Análise da série “Adolescência” da Netflix: alerta sobre o impacto das redes sociais nos adolescentes

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Especialista comenta cuidados que pais devem ter com seus filhos no meio digital

Recentemente, a Netflix lançou a minissérie “Adolescência”, que causou um grande sucesso: 66,3 milhões de visualizações em menos de duas semanas, de acordo com o site Omelete. Esse grande interesse dos telespectadores vem do impacto que o enredo traz ao abordar como as redes sociais podem influenciar o comportamento dos jovens, muitas vezes de forma perigosa.

Jamie, de 13 anos, é o personagem principal da trama e é acusado do assassinato de uma colega de escola. Ao longo dos episódios, a produção expõe como o ambiente digital é um terreno fértil para a disseminação de conteúdos misóginos e machistas, discursos extremistas e desafios que colocam em risco o desenvolvimento saudável dos adolescentes.

A série reforça a necessidade de um maior acompanhamento por parte dos pais e educadores, para ajudar a mitigar impactos negativos nas vidas dos adolescentes com o Jamie. Marco Giroto é fundador da SuperGeeks, escola de competências para o futuro para crianças e adolescentes e comenta que a falta de preparo para lidar com o mundo digital é um dos principais desafios da nova geração.

“As redes sociais se tornaram o principal canal de informação e socialização dos jovens, mas nem todos entendem como funcionam as métricas, algoritmos e os impactos do que consomem. O problema não é a tecnologia em si, mas o uso que se faz dela”, explica.

Adolescência: a série que pais e mães precisam ver
Fonte: https://l1nq.com/T65wv

O monitoramento ativo dos pais e a educação digital são fundamentais para garantir um uso mais saudável das plataformas. O ideal não é proibir, mas ensinar. Os pais precisam saber e entender o que seus filhos consomem online e ter conversas sobre os riscos, como fake news, discursos de ódio e desafios virais.

Além da supervisão, Marco reforça a importância de oferecer conhecimento técnico sobre o funcionamento das redes sociais: “Quando os jovens se aprofundam no estudo de programação e tecnologia, eles passam a enxergar a internet de forma mais crítica e responsável. Isso ajuda a evitar que sejam influenciados por conteúdos prejudiciais”.

Com a popularização de séries e filmes que abordam esses temas, a discussão sobre o impacto das redes sociais na juventude se torna ainda mais necessário. O desafio agora, é transformar esses alertas em ações, garantindo que as novas gerações saibam navegar pelo ambiente digital de forma segura e consciente.

Sobre

A rede de franquias SuperGeeks nasceu com o objetivo de formar não somente consumidores, mas também criadores de tecnologia. Desde 2014, a marca assume uma posição importante ao preparar as novas gerações para os desafios e oportunidades do futuro tecnológico, dedicando-se a ensinar programação e robótica de maneira lúdica e criativa, atendendo a todas as faixas etárias.

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Conexões digitais e a solitude contemporânea: em busca de um equilíbrio entre tecnologia e relações humanas

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Por Evandro Lopes, especialista em Marketing, Neurociência e CEO da SLComm

Nos encontramos em um paradoxo fascinante: nunca estivemos tão conectados e, ao mesmo tempo, tão carentes de conexão. A tecnologia nos permite acessar qualquer informação em questão de segundos, mas, ironicamente, é justamente essa avalanche de dados que nos leva a buscar refúgio na simplicidade do passado. Um estudo da Cigna Health revelou que 61% dos adultos nos EUA relataram sentir solidão frequente. O uso excessivo das redes sociais foi identificado como um dos principais fatores. Além disso, o retorno a leitura de clássicos, o resgate das relações interpessoais e a necessidade de sentido em um mundo digitalizado mostram que, diante da aceleração do tempo, olhamos para trás em busca de equilíbrio.

A redescoberta de livros como ‘O Príncipe’, de Maquiavel, ‘Mais Esperto que o Diabo’, de Napoleon Hill e ‘Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas’, de Dale Carnegie, não é coincidência. Essas obras fornecem não apenas conhecimento atemporal, mas respostas para um mundo que se reinventa constantemente. De acordo com um relatório da WordsRated, a venda de livros de não ficção voltados para desenvolvimento pessoal e liderança cresceu 11% entre 2020 e 2023, e segundo a Amazon Books Trends Report, houve um crescimento de 34% na busca por livros de filosofia estoica, impulsionado pela necessidade de lidar com incertezas modernas.

O aumento da ansiedade e da solidão em meio à hiperconectividade demonstra que os seres humanos não querem apenas se comunicar, mas se conectar de verdade. Estudos apontam que relações sociais significativas são determinantes para o bem-estar e a longevidade, reforçando a importância do contato humano genuíno. O estudo de Harvard sobre felicidade, que acompanha participantes há mais de 80 anos, concluiu que relações sociais fortes são o maior preditor de felicidade e longevidade, mais do que dinheiro ou sucesso profissional.

No ambiente corporativo, líderes como Satya Nadella, da Microsoft, e Ed Catmull, da Pixar, têm mostrado que o sucesso empresarial está diretamente ligado à empatia e ao estímulo de conexões reais entre colaboradores. Enquanto isso, a cultura participativa e a inteligência coletiva transformam o mundo digital, mas também apresentam desafios, como a superficialidade da informação e a criação de bolhas de pensamento. O relatório da University of Southern California de 2023 mostrou que 66% dos usuários de redes sociais são expostos majoritariamente a conteúdos alinhados com suas opiniões, limitando o pensamento crítico e criando polarização.

Diante desse cenário, precisamos nos perguntar: estamos realmente evoluindo ou apenas nos adaptando ao caos? O avanço tecnológico pode e deve ser aliado das relações humanas, mas isso exige um esforço consciente para equilibrar a vida digital e a real. Resgatar o que há de mais essencial na humanidade – a troca significativa, a empatia e o aprendizado profundo – pode ser o caminho para um futuro onde a tecnologia não substitui, mas potencializa nossa essência.

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Algoritmos de Recomendação: como a personalização está moldando nossas escolhas online

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Os algoritmos de recomendação estão por toda parte, silenciosamente transformando nossa relação com o mundo digital. Eles não apenas facilitam nossas vidas, mas também influenciam profundamente como consumimos conteúdo e produtos. A personalização proporcionada por essas tecnologias tornou-se essencial para nossa experiência online, quase como se a internet “nos conhecesse” intimamente. Mas como, exatamente, isso funciona?

Pense na última vez que você abriu o Netflix ou rolou o feed no TikTok. Sentiu como se as recomendações fossem feitas sob medida? Isso não é coincidência. Essas plataformas utilizam sistemas de recomendação — aplicações de inteligência artificial que estudam nossas ações, interesses e até o tempo que passamos assistindo ou curtindo algo, para depois nos oferecer sugestões que parecem irresistivelmente precisas. Segundo o Netflix Tech Blog (2024), a análise detalhada de interações e padrões é o coração dessas tecnologias.

Figura 01: Fluxo da recomendação

O funcionamento desses sistemas se divide em dois tipos principais. Os modelos baseados em conteúdo analisam o que você já consumiu para sugerir itens similares. Por exemplo, se você assistir a um filme de ação, outros do mesmo gênero aparecerão na sua lista. Já os modelos baseados em colaboração observam comportamentos de outros usuários com gostos parecidos para indicar novos conteúdos. É aquela clássica abordagem do tipo “quem assistiu isso também gostou daquilo” (Resnick, 2024).

No entanto, essa conveniência não vem sem consequências. Embora seja fascinante encontrar algo que parece perfeito para você, esses algoritmos também moldam nossos hábitos. Eles criam ciclos de consumo em que ficamos presos ao que gostamos — ou ao que os sistemas acreditam que deveríamos gostar. Essa é a essência do “filtro bolha”, que limita nossa exposição a novas ideias e reforça nossos vieses, como apontado por O’Neil (2016).

Além disso, plataformas muitas vezes priorizam engajamento acima de qualidade, promovendo conteúdos polarizadores ou emocionais para capturar nossa atenção. Como destaca o Zendesk (2024), essa estratégia pode ser eficaz para manter os usuários conectados, mas levanta preocupações sobre seu impacto no comportamento e na saúde mental das pessoas.

Outro ponto crítico é a questão da privacidade. Para que essa personalização aconteça, as plataformas coletam grandes volumes de dados pessoais, como histórico de navegação, interações e até horários de uso. Como aponta Tera (2024), esses algoritmos processam tudo isso para criar perfis detalhados dos usuários, mas deixam dúvidas sobre até que ponto estamos confortáveis em trocar nossa privacidade por conveniência.

Figura 02: A tecnologia e os desafios da privacidade na coleta de dados.

Apesar desses desafios, a personalização tem seus méritos. Economiza tempo, facilita decisões e transforma experiências online em algo mais envolvente e prático. No entanto, como usuários, precisamos estar atentos. Como sugerido por O’Neil (2016), compreender o funcionamento dessas tecnologias e exigir mais transparência das plataformas são passos essenciais para usá-las de maneira consciente.

Mais do que aceitar passivamente o que nos é sugerido, podemos adotar uma postura de curiosidade e crítica. Por que fomos expostos a determinado conteúdo? Que alternativas poderiam estar ocultas? Ao entendermos os mecanismos por trás dessas recomendações, ganhamos mais autonomia e nos tornamos consumidores mais conscientes.

No fim, os algoritmos podem ser aliados, mas nunca substitutos para nossa capacidade de explorar, aprender e escolher de forma independente. A tecnologia é uma ferramenta, e o verdadeiro valor dela surge quando a usamos para ampliar nossos horizontes, e não para limitá-los. Em um mundo tão conectado, a melhor recomendação ainda é sermos protagonistas das nossas próprias decisões.

Referências:

ANDROMEDA TECH. Algoritmos de recomendação: guia completo. Disponível em: https://andromedatech.com.br/algoritmos-de-recomendacao-guia-completo/. Acesso em: 21 nov. 2024.

NETFLIX TECH BLOG. The evolution of the Netflix recommendation algorithm. Disponível em: https://netflixtechblog.com. Acesso em: 21 nov. 2024.

O’NEIL, Cathy. Weapons of Math Destruction: How Big Data Increases Inequality and Threatens Democracy. New York: Crown Publishing, 2016.

RESNICK, P. The effects of recommender systems. ACM Transactions on Computer-Human Interaction. Disponível em: https://dl.acm.org. Acesso em: 21 nov. 2024.

TERA. Sistemas de recomendação: como funcionam e exemplos práticos. Disponível em: https://blog.somostera.com/data-science/sistemas-de-recomendacao. Acesso em: 21 nov. 2024.

XP EDUCAÇÃO. Sistemas de recomendação: o que são? Como funcionam? Disponível em: https://blog.xpeducacao.com.br/sistemas-de-recomendacao. Acesso em: 21 nov. 2024.

ZENDESK. Recomendação personalizada: saiba como implementar na sua empresa. Disponível em: https://www.zendesk.com.br/blog/recomendacao-personalizada/. Acesso em: 21 nov. 2024.

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Como potencializar seus estudos por meio das redes sociais

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Mídias sociais têm sido utilizadas como ferramentas para auxiliar no processo de aprendizagem e de desenvolvimento de novas habilidades.

Quando pensamos em educação e no desenvolvimento de novas habilidades, muitas pessoas associam esses processos a modelos tradicionais de ensino, às vezes sem saber que o mesmo smartphone ou computador que eles usam para a comunicação e entretenimento pode também ser utilizado para potencializar seus estudos e desenvolver novas habilidades. Essa ideia tem sofrido desconstruções nos últimos anos devido ao contexto global de pandemia, quando profissionais da educação e alunos precisaram adaptar-se e transformar o único meio de comunicação viável em ferramenta de estudo e aprendizado: a internet.

Durante a pandemia, uma das ferramentas mais utilizadas para a facilitação do ensino a longa distância foi o Google Classroom, que permite que os professores postem atividades, entrem em contato com seus alunos, além de anexar documentos e outros materiais como vídeos do YouTube, entre outros. Com uma interface intuitiva, o Google Classroom possibilitou que pessoas em diferentes faixas etárias pudessem continuar seus estudos e processos de aprendizagem mesmo em um contexto complexo de pandemia global.

Fonte: Google

Entrando em outros saberes, a plataforma social Twitch oferece o contato entre “streamers” e seu público-alvo. Os streamers são aqueles que iniciam um vídeo ao vivo, e apesar da plataforma ser majoritariamente composta por conteúdos de jogos digitais, muitos streamers focam em passar seus conhecimentos de arte, música, e até gastronomia para seu público. Ao iniciar uma gravação ao vivo, o streamer é capaz de realizar um passo a passo com seu público e ensinando técnicas únicas que foram aprendidas ou desenvolvidas ao longo dos anos, transmitindo seus conhecimentos para iniciantes e aspirantes.

Outras plataformas sociais que têm feito sucesso são aquelas que possuem o objetivo de ensinar outras línguas a partir de conversas em tempo real com pessoas nativas, trazendo uma aproximação de quem aprende para contextos reais e mais possíveis de acontecerem em uma determinada cultura ou população. Algumas das redes sociais mais famosas para tais fins são: Duolingo, Cambly, Tandem, Preply, Open English, entre outras. Além disso, muitos usuários de redes sociais acabam entrando em contato com pessoas de outras nacionalidades e ao fazer amizades virtualmente, praticam suas habilidades de comunicação e idiomas a partir de tal correspondência, trocando experiências e conhecimentos sobre suas culturas, costumes, gírias e idiomas.

Atualmente, o Instagram também tem sido uma grande ferramenta para professores, mentores, e outros profissionais, divulguem e realizem cursos para seu público-alvo. Em sua maioria, o Instagram é uma forma de divulgação, contato inicial e breve introdução ao que será ensinado em seus cursos, e após efetuação de pagamento ou demonstração de interesse, migram para outra plataforma que eles possuem maior habilidade e contato com seu público, passando um filtro em quem de fato quer aprender e os adicionando em grupos de Telegram ou Whatsapp por exemplo para receberem aulas e dicas de forma exclusiva.

Outra ferramenta que tem sido bastante utilizada por professores e alunos, é o ChatGPT, uma plataforma que utiliza inteligência artificial. A ferramenta funciona a partir das interações dos usuários com a I.A., que acumula dados coletados e aprende cada vez mais de forma mais profunda sobre diversos assuntos diferentes, sendo utilizada para corrigir textos e explorar novas ideias, entre outras funções. Ela responde às demandas dos usuários de forma direta e objetiva, otimizando o trabalho de quem a utiliza e aumentando a produtividade.

Finalmente, apesar dos riscos que algumas tecnologias e mídias possam ter e suas influências negativas, também é possível transformar tais plataformas para outras finalidades de fatores positivos para seus usuários.

Referências

AFONSO, Lucas. Novas ferramentas digitais para professores. Disponível em: <link>

FIA, Business School. ChatGPT: o que é, como funciona e dicas para usar a ferramenta. Disponível em :<link>

POLIEDRO, Colégio. Tecnologia na educação: como as ferramentas digitais são utilizadas nas escolas? Disponível em: <link>

KENAN, Jamia. 15 ways to use social media for education. Atlanta-GA. Disponível em: <link>

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Curtidas, Comentários e Comparações: o impacto das Redes Sociais na saúde mental dos adolescentes

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Estudos apontam que o uso excessivo das redes podem gerar impactos na imagem e saúde mental.

Matheus Aquino Alves- @mathewsaquino2@gmail.com

O comportamento dos adolescentes é influenciado por uma combinação de fatores, incluindo mudanças físicas, hormonais, cognitivas e sociais. Durante a adolescência, os jovens estão em busca de sua identidade individual. Eles estão explorando quem são, seus interesses, valores e aspirações. Isso pode levar a experimentações em diferentes áreas, como moda, música, hobbies, grupos sociais, buscando encontrar um senso de pertencimento e construir uma identidade pessoal (DEL DUCA; LIMA, 2019). 

Para Nasio (2011), os adolescentes têm uma propensão maior a assumir riscos, comparados a crianças e adultos. Isso ocorre porque seus cérebros estão passando por mudanças significativas, especialmente na região do córtex pré-frontal, responsável pelo controle de impulsos e tomada de decisões. Eles podem ser mais propensos a buscar novas experiências e sensações, muitas vezes avaliando menos as consequências negativas potenciais.

Durante a adolescência, os amigos e os grupos sociais têm uma influência significativa no comportamento dos jovens. Os adolescentes podem sentir uma forte pressão para se encaixar e se adequar às normas e expectativas do grupo. Isso pode levar a comportamentos de imitação, conformidade social e busca por aceitação. Um destes caminhos buscados é pela imagem que querem passar, principalmente na era das redes sociais. 

Lima et al (2016), explana que as redes sociais têm um impacto significativo na vida dos adolescentes, pois permitem que se conectem com amigos, colegas e familiares de maneira rápida e conveniente. Eles podem compartilhar interesses, experiências e emoções, fortalecendo os laços sociais. No entanto, também é importante equilibrar o uso das redes sociais com a interação off-line e presencial, pois o excesso de tempo gasto nas redes pode levar ao isolamento social. 

Para Palfrey e Gasser (2011), o uso das redes sociais pode afetar a saúde emocional dos adolescentes, pois a exposição constante a imagens filtradas e “vidas perfeitas” de outras pessoas pode levar a comparações e sentimentos de inadequação. Além disso, o cyberbullying e a disseminação de conteúdo prejudicial podem causar estresse, ansiedade e impactar negativamente a autoestima dos adolescentes.

Estudos sugerem que o uso excessivo de redes sociais pode estar associado a problemas de saúde mental, como depressão, ansiedade e solidão. A pressão para obter aprovação social, a exposição a conteúdo perturbador e a dependência da validação online podem afetar o bem-estar emocional dos adolescentes. É importante incentivar o equilíbrio e o uso responsável das redes sociais, bem como promover o apoio emocional offline (PALFREY; GASSER, 2011). 

Fonte: Pixabay

Outro fator relevante é quanto à privacidade e segurança dos adolescentes. Eles podem compartilhar informações pessoais sensíveis ou se envolver em interações perigosas com estranhos. A conscientização sobre a importância da privacidade online, a proteção de informações pessoais e a adoção de configurações de privacidade adequadas são essenciais para a segurança dos adolescentes (YOUNG; ABREU, 2011). 

O uso excessivo das redes sociais pode afetar a saúde mental de várias maneiras. As redes sociais muitas vezes mostram uma versão filtrada e idealizada das vidas das pessoas. Isso pode levar os usuários a se compararem constantemente com os outros e a sentirem-se inadequados ou insatisfeitos com suas próprias vidas. Essa comparação social constante pode contribuir para sentimentos de baixa autoestima, inveja e depressão (YOUNG; ABREU, 2011). 

A constante necessidade de verificar e atualizar as redes sociais pode resultar em sentimentos de ansiedade e angústia quando não é possível acessá-las. A compulsão em usar as redes sociais também pode interferir nas atividades diárias, nos relacionamentos pessoais e no sono, afetando negativamente a saúde mental. (MEDPREV, 2021). 

Christofoli Garcia e Assunção (2022) apontam que embora as redes sociais possam conectar as pessoas virtualmente, o uso excessivo delas pode contribuir para o isolamento social na vida real. Quando as interações sociais são predominantemente online, pode haver uma falta de conexão pessoal e intimidade nas relações, levando a sentimentos de solidão e desconexão emocional.

As redes sociais podem expor os usuários a situações de cyberbullying, onde são alvos de insultos, ameaças ou humilhação online. Esse tipo de experiência pode ter um impacto significativo na saúde mental, causando ansiedade, depressão e até pensamentos suicidas. Além disso, a exposição a conteúdo prejudicial, como imagens violentas, discurso de ódio ou conteúdo sexual explícito, também pode afetar negativamente a saúde mental, especialmente em adolescentes (CHRISTOFOLI GARCIA; ASSUNÇÃO, 2021). 

Distúrbios do sono também são uma das causas do seu uso excessivo. A exposição à luz azul emitida por dispositivos eletrônicos e o envolvimento em interações estimulantes nas redes sociais podem dificultar o adormecer e levar a distúrbios do sono. A falta de sono adequado pode contribuir para problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão. (MEDPREV, 2021). 

Por fim, as redes sociais têm tanto benefícios quanto desafios para os adolescentes. É importante que os pais, educadores e os próprios adolescentes estejam cientes dos impactos e incentivem o uso responsável das redes sociais, promovendo o equilíbrio entre a vida online e offline, o cuidado com a saúde mental e a proteção da privacidade e segurança online.

É importante encontrar um equilíbrio saudável no uso das redes sociais e adotar práticas que promovam a saúde mental. Isso pode incluir estabelecer limites de tempo, criar intervalos de desconexão, buscar interações sociais offline, praticar autocuidado e procurar apoio profissional, se necessário.

Cada adolescente é único e o comportamento pode variar amplamente entre os indivíduos. Além disso, os fatores culturais, ambientais e individuais também podem influenciar o comportamento dos adolescentes. É essencial oferecer um ambiente de apoio, comunicação aberta e oportunidades para o crescimento e desenvolvimento saudáveis durante essa fase de transição para a vida adulta.

REFERÊNCIAS

CHRISTOFOLI GARCIA, N., ASSUNÇÃO, J., Interativa, C., & Humanas, C. INFLUÊNCIA DAS MÍDIAS SOCIAIS NA SAÚDE MENTAL DOS ADOLESCENTES. 2022. 

Del Duca, M. R., Lima, B. H. V. A Influência das mídias na adolescência. CADERNOS DE PSICOLOGIA – CESJF – jun.2019 v.1 n.1 p.555- 572.

Hospital Santa Mônica. A saúde mental e a importância dela na vida das pessoas. Disponível em: https://hospitalsantamonica.com.br/a-saude-mental-e-a-importancia-dela-na-vida-das-pess oas. 2021. 

LIMA, Nádia Laguárdia de et al. As redes sociais virtuais e a dinâmica da internet. Gerais: Revista Interinstitucional de Psicologia, n.9, v. 1, p. 90-109, 2016. 14:30. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/gerais/v9n1/v9n1a08.pdf. Acesso em: 01 maio 2019. 

NASIO, Juan David. Como agir com um adolescente difícil? um livro para pais e profissionais. Rio de Janeiro: Zahar, 2011. 

PALFREY, John; GASSER, Urs. Nascidos na era digital: entendendo a primeira geração dos nativos digitais. Porto Alegre: Artmed, 2011

YOUNG, Kimberly S.; ABREU, Cristiano Nabuco de. Dependência de internet: manual e guia de avaliação e tratamento. Porto Alegre: Artmed, 2011.

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Os possíveis impactos da “tiktokização” da vida

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O termo foi criado depois da fama do aplicativo TikTok, em que transformou a experiência em redes sociais, mudou comportamentos e traz prejuízos para a qualidade de vida. 

Naiane Ribeiro de Oliveira Silva – naianeribeiro@rede.ulbra.br

A presença das redes sociais no dia a dia não é novidade, visto que tudo anda tão rápido, as “trends” mudam em questão de dias e a utilização das redes cresce praticamente de forma exponencial. Os estudos que envolvem esse tema são muitos e criaram um novo conceito, o de “tiktokização”. Esse termo vem do aplicativo de vídeos TikTok que cultivou sua fama durante a pandemia de covid-19. Por conta das restrições e quarentenas, a população se viu isolada fisicamente e emocionalmente, resultando em formas de escape através das redes sociais (ALCOFORADO, 2021). 

O formato em vídeos de 30 ou 60 segundos se popularizou nas plataformas, transformando conteúdo audiovisual em algo ágil, de baixo custo e com alta taxa de engajamento por parte da audiência, tornando-o mais atraente. A forma como a população consome e compra também mudou quase completamente, se os consumidores estão em redes sociais vendo vídeos, onde estão os vendedores? A resposta é clara: nas redes sociais fazendo e divulgando vídeos.

A forma como o capitalismo e o consumismo se adaptaram a essas mudanças é interessante, segundo Issaaf Karhawi, jornalista e doutora em ciências da computação, o ponto mais importante ao pensar nos vídeos curtos seja a atenção. Um recurso constantemente dividido e disputado. Nas palavras de Karhawi, “diante disso, os conteúdos gerados por marcas e influenciadores digitais disputam a nossa atenção, e o uso de vídeos curtos é uma saída para conseguir alcançar os consumidores, os públicos e a audiência”. (ALUTAYBI, 2020). 

Neste sentido, a TikTokização tem sido observada em várias áreas, como música, dança, humor, moda, desafios virais e até mesmo em memes. O sucesso do TikTok gerou uma nova forma de produção e consumo de conteúdo, influenciando outras plataformas e levando à criação de conteúdos mais curtos, visualmente atraentes e adaptados à atenção rápida dos usuários.

Essas novas formas de vender e consumir se expandem para o dia a dia, em  que consumimos muitos conteúdos e muitas informações durante horas, sem parar. De acordo com uma publicação de 2012 da Revista IstoÉ, a Universidade de Chicago chegou a fazer um estudo relacionando vícios comuns ao vício nas redes sociais. “Os pesquisadores concluíram, para espanto geral, que resistir às tentações do Facebook e do Twitter é mais difícil do que dizer não ao álcool e ao cigarro (LÓES, 2012). 

As redes sociais são projetadas para manter nossa atenção por meio de um fluxo constante de informações e estímulos visuais. Os vídeos curtos, em particular, têm a capacidade de nos prender rapidamente com seu conteúdo envolvente e fácil de consumir. No entanto, esse apelo instantâneo pode levar ao uso excessivo citado anteriormente, resultando em consequências negativas para a qualidade de vida e do sono. 

A sensação de “FOMO” (Fear of Missing Out – medo de perder algo) é comum quando estamos constantemente conectados às redes sociais, temendo perder atualizações importantes ou eventos sociais (ALUTAYBI, 2020). Isso pode levar a uma compulsão por verificar constantemente as notificações e os feeds, mesmo antes de dormir, interferindo na capacidade de relaxar e adormecer adequadamente.

Neste sentido, os fatos associados à FOMO se associação com a) Comparação social: Ao ver os destaques da vida de outras pessoas nas mídias sociais, é fácil comparar-se a elas e sentir que está ficando para trás em termos de realizações, diversão ou sucesso. 2) Curadoria da vida: As pessoas tendem a mostrar os melhores momentos e conquistas em suas postagens nas redes sociais, criando uma versão idealizada de suas vidas. Isso pode levar os outros a acreditar que todos estão constantemente se divertindo e vivendo experiências incríveis, o que pode aumentar o sentimento de FOMO. 3) Conectividade constante: As mídias sociais proporcionam uma conexão quase constante com o mundo ao nosso redor, expondo-nos a eventos e atividades em tempo real. Isso pode gerar ansiedade por não querer perder nada ou por sentir que não está aproveitando ao máximo cada momento (ALUTAYBI, 2020)

A luz do celular interfere no sono
Foto de Andrew Guan na Unsplash

A natureza viciante das redes sociais e dos vídeos curtos também pode levar ao prolongamento do tempo de uso antes de dormir. É fácil cair em um ciclo vicioso de rolagem infinita, assistindo a vídeos um atrás do outro, em detrimento de uma rotina de sono adequada. O resultado é uma privação de sono, que tem efeitos prejudiciais na saúde mental, cognição, humor e funcionamento geral do corpo.

Para manter uma boa qualidade de vida e preservar o sono saudável, é essencial estabelecer limites saudáveis no uso das redes sociais e na visualização de vídeos curtos. É importante definir horários específicos para o uso dessas plataformas, especialmente antes de dormir. Desenvolver uma rotina relaxante antes de dormir, desconectando-se das telas e reservando um tempo para atividades tranquilas, como leitura ou meditação, pode ajudar a promover um sono mais reparador. 

Além disso, é essencial buscar um equilíbrio saudável entre o mundo virtual e o mundo real. Priorizar o tempo de qualidade com amigos e familiares, participar de atividades que nos tragam alegria e satisfação pessoal, e dedicar-se a hobbies e interesses individuais podem melhorar significativamente a qualidade de vida e reduzir a dependência das redes sociais.

Em suma, embora as redes sociais e os vídeos curtos possam trazer muitos benefícios, é importante utilizá-los com moderação e consciência. A qualidade de vida e o sono são afetados pelo uso excessivo dessas plataformas, mas estabelecendo limites saudáveis, buscando um equilíbrio e priorizando o bem-estar físico e emocional, podemos encontrar um meio-termo que nos permita aproveitar as vantagens das redes sociais enquanto preservamos nossa saúde e qualidade de vida (OLIVEIRA et al, 2022).

REFERÊNCIAS

ALUTAYBI, Aarif et al. Combating fear of missing out (FOMO) on social media: The fomo-r method. International journal of environmental research and public health, v. 17, n. 17, p. 6128, 2020.

ALCOFORADO, Michel. O fenômeno da ‘tiktokzação’ do trabalho. CBN, 10/09/2021. Para onde vamos? Disponível em <https://cbn.globoradio.globo.com/media/audio/352638/o-fenomeno-da-tiktokzacao-do-trabalho.htm>

OLIVEIRA, A. F. Uso de dispositivos eletrônicos e distúrbios do sono durante a pandemia de Covid-19. Research, Society and Development, v. 11, n. 11, e317111133639, 2022. 

LÓES, João. Viciados em redes sociais. IstoÉ, 04/05/2012. Comportamento. Disponível em <https://istoe.com.br/204040_VICIADOS+EM+REDES+SOCIAIS/> . 

SALLAS, Vanessa. TIKTOKIZAÇÃO: O SUCESSO DOS VÍDEOS CURTOS NO MARKETING DE INFLUÊNCIA. Trama Comunicação, 17/03/2022. Marketing de Influência. Disponível em <https://www.tramaweb.com.br/tiktokizacao-videos-curtos/

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O espelho virtual: a epidemia da comparação social nas redes sociais

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As redes sociais muitas vezes promovem a idealização  de existências padronizadas incompatíveis com a realidade, gerando um constante senso de inadequação.

Glaub Santos – glaubsantos@rede.ulbra.br 

A comparação social é um fenômeno psicológico no qual indivíduos se comparam a outras pessoas em diversas áreas da vida, como aparência física, conquistas pessoais, status social e habilidades. Essa comparação geralmente ocorre com base em informações observáveis ou percebidas por meio de interações pessoais diretas ou por meio de plataformas online, como redes sociais.

Segundo Festinger (1954), a teoria da comparação social afirma que as pessoas têm uma tendência natural de avaliar suas próprias opiniões e habilidades por meio da comparação com os outros. Essa comparação social pode ocorrer de duas formas: comparação para cima, quando nos comparamos a pessoas que consideramos melhores em determinado aspecto, e comparação para baixo, quando nos comparamos a pessoas que consideramos piores. Essas formas de comparação desempenham papéis importantes na maneira como nos avaliamos em relação aos outros e podem ter consequências diferentes para nosso bem-estar emocional.

A comparação para cima envolve a tendência de nos compararmos com pessoas que consideramos superiores a nós em determinados aspectos. Por exemplo, podemos nos comparar com alguém que possui uma aparência física invejável, uma carreira de sucesso ou uma vida social ativa. Ao fazermos isso, podemos sentir uma sensação de inadequação ou inferioridade, pois percebemos uma discrepância entre nossas próprias realizações e as dos outros (FESTINGER, 1954)

A comparação para cima pode levar a sentimentos de inveja, ressentimento ou frustração, especialmente quando acreditamos que não podemos alcançar os mesmos padrões de sucesso ou conquista. Essa forma de comparação pode minar nossa autoestima e levar a um aumento da pressão interna para atender a esses padrões inatingíveis. No contexto das redes sociais, onde as pessoas tendem a compartilhar seus melhores momentos e conquistas, a comparação para cima pode ser ainda mais acentuada.

Fonte: Imagem de syarifahbrit no Freepik

Por outro lado, a comparação para baixo envolve nos compararmos com pessoas que consideramos inferiores a nós em determinados aspectos. Essa forma de comparação pode levar a uma sensação temporária de superioridade e autoafirmação. Por exemplo, podemos nos comparar com alguém que tenha um desempenho acadêmico inferior ao nosso ou que esteja passando por dificuldades pessoais. Isso pode proporcionar uma sensação de alívio momentâneo ou uma falsa sensação de satisfação.

No entanto, a comparação para baixo também pode ser prejudicial, pois pode nos levar a uma visão distorcida da realidade e a uma falta de empatia em relação aos outros. Além disso, essa forma de comparação pode ser baseada em critérios subjetivos e não refletir uma avaliação precisa das habilidades ou conquistas das pessoas com as quais nos comparamos.

Ambas as formas de comparação social podem ter impactos negativos em nossa saúde mental e bem-estar emocional. A comparação excessiva, seja para cima ou para baixo, pode levar a sentimentos de inadequação, baixa autoestima, ansiedade e depressão. Portanto, é importante desenvolver uma perspectiva saudável e realista em relação às comparações sociais, reconhecendo que cada pessoa tem suas próprias jornadas, realizações e desafios.

Fonte: Freepik

A comparação social nas redes sociais tem se tornado cada vez mais proeminente na era digital. De acordo com a pesquisa de Kim et al. (2009), a exposição constante a fotos e postagens de outras pessoas nas redes sociais pode levar a comparações sociais negativas e diminuição da autoestima. Isso ocorre porque as pessoas geralmente tendem a compartilhar os melhores momentos e as realizações em suas vidas nas redes sociais, criando uma imagem idealizada e inatingível.

Comparar-se nas redes sociais pode ter efeitos negativos na saúde mental e no bem-estar emocional. Estudos como o de Fardouly et al. (2015) têm demonstrado que a comparação social nas redes sociais está associada a sintomas de depressão, ansiedade, baixa autoestima e insatisfação corporal.

A comparação social nas redes sociais pode desencadear uma série de problemas físicos e psicológicos. Segundo Perloff et al. (2014), um dos principais efeitos negativos é a insatisfação corporal e a distorção da imagem corporal, o que pode levar ao desenvolvimento de transtornos alimentares, como a anorexia e a bulimia.

Além disso, Dos Santos (2021) destaca que a comparação social pode levar algumas pessoas a se engajarem em excesso de exercícios físicos ou práticas extremas para alcançar um padrão de aparência idealizado, o que pode ser prejudicial à saúde física e mental.

A preocupação constante com a aparência e a comparação com os outros também pode ter impactos negativos na saúde. A pressão associada à comparação social pode resultar em aumento do estresse e da pressão arterial, afetando negativamente o bem-estar físico.

No âmbito psicológico, a comparação social pode levar a uma série de problemas, sendo eles, a baixa autoestima e os sentimentos de inadequação são comuns devido à percepção de desigualdade em relação aos outros. A constante comparação negativa e a sensação de não atender a certos padrões podem contribuir para o desenvolvimento de ansiedade e depressão, como aponta Fardouly et al. (2015).

Por fim, Abreu (2019) ressalta que a busca incessante por validação e aprovação nas redes sociais pode levar à diminuição da satisfação com a vida. A constante necessidade de validação externa pode levar a um sentimento de insatisfação crônica, prejudicando o bem-estar geral.

Para lidar com os impactos negativos da comparação social nas redes sociais, é importante cultivar uma perspectiva realista e consciente sobre as postagens e imagens compartilhadas. Além disso, é recomendado dedicar tempo para construir uma autoimagem positiva com base nas próprias conquistas e valores pessoais, em vez de se comparar constantemente com os outros. Se faz necessário aprender a apreciar nossas próprias conquistas e reconhecer que cada pessoa tem uma história única pode nos ajudar a cultivar uma maior autocompaixão e aceitação.

Referências

ABREU, Sofia. Uso do Facebook e a sua relação com a satisfação com a vida em adultos portugueses. 2019. Tese de Doutorado.

DOS SANTOS, Cely Araújo et al. Vigorexia, um distúrbio alimentar na modernidade. Research, Society and Development, v. 10, n. 5, p. e16710514817-e16710514817, 2021.

FARDOULY, Jasmine et al. Comparações sociais nas mídias sociais: o impacto do Facebook nas preocupações com a imagem corporal e no humor de mulheres jovens. Imagem corporal , v. 13, p. 38-45, 2015.

FESTINGER, Leon. Uma teoria dos processos de comparação social. Relações humanas , v. 7, n. 2, pág. 117-140, 1954.

KIM, Junghyun; LAROSE, Robert; PENG, Wei. Solidão como causa e efeito do uso problemático da Internet: a relação entre o uso da Internet e o bem-estar psicológico. Ciberpsicologia & comportamento , v. 12, n. 4, pág. 451-455, 2009.

PERLOFF, Richard M. Efeitos da mídia social nas preocupações com a imagem corporal de mulheres jovens: perspectivas teóricas e uma agenda para pesquisa. Papéis sexuais , v. 71, n. 11-12, p. 363-377, 2014.

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Os transtornos alimentares são influenciados pelas redes sociais?

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Os fatores envolvidos nessa relação se associam com fenômenos comparação social,  idealização do corpo e difusão de informações falsas nas redes sociais 

Glaub Santos – glaubsantos@rede.ulbra.br 

Transtornos alimentares são condições psicológicas e físicas que afetam a relação de uma pessoa com a alimentação, resultando em comportamentos alimentares prejudiciais e disfuncionais. Esses transtornos são caracterizados por uma preocupação excessiva com o peso corporal, a imagem corporal e a alimentação. Eles podem ter graves consequências para a saúde física e emocional dos indivíduos afetados.

De acordo com a American Psychiatric Association (APA), os principais tipos de transtornos alimentares incluem a anorexia nervosa, a bulimia nervosa e o transtorno da compulsão alimentar periódica (TCAP). A anorexia nervosa é caracterizada pela restrição alimentar extrema e uma percepção desassociada da realidade do peso corporal. A bulimia nervosa envolve episódios recorrentes de compulsão alimentar seguidos de comportamentos compensatórios inadequados, como vômitos auto induzidos ou uso abusivo de laxantes. O TCAP é marcado por episódios regulares de compulsão alimentar, sem os comportamentos compensatórios decorrentes da bulimia nervosa (APA, 2014). 

A relação entre transtornos alimentares e gênero é significativa, (mas não causal, devemos assinalar), como destacado por estudos. A prevalência é maior entre as mulheres, como mencionado por De Andrade (2006), que aponta que os transtornos alimentares são mais comuns em mulheres do que em homens. Além disso, no caso específico dos adolescentes, como ressalta Le Grange (2018), “os transtornos alimentares têm uma taxa de incidência alarmante, atingindo até 10% da população jovem”.

Conforme informações fornecidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), aproximadamente 4,7% da população do Brasil enfrenta transtornos alimentares. Há uma maior prevalência desse problema entre as mulheres, com uma proporção de sete a oito mulheres para cada homem diagnosticado com algum tipo de distúrbio alimentar. Entre os adolescentes, o índice é ainda maior, chegando a 10%. (GUIMARÃES, 2022)

Pessoas conectadas por aparelhos eletrônicos
Fonte: Imagem de Pikisuperstar no Freepik

As redes sociais são plataformas online que permitem que indivíduos interajam e compartilhem informações, ideias, interesses e conteúdo digital de várias formas. Elas têm se tornado uma parte integral da vida cotidiana e têm um impacto significativo nas comunicações, relações sociais, negócios e até mesmo na política.

Segundo Boyd e Ellison (2007), as redes sociais são definidas como serviços baseados na Internet que permitem que os indivíduos construam um perfil público ou semipúblico dentro de um sistema limitado, articulem uma lista de outros usuários com os quais compartilham uma conexão e visualizem e percorrem sua lista de conexões e aquelas feitas por outros no sistema. 

Assim as redes sociais têm recursos que permitem aos usuários criarem um perfil pessoal, adicionar amigos ou seguidores, compartilhar postagens, fotos, vídeos e participar de comunidades virtuais. As redes sociais mais populares são Facebook, Twitter, Instagram, Linkedin, etc. Essas plataformas têm transformado a maneira como as pessoas se conectam, se comunicam e interagem umas com as outras. Elas permitem que indivíduos se conectem com amigos, familiares e colegas, mas também oferecem oportunidades para conhecer novas pessoas e estabelecer relacionamentos virtuais.

Além disso, as redes sociais têm se tornado ferramentas importantes para empresas e profissionais de marketing, blogueiros, permitindo que eles alcancem públicos-alvo específicos, promovam produtos e serviços e interajam diretamente com os consumidores.

Embora as redes sociais ofereçam diversos benefícios, também apresentam desafios relacionados à privacidade, segurança online, vício e impacto na saúde mental.
Fonte: Imagem de Upklyak Freepik

As redes sociais têm sido objeto de discussões e pesquisas relacionadas aos transtornos alimentares devido ao seu impacto na percepção de imagem corporal, comparação social e influência de padrões de beleza irrealistas.

Em estudos realizados fora explorado a relação entre o uso de redes sociais e transtornos alimentares, destacando algumas preocupações potenciais. Por exemplo, um estudo realizado por Fardouly et al. (2015) descobriu que o uso frequente de redes sociais estava associado a maior insatisfação com a imagem corporal e maior probabilidade de adotar comportamentos de controle alimentar inadequados.

Além disso, um estudo de Perloff et al. (2014) observou que o uso de redes sociais pode levar à comparação social, resultando em sentimentos negativos em relação à aparência e ao corpo. Essas comparações podem levar a uma maior pressão para se adequar a padrões de beleza inatingíveis, o que, por sua vez, pode contribuir para a ocorrência de transtornos alimentares.

Muitas vezes o corpo idealizado como sendo o “corpo perfeito”, que grande parte da população deseja ter  é, na verdade, uma meta inalcançável, e ao mesmo tempo, as pessoas que são tidas como modelos, podem não dispor de saúde para manter aquele corpo, uma vez que podem estar expostas à estilos de alimentação que vulnerabilizam a saúde física e mental. Por fim, é importante destacar que os fragmentos de realidade amplamente compartilhados e com alto alcance nas redes sociais, podem ser absolutamente dissonantes da realidade de quem está do outro lado da tela consumindo o conteúdo. 

REFERÊNCIAS

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION – APA. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. Porto Alegre: Artmed, 2014.

BOYD, Danah M.; ELLISON, Nicole B. Sites de redes sociais: definição, história e bolsa de estudos. Journal of Computer-mediated Communication , v. 13, n. 1, pág. 210-230, 2007. 

DE ANDRADE, Laura Helena SG; VIANA, Maria Carmen; SILVEIRA, Camila Magalhães. Epidemiologia dos transtornos psiquiátricos na mulher. Archives of Clinical Psychiatry (São Paulo), v. 33, p. 43-54, 2006.

FARDOULY, Jasmine et al. Comparações sociais nas mídias sociais: o impacto do Facebook nas preocupações com a imagem corporal e no humor de mulheres jovens. Imagem corporal , v. 13, p. 38-45, 2015.

GUIMARÃES, Tays. Da anorexia à compulsão, por que a incidência de transtornos alimentares nas adolescentes nunca foi tão alta. OGlobo, 25 de março de 2022. Disponível em: https://oglobo.globo.com/saude/bem-estar/da-anorexia-compulsao-por-que-incidencia-de-transtornos-alimentares-nas-adolescentes-nunca-foi-tao-alta-25488072. Acesso em: 16 de maio de 2023.

LE GRANGE, D. (2018). Eating disorders in adolescence: Keys to diagnosis and treatment. The Medical Clinics, 102(5), 855-871.

PERLOFF, Richard M. Efeitos da mídia social nas preocupações com a imagem corporal de mulheres jovens: perspectivas teóricas e uma agenda para pesquisa. Papéis sexuais , v. 71, n. 11-12, p. 363-377, 2014.

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A infância atravessada pela tecnologia e por redes sociais

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Reflexões sobre a influência das tecnologias no desenvolvimento infantil

(EN)Cena entrevista Adriane Carvalho, psicóloga clínica especialista em TCC (Terapia Cognitiva Comportamental) que tem o trabalho focado na ansiedade e no atendimento a jovens adolescentes, assim como a mulheres. Nessa entrevista conversamos com Adriane sobre as relações entre as mídias sociais e o uso delas por jovens e crianças.

(En) Cena- Adriane, as mídias sociais têm se tornado cada vez mais presentes no cotidiano das pessoas, inclusive das crianças. Na sua perspectiva, como o uso das mídias sociais influenciam crianças e jovens? 

-As mídias têm tomado uma proporção grande na vida das crianças e jovens, porque eles nasceram nessa geração tecnológica, e geralmente já fazem o uso, seja monitorado ou não pelos pais, eles já possuem acesso a whatsapp, instagram, youtube entre outros. As redes acabam sendo motivo de distração e entretenimento como na época em que a TV fazia esse papel, e a influência dependerá muito de quais os conteúdos essa criança e jovem tem acessado.

 

(En) Cena- O uso indiscriminado e sem acompanhamento das redes sociais pode ser um ambiente perigoso para crianças e jovens, uma vez que nem sempre sabemos quem são as pessoas do outro lado da tela. Assim, temos visto cada vez mais as mídias sociais sendo utilizadas para pedofilia. Como você vê essa questão?

-Acredito que assim como a rede social pode promover diversão, brincadeira e entretenimento, ela pode ser muito perigosa. No que se refere a pedofilia é de suma importância que os pais tenham acesso às contas que os filhos acessam e com quem conversam. Na vida presencial os pais não vão deixar o filho ir para a casa de um coleguinha que não conhecem ou não sabem das procedências familiares, é necessário que a mesma postura seja tomada no que se refere aos cuidados de com quem esse filho está conversando no ambiente virtual, afinal esse ambiente também é real e no caso de crianças que sofrem pedofilia, os traumas psicológicos são causados da mesma forma.

(En) Cena- Qual o papel dos pais e/ou responsáveis pelas crianças e jovens na prevenção desse tipo de violência no contexto virtual?

-Orientar as crianças e os jovens sobre os perigos, e essa orientação talvez será repetitiva, mas ela tem que acontecer.Entender que dependendo da idade do seu filho, você precisa sim monitorar o que ele acessa e com quem conversa, as crianças e adolescentes não possuem uma psique desenvolvida o suficiente para perceberem quando estão em risco, por isso os pais precisam sim, estar tendo acesso aos conteúdos acessados.

(En) Cena- De que forma a psicologia poderia prevenir ou intervir sobre esses casos?

-Conscientizando tanto crianças e adolescentes sobre os riscos reais que esse ambiente pode promover, com palestras, oficinas, grupos e até mesmo nos atendimentos individuais. Para os pais também promover rodas de discussão para que os mesmos percebam e ajam em favor da proteção das crianças/adolescentes, entendendo que nem sempre as redes sociais são apenas distração, mas também podem oferecer riscos.Em casos onde a criança já passou pela violação de um pedófilo, a terapia irá trabalhar em cima das queixas da criança para superação do trauma e diminuição dos prejuízos acarretados nos pensamentos, emoções e comportamentos.

(En) Cena- Em um caso recente um homem foi preso por estupro pela internet depois de conversar e influenciar um menino de 10 anos. Esse contato entre eles foi feito por 3 anos antes de o homem ser preso, quais os alertas que os pais/responsáveis, ou mesmo a sociedade como um todo, podem estar sensíveis para perceber indícios disso?

-A conscientização dos adultos e responsáveis, sobre o quanto crianças e adolescentes não terão maturidade para interagirem em rede social sozinhos e sem monitoramento. Não aceitarem que a criança tenha contato com pessoas desconhecidas do rol de amigos dos pais ou que são apenas “amigos virtuais” , pois essa criança pode estar sendo enganada. Algo que também devemos nos atentar são as idades que cada aplicativo ou meio midiático indica para se fazer o uso, creio que uma ótima medida, seria os pais ou responsáveis monitorar para que seu filho não tenha uma rede social até a idade permitida pelo próprio

app.

(En) Cena- Com as mudanças e possibilidades das redes sociais, os pais ou responsáveis de crianças muito novas também tem um espaço e um meio de expor crianças, essa exposição de imagem muito cedo e feita de forma constante pode ter consequências psicológicas para elas?

-Não podemos afirmar que tenha consequências, pode ser que sim e pode ser que não. Por que vai depender de outros fatores, como: essa exposição atinge essa criança de que forma? Esses pais sabem lidar com essa exposição? Já vimos varias crianças que cresceram sendo alvos da mídia, e de holofotes e que não tiveram prejuízos significativos em sua saúde mental, mas também vemos o extremos de crianças que cresceram nesse meio e se tornaram adultos problemáticos, logo precisamos entender que são vários fatores envolvidos que determinam se a pessoa terá ou não prejuízos psicológicos no futuro. Talvez a criança fique mais exposta a consequências, no entanto não podemos afirmar

que terá.

(En) Cena- Até que ponto os pais podem verificar as redes sociais dos filhos, sem que isso seja uma invasão da privacidade ou individualidade?

-Em algumas idade, como dito anteriormente o cuidado deve ser lidado como aquelas perguntas básicas que os pais fazem aos filhos quando estão indo para a casa de um colega que eles não conhecem, ou seja sempre, explicando o motivo de estar monitorando o celular.Em caso de adolescentes, o indicado é o diálogo antes de monitorar, mostrar para esse filho que não é uma questão de invasão, mas de cuidado e amor.

 

(En) Cena- Como os pais podem abordar temas como esses com os filhos, para que eles também fiquem cientes?

-Sempre que possível. Podem usar das manchetes ou de casos que aconteçam com pessoas próximas, para alertar a criança/adolescente sobre os perigos. O assunto pode até parecer chato para o filho, no entanto através da repetição, eles vão aprendendo a ficar em alerta com a situação.

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