Procrastinação: as causas psicológicas camufladas

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A procrastinação, conhecida como adiamento das atividades ao qual devem ser feitas, pode trazer uma sequência de episódios que possuem questões ambientais, cognitivos, comportamentais e pessoais. Se tratando de algo presente no cotidiano de um acadêmico espera-se que seu desempenho seja prejudicado, tanto quanto um misto de sentimentos decorrentes das circunstâncias advindas pelo processo de acúmulo de tarefas que vão só aumentando, tendo relação das tarefas deixadas para depois e dos sentimentos desagradáveis que a pessoa sente concomitantemente. 

Para que fique claro, procrastinar não significa fazer nada, mas fazer algo menos importante que não seja necessário naquele momento. Nem tudo o que parece é; para algumas pessoas pode caracterizar-se somente como um desleixo e falta de zelo, mas por trás desse desinteresse em realizar tarefas do dia a dia, esconde a temida procrastinação. No entanto, o que é procrastinar? Conforme Dicio (2021), procrastinar significa “adiar ou deixar alguma coisa para depois; não fazer o que precisa ou se programou para fazer no tempo estipulado.” 

A prática dessa atitude poderá revelar possíveis transtornos mentais, como a ansiedade, depressão e problemas com baixa autoestima. Segundo Brito e Bakos (2013) é notável o efeito da procrastinação relacionado à qualidade de vida dos indivíduos, afetando assim o bem-estar; provocando apreensão pela busca de conhecimento a respeito dos motivos de estar agindo de tal forma, e, de como deveria tratá-la. 

 

Fonte: Free pick

 

Falta de interesse, desânimo, rotina estressante, desorganização, dificuldade para chegar no horário são alguns aspectos que precisam ser observados com mais atenção.  Aquela olhadinha de mais de uma hora no Instagram, necessidade de abrir a todo o momento o WhatsApp para ver se recebeu algo interessante, em detrimento ao serviço e aos estudos também não podem passar despercebidos, algo que tem se agravado na pandemia, atual situação que estamos passando, devido ao aumento exagerado do uso de dispositivos eletrônicos.

Conforme a professora de psicologia da Universidade do Rio Grande do Sul, Ana Cristina Garcia Dias, o comportamento de procrastinar pode estar associado a inúmeras consequências negativas, como maiores níveis de estresse, depressão, níveis baixos de bem-estar- físico e mental. Segundo ela, a pandemia piorou a situação com o isolamento, bem como o aumento de atividades nos lares tenha provocado maior índice de procrastinação.

 

Fonte: encurtador.com.br/eqtxK

 

Já Marcos Vinícius Santoro (2019), em seu trabalho de conclusão de curso, na Universidade de Brasília (UNB) destaca que a falta de tempo é um dos motivos que leva o indivíduo a ter a procrastinação como comportamento. Segundo ele, a gestão de tempo é uma alavanca propulsora para vencer a procrastinação, tendo como necessidade acabar com a desorganização e estabelecer prioridades para que a pessoa não fique adiando todas as tarefas que tem para fazer.

Para não procrastinar segue algumas dicas com o intuito de ajudar nas atividades do cotidiano: Não tente resolver tudo de uma vez, ao invés disso, faça uma tarefa de cada vez, além disso tenha o hábito de usar uma agenda para gerenciamento de tempo, como mencionado. Vale ressaltar que essas dicas não substitui a importância de procurar um profissional de psicologia, o qual é capacitado para entender melhor o quadro mental de cada indivíduo. Não seja vencido pela procrastinação, procure ajuda.

Referências

Brito, Fernanda de Souza e Bakos, Daniela Di Giorgio Schneider. Procrastinação e terapia cognitivo-comportamental: uma revisão integrativa. Rev. bras. ter. cogn. vol.9 no.1. Rio de Janeiro. jun. 2013. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-56872013000100006 Acesso em: 20 set. 2021.

DIAS, Ana Cristina. Como lidar com a procrastinação?. Departamento de Psicologia e do Desenvolvimento da Personalidade da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 9 de julho de 2020. Disponível em https://www.ufrgs.br/jornal/como-lidar-com-a-procrastinacao/. Acesso em: 15 set. de 2021.

PROCRASTINAR In.: DICIO, Dicionário Online de Português. Porto: 7Graus, 2021. Disponível em: https://www.dicio.com.br/procrastinar/ Acesso em: 20/09/2021.

SANTORO, Marcos Vinícius. Relação entre a procrastinação e as dificuldades encontradas pelos alunos de ciências contábeis da Universidade de Brasília na produção do TCC. 2019. Disponível em https://bdm.unb.br/bitstream/10483/24091/1/2019_MarcosViniciusPiresSantoro_tcc.pdf. Acesso em:15 set. de 2021.

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Momento Waldo e a Procrastinação Grupal

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No terceiro episódio da segunda temporada da série Black Mirror, escrita por Charles Brooker, observamos a história de Jamie Salter. Ele é um comediante responsável pela criação de Waldo, um mascote virtual caracterizado por seu modo debochado de se expressar, o uso de palavras e gestos obscenos e o senso de humor ácido presente em cada palavra proferida. Durante o decorrer do tempo, o número de fãs só aumenta. É tanto que solicitaram à equipe organizadora de desenho animado que o mesmo se candidatasse à presidência dos Estados Unidos.

Salter, diante da rápida eminência, começa a refletir sobre o fracasso de sua vida pessoal e profissional. Inicia o processo de se questionar sobre quem ele é, quais vínculos relacionais tem constituído, se é feliz. Tal realidade o faz ameaçar deixar de atuar como Waldo, uma vez que entende que a proporção conquistada podia não ser tão benéfica assim.

Ao povo era dado o que queriam, pelo que clamavam: entretenimento! Diversão! Gargalhadas! Precisavam de uma figura representativa. Esse contexto gera em nós alguns questionamentos: o que viam em Waldo? Quais figuras de liderança estavam presentes na história de vida da população? Os atributos de Waldo apontavam para que estilo de liderança? Ou isso era irrelevante? O comportamento grupal pode ser entendido como uma crítica aos políticos? Se sim, o que pretendiam com essa crítica?

Fonte: goo.gl/ZwgjKu

À vista da acessibilidade à informação que possuímos na contemporaneidade, o que, por consequência, nos possibilita a colher recursos informacionais para produzirmos o conhecimento, fica a indagação: o que nos impede de alcançar, no processo de busca, a condição de sujeito pensante e atuante? Que busca gerar mudança no ambiente habitual?
Uma possível resposta está no comportamento de procrastinar. Afinal, a permanência da saída da zona de conforto não é conseguida com a única emissão de apenas um comportamento.

Dessa forma, o presente texto se baseia na compreensão do comportamento de procrastinar, a partir de uma óptica da Análise Experimental do Comportamental (AEC).

Fonte: goo.gl/HeHHNs

Segundo o Dicionário Aurélio (2016, s/p) procrastinar pode ser assim definido: “deixar para depois; usar de delongas”. Definição que vai ao encontro do consenso geral. Conforme Skinner (2007) todo comportamento apresenta uma função. Diante disso e da consideração de que o comportamento operante é caracterizado por ser seguido de mudança ambiental, temos algumas observações a fazer: A punição diminui a frequência de o comportamento voltar a ocorrer. Assim, se na história de vida do indivíduo o mesmo já lidou com situações iguais ou similares à presente e não obteve êxito, não soube fazer ou recebeu críticas/gritos quando executou a chance de a circunstância se apresentar como estímulo aversivo é aumentada.

Outra possível explicação é que, diante da paridade (apetitivo e aversivo) de estímulos, o organismo provavelmente responderá ao que lhe for mais apetitivo. Exemplificando: dentre rir e provocar mudança na circunstância presente, é provável que haja emissão do comportamento de rir.

Sobre a perspectiva apresentada, Banaco (1997, p. 3) afirma:

Veja bem: de um lado, a tarefa multi exigente, de pequenos passos, distante do resultado final que é incerto (sempre tem um monte de gente que pretensamente sabe mais que você e vai avaliar seu trabalho – com frequência “detonando” o que você fez), versus uma tarefa bem fácil, ali, na sua mão, mais prazerosa, que depende só de você e de resultado imediato… mesmo que esta segunda tarefa não tenha lá grande importância, o “apelo” que sentimos para fazê-la é bem marcante. Com estas concorrências, gradativamente a tendência é deixar a tarefa de resultado atrasado, de valor mediano e incerto, mesmo que importante, e optamos por fazer as tarefas de resultado imediato, mais prazerosas, mesmo que de intensidade pequena.

Fonte: goo.gl/giKaZ6

A partir do que até agora foi exposto, citamos algumas relações mantenedoras do comportamento de procrastinar e, assim, compreendemos que se determinado indivíduo se comprometer a potencializar/reforçar respostas pelo menos do nicho social que está localizado, situações como as visualizadas no “Momento Waldo” tendem a ser menos frequentes, culminando num maior comprometimento social.

REFERÊNCIAS:

AURÉLIO, Dicionário. 2017. Disponível em: <https://dicionariodoaurelio.com/procrastinar> Acesso em: 04/09/2017.

BANACO, R. A. Sobre comportamento e cognição: Aspectos teóricos, metodológicos e de formação em análise do comportamento e terapia cognitivista. São Paulo: Arbytes. 1997.

SKINNER, B.F. Ciência e Comportamento Humano. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 2007.

 

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