Com que critério definimos o que é a loucura?

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Quem nunca teve medo da loucura que atire a primeira pedra. Mas, afinal, o que é loucura? Eu sempre me questionei, desde pequena, e a cada questionamento mais medo eu tinha. Logo, cresci com um receio exagerado de ficar louca. Hoje como estagiária de psicologia em uma unidade de saúde mental contarei um pouco da minha experiência. Mas você deve estar se questionando ‘como uma pessoa que diz ter tanto medo da loucura escolhe logo tal área de atuação?! Esta pessoa deve ser louca!’. E na verdade talvez eu seja.

No meu primeiro contato com um paciente em crise e totalmente embotado eu senti todos os sintomas de ansiedade. Tive taquicardia, falta de ar, dormência no corpo, ânsia de vômito e tontura. Isto por que eu fiquei em contato por no máximo 5 minutos com a pessoa, mas pareceram 5 horas. Durante este ocorrido eu pensava a todo momento ‘O que eu estou fazendo aqui, eu só posso ser louca, vou surtar e logo eu que estarei internada neste local’. Caro leitor, a minha vontade era de sair correndo, e o ditado ‘se ficar o bicho pega e se correr o bicho come’ nunca me fez tanto sentido. Isto por que se eu ficasse em contato com o paciente eu poderia surtar, mas se eu saísse correndo eu já não estaria surtada?!

Fonte: encurtador.com.br/qwFP5

As minhas 3 primeiras semanas foram as mais difíceis, pois eu internalizava alguns sintomas dos pacientes. E a cada dia o medo aumentava e até então eu já estava a me ‘diagnosticar’ com TAB – Transtorno Afetivo Bipolar, esquizofrenia etc. Pesadelos eram constantes, o medo de enlouquecer parecia me controlar, eu já não tinha mais vontade de estar no meu ambiente de estágio, era masoquismo. Até que, depois de muitos questionamentos e estudo, eu parei de negar tanto a loucura, e hoje tenho prazer em ir ao meu ambiente de estágio e a cada paciente que atendo eu percebo o quão estreito é o limiar entre a loucura e a sanidade mental, e deve ser por isto que ela amedronta tantos. Afinal, qualquer um pode surtar a qualquer momento.

A loucura seria alguém adoecido? Mas o que é saúde? Canguilhem (1943) diz que estabelecer uma norma para o que se é doença e o que se é saúde é uma utopia do ideal, isto por que o ideal levaria a perspectiva do perfeccionismo, e a perfeição não existe. Ou seja, é um ideal inalcançável. O autor complementa que se existe a doença, é por que primeiro existiu um doente, e este mesmo se queixou de algo que o incomodava.

Levando para um olhar psicanalítico, Freud (1976) diz que um sujeito saudável é aquele que tem a capacidade de se ajustar ao meio. Diante disto, um sujeito acometido por algum sintoma considerado doença pode se ajustar a mesma e viver tranquilamente. Poderia então um esquizofrênico e paranoico se ajustar aos seus sintomas e viver de acordo com os critérios de pureza da sociedade em que vive? Um exemplo é o matemático John Forbes Nash que ganhou o Nobel de matemática. O gênio afirmou que acreditava em aliens e que estes lhe deram uma missão de salvar o mundo. Forbes declarou: “As minhas ideias sobrenaturais vieram da mesma maneira que as matemáticas. Por isso, decidi levar as duas igualmente a sério”.

John-Forbes-Nash
Fonte: encurtador.com.br/pIW02

Mas o que é normal e o que é anormal? Canguilhem (1943) afirma que normalizar seria impor uma exigência a uma existência. O anormal, do ponto de vista lógico, deve ser posterior à definição do normal, designando a negação deste. E complementa que a ausência de normalidade não constitui o anormal. Isto por que o patológico também seria normal, já que a doença está inclusa na experiência do ser vivo.

Isto me gerou outro questionamento: ‘A bíblia foi escrita por quem?’. Pelo próprio Jesus e por apóstolos usados por Deus, e estes mesmos declararam que Jesus os havia enviado para cumprir uma missão. Atualmente existem religiões em que se pode falar com mortos e que se tem diversas práticas sobrenaturais. E lhes pergunto: De acordo com o CID 20, não seriam estas pessoas esquizofrênicas? Por que multidões acreditam e respeitam os ditos apóstolos que nem mesmo conheceram e os toma como enviados de Deus, e atualmente a população zomba de pessoas que dizem terem recebido uma missão do próprio Jesus Cristo?

Em 2017 o jovem Bruno Borges, de 24 anos escreveu 14 livros escritos à mão. O jovem tinha em seu quarto um quadro em que era tocado por um extraterrestre e o mesmo falava para a mãe que estava escrevendo 14 livros que iriam mudar a humanidade de forma positiva. Nas redes sociais alguns hipotetizavam que ele seria a reencarnação do filósofo Giordano Bruno, já outros acreditavam que ele seria louco. E você, o que acha? Qual a diferença dos enviados com missões sobrenaturais de época em relação aos atuais?

Fonte: encurtador.com.br/fswy6

Canguilhem (1943) afirma que o estado patológico também é uma forma de viver. E assim como Freud, o sociólogo acredita que saúde é a capacidade de adaptar-se ao meio. O que seria o normal então? Para Canguilhem “o normal é viver num meio onde flutuações e novos acontecimentos são possíveis” (p.188). Logo, conceituar um ´´ideal normal“ acontece por meio da estatística. Sendo assim, o conceito de normal é singular e depende da concepção, ressignificação e tolerância de cada um, pois o todo faz parte da estatística, mas a maioria de cada pesquisa é vista como a ideal.

Bauman (1998) diz que aquele que não se adequa ao critério de pureza, o ideal social, é impuro. Logo a sociedade, na maioria das vezes, julga que a impureza corrompe o ideal social. O que ajuda a explicar o porquê da existência de manicômios. É uma maneira, aceita socialmente, de elimina-los como sinônimos da desordem. O sociólogo afirma:

A pureza é um ideal, uma visão da condição que ainda precisa ser criada, ou da que precisa ser diligentemente protegida contra as disparidades genuínas ou imaginadas. Sem essa visão, tampouco o conceito de pureza faz sentido, nem a distinção entre pureza pode ser sensivelmente delineada. (BAUMAN ,1998, pp.13-14)

Desta forma, o que desvia da linha da ideal causa medo, assim como o desconhecido. Você já se questionou que o porquê dos vestibulares de Medicina, Direito e Psicologia são tão disputados? Eu me atrevo a dizer que é por que o médico detém de certa forma o poder da vida, o advogado o poder da persuasão, o psicólogo o poder sobre a mente. São formas de ter o saber para ter o controle sobre o outro, mas tudo em nome da ciência. Ao meu ver o homem sempre gostou de ter o controle, tenta formular uma teoria para tudo, pois o inexplicável é angustiante, logo não é controlável, medido e explicado. É como se tivesse um estranho no meio. Para Bauman (1999, p.64), “o estranho é um membro… da família dos indefiníveis…”.

Fonte: encurtador.com.br/oUWX5

Como já foi supracitado, para afirmar a existência de determinada doença, primeiro precisou existir o doente. Ou seja, cada doença existente foi estranha um dia. Segundo Bauman (1998, p.27):

[…] cada espécie de sociedade produz sua própria espécie de estranhos e os produz de sua própria maneira, inimitável. Se os estranhos são as pessoas que não se encaixam no mapa cognitivo, moral ou estético do mundo – num desses mapas, em dois ou em todos três; se eles, portanto, por sua simples presença, deixam turvo o que deve ser transparente, confuso o que deve ser uma coerente receita para a ação, e impedem a satisfação de ser totalmente satisfatória; se eles poluem a alegria com a angústia (…) se, em outras palavras, eles obscurecem e tornam tênues as linhas de fronteira que devem ser claramente vistas; se, tendo feito tudo isso, geram a incerteza, que por sua vez dá origem ao mal-estar de se sentir perdido – então cada sociedade produz esses estranhos.

Seria então a loucura plástica, em que muda com o tempo e depende das necessidades de cada comunidade, sociedade ou país? Antes a depressão era vista como loucura, era um tabu. Hoje em dia a visão tem mudado, isto por que muitas pessoas são acometidas pela mesma. Desta forma o social uniu forças e  técnicas de se ajustar ao meio são formalizadas. É até comum se ouvir: ´´quem nunca teve depressão?“. Há 13 anos  eu ouvia frequentemente que psicólogos eram para loucos, e hoje já ouço que psicólogos são justamente para quem não quer enlouquecer. 

Diante do que foi exposto, não quero anular a existência das doenças, muito pelo contrário, quero abrir um leque de reflexões sobre ´´nossas certezas“ em julgar que uma pessoa acometida por alguma psicopatologia deva ou não viver em sociedade. E sigo a me questionar o que é loucura, e se algum dia a esquizofrenia e o TAB acometerão tantas pessoas quanto a depressão, e dessa forma será aceita socialmente. Afinal, quem é estranho, a maioria ou a minoria? Sendo assim, seguimos ´´descobrindo novas loucuras“ e normalizando outras? Eis a questão. 

Fonte: encurtador.com.br/gmDN8

Referências

BAUMAN, Zygmunt. O mal-estar da pósmodernidade. – Rio de Janeiro, RJ:Jorge Zahar Editor, 1998.

F20-F29 Esquizofrenia, transtornos esquizotípicos e transtornos delirantes. Encontrado em < http?//www.datasus.gov.br/cid10/V2008/WebHelp/f20_f29.htm > acessado em 01/05/2019

FULGÊNCIO, C., G1 AC — Rio Branco. Jovem deixou 14 livros escritos à mão e criptografados antes de sumir, diz mãe. Encontrado em < https://g1.globo.com/ac/acre/noticia/jovem-deixou-14-livros-escritos-a-mao-e-criptografados-antes-de-sumir-diz-mae.ghtml > acessado em 01/05/2019.

FREUD, S. O ego e o id. Rio de Janeiro: Imago; 1976. 

JULIO, R.A. A linha entre loucura e genialidade é mais tênue do que se imaginava. Encontrado em < https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2014/10/linha-entre-loucura-e-genialidade-e-mais-tenue-do-que-se-imaginava.html > acessado em 01/05/2019.

SERPA, O. (2003). Indivíduo, organismo e doença: a atualidade de “o normal e o patológico” de Georges Canguilhem. Psicologia Clínica, 15(1),121-135.

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Redução de danos como uma prática de cuidado às pessoas que usam drogas

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Quando suportamos a função de cuidador, navegamos por águas escuras e operamos manobras de alta complexidade.

Antonio Lancetti, 2006

O debate sobre RD remonta a meados da década de 1920, na Inglaterra, com a utilização da heroína no tratamento de usuários desta droga, que mantinham relação prejudicial, de modo a minimizar os efeitos prejudiciais da substância injetável e garantir o acesso a direitos básicos. Desta ação, foi produzido e publicado o Relatório Rolleston, em 1926, tornando-se um marco no tratamento do uso prejudicial de álcool e outras drogas (FONSECA, 2005).

Anos mais tarde, em 1980 na Holanda, a RD abriu possibilidade para novos diálogos sobre drogas, após uma ação comunitária perpetrada por um grupo de usuários de substâncias injetáveis (SOUSA; CARVALHO, 2015). À época, havia um número expressivo de usuários de drogas contaminados com Hepatite B, o que desencadeou a mobilização, tensionando o poder público a criar Programas de Trocas de Seringas, que consistia na troca de seringas usadas, por estéreis (FONSECA, 2005). Ainda segundo a autora, além da troca de seringas, o Programa passou a dispor de uma diversidade de insumos (algodão, água potável, bicarbonato de sódio), não somente nos centros de saúde, como também nas cenas de uso (FONSECA, 2005).

Na mesma época, nos Estados Unidos, os primeiros casos de HIV/AIDS começaram a ser detectados. “Com o desenvolvimento dos testes para detectar o HIV, a situação se revelou bastante mais grave: cerca de metade dos UDI (usuários de drogas injetáveis) de Nova Iorque estavam infectados pelo vírus da AIDS” (FONSECA, 2005). Na Europa, chegavam a 30% de pessoas infectadas entre usuários de substâncias injetáveis (TELLES, 2004 apud FONSECA, 2005), e as estratégias de RD foram ganhando força, agora não mais como foco na dependência de drogas, mas como prevenção de doenças infecciosas, como Hepatite B e HIV/AIDS.

Fonte: encurtador.com.br/fnyJL

No Brasil, a primeira tentativa de utilizar estratégias de RD se deu em Santos, em 1989 (PETUCO, 2014; FONSECA, 2005). No entanto, fazer redução de danos na época era tido como crime equivalente ao de traficar drogas, pois os operadores do direito compreendiam como “apologia ao uso”, baseados no argumento legal da Lei nº 6368/76 (FONSECA, 2005).

Em 1995, deu-se início o primeiro Programa de Redução de Danos no Brasil, na cidade de Salvador/BA, como projeto de extensão da faculdade de Medicina na Universidade Federal da Bahia (PETUCO, 2014; FONSECA, 2005). Em 1997, foi criada a ABORDA, constituída por profissionais redutores de danos de diversas áreas, usuários de drogas e pessoas comprometidas com a pauta (PETUCO, 2014; FONSECA, 2005).

Somente em 2005, as ações de RD foram regulamentadas, por meio da Portaria nº 1028, e mais tarde, foram incorporadas à Atenção Primária, com a Portaria nº 2488/2011, com as equipes de Consultório na Rua (TEIXEIRA et. al., 2017), e compreende enquanto eixos norteadores de atenção integral à saúde: a educação e informação, a assistência e a disponibilização de insumos de proteção à saúde (BRASIL, 2005).

Fonte: encurtador.com.br/elnB6

Desse modo, o artigo 9º da referida Portaria vem “Estabelecer que as ações de redução de danos devem ser desenvolvidas em consonância com a promoção dos direitos humanos, tendo especialmente em conta o respeito à diversidade dos usuários ou dependentes de produtos, substâncias ou drogas que causem dependência” (BRASIL, 2005).

Contrapondo a Portaria que versa sobre a Política de Redução de Danos, as práticas de recolhimento, vide exemplo da megaoperação policial realizada na cracolândia em São Paulo em junho de 2017, possuem intrinsecamente o propósito de higienismo social, internando involuntariamente usuários de drogas nas comunidades terapêuticas nas quais são submetidos a tortura, trabalho compulsório e punições severas. Os mecanismos de assujeitamento do “novo sujeito manicomial”, o usuário de droga, vincula o tratamento a noção de castigo, com bases em uma moral cristã fundante do Estado brasileiro.

A lógica da abstinência, e a consequente postura de negação do diálogo sobre o uso de drogas, está tão arraigada no discurso e postura dos serviços direcionados para usuários de drogas, que mesmo estes são capturados por esse discurso.

Fonte: encurtador.com.br/hnuE5

A Resolução N 01/2018 do Conselho Nacional de Política sobre Drogas (CONAD), implica em uma mudança significativa no que tange a política sobre drogas no Brasil, enfatizando a abstinência como única estratégia de intervenção e a internação como instrumento para atingir esse fim. Além disso, reforça o financiamento das comunidades terapêuticas, ao passo que propõe o sucateamento dos serviços substitutivos, como os CAPS AD e demais dispositivos de reintegração social sob a ótica da redução de danos.

Na atual configuração dos equipamentos de saúde, embora ultrapassada, em sua maioria agenciada pela lógica da abstinência, a RD busca ativar um movimento de afirmação política, uma vez que inaugura um dispositivo, que opera na prática novas formas de ver, pensar, agir e sentir sobre as drogas (SOUZA, CARVALHO, 2015). Nesse ínterim, a RD não se limita ao binarismo “sim às drogas” versus “não às drogas”, tal qual a abstinência, mas emerge como possibilidade de acolher os indivíduos em suas singularidades, aproximando-se do princípio da Universalidade preconizado pela Lei nº 8080, que institui o Sistema Único de Saúde (SUS).

Fonte: encurtador.com.br/qCK29

Em contrapartida, a lógica da abstinência entra em desacordo com a lei supracitada, uma vez que condiciona o acesso ao tratamento em saúde somente àqueles que desejam parar de usar drogas. Segundo Petuco (2014), a abstinência pode ser eventualmente alcançada no processo de tratamento, no entanto, não deve ser posta como objetivo final.

Para Souza e Carvalho (2015), a RD pressupõe três conclusões: nem todas as experiências com drogas são danosas; nem todos os indivíduos que têm experiências danosas com drogas desejam parar de usá-las; e os danos podem ser de diversas ordens, devendo as ações de saúde abarcá-las em sua integralidade.

Os trabalhadores que militam pela RD enquanto “trabalhadores afetivos”, tomando emprestado o conceito de Toni Negri e Michael Hardt (2000) são aqueles que fazem parte do território existencial e geográfico, promovem saúde onde a clínica (trans)borda, entram em sintonia com as pessoas e seus processos para, então, tornarem-se alternativa de autonomia e cuidado.

Fonte: encurtador.com.br/fpsEQ

Pensar a RD não é pensar uma prática fechada, reproduzida em estratégias fabris e em série, mas pensar um ethos de cuidado que valoriza a experiência particular dos sujeitos e é construída singularmente. É, portanto, um paradigma ético de experimentação e um dispositivo que opera uma nova prática.

Como se encontra a política sobre drogas atualmente?

Recentemente o Ministério da Saúde lançou uma nota técnica reafirmando a resolução número 01/2018. Nesta, instaura-se que as estratégias de tratamento deverão ser baseada na lógica da abstinência, excluindo qualquer ação voltada para a política de redução de danos.

Diante disso, retoma-se ou porque não dizer, intensifica-se, a conhecida guerra às drogas, que se apresenta como uma guerra desigual e ineficaz. Primeiro, por ter como alvo de seus principais ataques às populações pobres, negras e que “sujam” a sociedade. Segundo, por não levar em consideração a baixa eficiência dos tratamentos que objetivam a abstinência, visto que é alta a reincidência do uso após o período de reclusão em abstinência (SANTOS e COSTA-ROSA, 2007).

Fonte: encurtador.com.br/dwAQV

Outras decisões da nota técnica que não estão diretamente ligadas a política de drogas, mas estão ligadas a política de saúde mental como um todo, adotam a volta dos hospitais psiquiátricos, a volta do uso da Eletroconvulsoterapia, e ainda usa de termos como ´´manicômio“ e ´´superlotação de Serviços de Emergência com pacientes aguardando por vagas para internação psiquiátrica“, deixando claro o quanto a segregação das pessoas que possuem algum transtorno mental se mostra como uma possibilidade.

Tais mudanças representam um enorme retrocesso a todas as correntes quebradas e as que vinham se quebrando desde a Reforma Psiquiátrica, em relação ao oferecimento de tratamentos que enxergassem os sujeitos com um olhar biopsicossocial. Ainda, perde-se aos poucos a liberdade concedida aos pacientes que antes eram “limpados” da sociedade e depositados em instituições de reclusão com a justificativa de um bom tratamento, quando na realidade desejavam excluí-los dos ambientes sociais tradicionais.

Fonte: encurtador.com.br/ivBC9

Diante disso o Conselho Federal de Psicologia (CFP), entende que tal nota técnica representa um regresso às práticas de cuidados punitivas e segregacionistas e que estas vão de encontro ao princípio de respeito à liberdade, dignidade e integridade do indivíduo defendida pelo Código de ética da profissão. Portanto, no dia 8 de fevereiro foi lançada uma nota de repúdio dizendo que “O Conselho Federal de Psicologia (CFP) vem a público manifestar repúdio à Nota Técnica Nº 11/2019 intitulada “Nova Saúde Mental”, publicada pela Coordenação-Geral de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas, do Ministério da Saúde, na última segunda-feira (4). O teor do documento aponta um grande retrocesso nas conquistas estabelecidas com a Reforma Psiquiátrica (Lei nº 10.216 de 2001), marco na luta antimanicomial ao estabelecer a importância do respeito à dignidade humana das pessoas com transtornos mentais no Brasil. (CFP, 2019)”

REFERÊNCIAS:

MANGUEIRA, Suzana de Oliveira et al. PROMOÇÃO DA SAÚDE E POLÍTICAS PÚBLICAS DO ÁLCOOL NO BRASIL: REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA. Psicologia & Sociedade, Pernambuco, v. 27, n. 1, p.157-168, set. 2014. Disponível em: <http://submission.scielo.br/index.php/psoc/article/view/124187/9061>. Acesso em: 07 maio 2019.

PETUCO, D. R. da S.; MEDEIROS, R. G. Redução de danos: dispositivo da reforma? Boletim Drogas e Violência no Campo, [s.l.], [s.n.], mar. 2009.

SANTOS, Clayton Ezequiel dos; COSTA-ROSA, Abílio da. A experiência da toxicomania e da reincidência a partir da fala dos toxicômanos. Estudos de Psicologia, Campinas, v. 24, n. 4, p.487-502, dez. 2007. Disponível em: <https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/29064/S0103-166X2007000400008.pdf?sequence=1&isAllowed=y>. Acesso em: 07 maio 2019.

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Yoga é aliada da Psicologia como Prática Integrativa e Complementar

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Há vários estilos de yoga, e a técnica vem sendo usada por profissionais da saúde como um importante aliado para a mudança de estilos de vida e promoção da saúde – sobretudo a saúde mental

Uma das técnicas de meditação que envolvem aspectos psicofísicos – e espirituais/integrais – mais conhecidas no ocidente, hoje, é o yoga. Trata-se de uma prática originária da Índia, fortemente ligada as tradições hindus e muito difundida no Brasil, Europa e EUA a partir do Vedanta, um conjunto de crenças que busca o despertar espiritual através das ações do cotidiano – que são sacralizadas.

Há vários estilos de yoga, e a técnica vem sendo usada por profissionais da saúde como um importante aliado para a mudança de estilos de vida e promoção da saúde – sobretudo a saúde mental. Neste sentido, o yoga compõe o mix de opções ofertadas pelas Práticas Integrativas e Complementares do SUS – Sistema Único de Saúde, por se entender que o modelo biomédico/biologicista, centrado na medicalização, não consegue atender as demandas apresentadas pelos sujeitos contemporâneos.

Dentro das linhas de yoga há a Kundalini Yoga, que em Palmas é ofertada pela professora Hari Kiran Kaur (Márcia Finelli), uma egressa do Ceulp/Ulbra do curso de Fisioterapia. Hari Kiran Kaur é certificada pelo Internacional Kundalini Yoga Research Institute com aperfeiçoamento em Nível II, Módulos: Ciclos de vida & estilo de vida; Mente e meditação; Comunicação Consciente; Estresse e vitalidade.

De modo resumido, a Kundalini Yoga é uma ciência milenar voltada para a arte de lidar com a expansão da consciência, a partir do despertar da energia Kundalini, composto sutil bioenergético situado na base da coluna. O esforço dos praticantes é fazer subir esta energia pela coluna, a partir de posturas físicas (asanas), intervenções na respiração, além do uso de mantras, dentre outras coisas.

Neste contexto, o Yoga vem sendo cada vez mais usado por profissionais da Psicologia para auxiliar nas intervenções clínicas – sobretudo a partir de abordagens como a Psicologia Junguiana e a Psicologia Transpessoal –, bem como em ações com grupos. Para falar mais sobre este tema, o (En)Cena entrevistou a professora Hari Kiran Kaur. Confira abaixo.

(En)Cena – Quais as contribuições do Yoga para os processos terapêuticos?

Hari Kiran Kaur – O Yoga nos traz a consciência, nos ensina a controlar nossa mente, é um processo de cura para qualquer pessoa e qualquer tipo de doença. Estatisticamente falando 90% das pessoas têm uma mente negativa; se não há um equilíbrio entre as mentes positiva, negativa e neutra, são criadas limitações que geram frustrações que podem se manter internalizadas em nosso subconsciente, levando a algo físico. Nossos pensamentos são primordiais para nossa saúde. Yoga é uma ferramenta importantíssima para gerar o equilíbrio, auxiliando para a diminuição ou extinção de um processo de ansiedade, síndromes de pânico, depressões, onde o aluno passa a tomar consciência da sua responsabilidade no seu processo da própria cura. Se a pessoa não se curar, não vai ter ninguém que poderá fazer isso por ela.

(En)Cena – A psicologia bioenergética e a transpessoal já usam muito o Yoga como suporte/complemento. É possível desvencilhar a prática de seu caráter espiritual?

Hari Kiran Kaur – Desbravando mais uma vez o tema Mente, memórias de um subconsciente carregado por toda nossa vida e com respostas sendo concretizadas na matéria (no corpo como doenças), o Yoga vem nos mostrar e conscientizar que o que o homem vem fazendo consigo mesmo o torna extremamente superficial. Construímos um poder que rodeia o indivíduo. Por exemplo, sempre fazemos as seguintes perguntas: Quantos carros você tem? Quantas casas você tem? Quantos namorados você tem? Que roupa você veste?

O homem está buscando Deus fora de si. O Yoga veio para unir o individual da consciência com a consciência infinita. E a partir da procura deste aluno ou paciente, entra o propósito que ele busca na prática. Mas tornar esta prática espiritual dependerá da crença de cada um. Torna-se possível desvencilhar sim, mas depende de qual linha este aluno irá seguir e como será seu olhar. Segundo a psicóloga Priscila Sobral, as pessoas vão em busca do que faz sentido para elas. ‘Às vezes elas entram em um espaço de Yoga com várias estátuas de deuses Hindus, não se sentem bem… outras pessoas já acham que aquilo faz parte da decoração… tudo vai do que estas pessoas procuram’. As pessoas às vezes confundem o estilo de vida com a religião.

(En)Cena – Você acredita que os terapeutas já focam em intervenções psicofísicas, ou ainda se negligencia o corpo?

Hari Kiran Kaur – Ainda existe uma negação de muitos. Lembro-me do início da acupuntura aqui no Brasil, muitos médicos eram irredutíveis em indicar ao paciente este tipo de tratamento; hoje eles querem o tratamento só para a área da medicina. As mentes estão se abrindo, todos estão conseguindo visualizar a mudança na mente e no corpo. E o acesso que temos via internet está muito fácil, hoje podemos estudar sobre tudo, o que nos limita realmente é a falta de conhecimento. Temos aí um bom livro como, por exemplo, “O Segredo” de Rhonda Byrne, que fez mudar o pensamento de muitas pessoas, temos a física quântica dando sua cara, a Nova Medicina Germânica e por aí vai.

(En)Cena – Em sua opinião é possível ser psicólogo e ser yogi?

Hari Kiran Kaur – É possível ser de qualquer área profissional e ser um yogi.

(En)Cena – O Yoga serve para quem? Há contraindicações?

Hari Kiran Kaur – Yoga é para todos e para todas as idades, não existe contraindicação; alguns exercícios devem ser evitados, por exemplo, em caso de gestantes, temos exercícios que aceleram processos de contrações, mas tudo isso vai ser indicado e todo o cuidado será orientado através do professor. Assim como alunos que apresentem hérnias discais podem fazer Yoga, mas a orientação será primordial para que não haja lesões ou agravamento do quadro clínico.

Quando o aluno entra na sala pela primeira vez, ele não consegue fazer todas as poses, o ganho é gradativo, em longo prazo, mas orientamos que eles fechem seus olhos e se visualizem na pose, este já é um estímulo dado ao cérebro que dará o retorno desejado.

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PRÉ-CAOS 2019: Urologista ministrará Minicurso sobre Sexualidade Masculina

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No primeiro semestre de 2019, o Congresso Acadêmico de Saberes em Psicologia (CAOS) trabalhará com o tema “Psicologia e Sexualidade – corpo, conhecimento e liberdade”. Com o intuito de oferecer uma prévia para o público sobre como será o congresso, a coordenação de Psicologia irá realizar um evento PRÉ-CAOS, que ocorrerá no dia 31 de outubro de 2018, no Ceulp/Ulbra, sob o título “SEXUALIDADE, DIVERSIDADE E LIBERDADE: PRÉ-CAOS 2019”.

Entre os convidados que irão ministrar os minicursos, o Médico Urologista Dr. Adelmo Negre irá ministrar o minicurso ´´Sexualidade Masculina: Saúde e Disfunções Sexuais. Negre é Médico (UFTM), especialista em Cirurgia Geral e Urologia (UFTM) Estágios de Aperfeiçoamento em Uro-Oncologia e Urologia Pediátrica pela Divisão de Clínica Urológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, São Paulo-SP. Professor de Urologia junto à Coordenação do Curso de Medicina do Campus Universitário de Palmas da Fundação Universidade Federal Do Tocantins. Preceptor da Residência Médica e Internato, na área de Clínica Cirúrgica, da Fundação Universidade Federal Do Tocantins. Professor da LAUS – Liga Acadêmica de Urologia e Saúde do Homem Da Fundação Universidade Federal Do Tocantins.

As inscrições são gratuitas e podem ser realizadas pelo linkCom a participação no evento, os inscritos receberão certificado de 10 horas.

Confira a programação completa:

– Cine Alteridade Especial: filme “A garota dinamarquesa”, das 12h às 14h, sala 220 F;

– Minicurso 1: Sexualidade Masculina: saúde e disfunções sexuais, com Dr. Adelmo Aires Negre, das 15h às 17h, sala 221

– Minicurso 2: Terapia Sexual: a vida com mais prazer, com Sexóloga Glícia Neves da Costa, das 15h às 17h, sala 223

– Minicurso 3: Sexualidade Feminina: saúde e disfunções sexuais, com Dra. Marcia Cristina Terra de Siqueira Peres, das 15h às 17h, sala 227

– Teste rápido, com o Núcleo Henfil, das 17h às 19h, nas salas 424 e 425

– Sarau, das 17h às 19h, no hall do Núcleo Alteridade

– Mesa redonda, das 19h às 22h, no auditório central, com os profissionais:

– Dhieine Caminski, psicóloga, especialista em Saúde da Família (UNIVALI) e gerente de Saúde Mental da SEMUS – Palmas

– Gleidy Braga, jornalista e bacharela em Direito, especialista em Gestão e Políticas Públicas (FESPSP) e mestranda em Desenvolvimento Regional (UFT)

– Pierre Brandão, educador físico (CEULP), fisioterapeuta (FUNEC), mestre em Gerontologia (UCB) e doutor em Educação Física (UCB)

– Rafaela Alexandra Vieira, economista, especialista em Gestão Pública, Gestão de Pessoas. Gerenciamento de Projetos e Orçamento de Finanças Públicas e vice-presidente da ATRATO (Associação das Travestis e Transexuais do Estado do Tocantins).

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Eugênio Vilaça Mendes e a Atenção Primária à Saúde

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Deve-se reconhecer que o SUS possui uma estruturação que permite seu funcionamento eficaz, mas existem dificuldades para colocar em prática da maneira correta.

A Atenção Básica pode ser caracterizada como “um conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrangem a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação e a manutenção da saúde” (LAVRAS,2011, p.868). Além disso, ela é orientada seguindo os princípios da universalidade, acessibilidade e da coordenação do cuidado, do vínculo e continuidade, da integralidade, da responsabilização, da humanização, da equidade, bem como da participação social.

Eugênio Vilaça Mendes fez uma discussão sobre a Atenção Primária à Saúde (APS) nas Redes de Atenção à Saúde e inicia comentando sobre a situação da saúde no Brasil. Segundo ele, um dos motivos que contribuem com a tripla carga de doenças é a transição demográfica, a qual resulta em uma população maiormente idosa, ou seja, pessoas que são naturalmente mais suscetíveis à doenças.

Além disso, a maioria dessas doenças são crônicas. Outro fator importante é a agenda não concluída de infecções, desnutrição e problemas de saúde reprodutiva, a forte predominância relativa das doenças crônicas e de seus fatores de risco, como tabagismo, sobrepeso, inatividade física, uso excessivo de álcool e outras drogas e alimentação inadequada. Também, o crescimento das causas externas (fruto do fenômeno da urbanização e violência).

Fonte: https://goo.gl/9KsWng

Deve-se reconhecer que o SUS possui uma estruturação que permite seu funcionamento eficaz, mas existem dificuldades para colocar em prática da maneira correta. Sendo assim, Eugênio expõe que o problema crítico do SUS é a incoerência entre uma situação de saúde que combina transição demográfica acelerada e tripla carga de doença, com forte predominância de condições crônicas, e um sistema fragmentado de saúde que opera de forma episódica e reativa e que é voltado principalmente para a atenção às condições agudas e às agudizações de condições crônicas. A condição crônica exige uma resposta social proativa, contínua, dos sistemas de atenção à saúde.

Vilaça acredita que a causa fundamental da crise do SUS, bem como do sistema privado no Brasil é que sistema utilizado é fragmentado, opera de forma episódica e reativa e que se volta principalmente para questões agudas e paras as agudizações crônicas. Já que o manejo clínico para as condições crônicas “se constitui em processo complexo que envolve o desenvolvimento de práticas de autocuidado, abordagens multiprofissionais e garantia de continuidade assistencial, o que só pode ser obtido através de sistemas integrados” (LAVRAS,2011,p.871).

O descompasso entre fatores contingenciais que evoluem rapidamente, como:transição demográfica, transição epidemiológica e inovação tecnológica, além dos fatores internos (cultura organizacional,recursos, sistemas de incentivos, estilos de liderança e arranjos organizativos) justificam uma situação de saúde do século XXI sendo respondida socialmente por um sistema de atenção à saúde da metade do século XX. É possível perceber que existe uma dificuldade do sistema em adaptar -se às mudanças, o que resulta no dilema que se baseia em como acelerar as mudanças no sistema já que esses fatores citados acima são bem vindos.

Fonte: https://goo.gl/8gaJDd

Eugênio expõe que o sistema praticado hoje é baseado no sistema ainda do século XX, quando metade das mortes era por causas infecciosas. Para ele, a crise é universal, ou seja, até nos EUA há problemas com casos de diabetes, significa que a crise ocorre independente do volume de recursos. Semelhante à esse posicionamento, Lavras (2011) também acredita que é necessário valorizar e legitimar as práticas que estão em desenvolvimento, mas antes deve-se superar um padrão cultural pré- estabelecido tanto na sociedade como no aparelho formador.

Após apontar as dificuldades que permeiam o sistema, Vilaça sugere uma solução possível para a crise fundamental do SUS: proposta da rede de atenção à saúde. Sua ideia consiste no restabelecimento da coerência entre a situação de saúde com transição demográfica acelerada e tripla carga de doença com predomínio relativo forte de condições crônicas e um sistema integrado de saúde que opera de forma contínua e proativa e voltado equilibradamente para a atenção às condições agudas e crônicas.

Se seguir a lógica da atenção às condições agudas de modo geral, o sistema poderá ser descontínuo, fragmentado e reativo. Mas isso não se aplica às condições crônicas. Pois, assim como afirma LAPÃO et al (2017, p. 714), espera-se que uma APS não restrinja a “um nível de serviço ou focalizada em grupos em situação de pobreza, mas capaz de assumir a coordenação de todos os seus usuários e a integração do seu sistema”.

Fonte: https://goo.gl/MsrfUQ

Por fim, Vilaça fala sobre os elementos importantes para composição das rede de atenção à saúde, quais sejam:

– uma população: a população adscrita à rede de atenção à saúde.

– um modelo lógico: O modelo de atenção à saúde.

-uma estrutura operacional: os componentes da rede de atenção à saúde.

Vale ressaltar que a população de uma rede não é a mesma contabilizada pelo IBGE, mas sim a população efetivamente cadastrada na atenção primária de saúde. Portanto, para que a APS no SUS possa desempenhar esse papel com efetividade grandes medidas devem ser tomadas conjuntamente pelas três instâncias de gestão do SUS, visando seu fortalecimento.

REFERÊNCIAS

LAPÃO,Luís Velez; ARCÊNCIO, Ricardo Alexandre; POPOLIN, Marcela Paschoal e RODRIGUES, Ludmila Barbosa Bandeira. Atenção Primária à Saúde na coordenação das Redes de Atenção à Saúde no Rio de Janeiro, Brasil, e na região de Lisboa, Portugal. Ciência & Saúde Coletiva, 22(3):713-723, 2017.

LAVRAS, Carmem. Atenção Primária à Saúde e a Organização de Redes Regionais de Atenção à Saúde no Brasil. Saúde Soc. São Paulo, v.20, n.4, p.867-874, 2011.

MENDES, Eugênio Vilaça, 2012.  A APS nas Redes de Atenção à Saúde. Disponível em:<https://www.youtube.com/watch?v=_U9Yx02xwgA&list=PLQ2Ue6m-QUZI0lQ500NMIqX N2rgEHUwir>. Acessado em: 04 de outubro de 2018.

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Rede de Atenção Psicossocial: Dhieine Caminski fala sobre a RAPS

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De acordo com o Ministério da Saúde (2017), dentro das diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), propõe-se a implantação de uma rede de serviços aos usuários que seja plural, com diferentes graus de complexidade e que promovam assistência integral para diferentes demandas, desde as mais simples às mais complexas/graves. As abordagens e condutas devem ser baseadas em evidências científicas. Esta política busca promover uma maior integração social, fortalecer a autonomia, o protagonismo e a participação social do indivíduo que apresenta transtorno mental. Os pacientes que apresentam transtornos mentais, no âmbito do SUS, recebem atendimento na Rede de Atenção Psicossocial (RAPS).

Acadêmicas de Psicologia do CEULP/ULBRA, em colaboração com o (En)Cena, entrevistaram Dhieine Caminski, que falou sobre a RAPS. Dhieine é psicóloga Especialista em Saúde da Família, possui experiência na área Clínica, Psicologia Pediátrica, Estudos de Gênero, Violência e Saúde, Psicanálise, Saúde Coletiva, Educação Permanente em Saúde e Gestão no SUS. Atualmente trabalha como Gerente de Saúde Mental da Secretaria da Saúde de Palmas/TO na gestão dos processos de trabalho de assistência em saúde mental dos serviços da atenção especializada (ambulatório de psiquiatria, ambulatório de saúde mental infanto-juvenil, CAPS II, CAPS AD III); articulação de todos os pontos da Rede de Atenção Psicossocial.

Fonte: https://bit.ly/2x1GlXT

(En)Cena – Como surgiu a RAPS?

Dhieine Caminski – Surgiu a partir da organização de um movimento da luta antimanicomial que tentava trazer a lógica do cuidado em saúde mental para além do hospital e território com práticas que visassem não segregar as pessoas com transtorno mental. Em 2001 entrou em vigor a lei 10216, que ficou conhecida como a Lei da RAPS, que fala dos diretos básicos de pessoas com transtornos mentais.

(En)Cena – Como funciona a RAPS?

Dhieine Caminski – A RAPS é formada por vários dispositivos dentro do Sistema Único de Saúde, dentro do SUS nos temos as RAS (Rede de Atenção em Saúde), a Rede de Atenção de Urgências e Emergências, a Rede Materno-Infantil, Rede de Condições Crônicas.

(En)Cena – Quais são os dispositivos que acompanham a RAPS?

Dhieine Caminski – Centro de Saúde da Comunidade de Palmas, o CAPS II, o CAPS AD III, as UPAS, as policlínicas, os ambulatórios, cada um com uma função específica.

(En)Cena – Qual a política da RAPS?

Dhieine Caminski – A política da RAPS é regida pela lógica de redução de danos, quando uma pessoa procura, por exemplo, o CAPS AD III para deixar de usar drogas ou álcool essa é uma vontade que ela tem, não aquilo que o serviço impõe. A RAPS vai trabalhar com ela para que ela não tenha mais um uso prejudicial daquela substância, embora a sociedade estimule o uso de algumas substâncias, na mídia, nos bares, supermercados, a equipe esta lá para ofertar saúde, se ele quer tentar abandonar o vício através da abstinência, a equipe estará lá para apoiá-lo.

(En)Cena – Em Palmas quais locais estão habilitados para ofertar serviços para as pessoas com algum tipo de transtorno?

Dhieine Caminski – Grupos comunitários, hospitais, o CAPS AD III que oferta serviço para o uso prejudicial de álcool e outras drogas, CAPS II que oferta serviço para transtornos mentais que não estão associados ao uso de álcool e outras drogas.

(En)Cena – Como se dá o acesso das pessoas a esses CAPS?

Dhieine Caminski – Os dois CAPS trabalham na modalidade portas abertas para o usuário, ou seja, qualquer pessoa que chegar lá vai ter o acolhimento inicial e será feita uma avaliação, onde depois a equipe se reúne e verifica qual o melhor atendimento à esse usuário, sendo que o atendimento é inteiramente gratuito.

(En)Cena – Quais são os horários de atendimentos nesses CAPS e quais profissionais atendem neles?

Dhieine Caminski – O CAPS II tem seu funcionamento de segunda a sexta feira das 07 da manhã ás 18 da tarde, já o CAPS AD III funciona 24 horas todos os dias da semana, mas o acolhimento inicial se dá das 7 da manhã às 19 horas, quando se tem ainda um número maior da equipe trabalhando e por uma questão de segurança. Os profissionais do CAPS II formados por médico clínico geral, psiquiatra, assistente social, psicólogo, terapeuta ocupacional, fisioterapeuta, artesão e os assistentes administrativos. Já no CAPS AD III, se tem basicamente a mesma equipe, mas um número maior de enfermeiros devido a retaguarda de 24 horas, pois temos 12 leitos, que não são de internação (HGP ou UPA ),  que visam uma retaguarda psicossocial, pessoas que tenham fragilidades, passam o período de desintoxicação em até  14 dias, para então restabelecer os vínculos com a família.

(En)Cena – A RAPS atende só o usuário ou a família também?

Dhieine Caminski – Sim, além de atender o usuário, procura-se também dar o suporte a família, para que esta saiba lidar com os conflitos. Possuímos atendimentos individuais e em grupos, porém muitos familiares obrigam o parente a ir, mas elas não vão, dificultando a proximidade com as famílias.

(En)Cena – Dentro de Palmas qual é a maior demanda?

Dhieine Caminski – A maior demanda hoje se trata do álcool, chegando ao número de 93% de usuários que acessam o CAPS AD e o álcool é a porta de entrada para outras drogas.

(En)Cena – Como funciona a RAPS nos hospitais?

Dhieine Caminski – Nós podemos referenciar o Hospital Dona Regina no caso das mulheres e gestantes, o Hospital Infantil no caso de crianças e adolescentes com transtornos mentais, associados ao uso de álcool e outras drogas. Hoje a referência de leitos psiquiátricos é no HGP, onde é feita a avaliação da equipe multiprofissional para fazer ou não a internação.

(En)Cena – Qual o maior problema enfrentado pelo CAPS e pela RAPS?

Dhieine Caminski – Falta de apoio dos territórios, falta do CSC (Centro de Saúde da Comunidade) entender que não é apenas um paciente só do CAPS, mas da RAPS, hoje  a maior dificuldade nos funcionários dos CAPS é fazer com que  atenção primária entenda seu papel de articuladora da rede de atenção psicossocial,  fazendo com que o enfermeiro e o médico lá da atenção primária também atendam esse usuário, pois a RAPS tem um foco que é o sofrimento mental, mas essa pessoa vai ter necessidades diversas no seu cotidiano, é um preventivo, uma questão de um clínico geral, uma gripe, coisas do cotidiano e não é no CAPS que essa pessoa vai ter esse tipo de atenção, é no Centro de Saúde. Só que as pessoas que tem um transtorno um pouco mais moderado/grave na verdade têm pouco acesso, porque as pessoas têm muito preconceito e esse preconceito afasta o acolhimento. E essa pessoa percebe que no CAPS ela tem um melhor acolhimento e aí ela quer ser atendida só  no CAPS.

(En)Cena – Qual é o desafio que a RAPS visualiza no momento?

Dhieine Caminski – Estamos no mês de setembro, o Setembro Amarelo, onde se trabalha a campanha de prevenção ao suicídio, mas o fato é que nesse mês se tem um aumento dos números de tentativas de suicídio e notificações, quer dizer que as pessoas estão mais atentas aos números de notificações, na realidade não, há muita gente falando de suicídio de maneira não qualificada. Esse é o desafio que o serviço de saúde mental enfrenta, porque falar de uma maneira qualificada é falar de acordo com os parâmetros da Organização Mundial da Saúde, da Associação Brasileira de Psiquiatria, Associação Brasileira de Saúde Mental, que estimulam um diálogo focado na prevenção, em vez de falarmos do suicídio temos que falar daquilo que previne o suicídio, falar de habilidades emocionais, tolerância a frustração, vínculos familiares, afetivos, sociais, endossar outras relações sociais para prevenir. Se recebe muitos casos de ideação, tentativas, de automutilação, precisa-se ter muita responsabilidade para tratar desses casos na rede. Estamos traçando estratégias que vão ser tratadas num fórum de saúde mental para trabalharmos esse problema.

(En)Cena –  Quem mais procura tratamento no caso de álcool e outras drogas: homem ou mulher?

Dhieine Caminski – O homem! A mulher ainda tem esse tabu, elas usam, mas não contam, pela questão do machismo mesmo. É aceito socialmente que o homem use o álcool, por exemplo, mas para a mulher não. Tem se trabalhado nos centros de saúde essa conscientização de que a mulher precisa de ajuda e não está conseguindo procurar.

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APAE de Palmas e seus desafios – (En)Cena entrevista Suelma Sousa

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Segundo a FEAPAES – TO (Federação das APAES do Estado do Tocantins), a missão do Movimento Apaeano é principalmente atuar na defesa e garantia de direitos para melhorar a condição de vida da pessoa com deficiência intelectual e múltipla. Para tanto, conhecer as políticas públicas voltadas para as áreas da saúde, educação, trabalho, assistência social, esporte e lazer, entre outras é de fundamental importância, assim como conhecer das diretrizes aprovadas pela Federação Nacional das APAE’s e de utilização obrigatória pela Rede Apaeana.

Acadêmicas de Psicologia do CEULP/ULBRA, em colaboração com o (En)Cena, entrevistaram Suelma Sousa, que atua como enfermeira na APAE (Associação de Pais e Amigos Excepcionais) de Palmas – TO.

Símbolo da APAE – Palmas/TO

(En)Cena – O que é a APAE?

Suelma Sousa – É uma Associação de Pais e Amigos Excepcionais. Temos vários profissionais que atendem na área de saúde como enfermeiro, fonoaudiólogo, fisioterapeuta, psicólogo, assistente social, entre outros, e temos a parte da educação. Os pais buscam na APAE uma oportunidade de ensino especializado que atenda a demanda deles.

(En)Cena – Qual o público de vocês?

Suelma Sousa – Nós atendemos pessoas a partir de zero anos de idade, podendo passar dos 60. Trabalhamos com pessoas com síndrome de down, retardo mental (leve, moderado), autismo, paralisia cerebral. De 0 a 5 anos trabalhamos com a estimulação precoce.

(En)Cena – Você saberia dizer há quanto tempo a APAE atua em Palmas?

Suelma Sousa – Olha, acredito que mais ou menos 20 anos.

(En)Cena – Como funciona o procedimento de entrada do usuário aqui?

Suelma Sousa – O usuário passa por uma triagem onde tem o psicólogo, que depois encaminha para o/a assistente social e para o enfermeiro, aí se for comprovada a necessidade de ele ser um aluno APAE, então o psicólogo encaminha para a Secretaria Pedagógica para realizar a matrícula na Escola Especial de Integração de Palmas.

(En)Cena – Você acha esse procedimento de entrada fácil e eficaz tanto para o usuário como para você profissional?

Suelma Sousa – Sim, com certeza, e vai melhorando cada vez mais. O paciente normalmente chega com o laudo médico, mas quando não tem, encaminhamos para um neurologista.

(En)Cena – Então nem sempre vocês têm todos os profissionais de que precisam, tendo que fazer encaminhamentos.

Suelma Sousa – Sim, quando o paciente não tem um laudo médico, precisamos fazer o encaminhamento para comprovar a necessidade de ele se tornar um aluno da APAE.

(En)Cena – Você sente a necessidade de ter os profissionais trabalhando aqui ou está tranquilo como estão fazendo os encaminhamentos? Sente falta de mais profissionais trabalhando com vocês?

Suelma Sousa – Ia facilitar se tivéssemos um psiquiatra, neurologista. Porque o neurologista que temos hoje atende de forma voluntária, então ele atende um aluno por semana, e as vezes a demanda é muito grande, então ia ajudar demais se tivéssemos um profissional com a gente.

(En)Cena – E o que você acha da atuação do psicólogo nesse processo? Acha que poderia melhorar?

Suelma Sousa – Acho que quanto mais profissionais melhor, porque o processo de matrícula depende do psicólogo primeiramente.

(En)Cena – Você sabe da existência da Rede de Atenção e Cuidado à Pessoa com Deficiência? Sabe que a APAE é apenas um dos pontos dessa Rede?

Suelma Sousa – Não sabia.

(En)Cena – Você acha que o ambiente na APAE é ideal para a demanda?

Suelma Sousa – Sempre há o que melhorar, em termos de pessoal e de estrutura. Falta alguns equipamentos, na minha área, por exemplo, falta uma sala de lavagem. É, tem muita coisa para melhorar.

(En)Cena – Como acontece o cuidado dentro da APAE com as pessoas que vocês atendem?

Suelma Sousa – Da minha área, verificamos os sinais vitais, atendemos conforme a demanda, por exemplo, se há algumas intercorrências como crises compulsivas, febre alta, dentre outras, e também realizamos visitas nas salas de aula para ver como estão os alunos, realizamos visitas domiciliares conforme a necessidade, para vermos a realidade da família, prestamos o serviço de enfermagem na pré e pós consulta médica, fazemos agendamento de consultas com o doutor que presta serviço voluntário, fazemos acompanhamento dos hipertensos diabéticos, orientações sobre higiene, orientação tal que as vezes necessita da presença de um responsável.

(En)Cena – Você acha que a sociedade hoje tem informações suficientes sobre a APAE?

Suelma Sousa – Talvez uns 50%, depende da divulgação. Mas os que vêm aqui normalmente são indicados ou encaminhados por profissionais da saúde.

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Saúde da População Travesti e Transexual é pauta de reunião da SEMUS

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Acontece na próxima terça-feira, dia 14 de agosto de 2018, às 14 horas, mais uma  reunião sobre a Saúde da População Travesti e Transexual em Palmas – TO, no Auditório da Secretaria Municipal de Saúde – SEMUS.

Dhieine Caminski, gerente de saúde mental na SEMUS, aponta que o objetivo do evento é levantar as necessidades de saúde da população T de maneira geral, como as principais dificuldades de acesso às unidades de saúde, principais situações que não conseguem atendimento, situações de falta de informação dos profissionais, uso do nome social, entre outras.

O evento é aberto ao público e é de suma importância a participação de todos.

Endereço da SEMUS:

Local: Auditório da Secretaria Municipal de Saúde – SEMUS
Av. Teotônio Segurado Ed. Ivanildes Magalhães, Quadra 1302 Sul Conj.01 Lt. 06 – CEP 77.024-650 – Palmas – TO.

Foto: arquivo pessoal.

Quem é Dhieine Caminski?

Psicóloga Especialista em Saúde da Família pela Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), possui experiência na área Clínica, Psicologia Pediátrica, Estudos de Gênero, Violência e Saúde, Psicanálise, Saúde Coletiva, Educação Permanente em Saúde e Gestão no SUS. Atualmente trabalha como Gerente de Saúde Mental da Secretaria da Saúde de Palmas/TO na gestão dos processos de trabalho de assistência em saúde mental dos serviços da atenção especializada (ambulatório de psiquiatria, ambulatório de saúde mental infanto-juvenil, CAPS II, CAPS AD III); articulação de todos os pontos da Rede de Atenção Psicossocial. Atua na formação da Rede de Atenção em Vigilância em Saúde (RAVS) nas políticas públicas inerentes aos eixos – Saúde Mental na Atenção Primária em Saúde; Urgência e Emergência Psiquiátrica, Redução de Danos, Políticas de Equidade, Infância e Adolescência, Medicalização em Saúde e Controle Social em Saúde através do Núcleo de Educação Permanente em Saúde Mental do Plano Municipal de Educação Permanente em Saúde (PMEPS).

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