Monopólio Tecnológico e a Modelagem do Comportamento Humano: quem controla nossas escolhas?

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Nos últimos anos, as gigantes da tecnologia, como Meta, Apple e Google, têm enfrentado ondas de críticas e investigações devido ao impacto de suas práticas de mercado sobre os usuários, principalmente no que diz respeito à saúde mental, privacidade e autonomia. O caso mais recente envolve o Google, com o Departamento de Justiça dos EUA propondo que a empresa venda o navegador Chrome para reduzir seu domínio no mercado de buscas e publicidade digital. Esse episódio reforça como as BigTechs vem usando de artifícios como algoritmos, publicidade direcionada e design persuasivo para influenciar o comportamento humano, levantando questões éticas e regulatórias sobre quem, de fato, controla nossas escolhas. [1-3]

Fonte: Freepik

Os algoritmos são os pilares desse novo ecossistema tecnológico. No caso de empresas como o Google, os algoritmos são a base da abordagem de personalização de serviços. Cada consulta, vídeo assistido e anúncio clicado é processado por modelos matemáticos, refinando a capacidade corporativa de prever e até influenciar as ações dos usuários.

No entanto, essa personalização tem seu preço.  Ao moldar a experiência do usuário com base em padrões de comportamento passados, os algoritmos normalmente criam “bolhas de filtro”, que limitam visões alternativas, condicionando o internauta a se saturar daquilo que ele já consumiu. De fato, como Eli Pariser, autor de The Filter Bubble, detalhou, essas práticas podem amplificar vieses existentes ao isolar os usuários nessas realidades digitais altamente curadas.  O caso contra o Google reflete justamente uma tentativa de mitigar os impactos nocivos desse controle algorítmico sobre a tomada de decisões dos usuários. [6]

Fonte: Beware online “filter bubbles” de Eli Pariser.

A publicidade direcionada – estratégia dentro do marketing digital – é uma das áreas mais lucrativas para empresas como o Google. Ao utilizar massivas quantidades de dados pessoais coletados dos usuários, as BigTechs podem entregar anúncios altamente detalhados e personalizados, aumentando significativamente as taxas de conversão. Segundo um relatório da Statista, o Google é atualmente líder global em publicidade digital, ocupando cerca de 28,8% da participação total no mercado.[5]

Fonte: iStock

Em outra análise, essa prática  molda escolhas e comportamentos de consumo de maneira tão sutil que o usuário nem sente a influência. As preocupações sobre privacidade e manipulação nunca foram tão reais. Não é exagero dizer que, até certo ponto, o poder que o Chrome detém, juntamente com a integração que ele possui com outros produtos do Google, como Gmail e YouTube, realmente intensifica todos esses riscos, justificando os apelos por ações antitruste.

Outra estratégia importante de influência comportamental é o design persuasivo, o design de interfaces atraentes e altamente intuitivas para engajar os usuários por meio de princípios psicológicos voltados para ações específicas, como clicar em um anúncio ou permanecer mais tempo em plataformas. Por exemplo, o Chrome está repleto de serviços do Google que incentivam o uso do ecossistema da empresa.

Segundo Tristan Harris, fundador do Center for Humane Technology, esse tipo de design pode transformar plataformas em “máquinas de manipulação do comportamento humano”. A crítica é que essas técnicas não são aplicadas apenas para “melhorar a experiência do usuário”, como é argumentado a cada atualização de interface. Elas também limitam a autonomia do usuário, direcionando escolhas para beneficiar objetivos comerciais.[7]

Os casos contra o Google sinalizam preocupações globais contra os impactos dos monopólios tecnológicos. Enquanto algumas regulamentações buscam maior transparência nos algoritmos e na coleta de dados, outras, como a recente proposta de separação do Chrome, visam reduzir a concentração de poder. A União Europeia, por exemplo, lidera esforços nessa área, com legislações como o Digital Markets Act (DMA), que restringe práticas anticompetitivas. [4]

O DMA é uma iniciativa regulatória da União Europeia que busca estabelecer regras claras para limitar o poder de mercado de grandes empresas de tecnologia, conhecidas como “gatekeepers“. A partir de 7 de março de 2024, empresas como Alphabet (Google)[8] , Amazon, Apple, ByteDance (TikTok), Meta (Facebook, Instagram e WhatsApp) e Microsoft foi instituido que essas empresas se adequassem às normas, que somam mais de 20 serviços considerados essenciais no ambiente digital.

Fonte: Ivan Marc/Shutterstock

Principais Obrigações do DMA:

  • Proibição de autopreferência: As plataformas estão vedadas de favorecer seus próprios produtos ou serviços em detrimento de concorrentes, buscando assim assegurar maior equilíbrio no mercado.
  • Interoperabilidade: Serviços de mensagens deverão permitir comunicação entre diferentes plataformas, promovendo mais liberdade de escolha para os usuários.
  • Acesso a dados: As plataformas deverão garantir acesso aos dados gerados por suas atividades, beneficiando tanto empresas menores quanto consumidores.
  • Proibição de combinações de dados sem consentimento: Empresas não podem combinar dados obtidos de diferentes serviços sem o consentimento explícito do usuário, protegendo a privacidade.

Em termos de penalidades, o descumprimento das regras pode acarretar multas severas, chegando a 10% do faturamento global da empresa. Em casos de reincidência, essa penalidade pode aumentar para 20%.

O DMA reflete o compromisso da União Europeia em construir mercados digitais mais justos, competitivos e inovadores, restringindo práticas anticompetitivas e dando aos usuários maior controle sobre suas escolhas no ambiente digital. Nos EUA, o movimento é mais fragmentado, mas as investigações do Departamento de Justiça sinalizam um grande passo para garantir maior equilíbrio no mercado. Além disso, especialistas defendem a prioridade da educação digital, onde o usuário será capaz de entender exatamente como está sendo influenciado e assumir o controle sobre suas escolhas.

O Brasil tem feito avanços em suas iniciativas para regulamentar as BigTechs, com o objetivo de prevenir práticas monopolistas e promover uma concorrência mais equilibrada no mercado digital. Em outubro de 2024, o Ministério da Fazenda apresentou um conjunto de 12 medidas legais e infralegais para regular economicamente essas plataformas e fomentar a competição no setor.[9]

Fonte: Beautrium / Shutterstock.com

O caso do Google Chrome é apenas a ponta do iceberg em um debate muito maior sobre como os monopólios tecnológicos estabelecem nossa agenda. Em benefícios, são tecnologias convenientes e personalizadas; no entanto, as implicações éticas não devem ser ignoradas devido à inovação tecnológica. 

É ótimo desfrutar das comodidades oferecidas pelos novos recursos tecnológicos, isso é um fato. Muitas dessas ferramentas são disponibilizadas gratuitamente, e, caso não fossem úteis para nós, consumidores, a adaptação a outros serviços seria apenas uma questão de tempo e esforço. Mas é preciso salientar que o que parece “grátis” tem um custo real – e, nesse caso, os nossos direitos são a moeda de troca.

Fonte: imagem gerada pela IA DALL-E do Chat GPT

Autonomia, privacidade e transparência. Esses e tantos outros direitos fundamentais estão sendo silenciosamente transformados e manipulados em favor do lucro de grandes empresas que já dominam seus setores. Por isso, é preciso ter uma postura crítica diante do que consumimos, dado o modo como nossas decisões estão sendo guiadas por forças quase imperceptíveis. A questão que ainda permanece é: quem realmente está no controle?

Referências

[1]https://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2024/11/21/departamento-de-justica-dos-eua-quer-que-google-venda-o-navegador-chrome.ghtml

[2]https://oglobo.globo.com/economia/tecnologia/noticia/2024/11/21/eua-propoem-separacao-do-google-e-venda-do-chrome-para-corrigir-monopolio-de-buscas.ghtml

[3]https://www.nytimes.com/2024/11/20/technology/google-search-chrome-doj.html?searchResultPosition=1

[4]https://techcrunch.com/2024/03/07/europes-dma-rules-for-big-tech-explained/

[5]https://www.statista.com/statistics/539447/google-global-net-advertising-revenues/

[6]https://www.theverge.com/interface/2019/11/12/20959479/eli-pariser-civic-signals-filter-bubble-q-a

[7]https://www.humanetech.com/youth/persuasive-technology

[8]https://www.cnnbrasil.com.br/economia/mercado/alphabet-dona-do-google-surpreende-ao-somar-receita-de-us-847-bi-no-2o-tri/ 

[9]https://exame.com/economia/fazenda-apresenta-medidas-para-regulacao-economica-e-de-competicao-de-big-techs-no-brasil/?utm_source=chatgpt.com

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Efeito conformidade: A tendência para seguir os outros sem questionar

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Sabe aquele comportamento que acontece em um determinado lugar ou situação e se reproduz como rastilho de pólvora pela maioria das pessoas presentes? Em muitas situações chega até ser visível por outras pessoas a indecisão ou apenas a reprodução de uma fala, um aceno, um gesto de amor ou ódio dispensado à situação ou ao grupo de pessoas. Tal comportamento se afirma na necessidade que muitos sujeitos têm de se sentirem aceitos ou vistos pelo grupo desejado. Esta tendência de comportamento em não se colocar ou simplesmente se colocar do lado da maioria é muito observada no vasto terreno das redes sociais, onde os sujeitos se escondem nas opiniões daqueles que colocam suas falas e posições sobre determinado assunto, concordando com eles! Isso tem nome, chama-se comportamento em conformidade, ou seja, a capacidade de ser conforme, de seguir, de reproduzir. Conformidade significa ato ou efeito de se conformar, de aceitar, de não se opor, de se por de acordo, conformação, concordância.

Fonte: encurtador.com.br/muzE3

Esse tipo de comportamento foi estudado pelo psicólogo polonês Solomon Asch na década de 1950. Sólomon foi pioneiro nos estudos da psicologia social, estudando a influência que as pessoas exercem sobre outras. O psicólogo estudava este comportamento através de experiências que avaliavam a conformidade do indivíduo ao grupo, a capacidade adaptativa ao grupo. Uma de suas principais conclusões foi o simples desejo de pertencer a um ambiente homogêneo faz com que as pessoas abram mão de suas opiniões, convicções e individualidades.

Fonte: encurtador.com.br/ginX1

É interessante pensarmos sobre esse desejo de pertencer ao grupo que leva a comportamentos passivos, onde a persona se oculta manifestando o lado da sombra de forma sutil produzindo assim resultado em conformidade com o ambiente. O indivíduo observa, sente e projeta aspectos da psique através de sua persona, predominando assim um estado de adequação e reprodução de ideias nas diversas situações.

Tal comportamento pode ser estudado quando se trata de assuntos que merecem extrema atenção e posicionamentos que possam interferir diretamente nos resultados. É nesse cenário muitas vezes de incerteza que se verifica o comportamento de conformidade acentuado. Esse espelhamento também conhecido por efeito manada surge da capacidade de pensar que assim fazendo a pessoa não se expõe ou pelo menos não destoa do restante, trazendo-lhe uma “paz momentânea” de “zona de conforto” e zero confrontamento com opiniões que possam ser divergentes da sua, no caso da maioria! Ratifico que não se trata de criticar quem concorda com outra pessoa, mas de enfatizar o comportamento efeito manada ou efeito rebanho, aquele somente reprodutivo que segue em palminhas a atitude do primeiro. Como seres humanos autônomos, dotados de consciência possuímos a plena capacidade interventiva para se manifestar com assertividade.

Fonte: encurtador.com.br/eoJKM

De acordo com Jung, a personalidade é adaptável, ajustando-se a cultura ou a organização e sob certas condições se fragmenta, acomodando-se a conteúdos conscientes ou inconscientes não levando em conta o tempo ou o espaço. Concordo com Jung no que se refere às adaptações sociais de comportamento, porém no caso da conformidade fica evidente que há aspectos na psique que precisariam ser trabalhados a fim de que o sujeito perceba que ter sua própria opinião lhe trará certa liberdade de escolha ampliando assim seu estado de consciência. É nesse espectro de ampliação da consciência que a personalidade se desnuda sendo capaz de comportar-se de maneira autônoma não apenas espelhando-se no que já fora pensado ou proposto. Afinal como dizia o próprio Jung: Sou eu próprio uma questão colocada ao mundo e devo fornecer minha resposta; caso contrário, estarei reduzido à resposta que o mundo me der.”

 

REFERÊNCIAS

https://amenteemaravilhosa.com.br,solomon-asch-psicologia-social/

Efeito manada: o que é, quais os riscos e como evitar? | Genial (genialinvestimentos.com.br)

https:www.likedin.com/pulse/efeito-manada-ser%c3%a1-que-agimos-por-decis-%c3%b5es-pr%c3%b3-prias-john-hrenechen/?originalsubdonmain=pt

JUNG.CG. Fundamentos de psicologia analítica. 10ª ed. v. XVIII/1 Petrópolis: Vozes, 2001.

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A Lista de Schindler: um olhar humanitário

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Os judeus usavam artifícios que iam desde esconder-se nos esgotos, até mesmo na fossapara não ser transportados do gueto aos campos de concentração. 

A Lista de Schindler (1993), dirigido por Steven Spielberg, é um filme de romance protagonizado por Oskar Schindler. O enredo se passa durante a Segunda Guerra Mundial na cidade de Cracóvia, Polônia, então ocupada pelas forças militares alemãs. O filme narra a história real de um empresário alemão que salvou da morte mais de mil e cem judeus, empregando-os em sua fábrica, e, por fim, livrando-os do Holocausto.

Todo o arcabouço ideológico do Nazismo foi construído em período que permeia a Primeira e a Segunda Guerra Mundial. Tal construção se deu através da  utilização de ferramentas de comunicação social, pensada e executada por Joseph Goebbels, então ministro da Propaganda do governo alemão que ocupou também o posto de Chanceler da Alemanha pelo período de um dia: de 30 de abril a 1º de maio de 1945, substituindo Adolf Hitler. Entrou para a história como um revolucionário na comunicação e psicologia de massa pela aplicação de dispositivos psicológicos de manipulação.

Os alemães se tornaram máquinas de matar em nome da pureza, da superioridade e da beleza, muitas vezes apresentando sintomas de perversão e mesmo de loucura. No filme, percebe-se a violência contra os judeus, como se estes fossem os responsáveis pela dicotomia e sofrimento interno ocasionado pela lavagem cerebral sofrida pelo opressor da época, num movimento que elegeu os semitas como os bodes expiatórios daquele momento.

A persuasão empregada contra os judeus revela o abuso psicológico, moral e físico em um primeiro momento, quando as vítimas são obrigadas a superpovoar um bairro recluso, murado. Nota-se claramente a evolução do processo, quando um dos personagens declara “o gueto é liberdade” em uma clara inversão de valores: o que era prisão, se torna espaço de liberdade. A tortura é notável e se instala a partir do momento em que os judeus são enviados para campos de concentração. Ali, eles já  estão apartados da sociedade ampla, de seus familiares, contidos no gueto; ali estão sob o controle direto dos opressores, que exercem sobre eles o direito de vida ou morte.

O clima entre os judeus é de sentimento de medo. Os alemães não economizam nas demonstrações de desprezo, mesmo quando toda a lógica aponta como correta a ação do prisioneiro. É notória essa situação quando a engenheira judaica se manifesta, demonstrando os erros cometidos em uma construção e indicando a ação adequada à resolução do problema e é condenada, sumariamente executada, ainda que fosse de grande necessidade para o desenvolvimento da obra.

As doenças decorrentes da péssima alimentação, das condições nocivas de higiene, da superpopulação nos alojamentos, roupas de agasalho insuficientes nas condições de inverno rigoroso (neve) e o excesso de trabalho favoreciam os surtos de doenças e pragas transmissíveis como o piolho, o que tornava ainda mais torturante a vivência dos judeus no campo de concentração.

Nessa irrealidade ou realidade invertida, a visitação de médicos alemães no dia do “exame de saúde” não tinha por finalidade curar os judeus de possíveis males, e sim retirar os que não tinham mais condições de produzir. Os improdutivos e “imprestáveis” – para a lógica da produção – eram simplesmente eliminados. Nos dias de exames de saúde as tentativas de blindagem contra a tortura eram frágeis. Os judeus usavam artifícios que iam desde esconder-se nos esgotos, até mesmo na fossa – para não ser transportados do gueto aos campos de concentração – a fingir ter piolhos para evitar a proximidade dos alemães. Eram muitas as estratégias com o fim de livrar-se da perseguição e do sofrimento gratuito.

Nesse cenário de horror extremo, sobressai o alemão e filiado ao Partido Nazista, Oskar Schindler. Inicialmente interessado em enriquecer com a guerra, Schindler explora os judeus ricos a fim de reunir capital e comprar uma fábrica de panelas, prometendo pagar os empréstimos em produtos da própria fábrica, pois são bens passíveis de troca, único modo de negociar entre os judeus. Schindler  consegue o capital, compra a fábrica e inicia a produção de panelas, tendo como operários os prisioneiros judeus (em verdade, trabalho escravo), onde sobressai o contador e real gerente da fábrica Itzhak Stern, que  tudo organiza e faz produzir. Com o passar do tempo, Schindler se afeiçoa a “seus trabalhadores”, que dizia serem especializados e, ao término da guerra, consegue salvar mais de 1.100 desses empregados, entre homens, mulheres e crianças. São eles que perfazem A Lista de Schindler.

Oskar Schindler comprova que, apesar da intensa propaganda de pureza racial, de culto ao arianismo, conseguiu manter o sentimento de humanidade acima de todo o horror que presenciou e viveu, mesmo que inicialmente a intenção era tirar proveito do caos para fazer fortuna. E com com toda a crueldade se sensibilizou. Entrou para a história como benfeitor dos judeus na Segunda Guerra Mundial. Ademais, com um olhar humanitário, Oskar Schindler ressignifica e se importava com aquelas pessoas ao ponto de salvá-las, mesmo que isso colocasse a sua própria vida em risco.

FICHA TÉCNICA DO FILME:

A LISTA DE SCHINDLER

Diretor: Steven Spielberg
Elenco: Liam Neeson, Ben Kingsley, Ralph Fiennes;
Gênero :Histórico; Guerra.
País: EUA
Ano:1993

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Técnicas de Persuasão em ‘A Revolução dos Bichos’

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Para a persuasão ser efetiva é necessário prestar atenção à mensagem, compreendê-la, acreditar nela, lembrar-se dela e comportar-se de acordo.

No livro “A revolução dos Bichos”, George Orwell (2000) conta a história da Granja do Solar em que o Sr. Jones era proprietário. Certo dia o porco por nome de Major resolveu fazer uma reunião com todos os bichos da fazenda para contar-lhes o sonho que tivera e dessa forma deixar um ensinamento que por muito tempo imperou na granja, no entanto, nem mesmo os líderes estavam cumprindo o combinado.

Ao ler o livro, percebemos nitidamente a forma como o Major utilizou a persuasão e como os seus argumentos se perpetuaram mesmo depois de sua morte, uma vez que, foi repassada para os outros porcos a missão de persuadir os animais da fazenda e convencê-los de que “Quatro patas bom, duas patas ruim”.

De acordo com Myers (2014, p.28), a Psicologia social

é uma ciência que estuda as influências de nossas situações, com especial atenção a como vemos e afetamos uns aos outros. Mais precisamente, ela é o estudo científico de como as pessoas pensam, influenciam e se relacionam umas com as outras.

Fonte: https://bit.ly/2GxsEWO

Na disciplina de Psicologia Social, estudamos a ciência da persuasão e como ela se materializa no nosso cotidiano. Assim, aprendemos que essa técnica faz parte de um processo no qual a meta é a mudança de comportamento e existem várias formas de se persuadir alguém, basta utilizar as estratégias (MYERS,2014).

Para a persuasão ser efetiva é necessário prestar atenção à mensagem, compreendê-la, acreditar nela, lembrar-se dela e comportar-se de acordo. O Major utilizou muito bem os elementos que a compõem, ou seja, ele foi o comunicador (Um dos integrantes da granja, o mais velho de todos, introduziu um assunto de interesse coletivo) e por ser experiente os outros animais acabaram dando atenção ao que ele tinha para dizer.

Além disso, Major expôs o conteúdo da mensagem utilizando apelos bilaterais. Dessa forma, ele falava a respeito de como eles estavam vivendo e como seria a vida após a revolução. O porco transmitiu a mensagem por meio de um discurso ao vivo expondo o seu descontentamento com o fato de trabalharem muito e terem pouca recompensa por isso, como se fossem explorados pelos humanos.

Fonte: encurtador.com.br/nAJKW

O público a quem ele se direcionou era composto pelos mesmos animais com quem convivia, então a identificação com os ouvintes tornou a persuasão mais fácil para os líderes da granja que os chamavam de camaradas evidenciando maior proximidade.

Mesmo após a morte do Major, Napoleão e Bola- de- neve continuaram na liderança, já que eram mais inteligentes e por saberem ler, deveriam assumir o controle. Dessa forma, podemos perceber que no discorrer na narrativa, houve momentos em que alguns animais começaram a questionar a cessão de benefícios para os porcos, por exemplo: a distribuição do leite e das maças que pouco tempo depois ficaram sob o domínio dos porcos.

Ao analisar o trecho

‘Camaradas’, conclamou Garganta. ‘Não imaginais, suponho, que nós, os porcos, fazemos isso por espírito de egoísmo e privilégio. Muitos de nós até nem gostamos de leite e de maçã. Eu, por exemplo, não gosto. Nosso único objetivo ao ingerir essas coisas é preservar a saúde. O leite e a maçã (está provado pela ciência, camaradas) contêm substâncias absolutamente necessárias à saúde dos porcos. Nós, porcos, somos trabalhadores intelectuais. A organização e a direção desta granja dependem de nós. Dia e noite velamos pelo vosso bem-estar. É por vossa causa que bebemos aquele leite e comemos aquelas maçãs. Sabeis o que sucederia se os porcos falhassem em sua missão? Jones voltaria! Sim, Jones voltaria! Com toda a certeza, camaradas’, gritou Garganta, quase suplicante, dando pulinhos de um lado para o outro e sacudindo o rabicho, ‘com toda a certeza, não há dentre vós quem queira Jones de volta’ (ORWELL,2000, p.38).

Fonte: encurtador.com.br/akT05

Podemos perceber que existem vários elementos persuasivos os quais utilizam algumas das técnicas para uma persuasão eficaz, por exemplo:

– Estratégia de falar contra si próprio para convencer acerca de uma causa: “Eu, por exemplo, não gosto (de maçã)”.

– Uso de argumentos científicos/racionais para persuadir: “Nosso único objetivo é preservar a saúde. O leite e a maçã (está provado pela ciência, camaradas) contêm substâncias(…)”

– Usar terminologias que aproximem o comunicador do público/ouvinte, por exemplo o uso da expressão “Camaradas”.

– Uso da emoção para persuadir, no caso do medo no trecho “Sabeis o que sucederia de os falhassem em sua missão? Jones votaria!”

Também, pode-se perceber que a ideia de escrever bem grande os mandamentos dos animais serviu para lembrar constantemente do compromisso que havia sido feito no início da revolução. Isso alimentava ainda mais a ideia de que realmente a granja sob os comandos do Sr. Jones era muito pior e que sendo eles mesmos os donos dos próprios negócios teriam mais liberdade, menos trabalho e mais comida.

 Com base nesses aspectos, percebe-se que os porcos utilizaram mais a rota central da persuasão, onde havia foco em relação aos argumentos que eram transmitidos com muita firmeza e uma reflexão acerca de como eles estavam vivendo e o quanto a revolução melhoraria a vida dos animais de modo geral.

Fonte: encurtador.com.br/wBV67

Referências

MYERS, D. G. Psicologia Social. Porto Alegre: Artmed, 2014.

MYERS, D. G. Persuasão. Em: MYERS, D. G. Psicologia Social. Porto Alegre: Artmed, 2014.

ORWELL, George. A revolução dos bichos. Fonte Digital: <http://www.jahr.org> 2000.

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#CAOS2018: Técnicas de persuasão e manipulação do jogador em jogos eletrônicos é tema de minicurso

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O minicurso é parte da programação do CAOS 2018 que acontece no Ceulp até o dia 25 de maio

Ocorreu nesta terça-feira, dia 22 de maio de 2018, no Ceulp/Ulbra, o minicurso “Técnicas de persuasão e manipulação do jogador em jogos eletrônicos” ministrado pelo prof. Me. Jackson Gomes de Souza, que faz parte da programação do Congresso Acadêmico de Saberes em Psicologia – CAOS.

Foto: Irenides Teixeira.

No minicurso foi explanado temas como: jogos eletrônicos (videogames); a teoria do fluxo; a teoria do fluxo em videogames e a tecnologia persuasiva em videogames. E por fim, houve uma atividade prática, em grupos, que consistia em fazer o mapeamento de elementos de videogames ao Modelo MSI (Method, Support, Instruments) de persuasão, explicado pelo professor anteriormente, em qualquer jogo de celular dos próprios participantes.

Foto: Irenides Teixeira.
Foto: Irenides Teixeira.
Foto: Irenides Teixeira.

O acadêmico de psicologia, do quinto período, Petros Cardoso afirma que “o minicurso foi importante por demonstrar a teoria de um modo dinâmico e mais acessível para os acadêmicos, independente do período que estes estão; os games foram didáticos; e possibilitou agregar mais conhecimento sobre o conteúdo que está dentro dos jogos”.

Quem é Jackson Gomes de Souza?

Possui graduação em Sistemas de Informação pelo Centro Universitário Luterano de Palmas (2002) e mestrado em Engenharia da Computação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2007). Atualmente é professor mestre nos cursos de Sistemas de Informação, Engenharia de Software e Ciência da Computação do CEULP/ULBRA. Tem experiência na área de Ciência da Computação, com ênfase em Computação Gráfica e Processamento Digital de Imagens, Mineração de Dados, Segmentação de Imagens, Computação Natural, Reconhecimento de Padrões, Inteligência Artificial e Redes Neurais. 

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O destino de uma nação: liderança e comunicação persuasiva

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Concorre com 6 indicações ao OSCAR:

Melhor Filme, Melhor Ator (Gary Oldman), Melhor Fotografia,
Melhor Maquiagem e Cabelo e Melhor Design de Produção.

O Destino de uma Nação (Darkest Hour), filme de 2017 e indicado ao Oscar 2018 na categoria principal, retrata os primeiros dias de governo de uma das figuras mais controversas do Reino Unido: Winston Churchill, primeiro-ministro durante os reinados de Jorge VI e Elisabeth II, atual monarca.

Churchill – interpretado por Gary Oldman – assumiu o poder em maio de 1940, conforme mostrado no filme, em meio ao envolvimento do Reino Unido na Segunda Guerra Mundial. O momento é de tensão: as forças militares francesas e britânicas, após sucessivas derrotas para a Alemanha Nazista que avança impiedosamente sobre o continente europeu, ficam encurraladas na costa de Dunquerque (França). Aqui surge a hora mais escura do recém-governo de Churchill, ele deve continuar a campanha contra a Alemanha com o risco de perder mais de 300 mil soldados ou ceder a um acordo com a inimiga e salvar a vida destes soldados?

Uma dos pontos que merece destaque no filme é a importância da persuasão na política. Segundo Myers (2000, p. 189), a persuasão é “o processo pelo qual uma mensagem induz mudança de crenças, atitudes ou comportamentos”. O autor aponta quatro elementos da persuasão – o comunicador, a mensagem, como a mensagem é comunicada e o público.

Fonte: https://goo.gl/rjPbhP

Churchill desempenha o papel de comunicador persuasivo aos cidadãos ingleses e sua credibilidade é fruto do seu cargo político. Entretanto, percebe-se que o personagem possui dificuldades em estabelecer a mesma confiança, e consequentemente a persuasão, quando o público são os membros do parlamento; os mesmos o consideram um louco por permanecer com a ideia de confrontar a Alemanha diante das perdas sucessivas.

Quanto à mensagem transmitida, Churchill se utiliza constantemente da emoção para atingir a população e despertar sentimentos de afeição à pátria, resistência aos nazistas e, consequentemente, de manutenção da guerra. Seus discursos são carregados expressões que remetem à necessidade de defender a pátria a qualquer custo nesse tempo de instabilidade, como no trecho a seguir do discurso proferido no dia 05 de maio de 1940, assim que assumiu o poder e que está presente no filme.

Perguntam-me qual é a nossa política? Dir-lhes-ei; fazer a guerra no mar, na terra e no ar, com todo o nosso poder e com todas as forças que Deus possa dar-nos; fazer guerra a uma monstruosa tirania, que não tem precedente no sombrio e lamentável catálogo dos crimes humanos. -; essa a nossa política. Perguntam-me qual é o nosso objetivo? Posso responder com uma só palavra: Vitória – vitória a todo o custo, vitória a despeito de todo o terror, vitória por mais longo e difícil que possa ser o caminho que a ela nos conduz; porque sem a vitória não sobreviveremos (CHURCHILL).

Com relação ao acordo com a Alemanha nazista, percebe-se que o personagem não se rende a essa estratégia somente pelo valor das vidas que correm perigo em Dunquerque, mas também pelo forte nacionalismo presente e que demonstra que perder para os nazistas seria um sinal de fraqueza de todo o Império Britânico.

Fonte: https://goo.gl/anu225

Enfim, a postura de Churchill diante dessas decisões o faz parecer mais humano. Assistimos ao filme com a sensação de que estamos vendo um ser humano comum que deve aprender novos repertórios para se livrar da tensão que se instala; deve não só levantar seu ânimo, mas a de uma nação inteira que se vê encurralada frente ao seu pior inimigo.

Os diálogos políticos, a atuação louvável de Gary Oldman, o sentimento de tensão e os impasses morais fazem de O Destino de uma Nação um filme que merece ser visto, apreciado e, com certeza, um forte concorrente nas categorias em que disputa.

P.S.: O Destino de uma Nação funciona como complemento, e vice-versa, a Dunkirk filme de Christopher Nolan que retrata especificamente o resgate dos militares de Dunquerque e também é um forte indicado ao Oscar de melhor filme.

FICHA TÉCNICA

          O DESTINO DE UMA NAÇÃO

Diretor:  Joe Wright
Elenco:  Gary Oldman, Kristin Scott Thomas, Ben Mendelsohn,
Gênero:  HistóricoDrama
Ano: 2018

Referência:

CHURCHLL, W. Sangue, sofrimento, lágrimas e suor. Disponível em: < http://www.arqnet.pt/portal/discursos/maio02.html>. Acesso em 01 mar 2018.

 

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A Onda: uma análise sobre persuasão, construção do self e realidade social

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O presente trabalho tem a intenção de relacionar os conteúdos da disciplina Psicologia Social com o filme “A Onda”. O filme foi lançado em 2008, com direção de Dennis Gansel, apresenta enredo baseado em fatos reais e narra a semana pedagógica de uma escola nos Estados Unidos, enfatizando uma turma do Ensino Médio que discutiu o tema Autocracia. Ao longo da trama, o professor Rainer Wenger que conduz as aulas, mostra para os jovens como ainda é possível viverem numa ditatura nos dias atuais. Isto, através de um movimento intitulado “A Onda”, que faz com que os alunos cheguem a um estado de alienação, resultando em uma grande tragédia.

A partir do filme é possível dizer que muitos são os conteúdos de Psicologia Social que se apresentam ao longo da história. Tendo em vista que a Psicologia Social visa estudar “o comportamento de indivíduos no que ele é influenciado socialmente” (LANE, 2006, p. 8). Assim, a partir do contexto em que os jovens da “Onda” estavam inseridos, foram transformando-se e constituindo-se a partir de suas experiências no movimento social. Com relação aos temas da disciplina, serão apresentadas articulações entre o filme e os temas Identidade, segundo Jacques (1998) e Persuasão de acordo com Myers (2014), a partir de textos que foram discutidos durantes as aulas.

O filme “A Onda” a partir da perspectiva da psicologia social

No início do filme, foi apresentado um pouco do professor Wenger, uma pessoa aparentemente bem liberal, que gosta de “Rock andRoll” e tem um estilo descontraído. A trama começa quando ele é informado que irá ministrar um curso de uma semana sobre Autocracia, com o qual não se identifica. De início, Wenger tenta trocar com o professor que abordaria o assunto Anarquia, porém isso não foi possível. Articulando o filme com o conteúdo da disciplina, é possível dizer que a identidade do professor é constituída por elementos de uma pessoa descontraída e divertida. Identidade, conforme apontado por Jacques (1998, p.161) refere-se a “um conjunto de representações para responder a pergunta quem és”.

wenger

Fonte: http://migre.me/vDH32

Segundo Erik Erikson (1972, apud Jacques, 1998), um dos autores cujos estudos sobre o tema são bastante difundidos, a identidade tem como modelo o indivíduo em situação de competência e eficácia sociais. No primeiro dia de curso Wenger se espanta, pois devido sua popularidade e por ser visto como um professor bacana, sua turma estava cheia, mesmo sendo um assunto pouco interessante. A turma era constituída pelas mais variadas “tribos” alunos de todos os estilos e culturas diferentes. O professor pergunta se eles sabem o que significa “Autocracia”, surgem alguns palpites, uns em tom de brincadeira e outros que se aproximam do que realmente o assunto aborda.

Inicialmente, Rainer não sabia ao certo como abordar tal assunto e questionou a turma se atualmente seria possível uma ditadura na Alemanha, os alunos alegam que não e acabam debatendo sobre o isso, abrindo espaço para o professor iniciar seu experimento prático sobre o tema. Ao retornarem de um breve intervalo os alunos viram que as disposições das carteiras estavam de maneira diferente, a partir da qual todos podiam sentar-se de maneira organizada.

Analisando as condutas do professor a partir dos elementos da persuasão, entende-se que Wenger utilizou da rota periférica para influenciar os alunos. Segundo Myers (2014) esta implica em menos reflexão, neste traço são explorados elementos que gerem aceitação sem recorrer ao pensamento. Ou seja, tenta-se tornar a mensagem atrativa por meio de associações favoráveis. A maioria dos alunos não sistematizavam hipóteses e argumentos sobre o que lhes era dito, eram deixados levar pela simpatia e emoções. O ideal de bem comum e ser aceito independentemente do que se é, foi atrativo aos alunos. Assim, Wenger utilizou da estratégia para persuadir os jovens e levá-los a mudanças de comportamento.

Nesse mesmo contexto, no decorrer das aulas de Autocracia e a partir das metodologias utilizadas, foi possível verificar que conteúdos como conjuntos de traços, de imagens, de sentimentos pertencentes a cada aluno, ou seja, a identidade pessoal – ou “self” termo norte-americano – é gradativamente moldada, tomando forma uma identidade social pautada em atributos que assinalam a pertença em um grupo (JACQUES, 1998).

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Fonte: http://migre.me/vDHU7

O professor pergunta a turma quais são os requisitos de um sistema autocrático, são apontadas questões de vigilância, insatisfação e liderança. Wegner organiza com a turma um grupo, a partir dos princípios autocráticos. Os alunos o elegeram como líder e então o professor impõem algumas regras que deverão ser seguidas no decorrer da semana. A princípio, alguns alunos relutam, mas ele tenta mostrar-lhes os benefícios das novas condutas e assim atinge bons resultados.

Wegner se mostra como especialista uma vez que é professor, por isso tem certa credibilidade para falar sobre o tema. Bem como, é confiante ao falar. Ao longo do filme é firme em suas falas, tornando-as mais convincentes. Tudo isso, segundo Myers (2014) faz com que o indivíduo pareça mais crível e a persuasão seja mais eficaz. O título de professor refere-se a sua identidade social. Esta classificação é uma das subdivisões dos sistemas identificatórios e segundo Jacques (1998, p. 161) está relacionado a “atributos que assinalam a pertença a grupos ou categorias”. Neste caso, está relacionado à sua profissão.

Apesar disso, alguns alunos não concordavam com as regras, por isso, foram convidados a se retirarem caso não aceitassem as imposições. Essa situação pode ser caracterizada como uma tentativa do professor de eliminar possíveis contra-argumentos, que possam levar os alunos a refletirem contra suas propostas (Myers 2014). Em seguida, começam os debates sobre autocracia, já com maior participação dos alunos. Mesmo após a aula, os jovens ainda se comportavam conforme as imposições de Wegner, embora ele alegasse que estas normas eram apenas para o momento de aula. Isto demonstra que os alunos já estavam sendo influenciados pelo discurso do professor.

Wegner treina seus alunos para persuadirem outras pessoas, no intuito de mostrá-los como a ditadura pode voltar a existir. Um exemplo disso é quando Lisa vai responder aos seus questionamentos, a aluna inicia com insegurança, então ele busca orientá-la a responder de forma curta e precisa. Para assim, quando eles forem falar com outras pessoas o discurso seja mais eficaz, pois conforme citado anteriormente, falas concisas e seguras podem ser mais influentes. Os alunos não conscientes de que estavam sendo persuadidos, chegam em suas casas falando com empolgação sobre o que haviam aprendido. Como também já adotaram algumas medidas de disciplina que lhes foram impostas, se levantavam para falar, se dirigem ao professor com título de autoridade, além de tentar convencer os demais sobre atratividade a aula.

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Para Myers (2014) alguns dos aspectos que contribuem para a percepção de fidedignidade do comunicador são: falar olhando nos olhos, a audiência crer que não estão tentando persuadi-los, e falar rápido. O professor Wegner utilizou esses princípios para convencer os alunos, sempre fitava a classe, a turma não percebia que estava sendo manipulada e Wegner falava firme, sem titubear e rápido. Isto pode ter contribuído para a adesão dos alunos as propostas do professor.

No segundo dia o professor pede aos alunos que repitam alguns movimentos feitos por ele. Por fim, todos estavam batendo os pés como se estivessem marchando em um único ritmo. Alegando que “aos poucos a gente está se tornando uma unidade, este é o poder da união”. Finaliza dizendo “União é poder”. Tudo isso, com um propósito de interação, desmanchar grupinhos, desfazer as diferenças sociais que existiam entre os alunos para que ambos possam se ajudar.

O discurso do professor a respeito da união e de quão importante é estarem juntos para atingir seus objetivos, também é uma das características para uma persuasão eficaz. Segundo Myers (2014) é relevante que o comunicador inicie utilizando argumentos que a maioria concorda. A partir das cenas anteriores, é possível perceber como os alunos valorizavam essa interação, alguns até relatavam, ainda que de forma sútil, como era importante acabar com os preconceitos e estigmas existentes.

A fim de delinear a suscetibilidade da turma para a persuasão através do discurso da união e bem comum de todos é importante relembrar uma das primeiras cenas, na qual numa festa no bar, os jovens em uma conversa dizem: “Martin, me diz uma coisa não tem mais nada, contra o que é que a gente vai se revoltar hoje em dia? Parece que nada mais vale a pena sabe, tipo, a gente só quer se divertir o que falta pra nossa geração é um objetivo comum, pra unir a gente”. Neste momento já era possível perceber como os alunos desejavam essa união.

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Analisar a audiência é um dos elementos imprescindíveis, para assim, delinear estratégias realmente eficazes para influenciar quem recebe a informação. Para isso, é importante considerar a idade dos ouvintes (Myers, 2014). O autor acrescenta que jovens são mais instáveis, logo persuadi-los é mais fácil. Diante dessa afirmação, é possível dizer que os adolescentes, frente às dúvidas e possibilidades se deixaram levar pelo discurso do professor, já que a partir do movimento passaram a conviver em grupo e suprir algumas de suas necessidades, além desconstituírem suas identidades a partir da experimentação do meio agitado da “onda”.

Nesse sentido, Myers (2014, p. 145) aponta que “se a mensagem desperta pensamentos favoráveis, pode nos persuadir”. A cada aula os alunos articulavam o discurso com pensamentos agradáveis, como o de bem comum, a possibilidade de serem aceitos e pertencer a um grupo, tudo isso potencializava a persuasão. Alguns alunos da turma de anarquia começaram se interessar pelo que está acontecendo na turma de autocracia e mudaram de curso. O professor lança alguns assuntos e faz com que os alunos façam aquilo que ele gostaria que fizessem, por exemplo, ele fala sobre uniformidade, grupos e igualdade social, então os alunos falam sobre uniformes, e o professor propõem que durante essa semana todos usem um uniforme como camisa branca e calça jeans, assim os alunos aceitam.

Diante dessa ideia de igualdade e ausência de preconceitos, os alunos se envolvem. Um dos alunos alega não ter dinheiro para comprar o uniforme, outro já influenciado pela ideia de bem comum e união, diz ter duas camisetas e oferece uma ao colega. Liza, diante dessa necessidade de se sentir pertencente compra uma camisa branca, apesar da dificuldade financeira. Esse envolvimento dos alunos mostra que eles já estão sendo influenciados e está havendo uma mudança de comportamento.

Apesar do engajamento de alguns alunos, as táticas de persuasão não influenciaram todo mundo. Algumas alunas com características diferentes não estavam tão suscetíveis, por isso é possível dizer que precisariam de outras técnicas de persuasão de acordo com suas peculiaridades. Karo e Mona apresentavam uma identidade mais reflexiva e voltada para a argumentação, o que ia de encontro às estratégias utilizadas por Wenger.

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No terceiro dia, quase todos os alunos vão à aula uniformizados, com exceção de Karo, que vai sem camiseta branca, e é repreendia por alguns colegas. Mona abandona o curso por não estar contente com o rumo que está tomando a disciplina e a turma tem novos alunos. Em seguida, é sugerido que o grupo tenha um nome, vários alunos dão sugestões, Karo que está sem uniforme é ignorada por algum tempo. Por fim, os alunos votam e optam por “A Onda”, e um dos alunos é escolhido para fazer a logo do movimento.

Wenger diz que “ação é poder” questionando qual o objetivo das boas ideias se não virarem ações, dizendo que “a onda” é o bem maior, que todos podem cooperar criativamente, os alunos se empolgam e surgem muitas ideias de como divulgar o movimento, como tornar “A Onda” conhecida. Segundo Myers (2014) uma das possibilidades para tornar a persuasão mais eficaz é tornar o membro ativo no movimento, ou seja, lhe dar atividades para executar.

É então que surgem os papéis que cada um do grupo vai desempenhar, segundo Erving Goffman (1985, apud Jacques, 1998), cada personagem atua conforme a função que vai desempenhar no palco social. Sendo assim, “os papéis sociais caracterizam a identidade do outro e o lugar no grupo social; o personagem, enquanto representa um papel social, representa uma identidade coletiva a ele associada, construída e mediada através das relações sociais”.

O professor gosta de ver que a turma está envolvida e Karo se sente excluída. A partir daí os alunos começam a falar para outras pessoas que o movimento é legal, que devem participar, e já se assumem como membros do grupo. O professor está empolgado com a participação dos alunos e que todos têm demonstrado pelo assunto. Tim, um dos alunos, começa a se envolver verdadeiramente com o movimento, levando tudo muito a sério. Isto pode estar relacionado com sua história pregressa e ausência de reforçadores, o que aumentou sua suscetibilidade, uma vez que estar no grupo lhe proporcionava experiências de inclusão e reconhecimento. Outros alunos fazem moldes e adesivos, deixando as marcas da “Onda” pela cidade. O movimento se tornou muito atrativo aos demais jovens.

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Fonte: http://migre.me/vDIa3

Na quinta-feira, o movimento está mais forte, os alunos se assumem para outros colegas como participantes de um grupo, e criam uma saudação. Wenger gosta da ideia e diz que todos devem aderir à saudação. Karo chama o professor para conversar e diz que “A Onda” está fora de controle, e pede para o professor parar, ele diz que falta somente um dia que ela não deveria desistir tão fácil. A aluna não aceita os desdobramentos do movimento e o estado de alienação de todos, então Wenger pede que ela mude de turma. Mais uma vez, nota-se a exclusão de pessoas que possam contra argumentar e influenciar os membros negativamente.

Devido a proporção do movimento, a diretora chama o professor para um conversa, pois alguns colegas não têm apoiado a atitude pedagógica dele. Porém, ela tem visto mudança nos alunos, inclusive pais tem elogiado o trabalho realizado durante a semana. Um grupo de anarquistas encontra alguns membros da “Onda” na rua e começam uma briga, Tim saca um arma e aponta para os “rivais”, fazendo que eles se retirem do local.

Os amigos de Tim se assustam, pois não sabiam que ele possuía uma arma, o garoto diz que a arma é de festim. Aqui já é possível perceber o nível de engajamento dos alunos, que não refletem mais sobre suas ações e chegam a se comportar de modo negativo em defesa da “Onda”. Os alunos se sentem amparados pela “Onda” como se fosse uma família, por meio dos vínculos estabelecidos.A noite o grupo faz uma festa, enquanto isso, Karo faz panfletos pedindo para pararem o movimento, a garota os espalha pela escola, porém os integrantes do movimento conseguem recolhe-los antes dos outros alunos verem.

Na sexta-feira Wenger vê no jornal que seus alunos fizeram pichações pela cidade e fica muito bravo com a situação, diz que isso está indo longe demais, e pede para os alunos escreverem sobre as experiências que tiveram durante essa semana. Pede também, para os alunos estarem no jogo de polo aquático, apoiando o time da escola. O movimento se organiza de tal maneira que todos que vão ao jogo de camisa branca, e bloqueiam a entrada de quem não aderiu ao grupo. Durante o jogo Karo e Mona distribuem os panfletos para pararem com “a Onda”, por isso começam brigas na piscina e na arquibancada.

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Fonte: http://migre.me/vDIjR

Em seguida, a esposa de Wenger diz que ele está manipulando a turma e que deve parar com isso. Marco também pede que o movimento pare, pois está tomando proporções que o próprio Wenger desconhece. Todos estão vivendo pela “Onda” e brigando com pessoas que não aceitam o movimento. Marco diz que a pseudo disciplina é totalmente fascista. Aqui é possível perceber que o aluno já está refletindo acerca de seus atos e do movimento. Sobre essa mudança de comportamento, Myers (2014) alega que apesar da persuasão pela rota periférica ser mais rápida é possível que ela também seja momentânea, o que pode justificar esse fato.

Na cena final, Wegner reúne os jovens no auditório para conversarem sobre o movimento “A onda”, ele inicia lendo os relatos dos alunos sobre a semana em que estiveram engajados no projeto. Nesse momento, notou-se como os alunos diziam estar felizes, por finalmente participarem de um movimento coletivo. A cena é marcada por frases como: “A onda nos tornou iguais”. “Sempre tive tudo que quis, roupas, dinheiro, tudo o que eu mais tinha era tédio, mas os últimos dias foram muito divertidos, não importa agora quem é o mais bonito, mais popular ou faz mais sucesso”. “Raça, religião e classe social não importam mais, pertencemos a um movimento, a onda deu significado a nossa vida, ideais pelos quais lutar… é muito melhor ser parte de uma causa”.

A partir dos relatos verifica-se que essa união da “Onda” e o sentimento de pertença constituíam para cada indivíduo sua identidade social, originada pelo grupo. Assim, ser membro do movimento se tornava um atributo para os jovens (JACQUES, 1998). Esse cenário serve de modelo ao que Jacques (1998) explica sobre identidade pessoal e identidade social como algo indissociável em plena construção do eu-social:

[…] é do contexto histórico e social em que o homem vive que decorrem as possibilidades e impossibilidades, os modos e alternativas de sua identidade (como formas histórico-sociais de individualidade). No entanto, como determinada, a identidade se configura, ao mesmo tempo, como determinante, pois o indivíduo tem um papel ativo quer na construção deste contexto a partir de sua inserção, quer na sua apropriação. Sob esta perspectiva é possível compreender a identidade pessoal como e ao mesmo tempo identidade social, superando a falsa dicotomia entre essas duas instâncias. Dito de outra forma: o indivíduo se configura ao mesmo tempo como personagem e autor – personagem de uma história que ele mesmo constrói e que, por sua vez, o vai constituindo como autor (JACQUES, 1998, p. 140).

Em seguida, o Professor Wenger relata que é impressionante o que aprenderam com o movimento e que a “Onda” não deve terminar. Marco diz que Wenger está manipulando os alunos. O professor em tom firme diz que “A Onda se espalhará pela Alemanha” e manda levarem Marco, o traidor até ele. Pergunta à turma o que devem fazer com o traidor, determina que o aluno que levou Marco ele, determine o que fazer. Mas, o aluno diz que só fez o que o professor mandou.

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Fonte: http://migre.me/vDIr1

Nesse momento, Wenger começa a mostrar o que fazem os líderes em uma ditadura, tenta mostrar para os alunos que o rumo que o movimento tomou não era o certo, que eles estavam sendo fascistas, que estavam excluindo os que não concordavam com a ideologia da “Onda”. Afirma que foram longe demais e que estava na hora de acabar. O aluno Tim não concorda, saca uma arma e diz que ninguém deve sair, ele não quer que o movimento termine.Um dos colegas diz que a arma é de festim e ele atira. Depois aponta a arma para Wenger e diz que “A Onda” era sua vida, ameaça o professor, pois está inconformado com o fim do movimento. Logo após, Tim se mata.

Para Tim, tal grupo social representava seu lugar no mundo. Ele tinha incorporado uma identidade pessoal que não condizia com a realidade e pensar em viver sem desempenhar esse papel no mundo era sobremaneira insustentável para ele. Por não mais saber responder a questão “quem és” o fez agir sem reflexão e impetuosamente pelo simples fato de ter sua identidade perdida no vão social. Em pânico, os alunos são tirados do auditório e o professor é preso, como corresponsável pelos atos dos alunos.

Segundo Myers (2014, p. 150) “os grupos tem poder para moldar opiniões e comportamentos de seus membros”. O autor acrescenta que a partir do mundo que os indivíduos se inserem num grupo é ele quem oferece identidade e define a realidade dos participantes. Assim, os alunos que ainda eram jovens, logo instáveis, perceberam no grupo uma oportunidade de afirmarem suas identidades, através dos reforços obtidos por meio de seus comportamentos, resultando em uma alienação total.

Diante do exposto e das articulações realizadas, podemos concluir que a identidade de cada indivíduo varia de acordo com a realidade social e o ambiente que este está inserido. Tudo isso, pois ao nascer o indivíduo traz consigo algumas características inatas, relacionadas a sua estrutura biológica e ao longo de sua vida é moldado pela influência cultural de outros com que ele convive (BONIN, 1998). A partir das vivências e interações são assumidos diversos papéis, como por exemplo, o papel de pai, filho, amigo, estudante. O grupo do enredo em questão possuía uma identidade antes da intervenção do professor, identidade essa que foi moldada e alterada de acordo com os desejos e interesses propostos pelo professor, que utilizou técnicas eficazes de persuasão, que alteraram o “self” e o comportamento em grupo dos alunos.

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Fonte: http://migre.me/vDIJl

A postura e a firmeza do professor Wenger tornaram a persuasão efetiva, fazendo o grupo acreditar que o movimento “A Onda” era o melhor para eles e para todos os que estavam a sua volta. Assim, os alunos persuadiram pessoas do seu convívio diário a participarem de tal movimento, alegando que os levaria a uma igualdade social tanto na questão de identidade como em oportunidades e unidade.

A partir das mudanças mostradas ao longo da trama notou-se como os comportamentos são influenciados pelo meio, como a persuasão pode ser efetiva e levar a novas ações. Bem como, a pertença em um grupo é capaz de moldar opiniões. A partir de tantas interferências, se o indivíduo não for souber de fato se apropriar do meio criativamente e ser ativo no processo de construção de si, ele de modo acrítico passa a fazer a ser conduzido por terceiros. São essas relações entre indivíduo e sociedade que viés para estudos da Psicologia da Social.

REFERÊNCIAS:

BONIN, Luiz Fernando Rolim. Indivíduo, cultura e sociedade. In: JACQUES, Maria da Graça Corrêa et al. Psicologia Social Contemporânea. Petrópolis: Vozes, 1998.

JACQUES, M. G. C. Identidade. Em: JACQUES, M. G. C. Psicologia Social Contemporânea. Petrópolis: Vozes, 1998.

LANE, Silvia T. Maurer. O que é psicologia social. São Paulo: Brasiliense, 2006.

MYERS, D. G. Persuasão. Em: MYERS, D. G. Psicologia Social. Porto Alegre: Artmed, 2014.

FICHA TÉCNICA DO FILME:

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A ONDA

Direção: Dennis Gansel
Elenco: Jürgen Vogel, Max Riemelt, Jennifer Ulrich, Frederick Lau, Dennis Gansel
País: Alemanha
Ano: 2008
Classificação: 16

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‘Mamãe, eu quero meu todinho’

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A pequena narrativa aqui comprova uma certa ou quase antipatia pelo tal “todinho”. Coisa de mãe de primeira viagem, penso eu.

Na verdade, não sei se é antipatia ou se não gosto mesmo do tal todinho. E já vou adiantando que evitarei as aspas por saber que elas se tornariam, no decorrer do texto, enfadonhas, repetitivas,irritantes, com um tom jocoso. Vamos por partes, ou melhor, pelo início.

Estávamos eu, minha irmã e a cunhada às compras no supermercado para a nossa jornada de curtas férias à beira do Araguaia. Enquanto estávamos no arroz, feijão, batatas, pães, reinava a paz. A discórdia surgiu quando, ao final das compras, olho para minha irmã e lá está ela com os braços lotados de todinhos [kits e mais kits de três, o danadinho vem de três em três, o que aumenta o risco de se tornar um vício entre a criançada, e, até mesmo, entre marmanjos], skinny´s [isto mesmo, skinny, aquele pacotinho ainda é nas cores amarelo e vermelho, cheio de um biscoitinho tipo isopor com cor amarela e com uma quantidade de sódio que pode garantiro aumento da pressão e o aparecimento de outros males para a saúde] e fandangos [muitos pacotinhos de fandangos de todas as cores e sabores: pizza, frango, carne, queijo, assados e fritos]. Ah, detalhe: está escrito, em letras bastão e de cor avermelhada, zero por cento de gordura trans. Detalhe sombrio para alguns, ensolarado como um dia sem nuvens para outros.

Uma crise de consciência me assola. Mas o que importa ser ou não ser 0% de gordura depois que todos se lambuzam destes petiscos: NADA. Há muito pouco o que se fazer diante de destas coisinhas que são muito mais prazerosas e gostosas para os pequenos do que frutinhas em pedaços ou amassadinhas, arroz com feijão e carne, leite puro, sucos de frutas, e segue tudo o mais que é natureba.

Enfim, a cartilha da boa saúde desaparece diante de uma prateleira como esta em qualquer supermercado. Após a tempestade de medo, um dilúvio de pragas que joguei em minha irmã por causa dos “malditinhos prazeres”, ela ainda me alertou: simples, muito simples, meus filhos irão comer, todos os filhos de todas as mães irão comer e se deliciar e a sua vai ficar olhando, chorando, escandalizando a todos porque a mamãe dela é do tipo politicamente correta, e não vai comprar nada disto para a coitadinha da filha que é apenas uma criança. E mais veneno: se o meu filho acordar no meio da noite, chorando, pedindo por mamadeira, você acha que eu vou me levantar, abrir a barraca com aquele ventinho frio do Araguaia para fazer uma mamadeira no meio da noite? Não. Abro o todinho e pronto. Simples, assim…

Oh, Meu Deus! E agora! Quem vai me salvar? Ninguém, óbvio. A briga é injusta, fria e real.

Meu mundinho por uma alimentação saudável caiu.

E foi ai que me vi diante daquela prateleira com os braços cheios de bolachas de água e sal, estarrecida, perplexa. E ela continuou a jorrar mais veneninho para a mamãezinha que acha que está protegendo a sua cria de pessoas como a sua irmã. Ah, tá: “bolachinhas de água e sal”. Quem gosta, você ou ela? E olha aqui: integral, natural. Presta atenção. A vida não é esta casinha cor de rosa que você está montando a cada dia para a sua filhinha. Qual a criança que gosta de comer apenas bolacha de água e sal? Coisa mais sem graça: farinha, água e sal. Não pode exagerar, mas tem de comprar umas coisinhas mais gostosinhas e coloridas para a criança. Ela vai virar um etezinho na escola, e, também, quando estiver com os amiguinhos e família.

Pasma, não tive como retrucar. E ai cedi ao todinho, skinny e  aos fandangos, estes dois do tipo assado. Menos pior. E ai fomos ao passeio. E, sem sombra de dúvidas, teria sido uma catástrofe ver todas as crianças com seus pacotinhos multicoloridos e salgados, e minha filha com um pacotinho de bolacha de água e sal ali na praia. Outro detalhe sórdido: todos acompanhados, claro, de refrigerante. As caixinhas de suco ficaram por ali, desamparadas, à espera de alguém. Na minha cabeça, suco de caixinha é bem natural. E, como não podia ser diferente, eu também cedi aos prazeres da boca. Ufa!!

Agora, sem muito peso na consciência. Bem, excluir minha criança do mundo real é quase impossível.

Dosar, equilibrar: é um caminho!

A Catarse é necessária para aprendermos a viver um pouco melhor.

 

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