantou preocupações entre especialistas em saúde e moda (Johnson, 2020).

As interações complexas entre os ideais de beleza disseminados pelas plataformas de mídias sociais e o contexto do gênero feminino resultam em um aumento substancial nas taxas de insegurança e no surgimento de transtornos associados a essa dinâmica. A proliferação de imagens e representações de padrões estéticos irrealistas e estereotipados, amplamente difundidos nas mídias, exerce uma influência considerável sobre a autoimagem e a autoestima das mulheres, impactando negativamente seu bem-estar psicológico e emocional (Lira, 2017).

                Fonte: Miu Miu Fashion Show por Victor Boyko/ Getty Images

A magreza extrema dos anos 2000 foi marcada como um período de tendência no mundo da moda. E está de volta nas passarelas e nas telas.

A preocupação dos especialistas não é infundada. No TikTok, a hashtag Y2K já acumulou mais de 18 bilhões de visualizações, demonstrando a popularidade preocupante deste retorno à magreza (TikTok, 2020). Segundo a psicóloga Vanessa Tomasini, especialista em transtornos alimentares, esse padrão sempre se situa no que é inatingível para a maioria, movimentando uma grande indústria que explora a busca pelo corpo magro e pela juventude eterna (Tomasini, 2021).

Os riscos associados a esse padrão são numerosos e incluem transtornos alimentares graves como anorexia e bulimia, além de problemas físicos decorrentes de dietas extremas e uso de medicamentos sem supervisão médica, como perda de massa muscular, alterações hormonais e desidratação (Bello, 2019). Além disso, essas práticas podem agravar problemas de saúde mental, como baixa autoestima e isolamento social, especialmente em jovens que se veem bombardeados por essas imagens nas redes sociais (Costa et al., 2019).

A mídia, por meio de seus instrumentos de marketing, transforma o corpo em um produto, promovendo um padrão de “corpo perfeito” associado a sucesso, prazer e realização pessoal, evidenciando o poder da mídia como influenciador da percepção corporal (Vargas, 2014; Silva, 2014). As consequências dessas influências podem ser duradouras e devastadoras, como demonstrado pelos estudos sobre o Transtorno Dismórfico Corporal (TDC), onde indivíduos desenvolvem uma obsessão por defeitos percebidos em sua aparência, muitas vezes resultando em comportamentos compulsivos e tratamentos estéticos repetitivos (DSM-5, 2014).

Portanto, é vital que continuemos a promover um entendimento mais saudável e inclusivo dos padrões de beleza, considerando a diversidade corporal e a saúde mental, como maneiras de mitigar os danos causados por essas percepções distorcidas que ainda dominam nossa cultura de consumo. As reflexões propostas por Tomasini e outros especialistas são cruciais para o desenvolvimento de uma sociedade mais consciente e menos focada em ideais inatingíveis de beleza (Tomasini, 2021; Costa et al., 2019).

 

Referências

LIU, B. A estética das Kardashian-Jenner e a busca do ‘corpo trend’: como essa equação afeta as mulheres? Disponível em :< https://revistamarieclaire.globo.com/comportamento/noticia/2024/04/a-estetica-das-kardashian-jenner-e-a-busca-do-corpo-trend-como-essa-equacao-afeta-as-mulheres.ghtml >. Acesso em: 1, mai, 2024.

MUNIZ, C. Magreza anos 2000: os perigos da retomada do padrão de moda. Disponível em: > https://gshow.globo.com/moda-e-beleza/noticia/magreza-anos-2000-os-perigos-da-retomada-do-padrao-de-moda.ghtml >

SANTOS DE OLIVEIRA BASTOS, A. P.; ALVES BENEVIDES, A. L.; FERREIRA DA SILVA, M.; URZÊDO RIBEIRO, L. A influência das mídias sociais no Transtorno Dismórfico Corporal: Uma doença da era digital?. Revista Científica do Tocantins, [S. l.], v. 2, n. 1, p. 1–18, 2022. Disponível em: https://itpacporto.emnuvens.com.br/revista/article/view/48. Acesso em: 1 maio. 2024.

PAULINO, N. L.  Impactos Psicológicos Nas Mulheres Frente Aos Ideais De Beleza Determinados Nas Mídias Sociais. Trabalho de Conclusão do Curso de Psicologia  – Faculdade Fasipe Cuiabá.  Cuiabá, 2023.

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Barbie: uma jornada pelo padrão de beleza, feminismo e a diversidade

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“Eu… eu… nem eu mesmo sei, nesse momento… eu… enfim, sei quem eu era, quando me levantei hoje de manhã, mas acho que já me transformei várias vezes desde então”— Lewis Carroll, no livro Alice no País das Maravilhas.

Ana Paula Abreu Dos Anjos – anapaulaabreu@rede.ulbra.br

Bárbara Millicent Roberts, mundialmente conhecida como Barbie, a boneca criada pela co-fundadora da empresa norte americana Mattel, Ruth Handler, veio ao mundo como a representação de uma jovem modelo fashionista, alcançando o posto de boneca mais vendida do mundo, Ruth, teve sua inspiração ao observar sua filha Bárbara brincar, já na adolescência, com bonecas, demonstrando mais interesse por suas bonecas de papel, que tinha a estrutura similar a de uma mulher adulta, além de uma variedade de roupas para trocar, uma vez que naquela época as bonecas produzidas nos EUA representavam bebês, e durante uma viagem em família à Europa, Ruth presenteou sua filha com a boneca Lilli, a personagem criada pelo autor Reinhard Beuthien para o jornal alemão Bild, que devido ao seu sucesso virou boneca em 1955, visualizando assim a criação da Barbie.

Oficialmente lançada durante a Feira Anual de Brinquedos de Nova Iorque, no dia 9 de março de 1959, a boneca que possuía trinta centímetros de altura, uma cintura acentuada, em um corpo de proporções sem muitas curvas, usando um maiô listrado em preto e branco, com salto alto e maquiagem, em pouco tempo a Barbie foi transformada em uma personagem glamorosa, com uma vida perfeita, e ainda que as primeiras Barbies tivessem opções disponíveis com cabelos castanhos, a boneca de longos cabelos loiros e medidas corporais impossíveis, se estabeleceu no imaginário popular, o que contribuiu na construção de um inalcançável padrão de beleza, as imagens publicitárias da Barbie estavam intrinsecamente associada a juventude, moda e beleza, em um perfeito mundo cor de rosa.

Fonte:Pixabay 

Ao longo de sua jornada, Barbie deixou de ser apenas um simples brinquedo, se transformando em um modelo que inspirava. No entanto, nem sempre positivamente, um exemplo a ser observado seria as denominadas “Barbies humanas”, pessoas que buscam por meio de inúmeras cirurgias plásticas, procedimentos estéticos e dietas mirabolantes, transfigurando o corpo de forma obsessiva, com o objetivo de ser uma versão da vida real da boneca, o que por vezes se constitui em uma busca incansável por um ideal de perfeição que não existe, ainda que o padrão de beleza seja anterior a criação da Barbie, ela acabou por se um fruto desse meio, além de ferramenta desse mecanismo de idealização.

Para além de questões relacionadas a perpetuação de um padrão hegemônico de beleza, o empoderamento feminino sempre esteve associado a Barbie em seu marketing, com o clássico slogan “you can be anything” (você pode ser tudo que quiser), e inúmeras animações protagonizadas por personagens femininas no papel de heroínas que salvam o dia. Outro fator relevante é, poucos anos após seu lançamento, durante a década de 70 foram disponibilizadas no mercado bonecas Barbies como a representação de inúmeras profissões, como astronauta, médica e professora, já tendo atualmente mais de 200 carreiras, personificando um modelo de independência feminina.

A Barbie pode ser considerada como um fenômeno cultural que “atuou” e acompanhou vários momentos da história. No que concerne ao feminismo, Barbie esteve ao lado de causas feministas, surgiu em um período pós guerra exercendo uma profissão, totalmente o oposto das mulheres daquele período que eram “adestradas” a cuidar do lar. (SILVA, 2014).

No ano de 1980 foi lançada a primeira boneca “Barbie” negra, e ao longo dos anos a diversidade foi crescendo na linha de bonecas, em 2019 e 2020, com a coleção “Barbie Fashionista” foram incluídas na linha bonecas Barbies de pessoas com deficiência, vitiligo e sem cabelo, além de proporções corporais diversificadas, se alinhado a busca por inclusão social, e a conexão por intermédio da representatividade com o consumidor, mudanças como essas podem ser um forte sinal de que atualmente existe um crescente movimento por identificação em andamento na sociedade.

A publicidade não inventa coisas; seu discurso, suas representações estão sempre relacionados com o conhecimento que circula na sociedade. Suas imagens trazem sempre signos, significantes e significados que nos são familiares. A representação é um dos processos sociais por meio dos quais diferenças são construídas ou modificadas. As representações são produzidas com base em características específicas a cada grupo social, e sua materialização vem de fora. Elas têm um papel ativo na produção de categorias sociais, tais como gênero, raça/etnia, classe, sexualidade, geração. (TEIXEIRA, 2009).

O aguardado filme “Barbie” dirigido por Greta Gerwig, com lançamento no Brasil previsto para 20 de Julho de 2023, vem mantendo seu enredo em segredo, porém em sua divulgação através de pôsteres e o teaser do trailer, o que pode ser vislumbrado é uma diversidade de Barbies, interpretadas por diferentes atrizes, trazendo também o personagem Ken (o namorado da Barbie) com a mesma proposta; nas imagens individuais dos personagens, além da diversidade, o que chama a atenção é o humor ácido, ao apresentar cada Barbie como “essa Barbie tem um prêmio Nobel de física”, “essa Barbie é presidente”, as imagens contento os personagens Kens tem frases como, por exemplo, “ele é só o Ken” e “ele é outro Ken”, aparentemente invertendo o papel de esposa troféu, comumente associado às mulheres.

Fonte: Warner Bros/divulgação.

Os pôsteres do filme Barbie (2023) apresentam diversas versões do personagem Barbie.

Bárbara Millicent Roberts, mais conhecida como Barbie, trilhou uma longa jornada, se constituindo em um complexo personagem, com camadas, caminhando entre, o estereótipo de beleza estabelecido pela sociedade, um ícone feminista, a diversidade, inclusão e representatividade, atualmente a personagem parece inclinada a modificar sua imagem, ainda fortemente associada a manutenção de um padrão social de beleza, para algo que abrace, valorize e respeite a diversidade, inspirando seus fãs, e sua pluralidade, a serem o que quiserem ser.

 

 

Referências:

GERBER. Barbie e Ruth: a história da mulher que criou a boneca mais famosa do mundo e fundou a maior empresa de brinquedos do século XX. São Paulo: Ediouro, 2009.

SILVA, Rosângela Barbosa da. Boneca Barbie: apocalíptica ou integrada. Universitas: Arquitetura e Comunicação Social, v. 11, n. 2, p. 39-46, jul./dez. 2014. Disponível em: https://www.publicacoesacademicas.uniceub.br/arqcom/article/view/2779. Acesso em: 13 de Abr. 2023.

TEIXEIRA, Níncia Cecília Ribas Borges. Discurso publicitário e a pedagogia do gênero:

representações do feminino. Comunicação, Mídia e Consumo, São Paulo, v. 6, n. 17, p.37-

48, nov. 2009.

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Padrão de beleza e a volta da moda dos anos 2000

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A ideia de padrão de beleza se encontra associada a um aglomerado de regras e características de como a aparência de uma pessoa pode ou não ser. Com um forte papel da mídia, o que deve ser considerado bonito é ditado e a pressão por se moldar nesse ideal de beleza pode ser um fator desencadeante de sofrimento psicológico, e estar conectado a padrões comportamentais que impactam negativamente a saúde.  

O padrão de beleza é estabelecido pela sociedade, mas principalmente pela classe hegemônica. Na era renascentista por exemplo, o ideal para a beleza feminina, era algo mais voluptuoso, as curvas avantajadas nos seios, quadris, pernas e barriga, isso pode ser observado nas retratações artísticas de figuras femininas da época. E essa era a norma para a época, pois não haviam meios de conservação de alimentos, assim quem tinha acesso a comida o ano inteiro eram as classes com maior poder aquisitivo. Vendo sob essa ótica, o que era considerado bonito, estava diretamente associado ao dinheiro (CARRETEIRO, 2005).

Atualmente a beleza ainda pode ser conectada ao dinheiro, sem curvas em excesso, corpos malhados, magros, a pele perfeita e bronzeada, e isso informa para o mundo que você tem tempo livre para ir a academia, ou a praia, dinheiro para ir a um dermatologista e esteticista, no final das contas o mundo não está tão diferente. 

Ainda que nos últimos anos a busca por uma beleza mais cheia de curvas, influenciada pelas Kardashians, influencers que tem ocupado a média nos últimos 10 anos, esse padrão curvilíneo era, no fim das contas, essencialmente magro. No entanto, nos últimos meses as irmãs Kardashians, também estão se adaptando ao novo padrão, realizando a reversão de suas cirurgias, em recentes aparições públicas, apresentaram um físico mais magro. Tal transformação se configura como um sinal da modificação do padrão de beleza, voltando a ideia de magreza experienciada nos anos 2000. 

Nos últimos 2 anos a moda dos anos 2000 voltou, a estética com cores vibrantes, brilho, correntes, bordados e a cintura baixa, pode ser vista com cada vez mais frequência, entretanto uma outra coisa retornou, a glamourização da extrema magreza. Essa época foi delimitada pelo aumento das mídias sociais, sendo assim, o padrão do que era considerado belo, se propagou de modo ainda mais intenso, a estética da magreza extrema como acessório, e relacionado a isso, a romantização de transtornos alimentares.

Com isso podemos observar que, a medida que mais pessoas se encaixam no padrão, ele tem tendência a mudar, assim novos problemas são criados, e as soluções “mágicas” são vendidas, e essa engrenagem se movimenta para o controle desses corpos, a indústria da magreza  promove o consumo de produtos e serviços que prometem a aparência perfeita por um custo adicional, priorizando o dinheiro, e desconsiderando os danos à saúde.

Fonte: encurtador.com.br/sAMP0

 

A indústria cultural ensina às mulheres que cuidar do binômio saúde-beleza é o caminho seguro para a felicidade individual.  […] O tal corpo adorado é um corpo de ‘classe’. Ele pertence a quem possui capital para frequentar determinadas academias, tem personal trainer, investe no body fitness, esse corpo é trabalhado e valorizado até adquirir as condições ideais de competitividade que lhe garanta assento na lógica capitalista. Quem não o modela, está fora, é excluído. (PRIORE, 2009, p.92)

Podemos facilmente idealizar épocas que não vivenciamos, a herança estética pode aparentar ser mais cativante do que a verdade sociocultural da época, com padrões de comportamentos nocivos para a saúde, que perpetuavam a busca incansável pela magreza, e criticava massivamente qualquer pessoa que não se encaixasse minimamente nesse padrão.

A magreza foi constantemente reforçada pelas mídias sociais, com a televisão desempenhando um papel fundamental para que esse padrão fosse estabelecido na maior parte do mundo, sendo assim, se deu início à procura pelo corpo ditado como o ideal (HESS, 2017).    

Nos dias atuais as pessoas ainda sofrem essa pressão estética, com corpos delimitados por dietas rigorosas e restritivas, e diversas vezes por cirurgia, sendo constantemente exposto nas redes sociais com filtros e edições, como naturais, aumentando a busca por um padrão de beleza cada vez mais inalcançável. 

É dócil um corpo que pode ser submetido, que pode ser utilizado, que pode ser transformado e aperfeiçoado. […] Nesses esquemas de docilidade, em que o século XVIII teve tanto interesse, o que há de tão novo? Não é a primeira vez, certamente, que o corpo é objeto de investimentos tão imperiosos e urgentes; em qualquer sociedade, o corpo está preso no interior de poderes muito apertados, que lhe impõem limitações, proibições ou obrigações. (FOUCAULT, 1986, p. 126).  

A ditadura da magreza se fortalece ainda mais na sociedade atual, relacionando-se a um sinônimo de beleza e status social, por intermédio da mídia, o corpo magro é vendido como atributo de saúde e felicidade, algo a ser almejado e alcançado não importa os custos. Já vivenciamos esse contexto antes na história, alguns anos depois, a volta da moda dos anos 2000, que valorizava um físico super magro, se encontra novamente em alta, porém esse momento nostálgico pode trazer de volta outras questões que vão além da cintura baixa. 

REFERÊNCIAS

CARRETEIRO, Teresa Cristina. Corpo e contemporaneidade. Belo Horizonte: Psicologia em Revista, v. 11, n. 17, p. 62-76, jun. 2005. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-11682005000100005. Acesso em: 03 de out. 2022.

FOUCAULT, M. Vigiar e punir, histeria da violência nas prisões. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 1986. 

HESS, F. A história da moda plus size e a evolução dos padrões de beleza. 2017. Disponível em: http://www.sindicatodaindustria.com.br/noticias/2017/08/72,115466/a-historia-da-moda-plus-size-e-a-evolucao-dos-padroes-de-beleza.html. Acesso em: 04 de out. 2022.

PRIORE, Mary Del. Corpo a corpo com a mulher: pequena história das transformações do corpo feminino no Brasil. 2° edição São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2009.

Novo padrão, opressão antiga: o que o novo corpo de Kim Kardashian nos mostra, Valkirias, 2022. Disponível em: https://valkirias.com.br/novo-padrao-opressao-antiga/. Acesso em: 21 de out. 2022.

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Ideal de corpo a partir de assimilação/aprendizagem pela mídia

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Cai as fronteiras entre os famosos e seus seguidores. Os próprios jovens e adultos jovens – ou qualquer outro indivíduo comum –, hoje, se veem impelidos a aspirar à fama

A excessiva preocupação com o corpo, sobretudo no que se refere a um ideal de corpo para homens jovens, não é algo que tenha eclodido do século XX para o XXI e, logo, não se trata de uma invenção contemporânea e/ou disciplinar ao estilo foucaltiano, mas, antes, um modo de encarar a masculinidade que remete desde a Grécia Clássica (GOLDIHILL, 2007). Ainda assim, é inegável o papel que as modernas tecnologias de informação (através das mais variadas plataformas e mídias) exercem para que o corpo, na contemporaneidade, ocupe o lugar central na constituição de um modelo de bem-estar subjetivo (LIPOVETSKY, 2007) calcado em discursos tecnocientíficos e mercadológicos que chancelam o autocuidado como uma das instâncias inalienáveis deste período histórico (BAUMAN, 2008).

Neste contexto, os jovens contemporâneos superam o ideal de sucesso e felicidade não com a perspectiva de acréscimo de bens materiais e conquistas de longo e médio prazos, algo que pautava a Modernidade Sólida – numa referência que Bauman (2008) faz a busca por segurança que marcou os séculos XIX e XX – mas, antes, ao encontrarem no corpo a última fronteira para um dos mais disputados territórios pós-modernos, o uso dos prazeres (LOCKE, 1997). E esta dinâmica, em parte pode ocorrer por um processo de assimilação e/ou aprendizagem oriunda da mídia (DEBORD, 1997).

Fonte: encurtador.com.br/cuE04

Ora, se o Renascimento e, mais à frente o Iluminismo, é uma ruptura com aproximadamente mil anos de desprezo pelo corpo, num extremo que Nietzsche (2005) identifica como o niilismo e a moral asceta cristã, por outro lado, num desdobramento sem precedentes, o momento atual é de uma afirmação da imanência onde a dialética da positividade – num cenário onde se é proibido proibir – (HAN, 2015) aponta para o corpo como uma das últimas fronteiras de autorrealização – num cenário de defesa da saúde e educação pelo corpo –, já que a felicidade como algo a ser alcançada pelo corpo coletivo, pela sociedade como um todo, parece ser uma utopia que foi enterrada desde a queda do Muro de Berlin (PONDÉ, 2014).

Vale ressaltar que ainda nas décadas de 70 e 80 do século XX (FOUCAULT, 1999) observou-se que as tentativas de padronização e, depois, realce dos corpos configuraram-se, na verdade, como uma espécie de docilização, que nada mais é que uma tentativa de a sociedade exercer poder sobre os corpos individuais dos sujeitos, seja para docilizá-los, no sentido de discipliná-los a um conjunto de regras, seja para que estes alcancem o máximo de eficácia dentro do sistema liberal de produção.

Fonte: encurtador.com.br/beuwz

A configuração destas relações de forças ocorre de maneira sistêmica, onde ainda não se pode dizer que as diretrizes sobre um ideal de corpo saem exclusivamente desta ou daquela instituição de caráter hegemônico. Antes, é fruto de acordos que envolvem vários dispositivos. Não se pode negar que entre estes dispositivos se destacam os produtos midiáticos de teor pegagógico – aqui apontados como filmes, programas de TV, novelas, jornais, telejornais, webjornais, propagandas, tutoriais em redes sociais eletrônicas, etc –, que apresentam modelos identitários que, de longe, mostram um sujeito para além de um ‘homem de massa’ (EHRENBERG, 2010), agora revestido de uma performance aparentemente individual – só aparentemente, pois a performatividade deixa de ser original quando o que a move, ou seja, o desejo de realização pessoal pela espetacularização da própria vida (DEBORD, 1997) não se restringe mais a uma classe artística distante. Qualquer um, pelo disciplinamento adequado em relação ao corpo e, seguidas as formas de interações nas mídias sociais eletrônicas, estaria apto a alcançar tal patamar. Surge a era do protagonismo. Neste caso em particular, é de se chamar a atenção a quantidade de personais trainers, por exemplo, que têm perfis em redes sociais online de compartilhamento de fotos e vídeos entre seus usuários, e que exercem discursos de autoridade diante de uma plateia virtual que replica tais categorias para suas relações cotidianas, notadamente no que se refere a construção de um ideal de corpo.

Neste ínterim, para Dornelas; França (2014) a ostentação se generaliza entre os jovens de todas as camadas sociais. Um marco foram os chamados “rolezinhos” ocorridos em São Paulo-SP em 2013, quando muitos jovens de periferia – negros, em sua maioria – ocuparam alguns dos maiores shoppings da capital paulista para fazer uma celebração ao consumo. Isso ocorre porque parte da música consumida por estes jovens – o funk, sobretudo – não mais faz referência exclusiva a atos de resistência e denúncias sociais. Os modos de inserção, de aceitação pelo outro agora são atravessados pela esfera do consumo. Mesmo que não ocorra o ato em si do consumo, estar num templo do consumo, entre amigos, já cria a esfera de pertencimento. Desta forma, na esteira das tentativas de se fazerem reconhecidos e levando-se em conta que o consumo substitui simbolicamente a cidadania (KEHL, 2012), os jovens não apenas têm que comprar, eles precisam se adornar e tornar públicos estes adereços (DORNELAS; FRANÇA, 2014), seja através de encontros presenciais, seja através da publicização em redes sociais eletrônicas.

Fonte: encurtador.com.br/pqz79

Por trás deste movimento – o que em alguma medida pode configurar, também, parte da motivação da procura por ideais de corpo – é a busca do sucesso como meta. Desta forma, cai as fronteiras entre os famosos e seus seguidores. Os próprios jovens e adultos jovens – ou qualquer outro indivíduo comum –, hoje, se veem impelidos a aspirar à fama, afinal um dos maiores medos da contemporaneidade é a invisibilidade (BAUMAN, 2007). Neste sentido, a ostentação tem sido traço balizador de socialização, configurando como poder de barganha e indicativo de percursos que almejam o sucesso, mesmo que não se possa saber, ao certo, se tal contenda irá se concretizar.

Sobre este tema Baudrillard (1995) sustenta que o consumo pode se configurar como um desejo de ascendência social, já que se configura como uma oportunidade rápida de inclusão. O consumo material ou cultural como compulsão, por esta ótica, funciona como um compensador das deficiências sociais historicamente estabelecidas, possibilitando a aparente ascensão de classe. Ostentar pelo consumo ou afirmação do corpo como instrumento de poder (BIRMAN, 2012), assim, são tentativas de se criar espaços de afirmação e de reconhecimento (PEREIRA, 2013).

Já a pedagogia do corpo (EHRENBERG, 2010), que passa a ser medido, aumentado ou diminuído (no sentido de obter hipertrofia ou perder peso) e tonificado, antes mesmo de ser amplamente disseminado nas redes sociais foi a tônica de ideais corporificados em filmes e, no campo empresarial, saudado como exemplo a ser seguido no que tange aos protocolos de ascese que levam a mudanças rápidas no mercado de trabalho, pois o cuidado com o corpo é um dos exemplos da materialização da hiper-racionalização das práticas sociais (BIRMAN, 2012).

Fonte: encurtador.com.br/mFWY5

É possível mudar o corpo com relativa facilidade, num sistema de autogestão que realça a individualidade e o sentido de protagonismo pessoal, também é possível impingir tais transformações em outras esferas da vida, como no campo afetivo e profissional, e nas relações de comunicação, agora mediadas pelas mídias sociais eletrônicas (BAUMAN, 2008).

Mas, neste ínterim, indaga-se qual o peso dos produtos midiáticos sobre a base subjetiva dos jovens, e se é possível aferir que tais produtos midiáticos impactam na forma como os sujeitos traçam suas estratégias de vida. Para Ehrenberg (2010) e Chauí (2006), estes produtos – notadamente os que estão de acordo com um ideal de bioascese (excesso de autogerenciamento com o próprio corpo, que gera autorreferencialidade subjetiva) se assemelham aos programas de treinamento dos atletas e, por sua vez, podem se configurar como um convite implícito a uma dinâmica performativa por parte do sujeito. As redes sociais eletrônicas, neste contexto, se apresentam como um cenário perfeito de troca do espaço privado pela dimensão da exposição pública, já que o protagonismo não pode ocorrer às escuras, é necessário publicizá-lo. Ainda não se pode aferir com exatidão, no entanto, qual o real impacto dos produtos midiáticos sobre este ideal de corpo, embora se saiba que a mídia produz simulacros (CHAUÍ, 2006) que acabam servindo de fontes balizadoras de padrões comportamentais, em que pese a pouca quantidade de estudos sobre o tema no país.

De qualquer forma, no cenário sociológico (BAUMAN, 2008) e filosófico (DEBORD, 1997) se percebe, através de métodos dedutivos e estudos de casos, que à medida que as sociedades se desenvolvem tecnologicamente elas tendem a comportar – ou até mesmo a estimular – a espetacularização individual das vidas de seus componentes, que se alternam entre ‘atores’ e ‘espectadores’ numa dinâmica que se retroalimenta e se expande a uma velocidade relativamente constante. Desta forma, o corpo como palco de representação de um modo de ser não mais se restringe aos ambientes puramente esportivos. Ele é perseguido nas corporações, nas relações afetivas e, também, nos modelos identitários interpelados pelos produtos midiáticos (EHRENBERG, 2010).

Fonte: encurtador.com.br/bkGLV

O corpo esculpido então passa a ser a explicitação de um ideal de realização do sujeito, ideação esta implícita na dinâmica de forças políticas e nos discursos que permeiam as narrativas midiáticas, particularmente a partir dos heróis retratados nos cinemas, nos protagonistas de programas de TVs e nos tutoriais diversos de redes sociais eletrônicas, onde o discurso de autossuperação ganha a tônica e norteia o paradigma da autorreferencialidade que, em casos extremos, pode levar ao narcisismo patológico (FREIRE COSTA, 2004).

Assim, um corpo esculpido e tonificado pela ascese resultante de atividades físicas regulares, estimuladas pelos produtos midiáticos com teor pedagógico, configura-se então como uma forma de capital pessoal (GOLDENBERG, 2010) – assim como o processo educativo, em si, já se inscreve em tal cenário – que na contemporaneidade pode ser exaltado de diferentes formas, notadamente a partir de uma comunicação não linear, constituída a partir da exaltação de um sujeito individual, que produz e (re)produz a si próprio, sobretudo na forma como se apresenta esteticamente para o mundo.

Fonte: encurtador.com.br/deiwU

Referências

BAUMAN, Z. Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadoria. São Paulo: J. Zahar, 2008.

BIRMAN, J. O sujeito na contemporaneidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012.

CHAUÍ, M. Simulacro e poder. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2006.

DEBORD, G. A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997.

DORNELAS, R.; FRANÇA, V. No Bonde da Ostentação O que os “rolezinhos” estão dizendo sobre os valores e a sociabilidade da juventude brasileira? Revista Eco Pós, v. 17, n. 3, 2014. Disponível em: <https://revistas.ufrj.br/index.php/eco_pos/article/view/1384>. Acesso em: 02 dez. 2017.

EHRENBERG, A. O culto da performance: da aventura empreendedora à depressão nervosa. Aparecida, SP: Ideias & Letras, 2010.

FOULCAULT, M. A ordem do discurso. 5. ed. São Paulo: Loyola, 1999.

FREIRE COSTA, J. O vestígio e a aura: corpo e consumismo na moral do espetáculo. Rio de Janeiro: Garamond, 2004.

GOLDENBERG, M. O corpo como capital. Rio de Janeiro: Estação das Letras, 2010.

GOLDHILL, S. Amor, sexo & tragédia: como os gregos e romanos influenciam nossas vidas até hoje. Rio de Janeiro: Zahar, 2007.

HAN, B. C. Sociedade do Cansaço. São Paulo: Vozes, 2015.

KEHL, M. R. A juventude como sintoma da cultura. 2012. Disponível em: <https://pt.scribd.com/doc/166494178/A-Juventude-Como-Sintoma-Da-Cultura>. Acesso em: 01 dez. 2017.

LIPOVESTKY, G. A felicidade paradoxal: ensaio sobre a sociedade de hiperconsumo. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

LOCKE, D. Ensaio acerca do entendimento humano. São Paulo: Nova Cultural, 1997. (Coleção Os Pensadores).

PEREIRA, A. B. Rolezinhos: o que esses jovens estão roubando da classe média do Brasil? [25 dez. 2013]. Portal Geledés. Entrevista concedida a Eliane Brum. Disponível em: <www.geledes.org.br/em-debate/colunistas/22538-rolezinhos-o-que-estes-jovens-estao-roubando-da-classe-media-brasileira-poreliane-brum>. Acesso em: 28 jan. 2014.

PONDÉ, L. F. A era do ressentimento. São Paulo: Leya Brasil, 2014.

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Cirurgia plástica: culto ao corpo contemporâneo

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O indivíduo por sua aparência, instaura uma nova moralidade, a da “boa forma”, referindo-se à juventude, beleza e saúde e, consequentemente, acentua a representação do eu como meio de expressão

De acordo com o Conselho Federal de Medicina, a cirurgia plástica pode ser definida como uma especialidade médica, reconhecida pelo mesmo e pela Associação Médica Brasileira, requerendo pré-requisitos e conhecimentos técnicos e científicos adquiridos na graduação e/ou pós-graduação (residência e/ou especialização), visando tratar doenças e deformidades anatômicas, congênitas, adquiridas, traumáticas, degenerativas e oncológicas, suas consequências, promovendo também uma melhor qualidade de vida do indivíduo.

Fonte: encurtador.com.br/muCNQ

História do corpo

Desde antigamente até os dias atuais o corpo sempre foi enfoque de debates. Até o advento da Modernidade, ainda sob forte influência da igreja, o culto ao corpo era desencorajado e a alma era superior ao corpo. De acordo com Rosário (2006), o homem medieval era bastante contido, já que a instituição religiosa tolhia manifestações criativas. Não é segredo que o Cristianismo dominou durante a Idade Média, influenciando comportamentos, assim como traquejos corporais da época. Tal cenário resultou em uma maior rigidez dos valores morais em relação ao corpo, sendo traçada a preocupação em separar corpo e alma, sobrepujando a potência da segunda sobre a primeira.

O corpo tornou-se objeto do capitalismo a partir do século XX, onde ganhou um papel de maior importância e passou a ser cultuado. O chamado culto ao corpo, longe de servir como guia claro de orientação para os comportamentos de indivíduos ou grupos, gera um paradoxo na cultura de classe média.

O indivíduo por sua aparência, instaura uma nova moralidade, a da “boa forma”, referindo-se à juventude, beleza e saúde e, consequentemente, acentua a representação do eu como meio de expressão facilmente compreendido em “um contexto social e histórico particularmente instável e mutante, no qual os meios tradicionais de produção de identidade como a família, religião, política, trabalho encontra-se diminuídos” (ECO, 2004).

Fonte: encurtador.com.br/yGPUW

Todos os seres humanos são iguais do ponto de vista biológico. As inúmeras variações – de cor, de estrutura, de traços, de textura dos cabelos – que diferenciam os povos e os indivíduos não alteram as características básicas da espécie homo sapiens (KURY; HARGREAVES, 2000). Com o advento de novas tecnologias, em especial da mídia aliada a marketing de produtos e procedimentos que exaltam o corpo, começou-se a supervalorização do mesmo, que levou e ainda leva as pessoas a buscarem o inalcançável corpo perfeito. 

A influência da mídia

A mídia sem dúvidas é um fator de importante ou talvez principal influência que leva vários jovens a passarem por procedimentos estéticos cirúrgicos. A sociedade atual cultua o corpo e muitas vezes o coloca como superior à alma, o que é totalmente o oposto da visão de corpo do século XVII. A mídia definiu como corpo perfeito aquele que seja magro e curvilíneo.

A todo o momento pode-se ver lindas mulheres e lindos homens, incluindo diversos famosos nas capas de revistas, exibindo seus corpos perfeitos. No entanto, o público, muitas vezes, esquece que essas fotos passam por vários aperfeiçoamentos de imagens computadorizadas. Acabam por rotular o corpo ideal, e quem não segue não está dentro dos padrões, sendo assim, são influenciados a buscar obsessivamente um corpo ideal e perfeito que muitas vezes não existe.

As propagandas mostram homens e mulheres cada vez mais magros, as lojas de roupas estão com os manequins cada vez menores, e o acesso em clínicas de estética está cada vez mais ao alcance das pessoas. “Os números de cirurgias plásticas aumentam e possibilitam conquistar o padrão de beleza imposto pela sociedade.” (AZEVEDO, 2007).

Fonte: encurtador.com.br/ouBDJ

O padrão de beleza mostrado pela mídia tem levado milhares de jovens em busca da conformidade imposta pela sociedade. Os critérios de valoração foram deslocados para exterioridade, fazendo com que a geração de jovens atual seja cada vez mais narcisista, fazendo do corpo e das sensações produzidas por estes como elementos centrais da vida pública de cada um. O resultado é uma maior necessidade da aceitação da sociedade, que leva os jovens a recorrerem malhações exageradas, dietas rigorosas, e principalmente, procedimentos estéticos cirúrgicos.

De acordo com a psicanalista Esther Woiler, “A depressão é feia”, e resume a autoimagem como “uma construção de base emocional. O modo como você está se percebendo emocionalmente pode distorcer a sua imagem corporal”. E o fato de que muitas pessoas, atualmente, estarem insatisfeitas com os seus corpos é uma demonstração de que a estratégia da indústria da beleza funcionou.

Cirurgias plásticas mais procuradas por jovens, sendo eles homens e mulheres

De acordo com o Conselho Federal de Cirurgia Plástica, a cirurgia plástica estética mais procurada por mulheres é a Cirurgia de mama, seja ela de redução ou inserção de silicone. Em segundo vem a Lipoaspiração, procedimento este que é realizado através da retirada de gordura corporal de áreas localizadas, e em terceiro temos a Rinoplastia, cirurgia corretora do nariz.

Fonte: encurtador.com.br/qATY1

Antes cirurgias plásticas eram mais realizadas em mulheres devido o preconceito enraizado em nossa sociedade e que até hoje é presente, no entanto, mais ameno. Atualmente muitos homens não são satisfeitos com seus corpos, desta maneira quebram paradigmas, pois o número de procura por procedimentos estéticos tem crescido cada vez mais. A Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica afirma que entre 2009 e 2014, a quantidade de procedimentos passou de 72 mil para 276 mil ao ano. A redução das mamas (ginecomastia), a lipoaspiração e a cirurgia de pálpebras lideram o ranking de procedimentos mais realizados entre os homens.

Principais deveres dos médicos em relação ao paciente que procura por um procedimento cirúrgico

É dever do médico fornecer amplas informações quanto ao diagnóstico e prognóstico, manter o sigilo e aplicar as melhores técnicas no procedimento cirúrgico, devendo ainda conversar com o indivíduo sobre as possibilidades de resultado e os possíveis riscos, sendo indispensável o consentimento do paciente para a realização da cirurgia. Os artigos 46, 48 e 53 do capítulo de Direitos Humanos do Código de Ética Médica destaca justamente esse esclarecimento médico, e do seguido consentimento do paciente. É válido lembrar que o procedimento só não vai precisar de consentimento do indivíduo quando for uma situação de emergência, como também diz o artigo 46.

Fonte: encurtador.com.br/bkDFN

E, de acordo com o artigo 57, é vedado ao médico “deixar de utilizar todos os meios disponíveis de diagnóstico e tratamento a seu alcance em favor do paciente.” Depreende-se assim que, cabe ao médico cirurgião comunicar-se de forma clara com o paciente, explicando-lhe o procedimento, os riscos e resultados de acordo com cada caso, procurando as melhores técnicas para a realização da cirurgia, utilizando todo o conhecimento de sua formação, e realizando a mesma com a aprovação do paciente.

Referências:

CFM. Conselho Federal de Medicina lança protocolo em Cirurgia Plástica para dar mais segurança ao ato médico. Acessado em < https://portal.cfm.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=21665:protocolo-em-cirurgia-plastica-&catid=3 > no dia 13/01/2018.

CFM. Normas Informativas e Compartilhadas em Cirurgia Plástica.  Acessado em < https://portal.cfm.org.br/images/cfm_normas.pdf > no dia 13/01/2018.

BARBOSA, M; MATOS, P; COSTA,M. Um olhar sobre o corpo: o corpo ontem e hoje. Acessado em < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-71822011000100004 > no dia 13/01/2018.

ECO, UMBERTO. História da Beleza. São Paulo: Record, 2004. KURY, LORELAI; HARGREAVES, LOURDES; VALENÇA, MÁSLOVA TEIXEIRA. Ritos do Corpo. Rio de Janeiro: Senac Nacional, 2000.

Kury, L., Hargreaves, L., & Valença, M. T. (2000). Ritos do corpo. Rio de Janeiro: SENAC Nacional.

ROWE, J; FERREIRA, V; HOCH, V. Influência da mídia e satisfação com a imagem corporal em pessoas que realizaram cirurgia plástica. Acessado em < http://docplayer.com.br/25536311-Influencia-da-midia-e-satisfacao-com-a-imagem-corporal-em-pessoas-que-realizaram-cirurgia-plastica.html > no dia 13/01/2018.

DINIZ, T. Sentir-se belo é regra da beleza sustentável. Acessado em < https://www1.folha.uol.com.br/folha/equilibrio/noticias/ult263u4103.shtml > no dia 13/01/2018.

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