Robôs no cuidado a idosos: a empatia pode ser programada?

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Em 2013, o professor Jackson fez uma excelente síntese para o (En)Cena de algumas importantes pesquisas na área da robótica voltadas para questões de atenção à saúde (física e psicológica) [1]. Geralmente, as discussões que se seguem sobre esse tema vêm acompanhadas de sentimentos de incerteza, medo e angústia. O ser humano desde os tempos mais longínquos ama a tecnologia, mas também a teme, porque parece que quanto mais humanizada ela se torna (inclusive em seu formato), mais aqueles pesadelos gerados por alguns filmes/livros de ficção científica tendem a se tornar reais. Não vou me ater a esses medos, nem o que acho que eles significam. Nesta reflexão, baseada na matéria de Adam Satariano, Elian Peltier e Dmitry Kostyukov para o The New York Times (disponível em [2]), observo que a tecnologia está se tornando um meio inevitável para a criação de um amplo conjunto de serviços voltados para a atenção à saúde, e as pesquisas direcionadas para esse fim não podem estar de fora das discussões dos profissionais de saúde, nem das matrizes curriculares dos cursos de graduação nessa área.

Segundo [2], em quase todos os países, a população de pessoas mais velhas está aumentando. Assim, de acordo com uma pesquisa das Nações Unidas [2], o número de pessoas com mais de 60 anos vai mais que dobrar, para 2,1 bilhões, até 2050. E essas pesquisas são alguns dos fatores que fizeram com que grandes empresas de tecnologia robótica criassem propostas de valor que pudessem atender a esse tipo de necessidade do mercado a médio e longo prazo.

Foto de Dmitry Kostyukov

Em novembro de 2018, li uma matéria do NYTimes sobre o robô Zora [2], que até pode parecer um brinquedo (e, em alguns contextos, é), mas, nesta matéria, foi apresentado como tema central de um experimento científico em um hospital francês. Esse experimento está sendo realizado em um hospital que atende pacientes idosos com perda de função cerebral e que exigem atendimento 24 horas por dia. Com a pesquisa, eles tentam verificar como os pacientes reagem ao robô, ou seja, se Zora produz novos estímulos nesses pacientes e o quão esses estímulos são benéficos às suas condições. Para tanto, uma enfermeira do hospital supervisiona Zora, controlando-o por meio de um laptop. Assim, Zora pode estabelecer uma conversa com um paciente porque a enfermeira digita as palavras no laptop criando a fala do robô durante a conversação.

Para o pessoal do hospital, quando Zora chegou na enfermaria algo estranho começou a acontecer, “muitos pacientes desenvolveram uma ligação emocional, tratando-o como um bebê, segurando e exprimindo sentimentos de carinho e ternura, dando-lhe beijos na cabeça” [2]. O que mostra, mesmo sem uma análise dos dados da pesquisa, que no primeiro momento Zora pôde ser uma companhia diferente, ao invés de estar ali para cuidar deles, pelo seu tamanho e seu aspecto, parecia querer (e precisar) de seus cuidados. Alguns pacientes referem-se a Zora como “ela”, outros “ele”. Não foi citado na matéria se isso tem relação ao tipo de relação estabelecida, por exemplo, se o robô aciona lembranças do paciente relacionadas a seus filhos quando estes precisavam dos seus cuidados. De certa forma, a solidão tem várias camadas, talvez a pior delas, é aquela que te conduz à reflexão em relação à sua função no mundo.

Foto de Dmitry Kostyukov

Para alguns enfermeiros e outros profissionais do hospital, Zora é uma ferramenta supérflua, pois não pode executar as ações que um humano estaria habilitado, por exemplo, verificar a pressão arterial, trocar a roupa da cama, dar os remédios nos momentos certos. Para alguns deles, o robô apenas “mantém os pacientes ocupados”. Uma das enfermeiras enfatizou que “não deixaria um robô alimentar os pacientes, mesmo que estes pudessem, pois os humanos não devem delegar esses momentos íntimos às máquinas”, e acrescentou que “nada jamais substituirá o toque humano, o calor humano que nossos pacientes precisam” [2].

A robótica ainda tem um longo caminho para criar robôs com um grande conjunto de características humanas, inclusive com aparência humana, mas se nos voltarmos ao “manter os pacientes ocupados”, podemos ter outras reflexões: será que os pacientes deixaram Zora compartilhar suas vivências pois viram nele um tipo de companhia que não via nos profissionais do hospital ou mesmo em suas famílias? Ou será que estabelecer o contato com Zora lembrou-lhes um outro tipo de convivência, aquela que existia antes de serem apenas pacientes? Por exemplo, foi relatado na pesquisa que os pacientes contaram ao robô coisas sobre sua saúde que não compartilhavam com os médicos. Em uma dessas histórias, “uma mulher que tinha contusões nos braços e não contava à equipe do hospital o que havia acontecido, compartilhou com Zora que ela havia caído da cama enquanto dormia” [2].

Foto de Dmitry Kostyukov

Uma paciente que está no hospital há mais de um ano, uma senhora de 70 anos, disse que Zora “traz alguma alegria em nossas vidas aqui”. E acrescentou: “nós a amamos e sinto falta dela quando não a vejo. Eu realmente penso nela com bastante frequência” [2]. Sei que essas demonstrações de afeto para um robô, que está sendo guiado por alguém que observa à distância, pode parecer cenas de um futuro distópico, em que nosso afeto é repassado às máquinas por falta da proximidade entre humanos, ou pela solidão originada do abandono.

Ao mesmo tempo que essa ideia pode parecer uma potencial realidade melancólica e absurda em certos aspectos, o investimento em estudos relacionados a isso é real. Em algumas décadas, grande parte da população mundial estará envelhecida. Estamos vivendo mais e precisamos de cuidados por mais tempo. Assim, talvez seja correto presumir que não haverá tantos humanos interessados em fazer o papel de cuidador, ou mesmo que nem numericamente isso seja possível. Logo a evolução tecnológica nesse sentido parece ser inevitável (e necessária).

Foto de Dmitry Kostyukov

Mas, por enquanto, ainda penso em Zora e como este, ao final do dia, volta para sua caixa em um armário na sala de uma das secretárias do hospital. É meio assustador que um ser não vivo seja lembrado com carinho, seja aguardado com alegria, seja querido como se fosse uma criança, confidente como se fosse um amigo, amado como se fosse um filho. Li uma vez que no epitáfio do escritor americano Raymond Carver está escrito o seguinte diálogo: “ – E, afinal, você conseguiu o que queria dessa vida? – Consegui. – E o que você queria? – Considerar-me amado, me sentir amado nessa terra”. Parece-me cada vez mais que sentir-se amado está relacionado à capacidade de conseguir amar e, especialmente, de ser necessário a alguém. Neste sentido, entendo (e muito) os sentimentos que Zora produziu naquelas pessoas. E, novamente, volto a pensar na frase da enfermeira, de que o robô apenas ocupa o tempo dos pacientes. Talvez seja esse o tempo que nos falta, o tempo de convivência que permita às pessoas idosas e doentes ter novamente a possibilidade de sentir-se necessárias a alguém.

Referências:

[1] https://encenasaudemental.com/comportamento/insight/eu-um-robo-a-codificacao-da-empatia/

[2] https://www.nytimes.com/interactive/2018/11/23/technology/robot-nurse-zora.html

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Não externar sentimentos pode fazer mal à saúde

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Diversas pesquisas realizadas nos últimos anos tem apontado para um grande número de pessoas com doenças relacionadas à depressão e em muitos casos o isolamento ou a falta de alguém para conversar tem agravado ainda mais essa situação. Sentimentos reprimidos podem causar dor emocional e doenças físicas. Desabafar mágoa e ser sincero consigo mesmo é sempre a melhor saída para viver bem.

O estresse do trabalho, a rotina cansativa de casa, uma enxurrada de problemas e não demora a aparecer uma tensão muscular, insônia ou impaciência em tudo que vai se fazer. Muita pessoas ficam remoendo as mágoas e preferem reprimir a dor por medo de expor os sentimentos ou por não conseguir colocar para fora toda a angústia que está ali martelando sem parar e acaba não percebendo que estocar mágoas e sofrimentos faz mal para a saúde e para o coração principalmente.

Segundo Denise Diniz, psicóloga e coordenadora do Setor de Gerenciamento de Qualidade de Vida da Unifesp, alerta para os problemas em não conseguir digerir algumas emoções negativas.

“Nosso organismo não foi feito para guardar mágoas e sentimentos ruins. Tanto o corpo quanto a mente vão pesando na medida em que eles se acumulam e uma hora a panela de pressão transborda na tentativa de aliviar o sofrimento. É um processo natural. Na medida em que não extravasamos este sentimento e vamos dando a ele uma conotação negativa maior do que de fato ele deveria ter, sufocamos nossos limites emocionais e daí aparecem os sintomas físicos”

Os sentimentos ruins geralmente são causados pelas expectativas frustradas. Colocamos no outro ou naquela oportunidade a responsabilidade de resolver nossos problemas como se eles não fossem consequências dos nossos próprios atos, gerando assim a mágoa e o ressentimento.

“Todos nós criamos expectativas sobre a vida e toleramos até certo limite algumas frustrações. Quando elas extrapolam este limite, que é pessoal, e nos fazem sofrer, significa que algo está em desequilíbrio e é preciso resolver. O grande problema é que na hora da explosão, a pessoa se sente tão sufocada que sai atirando para todos os lados, magoando as pessoas que estão ao seu redor sem perceber. É preciso tempo e paciência para aprender a lidar com os sentimentos sem ferir as pessoas e nem a si mesmo”

Uma boa forma de resolver esse problema é a própria pessoa entender o que  de fato a fez mal e porque a situação ganhou tamanha dimensão em sua vida e a partir daí buscar o equilíbrio necessário. Muitas pessoas costumam guardar a mágoa e os sentimentos ruins por não conseguirem extravasar, por consequência vem à tristeza e a angústia. Isso ocorre porque temos temperamentos e limites diferentes fazendo com que alguns levem sem traumas as decepções do dia a dia, enquanto outros guardem e fiquem remoendo as dores.

“É algo muito pessoal a forma que cada um reage às adversidades. Se você é tímido, reage de um jeito; se é inseguro, age de outra maneira. O importante nesta questão é perceber que quem cria a conotação negativa que gera a mágoa e o ressentimento somos nós. A pessoa pode até ter errado com você, mas a intensidade disso na sua vida quem dá é você mesmo”

Foto: Via Web

Ainda de acordo com a psicóloga da Unifesp, a dor emocional se torna física quando a intensidade que damos ao fato que nos magoa chega a interferir na atividade cerebral de modo a dificultar o envio de estímulos nervosos responsáveis pela execução de algumas funções de nosso organismo.

“O cérebro deixa de comandar alguma função e o corpo reage sinalizando onde está o problema. A gente se adapta as novas situações, isso é um processo natural, porém, quando algo nos machuca a ponto de extrapolar nossos limites, a dor emocional bloqueia alguma função física que já é propensa a ter problemas ou intensifica os sintomas de alguma doença já existente”

Para ela, os sintomas emocionais podem acometer três áreas interdependentes das nossas vidas de modo a influenciar umas às outras de acordo com a origem do problema emocional.

“Quando a pessoa tem uma doença que tem origem emocional, dificilmente consegue desempenhar com total desenvoltura suas atividades sociais e começa a dar sinais físicos. É um conjunto de fatores que se somam e vão se acumulando. Quando o corpo reage com sintomas de alguma doença é porque a pessoa extrapolou seu limite emocional e o organismo responde tentando eliminar a dor”

Dentre os sintomas físicos que podem estar relacionados à dor reprimida estão: úlcera, hipertensão, alergias, asma, estresse, e a longo prazo, câncer. Para quem convive com pessoas que sofrem de dor reprimida é sempre bom observar os níveis de irritabilidade, ansiedade, agressividade, nervosismo e verificar se essas pessoas estão com alguma queda de desempenho no trabalho, tendência ao isolamento, apatia, conflitos domésticos.

Reconhecer o problema e lidar com ele da forma mais clara possível pode parecer uma boa opção mas nem sempre é, de acordo com Denise Diniz as pessoas conseguem lidar com a dor que sentem.

“Conversar com o outro que os magoou significa trair seus valores morais e isso as maltrata mais do que a mágoa ou a dor reprimida”,

Explica ela apontando que nestes casos, é melhor trabalhar para que ela supere a dor e siga em frente.

Fonte: Saúde

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Pesquisa revela que amamentação pode aumentar inteligência

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Estudo comprova que quanto mais duradouro o período de amamentação na infância, maiores os níveis de inteligência e renda média na vida adulta até os 30 anos. É o que revela uma pesquisa inédita, realizada por pesquisadores da Universidade de Pelotas, no Rio Grande do Sul, que acompanhou 3,5 mil recém-nascidos durante mais de três décadas.

Já sabemos que a amamentação oferece muitos benefícios para a saúde e o desenvolvimento dos bebês, pois protege contra diarreia, infecções respiratórias e alergias, além de reduzir o risco de hipertensão, colesterol alto, diabetes e obesidade. E os efeitos positivos da amamentação em longo prazo acabam de ser revelados nesse estudo, como o impacto direto na inteligência, que é explicado pela presença de ácidos-graxos saturados de cadeia longa no leite materno, essenciais para o desenvolvimento do cérebro.

Segundo a publicação, uma criança amamentada por pelo menos um ano obteve, aos trinta anos, quatro pontos a mais de QI e acréscimo de R$ 349 na renda média. O estudo, realizado desde 1982, foi publicado pela The Lancet, uma das publicações científicas mais importantes do mundo e é o primeiro estudo realizado no Brasil a mostrar o impacto no QI e o primeiro internacionalmente a verificar a influência na renda.

Outra questão inédita do estudo é mostrar que, no Brasil, os níveis de amamentação estão distribuídos de forma homogênea entre diferentes classes sociais, não sendo mais frequente entre mulheres com maior renda e escolaridade.

Para a realização da pesquisa, os responsáveis pelo estudo, Cesar Victora e Bernardo Horta, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), contaram com financiamento do Ministério da Saúde e de entidades como o CNPQ, a FAPERGS, a Wellcome Trust e o International Development Research Center, do Canadá.

“O papel do Ministério da Saúde com a promoção de campanhas educativas e outras ações desenvolvidas a nível nacional, inclusive com o estímulo a adoção da iniciativa Hospital Amigo da Criança e da criação dos bancos de leite, é fundamental nesse processo. Isso se transforma em algo concreto que é o aumento da prevalência de amamentação no Brasil, reconhecido, inclusive, fora do país”, comenta o pesquisador Bernardo Horta.

Para chegar aos resultados os pesquisadores acompanharam 3.493 pessoas nascidas em Pelotas, no Rio Grande do Sul, em 1982. Nos primeiros anos de vida das crianças os pesquisadores coletaram dados sobre o tempo de amamentação de cada criança. Quando estavam com 30 anos, em média, os participantes realizaram testes de QI (Escala de Inteligência Wechsler para Adultos, terceira versão), e as informações sobre grau de escolaridade e nível de renda também foram coletadas.

Os pesquisadores dividiram esse universo de mais de 3,4 mil pessoas em cinco grupos com base na duração do aleitamento quando bebês, fazendo o controle para dez variáveis sociais e biológicas que podem contribuir para o aumento de QI, entre elas, renda familiar ao nascimento, grau de escolaridade dos pais, ancestralidade genômica, tabagismo materno durante a gravidez, idade materna, peso ao nascer e tipo de parto.

Um levantamento do Ministério da Saúde realizado em todas as capitais e Distrito Federal, além de outros 239 municípios e que somou informações de aproximadamente 118 mil crianças – mostra que o tempo médio do período de Aleitamento Materno no país cresceu um mês e meio: passou de 296 dias, em 1999, para 342 dias, em 2008.

Para a pedagoga Fernanda Schneider, mãe de Ana Luiza, que com 1 ano e 9 meses ainda mama, os benefícios da amamentação na saúde do bebê são muitos. Até hoje sua filha teve poucas gripes, diarreias e nunca precisou tomar antibiótico, nem nenhum medicamento forte, além de paracetamol e xaropes fitoterápicos. Ao entrar para a escola pegou uma virose, mas seu sistema imunológico estava bem forte e combateu sozinho a doença.

Prolongar a amamentação foi uma decisão muito acertada. A Ana Luiza tem uma ótima saúde e o leite materno supre todas as necessidades dela em cálcio, vitaminas, além de passar anticorpos para ela. A amamentação é muito importante também para o vínculo mamãe-bebê. Esse momento é único na vida da mãe, da troca de carinho, de afeto. Não é só o leite que nutre, o amor também”, afirma.

Ainda segundo Fernanda, amamentar não é fácil. O começo geralmente é bem difícil. Então, desde o começo é um desafio e exige perseverança, principalmente da mãe. “Eu tenho como objetivo amamentar até que a Ana Luiza decida parar de mamar. Fazendo um desmame natural e não forçado e traumático. (…) Essa pesquisa mostra que estou no caminho certo”, conclui.

Estudos mostram que o leite materno é capaz de reduzir em 13% as mortes por causas evitáveis em crianças menores de cinco anos. Mais do que é evitado pela vacinação ou pelo saneamento básico, segundo a OMS.

Os impactos positivos mostrados pela pesquisa da Universidade de Pelotas são mais um motivo para o investimento contínuo do Ministério da Saúde, pensando no desenvolvimento pleno das crianças durante a vida”, afirma o coordenador de saúde da criança e aleitamento materno do Ministério da Saúde, Paulo Bonilha.

Acesse o estudo completo aqui.

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