História da sexualidade I – A vontade de saber

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Dirigido por Gustav Machatý, o filme Êxtase (1933) acabou envolvido em algumas polêmicas porexibir justamente aquilo que o próprio título já denuncia: o gozo sexual. Tratada de forma extremamente sutil, a cena se detém, basicamente, no rosto da bela atriz austríaca Hedy Lamarr (ainda como Hedy Kiesler nos créditos) durante o momento de prazer. Certamente, para os dias atuais, o arrebatamento de Lamarr dificilmente causaria o incômodo que gerou na época de seu lançamento. Afinal de contas, o auge da excitação sexual é apresentado atualmente de modo explícito não apenas no cinema, mas também através de outras formas de arte que, inclusive, são disponibilizadas e facilmente acessadas no mundo virtual. Como exemplo disto temos o trabalho em vídeo do fotógrafo norte-americano Clayton Cubitt, intitulado de Hysterical Literature (Cubitt, 2013). Filmada em preto-e-branco, a série consiste em mostrar como diferentes mulheres reagem, durante a leitura do trecho de um livro, quando são estimuladas sexualmente até atingirem o orgasmo – supostamente sem fingimentos.

Sem adentrarmos na interessante questão da representação do prazer feminino na arte, temos como objetivo aqui chamar a atenção para as mudanças que estão ocorrendo no modo como lidamos com o sexo. Sendo assim, tomando como referência o contraponto que estabelecemos entre o filme de Machatý e os vídeos de Cubitt, podemos interrogar: será que, finalmente, conseguimos nos libertar da repressão que sempre se impôs, de maneira insistente, sobre o que comumente nomeamos de “nossa sexualidade”? Diante de tantos sinais afirmativos – tais como sucessos editorias que vendem sadomasoquismo light, maratonas de masturbação no mês de maio (Masturbate-a-thon), reality shows sobre sexo etc. – enxergamos a liberdade sexual sendo colocada em prática de forma realmente exuberante. No entanto, ao tomarmos algo como certo e incontestável, deixamos de perceber as camadas subjacentes que compõem os fenômenos que estão surgindo, não possibilitando, assim, que sejam revelados os aspectos passíveis de questionamento. E é neste ponto que iremos nos valer da perspectiva do filósofo Michel Foucault em sua história da sexualidade, mais especificamente no primeiro livro que é denominado de A Vontade de Saber.

O que Foucault (1999) nos traz, de modo magistral, é justamente uma desconstrução da ideia de repressão como fator explicativoda relação que a modernidade ocidental estabeleceu como sexo. E isto é feito aoanalisara “hipótese repressiva” a partir de uma forma de poder que funciona não por meio da lei e da proibição, mas sim através da técnica, da normalização e do controle. Desta maneira, conforme constatou o filósofo, o sexo não foi submetido ao silêncio, mas tornou-se, na realidade, o objeto privilegiado de uma intensa produção discursiva, que ganhou maior expressividade no século XIX. Sendo assim, então, duas perguntas podem ser feitas: como a sexualidade foi associada a esse poderde caráter não repressivo, cujo principal campo de investimento é a vida? E, afinal, o que se tem “vontade de saber” sobre o sexo?

Foto: Robert Mapplethorpe

No que diz respeito à primeira questão, “a tese de Foucault é de que a sexualidade foi inventada como um instrumento-efeito na expansão do biopoder” (DREYFUS & RABINOW, 2010, p. 221). É, portanto, através da “sexualidade”– este elemento historicamente constituído enquanto um produto científico, social e moral – que o biopoder pôde atuar e se disseminar congregando os dois pólos que o compõe: o poder disciplinar, que surgiu no final do século XVII e teve o corpo do indivíduo como foco de suas ações por meio da vigilância em ambientes institucionais (como hospitais, colégios, prisões, fábricas etc.); e o poder regulamentar ou biopolítica, que apareceu na segunda metade do século XVIII e apropriou-se dos fenômenos que afetam tudo aquilo que faz parte da existência de uma espécie: nascimento, adoecimento, envelhecimento e morte. Além da organização em função desses dois eixos, o poder na compreensão de Foucault caracteriza-se por não emanar de uma pessoa ou de uma instituição. Não há, portanto, um ponto central irradiador. Daí, como nos lembra Machado (2003), o poder só existe enquanto modos de relação ou de práticas, propagando-se de maneira minuciosa no âmbito social e afetando a todos indiscriminadamente.

Outro aspecto importante relativo ao poder, e que nos levará ao segundo questionamento, diz respeito à sua vinculação positivada com o saber, em que ambos estabelecem uma correlação necessária, não ocupando, portanto, posições opostas. Sendo assim, “o saber é um dos componentes de definição da ação do poder no mundo moderno.” (DREYFUS & RABINOW, 2010, p. 267). A constituição de saberes permite que o poder possa expandir suas formas de atuação. Isto implica situar, então, que os investimentos desse saber-poder pressupõem a existência de “sujeitos livres”, ou seja, sujeitos que detêm uma gama de possibilidades para seu agir (FOUCAULT, 2010). Por isto a escravidão não se constitui numa relação de poder dentro da concepção de Foucault, pois “as determinações estão saturadas” (p. 289), não admitindo um espaço de funcionamento diversificado. Para o filósofo francês, portanto, a associação entre poder e saber “faz dos indivíduos sujeitos” (p. 278). E o campo eleito por Foucault para analisar tal processo foi exatamente “o domínio da sexualidade – [ou seja,] como os homens aprenderam a se reconhecer como sujeitos de ‘sexualidade’.” (p. 274).

Obra: Auguste Rodin

A condição subjetivante do biopoder ocorreem função dos saberes que são construídos sobre os indivíduos e, também, dos saberes que os próprios indivíduos produzem a respeito deles mesmos, tendo, em ambos os casos, a sexualidade como aspecto central. Somos determinados, então, pelo nosso desejo e passamos a nos reconhecer individualmente através de identidades sexuais. Deste modo, a “vontade de saber” a respeito do sexo é, na realidade, uma vontade de saber a verdade que ele pode revelar sobre cada um de nós. Porém, sendo assim, qual a tecnologia que o poder utilizou para transformar o sexo no portador dessa verdade? Foi através da apropriação do sacramento da confissão pela ciência. No caso específico, a scientia sexualis. A fim de que a verdade pudesse ser desvelada de maneira sistematizada, a ciência sexual fez da confissão uma ferramenta fundamental para levar o sujeito a “dizer tudo” o que há de mais íntimoa um “interlocutor especializado” (tais como médicos, psiquiatras, psicólogos etc.). Com isto, são confessados os sonhos, os crimes, os pecados e os pensamentos para buscar, acima de tudo, libertar essa verdade do sexoque insiste em se esconder até mesmo daquele que confessa. Por consequência, a “sexualidade reprimida” tornou-se uma espécie de dirty little secret, haja vista seu caráter supostamente perigoso e possivelmente patológico.

Finalmente, a partir do que comentamos e conforme depreendemos da análise de Foucault, a repressão é apenas um mecanismo do poder que serve parafazer falar sobre sexo. E um dos motivos da sua popularidade é o de nos proporcionar, quando bravamente colocamos às claras determinado conteúdo sexual, o prazer triunfante de nos sentirmos “transgredindo” ao que é “proibido”. Desta maneira, “alguma coisa da ordem da revolta, da liberdade prometida,… , passa facilmente nesse discurso sobre a opressão do sexo.” (FOUCAULT, 1999, p. 12). Em função de tal perspectiva, ficaremos com um questionamento: será, então, que a sexualidade mais livre que estamos experimentando não diz respeito, simplesmente, à outra face dessa mesma lógica repressiva? Certamente, se o principal referente para a nossa compreensão a respeito do sexo hoje em dia é a liberdade, e não a repressão, isto implica considerarmos não somente a possibilidade de que há novos modos de atuação do biopoder, mas também de que a experiência subjetiva da atualidade vem se distinguindo daquela que foi constituída no período delimitado pela pesquisa de Foucault. E pensar sobre tais mudanças é um modo de manter-se em consonância com o trabalho do filósofo francês. Afinal de contas, se o que entendemos por “sexualidade” é uma construção historicamente determinada – não restrita, portanto, ao campo dos fenômenos biológicos –, não há dúvidas de que outras vias para estabelecermos a nossa relação com o sexo serão formadas, mantendo-se, assim, o fluxo constante das variações que ocorrem na cultura ao longo do tempo, permitindo, por conta disto, que diferentes problematizações possam ser feitas em razão daquilo que se apresenta.

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Confiar: quando o silêncio fala mais alto

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Dia 18 de Maio de 1973 entrou para a história como uma das datas mais tristes e comoventes do cenário brasileiro.  Araceli Cabrera, com apenas oito anos de idade, foi sequestrada, drogada, espancada, estuprada e assassinada. Seu corpo foi encontrado seis dias depois do crime, os agressores jogaram ácido por todo o corpo da vitima, principalmente no rosto para que não pudesse ser reconhecido. Por serem membros de uma tradicional família capixaba, poucas pessoas tomaram coragem para denunciar, sendo assim o silêncio falou mais alto, decretando, então, a impunidade dos criminosos.

Foi então que a data de 18 de Maio foi instituída como O Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes (Lei 9.970/2000), para reafirmar a responsabilidade da sociedade brasileira em garantir os direitos e a proteção de todas as crianças e adolescentes.

Não há duvidas quando mencionamos que, entre as situações que mais nos comovem e nos despertam sentimentos de angústia, raiva e aflição, a violência praticada contra crianças e adolescentes está entre as primeiras, quiçá a primeira entre todas. Embora existam inúmeras tentativas de mostrar esse problema ao mundo, de expor que situações tão absurdas fazem parte da nossa realidade, a violência sexual contra crianças e adolescentes ainda parece manter um caráter velado, mantido num silêncio que parece querer proteger todos dessa comoção, do sentimento doloroso que é saber que uma criança pode ser alvo de algo tão cruel, essa proteção, no entanto, só não protege aquele que mais sofre: a criança. É preciso expor, mesmo que seja dolorido, o silêncio só dá forças para que esta situação permaneça.

O filme “Confiar” escrito e dirigido por David Schwimmer, é um exemplo de trama que trabalha de forma clara, direta e honesta um tema tão delicado: o abuso sexual de uma criança. Sem deixar para trás qualquer detalhe, qualquer veracidade dos fatos. Parece a realidade, nua e crua.

A base do roteiro de “Confiar” é a personificação do pior pesadelo da maioria dos pais atualmente. Engana-se porém, quem pensar que o longa trata do assunto com a trivialidade de um thriller. O filme dirigido por David Schwimmer (o Ross da série “Friends”) é na verdade um drama denso e angustiante que parte da perda da inocência infantil, através de um dos crimes mais comuns da era virtual, para expor as feridas de uma família em colapso (ATAIDE, 2011).

Will (Clive Owen) e Lynn (Catherine Keener) têm três filhos: o mais velho está prestes a entrar na faculdade, a do meio está entrando na adolescência e a mais nova está na fase das perguntas. Will e Lynn são pais dedicados, amorosos e que confiam fielmente em seus filhos. Procuram sempre estabelecer uma relação de amor e confiança, dando suporte necessário para todos, nos passando a imagem de uma família bem estruturada e saudável.

Annie (Liana Liberato), a nossa protagonista, é mais uma adolescente comum, enfrentando problemas como qualquer outra garota da sua idade: aceitação entre as colegas de escola, namorado, mudanças no corpo entre outras características comuns dessa fase, mas recebe total atenção dos pais.

Em seu aniversário de 14 anos, Annie é presenteada pelo seus pais com um computador moderno, sonho de toda adolescente. E, como uma adolescente comum, a garota encontra na internet uma forma de desabafar, de se descobrir, de encontrar formas de sair dos seus problemas. Como mencionado no inicio, a relação de confiança entre os membros da família de Annie é tão forte que os pais sabem perfeitamente sobre os amigos de internet que a adolescente tem, inclusive Charlie (o namorado virtual que Annie conheceu em uma sala de bate-papo).

Inicialmente, dócil e ameno, parece apenas uma amizade virtual. Annie desabafa e encontra em Charlie um amigo compreensivo e que divide com ela todos os anseios, dúvidas e preocupações do universo juvenil. A relação aumenta, as conversas se intensificam e a inocência começa a ser deixada para trás.

Charlie, que antes era um adolescente de 16 anos e que estava no colegial, agora diz que tem 20 anos e está na faculdade. Pouco tempo depois ele revela para Annie que tem 25 anos e que já é formado. Mas Annie está envolvida demais para saber os riscos que poderá enfrentar. A adolescente está ludibriada por tantas declarações, tanto apoio, sente-se cada vez mais apaixonada. Tudo muda radicalmente quando o relacionamento deixa de ser virtual e Annie se encontra com Charlie, sozinha, em um shopping.

Charlie aparenta ter cerca de 35 anos. A expressão de surpresa de Annie frente à Charlie não diferencia da nossa (logo substituída por repulsa). Mas a adolescente é manipulada emocionalmente por todas as investidas do seu agressor.

Depois deste primeiro encontro a família conhecerá de perto uma das situações mais tristes da humanidade: a violência sexual contra crianças e adolescentes.

A cena não agrada a ninguém. É possível viver junto com a personagem toda a angústia e o desespero que aquela situação provoca. Ficamos perplexos, imóveis.

Charlie domina lentamente Annie, ela por sua vez está estática, fita o teto e deixa que seu abusador faça dela o que quiser, e então a dor toma de conta da cena.

Quando falamos sobre violência sexual contra à criança e ao adolescente, usamos conceitos que parecem explicar um mesmo assunto. Equivocadamente tendemos a chamar todos os agressores de crianças e adolescentes de pedófilos. Os termos “pedofilia” e “abuso sexual” são usados constantemente como sendo sinônimos, dificultando as ações governamentais de enfrentamento dos problemas e da responsabilização de ofensores sexuais. Segundo José Raimundo Lippi, psiquiatra, o pedófilo é aquele que preferencialmente tem a sua libido exacerbada com a presença da criança, e principalmente muito pequenas. O conceito de pedofilia diz respeito, então, ao transtorno comportamental de indivíduos que sentem atração sexual por crianças.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, a pedofilia é a preferência sexual por crianças pré-púberes ou no início da puberdade, já a Associação Americana de Psiquiatria destrincha um pouco mais o conceito, classificando a pedofilia dentro do grupo de parafilias: anseios, fantasias ou comportamentos sexuais recorrentes e intensos que causam sofrimento ou prejuízo na vida social e ocupacional do indivíduo. No Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Associação a pedofilia está descrita como: “toda atividade sexual com um a criança pré-púbere -13 anos ou menos-“. O pedófilo deve ter acima de 16 anos e ser pelo o menos cinco anos mais velho que a criança a qual tem relação sexual ou deseja ter.

Já o abuso sexual é caracterizado pela utilização do corpo de uma criança ou adolescente para a satisfação sexual de um adulto, com ou sem o uso da violência física. Podem ocorrer dentro deste crime: desnudamento, toques e carícias nas partes íntimas da criança, levar o menor para assistir ou participar de práticas sexuais de qualquer natureza.

O filme começa agora. Annie parece perder-se nas suas angústias, somos tomados pela sensação de que a garota não faz a menor ideia do que aconteceu realmente, como se ela tivesse se desligado e ao mesmo tempo permanecer na ilusão do amor, da paixão, da ideia de que Charlie é a vida dela. Sim, ela nos mostra constantemente apaixonada por ele. Compreensível, devido a sua vulnerabilidade. Annie está refém de um trauma e nutre admiração pelo o seu agressor.

Em outras circunstâncias podemos dizer que Annie começa a desenvolver a Síndrome de Estocolmo, caracterizada pelo um estado psicológico particular onde a pessoa, que foi submetida a um tempo prolongado de intimidação,  passa a criar uma espécie de vínculo, simpatia, amor ou amizade pelo o seu agressor. Diante do estresse físico e mental o que está em jogo é a autopreservação por parte daquele que está sendo oprimido, aliada à ideia de que: se não há como fugir preciso manter-me próxima a ele e segura. Foi assim com Annie, durante sua reação estática diante de Charlie. No entanto, devemos levar em conta que ela criou  um vinculo com seu agressor antes de conviver com ele, de fato, envolveu-se na ilusão de que Charlie era um amante dócil e gentil.

De acordo com Trindade (2010) para que a síndrome seja diagnosticada alguns requisitos são exigidos, tais como: o evento traumático (sequestro, assalto, abuso sexual, violência); ameaça física ou psicológica; crença de que o desfecho irá acontecer; a vitima acredita que há gestos de atenção por parte do seu agressor e o sentimento de impotência para escapar. Ainda que tenha sido um vinculo construído antes do relacionamento físico, não podemos anular o fato de que Annie foi coagida e mantida sob o domínio e a manipulação de Charlie.

A estrutura familiar começa a ruir. O problema é finalmente exposto para os pais, para a escola. Um conflito é estabelecido entre Annie e Wiil, pois para a garota os pais querem afastá-la do seu amor, querem impedir que fiquem juntos e se não tivessem chamado o FBI, Charlie não lhe abandonaria. Quem sofre da síndrome de Estocolmo tenta de todas as maneiras evitar comportamentos que desagradem ou que afastem seu agressor. Bem explícito nas reações de esquiva de Annie quando se recusa a ajudar nas investigações.

(…) a pessoa que sofre a agressão passa a ignorar o fato de que o agressor é a origem do risco o qual ameaça sua sobrevivência, criando assim uma auto ilusão. A consequência disso é que quem está .“do lado de fora” deixa de ser um aliado, ao passo que busca ferir o ser com quem a vítima se identifica e possui afeição (HORTA, SANTOS, JARDIM, 2013)

Enquanto Annie nega sua situação de vitima, Will adota um comportamento obsessivo, tentando de todas as maneiras encontrar o agressor de sua filha, a família parece não retomar a normalidade, deixando que o problema tome proporções maiores. Mas é somente depois de ficar diante de outras vítimas de Charlie, de conhecer a história com todos os detalhes, e vê que não foi a única, é que Annie deixa a zona de distanciamento e se depara com a realidade que evitou a tanto tempo: foi vitima de estupro.

Após diversas reviravoltas e de ficarmos inquietos diante do desenrolar dos fatos, é que a família finalmente resolve retomar suas vidas, embora os danos permanecerão, mas entendem que o que resta é seguir em frente, e restabelecer o vinculo familiar que foi afetado por tamanho problema.

Mais do que mostrar a importância de ficarmos atentos às nossas crianças e adolescentes o filme apresenta aspectos relevantes que também merecem atenção: a confiança nas pessoas fora do ambiente familiar e os riscos que a internet oferece. Os laços familiares são fortes até que ponto? Os pais têm, realmente, controle sobre a vida dos filhos? Sobre os conteúdos que eles acessam constantemente na internet? Quando a liberdade deixa de ser saudável e se torna prejudicial à criança e/ou adolescente? Será que, mesmo com tantos meios de comunicação, com tantas exposições, de tantas informações acerca de abuso sexual infantil, violência contra crianças e adolescentes, ainda assim nossas crianças são inocentes a ponto de não saber com exatidão o conteúdo daquilo que acessam?

Schwimmer soube explorar com eficiência os conflitos internos de seus personagens e corajosamente deu uma outra dimensão ao tabu do abuso sexual infantil no cinema. Doloroso sem ser piegas, o longa mantém um bom ritmo narrativo e contrariando expectativas – ainda bem! – ruma para um desfecho de forte impacto emocional (ATAIDE, 2011).

 

 

FICHA TÉCNICA:

CONFIAR

Gênero: Drama
Direção: David Schwimmer.
Elenco Principal: Liana Liberato, Clive Owen, Catherine Keene, Chris Henry Coffey
Ano: 2011

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Ninfomaníaca I : quando o sexo vira uma obsessão

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Sexo, prazer e fetiches. Ainda que estejamos em uma nova era, das tecnologias avançadas e da livre expressão artística, estes temas ainda são tratados como tabu por muitas pessoas e, é claro, reprovados por olhos que condenam e deixam de lado qualquer que seja a naturalidade das coisas. Sim, porque não há nada mais natural do que o Sexo.

Um filme que apresenta o título “Ninfomaníaca” (Nynpohomanic) já demonstra que não há nada a esconder, portanto não existem razões para o espectador esperar por algo simples, suave e maleável, ainda mais quando se trata de um longa dirigido por Lars von Trier, responsável por filmes completamente perturbadores.

Lars von Trier não economiza nas emoções e provocações.  Suas obras cinematográficas são providas das mais inquietas emoções humanas, exploram fantasias dementes capazes de provocar uma inquietude sem tamanho a quem o assiste. Além de tudo, von Trier traz uma imagem distorcida da personalidade humana, trabalha a fundo como a imagem do ser humano pode ser mais obscura que se pode imaginar, adota um gênero de tortura psicológica e física, destrói conceitos simplistas, eleva a complexidade humana. Expõe inúmeros temas que a sociedade faz questão de manter oculto. Através de von Trier chegamos ao fanatismo religioso, a mutilação do corpo, a perversão nua e crua, a destruição do amor e a luxúria do corpo.

Trier é, acima de tudo, um ser sem filtro. Capaz de provocar os mais diversos sentimentos nas pessoas, porque seus filmes são, de fato, nada convencionais. Ninfomaníaca segue à risca as características que transformam os filmes de Trier em obras assustadoramente fascinantes, assim como Anticristo, produzido em 2009.

Ressalto aqui que, para demonstrar a grandiosidade desse autor, quando questionado sobre a violência exposta em Anticristo, Trier respondeu com total sinceridade e realismo “Simplesmente achei que seria errado não mostrar. Sou um cineasta que acredita que devemos colocar na tela tudo o que pensamos. Sei que é doloroso ver, mas esse filme tem muito a ver com essas dores.”Deixando claro, a quem quer que seja, que seus filmes passam longe do gênero imaginário e que sua principal função é expor as entranhas humanas que escondem sentimentos e emoções que merecem serem exploradas e trabalhadas.

Então encontramos uma mulher jogada ao chão, completamente desnorteada, maltratada, carregando um imenso fardo de culpa. A mulher é Joe (Charlotte Gainsburg) que, quando socorrida por Seligman (Stellan Skarsgärd), se apresenta como um ser humano indigno de pena, um ser egoísta e perverso, “sou uma pessoa ruim”. Deitada sobre uma cama, Joe discorre lentamente sobre sua vida, desde a tenra infância até, possivelmente, aquele momento em que foi encontrada em um beco, pelo judaíco, aparentemente apreensivo, mas ao longo da trama apresenta uma personalidade no mínimo contraditória.

É importante ressaltar que Ninfomaníaca é dividido em duas partes, logo, não se pode esperar um final ou algo que explique o porquê de Joe ter sido abandonada em um beco e porque essa mulher se encontra cheia de hematomas e remorso. Ainda assim, trata-se de uma história comovente e densa, tanto pelo tema abordado quanto como a forma que o tema foi abordado. De antemão, o filme traz inúmeras cenas de sexo e nudez explicita e que por vezes isso traz um tom apelativo ao filme. São cenas carregadas e ricas em detalhes – sexo oral, penetração, excitação, masturbação -, mas é justamente através delas que se pode chegar a uma ideia do que a protagonista esperava, sobre o que ela tanto buscava; a busca incansável de sentir algo, de sentir-se completa. Seja lá o que seria esse “algo” e esse “completo” que Joe esperava.

Joe conta para Seligman de como descobriu o prazer. De como, quando criança (10 anos), descobriu que poderia ter uma sensação sublime ao deitar no chão e esfregar-se contra ele. De como decidiu perder sua virgindade (16 anos) e o que aconteceu logo após descobrir o sexo. Conhecemos então a jovem e inocente Joe (Stacy Martin), com uma expressão impenetrável e indecifrável. Logo depois a imagem de um ser egoísta e cruel toma o lugar da imagem de moça inocente – a viagem de trem, sexo no banheiro, um pacote de chocolate como troféu – Dar-se, então, o início da longa, prazerosa e tortuosa jornada de Joe. Apesar das histórias insólitas, Seligman não demonstra nenhum julgamento e faz comparações entre o sexo e atividades comuns – pescaria.

Destaco aqui que a cena de Joe deitada na cama contando sua história e Seligman ouvindo – hora dando pontuações, hora fazendo intervenções – nos remete a ideia de um setting terapêutico, onde Joe está num divã e demanda sua queixa e Seligman é o terapeuta, que busca formas de compreender os problemas e inquietações da mulher.

Ao iniciar suas narrativas para Seligman, e para nós, Joe traz à tona os detalhes de suas intimidades, passa a deixar claramente que são informações pessoais, embora imundas e que a torna um ser repugnante – segundo a própria personagem -. Joel parece confessar um crime, ou um segredo. Não dá nomes, apenas iniciais, aos seus amantes ou cúmplices. As cenas são minuciosamente descritas, o que as tornam cada vez mais proibitivas, mais profundas.

Quando narra seus comportamentos, suas aventuras sexuais e seus dramas existenciais, Joe conta com sinceridade e devoção o que provocava seu prazer em cada um de seus atos. O que cada um, dos seus inúmeros parceiros, tinha ou fazia que a excitava. É então que obtemos dois pontos cruciais ao longo dessa narrativa:

Temos, primeiramente, a visão de Joe sobre a sua própria história. Cheia de podridão humana, de sexo sujo, depravado e desonesto. Trata-se de uma vida mundana, sexo pútrido e carregado de sentimentos egoístas. Ela se autodiagnosticou como “ninfomaníaca”, aquela que buscava prazer, que só se preocupava com a própria satisfação e que não se afetava com os danos causados por seu vício.

Por outro lado temos a visão de Seligman, que não a vê como detentora de um desejo fétido e mortal, mas como algo positivo. Uma característica singular que não a isenta da normalidade, que não a difere dos outros seres. Seligman, acima de tudo, busca maneiras de reverter a visão pessimista de Joe.

Agora o público tem duas visões diferentes e algumas questões: o que o sexo traz de ruim e o que ele traz de bom? Quando o sexo deixa de ser algo natural e passa a ser patológico? A busca desenfreada pelo prazer e satisfação pode ser considerada, como Joe encara, como algo doentio?

Segundo a literatura psiquiátrica, a Ninfomania é um transtorno sexual compulsivo, trata-se da disfunção onde a mulher sente uma vontade incontrolável de manter relação sexual. O transtorno compulsivo sexual atinge tanto homens quanto mulheres, no entanto, o termo “ninfomania” é atribuído somente ao público feminino, nos homens o transtorno é chamado de Satiríase. Tal transtorno também é chamado de transtorno do desejo sexual hiperativo, compulsão sexual, hipersexualidade ou apetite sexual hiperativo. Mas, apesar da variedade de nomes dado a esse fenômeno sexual, o que determina se a mulher é ou não uma ninfomaníaca não é apenas o excesso do desejo sexual mas sim a falta de controle sobre o desejo.

Mas Joe possui Transtorno Sexual Compulsivo? Como se trata da história parcial de Joe não se pode afirmar com clareza se ela é ou não portadora desse transtorno. No entanto, com observações diante de sua narrativa, chega-se à conclusão que ela é uma ninfomaníaca, de fato. Uma vez que ela usa o sexo diante de várias razões: fuga, culpa, castigo, autoconhecimento, satisfação, número excessivo de parceiros, entre outros.

Joel afirma que quando jovem o sexo era usado como uma arma aniquiladora, criada para exterminar o amor, reduzir esse sentimento a nada. Com o tempo ela trata o sexo como fuga, com o ato sexual ela esquece suas dores, suas tristezas, ao final dele ela desmonta em lágrimas, a dor está de volta. Mas, acima de tudo, o sexo é o complemento, é através dele que ela se sente preenchida e completa.

De acordo com a psiquiatria para que uma mulher seja diagnóstica como ninfomaníaca, um conjunto de comportamentos deve ser enquadrado ao ato sexual compulsivo, porém, ainda não existe um consenso sobre o tipo de transtorno e classificação correta sobre o que acarreta esse transtorno. Alguns estudiosos dizem que o transtorno obsessivo-compulsivo de caráter sexual está associado a outros transtornos de personalidade, como bordeline e/ou histrionismo, é considerado também como um tipo de vicio, assim como drogas, álcool e jogos.

Existem alguns comportamentos que descrevem um possível transtorno compulsivo sexual. Sendo eles;

  • Fantasias sexuais de forma recorrente e intensa;
  • As fantasias ou os impulsos sexuais ocorrem com frequência, sem controle;
  • As fantasias atrapalham na concentração; nas atividades; no trabalho; estudo; convívio social;
  • Há sofrimento causado nas relações interpessoais;
  • Masturbação Excessiva;
  • Relação sexual com um ou diversos parceiros;
  • Compulsão por diversos relacionamentos afetivos;
  • Uso abusivo de pornografia e sites eróticos.

Joe, em uma de suas histórias, conta como precisou manusear sua agenda de encontros, como cada parceiro tinha sua hora e até mesmo como decidiu escolher a forma de tratá-los. Sem coração, sem afeto, sem amor. Joe é também uma verdadeira atriz, comove seus parceiros, manipula um por um, de forma sádica. Os faz sentir-se bem, amados e idolatrados ou, ás vezes, odiados e rebaixados, mas sem, de fato, possuir tais sentimentos e opiniões. É apenas um jogo, só há um vencedor, ela.

Ao longo da história um sentimento de contradição nos acomete. Joe diz, algumas vezes, que não sentiu remorso por nenhum dos danos que provocou aos outros, não se sentiu mal, não sentiu nada. Ao passo de que, ao contar os fatos, suas expressões são de quem se castiga impiedosamente por cada ato cometido, alguém que carrega a culpa da destruição do mundo – o mundo de pessoas alheias à ela-. Alguém que diz inúmeras vezes “eu sou um ser humano ruim”.  Esse sentimento contraditório percorre até o final da primeira parte de Ninfomaníaca, o que torna a trama ainda mais perturbadora. “O que essa mulher quer passar, realmente?”.

Joel é um ser que simboliza o vazio existencial, alguém sem vísceras sentimentais, sua busca incansável por um complemento humano a leva para um mundo obscuro, sem regras e pudores. O corpo excitado quando criança, escolher o primeiro parceiro por causa de suas mãos fortes, aceitar participar de uma viagem promíscua que a faz construir o conceito de “homem-objeto”, a confissão de se sentir molhada diante de um fato familiar, torna Joe cada vez mais difícil de decifrar.

O amor também se encontra nas inquietações de Joe, embora tão pouco. A questão fundamental que von Trier traz ao filme, será que é possível que alguém tão carnal, desprovida de sentimentos, pode sentir o amor? Poucas vezes a protagonista parece se embebedar de amores. Com exceção da devoção ao pai, apenas uma única vez Joe demonstrou ter sentimentos românticos por outra pessoa. A mulher imunda de hematomas continua vazia.

As analogias, também, são um ponto forte do filme. Trier trabalhou perfeitamente nesse quesito. Não existem exageros. O sexo aqui foi comparado as coisas mais simples e poéticas que podemos conhecer.

  • O Sexo e a Pesca

Os homens são os peixes – vocês as iscas.

  • O Sexo e as Fórmulas Logarítmicas
  • O Sexo e a Música – música matemática de Bach

Johann Sebastian Bach foi um dos primeiros músicos a perceber que separando as notas musicais de determinadas maneiras era possível produzir sons mais ou menos agradáveis. Passou, então, a experimentar e aplicar acordes em suas composições de piano, órgão e cravo (CLIKEAPRENDA, 2012 s/p).

Todas as contradições exploradas no decorrer da trama também banham o final da primeira parte de Ninfomaníaca. Joe agora nos conta sobre seus três amantes preferidos, enquanto as cenas que se reproduzem na imaginação de Seligman são expostas. Uma cena se intercala na outra, várias cenas, do início do filme ao momento atual da história, também se misturam. É êxtase. A cena mais intima que o público poderia esperar e, portanto, a mais incompreensível. Demasiadamente perturbadora.

Diria eu que este é um filme para os amantes da psicanálise. Um retrato fiel das explicações de Freud sobre a personalidade e a sexualidade.

  • Joe e o Complexo de Édipo – “meu pai sempre foi o legal, minha mãe sempre a ruim”
  • Joe e a Fixação – sexo
  • Joe e Fetichismo – mãos fortes
  • Joe e as Regras – transgressões e cumprimento de suas leis
  • Joe e a Perversão
  • Joe e o Sentimento – amor, desejo, emoção, afeto

Ou, em uma outra visão, Lars von Trier quer falar sobre o Amor, em suas diferentes formas? Por que não? Em uma das cenas Joe diz que o amor é apenas uma luxúria com um acréscimo de ciúmes, nas seguintes, mostra como se distanciou definitivamente desse sentimento. Seria esse um filme que demonstra a destruição do amor? O sexo seria um rival desse sentimento?

Lars Von Trier, na minha opinião, usa o sexo como recurso estético para justificar a destruição do amor e do sentimentalismo. Aliás, esse filme fala sobre amor. De uma maneira bem singular, Lars Von Trier constrói cinco capítulos em que nós observamos a protagonista Joe (Charlotte Gainsbourg) vencer todo o tipo de amor: conjugal, carnal, paterno (FARIAS, W. 2014, s/p)

Das mil maneiras que o filme pode ser interpretado assim como as incontáveis sensações que ele nos desperta, é crucial a neutralidade de julgamentos e entender que trata-se de uma obra incompleta, o final impactante mas pouco compreensível não representa a conclusão da situação de Joe. Existe, na verdade, uma única constatação: Joe ainda está vazia.

SAIBA MAIS:

http://www.saudesublime.com/ninfomaniaca/

FARIAS Willian. Análise do filme Ninfomaníaca em: http://trailertododia.com/dissecamos-todos-os-capitulos-de-ninfomaniaca-e-descobrimos-que-o-filme-fala-de-amor/

FICHA TÉCNICA:

NINFOMANÍACA

Direção: Lars von Trier
Elenco Principal: Charlotte Gainsbourg, Stellan Skarsgard, Satcy Martin, Shia La Beouf, Uma Thurman
Gênero: Erótico, Drama
Países: Dinamarca, Alemanha, Bélgica, França
Ano: 2014

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Mulheres: não apenas o voto, mas a vitória

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O planeta estava em desordem, em chamas, em completa desarmonia, mas elas estavam lá firmes e fortes. Não havia trégua para os homens naquele momento, porém elas nunca tiveram. Sim, o mundo estava em guerra, mas e daí? Em meados de 1930, enquanto os soldados se escondiam nas trincheiras, as mulheres lutavam bravamente por seus direitos.

Em entrevista ao site Observatório de Gênero, a professora do Departamento de História da Universidade de Brasília, Tania Swain, citou a importância do voto feminino.  “Em tese, [o direito ao voto] representa a não discriminação do feminino no processo político, pois as mulheres podem não apenas votar, como serem votadas. Representa igualmente levar em conta as reivindicações das mulheres no quadro socioeconômico do País e sua intervenção na elaboração de políticas públicas específicas e globais”, disse.

O direito da mulher ao voto piorou o mundo? Saiba mais. http://www.youtube.com/watch?v=S_kS13l6xvw

 Concurso Público: a saída para entrar na história

 Ao longo dos anos, vimos o crescimento da participação da mulher no mercado de trabalho e a legitimação da importância do seu papel para a sociedade. Em 1975, o predomínio era masculino, porque as mulheres ainda ficavam em casa cuidando dos filhos e do lar. Mas nem todas.

Vinda de família pobre, a curitibana Elsa Marinho de Souza, hoje aposentada, sentiu no concurso público a oportunidade de abrir seus horizontes e melhorar sua qualidade de vida. “Eu já sabia o que era um concurso, porque eu era estagiária no serviço público, tinha noção da importância de se fazer. Mas nem fazia ideia do que era gratificação, a parte burocrática, isso eu fui aprendendo com o tempo”, conta.

 Diferente da maioria de suas amigas. “As garotas, naquela época, pensavam em trabalhar para ajudar os pais ou quem sabe para melhorar um pouco de vida, mas não se viam em cargos de grande importância nas empresas. É claro que uma vez ou outra acontecia da mulher alcançar um cargo de confiança, mas mais por experiência que competência”.

Elsa tinha apenas o ensino médio no currículo, mas chegou a ganhar em torno de 13 salários mínimos e viu sua vida mudar do dia para a noite ao passar no concurso do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS). “Era um privilégio, me senti uma mulher diferenciada. Recebia o holerite e as portas se abriam de uma tal maneira […] Eu tinha algumas regalias. Chegava nas lojas, falava que era funcionária pública, podia comprar o que eu quisesse. Imagine, eu consegui financiar a minha casa por meio de um benefício dado pelo órgão que eu trabalhava”, vangloriou-se.

O mar de rosas tem seus espinhos

Oportunidade única, passar em um concurso parecia o paraíso, não fosse por uma velha questão: a casa e os filhos, quem cuidava? Mesmo ganhando bem, muitas mulheres não conseguiram driblar tal dificuldade. “A casa a gente dá um jeito, mas algumas colegas tiveram que sair, pedir demissão, porque não tinham com quem deixar o filho. E, às vezes, a família morava longe e elas eram forçadas a desistir do cargo. Neste quesito, fui abençoada, porque encontrei pessoas de confiança para cuidar dos meus filhos, além da minha família morar na mesma cidade”, concluiu.

“De homem invertido, a mulher passa a ser o inverso do homem, ou, sua forma complementar. Apesar disto, as consequências morais dela advinda, manteriam ainda a inferioridade da mulher no conflito entre as esferas pública e privada, no conceito neoplatônico científico e religioso do mundo e na importância da nova ordem político-econômica do novo estado burguês” – A Inocência e o Vício: Estudos Sobre o Homoerotismo (J.F. Costa, 1992)

Novos desafios e novas exigências

Trabalhar sob pressão, equipamentos que não funcionam e mau humor de chefes e colegas são os principais motivadores de estresse no trabalho. Este é o cenário que as mulheres tiveram que enfrentar desde que conquistaram mais espaço no mercado de trabalho. “A sociedade está cobrando muito mais das mulheres. Por elas terem uma maior participação, são tratadas igualmente aos homens. Se antes não havia, hoje sobram vagas. Se sobram vagas, sobram exigências também. Tendo mais exigências, obviamente, o estresse aumentou para elas”, disse a psicóloga Vanessa Turíbio.

Mulheres estressadas no trabalho ficam menos atraentes, diz estudo.

Segundo a Fiocruz, a profissão de operador de telemarketing, exercida, sobretudo, por jovens e estudantes, a maioria do sexo feminino, não tem legislação específica na Consolidação das Leis do trabalho (CLT). Estima-se que essa atividade movimente em torno de R$ 65 bilhões por ano no mercado nacional. Mas tantas cifras favoráveis ao telemarketing podem camuflar problemas relacionados a esse trabalho, como baixos salários e doenças ocupacionais, tanto físicas como psicossociais.

Para a atendente de telemarketing Aline Trindade, de 26 anos de idade, com sete meses de trabalho, os clientes confundem produtos e atendentes. “Me xingam e me comparam aos serviços da empresa. Dizem que o serviço está ao alcance de meu atendimento, proporcional. É humilhante. Nos culpam de tudo. Eu apenas represento e não determino regras”, desabafa.

A psicóloga Vanessa Turíbio afirma que o estresse deve ser tratado com atividades, exercícios físicos  e tudo aquilo que faça esquecer o mundo do telemarketing. Caso o contrário, as consequências podem ser graves. “O cansaço e o estresse permanente, a impaciência quando somada à baixa auto-estima pode ocasionar doenças mais intensas como a depressão que traz danos à saúde”, concluiu.

Fontes:

Masculinidade na história: a construção cultural da diferença entre os sexoshttp://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1414-98932000000300003&script=sci_arttext

A Inocência e o Vício: Estudos Sobre o Homoerotismo (J.F. Costa, 1992)http://www.unimep.br/phpg/editora/revistaspdf/imp26art13.pdf

Direito ao voto feminino http://www.observatoriodegenero.gov.br/menu/noticias/direito-ao-voto-feminino-que-completa-hoje-80-anos-resultou-de-um-longo-processo-de-mobilizacao/

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“As sessões” e o sexo terapêutico

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Com uma indicação ao Oscar:

Melhor Atriz Coadjuvante (Helen Hunt)

 

Baseado em fatos reais, o filme “As sessões” (The sessions, EUA, 2012) retrata a surpreendente história do poeta e escritor Mark O’Brien (1949-1999), interpretado magnificamente pelo ator John Hawkes. Aos seis anos de idade, Mark contraiu poliomielite e ficou paralisado do pescoço para baixo – muito embora mantivesse a sensibilidade na maior parte do corpo. Desde então e até o fim de sua vida, passou seus dias preso a uma cama, quando não em um “pulmão de aço”, que o permitia respirar. Apesar de todas essas limitações, conseguiu se formar em letras, atuou como jornalista, escreveu poesias e ainda foi um ardoroso militante do direito das pessoas com deficiência. Em termos profissionais, Mark conseguiu superar muitos obstáculos, o mesmo não ocorrendo em sua vida pessoal. Aos 38 anos de idade, virgem e tendo constantes ejaculações espontâneas (e mesmo “induzidas” pelo contato de suas cuidadoras), Mark chega à conclusão que não deseja passar pela vida sem ter tido ao menos uma experiência sexual.

 

 

Mas para colocar em prática este desejo, ele precisa superar três barreiras: a primeira é sua culpa católica, inculcada por seus pais, em sentir prazer; a segunda é a dúvida se realmente conseguirá fazer sexo em função de todas suas limitações físicas e a terceira é a questão de com quem faria sexo, haja vista que as mulheres que conheceu durante a vida sentiram mais pena do que atração por ele – e mesmo aquelas que se atraíram, não seguiram adiante. Com relação à primeira barreira, Mark, procura o conselho – e mesmo a “autorização” – de um padre (interpretado pelo excelente ator Willian H. Macy). Este, mesmo em dúvida sobre o que dizer, o aconselha a seguir seu desejo, indo contra, desta forma, aos próprios preceitos de sua igreja de que o sexo só deve ser realizado após o casamento. O padre, neste caso, foi bem razoável e compreendeu a peculiar situação de Mark. Já para tentar resolver as outras duas barreiras, Mark decide procurar, a partir da indicação de sua psicoterapeuta, uma “substituta sexual” (sexual surrogate), interpretada no filme pela atriz Helen Hunt – que concorreu este ano ao Oscar de melhor atriz coadjuvante pelo papel. Merecidamente, diga-se de passagem.

Esta profissão realmente existe, tendo surgido na década de 70 nos Estados Unidos – em plena revolução sexual, portanto – a partir do trabalho dos sexólogos Willliam Master e Virginia Johnson. Posteriormente foi criada uma associação internacional (a IPSA) e até mesmo um código de ética para regular a prática profissional. Atualmente existem somente cerca de 50 “substitutos” treinados e atuantes nos Estados Unidos – no Brasil, pelo que pesquisei, nenhum. Na década de 70 haviam cerca de 2 mil mas, mesmo neste momento, a profissão nunca gozou (ops!) de grande visibilidade e sempre foi alvo de um inúmeros preconceitos. Na década de 90, a profissão tornou-se conhecida do grande público em função de um artigo escrito por Mark para a The sun Magazine intitulado “On seeing a sex surrogate”1. O filme é baseado neste artigo assim como no livro autobiográfico An intimate life (publicado em 2012 no Brasil como “As sessões: minha vida como terapeuta do sexo” – que li e recomendo), escrito pela “parceira substituta” de Mark, Cheryl Cohen Greene, hoje com 68 anos. Em 40 anos de carreira, Cheryl atendeu até hoje mais de 900 pacientes, em sua maioria homens virgens ou que não conseguem ter uma ereção ou chegar ao orgasmo, além de indivíduos portadores de deficiência – como foi o caso de Mark. Ela atende também mulheres e casais e trabalha sempre (até hoje!) em parceria com uma terapeuta sexual convencional ou com um psicólogo (“enquanto ele trabalha a parte emocional, fico com os exercícios práticos”, diz ela). Cheryl descreve da seguinte forma sua metodologia de trabalho:

“A cada sessão há um ganho gradativo de intimidade. Começo com técnicas de relaxamento e testes de toques para saber quais as partes mais sensíveis do corpo do paciente. Em seguida, vêm as carícias, beijos e masturbação. A penetração costuma acontecer só nas últimas sessões. Durante o sexo, presto atenção a todos os detalhes e anoto cada reação do paciente. Sempre usamos preservativos. As sessões acontecem duas vezes por mês e têm duração de duas horas. Cobro US$ 300 por consulta. Há um limite de sessões, que varia de seis a dez”2.

 

Muitos consideram a profissão de Cheryl uma forma de prostituição, o que ela nega. No filme, a diferença apresentada pela personagem é que enquanto a prostituta pretende criar uma freguesia, ou seja, que o cliente a procure mais e mais vezes, seu esquema de trabalho se dá com um número máximo de sessões, sem possibilidade de retorno, de forma a não criar um vínculo de dependência. Outra diferença, explicitada por ela em uma entrevista, é que “ir a uma prostituta é como ir a um restaurante, escolher no cardápio e ser servido pelos funcionários, que esperam que você volte. Ter sessões com a terapeuta sexual substituta é como ir a uma escola de culinária: você descobre onde achar ingredientes, aprende receitas e sai fazendo pratos por conta própria”3. Ou seja, o objetivo é mais educar para o prazer do que gerar prazer por si mesmo, como seria no caso de uma prostituta. Como afirma a terapeuta de casais Louanne Cole Weston no prefácio do livro de Cheryl, “os terapeutas do sexo são como professores para seus clientes”. Além disso, como disse em uma entrevista o diretor do filme Ben Lewin (que também contraiu pólio aos 6 anos de idade e se locomove com ajuda de muletas): “Certa vez, perguntei para Cheryl como foi o ato sexual entre eles [ela e Mark]. E ela me respondeu que tinha que pegar suas anotações para recordar. Duvido que prostitutas façam anotações”4. Ou seja, o trabalho de parceira substituta é mais minucioso e sistemático do que é ou seria o de uma prostituta.

A ideia de uma “substituta sexual” parece ser, em suma, uma forma prática de auxiliar pessoas com alguma dificuldade ou imaturidade na área sexual a conhecer o próprio corpo para que possam fazer sexo com outras pessoas. No caso do Mark O’Brien o filme me convenceu se tratar de uma alternativa necessária diante de seu problema peculiar. Uma prostituta, mesmo atenciosa e bem-intencionada, talvez não tivesse os conhecimentos e a paciência necessários para ajudá-lo. Da mesma forma, uma terapeuta sexual que se utilizasse somente da terapia pela palavra não teria, acredito, qualquer efeito. Ele precisava descobrir na prática que conseguia sentir prazer. Precisava descobrir e despertar o próprio corpo. Como afirma Cheryl em uma entrevista: “Numa terapia convencional, o paciente pode não conseguir pôr as orientações em prática, seja por vergonha do parceiro, seja pela falta de um. Conseguimos transpor essas barreiras. O paciente também aprende a conhecer melhor o corpo do outro – no caso, o meu, que serve de modelo para relações futuras. Comigo, ele pode falar abertamente sobre suas fantasias e experimentar as posições que deseja” 5.

Questionada como encara o sexo sem envolvimento afetivo (que é diferente do envolvimento sexual necessário para o trabalho) ela respondeu: “Tudo o que é consensual entre adultos é válido. O lindo do meu trabalho é que você não precisa se apaixonar, mas tem que se tornar íntimo da pessoa e respeitá-la”6. E para evitar que o paciente se apaixone por ela, a técnica usada é contar detalhes de sua vida privada a eles: “digo que sou casada e feliz. Isso já diminui as expectativas”. O problema é que nem sempre isso funciona, haja vista que ela própria é casada, há mais de 30 anos, com um ex-paciente. Segundo ela, “Bob me procurou depois que terminaram as sessões. Na segunda vez que saímos já fizemos sexo fora do ‘consultório'”. Podemos e devemos questionar essa atitude dela, mas devemos nos lembrar que o envolvimento entre terapeuta e paciente pode ocorrer (e de fato ocorre) mesmo que não haja sexo envolvido na terapia.

 

Com relação à esta polêmica profissão, gostaria de fazer alguns questionamentos. No Brasil, os tradutores do livro de Cheryl optaram por traduzir “sex surrogate” por Terapeuta do Sexo. Mas será que o que ela faz pode ser, realmente, chamado de terapia? Se entendermos terapia como sinônimo de tratamento para algum problema, certamente o que Cheryl faz é uma forma de terapia (da mesma forma que a fisioterapia, a massoterapia ou a hipnoterapia). Mas será a “substituição sexual” uma forma psicoterapia? Se definirmos psicoterapia como uma terapia utilizada para tratar problemas psicológicos, a atividade de Cheryl pode sim ser considerada uma forma de psicoterapia, haja vista que grande parte de seus pacientes são sujeitos com dificuldades “psicológicas” em se relacionar sexualmente. Se tais dificuldades fossem devido a questões “físicas” o mais lógico seria que procurassem um médico. Agora, outra questão a se pensar é: quais são ou devem ser os limites de uma psicoterapia? Dialogar obviamente é permitido e mesmo necessário. Aliás, a maioria das psicoterapias são baseadas no diálogo entre terapeuta e paciente. Mas e tocar, pode? Até que ponto? Tem psicoterapeutas que se recusam até mesmo a encostar no paciente para cumprimentá-lo. Outros, por exemplo os terapeutas corporais, fazem massagens e outros procedimentos que envolvem o toque nos pacientes. Isso pode. Mas sexo não pode. Por que não?

Uma resposta possível seria: o sexo é terapêutico, sem dúvida, mas não pode fazer parte de uma terapia porque extrapola os limites do que, convencionalmente, é entendido como psicoterapia. Neste sentido, uma terapia com sexo não poderia ser considerada propriamente uma psicoterapia, mas sim sexo com fins terapêuticos – a ser realizado não por um(a) psicólogo(a) mas por uma parceira substituta ou mesmo por uma prostituta. De acordo com uma reportagem sobre o filme , o Conselho Federal de Psicologia (CFP) proíbe a relação sexual entre terapeuta e paciente. No entanto, pesquisei sobre esta questão no site do Conselho e não encontrei nenhuma resolução específica que regulamente a relação terapêutica ou que proíba o sexo entre terapeuta e paciente. De fato, no Código de Ética Profissional está escrito que é vedado ao psicólogo “prestar serviços ou vincular o título de psicólogo a serviços de atendimento psicológico cujos procedimentos, técnicas e meios não estejam regulamentados ou reconhecidos pela profissão”. O problema é que não existe nenhum documento que especifique quais “procedimentos, técnicas e meios” são permitidos e quais são proibidos. Isso acaba ficando a cargo do psicólogo decidir ou do Conselho julgar, o que é um tanto complicado. O Código de Ética também impede o psicólogo de “estabelecer com a pessoa atendida, familiar ou terceiro, que tenha vínculo com o atendido, relação que possa interferir negativamente nos objetivos do serviço prestado”. No entanto o texto não deixa claro quais são exatamente as relações proibidas ou não-aconselhadas. Podemos imaginar que o sexo estaria dentre estas relações, mas quem foi que disse que a relação sexual interferiria  de forma necessariamente negativa no tratamento? Segundo a psicanalista Araceli Albino, entrevistada para uma reportagem sobre o filme, “sexo entre terapeuta e paciente ocorre mais do que imaginamos. É danoso: a pessoa depositou confiança no profissional e fica à mercê dele. É quebra de contrato” . Mas e se o sexo fizer parte do contrato estabelecido entre o terapeuta e o paciente?

Não estou aqui defendendo a inclusão ou mesmo a aceitação da relação sexual na terapia realizada por psicólogos ou psicanalistas. Até porque a profissão de “parceira substituta” é autônoma à Psicologia e à Psicanálise. Trata-se de uma profissão com características, técnicas e ética próprias. Mas a existência e atuação destes profissionais faz pensar sobre o manto de hipocrisia que ainda cobre nossa relação com o sexo e a sexualidade. Fazer sexo profissionalmente ainda é visto por muitas pessoas como algo degradante e eminentemente negativo, tanto para o profissional quanto para o cliente. Em muitos comentários e resenhas que li sobre o filme, a profissão de “parceira sexual” é fortemente criticada e Cheryl frequentemente desqualificada e rotulada de prostituta, como se isso fosse algo negativo em si. Condenamos, desta forma, aqueles que “vendem” o próprio corpo, mas nos esquecemos (ou não nos damos conta) de que todos os que trabalham, em alguma medida, vendem o próprio corpo em troca de dinheiro. Mas talvez não seja o “corpo” o verdadeiro problema e sim o sexo. Sempre ele. É triste e curioso que em pleno século XXI ainda tenhamos dificuldade em tratar o sexo de forma aberta e honesta, sem tantos pudores e preconceitos.

Notas:

1http://noteasybeingred.tumblr.com/post/16646893808/on-seeing-a-sex-surrogate-mark-obrian

2http://revistaepoca.globo.com/Vida-util/noticia/2013/03/cheryl-cohen-greene-troquei-o-diva-pela-cama.html

3http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/1232703-fiz-sexo-com-mais-de-900-pessoas-diz-terapeuta-americana.shtml

4 http://oglobo.globo.com/cultura/a-terapia-do-sexo-do-diretor-ben-lewin-6269855

5http://revistaepoca.globo.com/Vida-util/noticia/2013/03/cheryl-cohen-greene-troquei-o-diva-pela-cama.html

6http://noticias.bol.uol.com.br/ciencia/2013/02/19/fiz-sexo-com-mais-de-900-pessoas-diz-terapeuta-americana.jhtm


FICHA TÉCNICA DO FILME

THE SESSIONS

Diretor: Ben Lewin
Elenco: John Hawkes, Helen Hunt, William H. Macy, Moon Bloodgood, Annika Marks, W. Earl Brown, Blake Lindsley, Adam Arkin, Ming Lo, Jennifer Kumiyama, Robin Weigert, Jarrod Bailey, Rusty Schwimmer, James Martinez, Tobias Forrest, J. Teddy Garces, B.J. Clinkscales, Jason Jack Edwards, Rhea Perlman, Daniel Quinn, Jonathan Hanrahan, Gina-Raye Carter, Amanda Jane Fleming, Stephane Nicoli
Produção: Judi Levine, Ben Lewin, Stephen Nemeth
Roteiro: Ben Lewin
Fotografia: Geoffrey Simpson
Trilha Sonora: Marco Beltrami
Duração: 97 min.
Ano: 2012
País: EUA
Gênero: Drama
Cor: Colorido
Distribuidora: Fox Film
Estúdio: Rhino Films / Such Much Films
Classificação: 16 anos

PRÊMIOS
Em 2012, vencedor do Prêmio do Público de Melhor Filme – Drama e Prêmio Especial do Júri

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Nossa louca vontade de pecar: ensaiando conversas da presentividade

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Nos tempos atuais Foucault (1978) já nos advertiu sobre o quanto nós passamos tentando enclausurar os considerados “loucos”. O que é ser louco? Ser louco é ser desarrazoado? A loucura é clínica? (PÉLBART, 2009). Diante de tantas experiências humanas, o contemporâneo nos interpela sobre tantos outros temas tradicionais: “Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço”. (Romanos 7,19). Pecado original, pecado mortal, pecado venial são os pecados que conhecemos na tradição cristã que se popularizaram no século XIV entre artistas e que teve no século XVII a contribuição de Tomás de Aquino.

Ao falar de pecado e do ato de pecar nos levam à Lei: a Bíblia, livro no qual o pecado é recorrente, aliás, os considerados “sete pecados capitais” precedem o cristianismo, mas que são importantes na doutrina religiosa com o objetivo das igrejas controlarem, advertirem e exortarem seus seguidores sobre seus instintos, atos e práticas pecaminosos.

Para a Igreja existem pecados perdoáveis sem a necessidade de confissão. Porém os pecados capitais são condenáveis. “Já nascemos marcados pelo pecado e queremos satisfazer as suas vontades” (Romanos 8,7), uma transgressão, uma contravenção à Lei dada por Deus através do profeta Moisés consubstanciada nos Dez Mandamentos.

Fonte: vindeaosenhor.blogspot.com

O texto são falas esparsas, sem a preocupação acadêmica sistemática, de um ensaísta implicado pelos atos do contemporâneo. Considero ensaísta, aquela pessoa que escreve textos expondo suas opiniões, críticas e ideias acerca de determinados temas atuais sejam eles filosófico, religioso, político, moral, comportamental, literário, cultural… de forma livre e sem regras, sem estilo definido. Porém tratar de questões de costumes nunca deixa de ser provoca(ações), polêmicas do nosso tempo.

 

1. A constituição religiosa do pecar

O ato ou o desejo contrário à Lei Divina e que, portanto, ofende a doutrina cristã, é o que se convencionou chamar de pecado. A Lei Divina co-existe, uma existência dentro de outra existência,  nos “Dez Mandamentos” da Lei de Deus.

Para a Igreja, a gravidade do descumprimento dessa lei pelo pecado foi revelada pela paixão e morte de Cristo, ao mesmo tempo em que Ele demonstra, pela sua ressurreição, a possibilidade de vencê-lo assim como Ele mesmo o fez. Isso é doutrina: conjunto de princípios que servem de base a um sistema religioso, político, filosófico, militar, pedagógico etc.

Portanto, a partir desta catequese, esse tipo de ensinamento religioso cristão, podemos entender que pecamos contra Deus, contra o próximo e contra nós mesmos. E esse pecado pode ser por pensamentos, por palavras, por ações ou omissões. O ato de contrição, de arrependimento, do rito litúrgico religioso católico-apostólico-romano retrata essa condição do pecador: “Confesso a Deus todo poderoso e a vós irmãos e irmãs, que pequei muitas vezes, por pensamentos e palavras, atos e omissões, por minha culpa, minha tão grande culpa. Peço a Virgem Maria, aos Anjos e aos Santos, e a vós irmão e irmãs, que roguei por mim a Deus nosso Senhor”.

Fonte: pnsfatimadeolaria.wordpress.com

 

A repetição do pecado gera vício, hábito. E o pecado ao se constituir assim obscurece a consciência e inclinam ao mal, pelo menos essa é a doutrina. Os vícios estão ligados aos sete pecados capitais: vaidade, avareza, inveja, ira, luxúria, gula e preguiça, que precisam, nessa tradição, constantemente ser confessados e arrependidos.

O pecar é uma desobediência à vontade de Deus. Constitui-se num erro, um desvio do padrão, do ideal cristão. “Todo aquele que pratica o pecado transgride a Lei; de fato, o pecado é a transgressão da Lei” (João 3,4), está posto.

 

2. A louca vontade de pecar.

Fonte: www.filhosdefatima.com.br

 

Conforme os escritos bloggeiros de Esdras Gregório “Não existe na natureza uma consciência de se desejar satisfazer as vontades da carne de forma direcionada e moral”. […] “O instinto não deseja a principio algo por ser errado, pois não é um ser pessoal que tem consciência moral, mas um impulso nato que visa o seu funcionamento normal e saudável”. “Portanto não existe o desejo de pecar, mas o desejo naturalmente cego e aleatório que deve sim ser direcionado a um modo de satisfação que não lese e prejudique o próximo” (Blog dos Esdras Gregório, 16/04/11).

Aqui introduzimos as polêmicas teses sobre os costumes e a moral que velam as questões do sagrado, profano, instinto, livre arbítrio, natureza humana, loucura. Na tradição judaico-cristã o pecado deve ser evitado, assim como a loucura. Para Sócrates existem diversas modalidades de loucura: a loucura humana e a loucura divina. A loucura humana explica as perturbações do espírito pelo desequilíbrio do corpo. A loucura divina nos tira dos hábitos cotidianos, ou até pecaminosos.

A loucura divina, diz Sócrates, subdividi-se nas quatro espécies seguintes, correspondentes, cada uma delas, a uma divindade específica: a loucura profética (Apolo), a ritual (Dionísio), a poética (as Musas) e a erótica (Afrodite). Desta série a mais bela é a última, pois leva, como se sabe, à filosofia (PELBART, 2009: 25).

Além dessas loucuras Platão fala da loucura telestática ou ritual, como culto dionisíaco. “Dionísioera o deus do vinho, da fecundidade, da caça, da música, da alegria ou da vida, mas, qualquer que fosse seu atributo, lá onde era celebrado seu culto tinha um caráter de exaltação e excesso” (PÉLBART, 2009: 32). Dionísio era considerado aquele que levava as pessoas a se comportarem como “loucos”.

Dionísio já era considerado, nessa época, o libertador (eleuthério), em dois sentidos. Libertava a terra das amarras do inverno (era também uma festa da primavera) e livrava os homens do peso das preocupações e das misérias da vida. Dionísio era o deus que trazia aos homens e à natureza a liberdade (PÉLBART, 2009: 33).

Se Dionísio é o deus da liberdade, a vaidade considerada irmã da beleza e a luxúria sua filha, estes pecados estão entranhados no nosso cotidiano e estão porque somos culturais. E por que pecamos? Porque o princípio corrupto da carne permanece em nós, ou seja, corroborando a tese: a carne é fraca, portanto, o pecado faz parte da nossa natureza, ou não, tomara que faça!

 

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Dionysos_Louvre_Ma87.jpg

 

3. Porque Pecamos: lúxuria e vaidade

Luxúria (luxuriae) é o desejo passional e egoísta por todo o prazer sensual e material. É o que comumente dizemos: “deixar-se dominar pelas paixões”. Considerada um pecado capital, a luxúria consiste no apego aos prazeres carnais, corrupção de costumes; sexualidade extrema, lascívia e sensualidade. É considerada o pecado mais abusivo por conduzir aos demais pecados. À luxúria são atribuídos também à prostituição, à sodomia, a pornografia, incesto, pedofilia, zoofilia, fetichismo, sadismo e masoquismo, tudo o quanto é considerado “desvio sexual” e parafilia na concepção médico-higienista.

Se buscarmos o termo “parafilias” encontraremos caracterizado na classificação internacional dos distúrbios mentais como sendo os anseios, as fantasias ou comportamentos sexuais recorrentes e intensos que envolvem objetos, atividades ou situações incomuns e causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social ou ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.

A vaidade, orgulho e soberba por sua vez, é aquele desejo de atrair admiração de outras pessoas. É a vontade pessoal de ser sempre admirado. Pelo culto ao visual e à aparência estas questões estão associadas ao mito de Narciso, assim como à Afrodite: a deusa do amor, da luxúria, da beleza e do orgulho.

O Nascimento de Vênus, por Sandro Botticelli.Fonte: mithsofgreece.blogspot.com

 

Comumente no narcisismo está representada a vaidade, o egocentrismo, um indivíduo que toma consciência de si mesmo, em si mesmo e perante si mesmo. O mito de Narciso em suas várias nuances,

tem uma influência decidida na cultura grega homoerótica inglesa Vitoriana, por via da influência de André Gide no seu estudo do mito Traité du Narcisse (‘O tratado de Narciso’, 1891), e da influência de Oscar Wilde. Também, muitas personagens dos escritos de Fyodor Dostoevsky (escritor russo do século XIX) são tipos de Narcisos solitários, tal como Yakov Petrovich Golyadkin em “The Double” (Publicado em 1846). Ainda na literatura, Paulo Coelho, em O Alquimista, utilizou como prefácio o mito, usando também a emenda que Wilde escreveu sobre o que ocorreu depois da morte de Narciso (Wikipédia, 2013).

Narciso por Caravaggio. Fonte: www.ribeiraopretopsicologia.com.br

O mito chegou até nós também pela música “Sampa” de Caetano Veloso, na qual retoma o mito para dizer a sua sensação quando chegou a São Paulo pela primeira vez: “[…] Quando eu te encarei. Frente a frente. Não vi o meu rosto. Chamei de mal gosto o que vi de mal gosto o mau gosto. É que Narciso acha feio o que não é espelho. E a mente apavora o que ainda não é mesmo velho. Nada do que não era antes quando não somos mutantes” … mas pecamos, por que mesmo?

 

4. Pecamos por prazer, ou qual o porquê de não pecarmos

Pecamos por prazer, porque nenhuma religião, nenhum deus consegue aprisionar o ser humano. E sentir uma sensação, uma emoção agradável, ligada à satisfação de uma tendência, de uma necessidade, do exercício harmonioso das atividades vitais, todo mundano quer pecar, quem não faz e evita tem muitos motivos e uma série de interdições que não o deixam pecar. Ser orgulhoso, por exemplo, é ter sentimento de satisfação, associa-se ao altruísmo. E por que não pecamos? Por que estamos infectados com o vírus da culpa?

Fonte: mithsofgreece.blogspot.com

Estamos infectados?!. “A mente é uma candidata plausível para infecção por algo como um vírus de computador” afirma Richard Dawkins em o “Vírus da Mente”.

Diz-se que um vírus de computador é um programa perigoso igual a um vírus biológico. Faz cópias de si mesmo, navega para outros computadores infectando o sistema e interferindo nas operações do computador, corrompendo e apagando dados e arquivos.

Para Dawkins “é intrigante imaginar como seria, do interior, se a mente de uma pessoa fosse vítima de um “vírus”. Este poderia ser um parasita deliberadamente projetado, como um vírus de computador atual. Ou poderia ser um parasita inadvertidamente transformado e inconscientemente evoluído”.

A infecção das mentes acontece por condicionamentos, alienações, alegorias, mitologias, idealizações e ideologismos. O The Da Vinci Code de 2003 dentre as suas polêmicas retrata as aventuras de desvendar códigos que deem respostas aos enigmas. Na trama há uma preocupação de entender os símbolos, sua representatividade e influências sobre os personagens.

A história da humanidade é representada por seus símbolos que expressam mitos, crenças, fatos, ideias, paradigmas e situações como formas de representação da realidade e de poder e do que se considera “loucura”.

Se é verdade que a Antiguidade grega manteve com o louco uma proximidade de fato e uma distância absoluta de direito, contrariamente à época moderna, em que a identidade com ele é de direito e a distancia é de fato, através da reclusão asilar, o mínimo que podemos dizer, a respeito dessa inversão, é que com ela alterou-se a geografia da loucura. Se antes ela era impensável por estar demasiado próxima e ao mesmo tempo excessivamente distante, tanto do homem como da razão, um pouco como o sagrado, e não sem relação com ele, como já observamos, a modernidade poderá pensar a loucura porque, ao subordiná-la antiteticamente à racionalidade, médica ou filosófica, terá consumado, no mesmo gesto, sua subjugação (Pelbart, 2009: 41).

Conforme Dawkins “como vírus de computador, vírus da mente de sucesso tenderão a ser difíceis para suas vítimas descobrirem. Se você for a vítima de um, as chances são de que você não saberá disto, e pode até mesmo negar vigorosamente isto”.

Nesse sentido é representativo um texto de Marina Colasanti (1996). “A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão. […] A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. […] A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. […] A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma”.

Você não está acostumado demais e até mesmo infectado por uma ideia, ideologia, doutrina, uma situação?! “Felizmente, os vírus não ganham sempre”, que venha uma nova onda de dentro de você!

 

Reiniciando, a provoca(ação)

Temos vivido nos preparando para o futuro e não saboreamos sequer os momentos do presente, sofrendo e nos torturando a cada dia com base no passado. Garantiram-nos recompensas após a morte e aceitamos ser maltratados, enlouquecemos, enlouquecem-nos para termos recompensa na vida pós-morte. E como dizia Woody Allen, “sexo alivia as tensões, o amor às causas”, pois o sexo “é a coisa mais divertida que se pode fazer sem rir”, entretanto, como nos dias atuais a diversidade sexual e de gênero está tão vigiada e punida.

Foto: Robert Mapplethorpe

 

Está na hora de fazermos uma loucura. Vamos deixar de viver no velho mundo das tradições, das antigas pregações, das antigas ideologias e viver a vida como ela é. Os pregadores da antiga lei e dos testamentos, os cavaleiros da má notícia, contrariando o anúncio da boa nova, nos ensinaram a abdicar do mundo terreno, das fraquezas da carne para nos salvar. Salvar de que? Da desrazão?

“Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final. Se insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário, perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver. Encerrando ciclos, fechando portas, terminando capítulos. Não importa o nome que damos o que importa é deixar no passado os momentos que já se acabaram. As coisas passam, e o melhor que fazemos é deixar que elas pudessem ir embora. Deixar ir embora. Soltar. Desprender-se. Ninguém está jogando nesta vida com cartas marcadas, portanto às vezes ganhamos, e às vezes perdemos. Antes de começar um capítulo novo, é preciso terminar o antigo: diga a si mesmo que o que passou, jamais voltará. Lembre-se de que houve uma época em que podia viver sem aquilo, nada é insubstituível, um hábito não é uma necessidade. Encerrando ciclos. Não por causa do orgulho, por incapacidade, ou por soberba, mas porque simplesmente aquilo já não se encaixa mais na sua vida. Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira” (Fernando Pessoa).

 


Foto: André Kertész

 

Faça uma loucura por mim!
Faça uma loucura por você!
Faça uma loucura por nós!

 

Referências:

COLASANTI, Marina. Eu sei, mas não devia. Rio de Janeiro: Rocco, 1996.

DAWKINS, R. O Virus da Mente. Tradutor: Marcelo Kunimoto. Disponível emhttp://www.ebah.com.br/content/ABAAAAQrUAB/richard-dawkins-virus-mente Acesso em 09 de abril de 2013.

FOUCAULT, M. A História da Loucura na Idade Clássica. São Paulo: Perspectiva, 1978.

PÉLBART, P. P. Da clausura do fora ao fora da clausura: loucura e desrazão. São Paulo: Editora Brasiliense, 2009.

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mulher

A esquizofrenia de ser mulher

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A revista Saúde sobre a mesa, na clínica de estética e massagem, é um chamariz. Empolgada, a mulher lê com avidez a reportagem sobre apetite sexual. Até que, repentinamente, o silêncio da recepção lotada de corpos femininos à espera de atenção do atendimento especializado (e cheio de promessas) mas também de olho no relógio, é quebrado, pela voz alta:

– “O quê? Quer dizer que quem faz muito sexo tem mais saúde? “

Assustadas, as demais deixam suas leituras, entreolham-se sem entender com quem ou para quem a tal cliente está perguntando, e aguardam o que virá rapidamente a seguir:

– “Então, eu sou doente! Porque não tenho este apetite sexual todo!!!!”

Ninguém ri, apesar de, no íntimo, a maioria achar engraçado aquela mulher se questionar e responder sobre um assunto tão íntimo e particular, de forma tão espalhafatosa.  Certamente, todas, indistintamente, tenham pensado em suas próprias vidas sexuais, afetivas, cobradas pela estética obsessiva e a quase obrigação social de serem ideais, perfeitas.

E não é só esta a carga diária e esquizofrênica da mulher, na atualidade.

É fácil enumerar a lista de exigências. Difícil é atender a todos os itens: beleza, inteligência, feliz e boa de cama (e com muito apetite!!). E aí, poderia estender a lista: boa mãe, boa profissional, agradável nas redes sociais, desejada.

Por isso é melhor tratar por parte e ficar só nos quatro primeiros itens. Esquizofrenia ou não, no fundo, todas de alguma forma, perdem num ou noutro quesito(e fazem o máximo para esconder, claro).

Fundamental ou não a beleza é vista e exigida pela sociedade. Natural ou produzida, esta condição é perseguida, nos consultórios médicos(cirurgias plásticas), dentários(clareamentos e implantes de novos dentes), psicológicos(quando é difícil demais ser feio).

Inteligência, dote ou conquista? Tem um poço onde se retire este produto? Mulher inteligente quase sempre é o contrário de bonita? Ah, a tal da inteligência nos garante aprovação nos concursos públicos, mas pode nos impedir de ganhar o rapaz mais bonito do colégio. Inteligência nos faz alcançar postos no trabalho, mas pode ser razão para que deixemos de ter filhos. E nem é preciso mencionar a chamada inteligência emocional, que é outra história.

Feliz. Por que é cada vez mais difícil ser feliz? Depois de passar pela beleza e a inteligência, como ser feliz? Se tiver beleza, mas não for inteligente, será feliz? E o contrário? Sendo inteligente, mas feia, será feliz? Como ser feliz se não atender o próximo item?

Ah, depois de ser bonita o dia inteiro, tomar decisões inteligentes no trabalho, na família, na igreja, na rua, ainda resta fôlego para ser boa de cama? Apetite sexual depois de 16 horas de trabalho, de contas à pagar, de colegas que querem puxar o tapete, de filho que vai chegar à adolescência logo…quando só se quer a cama para dormir…

Não é fácil ser mulher. Quem disse que seria? Lotados estão os consultórios: atrás de inteligência, beleza, felicidade.

Mas no mesmo lugar se resolve tudo, pode dizer um homem cheio de humor.

– “Na cama”, é a resposta.

–  “Sim, pode até ser”.

O melhor sexo também precisa de preparo. Como uma refeição é preciso ‘preparar o prato’: limpar a panela, aquecer a chama, acrescentar os temperos. E ainda tem a mesa, de preferência, com boa iluminação. Com luzes especiais, toda mulher fica bonita, inteligente, feliz, e certamente terá muito apetite, para ser boa de cama.

Finalizo. Ainda é difícil ser mulher. Mas, vamos em frente. A mesa está posta:

– “Pode vir, estou cheia de saúde!”

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