Um alerta sobre a Síndrome de Exaustão (Burnout)

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A leitura do livro Síndrome de exaustão Burnout nos leva a perceber o quanto o assunto é de extrema relevância no contexto social e profissional. A síndrome de burnout, em uma análise minuciosa evidencia-se através de uma série de aspectos a serem avaliados, visto a importância em analisarmos as próprias relações humanas, desde a maneira como nos relacionamos com o mundo, até a forma como lidamos com nós mesmos, as nossas fragilidades, nossas angústias e cobranças, inclusive o amontoado de sentimentos que carregamos ao longo da vida.

Os avanços da modernidade, as atualidades organizacionais, técnicas e tecnologias, ligadas ao aumento moderno e significativo do estresse ocupacional têm obrigado constantes adaptações das pessoas. Atualmente o estresse é reconhecido como um dos riscos ao bem-estar psicossocial do indivíduo, associado a alterações no estado de saúde (GUIDO et al., 2011).

Torna-se válido potencializar a percepção sobre como a humanidade tem vivido e criado hábitos próprios de lidar com as inúmeras demandas que a vida acaba exigindo diariamente de cada um de nós, e isto se mostra válido ao nosso trabalho, nossas demandas sociais e familiares. Observe abaixo alguns aspectos relevantes:

A despersonalização se torna uma tentativa de se defender da exaustão emocional, na qual esse indivíduo desenvolve uma insensibilidade emocional, de maneira que predomina a dissimulação afetiva, afastamento, impessoalidade, desinteresse, alienação e egoísmo. O fracasso profissional identificado pela auto avaliação negativa associada às próprias atividades laborais, implica sentimento de inadequação pessoal e profissional (FIGUEIREDO; SENTO SÉ; SILVA, 2017).

Fonte: encurtador.com.br/zLOZ4

Sabe-se que a síndrome de burnout é um distúrbio psíquico que ocorre a partir do momento em que a pessoa vivencia uma exaustão extrema no seu ambiente de trabalho, sendo que é possível analisarmos desde já os inúmeros aspectos que exigiram desde o princípio da humanidade que o homem fosse em busca de conquistar e desbravar o mundo na garantia por sobrevivência, todavia este mesmo trabalho não deve ser encarado sem que saibamos respeitar as nossas limitações físicas e mentais.

A realização da atividade profissional permeia dimensões físicas, sociais e emocionais que são propícios ao equilíbrio mental, satisfação e desenvolvimento de capacidades, no entanto também podem ser a causa de sofrimentos e esgotamento e que levam a alterações do estado de saúde do indivíduo (ALVES et al., 2014).

A fala do autor acima se mostra de grande relevância na discussão apresentada, visto que enquanto seres humanos acabamos nos esquecendo do quanto é importante vivenciarmos momentos de lazer, momentos em que apesar de termos de lidar com a necessidade de trabalhar por razões de sobrevivência, é preciso que saibamos o quanto as nossas relações com a família, amigos ou até mesmo com si próprio são fundamentais para o nosso bem-estar mental. Interessante nos atentarmos ao que o autor abaixo menciona:

Definida por um quadro de exaustão emocional. Sendo assim a primeira resposta causada pela sobrecarga de trabalho, conflito social e estresse decorrente das constantes exigências, o que pode acarretar, como estratégia de enfrentamento, o distanciamento emocional e cognitivo do profissional em relação ao seu trabalho (GASPARINO; GUIRARDELLO, 2015).

Atualmente deparamo-nos de maneira significativa com pessoas que trabalham horas exaustivas, em algumas situações, sem o mínimo de apoio para exercerem seus papeis e funções dentro do ambiente de trabalho. Para a maioria das pessoas, o ambiente de trabalho, pouco a pouco vai se tornando um lugar mais frequentado e vivenciado de maneira plena que o próprio lar, mas o artigo nos traz a discussão acerca de termos uma atenção especial para situações como esta.

Dentro desse contexto é preciso que saibamos o quanto é importante para o ser humano, uma compreensão satisfatória acerca das situações que podem ser uma ameaça significativa à sua própria saúde mental, e que saibamos priorizarmo-nos em situações como esta para que os sintomas não se tornem mais intensos e repetitivos. 

FICHA TÉCNICA DO LIVRO

Autores: Michael Delbrouck

Editora: Climepsi

Idioma: Português

ISBN: 9727962289 9789727962280

Formato: Capa comum

Páginas: 270

REFERÊNCIAS

ALVES, A.P. et al. Prevalência de transtorno mentais comuns entre profissionais de saúde. Revista enfermagem UERJ, v. 23, n. 1, p. 64-9, jan/fev. 2015.

FIGUEIREDO, R.P. et al. Burnout e estratégias de enfrentamento em profissionais de enfermagem. Revista arquivos brasileiros de psicologia, Rio de Janeiro, v. 67, n. 1, p. 130-145, 2017.

GASPARINO, R.C.; GUIRARDELLO, E.B. Ambiente da prática profissional e Burnout em enfermeiros. Revista Rene, v.16, n. 1, p.90-6, jan-fev. 2015.

GUIDO, L.A. et al. Estresse, doping e estado de saúde entre enfermeiros hospitalares. Revista da escola de enfermagem da USP, v. 45, n. 6, p. 1434-9, 2011.

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Síndrome da Cabana

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“…Só de pensar em sair de casa você já começa a ficar apavorado, confuso, tenso, angustiado e pode chegar até a sentir seu coração disparar. Mesmo sem ameaças imediatas, você não se sente mais seguro fora do seu lar. Sua casa é o único lugar que lhe proporciona segurança e proteção. Esse medo, após longos períodos de isolamento, é justamente o que define a Síndrome da Cabana”

Talvez você nunca tenha ouvido falar na Síndrome da Cabana. Realmente, este termo, apesar de ter surgido em 1900, não é muito conhecido atualmente. No entanto, você, seu vizinho, sua filha, seu amigo, podem estar passando por esta síndrome neste exato momento sem perceber. Como assim? Afinal, o que é a Síndrome da Cabana?

Imagine que a quarentena terminou. Já existe uma vacina para o Covid-19. Não há mais motivos para temer as ruas. No entanto, só de pensar em sair de casa você já começa a ficar apavorado, confuso, tenso, angustiado e pode chegar até a sentir seu coração disparar. Mesmo sem ameaças imediatas, você não se sente mais seguro fora do seu lar. Sua casa é o único lugar que lhe proporciona segurança e proteção. Esse medo, após longos períodos de isolamento, é justamente o que define a Síndrome da Cabana. Este nome foi dado em função dos trabalhadores norte-americanos que se refugiavam em suas cabanas quando o inverno chegava e, depois, tinham receio de voltar à civilização quando o frio terminava.

O mesmo já está acontecendo atualmente, devido à quarentena que nos confinou em nossos lares desde março deste ano. Hoje, algumas pessoas já estão entrando em desespero com a abertura de shoppings, lojas e relaxamento de alguns com relação ao isolamento. Não querem, de modo algum, que a quarentena termine. Obviamente, esse medo pode vir da possibilidade de serem contaminados. Porém, a Síndrome da cabana, ainda que não aja como fator principal, desempenha um papel importante na resistência em voltar à vida normal.

Fonte: encurtador.com.br/biFU7

Antes da quarentena, antes do Covid-19, já havia pessoas que não saíam mais de casa. Trabalhavam em home office, faziam as compras pela internet e passavam períodos muito longos sem colocar os pés na rua. Nosso cérebro se ajusta à nova rotina e o confinamento passa a ser normal e necessário.

Mesmo prisioneiros, após um longo período encarcerados, podem sentir medo de voltar à civilização e, muitas vezes, podem cometer crimes tão logo saiam da cadeia, para poderem voltar à vida a qual já estavam acostumados. A mudança nos tira da zona de conforto, ainda que, para muitos, aquela zona de conforto pareça uma opção ruim.

Mas o que é o medo mesmo?

O medo é uma sensação provocada pelo cérebro que auxilia o indivíduo em sua sobrevivência e adaptação. Se não sentíssemos medo de nada, não teríamos como nos defender e provavelmente morreríamos rapidamente.

Este mecanismo de sobrevivência ocorre a partir do Sistema Nervoso Central. Por exemplo, quando avistamos uma serpente, esta informação é levada ao SNC e passa pelo hipocampo (sede das memórias) que vai conferir se aquela informação já existe. Em seguida, o hipotálamo vai interpretar o que recebeu e relacioná-lo ao perigo. Ao receber essa interpretação, a amígdala (responsável pelas emoções) alerta o organismo na forma de medo. Imaginem uma criança que nunca viu uma cobra nem ouviu nada sobre ela. Ao se deparar com a serpente, não sentirá medo e provavelmente será picada.

Fonte: encurtador.com.br/fnxMN

Assim, sentir medo é não só normal, como necessário. No entanto, há muito medo. O medo pode ser real, como o medo de um assaltante; o medo pode ser imaginário, ou seja, não há nada acontecendo de fato, mas sentimos medo de alguma coisa que não conseguimos definir; o medo pode ser futuro, como o medo da morte; e o medo pode ser desproporcional ao objeto que o causou.

Quando o medo não é específico e dura longos períodos, então ele passa a ser chamado de ansiedade. A ansiedade não tratada e persistente pode levar ao pavor. A síndrome do pânico, por exemplo, e as fobias, quando atrapalham nossa vida, causam muto sofrimento e precisam de ajuda profissional.

O processo da quarentena

Quando a quarentena começou, sentimos muita dificuldade de adaptação. Nossa rotina mudou. Pais que só conviviam com os filhos nos fins de semana, de repente se sentiram perdidos e muito estressados. Marido e mulher começaram a brigar incessantemente. Chegaram a pensar em divórcio. Viajar? Impossível! Hotéis e passagens aéreas canceladas ou perdidas. Os estudos passaram a ser realizados por computador ou celular. Aplicativos, antes desconhecidos, tornaram-se fundamentais.

Muitos sentiram falta dos almoços de domingo na casa dos familiares. Páscoa, aniversários, qualquer atividade festiva precisou ser feita à distância. Abraços e beijos foram proibidos. Pessoas encheram suas casas de produtos não perecíveis com medo de não ter o que comer no futuro. Trabalhar em home office se tornou um desafio. O cachorro late, a criança chora, o prédio ao lado está em construção (e os trabalhadores não entraram em quarentena), o ônibus passa, o calor se torna insuportável e não se pode abrir a janela por causa do barulho, enfim, um caos.

Fonte: encurtador.com.br/AFHT7

Sem falar nos que têm (ou tinham) negócio próprio. Lojas fecharam, diversos trabalhadores passaram a buscar outras atividades para sobreviver, quem tinha pé de meia começou a ver seu dinheiro indo embora, quem não tinha, precisou contar com a ajuda do governo.

Mas, de repente, tudo começou a entrar nos eixos. Amigos passaram a fazer reuniões semanais por vídeo. Pais começaram a valorizar mais tempo com os filhos. Descobrimos que podemos achar de tudo pela internet. Ganhamos mais tempo para ler, estudar, refletir. O casal conseguiu se entender e agora não pensa mais em se divorciar. Parentes que raramente se viam passam a se ver semanalmente em reuniões da família. O pôr do sol ficou mais bonito sem tanta poluição. Psicólogos e Coachings se viram com mais atendimentos. A lista de filmes para serem vistos um dia começou a diminuir. Enfim, tudo o que era muito difícil no começo, passa a ser o certo, o bom, o confortável. Pelo menos, para grande parte da população.

Agora, com a possibilidade de a quarentena terminar, torna-se necessária uma nova adaptação. Começar tudo de novo. Ainda existe o medo do vírus, mas mesmo que não mais existisse, haveria resistência para voltar à vida anterior. Nosso cérebro passou a entender que somente em casa estamos seguros, protegidos. Fora de casa, estamos na selva, estamos na guerra. São os efeitos da síndrome.

Fonte: encurtador.com.br/ipJOY

Então estamos doentes?

A Síndrome da cabana não é uma doença, é um fenômeno natural, diante das circunstâncias. Apesar do nome, não é um transtorno mental, embora possa precisar dos cuidados de um profissional da mesma forma.

Quem sofre desse fenômeno pode sentir muita angústia, muita ansiedade, perder a concentração, perder a memória, passar a comer muito e a dormir muito, embora possa acontecer de o indivíduo perder o apetite e o sono, e alguns sintomas físicos também podem se manifestar, como taquicardia, sudorese, tonturas.

Os sintomas da síndrome podem lembrar a Síndrome do pânico. A diferença é que esta leva o indivíduo ao isolamento, enquanto na Síndrome da cabana acontece o contrário. O isolamento leva o indivíduo ao pânico.

Fonte: encurtador.com.br/AMXZ1

Como voltar à vida normal

Algumas dicas podem ajudar quem está (ou estará) sofrendo dessa síndrome.

              1 – Respeite o seu tempo. Não se obrigue, não se cobre, não se culpe. Cada um tem um ritmo diferente e o sentimento é totalmente válido. O importante é não desistir.

              2 – Estabeleça uma rotina. Por que isso é importante? Porque na rotina você se sente no controle e se você está no controle, pode controlar os seus pensamentos, portanto, pode controlar seu medo.

              3 – Comece aos poucos, devagar, e recompense cada passo, cada progresso. Por exemplo, no primeiro dia, simplesmente abra a porta de sua casa e fique ali, olhando para fora. Avalie como está se sentindo. Se puder, dê alguns passos. Senão, feche a porta e se recompense pela sua coragem. No dia seguinte, tente dar alguns passos para fora. Continue enquanto se sentir confortável. Senão volte. Continue insistindo todos os dias até conseguir ir até a esquina e voltar. Não tem problema retroceder. Não tem problema dar um tempo. Apenas tente. Acredite que você pode. Mas não force. Aumente as recompensas conforme for progredindo.

              4 – Lembre-se de todas as coisas boas que você tinha e fazia ao sair de casa. Lembre-se de seus familiares, do churrasco na casa dos amigos, do cinema, dos restaurantes, dos parques, da cervejinha gelada no bar, do sol acariciando sua pele, do vento bagunçando seus cabelos, das viagens divertidas, enfim, comece a condicionar seu cérebro para que ele diminua progressivamente a resposta do medo.

              5 – Nada disso está adiantando? Então, procure ajuda de um profissional. Você não precisa sofrer sozinho nem mais do que o necessário. A Síndrome da cabana, quando longa e não monitorada, pode desencadear um quadro depressivo grave.

Fonte: encurtador.com.br/rEP48

Mas a quarentena já acabou?

Não. Ainda é preciso tomar muito cuidado ao sair de casa e, de preferência, não sair. Mas por que já não nos munirmos de todas as informações necessárias para quando essa hora chegar? Quanto maior o nosso conhecimento, mais protegidos e seguros estaremos, agora ou no futuro

Além disso, se pensarmos bem, a tendência é nos isolarmos cada vez mais, com todos trabalhando em home office, lojas físicas se transformando em lojas virtuais e sites de relacionamento indicando que hoje os encontros virtuais são cada vez mais comuns e práticos. Enfim, tudo parece caminhar para que a Síndrome da cabana se torne um fenômeno menos raro e desconhecido.

Portanto, que tal começarmos a praticar desde hoje? Vamos começar desde já a enumerar todas as coisas boas que estão nos esperando lá fora. Vamos escrever todos os dias, mesmo que a informação se repita. Vamos condicionar o nosso cérebro a sentir cada vez mais vontade de sair. Um dia a quarentena acabará. Isso é fato. Então vamos nos preparar para uma nova vida antiga.

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‘Bao’ e o crescimento que se impõe com a força da vida

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Concorre com 1 indicação ao OSCAR:

Melhor animação.

Em situações recorrentes, os filhos são educados e preparados para experimentarem autonomia e, chegada a maturidade, saírem de casa e cuidarem de suas próprias vidas.

O curta metragem de animação Bao, vencedor do Oscar deste ano em sua categoria, é dirigido por Domee Shi e aborda de modo terno e emocionante o delicado tema da ‘Síndrome do Ninho Vazio’, problema psicológico que acomete inúmeros pais – sobretudo mães – ao redor do mundo.

Bao foi lançado pela Disney através da Pixar. A exibição, de modo inicial, ocorreu paralelamente aos ‘Incríveis 2’ e, de saída, já era o favorito para levar a estatueta mais cobiçada do cinema. Tem duração aproximada de 8 minutos e relata a estória de uma mãe que sofre com o ‘ninho vazio’ após seus filhos saírem de casa, num movimento natural rumo à independência.

De modo bastante criativo e com a assessoria de sua mãe, a diretora Domee Shi dá vida aos bolinhos artesanais produzidos pela mãe/personagem do curta. Neste sentido, quando a vida eclode em um dos bolinhos, a experiência da maternidade é colocada novamente diante da genitora e, similarmente ao que já havia ocorrido com os outros filhos, esta mãe é convidada a perceber que, no passar do tempo, a vida impõe o seu próprio ritmo e as ‘crias’ – mesmo as mais ‘doces’ e, eventualmente, apegadas – acabam por buscar a própria independência e identidade. Foi isso o que ocorreu com o bolinho artesanal. Ele cresce, se envolve com outras pessoas e não quer viver sob a influência exclusiva dos pais. Até desenvolve certa rejeição pela família nuclear – o que, em linhas gerais, ocorre com parte dos jovens em situação similar.

A mamãe da animação, então, vivencia e atualiza as mesmas frustrações e desencontros, o que causa profundo sofrimento psíquico. Este fenômeno abordado no curta metragem é a famosa ‘Síndrome do Ninho Vazio’, que em psicologia é caracterizada como um estado psicológico perturbador – patológico, quando associado a quadros depressivos –, marcada por sentimentos de tristeza e desânimo (sobretudo por parte da mãe) diante do processo de amadurecimento e independência dos filhos.

Foto: https://www.collater.al/en/bao-pixars-short/

Em situações recorrentes, os filhos são educados e preparados para experimentarem autonomia e, chegada a maturidade, saírem de casa e cuidarem de suas próprias vidas (conseguir emprego, relacionar-se afetivamente, constituir família, etc.). Alguns pais, no entanto, ao perceberem que dedicaram boa parte de suas vidas para os filhos, sem que tivessem a oportunidade de criar novos papeis para suas vidas, têm dificuldades de aceitar este processo de separação. Como já pontuado anteriormente, este movimento acomete, sobretudo, as mães, notadamente num cenário sociocultural de enfraquecimento da imago paterna, que pela Psicanálise edipiana é tradicionalmente vinculada a figura daquele que se responsabiliza por ‘acelerar’ a entrada dos filhos na dimensão pública (de enfrentamento do mundo).

Alguns dos desdobramentos da ‘Síndrome do Ninho Vazio’ abordados na animação e que, de fato, acometem muitas mulheres são distúrbios do sono, depressão, melancolia, raiva, distúrbios alimentares e diminuição da libido. Também há casos na literatura psicanalítica – no que se refere às fases do desenvolvimento humano e da psicologia das relações familiares – de pais que acabam por entrar num período de crise, após a saída dos filhos. Isso ocorre porque muitos casais giram em torno das demandas dos filhos e, na ausência destes, não conseguem reavaliar e ressignificar a própria relação. É neste momento que, em alguns casos, percebem não haver mais nenhum projeto em comum entre eles. É como se, inconscientemente, o vínculo marital só sobrevivesse à garantia da educação e independência dos filhos.

Para superar o ‘luto’ da saída dos filhos e a ‘Síndrome do Ninho Vazio’, a maioria das correntes teóricas da Psicologia prescrevem que é necessário reconhecer a naturalidade da saída dos filhos – isso pode ocorrer com a ajuda de um processo psicoterápico –, ao se debruçar sobre o fato de que a fase de proteção já passou. Algumas técnicas são aliadas poderosas deste processo, como a prática de atividades físicas, o engajamento no trabalho, em serviços comunitários e no próprio relacionamento afetivo, além da busca por atividades que reforcem o autodesenvolvimento e o desenvolvimento espiritual.

Fonte: https://goo.gl/NDmuu9

Os filhos de pais que desenvolvem a ‘Síndrome do Ninho Vazio’, de acordo com a literatura especializada, tendem a fazer um movimento de afastamento e de atrito em relação aos progenitores. Isto porque observam que o próprio princípio da liberdade está em crise, e em alguns casos passam a culpar os pais pelas suas demandas mais elementares, para a idade, como eventuais dificuldades para estabelecer vínculos e/ou outras inadequações que consideram ser fruto do processo de criação. Mais à frente, já como adultos, muito provavelmente estes filhos terão que se reconciliar com as imagos paternas e maternas, sob pena de carregarem um mal estar que pode interferir de modo negativo em suas ações cotidianas.

E é justamente neste cenário de resgate dos afetos que ocorre o desfecho de Bao, a partir de um enredo poético e emocionante em que mãe e filho se reconciliam, depois do tempo necessário para que a compreensão chegue e a cura se instale. O curta faz jus ao Oscar pela qualidade e função pedagógica que exerce. Um modo criativo de abordar um tema atual e desafiador.

FICHA TÉCNICA:

BAO

Título original: Bao
Direção:
Domee Shi
Elenco: Daniel Kailin – TV Son – e Sindy Lau – Mom
Ano: 2018
País: EUA
Gênero: Animação

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O constante desafio para equilibrar trabalho e qualidade de vida

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Fonte:http://blogs.atribuna.com.br/euestudocerto/wp-content/uploads/2013/07/Sem-tempo.jpg

Atualmente, a palavra “Trabalho” possui vários significados. Segundo Albornoz (1986) é possível achar o significado desta palavra a partir de duas formas: a de realizar uma ação que expresse a identidade do ser humano em um determinado contexto; e a de esforço diário, sem liberdade e autonomia.

A tradução da palavra, quando carregada de significados e emoções, pode suscitar (variável de acordo com a cultura) lembranças de formas de atuar diferentes, remetendo a imagens de alguém que produz e recebe uma remuneração por isso (capital). Muito se associa também à dor, fardo e esforço, pois o homem realiza e transforma algo (matéria prima) em prol de sua sobrevivência na sociedade, criando e reciclando instrumentos (Albornoz, 1986).

Independentemente do significado cultural que é atribuído à palavra trabalho, muito se diz sobre os benefícios e\ as consequências (longas jornadas de trabalho a fio) que a atividade humana para determinados fins pode proporcionar. O filósofo Bertrand Russell (1872- 1970) relata que os seres humanos deveriam ter uma jornada de trabalho menor, e que isso propiciaria mais tempo para a manifestação e desenvolvimento de habilidades artísticas e educacionais de cada um. Essa redução da jornada de trabalho, para Russell, deixaria a população menos submetida à alienação e a grandes rotinas que proporcionam grandes desgastes físicos e mentais.

Fonte:http://euquerotrabalho.com/files/2011/06/Tempo1.jpg

Olhando para a história, é possível perceber que a luta pela redução da jornada de trabalho é tão antiga quanto o próprio capitalismo, afinal no século XIX, surgem às primeiras obras de grande repercussão sobre o tema.  A luta pela redução da jornada de trabalho é apresentada por Marx como um direito dos trabalhadores, que têm parte de sua força de trabalho roubada pelo capital, sendo esta a base da construção da riqueza na sociedade capitalista. A redução da jornada de trabalho, por outro lado, aparece como um importante instrumento na construção de uma sociedade socialista em que homens e mulheres possam dedicar seu tempo livre para atividades mais prazerosas de caráter cultural, artístico.

Outro pensador que aborda a mesma proposta de Karl Marx é Bertrand Russel, em O Elogio ao Ócio, publicado em 1935. Russel critica o que ele chama de “crença na virtude do trabalho”, que seria responsável por uma série de malefícios vivenciados pela humanidade. A ideia da virtuosidade do trabalho poderia ter seu sentido em um período em que as forças produtivas fossem pouco desenvolvidas, mas, depois do advento da revolução industrial, passariam a carecer de qualquer forma de sentido. Russel ponta que a solução definitiva estaria no socialismo internacional. Com uma unidade central os erros poderiam ser evitados. Ao invés dos lucros, as indústrias teriam como motivação o planejamento governamental. Com o socialismo pode se encontrar o equilíbrio impossível no sistema capitalista. Acabará a insegurança econômica, que faz com que surjam as guerras. E as pessoas democraticamente eleitas seriam responsáveis por garantir o equilíbrio entre o lazer e o conforto. “Quando o socialismo tiver se generalizado em todo o mundo civilizado, os motivos para guerras em grande escala não deverão ter força suficiente para superar as razões, muito mais óbvias, de se preferir a paz.” (RUSSELL, 2002: 124).

Existiriam, para Russel, dois tipos de trabalho: o primeiro tipo é o executado por aqueles que efetivamente trabalham, e em segundo lugar, o trabalho que consiste em mandar os outros executarem as tarefas para si. Russel propõe que a jornada de trabalho ficasse restrita á quatro horas, em que o trabalho executado neste período de tempo seria suficiente para que os indivíduos pudessem, no entender do autor, satisfazer suas necessidades elementares, bem como as suas necessidades de conforto exigido pela vida. Como todos de sua época, Russell foi criado com a mentalidade do trabalho, onde o ócio seria algo negativo.

Como muitos homens da minha geração, fui educado segundo os preceitos do provérbio que diz que o ócio é o pai de todos os vícios. E, como sempre fui um jovem virtuoso, acreditava em tudo que me diziam, e foi assim que a minha consciência adquiriu o hábito de me obrigar a trabalhar duro até hoje (RUSSELL, 2002:23).

Fonte:http://www.blogdacidadania.com.br/wp-content/uploads/2013/07/marionete.png

A partir da dedicação de apenas quatro horas diárias ao trabalho. Russel acredita que as pessoas poderiam dedicar mais tempo ao desenvolvimento de sua educação, de diversas habilidades, como a pintura e as artes em geral, alcançando a humanidade, enfim, a alegria de viver, ao invés de todo o desgaste físico e emocional à exaustão, a que a população é submetida pela estressante faina a que são obrigados a enfrentar diariamente, por quase toda a vida. E como não estariam cansadas, as pessoas poderiam buscar diversões que fossem exclusivamente monótonas.

Fonte: https://espacoviryasp.wordpress.com/2015/01/27/para-que-serve-o-ocio-criativo/

Os pensadores que seguem a linha marxista acreditam que a redução da jornada de trabalho é, senão a única, ao menos a principal proposta a ser tornada prática para equacionar a problemática da diminuição do trabalho vivo e, em consequência, do aumento acelerado do desemprego. Segundo Russell “A técnica moderna tornou possível a drástica redução da quantidade de trabalho necessária para garantir a todos satisfação de suas necessidades básicas” (RUSSELL, 2002:28)

Ainda nos dias atuais o modo de produção capitalista, é muito difícil os patrões aceitarem de bom grado a redução da jornada de trabalho, mesmo que o empresariado possa obter alguns benefícios com a diminuição da jornada, como o aumento da produtividade do trabalho, que propicia a expansão do consumo tanto pelos novos assalariados, bem como pela ampliação do consumo do ócio, por parte dos trabalhadores com maior tempo livre. Assim mesmo, a lógica do capital é opor-se à medida, se não for seguida da redução dos salários. A aceitação da redução da jornada de trabalho por parte da classe capitalista, com manutenção de salários, mostra-se pouco provável de ocorrer até nos dias atuais. Da mesma forma, nada indica que pelo fato de estarem ocorrendo transformações aceleradas no mundo do trabalho, fruto das inovações tecnológicas, com a necessidade da utilização de menos trabalhadores para a produção de uma mesma quantidade de mercadorias, que a diminuição da jornada de trabalho será posta em prática com maior facilidade. Para Russell

[…] A moderna técnica trouxe consigo a possibilidade de que o lazer, dentro de certos limites, deixe de ser uma prerrogativa de minorias privilegiadas e se torne um direito a ser distribuído de maneira equânime por toda a coletividade. A moral do trabalho é uma moral de escravos, e o mundo moderno não precisa da escravidão. (RUSSELL, 2002:27)

 O que se verifica é que o trabalho encontra-se cada vez mais precarizado, através da flexibilização dos direitos trabalhistas, e é nestas formas de organização produtiva que se observa a convivência entre as mais arcaicas formas de exploração do trabalho, acompanhadas pelas modernas. Assim sendo, pode-se concluir que a redução da jornada de trabalho e a ampliação do tempo livre a que o trabalhador poderia usufruir somente seria realmente viabilizada em proveito dos próprios trabalhadores sob a organização de uma sociedade em que não houvesse o predomínio da propriedade privada dos meios de produção. Do contrário, sempre alguém irá pagar pela redução da jornada de trabalho, e no caso do capitalismo, sempre o custo recairá sobre os trabalhadores de forma direta ou indireta. Para Russell, as pessoas precisam de maior tempo de lazer:

[…] Os prazeres das populações urbanas se tornaram fundamentalmente passivos: ver filmes, assistir a partidas de futebol, ouvir rádio e assim por diante. Isto ocorre porque as energias ativas da população estão totalmente absorvidas pelo trabalho. Se as pessoas tivessem mais lazer, voltariam a desfrutar prazeres em participassem ativamente (RUSSELL, 2002: 33).

Fonte: http://obviousmag.org/archives/2009/02/trabalho_no_mundo.html.jpg?v=20151117184946

Se trouxermos o tema redução do trabalho e ócio para os dias atuais, é possível dizer que o homem deixou de trabalhar para viver e passou a viver para trabalhar, houve uma queda criativa da capacidade do individuo, pois, ele não tem o ócio para realizar as coisas que realmente gosta. É possível dizer que hoje, o ócio é visto com maus olhos, com mediocridade, hoje, o ócio um sinônimo de vagabundagem ou de férias, de não fazer nada. É irônico que no próprio grego a palavra tenha sofrido essa distorção. Em grego, é psykhagogía, o que significa originariamente condução da alma. Por quê? Porque o ócio é o momento em que o indivíduo para refletir sobre a alma. No livro Sobre o Ócio, Sêneca mostra que esse é o momento da contemplação, da reflexão, do encontro do sujeito consigo mesmo, de pensar no sentido da sua existência – o que estou fazendo aqui, de onde vim, para onde vou. A função do ócio é renascer de si próprio e recriar-se constantemente no caminho da evolução. Em Fedro e em O Simpósio (erroneamente traduzido como O Banquete), Platão nos dá reflexões excelentes sobre isso. Ele queria recuperar o saber da verdadeira Paidéia, a arte de formar um homem não pelo conhecimento, mas pela ética e pela verdade – os princípios por excelência do pensamento arcaico como forma de educação. Portando, o ócio significa o momento de fazer uma viagem exterior e outra, interior, como dizia Sócrates. A viagem interior rumo à descoberta de si, para a pessoa se pôr para fora, a serviço do social e da realização – a fim de que ela parta daqui mais evoluída e deixe uma contribuição para a criação.

Com o passar do tempo, novas formas de trabalho são impostas e configuradas na sociedade. Atualmente, no Brasil, com a implementação do sistema capitalista, os homens devem produzir a fim de adquirir o lucro (capital). Quanto mais se produz, mais se ganha. Isso pode gerar indivíduos que buscam longas jornadas de trabalho a fio para poder adquirir mais recursos e adentrar ainda mais ao sistema vigente do país.

Hoje, uma grande discussão que envolve o trabalho como apenas mais uma atividade do homem é a qualidade de vida. Devido aos desgastes causados pela busca incessante de lucros, a qualidade de vida nos países emergentes tem se degradado. “A trama em que essa questão está envolta é quase evidente: a luta pela sobrevivência leva a uma jornada excessiva de trabalho, e as condições em que o trabalho se realiza repercutem diretamente na fisiologia do corpo.” (HELOANI; CAPITÃO, 2003)

Fonte: http://lainnois.blogspot.com.br/2007/09/captulo-ix-do-domnio-real-rousseau-fim.html

Bertrand Russell definiu o trabalho em duas esferas diferentes; A primeira tratava-se da esfera de trabalho braçal onde o trabalhador tinha como meta alterar a posição de uma matéria ou de transforma-la. Sendo este trabalho menosprezado e pouco valorizado. E a segunda é o daqueles que supervisionam os trabalhadores que fazem o serviço braçal, supervisionando e dando ordens, sendo este tipo de trabalhadores mais valorizados e melhor remunerados que os outros.

Russell argumentava que as pessoas trabalhavam dura a vida inteira, recebendo o mínimo em troca, somente o necessário para a sobrevivência. Enquanto as classes dominantes falavam na honra do trabalho como uma forma de lavagem cerebral das categorias trabalhistas que pegavam no pesado. Deste modo o homem passa a trabalhar mais para conseguir se manter.

Lembre-se que o tempo é dinheiro. Para aquele que pode ganhar dez shillings por dia pelo seu trabalho e vai passear ou fica ocioso metade do dia, apesar de não gastar mais que seis pense em sua vadiagem ou diversão, não deve ser computada apenas essa despesa; ele gastou, ou melhor, jogou fora mais cinco shillings (WEBER, Max, 1904).

Sendo que este trabalho excessivo pode acarretar desgaste físico, criativo, intelectual e emocional.  Assim o trabalhador se afasta da cultura em geral acarretando em um cidadão leigo, sem opinião. Estes conceitos apresentados por Russell refletem-se nos temas atuais sobre o trabalho como é o caso do estresse e síndrome de Burnout.

A síndrome de Burnout trata-se de um desgaste do indivíduo frente as atividades exercidas no âmbito de trabalho podendo provocar um desgaste emocional e estresse crônico, muitas vezes é confundido com a depressão, por isso torna-se necessário um diagnóstico detalhado. Comumente ocorrem mudanças de comportamentos como irritabilidade, tristeza, pessimista, falha de memória entre outros.

Fonte: http://apranchetadoguerreiro.blogspot.com.br/2006_10_01_archive.html

Alguns estudos demonstram que “[…] sobre as condições de trabalho na União Européia, informa que 28% dos trabalhadores tinham problemas de saúde relacionados com o estresse” e “São quase 41 milhões os trabalhadores por ano da União Europeia, de todos os ramos de atividades, afetados pelo estresse relacionado com o trabalho, o que equivale a 600 milhões de dias de trabalho perdidos devido a doenças relacionadas com a atividade laboral.” (AREIAS E. Q; COMANDULE).

Na sociedade em que vivemos, o trabalho assume um papel elementar na socialização como um todo, uma vez que se apresenta como um campo de relações e consequentemente de elaboração da subjetividade humana. Além disso, a profissão escolhida e suas características passam a fazer parte da identidade do indivíduo perante a sociedade.

A partir de então, percebe-se que a produtividade, a visão de respeito, a eficiência e competência do indivíduo tornam-se também importantes pontos de manutenção da autoestima. Logo, o ambiente em que o trabalho se dá e suas condições precisam ser favoráveis e as relações precisam ser construídas de maneira saudáveis, mesmo que isso seja desafiador na maioria das vezes.

Percebe-se então, que esse cenário atual foi configurado aos poucos e hoje abriga patologias psicológicas das mais diversas naturezas, como: depressão, ansiedade, síndrome do pânico, síndrome de Burnout, entre outros. Essa realidade contrasta com o ideal de qualidade de vida no trabalho e corrobora com a visão filosófica de Russell, que acredita que o homem não pode ser verdadeiramente feliz tendo o seu trabalho como atividade principal na vida e que precisa ter tempo para se desenvolver em outros campos.

Diante do assunto exposto nesse trabalho, podemos perceber que a felicidade passa necessariamente pela redução da jornada de trabalho. Buscamos a felicidade, e ela vem à medida que somos donos do nosso corpo, mente e tempo. Reduzir a jornada de trabalho é uma conquista que se faz necessária, embora seja difícil, por vivermos em uma sociedade capitalista que prega a todo instante que precisamos ser mais e mais.

Porém, ao pensar sobre a redução da carga horária de trabalho é preciso falar acerca dos benefícios que isso traz, afinal, são horas livres para o lazer, ócio, prática de esportes, estudo, descanso e até mesmo viagens.  Sabe- se que o trabalho interfere diretamente no bem estar das pessoas. Se elas estão sobrecarregadas ou se o trabalho não lhe permite tempo de sobra para outras atividades, a qualidade de vida será afetada.

Essa interferência do trabalho na qualidade e quantidade de tempo tem favorecido um comportamento de consumo que não é apenas autodestrutivo, mas é extremamente prejudicial ao planeta. Constantemente somos bombardeados pelas propagandas que nos dizem a todo o tempo que o bem estar consiste em consumir coisas, bens materiais, tudo volta- se ao consumir.

Como resultado, consumimos mais na tentativa de atingir ao ideal, um estilo de vida mediada por coisas e não por relações e momentos. O que gera o sentimento de insatisfação e vazio. Sem contar que este estilo de vida caro nos exige cada vez mais tempo de trabalho, que agora também ocupa nosso tempo livre. Chegamos a um ponto de diluição de fronteiras entre tempo livre e tempo de trabalho e com o avanço da tecnologia, essas fronteiras tendem a ser tornar ainda menos claras.

Todo esse ciclo vem sendo convenientemente sustentado por nosso modelo econômico, que obcecado por crescimento e riqueza, ignora os altos custos sociais e ambientais envolvidos. Portanto, acredita- se que com uma jornada de trabalho reduzida, sem afetar bi salário do trabalhador, ele poderia se dedicar mais ao lazer, aos seus projetos pessoais o que geraria menos pessoas doentes, mais felicidade e disposição para trabalhar.

REFERÊNCIAS

Antônio Flavio Pierucci (Ed.). São Paulo: Companhia de letras, 2004.

Albornoz, Suzana. O que é trabalho. 1ª edição. São Paulo: Brasilense, 1986.

Russell, Bertrand, O Elogio ao Ócio, ed. Sextante, ano de edição 2002.

WEBER, M. WEBER, Max. A Ética Protestante e o “espírito” do capitalismo.

AREIAS E. Q; COMANDULE, Alexandre Q. Qualidade de vida, estresse no trabalho e síndrome de Burnout. Disponível em: http://www.fef.unicamp.br/fef/sites/uploads/deafa/qvaf/fadiga_cap1.pdf – Acessado em 29/03/2016

HELOANI, José Roberto; CAPITÃO, Cláudio Garcia. Saúde mental e psicologia do trabalho. São Paulo em Perspectiva,[s.l.], v. 17, n. 2, p.102-108, jun. 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-88392003000200011&script=sci_arttext>. Acesso em: 29 mar. 2016.

http://www.universopsi.com.br/dc036.html – Acessado em 04/03/2016

http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/definicao/psicagogia%20_1029179.html – Acessado em 04/03/2016

Artigo sobre o ócio: http://www.portalanpedsul.com.br/admin/uploads/2010/Filosofia_e_Educacao/Trabalho/08_02_32_.OS_VICIOS_E_O_OCIO_NO_PROCESSO_FORMATIVO_DO_SABIO_SENEQUIANO.PDF – Acesso em 05/03/2016.

O Sétimo Continente. Disponível em http://www.osetimocontinente.com/2010/02/o-banquete-platao.html – Acesso em 05/03/2016.

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Autismo e Síndrome de Asperger – como compreender e agir

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O Autismo e a síndrome de Asperger são os mais conhecidos entre os transtornos invasivos do desenvolvimento das habilidades sociais e comunicativas do indivíduo. Em entrevista ao Portal (En)cena, a psicóloga Lauriane dos Santos Moreira explica detalhadamente as principais característica destes transtornos, bem como as formas de tratamento e outras orientações.

Lauriane dos Santos Moreira é Psicóloga, professora do curso de Psicologia do CEULP/ULBRA, mestranda em Desenvolvimento Regional (UFT), especialista em Saúde Pública (ITOP) e em Análise Comportamental Clínica (IBAC).

(En)Cena – O que é o Autismo e a Síndrome de Asperger?

Lauriane Moreira – Autismo e Asperger até pouco tempo atrás faziam parte dos chamados Transtornos Globais do Desenvolvimento, o que abarcava outras problemáticas como Transtorno de Rett, por exemplo, tendo como elo unificador problemas na comunicação, interação social e padrões restritos e repetitivos de comportamento. Em 2013, com a publicação do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais V (DSM V) pela Associação Americana de Psiquiatria (APA), asperger e autismo deixaram de ser considerados transtornos distintos para comporem o que atualmente se chama de Transtorno do Espectro Autista (TEA), com níveis variados de gravidade. Apesar da mudança de nomenclatura pelo referido manual de classificação, os sintomas permanecem como antes, mas foram agrupados de modo que, ao invés de três características básicas, agora temos duas: problemas de interação social, essa permeada pela comunicação e os problemas acerca de comportamentos repetitivos e estereotipados.

(En)Cena – Em que idade estes transtornos costumam se manifestar?

Lauriane Moreira – Em geral os sintomas aparecem nos primeiros anos de vida, antes dos cinco anos de idade. Uma criança precisa comunicar-se, interagir socialmente e aprender uma série de comportamentos para se desenvolver de modo integral e, quando estamos lidando com uma criança que apresenta dificuldades bem marcadas nessas áreas, logo seu desenvolvimento fica prejudicado e os pais e/ou cuidadores costumam perceber isso bem cedo. Por exemplo, o costumeiro interesse de crianças de um ou dois anos de idade de explorar o ambiente e buscar a atenção das outras pessoas para brincadeiras ocorre sumariamente em algumas formas do espectro autista, em especial as mais graves, com uma tendência a preferir ficar sozinha e em locais com pouca estimulação sensorial.

(En)Cena – Quais as suas principais características?

Lauriane Moreira – Como já citado, as pessoas com autismo tem dificuldade em interagir com outras pessoas e em comunicar-se. Contudo, esse primeiro conjunto de sintomas não pode ser confundido com timidez ou fobia social. Nos graus variados em que o espectro se apresenta, temos desde pessoas que ignoram a presença dos outros, tratando-os como se fossem objetos, até casos em que a pessoa costuma se comunicar, mas com extrema dificuldade em compreender as regras sociais e o uso simbólico da linguagem. No que se refere aos comportamentos repetitivos, fixos e estereotipados, notamos nessas pessoas uma rigidez na rotina e interesses incomuns, como passar demasiado tempo olhando para um ventilador ligado. Além disso, muitos casos apresentam ecolalia e hipersensibilidade a estímulos sensoriais. Importante lembrar que é comum também verificar a existência de retardo mental associado, costumeiramente com alterações neurológicas, mas não são todos os casos.

(En)Cena – Como é feito o diagnóstico?

Lauriane Moreira – O diagnóstico é feito de forma multidisciplinar, em geral por psicólogo, psiquiatra, pediatra e neurologista, e tem cunho clínico, ou seja, é a partir da presença dos sintomas citados acima que se confirmará o transtorno do espectro autista, já que os exames de imagem e laboratoriais não mostram nenhum padrão que esteja presente em todos os casos. No entanto, tais exames costumam ser feitos para descartar outros diagnósticos prováveis, então sempre são requeridos. Obviamente, o diagnóstico deve ser rigoroso porque muitas crianças apresentam ao longo do seu desenvolvimento dificuldades em alguma das esferas citadas, o que é comum e esperado, então, somente um profissional da área tem condições de avaliar o caso, tendo em vista, por exemplo, a intensidade dos sintomas, desde quando eles estão presentes e a forma como afeta a rotina da criança e daqueles que com ela convivem.

(En)Cena – E quanto ao tratamento? Como ele deve ocorrer?

Lauriane Moreira – As terapias tradicionais direcionadas ao TEA tinham como objetivo eliminação ou redução de comportamentos inapropriados, seja via psicoterapia ou medicação. Atualmente, elas buscam também, e principalmente, ensinar novas habilidades para promover certo grau de independência e controle do ambiente pelo autista. Por exemplo, temos o Método TEACCH (da sigla em inglês, Tratamento e Educação de Crianças Autistas e com Desvantagens na Comunicação), que é uma estratégia de educação individual em que, a partir de uma série de imagens, ensinam-se tarefas como usar o banheiro, alimentar-se, vestir-se, além de outras mais complexas como leitura e escrita, objetivando a organização do cotidiano dentro da realidade do autista e de sua família.

Outro método, elaborado por analistas do comportamento, é o chamado ABA (da sigla em inglês, Análise Comportamental Aplicada), que visa diminuir a frequência de comportamentos inapropriados ao mesmo tempo em que ensina novos comportamentos, a partir das especificidades, necessidades e interesses da pessoa com TEA e daqueles que convivem com ela. Além desses, as psicoterapias de um modo geral tem sido amplamente utilizadas nesses casos, com diferentes técnicas. Alguns casos, em especial aqueles que apresentam problemas neurológicos, costumam se valer de terapia medicamentosa. Além disso, a área da educação tem trabalhos excelentes na alfabetização de autistas, no entanto, ainda são experiências tímidas já que as escolas, em geral, carecem de profissionais que compreendam essa condição e as necessidades específicas que apresentam.

(En)Cena – Quais os principais cuidados que a família deve ter em relação ao acompanhamento  em casa de um paciente em tratamento?

Lauriane Moreira – A família tem papel fundamental no tratamento de pessoas com TEA. Quanto antes a criança receber o diagnóstico, melhor prognóstico terá, e isso só é possível se os familiares forem observadores e buscarem um profissional logo que notarem algum dos sintomas. Algumas famílias, mesmo percebendo que há características pouco comuns na sua criança, esquivam-se de procurar um profissional por receio do diagnóstico. Outras, a qualquer sinal de comportamento não esperado, preocupam-se demasiadamente e buscam ajuda. A orientação é que, em caso de dúvida, não hesite em realizar uma consulta, seja para iniciar o tratamento, seja para livrar-se da preocupação.

Outro ponto importante é que, caso seja confirmado o TEA, a família deve informar-se sobre as características dessa condição para saber como lidar, pois não se trata de um, mas de vários problemas que a família precisa mediar, e desconhecendo o transtorno ficaria mais difícil. No entanto, a educação e o tratamento são possíveis, devendo a família auxiliar a “equipar” seu filho para conviver na sociedade e desfrutar de seus direitos, como educação, saúde e lazer.

(En)Cena – Quais as principais dificuldades enfrentadas pelos pacientes em seu convívio social?

Lauriane Moreira – Um dos principais sintomas do TEA é justamente a dificuldade no convívio social. Tal dificuldade permeia inclusive a relação com pessoas do seu ciclo doméstico, como pais e irmãos, podendo ser desde uma postura de total indiferença à simples dificuldade em manter contato visual. Nesse ínterim, uma série de situações podem ser listadas, como resistir ao contato físico, não se misturar com outras pessoas, tratar os outros como ferramentas, apresentar risos e movimentos “inapropriados” ou descontextualizados, agir como se fosse surdo, dentre outras características. Por exemplo, estudar numa sala de aula com 30 alunos pode ser uma situação suportada com muito sofrimento por pessoas com TEA. Pela dificuldade em compreender regras sociais e realizar abstração, o convívio social precisa ser mediado por outra pessoa que lhe ensine como se portar de modo o mais prático e concreto possível.

(En)Cena – As síndromes acompanham o paciente ao longo de sua vida sendo remediada, ou há uma cura definitiva?

Lauriane Moreira – A literatura não aponta casos de “cura” do TEA, até porque não se sabe ainda o que gera essa condição. Muitas teorias foram desenvolvidas ao longo de pouco mais de 60 anos em que o autismo tem sido estudado com mais afinco, desde que o médico austríaco Kanner em 1944 divulgou estudo realizado com onze crianças que apresentavam os sintomas de TEA. No entanto, apesar de não conhecermos casos de “cura”, existem muitos relatos de desenvolvimento importante, como o de Temple Grandi, americana que foi educada formalmente, sendo PhD em zootecnia. Ela relata que ainda tem dificuldade em olhar nos olhos dos outros, mas compreendeu como o mundo funciona e não se sente mais como um “E.T.” num planeta desconhecido.

A história de Grandi é um exemplo de TEA que foi diagnosticado e tratado desde muito cedo, mostrando que avanços enormes podem ser atingidos, como proporcionar independência. Casos de TEA com retardo mental grave associado são mais complicados, mas ainda assim possíveis de serem tratados com alcance de melhorias, em especial se a estratégia for interdisciplinar e com apoio e cuidado da família.

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Criação e destruição em “Instinto Selvagem”

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Lançado há 22 anos, “Instinto Selvagem” ainda é um dos filmes mais lembrados quando se fala em suspense, erotismo e sensualidade no cinema, uma combinação que, em mãos erradas, poderia facilmente ter se inclinado ao satírico ou à “pornodiversão”. Ambientado em São Francisco, na Califórnia, a excelente produção, dirigida por Paul Verhoeven, mostra a forte atração do detetive Nick (Michel Douglas) pela romancista Catherine Tramell (Sharon Stone), acusada do assassinato de seu amante Johnny Boz, dono de uma casa noturna na badalada cidade do Oeste americano.

Tudo começa quando Nick é destacado para investigar o caso e se depara com a envolvente Catherine, que desencadeia no agente uma espécie de Síndrome de Estocolmo1 às avessas. Combalido por um passado marcado por alcoolismo e drogas (estereótipo que Hollywood adora explorar nos personagens masculinos – veja-se o exemplo atual de “Sem Escalas” [EUA/França – 2014]), Nick acaba por ceder às manipulações e sensualidade da acusada. O “jogo” ganha novos contornos quando a psiquiatra forense Beth Gardner (ex-namorada de Nick Curran) passa a integrar a equipe de investigação e descobre que o assassinato de Boz é uma cópia fiel de um dos casos relatados num dos romances publicados por Catherine. No envolvimento desproporcional de Nick, ninguém escapa de ser um potencial suspeito, numa espécie de inquirição generalizada, difusa.

Extremamente bem desenvolvido, o filme exige maturação do espectador, já que se ancora numa estética que oferece múltiplas possibilidades, onde o sexo e a sensualidade são elementos de poder (bem ao estilo “foucaultiano”), muito além de meros apetrechos para se prender a atenção; em alguma medida a obra faz lembrar o alerta de inúmeros filósofos e intelectuais, que apontam a “imperturbabilidade” da alma (ataraxia2) como a antítese da incompreensão e domínio dos sentidos. Pode-se perceber claramente a entrada dos personagens no escabroso “labirinto” emocional tecido na trama das paixões desenfreadas.

A liberdade, neste sentido, é acompanhada do fardo do preço que se paga pelas escolhas que vão sendo feitas. Para cada ação, há uma reação correspondente, e nem sempre as coisas saem como planejado (aliás, nestas circunstâncias, praticamente nada sai como se espera).

Como bem pontua Sêneca, os arroubos provocados pelas emoções são meramente decorrentes de más interpretações da realidade. Presume-se, desta forma, que alguém inebriado pelo calor da confusão não tem condições de interpretar imparcialmente a questão como um todo (o caso de Nick). Muitos pensadores da linha estoica diriam que a “justa medida” nas ações vêm do autocontrole e da firmeza de quem a pratica. Não se deve, neste contexto, esperar sensatez de alguém que explicitamente aparenta fragilidade. Obviamente que há quem defenda que uma vida sem intensidade, sem paixões, é uma vida marcada pelo crivo da indiferença, do ostracismo e da falta de originalidade, pois esta [a originalidade, inclusive nas relações afetivas] vem justamente da possibilidade de se exercer a transgressão, sem imposições apriorísticas. No entanto, para quem deseja trilhar este caminho (da entrega total aos sentidos), como bem mostra o filme, deve-se estar disposto em igual medida a pagar o ônus das alternativas escolhidas.

Nick Curran é uma expressão bem acabada daqueles que experimentam “estados mentais confusos” [e que atire a primeira pedra quem nunca os experimentou], o que acaba por engendrar um ambiente fenomenológico marcado pela conspiração e pela desconfiança. A mulher bonita e sensual, na belíssima atuação de Stone (içada à fama neste longa) poderia ser provocantemente – e ironicamente – associada à “estetização” da própria pulsão de morte, o Tânato que em complementaridade a Eros empurra a vida, chacoalhando-a quando esta [vida] começa a apresentar os sinais de cansaço e apatia. No entanto, continuar por longos períodos nesta conjuntura (de vulnerável entrega) parece que acabaria por solapar os personagens numa espécie de “dissonância social”, de conflito irremediável.

“Instinto Selvagem” mostra quão falsas podem ser as conclusões que se fundamentam exclusivamente pelo calor das paixões; expõe a própria dinâmica da vida, balizada entre a tônica da criação (sexo) e a da destruição (morte), mas também aponta para uma espécie de terceira via, de busca de uma coerência para se evitar o eterno regresso a “velhas emboscadas”. Pois, parece, enquanto houver a existência simplesmente no sentido ordinário da palavra (ou seja, um existir por existir, sem reflexão), se estará totalmente sob a influência do desejo (e não o contrário, como muitos querem acreditar).

Notas

1 – Síndrome de Estocolmo é o nome dado a um estado psicológico particular em que uma pessoa, submetida a um tempo prolongado de intimidação, passa a ter simpatia e até mesmo sentimento de amor ou amizade perante o seu agressor. A síndrome de Estocolmo parte de uma necessidade, inicialmente inconsciente. Fonte: Brasil Escola – disponível em: <http://www.brasilescola.com/doencas/sindrome-estocolmo.htm – acessado em 08/03/2014>.

2– Ausência de perturbação: a paz na alma. É o nome grego (especialmente em Epicuro e nos estoicos) da serenidade. É também uma experiência de eternidade: “Porque não parece em nada um ser mortal um homem que vive em bens imortais”, escreve Epicuro (Carta a Meneceu, 135). Daí a ataraxia, como experiência espiritual, é o equivalente da beatitude, em Espinosa, ou do nirvana, no budismo. Fonte: COMTE-SPONVILLE, André. Dicionário Filosófico – São Paulo: WMF Martins Fontes, 2011 (pág. 63).

 FICHA TÉCNICA:

INSTINTO SELVAGEM


Elenco: Michael Douglas (Detetive Nick Curran); Sharon Stone (Catherine Tramell); George Dzundza (Gus)
Gênero: Suspense
Duração: 127 min.
Lançamento: 1992
Direção: Paul Verhoeven
País: EUA

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Vigorexia – Uma nova obsessão, um novo transtorno!

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Foto: Wlaquerley Ribeiro

Praticar exercícios físicos em todas as suas modalidades pode ser o caminho certo para uma melhor qualidade de vida. Mas, quando o excesso desses exercícios se tornam uma obsessão?  Nesses casos, entra a questão: esporte é saúde? Certamente temos uma opinião formada e uma reposta automática e positiva quanto a prática dos exercícios físicos.

Quando esse novo estilo de vida, disfarçado de antissedentarismo, ultrapassa os limites permitidos pelo corpo humano, pode gerar transtornos psicológicos chegando até mesmo à depressão. Nesse caso, o paciente já a ponto do complexo de inferioridade, pode ser diagnosticado com o Transtorno da Vigorexia

Também conhecida como Síndrome de Adônis, a vigorexia, ainda pouco conhecida pela ciência psicológica, é caracterizada por uma necessidade de estar sempre treinando, se fortalecendo, buscando mais ainda massa muscular. Mesmo já apresentando uma musculatura compatível com o corpo, o vigorexo que pode ser considerado um fanático por beleza atlética, chega a entrar em um estado psicológico anormal, criando necessidades vaidosas sem limites.

O estudante M.L.B, 23, conta que, logo depois que decidiu frequentar uma academia, teve um grande aumento de massa muscular. Mesmo assim, o estudante não conseguia visualizar e imaginava que nada tinha acontecido de mutação em seu corpo. “O pessoal falava que eu estava bacana, mas eu me via muito magro ainda, só percebia em algumas fotos que tinha mudado um pouco, na minha cabeça eu me sentia com o peso normal”, afirma, comentando ainda que a partir daí os familiares e amigos mesmo sem ter conhecimento da vigorexia o aconselharam a procurar um tratamento psicológico. “Eu procurei auxilio só pra provar que todos estavam errados e que eu não sofria de nenhum transtorno, quando comecei o tratamento percebi que realmente eu estava com uma certa obsessão por massa muscular”, conta.

A psicóloga Samira Brito Nogueira, relaciona a vigorexia similar com a anorexia – mulheres que são magras e sentem o desejo de emagrecer ainda mais –  também com a  bulimia e os transtornos alimentares, que são dismorfismos corporais e psicológicos. “Além do gasto exagerado de tempo na malhação, com outros sintomas é possível identificar um vigorexo através da preocupação desnecessária com alimentação, muito tempo se olhando no espelho, avaliando músculos e se sentindo pequeno, fraco e frágil, com um certo complexo de inferioridade”, diz.

De acordo com a psicóloga, o tratamento é multidisciplinar, podendo envolver um psicoterapeuta, nutricionista ou até mesmo um educador físico. “Com a psicoterapia ele pode estar procurando a área cognitiva comportamental que trabalha especificamente com pensamentos e comportamentos que o paciente apresenta para melhorar a obsessão”, explica a psicóloga lembrando ainda que, em alguns casos da vigorexia, indica-se também um profissional médico. “O médico estará indicando para esse paciente um medicamento do tipo um inibidor de seretonina, pois o paciente precisa trabalhar essa espécie de ansiedade, sendo que em alguns casos chega até mesmo a depressão”.

Thays Alves, professora de Educação Física de uma academia na cidade de Palmas-TO, afirma ser muito comum encontrar nas academias, homens com corpos grandes e definidos e mesmo assim sempre em busca do aumento obsessivo por massa muscular. “Muitas vezes para atingir esse objetivo eles esquecem da qualidade nos treinos e priorizam a quantidade, tanto de exercícios, quanto de peso”. A professora  explica ainda que, “os exercícios com cargas excessivas podem causar lesões, devido as sobrecargas nas articulações e coluna”.

Outro fator comum nas academias é o uso dos esteróides anabolizantes. De acordo com estudos dos profissionais da educação física, essas substâncias são proteínas que servem para aumentar o desempenho das atividades. “São vasos dilatadores que, usados de formas inadequadas, podem acarretar sérios riscos cardíacos, como arritmia e até infarto”, explica a profissional de Educação Física, Thays Alves.

“Sendo assim, a vigorexia é uma forma de provar que esporte nem sempre é saúde”, conclui a psicóloga Samira Brito Nogueira, acrescentando ainda que, em função desses esteróides anabolizantes, a pessoa pode ter disfunção sexual. “Podendo apresentar até dificuldade na ejaculação e indisposição para qualquer coisa que não seja a musculação”.

M.l.B, revela que, depois do tratamento que durou cerca de seis meses, consegue identificar possível obsessão da vigorexia em colegas de academia. “Eu não posso afirmar ou dar um diagnóstico que é vigorexia, mas hoje, depois do tratamento, percebo que alguns colegas sofrem desse transtorno e não aceitam o diagnóstico”, finaliza.

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Síndrome de Down em quadrinhos

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Bem… o Logan nasceu com Síndrome de Down, Sr. Flavio. Nós precisamos fazer alguns exames e entãonaguhrnd, d,ddm,m sjimmnsksijkal…. Depois do Síndrome de Down, eu não estava ouvindo ou entendendo nada. Só queria que a médica calasse a boca. Apenas isso”. Flávio soube da deficiência do filho e não entendeu. O editor de arte conta que, até receber a notícia, desconhecia a Síndrome.

Alguns meses depois, Flávio Soares começou a escrever A vida com Logan, “um registro eletrônico da grande aventura chamada vida e do desafio de se criar um filho, tenha ele alguma síndrome ou não”, afirma. Recentemente, lançou um livro com o mesmo título que relata o cotidiano de Logan, hoje com oito anos, e os desafios.

Em entrevista ao (En)Cena, Flávio Soares fala sobre o blog, as histórias e a realidade de superação diária, tanto da criança portadora da Síndrome quanto da família.

Flávio com os filhos Logan (à frente) e Max. Crédito: Leo Luz

(En)Cena  –  Quando você começou a escrever o blog? O que te motivou a contar as histórias?

Flávio Soares – O blog começou em 2005, alguns meses após no nascimento de Logan e na época eu publicava apenas textos. As tirinhas vieram alguns anos depois (em 2009). A minha motivação maior era encontrar uma forma de “racionalizar” a síndrome de Down, entender do que ela se tratava afinal de contas com base no nosso (meu e de minha ex esposa) dia a dia com Logan. Nossa rotina era uma rotina comum, diferente dos relatos tristes que encontrei na internet quando ele nasceu. Foi a minha forma de dizer “não é bem assim”.

(En)Cena  –  O que você pretende com “A vida com Logan”?

Flávio Soares – Pretendo continuar o que conseguimos até agora: mostrar, através dos quadrinhos, o que é a síndrome de Down para pessoas que não têm necessariamente contato com essa realidade (eu mesmo não sabia nada a respeito do assunto até o nascimento do Logan). De certa forma, acredito que as tiras ajudam a derrubar alguns tabus e a esclarecer coisas comuns.

(En)Cena  –  Em novembro, o Logan fará nove anos, certo? Quais são as maiores dificuldades que ele enfrenta nessa fase da vida?

Flávio Soares – Correto. No momento ele tem um grande problema que é a fala – ainda está bastante enrolada e vamos precisar investir forte em fonoaudiologia daqui pra frente para compensarmos esse ponto. No mais, ele segue se desenvolvendo como uma criança comum. Está aprendendo a ler e a escrever – demorando um pouco mais que os colegas em alguns pontos, mas isso já era esperado e também está sendo tratado em sessões de psicopedagogia.

(En)Cena  –  Nessa tirinha,

você demonstra a grande insensibilidade que muitos têm ao conviverem com portadores da Síndrome de Down. Isso é comum? Qual maior desafio do pai de uma criança nessa condição?

Flávio Soares – Isso é comum por conta da falta de informação. 90% das pessoas que fazem comentários desse tipo não o fazem por maldade; fazem por desconhecimento. Isso está mudando aos poucos. A percepção que a sociedade como um todo tem da pessoa com deficiência, hoje, é diferente da que se tinha há 20 anos. Acho que o maior desafio é se colocar no lugar das outras pessoas, entender que em muitos casos não há “maldade” e ter a paciência para explicar – ou esclarecer – a realidade.

Há também, claro, o grande desafio das escolas. A maioria não está preparada para receber alunos com deficiência e não se preocupa em se preparar para isso. Novamente: o cenário hoje é muito melhor que o de 20 anos, mas ainda está longe do ideal.

(En)Cena – Em várias tirinhas, você retrata a relação de Barney e Mignola, os animais de estimação da família, com Logan. Essa relação é saudável? Você percebe que traz benefícios para o crescimento de Logan?

Flávio Soares –Eu sempre acreditei que bichos de estimação são importantes para o desenvolvimento das crianças. Elas crescem aprendendo a respeitar os animais. O relacionamento de Logan e Max com os bichos é muito tranquilo. Barney, infelizmente, não está mais conosco, mas Mignola segue firme e forte distribuindo seu mau-humor pela casa (risos).

(En)Cena  –  Logan é carinhoso?

Nessa tirinha você expressa o carinho que ele demonstra pelo pai. Qual característica do Logan que mais lhe chama atenção, lhe encanta?

Flávio Soares – Ele é muito carinhoso. Essa tirinha é uma das que não têm “exageros” para o lado do humor – necessário quando fazemos tiras em quadrinhos. A única parte “fabricada” foi ele carregando um banquinho. Todo o resto aconteceu de verdade. Ele é carinhoso desse modo com todo mundo. Acho que esta é a maior qualidade dele: esta capacidade de expressar amor sem nenhum tipo de receio. Ele gosta das pessoas e faz questão de deixar isso muito claro.

(En)Cena  –  Em julho, você e a editora Panda Books lançaram o livro “A vida com Logan”. O que você tem a dizer sobre essa proposta?

Flávio Soares – O livro é um trabalho inédito, baseado nas tiras em quadrinhos, voltado para o público infantil. A nossa proposta era de fazer um livro que pudesse ser lido na sala de aula e nas casas das crianças e que tivesse um “entendimento” para os pequenos e também servisse para esclarecer dúvidas dos adultos. Sem apelar para “didatismos”, numa linguagem agradável e que funcionasse com várias faixas etárias. Por isso nossa opção pelo formato de história em quadrinhos e não de “livro ilustrado”.

(En)Cena  –  Você e o Logan são felizes?

Flávio Soares – Muito. Acho que não é errado dizer que Logan é feliz morando com sua mãe e que também é feliz nos dias em que fica aqui em casa (eu e a mãe nos entendemos muito tranquilamente sobre a guarda dele), comigo, com o irmão mais novo e com a madrasta. É uma vida feliz, sim. Bem diferente do que me disseram que seria, quando ele nasceu.

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A Menina no País das Maravilhas: conflitos entre a realidade e a imaginação

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Phoebe (Elle Fanning) é uma menina de nove anos de idade e que em nada se parece com seus colegas de classe, ao menos não é isso que eles acham, nem mesmo ela. Phoebe quebra regras adotando um comportamento peculiar e incompreensível pelas outras crianças, professores e para família. E nessa vida complicada de se manter igual aos outros, ela prefere viver em um país de Maravilhas, onde não há regras e suas palavras podem sair sem serem ridicularizadas ou reprimidas.

Existe uma gama de assuntos que merece atenção, que pode ser exploradopor estudantes e profissionais da psicologia, por educadores e pela classe médica. A princípio, observa-se o ambiente escolar. Ao contrário do País das Maravilhas (que a menina idolatra) a escola é o pior lugar para se estar, devido às inúmeras regras que têm que ser seguidas. Phoebe é uma criança questionadora e a primeira regra da instituição é: “As perguntas devem ser feitas só quando for a hora certa de fazer perguntas”. O que ela não entende, e nem obtém a resposta, é: quando é a hora certa de fazer perguntas? A partir daí surgem outros questionamentos que também não são respondidos. Este é o pontapé inicial para uma série de perguntas, que também seguem sem respostas.

A seguir é apresentado o retrato da família de Phoebe: os pais passam pouco tempo com as filhas devido ao trabalho.O filme explora, também, a dificuldade dos pais, sobrecarregados com seus trabalhos, que não conseguem administrar o tempo para dedicar-se a criação das filhas. A mãe, Hillary (Felicity Huffman), está trabalhando na história de Alice no País das Maravilhas (será que se pode fazer uma ligação com a vontade imensa de Phoebe em atuar na peça?), mas sente dificuldade em terminar sua tese devido as tarefas domiciliares, e a falta do pai Peter (Bill Pullman), que pouco ajuda na criação das crianças.

Hillary, no entanto, é a primeira a perceber que o comportamento de Phoebe está piorando e se culpa por isso, sente que devido ao seu trabalho (cansaço, stress, pressão) e por passar pouco tempo com as filhas, tenha, de alguma forma, afetado o comportamento de Phoebe, fazendo com que sua situação piorasse.

A filha mais nova reclama constantemente que não “suporta mais” ter que fazer tudo que a irmã quer, pede ou espera. Com esse discurso, conclui-se que Olivia (Bailee Madison) se sente excluída e sozinha, ou, como ela mesmo descreve: “eu sinto angustia”, por não receber a mesma atenção que a irmã e por ter que ficar resolvendo os “problemas” em que Phoebe se mete. É de uma personalidade forte, inteligente e precoce. Demonstra a todo o tempo o quanto se acha excluída dos assuntos.

Então o filme apresenta Phoebe diante da decisão de se inscrever ou não na peça que será produzida pela escola. Além disso, a menina precisa seguir com seu ritual de não pisar na “fenda” das cerâmicas, caso contrário a “espinha” da sua mãe quebra.

É apresentado um momento na escola em que todas as crianças brincam de “pega pega”,no entanto, Phoebe se recusa a participar da atividade e, quando se sente ameaçada, cospe em uma das colegas e profere palavras inapropriadas. Os pais são convidados a comparecerem à escola devido ao comportamento da filha, quando então são questionados se há algo acontecendo em casa. A parte daí surgem as dúvidas dos pais: será que estamos fazendo o certo? Decidida, Hillary busca maneiras de suprir a carência das filhas, dedicando um tempo a mais com elas.

Phoebe finalmente decide participar da peça, mas acaba se atrasando porque, segundo ela, “precisa lavar as mãos muitas vezes”, no entanto, esse acontecimento não a impede de realizar o teste.

“Se você quer muito uma coisa, precisa rezar ou fazer alguma coisa que você odeia” esse é o conselho que Phoebe recebe do amigo Jamie Madison (Ian Coletti), que também apresenta um comportamento diferente dos demais (segundo a escola). Jamie prefere brincar de boneca, casinha e escolhe ser a Rainha de Copas, assim é chamado pelos colegas de “bixinha”. Ao ouvir isso, Phoebe passa a dedicar-se a um novo ritual: contar quadradinhos na calçada, girar três vezes, subir as escadas pulando até cansar (ficar tonta e cair). As falas que repete dos outros, os deboches e os palavrões também aumentam de frequência, a mesma maneira que a pressão por conseguir o papel aumenta.

De início, com as características que o filme passa nas primeiras cenas, acredita-se que Phoebe provavelmente tenha Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), que se caracteriza pela presença de obsessões, que podem ser definidas como eventos mentais: pensamentos, ideias, impulsos e imagens, sendo vivenciados como invasivos e incômodos.

Por serem produtos mentais, as compulsões/obsessões podem surgir a partir de qualquer evento substrato da mente, podendo serideias, preocupações, imagens, memórias, músicas, filmes, cenas, palavras, momentos. Sendo assim, as compulsões podem ser definidas como comportamentos ou atos mentais que se repetem inúmeras vezes, realizados como uma forma de diminuir as tensões, incômodo, ansiedade ou para evitar que algo que é temido venha ocorrer (MERCADANTE; CAMPOS, 2000).

Ainda segundo Mercadante e Campos (2000), as obsessões de contaminação, medo de ferir-se ou ferir os outros, sexuais, repetição, checagem e rituais de tocar em objetos ou pessoas são mais comuns em crianças e adolescentes.

Uma questão importante para a avaliação de crianças com TOC é a semelhança entre os sintomas obsessivo-compulsivos (SOC) e os comportamentos repetitivos característicos de algumas fases do desenvolvimento, tais como os rituais e as superstições. Dos dois aos quatro anos de idade, as crianças apresentam intensificação dos comportamentos repetitivos (Mercadante; Campos, 2000, pag. s/p).

Vale ressaltar que, rituais e superstições são comuns durante o desenvolvimento infantil. Surgem geralmente com o objetivo de auxiliar no desempenho e dar uma sensação de controle ao que se refere a imprevisibilidade dos eventos.

Além disso, esses rituais não interferem no funcionamento da criança e não tem frequência ou intensidade dos SOC, porém, como se tratam de comportamentos repetitivos, podem ser confundidos com os SOC, por isso é importante reconhecer quando as superstições, bem como os rituais, tornam-se patológicos e quando as crianças necessitam de ajuda. Deve-se levar em conta: a faixa etária, duração diária dos comportamentos, intensidade e se interferem nas suas atividades e no seu desenvolvimento.

Para que um indivíduo seja diagnosticado com TOC é necessário que os comportamentos obsessivos causem interferência ou limitação nas suas atividades rotineiras, que consumam seu tempo e que causem sofrimento tanto para o paciente quanto para as pessoas que fazem parte do ciclo social (MERCADANTE; CAMPOS, 2000).

Então é possível que Phoebe tenha TOC, pois lava as mãos ao ponto de feri-las, realiza as contagens de blocos e giros e que se caso for interrompida deve começar novamente (o que a deixa muito angustiada), movimenta os dedos de maneira coordenada (ritual para conseguir o papel), sobee desce escadas pulando, não pisa na fenda dos azulejos para não ferir a mãe. Tais comportamentos causam incômodo na criança e nas pessoas que lhe cercam, interferem seus estudos e causa ferimentos físicos.

Mas enquanto as frases sem nexos, as palavras inapropriadas, as repetições vocais que Phoebe também apresenta do início ao fim do filme? Trata-se da Síndrome de Gilles de La Tourette, geralmente é manifestada na infância podendo abranger estágios crônicos. De acordo com o DSM-IV a síndrome se caracteriza por “tiques”, ou seja, movimentos ou vocalizações súbitos, rápidos e recorrentes, que correm frequentemente da mesma maneira, podendo se manifestar em qualquer parte ou conjunto de partes do corpo, apresenta-se também na forma de vocalização.  (HOUNIE; PETRIBÚ, 1999).

A síndrome de Tourette, também conhecida como Síndrome de La Tourette (SGT ou ST), é um distúrbio neuropsiquiátrico que caracteriza-se por múltiplos tiques, motores ou vocais, que perdura por mais de um ano e normalmente instala-se na  infância (…) Também  existem os tiques vocais, que abrangem ruídos não articulados, como tossir, fungar ou limpar a garganta e missão parcial ou total de palavras. Em menos da metade dos casos, observam-se a coprolalia e copropraxia, que é a utilização involuntária de palavras e gestos obscenos, respectivamente; a expressão de insultos, a repetição de um som, palavra ou frase referida por outra pessoa, que recebe o nome de ecolalia (MELDAU, s/p, s/d).

Para que o indivíduo receba o diagnóstico de Síndrome de Tourette é preciso a presença de tiques motores múltiplos, um ou mais vocais durante a síndrome, ocorrência dos tiques diversas vezes ao longo do dia por mais de um ano, início na infância ou adolescência, incômodo ou angústia provocados pelos tiques, incapacidade de autocontrole.

Além disso, Phoebe apresenta:

§  Ecolalia: repetição não significativa da fala dos outros;

§  Palilalia: repetição das próprias palavras, sílabas e sons;

§  Coprolalia: além de repetir as frases ou sons alheios, sente-se obrigada a proferir palavras obscenas ou insultos, quando não é apresentado de forma vocal, é demonstrado como um tique motor, no caso de Phoebe: cuspir.

Mas o que se pode fazer em relação a isso? A Síndrome não tem cura, mesmo que exista, de fato, a possibilidade de remissão dos sintomas no decorrer do tempo. Quando Hillary escuta do psiquiatra sobre o diagnóstico de Phoebe, ela inicialmente nega que isso possa estar acontecendo, mas depois culpa-se ao acreditar que não éuma boa mãe. Além disso, a mãe se recusa a dar remédios e julga que todos os médicos acreditam que as crianças giram em torno de rótulos e medicações. Até onde Hillary está certa? Será que seria essa a única solução para os problemas de Phoebe?

Apesar de todo o transtorno causado entre ela e o psiquiatra no final da trama, compreende-se que existem outros meios de seguir com a vida, mesmo que alguém do nosso círculo apresente comportamentos especiais.

No início desta análise, levantou-se a hipótese de que Phoebe é portadora do Transtorno Obsessivo-Compulsivo. Para se tratar uma criança com TOC é necessário uma série de procedimentos, pois a criança terá seu crescimento influenciado pelo convívio com essa patologia, sendo assim é necessário o planejamento de condutas que viabilizem um desenvolvimento adequado. Primeiramente, faz-se os esclarecimentos em torno do transtorno, bem como a origem do quadro. Faz-se necessário o estabelecimento de um vínculo com a criança. A orientação familiar e o suporte para todos que fazem parte do cotidiano da criança também são elementos importantes durante o tratamento.

Segundo a literatura, a terapia cognitivo-comportamental vem apresentando melhora dos SOC e diminuição de risco de recaída após a retirada da medicação, uma vez que as medicações também são prescritas durante o tratamento. As drogas consideradas mais eficazes são os inibidores da receptação da serotonina, exemplos: clomipramina, fluvoxamina e setralina, no entanto essas drogas só devem ser administradas quando o quadro de TOC estiver muito grave (risco de suicídio e/ou depressão).

A professora de teatro também é peça fundamental durante o desenvolvimento de Phoebe e seu autoconhecimento. É durante os ensaios e os ensinamentos de Miss Dodger que a criança consegue manter-se concentrada e controlar seus impulsos.  Destaco também que Phoebe, devido ao seu transtorno, ao bullying provocado pelos colegas de classe, a castração por parte da escola (respeite as regras) e os conflitos familiares, sente-se livre e feliz dentro de sua imaginação (alucinações). Para ela, viver no país das maravilhas é o único jeito de obter felicidade plena, pois, assim como Alice, ela também precisa se resignificar a todo momento. À sua volta está um mundo estranho e é difícil  lidar com os problemas de ser diferente e, por ser assim, a peça é o que mais aproxima a realidade da imaginação.

Não se trata unicamente da Síndrome de Tourett e TOC, mas além desse universo, a atmosfera do filme também trabalha a maneira de como as pessoas escolhem seus papeis, e de como cada uma delas conseguem conduzir suas vidas sem que isso mude o que de fato elas são. O filme trabalha com clareza essas situações, e durante toda a história recebemos informações de como aquela família pôde aprender a conviver com toda a situação de Phoebe e o mais importante: como Phoebe poderia seguir em frente, com a consciência de que, apesar de ser diferente dos seus colegas, continua fazendo parte da mesma equipe.

“…em certo momento da sua vida você vai abrir os olhos e ver quem realmente você é. Especialmente por tudo que a tornou tão diferente de todos os horrivelmente Normais. (Miss Dodger)”

Referências:

CAMPOS, M.C.R ; MERCADANTE, M.T. Transtorno obsessivo-compulsivo. Rev. Bras. Psiquiatr. vol.22  s.2 São Paulo Dec. 2000.

HOUNIE,A; PETRIBÚ, K. Síndrome de Tourete-revisão bibliográfica e relatos de casos. Rev. Bras. Psiquiatr. vol.21 n.1 São Paulo Jan./Mar. 1999.

MELDAU, D. C. Síndrome de Tourett. Disponivel em: http://www.infoescola.com/doencas/sindrome-de-tourette/. Acesso em 26 de Agosto de 2013.


FICHA TÉCNICA DO FILME

A MENINA NO PAÍS DAS MARAVILHAS

Título Original: Phoebe In Wonderland
Dirigido por: Daniel Barnz
Lançamento: 2009 (somente em DVD)
Duração: 1h36min
Elenco: Ellen Fanning, Felicity Huffman, Bill Pullman;
Gênero: Drama
Nacionalidade: EUA

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