Dificuldades existenciais no contexto pandêmico

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Os pesos ocultos da quarentena estão por vezes presos nas realidades de sofrimento, não divulgadas, não levadas em consideração, não fomentadas a partir do incentivo da fala de quem tem sofrido, independente dos pesos ou medidas que esse sentimento tem, em cada subjetividade. Os impactos visíveis ou invisíveis, nossas relações interpessoais, íntimas, estão em constante mudança, e este momento totalmente desafiador, nos joga na posição de necessidade da capacidade da resolução de problemas, ou, a paralisia das nossas faculdades antes normalmente executadas.

A relação cotidiana mudou, e por consequência nossos aspectos relacionais também experimentam neste fenômeno, necessidade de atualização, sendo este termo, longe de ser interpretado como juízo de valor (bom ou ruim), mas é a forma com que o sujeito se insere, ou se expressa, em um movimento orgânico e dinâmico, mas não unilateral, pois se diversifica a partir de uma estrutura psíquica individual e também coletiva, na busca dificultosa da homeostase.

encurtador.com.br/pqvVX

Posso talvez afirmar que cada um se insere da maneira que cabe, em suas possibilidades e angústias, alguns, o medo do incerto, da possibilidade da incapacidade de retornar a uma realidade antes vivenciada; outros, na precisão de estar sempre, e em constante produção; se Freud estivesse aqui diria que este é nosso sintoma? Seria nossa resistência para não ter contato com o desprazer? Estaríamos tomados pela estrutura egóica? Sabe-se lá se Skinner em um momento como esse, talvez fizesse paralelo sobre estes comportamentos, e diria que é fuga e esquiva, em uma tentativa de reduzir ou eliminar os estímulos aversivos.

Eu mesma, estou tentando pôr panos frios em meus sofrimentos, mas seria muito tolo da minha parte dizer que não estou constantemente lidando com o sofrer, e com a vida que me pressiona a uma glorificação de processos criativos para o sofrimento, as produções, afinal, estamos todos confinados, qual seria então minha desculpa? Nós avançamos no tempo, mas as questões não biológicas, estão constantemente sendo negligenciadas no processo de adoecimento, o que me faz pensar que não avançamos tanto assim.

encurtador.com.br/grDMS

Talvez o leitor esperasse que eu me embasasse em apenas uma teoria, enquanto eu misturava sistêmica, psicanálise, análise do comportamento, e agora, Gestalt e psicologia profunda; quem sabe eu só não esteja buscando incessantemente a quintessência, a pedra filosofal, a individuação, e uma possiblidade de me tornar um sujeito autêntico? Me disponho a deixar parte de mim aqui, e ser… não é sobre pontos finais, ao menos para mim, na maior parte do tempo é sobre interrogações, buscando estar aqui e agora, mas tendo também de resgatar lembranças no fundo do inconsciente, que vez ou outra sussurram ou gritam ao meu ouvido, pedindo atenção, para que eu volte novamente a dar atenção aos meus processos.

Eu enquanto acadêmica me sinto confusa diante de tantas formas de ver o mundo, e enfrentando eu mesma, ao mesmo tempo, para entender quem sou eu no mundo, e o que farei com estes sofrimentos latentes ou abafados pelas implicações sociais. Bem, o contexto não tem sido favorável, na verdade, não sei se algum dia foi, mas me força a crescer. Tive que lidar com o medo da perda de pessoas extremamente próximas, tive de ver o sofrimento de quem passa por uma doença nova, de grande enfermo, observar sobre meus olhos alguém que teve experiência de muito tormento, o que me fez recordar de Jung, e as experiências de “quase morte”, as imagens arquetípicas do self se manifestando.

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Mais que nunca, estamos sofrendo, e precisamos dizer, para que não seja tão solitário este sentir. Se eu refletisse nas fases do luto de Elizabeth Kubler-Ross, não conseguiria dizer com precisão em qual fase estou, mas felizmente não é necessária tal linearidade. De raiva a depressão, e talvez eu tenha conseguido chegar em parte, na gloriosa, mas não estável, aceitação… afinal, já entendo que preciso sofrer, e dar voz ao que não consigo dizer. E eu sinto muito por tudo que eu jamais diria neste relato, de tão vasto, vívido, e por ser tão confuso, nem sei como diria. Que sorte a minha seria ser analisanda… por mais doloroso que seja, é difícil fugir do que também sou eu, está comigo, mesmo que eu negue.

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Tecnologia inclusiva na perspectiva de Skinner

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Fazer o uso da tecnologia no ambiente escolar está se tornando cada vez mais necessário, uma vez que a geração Z nasceu e está crescendo nesse meio

O Conselho Nacional de Educação (CNE), por meio da resolução n°2 do ano de 2002, delimitou o significado de educação inclusiva, na qual é um conjunto de recursos e serviços educacionais a fim de fornecer apoio, complementação, suplementos e substituição de serviços educacionais comuns, uma vez que este modelo não inclui alunos portadores de deficiências. Por meio dos subsídios da educação especial, é possível desenvolver as potencialidades dos educandos que se incluem como pessoas com deficiência e consequentemente há a garantia da educação formal a todos, sem exceção (CARVALHO, 2017, p.21).

A lei federal n° 10.845, de 5 de março de 2004 criou um programa voltado à pessoas com deficiência a fim de garantir a universalização do atendimento a essa classe de alunos e por meio disto fornecer a integração em classes comuns de ensino regular. Contudo, é notável alguns problemas comuns na tentativa de inclusão dos alunos tidos como especiais, incluído principalmente o despreparo dos professores no ensino regular ( CARVALHO, 2017, p.22).

Além disso, há dois grandes eixos na formação de docentes antes de se inserir na sala de aula. O primeiro diz respeito a classe generalista, e é aquele preparo básico, comum ao ensino regular. O segundo é relativo a classe de “especialistas” que apreendem e aplicam as necessidades educativas especiais na inclusão dos alunos portadores de deficiência (GLAT; NOGUEIRA, 2003, p.135).

Fonte: encurtador.com.br/qrvX0

A formação clássica do docente exclui a inclusão desse tipo de aluno, visto e rotulado como defeituoso, anormal e deficiente, uma vez que a sua deficiência o define e o delimita na percepção do professor. O aluno que era tido como normal e saudável era aquele que não apresentava nenhuma dificuldade nos processos de ensino aprendizagem, o que é totalmente utópico e disfuncional. Com a manifestação das dificuldades de aprendizagem, houve a exclusão dos alunos tidos como especiais e anormais (KASSAR, 2011, p.69).

O professor da classe “normal” aprende a lidar com alunos sem nenhum transtorno cognitivo ou deficiência física e dentro dos padrões de ensino aprendizagem, e é isso que é visto na graduação. Já os professores tido como “especialistas” atendem a classe considerada anormal e com distúrbios de aprendizagem e consequentemente com métodos de ensino aprendizagem diferenciados, pois demandam necessidades educacionais especiais (ROCHA, 2017, p.5).

Contudo, essa classe de professores tendem a considerar apenas o diagnóstico do aluno classificado como especial. E isso acaba sendo um fator limitante para esse aluno, uma vez que suas potencialidades são negligenciadas, pois a escola apresenta apenas as condições daquilo que ele não pode fazer. Fica em omissão as possibilidades de se trabalhar suas capacidades alternativas a fim de reintegrar esse aluno a uma classe regular (GLAT; NOGUEIRA, 2003, p. 138).

Fonte: encurtador.com.br/elsBE

De acordo com Fonseca Filho (2007) a acessibilidade à informação e ao conhecimento é a variável mais poderosa, ou seja, é ela quem vai definir a exclusão ou inclusão dos indivíduos. Ficar de fora do fluxo das informações faz com que quem trabalhe ‘’por fora’’ da tecnologia fique assinérgico, em se tratando dos processos. Aquisições de universalização de serviços que criem oportunidades de inclusão e promovam a alfabetização digital são bem-vindas. É necessário potencializar e massificar as ações que trabalham no âmbito da alfabetização digital, uma vez que não deva haver a possibilidade de termos uma quantidade maior de tecnologia a ser administrada em contrapartida a uma minoria que a domine.

Tecnologia: Conceitos e avanços

Para uma melhor compreensão sobre esta ferramenta que vem inovando desde os tempos antigos, vale enfatizar sua etiologia, bem como seus significados. De acordo com Blanco e Silva (1993) a tecnologia é de origem grega, sendo téchne caracterizado como um ofício e até mesmo uma arte, e logia, como o estudo de algo. Já o dicionário online Michaelis, a tecnologia, refere-se á:

1-         Conjunto de processos, métodos, técnicas e ferramentas, relativos a arte, indústria, educação etc;

2-         Conhecimento técnico e científico, e suas aplicações a um campo particular;

Sendo assim, podemos definir a tecnologia como o uso de técnicas e conhecimentos, que tem como objetivo o aperfeiçoamento e promoção do trabalho,

seja ele com o uso da arte, ou com finalidade de resolução e/ou execução de uma determinada tarefa ou problema.

O mais conhecido marco no que diz respeito à evolução tecnológica trata-se da invenção e aperfeiçoamento da roda, esta prática facilitou o transporte de pedras, colheitas, mercadorias, além de cargas e peças de cerâmicas pesadas, juntamente com o uso das carroças, passando a levar uma maior quantidade de objetos em seu interior.

Fonte: encurtador.com.br/kqK13

No entanto vale ressaltar que a tecnologia não surgiu somente como uma ferramenta de aperfeiçoamento e facilitação do uso de instrumentos. A guerra é o maior exemplo disso, como a criação de máquinas de destruição cada vez maiores e mortíferas assim como os tanques de guerra, bem como ferramentas e armas, que redundaram não somente para os benefícios da humanidade.

No séc. XX,  foi notório o destaque da tecnologia da informação, assim as tecnologias digitais passaram a modificar as relações sociais, levando em consideração as questões de tempo e espaço, pois tal uso nos permite a ampliação e descoberta de novas informações de modo instantâneo, embora apresente cada vez mais preocupações, como o excesso de informações, o uso indevido e a redução da privacidade, necessitando ainda de estudos, aperfeiçoamentos e o saber utilizar de maneira correta.

Tecnologia nas escolas

A tecnologia tem uma grande presença na nossa sociedade atual, estão em todos os espaços, no trabalho, lojas, casas; como computadores, celulares, fones de ouvidos bluetooth, etc. Fazer o uso da mesma no ambiente escolar está se tornando cada vez mais necessário, uma vez que a geração Z nasceu e está crescendo nesse meio (FRANÇA, 2018)

Fonte: encurtador.com.br/gsBE4

Segundo Aguiar e Passos (2014, apud JÚNIOR 2005) a tecnologia não é definida   apenas pelos equipamentos como computadores ou máquinas, sempre esteve presente nas nossas vidas desde objetos considerados rudimentares aos computadores e celulares, a tecnologia faz parte de um processo criativo e abrangente, está inserida de forma simbiótica com seres humanos afetando nas relações, podendo tornar as vivências mais simples e auxiliando nas resoluções de problemas.

A função de mais importância da escola é fazer essa ponte entre os alunos e a cultura da sociedade em que está inserido, e tendo o conhecimento de que a tecnologia ganha cada vez mais espaço, a adesão da mesma se torna indispensável dentro da instituição, e quando se entra no âmbito da tecnologia inclusiva é intensamente necessária a introdução para a obtenção de resultados positivos no que se refere a aprendizagem do indivíduo.

A utilização das tecnologias educacionais encontrou-se reconhecido baseado em duas conjunturas; a primeira se encontra relacionada à aplicação dos meios pelos meios, e a segunda relacionada a “família” para responder aos impasses educacionais (VILLELA, GUERREIRO, 2013).

Fonte: encurtador.com.br/wEUV7

Outro aspecto relacionado a tecnologia foi difundida no brasil em meados dos anos de 1980, no momento em que a  tecnologia educacional era vista  principalmente  como a conexão entre aspectos tecnológicos e educação, a qual se materializa em uma totalidade de  proatividade, eficiência, composta por uma dinâmica, acessível e aberta de concepções e processos de ações educativas decorrentes dos investimentos no conhecimento científicos e estruturados para a solução ou encaminhamento de soluções para problemas educacionais (BERSCH, 2013).

Dentro do quadro educacional, são incontáveis os desentendimentos sobre as múltiplas proporções  das finalidades da tecnologia inclusiva, também conhecida como assistiva educacional, que nada mais é que  ferramentas que incentivam a capacidade  dos processos de ensino e de aprendizagem. Ainda possibilitam inovações que podem ser usadas nos momentos de planejamento.

Avaliações dos métodos e processos de escolarização, respeitando o processo subjetivo e singular de aprendizagem dos indivíduos, o que possibilita ainda a melhor dinamização das atividades grupais, promove o desenvolvimento de pesquisas, habilidade de planejamentos e resoluções e a interdisciplinaridade (BERSCH, 2013).

A utilização das inovações tecnológicas, têm significativamente influenciado a educação especial, essencialmente na transformação do atendimento educacional especializado que de acordo com a contemporânea organização pedagógica inclusiva, apropria-se da obrigação de serviço de assistência para a educação regular, que no caso, contribui para a aprendizado dos alunos com deficiência que estão nas salas regulares de ensino (VILLELA, GUERREIRO, 2013).

Fonte: encurtador.com.br/cxFV9

A tecnologia inclusiva, também conhecida como assistiva, é uma expressão nova utilizada para referenciar todos os recursos que contribuem para o desenvolvimento de habilidades funcionais de sujeitos com deficiência (BERSCH, 2017). No Brasil há um Comitê de Ajudas Técnicas (CAT) constituído pela portaria N° 142, de 16 de novembro de 2006.

A tecnologia assistiva é um âmbito do conhecimento, que possui um aspecto de interdisciplinaridade que promove a junção de produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivam promover a funcionalidade, direcionadas às práticas e ações de pessoas com deficiência, incapacidades ou mobilidade reduzida, promovendo a esta autossuficiência, independência, qualidade de vida e inserção social. Dessa forma, fundamenta-se em um instrumento de extrema importância para o ensino regular  assim como para os demais alunos com deficiência, possibilitando a garantia e o acesso aos  materiais e conteúdos curriculares (VILLELA, GUERREIRO, 2013)..

Contribuições de Skinner para a Educação

As pesquisas sobre comportamento e sua aplicação na educação dentro da abordagem behaviorista iniciou com Burrhus Frederic Skinner, mais conhecido como fundador do Behaviorismo radical, corrente de pensamento que se utilizava de sua prática em consultórios e nas escolas. O Behaviorismo estuda o comportamento (behavior, em inglês), partindo do princípio de que todo estímulo gera uma resposta e isso concebe o comportamento.

Fonte: encurtador.com.br/cJPUV

Em relação a educação,  Skinner afirma que educação é o estabelecimento de comportamento que seja vantajoso para o indivíduo e para os outros em um tempo futuro (1969 a, p. 402). Para ele a aprendizagem se dá através dos estímulos e reforçadores, do qual  as respostas a eles podem ser desejáveis e indesejáveis. O reforço para Skinner consiste em qualquer evento que aumenta a probabilidade da ocorrência de um determinado comportamento (LA ROSA, 2003). No entanto a autora enfatiza que,  aprender é algo muito mais amplo, pois é a forma de o sujeito aumentar seu conhecimento, nesse sentido, a aprendizagem faz com que o sujeito se modifique, de acordo com a sua experiência (LA ROSA, 2003).

Para Skinner o comportamento é influenciado pelos estímulos reforçadores ou punitivos, no que tange a utilização desse método na educação, a aprendizagem pode ser concebida conforme esses reforçadores e punidores forem se manifestando no ambiente.

Pensando na perspectiva de ressaltar ainda mais as contribuições de Skinner a Autora Melania Moroz, escreveu um artigo em 1993 intitulado “Educação e autonomia: relação presente na visão de B.E Skinner” que aborda três principais aspectos contribuições de seus estudos para com a educação: relação educando e educador; o comportamento estabelecido deve ser vantajoso para  quem receberá o conhecimento e também para os demais  indivíduos;  a educação não deve ocorrer apenas em tempo presente, os agentes educativos podem atuar de forma constante e trazer vantagens para o futuro.

Fonte: encurtador.com.br/yDR79

Dizer que educar envolve a atuação de alguém em relação a outrem – o primeiro dos itens assinalados – é colocar em foco, no pensamento de Skinner, o papel dos agentes educativos enquanto atuação planejada, tanto em termos da definição dos comportamentos a serem estabelecidos, quanto em termos das condições ambientais necessárias ao seu estabelecimento (MOROZ, 1993).

Contudo, o emprego dessa abordagem de modo descomedido trouxe mais conflitos, do que desenvolvimento, pois para o behaviorismo,

Instruir significa instalar, alternar e eliminar comportamentos. Planejar a instrução implica estabelecer sob quais condições os comportamentos são ou não adequados/corretos para produzir alterações ambientais capazes de manter uma intenção permanente (manutenção do que foi aprendido). (LUNA, 2002, p. 60).

Ao falar sobre o trabalho docente Skinner também critica  o método utilizado por alguns deles, chamado de “mande ler e verifique”, principalmente nas universidade. Pois tais metodologias não auxiliam o aluno no processo de aprender e no final ele tem que se virar sozinho para entender os conteúdos. Levando a um eventual fracasso, sem que com isso sejam levantadas reflexões acerca do que os professores poderiam fazer para facilitar e mesmo garantir a aprendizagem. Nas palavras de Skinner: “nós não ensinamos, nós meramente criamos uma situação em que o estudante ou aprende ou é condenado” (Bjork, 1997 apud  Flores, 2017).

Skinner (1973/1978a) ressalta que o mero contato com o ambiente não é a forma mais eficaz para que os estudantes aprendam tudo que pretendemos ensinar para futuras gerações. Apenas os condicionantes externos e internos não serão suficientes para ensinar vários aspectos de conhecimento para os indivíduos.

Fonte: encurtador.com.br/fLNPQ

Dessa forma, Flores (2017) faz uma enumeração de três considerações importantes para atuação do psicólogo escolar analista do comportamento, e finaliza apresentando uma proposta já consolidada na área, o Suporte Sistêmico a Comportamentos Positivos (SWPBS – School-Wide Positive Behavior Support). Ela apresenta, portanto, três considerações que serão descritas a seguir.

O foco deve estar na aprendizagem: a autora sugere que a escola, com a ajuda do psicólogo escolar livre-se de “contingências cerimoniais” que exigem do aluno comportamentos que apenas reforçam sua submissão e obediência a qualquer custo e que mantenha, na medida do possível, apenas “contingências tecnológicas” que vão de fato ser úteis para promover aprendizagem. Um exemplo é o levantamento feito por Ravthon (1999) que descreve uma série de intervenções baseadas em evidências para ensino de escrita.

O comportamento não deve ser concebido como intrínseco ou imutável: é comum que psicólogos sejam chamados na escola para realizarem avaliação e diagnósticos em crianças com dificuldades no processo de escolarização. Essa postura está pautada na concepção de que o problema está na criança e, portanto, ceder a ela é atuar para fortalecer a estigmatização.

Fonte: encurtador.com.br/flrIL

Na busca por encontrar outros culpados e superar essa estigmatização, psicólogos e professores encontram na família um bode expiatório que proverá a explicação menos individualizada. Em ambos os casos o problema permanece, as contingências vividas na escola tendem a se manter e o tratamento/intervenção ainda é realizado sobre a criança e pouco é feito para modificar as práticas culturais escolares que geram o fracasso e os desajustamentos. Crone e Horner (2003) propõem que o ensino da abordagem funcional do comportamento pode ajudar professores a encontrar novas formas de interpretar a relações e planejar intervenções melhor contextualizadas.

O olhar deve ser funcional: o estudo do comportamento tem tornado evidente a relação funcional que se estabelece entre as ações do indivíduo e suas condições antecedentes e consequentes. Analistas do comportamento utilizam a análise de contingências, ou análise funcional, para compreender melhor o comportamento e suas razões e assim poder intervir sobre sua ocorrência de forma mais acertada. A autora do texto apresenta bons exemplos de como essas relações funcionais são ignoradas na formulação das queixas escolares e através de um caso narrado exemplifica como é possível elucidar relações de reforço que passam despercebidas na rotina, mas que são muito importantes para compreender como as queixas se estabelecem.

Conclusões

Pensando na tecnologia inclusiva faz- se necessário evidenciar que o uso delas na educação ainda é discutido, porém dentro da educação inclusiva, se faz necessária, já que milhares de alunos utilizam das diversas formas de tecnologia para desenvolver seus conhecimentos, para mostrar suas competências e aptidões, para socializar e para estar de modo participante na sociedade (BERSCH, 2013).

Fonte: encurtador.com.br/giqW4

A realidade é que a utilização da tecnologia abre espaço para o fortalecimento do vínculo professor e estudantes, deixando a posição de inativos para participativos. Com o auxílio crucial e facilitador da tecnologia, a educação inclusiva pode ser aplicada de forma eficaz, uma vez que contribui para trabalhar as potencialidades e habilidades alternativas do aluno portador de deficiência.

A tecnologia não só acarreta essa assistência a educação especial e inclusiva, mas também trabalha e envolve o desenvolvimento da criatividade dos estudantes. Essa ferramenta pode proporcionar a eles uma certa autonomia sobre o conhecimento estudado e aplicado, e os mesmos podem até mesmo manipulá-los, de acordo com suas necessidades, como a criação de aplicativos eletrônicos para pessoas mudas.

Referindo-se à instituição educacional, Skinner diz que mais do que transmitir conhecimentos, ela ensina a pensar estabelecendo “… um repertório especial que tem como efeito a manipulação de variáveis que encorajam o aparecimento de soluções para problemas (1969a, p. 411). Contudo, a forma como o behavorismo foi utilizado na educação favoreceu o ambiente escolar como um lugar hostil, cheio de regras, controle e pouco diálogo. O que Skinner pretendia era que seus ensinamentos funcionassem como algo a mais, uma outra alternativa, para que os alunos aprendessem e fossem reforçados de maneiras positiva e não impositiva.

 

Referências

ASSISTIVA. Assistiva, tecnologia e educação. Disponível em: <http://www.assistiva.com.br/tassistiva.html>. Acesso em: 14 mai. 2019.

AGUIAR, Iana Assunção De; PASSOS, Elizete. A tecnologia como caminho para uma educação cidadã. Cairu, Salvador, v. 3, n. 3, p. 1-24, 2014.

Bjork, D. W. (1997). BF Skinner: A life. Washington, DC: American Psychological Association.

BERSCH, Rita. Introdução à Tecnologia Assistiva. Porto Alegre. RS. 2013. Disponível em: www.assistiva.com.br/Introducao_Tecnologia_Assistiva.pdf. Acesso em: 16 maio. 2019.

Blanco, E. & Silva, B. (1993). Tecnologia Educativa em Portugal: conceito. Origens, evolução, áreas de intervenção e investigação. Acesso em:  16 de Maio. 2009

Crone, D. A. & Horner, R. H. (2003). Building Positive Behavior Support Systems in Schools: Functional Behavioral Assessment. New York, NY: Guilford Press.

CARVALHO, A. D. EDUCAÇÃO INCLUSIVA: práticas docentes frente à deficiência auditiva. Trabalho de Conclusão de Curso ( graduação em Pedagogia). Anhanguera. Guarulhos, p. 30. 2017.

Flores, E. P. (2017). Análise do Comportamento: Contribuições para a Psicologia Escolar. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, 19(1).

FONSECA,CLéuzio F. História da Computação: O caminho do pensamento e da Tecnologia. Porto Alegre: EDIPURS,2007.

GLAT, R.; NOGUEIRA, M. L. L. Políticas educacionais e a formação de professores para a educação inclusiva no Brasil. Comunicações. Caderno de Pós Graduação em educação. v. 10. n°1. p. 134-141.

KARASINSKI, Lucas. O que é tecnologia?. 2013. Disponível em: < https://www.tecmundo.com.br/tecnologia/42523-o-que-e-tecnologia-.htm/> Acesso em: 16 maio. 2019.

KASSAR, M. C. M. Educação especial na perspectiva da educação inclusiva: desafios da implantação de uma política nacional. Educar em Revista. Curitiba, n°41. p. 61-79, jul/set. 2011.

LA ROSA, J. Psicologia e educação: o significado do aprender. Porto Alegre: EDiPUCR, 2003.

LUNA, S. V. Contribuições de Skinner para a educação. In: PLACCO, V. M. N. S. (Org.). Psicologia e educação: revendo contribuições. São Paulo: Educ. 2002.

MOROZ, M. Educação e autonomia: relação presente na visão de B.E Skinner.  Temas psicol. v.1 n.2 Ribeirão Preto ago. 1993.

SOMOSPAR. Tecnologia na educação: como garantir mais motivação em sala de aula?. Disponível em: <https://www.somospar.com.br/tecnologia-na-educacao-e-motivacao-em-sala/>. Acesso em: 14 mai. 2019.

Skinner, B. F. (1978a). Some implications of making education more efficient. In B. F. Skinner (Org.), Reflections on Behaviorism and Society (pp. 129-139). Englewood

Skinner, B.F. (1969a). Science and Human Beliavior. New York: Free Press (Edição original cie 1953).

Cliffs, NJ: Prentice Hall. (Original work published em 1973, reimpresso de C. E. Thorsen (Ed.), Behavior Modification in Education, Chicago: National Society for the Study of Education.

ROCHA, A. B. O. O papel do professor na educação inclusiva. Ensaios Pedagógicos, v.7, n°2, Jul/ Dez 2017.

VILLELA, T. C. R.; GUERREIRO, E.M.B.R. Os desafios da Inclusão Escolar no Século XXI. 15-03-2013. Disponível em: http://www.bengalalegal.com/desafios>. Acesso em: 16.05l. 2019.

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Relações Interpessoais na Geragogia sob a visão de Skinner

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Relacionar-se é a capacidade de conviver com outras pessoas. As interações acontecem em contextos diversos, nas organizações e em casa. Ao conviver com o outro há uma troca de afeto e responsabilidades. Ainda na psicologia clássica, a ideia que nós nos conhecemos através dos outros eclodiu.

Geragogia é a educação para velhos. É o estudo de como se dá a aprendizagem de velhos, com o objetivo de proporcionar uma velhice consciente e produtiva. Willis e Schaie (1981) listaram 5 objetivos para a educação de pessoas velhas/antigas. A primeira é ajudar na compreensão corporal e de comportamentos que são manifestados na velhice. O segundo é proporcionar compreensão das mudanças tecnológicas do mundo contemporâneo. A terceira é torná-los capaz de desenvolver capacidade para de defender. A quarta é o adquirir novas aptidões a partir do que foi supracitado. E o quinto é proporcionar aos velhos um bom desenvolvimento, assim como proporcionar a descoberta de novos e diferentes papéis pessoais (OLIVEIRA, 2006).

Para Skinner, o comportamento é resultado de alguma alteração no ambiente, e este também altera o ambiente. Logo, as relações indivíduo-ambiente são controladas pelas consequências. A depender da consequência, tal comportamento irá aumentar ou diminuir, podendo resultar em reforço positivo e negativo. Caso a consequência seja desagradável a frequência tende a diminuir, resultando em estímulo aversivo/punitivo.

 

Afeto e comportamento social na educação gerontológica

A educação gerontológica deve levar em conta, à priori, a personalidade, comportamentos e o ambiente que se inserem os adultos seniores. Para tanto, o Psicólogo Educacional das pessoas velhas deve ser capaz de entender, classificar, e intervir nos comportamentos, e desse modo, promover não apenas a remediação de situações já existentes, mas de forma interdimensional, preveni-las da maneira possível (BARROS-OLIVEIRA, 2006).

Porém, cada idoso tem suas experiências de vida, positivas ou negativas, em contextos diversos. Destarte, é necessária uma educação diferencial e contextual, com características individualizadas. O método de ensino/aprendizagem também é diversificado: deve-se recorrer mais às experiências acumuladas do que fornecer novos conhecimentos, desencadeando novas compreensões do que já existe para os educandos, dar a luz a novas interpretações, promover a auto-educação (BARROS-OLIVEIRA, 2006).

Via de regra na educação convencional, busca-se o desenvolvimento de habilidades e recursos cognitivos sofisticados nos educandos, porém, para uma condição de aprendizagem satisfatória, gerontológica ou não, espera-se que os aprendentes se sintam implicados e que haja satisfação pessoal quando o aprendido seja executado.

Fonte: https://bit.ly/2DmfnOO

Logo, as análises sobre a satisfação em aprender e a afetividade envolvida no processo estão intimamente ligadas ao papel das consequências dos comportamentos envolvidos na aprendizagem. Esse fenômeno tem sido discutido na abordagem Análise do Comportamento, que teve como expoente B. F. Skinner (BENVENUTI; OLIVEIRA; LYLE, 2017).

Reconhecer que quem está no processo de aprendizagem está ativo e transformando seu ambiente leva à possibilidade do manejo das consequências desses comportamentos. Pode-se manipular as consequências a quem se comportou de modo que os comportamentos esperados se repitam no futuro. As consequências mais importantes no contexto da aprendizagem são aquelas advindas de outras pessoas, os chamados reforçadores sociais. De maneira simplificada, podem ocorrer em expressões faciais, elogios, contato físico, sorriso, entre outros. Essa classe de reforçadores contribuem para o fortalecimento de vínculos com todos os envolvidos no processo de aprender (BENVENUTI; OLIVEIRA; LYLE, 2017).

Entre outros aspectos, alguns determinantes para a velhice bem sucedida envolvem a saúde, a manutenção do nível de funcionamento cognitivo e físico e a manutenção da participação social. Esses marcadores abrangem as dimensões física, psíquica e social, sendo a social composta por elementos de comunicação, convivência, sentimento de pertença, entre outros aspectos (BARROS-OLIVEIRA, 2006).

Fonte: https://bit.ly/2Dmg8Ya

Um dos benefícios da expansão da dimensão social, é em partes o autoconhecimento e o estabelecimento de novos significados para a própria existência em relação ao outro. Para Leite (1997), a representação que o outro nos dá de nós mesmos, funciona como o efeito de um espelho, pois, as imagens que temos de nós são sucessivas imagens que os outros nos dão de nós. Caso contrário, não poderíamos saber quem somos. Nas palavras de J. P. Sartre, “o outro guarda um segredo: o segredo do que eu sou”.

Para tanto, o valor da aproximação com outras pessoas depende que o comportamento aproximativo e a manifestação de afetividade seja seguido de consequências reforçadoras. Ainda que essas consequências sejam extrínsecas por serem arranjadas por outros, elas são relacionadas com motivação intrínsecas à medida que a interação social é um dos objetivos da educação (BENVENUTI; OLIVEIRA; LYLE, 2017).

Desse modo, os Psicólogos Educacionais dos idosos devem encorajar o entusiasmo, estar atentos aos estímulos que podem provocar consequências reforçadoras às pessoas velhas, considerando suas características de vida, suas histórias, seus conhecimentos prévios e suas redes afetivas.

Antes de assumir qualquer posição de saber, o psicólogo que se debruça sobre a Geragogia deve compreender que com sua vasta sabedoria, as pessoas velhas podem educar através da experiência, enquanto os mais novos devem se dispor a aprender mais (BARROS-OLIVEIRA, 2006).

Fonte: https://bit.ly/2zaFh4X

Portanto, o afeto, a análise do comportamento e as relações interpessoais apresentam-se como ferramentas para a ressignificação e flexibilização do vasto conhecimento já existente nos idosos, promovendo assim, mais saúde e qualidade de vida.

Princípios Básicos da Análise Experimental do Comportamento aplicados à Geragogia

A perspectiva Analista comportamental, traz a noção de que o comportamento sofre influências do meio, isto é, há uma interação entre organismo-ambiente. Dessa forma, dentro de um conjunto de contingências, é possível a separação do que se apresenta como Estímulo (alteração no ambiente que produz uma alteração no indivíduo) e do que se apresenta como Resposta (alteração no indivíduo causada pelo o estímulo).

Logo, o comportamento para Skinner é entendido como a relação entre vários estímulos, dentre eles: público; privado; histórico; imediato social e não social, uma relação entre o organismo e o ambiente,se apresentando como um processo que muda ao longo do tempo.

 A partir da perspectiva supracitada, comportamentos são estudados basicamente por dois tipos de relações, tanto os respondentes como os operantes. No caso dos respondentes as respostas de um comportamento são emitidas pelo estímulo antecedente apresentado, os comportamentos operantes são influenciados pela consequência conforme o contexto apresentado (HENKLAIN 2013).

Analisando essas variáveis, é possível a identificação de estímulos reforçadores e/ou punitivos, o que Skinner mais a frente denominou como aprendizagem pelas consequências de modo reforçador (aumento da frequência da resposta)e/ou por controle de estímulos aversivos (diminuição da frequência da resposta).

B. F. Skinner. Fonte: https://bit.ly/2RRqV0h

Portanto, para se começar a entender como a Análise do Comportamento enxerga o “aprender” do idoso, é necessário enfatizar que cada idoso possui um vasto repertório de vida, e que todo o processo de ampliação e ressignificação desse repertório, parte de um processo contingencial individualizante e interacionista, concomitantemente, os comportamentos possuem características funcionais no ambiente e não podem partir de uma análise unilateral, considerando que determinado comportamento só é possível a partir da interação indivíduo-ambiente.

Segundo Farias (2017) os indivíduos que pertencem a grupos nos extremos desse “contínuo desenvolvimento humano”, passam por transformações biológicas e comportamentais significativas, e como consequência, necessitam de programações especiais de contingência para produzir compensações comportamentais e ambientais.

O que Barros-Oliveira (2006) descreve que os métodos de ensino/aprendizagem para os velhos também devem ser diversificados, utilizando os princípios básicos da análise experimental do comportamento, como por exemplo, averiguar os estímulos respondentes e operantes, para obter um melhor resultado no desempenho do processo da Geragogia.

Ao ensinar pessoas idosas devemos principalmente desencadear uma nova integração aos estudos, analisando os efeitos da interação entre os velhos e o ambiente, como descreve Henklain (2013 p. 712) “[…] o tipo da tarefa que o professor requisita às consequências que o aluno produz com a realização da tarefa, a clareza da tarefa ou das instruções para a sua realização etc.” utilizando os reforçadores que estimulam a melhor compreensão do conteúdo ministrado.

Fonte: https://bit.ly/2qL9uTx

Outro fator capaz de explicar o comportamento, é reconhecer o indivíduo nas suas facilidades e dificuldades de aprendizagem. Cada velho deverá passar por uma avaliação onde será feita uma análise sobre a sua história de aprendizagem, as condições sob as quais se comportam e as consequências que produz. Portanto, o planejamento de ensino, deverá ser aplicável a realidade e flexível para atender às necessidades demandadas (HENKLAIN 2013).

Salientando a importância desse processo, pois assim, os idosos podem se beneficiar de práticas culturais que evitam a exagerada limitação de seu repertório comportamental e do estabelecimento de comportamentos voltados à saúde, de modo a manter as funções orgânicas satisfatórias por um período de tempo maior (FARIAS 2017).

A educação das pessoas velhas é necessária, visando a construção de uma sociedade com participação de todos, independente da fase do ciclo vital. Visto que na atualidade, pessoas antigas representam uma boa parte da população. Logo se faz necessário dar vez e voz a estas pessoas, para que se tenha uma sociedade e uma geração bem resolvida e satisfatória. Para isto, vimos que o estabelecimento boas relações interpessoais ajudam neste processo, visto que o indivíduo influencia e é influenciado pelo outro em seu meio social. Assim, uma relação de simpatia entre professor-aluno ajuda no processo de fortalecimento, adaptação e desenvolvimento de novos papéis.

REFERÊNCIAS:

BARROS-OLIVEIRA, José. EDUCAÇÃO DAS PESSOAS IDOSAS. Psicologia, Educação e Cultura: Revista do Colégio Internato dos Carvalhos, Pedroso, Portugal, v. 2, n. 10, p.267-309, dez. 2006. Semestral.

BENVENUTI, Marcelo Frota Lobato; OLIVEIRA, Thais Porlan de; LYLE, Leticia Albernaz Guimarães. Afeto e comportamento social no planejamento do ensino: a importância das consequências do comportamento. Psicologia USP, v. 28, n. 3, p. 368-377, 2017.

DE-FARIAS, Ana Karina CR; FONSECA, Flávia Nunes; NERY, Lorena Bezerra. Teoria e Formulação de Casos em Análise Comportamental Clínica. Artmed Editora, 2017.

HENKLAIN, Marcelo Henrique Oliveira. CARMO, João dos Santos.Contribuições da análise do comportamento à educação: um convite ao diálogo. Cad. Pesqui. [online]. 2013, vol.43, n.149, pp.704-723. ISSN 0100-1574. Acesso em 30 de out de 2018, disponível em :< http://dx.doi.org/10.1590/S0100-15742013000200016>.

LEITE, Dante Moreira. Educação e relações interpessoais. In: PATTO, Maria Helena Souza. Introdução à Psicologia Escolar. 3. ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1997. Cap. 1. p. 301-328.

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BF Skinner: para além do mentalismo

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“Os homens agem sobre o mundo, modificam-no e, por sua vez, são modificados pelas consequências de sua ação” (SKINNER, 1978, p.15)

A Psicologia passou a adquirir o status de ciência a partir dos estudos sobre a consciência, com Wilhelm Wundt e William James, no início do século XIX. Para ambos, a Psicologia deveria ser afastada de doutrinas e temas metafísicos, para que de fato pudesse ser considerada ciência (ABI, 2009).  Um século depois, nasce aquele que compactuando dessas premissas propõe a Psicologia da Análise do Comportamento.

Skinner nasceu nos EUA, no estado da Pensilvânia, no dia 20 de março de 1904. Quando criança costumava criar invenções das mais variadas, como: limpador de sapatos, lançador de cenouras, instrumentos musicais confeccionados de pentes e cordas velhas de violino. Fazia parte de uma família protestante, na qual o clima de afeto sempre estava presente (CAUPER et al, 2016).

Após concluir o Ensino Médio, Skinner iniciou a graduação, formando-se em letras românticas e literatura, no ano de 1926. Cogitou a carreira de escritor, porém não seguiu adiante. Sua caminhada no universo da Psicologia inicia-se com a pós-graduação em psicologia experimental na Universidade de Harvard, em 1928, onde após 3 anos angariou os títulos de máster e PHD (CAUPER et al, 2016).

Fonte: encurtador.com.br/lAK56

Durante sua estadia em Harvard, Skinner desenvolveu a chamada Caixa de Operante Livre (comumente chamada de Caixa de Skinner). Tal mecanismo caracterizava-se por um aparelho em forma de caixa, contendo uma alavanca, um distribuidor de comida, luzes, auto-falante e uma grade eletrificada (sua função será descrita mais adiante, em complementaridade a teoria desenvolvida pelo personagem em questão) (CAUPER et al, 2016).

Skinner casou-se com Ivone Blue, tornando-se pai de duas meninas, Deborah e Julie.

Skinner e a Análise do Comportamento

A Análise do Comportamento caracteriza-se como a ciência que tem como objeto de estudo o comportamento do organismo que se encontra inserido em um meio. Skinner (2003) diz que a interação organismo-ambiente dá-se em três níveis: filogênico, ontogênico e cultural.

Fonte: encurtador.com.br/qwEI7

A filogenia está relacionada à constituição genética da espécie, responsável pela evolução natural, sobrevivência e reprodução. A ontogenia refere-se à seleção de comportamentos indicados para determinado ambiente, caracterizando um condicionamento operante (onde o comportamento corresponde à interação: contexto (estímulo antecedente), ação (resposta) e consequência da ação (estímulo consequente). E a cultura diz respeito às características históricas, sociais, econômicas e todos os processos envolvidos na vida em sociedade (SKINNER, 2003).

Skinner (2003) postulou que os comportamentos dos organismos podem ocorrer novamente ou não, devido às consequências que provocam para o mesmo. Quando o comportamento ocorre novamente diz-se que ele foi mantido por uma consequência reforçadora. O Reforço Positivo dá-se quando um estímulo/consequência é apresentado de forma apetitiva ao indivíduo, acarretando no aumento do comportamento praticado. O Reforço Negativo dá-se quando o estímulo/consequência apresentado se mostra aversivo, dessa vez fazendo com que o organismo aumente a frequência do comportamento, para evitar o surgimento desse estímulo ruim outra vez.

Fonte: encurtador.com.br/abfQZ

Quando o comportamento diminui de frequência diz-se que ele foi diminuído por uma consequência punitiva. A Punição Positiva é quando um comportamento (R) diminui de frequência, devido a obtenção de uma consequência (S) negativa. A Punição Negativa é quando se diminui a frequência de um comportamento, devido a retirada de um estímulo/consequência apetitivo, no intuito de não perder esse estímulo bom.

Os postulados básicos da teoria da análise do comportamento, explicitados anteriormente, foram obtidos através dos experimentos realizados com pombos e ratos. A Caixa de Operante Livre é o mais clássico exemplo de condicionamento operante, e funciona da seguinte forma: o rato em privação de alimento era colocado em uma caixa, que possuía um comedouro. Para que ele recebesse um grão de comida, ele precisaria pressionar uma alavanca, que se encontrava na parede da caixa. Cada vez que seu comportamento se aproximava da ação de pressionar a alavanca, ele recebia um grão de comida. No final do experimento, o rato conseguia pressionar a alavanca e era recompensado com o grão de comida todas as vezes que o fazia (SKINNER, 2003).

Com esse experimento,Skinner  propôs o condicionamento operante, bem como as ideias de reforço e punição presentes em sua teoria.

Fonte: encurtador.com.br/mptEY

Críticas à Análise do Comportamento

Por ser uma ciência que se preocupa em estudar o comportamento dos organismos por meio de observações, e não de introspecção, o Behaviorismo Radical), tem sido alvo de críticas do tipo “O behaviorismo ignora a consciência, os sentimentos e os estados mentais”, “A Psicologia de Skinner é a psicologia do organismo-vazio”, “o comportamentismo não se ocupa do organismo do sujeito, pois a crença básica é que certo estímulo provocará certa resposta, independente do sujeito” (MOROZ et al., 2005).

No entanto, tais críticas são infundadas, e demonstram a falta de conhecimento aprofundado nos estudos de Burrhus Frederic Skinner.

Explicita-se que:

O Behaviorismo Radical, todavia, adota uma linha diferente. Não nega a possiblidade da auto-observação ou do auto-conhecimento ou sua possível utilidade, mas questiona a natureza daquilo que  é sentido ou observado e, portanto, conhecido. Restaura a introspecção, mas não aquilo que os filósofos e os psicólogos introspectivos acreditavam “esperar”, e suscita o problema de quanto do nosso corpo podemos realmente observar. (SKINNER, 1974/1982, p.18 apud MOROZ et al., 2005)

Então, Skinner dividiu os comportamentos em públicos e privados, sendo os comportamentos privados acessados apenas pelo organismo. Ele não desconsidera a existência de eventos privados/internos, porém diz que eles não são causa de comportamentos, mas sim consequência de interações com o meio e seus estímulos. Ainda acrescenta que tais comportamentos só poderão ser observados a partir do momento em que forem externalizados pelo organismo.

Fonte: encurtador.com.br/cxAM7

Portanto, dizer que a Análise do Comportamento é reducionista e superficial, e considera o organismo como uma máquina, não condiz com o que é explicitado pela teoria:

Desde o início, Skinner enfatiza estar lidando com organismo como um todo (…) é a totalidade do organismo ou pessoa que está sendo alterada na interação com o ambiente, e esta sua posição aparece em vários textos e na abordagem a diferentes temas, por exemplo: ao discutir o perceber (1974/1976, p. 93), ao discutir o pensar (1974/1976, p. 121), ao discutir o modelo de seleção por consequências (1981/1987, p. 59) (MICHELETTO;SÉRIO, 1993, p.14 apud MOROZ et al, 2005)

Contudo, percebe-se que a Análise do Comportamento possui um olhar científico amplo sobre o indivíduo. O ato de comportar-se perpassa todos os âmbitos da vida do sujeito. Então, quando você leitor chora, pensa, corre, dorme, estuda, come, ama, odeia, você está se comportando. E esse comportar-se não é obra do acaso, mas sim um modelo de seleção de comportamentos funcionais e úteis, para cada situação da sua existência como espécie humana.

REFERÊNCIAS:

ABIB, José Antônio Damásio. Epistemologia pluralizada e história da psicologia. Scientia studia, São Paulo, v. 7, n. 2, p. 195-208, 2009.

CAUPER et al, Daisy. SKINNER: das engenhocas infantis à câmara de condicionamento operante- avanços na teoria behaviorista e contribuições para a educação. Anais da V Semana de Integração, Goiás, 2016.

MOREIRA, Márcio Borges; DE MEDEIROS, Carlos Augusto. Princípios básicos de análise do comportamento. Artmed Editora, p. 29-43, 2007.

MOROZ et al, Melania . Subjetividade: a interpretação do behaviorismo radical. Psicologia da Educação, São Paulo, 2005.

SKINNER, Buhrrus Frederic. Ciência e Comportamento Humano. Editora Martins, 11ª ed, 2003.

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Último Romance: análise funcional

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Los Hermanos foi uma banda de rock alternativo criada em 1997 formada por jovens universitários do Rio de Janeiro. A composição era a seguinte: Bruno Medina, no teclado (estudante de Publicidade); Rodrigo Amarante, nos vocais, guitarra e percussão; Marcelo Camelo, vocais e guitarra (estudante de Jornalismo) e por Rodrigo Barba, na bateria (estudante de Psicologia).

A música “Último Romance”, com duração de 4:25 min, alvo da análise realizada – feita em tópicos –, tem como autor Rodrigo Amarante e está presente no álbum “Ventura”, lançado em 07 (sete) de maio de 2003. É importante destacar que a abordagem basilar do trabalho consiste na Análise Experimental do Comportamento (AEC), desenvolvida principalmente por Burrhus Frederic Skinner (1904-1990).

Eu encontrei-a quando não quis mais procurar o meu amor

O autor afirma que quando diminuiu a frequência da emissão do comportamento de procurar seu amor, o encontrou – o que para ele é um estímulo apetitivo/reforçador. Podemos inferir que ele se comportou dessa forma por várias vezes, e, após sucessivas punições positivas e negativas, respectivamente (exemplo: quando o homem convida uma mulher para um encontro e ela recusa; o homem começa a se relacionar e a mulher exige que o homem pare de jogar futebol – aqui, jogar é reforçador), diminuiu a frequência desse operante.

Fonte: http://zip.net/bdtKtk

E quanto levou foi pr’eu merecer / Antes um mês e eu já não sei…

O tempo decorrido entre a adequação do comportamento ao ambiente, de modo a obter consequências de cunho reforçadoras foi o suficiente para o organismo desenvolver maior repertório comportamental, de modo a pensar ser merecedor, ou seja, ter comportamento suficiente para responder de forma adequada aos estímulos ambientais acrescentados pelo outro na relação interpessoal/amorosa. O indivíduo está tão contente por causa desse contexto/ambiente apresentado que começa a repensar se de fato já teve a série de experiências necessárias para o enfrentamento dessa nova relação, se conseguirá se comportar da forma melhor adaptada possível.

E até quem me vê lendo o jornal na fila do pão sabe que eu te encontrei

O evento de encontrar a amada se mostrou tão reforçador para o indivíduo, que o mesmo generaliza a resposta. Noutras palavras, diante de ambientes diferentes (a fila do pão) ele continua se comportando da forma que se comporta quando está na presença da amada, demonstrando contentamento.

Fonte: http://zip.net/bmtJQz

E ninguém dirá que é tarde demais / Que é tão diferente assim / Do nosso amor a gente é quem sabe, pequena…

E é claro que as pessoas que fazem parte do meio social comum ao casal se comunicarão de forma verbal, seja com o comportamento de verbalizar que demorou muito para o homem da canção se relacionar com alguém, o que pode ser diferente – se para aquele ambiente for comum relacionamentos em faixas etárias menores, ou com outro tipo de funcionamento.

Fonte: http://zip.net/bqtKWw

Ah vai, me diz o que é o sufoco / Que eu te mostro alguém a fim de te acompanhar / E se o caso for de ir à praia eu levo essa casa numa sacola

Se a situação que a vida apresenta é apetitiva ou aversiva, não importa. Desde que o homem esteja compartilhando o ambiente que está com sua amada.

Eu te encontrei e quis duvidar, tanto clichê deve não ser / Você me falou pr’eu não me preocupar / Ter fé e ver coragem no amor!

A fala da amada (que compartilha da mesma comunidade verbal que ele) de que ele não precisava se preocupar com a possibilidade de término ou algo do tipo trouxe como consequência a sensação de segurança.

Fonte: http://zip.net/bytKrR

E só de te ver eu penso em trocar a minha TV / Num jeito de te levar a qualquer lugar que você queira / E ir onde o vento for / Que pra nós dois sair de casa já é se aventurar

Experiências corriqueiras (como sair de casa) apresentam reforço natural e arbitrário. Reforço natural no sentido de se livrar da possível sensação de tédio (exemplo de reforço negativo do tipo esquiva) e reforço arbitrário por estar com a amada (se for levado em consideração o potencial reforçador que a presença da amada traz por si só).

Me diz o que é o sossego que eu te mostro alguém a fim de te acompanhar / E se o tempo for te levar eu sigo essa hora e pego carona pra te acompanhar

Como na explanação supracitada, o ambiente que importa para o homem é estar diante da amada, já que a mesma se mostra um estímulo apetitivo para ele.

 

Referências:

http://g1.globo.com/platb/los-hermanos-15-anos/

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O hábito como guia da vida

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O texto “O hábito é o grande guia da vida humana” aborda alguns conceitos de David Hume (1711-1776) sobre o Empirismo. Hume afirma que nem tudo pode ser explicado pela razão e possui um olhar crítico sobre o racionalismo. Segundo ele existem dois tipos de raciocínios que são denominados como o “dilema de Hume”: o demonstrativo e o provável, onde o raciocínio demonstrativo é considerado evidente, por olharmos e termos a certeza do resultado, e o raciocínio provável exige uma evidência empírica, ou seja, uma busca por aquele resultado. Para Hume esses raciocínios são considerados hábitos construídos pelo homem ao longo da sua vida, como por exemplo, todos sabem que amanhã o sol irá nascer novamente, isso é consequência do condicionamento que nos faz acreditar que todos os dias serão iguais.

No livro “Sobre Comportamento e Cognição”, de Júlio C. de Rose fala sobre o comportamento humano com base no Behaviorismo de B.F. Skinner; o autor divide o comportamento em operante e respondente. O comportamento respondente pode ter respostas condicionadas, referentes a acontecimentos e experiências anteriores, por exemplo, ao sentir o cheiro do limão ou ouvir a palavra limão já causa uma salivação, resposta de estímulos antecedentes. Essa resposta se dá pelo fato do indivíduo já conhecer o limão e lembrar-se do seu gosto forte. Isso se assemelha a teoria de Hume sobre o raciocínio demonstrativo.

O comportamento operante se conceitua como ‘operador do ambiente’, onde não existem relações com estímulos anteriores. Segundo Skinner o comportamento altera o ambiente e a partir dessas alterações, causa a mudança no comportamento do indivíduo. Como dirigir, falar ou andar é preciso ter um aprendizado para que chegue até o resultado. Esse comportamento é semelhante ao raciocínio provável de David Hume.

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Fonte: http://migre.me/vrE2k

David Hume na sua teoria, ressaltada no texto “o hábito é o grande guia da vida humana”, na introdução vem tratar do dilema de Hume que argumentou energicamente contra a noção de “ideias inatas”, princípio central do racionalismo. Ele fez primeiramente ao dividir o conteúdo da mente em dois tipos de fenômenos e, depois, perguntando como eles se relacionam com o outro. O problema para Hume, é que muito frequentemente temos ideias que não podem ser sustentadas por nossas impressões. Há hábito mental que interpreta uniformidade na repetição regular, assim como uma conexão causal naquilo que ele chamou de “conjunção constante” de eventos.

William M. Baum em seu livro “Compreendendo o Behaviorismo” aponta no vocabulário técnico da análise do comportamento que a observação científica consiste na formação de discriminações. Uma das atividades mais básicas da ciência é a identificação. O astrônomo olha para a estrela e diz, – aquela é uma gigante vermelha. O biólogo olha para uma estrutura em um corpo celular e diz, – isso é uma mitocôndria.

Da mesma forma a mensuração consiste em dizer ou escrever algo (comportamento operante), e como resultado de olhar algum instrumento (estímulo discriminativo). Essas discriminações compartilham um aspecto peculiar: o cientista não apenas faz descriminações baseadas nas formas, na leitura do contador ou no padrão de números, mas também se comporta de forma a produzir o estímulo discriminativo. Os cientistas são particularmente gratificados pela formação de novas discriminações que são chamadas de descobertas.

Em sentido geral contingência pode significar qualquer relação de dependência entre eventos ambientais ou entre eventos comportamentais (SOUZA D.G, 1995). Por exemplo, podemos ver o nascer do sol toda manhã e inferir que ele nascerá novamente amanhã. Mas a alegação de que a natureza segue esse padrão uniforme é justificável? Alegar que o sol nasce amanhã é um raciocínio demonstrativo (porque o oposto não envolve contradição lógica) nem um raciocínio provável, porque não podemos experimentar já o futuro nascer do sol. Uma relação de dependência não existe quando alguém abre a janela e um relâmpago corta o espaço. Os dois eventos podem ocorrer temporalmente próximos, mas de modos totalmente independentes: o relâmpago teria ocorrido quer abrisse ou não a janela (SOUZA D.G, 1995).

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Fonte: http://migre.me/vrCJw

Hume explicou isso simplesmente como “natureza humana”, um hábito mental que interpreta uniformidade na repetição regular, assim como uma conexão casual naquilo que ele chamou de “conjunção constante” de eventos. Na realidade esse tipo de raciocínio indutivo, que é à base da ciência, nos instiga a interpretar nossas inferências como “lei” da natureza. Mas apesar do que possamos pensar essa prática não pode ser justificado pelo argumento racional.

Uma formulação adequada da interação entre um organismo e seu ambiente deve-se especificar três coisas: (1) a ocasião em que a resposta ocorre; (2) a própria resposta e (3) a consequência os reforçadores. As inter-relações entre elas são as contingências de reforço. (SKINNER, 1953, p.5 apud SOUZA D.G, 1995).

Todorav (2007) no seu artigo “A psicologia como estudo das interações”, vem trazer a interação entre o organismo e o ambiente como possível caracterização do objeto de estudo da psicologia, tendo o ser humano como centro de investigações, a partir dos aspectos da análise do comportamento.

O homem é um ser em ação que interfere e é influenciado pelo contexto que faz parte. Essa dinâmica molda o comportamento do sujeito de acordo com as experiências vividas e adquiridas ao decorrer da sua história pessoal com o mundo. Neste sentido, na teoria de David Hume, em relação à interação do sujeito com o meio, é explicito quando ele questiona que nem tudo pode ser explicado pela racionalização, pois existem ações que não podem ser justificadas de forma lógica, mas se sabem que acontecem chamado essas inferências de hábitos/crenças que vão sendo construídos ao logo da história.

De acordo com Todorav (2007, p.57), “em todas as orientações da psicologia, a história passada de interações organismos-ambiente tem um papel essencial na explicação de interações presentes… presume-se que o organismo age agora não apenas em função de ambientes externos presentes”, ou seja, o ser humano é persuadido por evidências passadas que interferem no seu comportamento atual. Sendo que para compreender o seu comportamento, é importante considerar a constituição do organismo pela interação entre o ambiente externo (físico e social) e o ambiente interno (biológico e histórico).

Antes mesmo da existência da análise do comportamento e questões voltadas para as interações organismo-ambiente, Hume com a sua filosofia já ressaltava que o homem tem a capacidade de observar padrões constantes e inferir que estes acontecimentos ocorreram novamente no futuro. Este raciocínio indutivo estar relacionado com a competência do homem de coligir ações a partir de proeminências do passado.

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Fonte: http://migre.me/vrDc8

Nesse seguimento, Hume com seu dilema a respeito da racionalização, adverte que muitas coisas não podem ser explicadas pelo raciocínio demonstrativo – onde a verdade e a falsidade são auto-evidentes – e nem pelo raciocínio prováveis – evidências empíricas -, assim na ausência destas explicações racional, o hábito, a causa e efeito são respostas, que vão sendo condicionadas no decorrer da vida e que mostra que amanhã certas coisas serão simplesmente as mesmas, como o nascer do sol. Por isso Hume afirma que “o habito é o grande guia da vida”.

Após a leitura dos textos pode-se inferir que o comportamento humano pode ser explicado de diversas maneiras, tendo em vista que Hume traz de forma considerável os conceitos de dois tipos de raciocínios que são o raciocínio demonstrativo que é considerado evidente, por olharmos e termos a certeza do resultado, e o raciocínio provável que exige uma evidência empírica, ou seja, uma busca por aquele resultado.

Em seguida Skinner traz em sua Teoria a interação entre o organismo e o ambiente, ou seja, que através de estímulos externos o comportamento é representado.  O sujeito é moldado pelo contexto em que está inserida, sua história de vida e sua relação com o mundo. Todorav (2007) traz uma rica contribuição explicando que o ser humano é persuadido por evidências passadas que interferem no seu comportamento atual. Pois para compreender o comportamento do sujeito, é importante considerar a constituição do organismo pela interação entre o ambiente externo (físico e social) e o ambiente interno (biológico e histórico).

 

REFERÊNCIAS:

BANACO, R. A. (Org.). O que e comportamento?. Sobre comportamento e cognição. v.1. p. 79-81, 1995. São Paulo: Arbytes.

BAUM, W. M (1999). Compreender o Behaviorismo. Porto Alegre. Art Med, p. 125-153.

TODOROV, João Cláudio. A psicologia como estudo de interações. Psicologia: Teoria e pesquisa, Brasília, v. 23. p. 57. 61, 2007. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ptp/v23nspe/10.pdf>. Acesso em: 06 set 2016.

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Como Treinar seu Dragão: análises contingenciais

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How to Train Your Dragon, 2010 (Como Treinar seu Dragão, título em português), é um filme de animação computadorizada,produzido pela Dream Works Studios com base no livro de mesmo nome “How to Train Your Dragon” (2003). O filme conta a história de Soluço, um garoto de 13 anos, filho do chefe de uma tribo de Vikingsque habita em uma ilha nórdica. Soluço é a vergonha da tribo, sempre se mete em problemas, causando verdadeiras catástrofes na aldeia. Ele vive em guerra contra feras destemidas que sempre atacam sua aldeia em procura de alimento: os Dragões.

 

Em meio aos conflitos da tribo com os seres alados, Soluço em um passeio pela floresta encontra, ferido e escondido em meio à vegetação, o mais temido por eles: Fúria da Noite. Banguela, perde parte do planador da cauda em um acidente e não consegue mais voar. Soluço constrói uma prótese para sua cauda que permite à Banguela voar, mas desde que Soluço esteja com ele para manusear o planador postiço.

 

Aos poucos, com o convívio, os dois – criança e dragão – desenvolvem uma relação de amizade e cumplicidade, descobrem que tudo o que haviam aprendido um sobre o outro estava errado. O garoto aprende como conviver amigavelmente com os dragões, adotando para si o Dragão Fúria da Noite, o qual ele batiza de Banguela. Neste período o pai do menino está em uma viagem à procura do ninho dos dragões, com a missão de exterminar toda a espécie. Soluço está na ilha com as outras crianças da aldeia participando de um treinamento para se tornar um Viking matador de dragões, como seu pai e todos os seus antepassados.

 

Nessa relação Soluço aprende segredos sobre o trato de dragões, os quais permitem que ele consiga se sair bem no treinamento para matar dragões, sem precisar ferir seus amigos. O modo como Soluço se destaca no treinamento surpreende à todas as outras crianças, que não entendem de onde vem à habilidade do garoto com os dragões. Até o momento Soluço era conhecido em toda aldeia por ser desajeitado, covarde e fraco.

Quando seu pai retorna ao clã, este está decepcionado por não encontrar o ninho dos dragões. Há um incidente no torneio de formatura das crianças, e Soluço quase é morto por um dragão que pretendia atacá-lo. Neste momento, Banguela aparece para defender Soluço. É neste momento que todos na tribo, inclusive o seu pai, descobrem o segredo de seu sucesso no duelo com dragões: sua amizade com Banguela. O garoto ainda tenta convencer a todos de que eles não precisam matar dragões, mas ninguém lhe dá ouvidos. O Pai de Soluço aprisiona Banguela e volta com ele para o oceano a fim de descobrir a ilha que é ninho dos dragões.

 

 

Ao encontrá-la, eles se deparam com um dragão gigantesco, jamais visto. Eles resolvem enfrentá-lo, mas logo estão em desvantagem. Ao mesmo tempo, Soluço já ensinara as outras crianças da ilha como montar em dragões e voa com eles para encontrarem-se com seu pai. Chegando lá, ocorre uma batalha com o dragão gigante, o qual conseguem derrotar. A partir de então, todos: Viking’s e dragões, passam a conviver juntos e em harmonia. Soluço, desse modo, prova ser um grande Viking como seu pai e seus antepassados, mesmo não tendo coragem, altura e/ou condicionamento físico para tanto.

 

Da Teoria

 

B.F. Skinner (1904 – 1990)

Segundo Skinner (2000), para a Análise do Comportamento (AC), o comportamento é desenvolvido na interação entre eventos biológicos e ambientais. O comportamento não acontece sem um organismo ou sem um ambiente. O comportamento é função de três níveis de seleção. O primeiro é o nível filogenético, onde se incluem todos os comportamentos respondentes e outras predisposições geneticamente determinadas ou influenciadas. O segundo nível é o ontogenético, que diz respeito da história de vida da pessoa, enquanto organismo individual. E, por fim, o terceiro nível que é o cultural, que trada da influência dos valores, crenças e práticas de um determinado grupo sobre o indivíduo.

A análise funcional do comportamento consiste na busca dos determinantes da ocorrência de um comportamento, cuja fundamentação encontra-se nos padrões dos comportamentos operante e respondente (MOREIRA & MEDEIROS, 2007). A análise funcional do comportamento é entendida como a identificação de comportamentos e as relações relevantes entre eles. Investigar o comportamento funcionalmente refere-se à busca da função do comportamento e não de sua estrutura ou forma.

A contingência constitui uma unidade de análise do nível de seleção ontogenético (comportamento operante) e explica a evolução e a manutenção dos comportamentos. Deste modo, as contingências podem ser naturais ou artificiais, o que não tem relação com biológico ou social. As contingências naturais são inerentes à própria vida e produzem efeitos mais fortes e duradouros sobre o comportamento. Em oposição, as contingências artificiais são justapostas às experiências particulares. São “planejadas” e não ocorrem naturalmente quando tal tarefa é executada (idem).

De acordo com Moreira e Medeiros (2007), a tarefa realizada em uma análise funcional do comportamento consiste em identificar o comportamento a ser analisado, investigando as relações entre as respostas dos indivíduos aos estímulos ambientais, definindo se o mesmo é operante ou respondente, identificando os determinantes do comportamento, ou seja, as contingências nas quais o comportamento ocorre, para só então prever a sua ocorrência e controlá-lo, no sentido de aumentar ou diminuir a sua probabilidade de ocorrência.

A ênfase da análise funcional do comportamento está na operação de consequênciação, por reforçamento ou punição. É através da consequênciação que os comportamentos são selecionados, fortalecidos ou enfraquecidos, e através das mudanças graduais que eles são mudados, transformados ou criados. Assim, em uma Cadeia de Respostas, antecedentes – denominados estímulos discriminativos, ocorridos antes de comportamentos reforçados – gradualmente passam a atuar como consequências reforçadoras para outros comportamentos, os quais, inicialmente, não afetavam.

Contudo, os antecedentes que precedem uma punição passam a atuar como estímulos punitivos quando aplicados após outros comportamentos. Então, pode-se afirmar que os eventos ambientais que precedem uma relação comportamento-consequência não só afetam este comportamento, por antecedência, como passam a afetar, por consequênciação, outros comportamentos anteriores, estabelecendo uma relação múltipla chamada contingência do comportamento.

Os vários estudos de consequênciação mostram que em circunstâncias em que o comportamento ocorre e nas quais é sistematicamente consequênciado […] acabam também por exercer fortes influências sobre as ocorrências futuras desta classe de comportamento; e estas circunstâncias passam a atuar como condições facilitadoras (ou inibidoras) do comportamento em questão (MATOS, 2001, p. 146).

A terapia comportamental compreende a análise funcional das contingências apresentadas por meio dos comportamentos e queixas do cliente. Para identificar as possíveis causas e variáveis que estão mantendo determinado comportamento, é necessário fazer uma análise profunda dos dados coletados, para posteriormente aplicar a intervenção, ou seja, buscar estratégias que possam auxiliar o cliente criar novos meios para modificar a situação problema.

As contingências estão relacionadas às interações entre o indivíduo e o meio, pode indicar também qualquer relação de dependência estabelecida entre o organismo e o ambiente. Através da análise das contingências é possível montar probabilidades que indicam a possibilidade de ocorrer determinada ação.

O Terapeuta comportamental foca no estudo das contingências que estão envolvidas nos comportamentos do cliente. Para isso é necessário haver entre eles um vínculo que facilite a construção dos objetivos e metas a serem alcançados na terapia. O profissional, na clínica, parte das informações apresentadas pelo cliente. Com isso, a análise funcional propõe ao indivíduo se tornar mais consciente de suas ações por meio da aprendizagem da análise funcional. Tal como, conhecer a si mesmo e alterar o ambiente conforme suas necessidades.

A Análise Funcional de filmes parece ser um importante instrumento para aplicação e domínios dos conceitos e técnica da Análise do Comportamento, uma vez que as situações dramatizadas tem correlação direta com as experimentadas no cotidiano da vida real. Optou-se, nessa análise, focar na relação interpessoal entre pais e filhos por acreditar-se que o filme: Como Treinar seu Dragão, oferece ao terapeuta, na clínica, instrumentos suficientes para trabalhar essa relação.

 

A análise funcional de algumas cenas

 

Para analisar as contingências encontradas no filme, partimos da unidade mínima funcional de análise do condicionamento operante: Contingência de três termos: Sd – R -> Sc, onde:

• Sd indica estímulos ambientais.
• S antes do R – ambiente antes da ação.
• R indica resposta (ou comportamento).
• O traço, uma probabilidade de a resposta ocorrer.
• A seta uma certeza que haverá consequência.
• Sc é o ambiente depois da ação.(Moreira & Medeiros, 2007).

Pode-se identificar que desde a morte da mãe de Soluço, ele não consegue estabelecer um vínculo afetivo com seu pai. Ele acaba se atrapalhando ao realizar tarefas para as quais não tem nenhuma aptidão. Para conseguir a aprovação de seu pai Soluço aceita participar do treinamentoviking com seu tio para aprender a matar dragões, o que chamamos de Operação Motivacional. Assim temos:

Sd (tentativa de obter aprovação do pai) – R (aceitar participar do treinamento, estabelecer relação com Banguela, aprender sobre dragões, frequentar aulas e treinar dragões na arena) -> Sc (aprovação social da família e aldeia).

 

Quando encontra Soluço, ele não é sociável. Soluço percebe que ele não é a fera que muitos acreditam que ele seja, mas não sabe como fazer para se aproximar. Ele percebe que Banguela está com fome e traz alimento:

Sd (Banguela não consegue se alimentar) – R (Levar comida para Banguela) -> Sc (Banguela permite a aproximação de Soluço).

 

Outro problema era o fato de Banguela não conseguir voar, soluço então cria um aeroplano para a cauda de Soluço, o que permite que ele volte a voar:

Sd (Banguela não consegue voar e sair do abismo em que caiu) – R (Construir aeroplano para a cauda de Banguela) -> Sc (Banguela consegue levantar vôo).

O segredo entre Soluço e Banguela é ameaçado quando Astrid (uma das crianças da aldeia) descobre sobre sua amizade com o dragão. Soluço então a leva para um voo com Banguela e mostra pra ela que os dragões não são uma ameaça como todos acreditavam:

Sd (Ameaça verbal de Astrid de contar à aldeia que Soluço tem amizade com dragões) – R(Levar Astrid para voar e lhe mostrar uma outra realidade sobre os dragões) -> Sc (Astrid se convence de que Soluço está certo e não conta nada para a aldeia).

Quando o pai de Soluço volta à aldeia é descobre que seu filho tem habilidade no trato com dragões, achou que finalmente eles tinham algo sobre o que conversarem. Para poder conseguir a aprovação de seu pai, soluço não fala de sua amizade com Banguela:

Sd (Pai se aproxima do Soluço) – R (esconder do pai sua amizade com um dragão) -> Sc(receber elogios do pai).

Da Análise Funcional

A análise funcional na clínica, no primeiro momento, é hipotética. Por meio da observação sistemática e da manutenção de alguns elementos das contingências na vida do cliente é que o terapeuta identificará quais os reforçadores que contribuem para a manutenção do comportamento indesejado.

Se o comportamento é controlado pelas contingências, em resultado do(s) reforçador(es), o terapeuta, utiliza-se da análise funcional para identificar as contingências anteriores a construir junto com o cliente um plano de ação, com objetivo de que o cliente substitua o repertório comportamental indesejado. O cliente na Terapia Comportamental é estimulado a aprender novas contingências para o controle do seu bem estar pessoal e social.

O terapeuta, nesse sentido, atua como um agente facilitador, apontando, a partir dos comportamentos verbais e não verbais do cliente que forem emitidos durante a sessão, os estímulos antecedentes que funcionam de contexto para o comportamento problema, bem como seus reforçadores.

A Análise Funcional de filmes, como o: Como Treinar seu Dragão, parece ser um importante instrumento sobre o qual o terapeuta utilizando-se da Análise do Comportamento pode trabalhar questões como dificuldade de relacionamento interpessoal entre pais e filhos. Nesse caso o terapeuta vai identificar os reforçadores necessários para que o cliente substitua o repertório comportamental indesejado, que vão desde incentivar o diálogo entra ambas as partes, atividades de lazer etc. O que vai determinar a intervenção melhor indicada são as contingências e os estímulos antecedentes causadores do comportamento problema.

REFERÊNCIAS:

MOREIRA, M. B.; MEDEIROS, C. A. Princípios básicos de análise do comportamento. Porto Alegre: Artmed, 2007. 221 p.

MATOS, M. A. Análise de Contingências no Aprender e no Ensinar. In: ALENCAR, E. S. (Org). Novas contribuições da Psicologia aos Processos de Ensino e Aprendizagem. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2001. p. 146

SÉNÉCHAL-MACHADO, A.M.L. Uma visão panorâmica da terapia comportamental de orientação behaviorista radical. Disponível em http://www.profala.com/artpsico63.htm. Acesso em: 16/03/2014.

SKINNER, B. F. Ciência e Comportamento Humano. 10ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

FICHA TÉCNICA:

COMO TREINAR SEU DRAGÃO

Gênero: Animação
Direção: Chris Sanders, Dean De Blois
Duração: 98 min.
Ano: 2010
País: Estados Unidos

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O Amor em “Ruby Sparks – A namorada perfeita”

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Transforma-se o amador na coisa amada, por virtude do muito imaginar;
não tenho logo mais que desejar, pois em mim tenho a parte desejada (…)
está no pensamento como ideia; [e] o vivo e puro amor de que sou feito,
como matéria simples busca a forma
.
(Luís de Camões)

 

O que é o Amor? Certamente a maioria das pessoas, senão todas, já fez essa pergunta. Baseando-se em experiências ou apenas seguindo poemas, canções, novelas ou filmes, também acreditam ter vivenciado o amor. De alguma forma essa questão do que seria o amor esteve presente na vida das pessoas.

Para discorrer sobre o filme proposto “Ruby Sparks – A namorada perfeita”, façamos um breve ensaio teórico sobre o fenômeno que leva o título de “Amor romântico”, no campo da Psicologia e sob à luz das diferentes abordagens psicológicas.

Os estudos sobre o amor, supostamente, iniciaram-se na primeira década do século XX. Baseando-se nas pesquisas de Sternberg (1997) existiram três primeiras teorias acerca do amor sob a ótica da Psicologia, nascidas todas do campo clínico da área, sendo elas; duas da psicanálise e uma do humanismo. Defendidas, respectivamente, pelas teorias de Sigmund Freud, de Theodor Reik e de Abraham H. Maslow. Mais adiante teremos o Behaviorismo de B. F. Skinner, que também dissertou sobre esse sentimento, embora muitos creem –erroneamente – que os behavioristas não possuem sentimentos e nem que admitem possuí-los¹.

Para Freud (1996/1922) o amor só ocorre após a construção do ideal de ego do indivíduo, sendo, nesse caso, o amor a um objeto externo. Assim, a teoria acerca do desenvolvimento psicossexual, instiga que a escolha de um objeto de amor externo só é possível caso o indivíduo tenha primeiro toda a sua energia libidinal direcionada para si mesmo. Diante disto, Freud diz que o narcisismo é um aspecto importante para a construção de relações afetivas amorosas, sendo assim, tem-se o objeto do amor como resultado de uma escolha a partir daquilo que é observado como algo que falta ao indivíduo.

 

Reik (1944) também levantou propostas acerca do amor. Segundo ele, apesar de psicanalista, diferente da visão psicanalista tradicional, propõe algo diferente sobre o amor. Se para Freud o amor é baseado na energia libidinal, para Reik o amor e o desejo possuem forças motivadoras que diferem entre si. Segundo esse mesmo autor, o amor é um interesse apaixonado por outro corpo, por outra personalidade, ao passo que o desejo é voltado para uma paixão narcisista, voltada para a própria pessoa.

A corrente humanista traz em sua teoria dois tipos de amor, defendidas por Maslow (1962), para ele o amor pode ser do tipo D-love (deficienty love/ amor deficiente) que possui as propriedades propostas por Freud, neste caso o amor em relação à outro indivíduo surge com o objetivo de sanar as próprias deficiências, e o B-love (being love/amor) baseia-se nas relações entre pessoas auto realizadoras, aquelas que podem amar outras pessoas pelo o que elas, de fato, são (MARTINS-SILVA, TRINDADE, SILVA JÚNIOR, 2003, s/p).

Foram essas as três proposições que deram início aos estudos referentes ao tema Amor, no campo da Psicologia, embora existam diversos estudos que possuem outras denominações do que é o amor.

Em seu trabalho, Martins-Silva, Trindade, Silva Júnior (2003) apresentam um ensaio teórico, aprofundando na ótica da Psicologia Social, sobre o amor. Nele, encontramos alguns pontos importantes que merecem complementar este discurso. Segundo os autores citados acima, a primeira proposta teórica que abordou o amor romântico na Psicologia Social propôs elaborar uma distinção entre amar e gostar. Martins-Silva, Trindade, Silva-Júnior (2003) citam Rubin (1970) como precursor nesta discussão, segundo ele o amor é uma atitude em relação a uma pessoa alheia e particular, envolvendo a predisposição de pensar, sentir e agir de certa forma em relação a essa pessoa. Foi seguindo esta proposta que diversas teorias surgiram com o mesmo intuito; definir o amor.

Há também as definições dadas por Walster e Walster (MARTINS-SILVA, TRINDADE, SILVA-JÚNIOR, 2003 apud WALSTER E WALSTER, 1978), sendo elas divididas em dois tipos: o amor companheiro e o amor apaixonado. Tal teoria diz que o amor possui dois estágios; primeiro surge uma atração apaixonada e logo depois se transforma em amor companheiro, isso acorre apenas se o relacionamento sobreviver ao primeiro estágio; paixão. Em contrapartida Clark e Mills (1979) focaram seus estudos na atração interpessoal em relacionamentos de troca e propuseram que tais relacionamentos são baseados em questões econômicas, ao passo que em relacionamentos cuja a base é o amor estão baseados em motivos altruístas.

Mais adiante o Behaviorismo, defende que existe um mundo privado de sentimentos e estados da mente, mas este está totalmente fora do alcance de uma segunda pessoa, logo assim sendo distante, também, da ciência. Ainda que esta não seja uma posição satisfatória.  Segundo a corrente behaviorista o sentimento é um tipo de ação sensorial, Wiliam James diz que aquilo que sentimos é uma condição do nosso corpo.

 

“O que é o Amor se não outro nome para reforçamento positivo?” Não há frase melhor que embase a teoria de Skinner (1978) sobre o Amor. Segundo Skinner (2000) existem dois tipos de eventos reforçadores; apresentação de estímulos e remoção de algo contingente à resposta. O efeito é o mesmo, em ambos os casos, o reforço será responsável pelo aumento da probabilidade de respostas. Por que Skinner faria tal comparação, entre Amor e reforçadores positivos? Porque tal topografia apresenta grandes proporções em relação com a adição de eventos.

Existem, ainda, inúmeras discussões de diversas abordagens que conceituam o amor de formas distintas. A Psicologia, no todo, define o amor como sendo um estado psicológico qualitativamente diferente. Além de incluir uma gama de outros elementos que intensificam este sentimento (paixão, desejo, proximidade, exclusividade, preocupação intensa, dentre outros).

E para os amantes da literatura? O amor não cientificado, não resumido ou reduzido. O quê, para os “meros mortais”, seria?

Este é o tema principal por detrás do filme Ruby Sparks – A namorada perfeita. Obra escrita por Jonathan Dayton e Valerie Faris, autores de “Pequena Miss Sunshine”. Embora tenha em sua descrição como sendo um filme de comédia-romântica, pouco se tem, realmente, de comédia. Há certo toque de drama que por vezes deixa a trama carregada, principalmente quando próximo do fim, como se o desfecho fosse um choque de realidade e até mesmo um “sermão” sobre o que as pessoas, ou pelo o menos a maioria delas, entendem sobre o amor.

Não faço uma crítica referente a roteiro, trilha sonora ou atuação dos atores, o intuito principal desta análise está realmente no que o filme traz além das aparências.  Temos uma história pouco convencional, que não existiria em nossa realidade, mas a história possui, quem sabe, personagens quase que reais, a julgar por suas personalidades e conflitos.

Calvin (Paul Dano, que também estrelou em Pequena Miss Sunshine) é um jovem romancista que alcançou sucesso repentinamente e muito cedo, apesar da fama e do reconhecimento, está passando por uma crise que o atrapalha no desenvolvimento do seu novo romance. Mas este não é o estopim de toda a crise, na verdade o escritor passa por crises em todos os campos da sua vida; afetivo, social, profissional e existencial. Em suas sessões de terapia demonstra ser uma pessoa dependente e com dificuldades de se relacionar. Como sua principal queixa é a falta de inspiração para escrever, seu psicólogo elabora uma tarefa simples mas que permite a Calvin uma melhora excelente.

 

 

A tarefa é escrever. Mas, ele não é um romancista que está sofrendo por não conseguir escrever um novo romance? Sim, mas a questão está na diferença do trabalho. Agora ele não escreverá para os outros e sim para si. Finalmente o jovem escritor cria um personagem totalmente inspirador: Ruby, a mulher ideal. Tão perfeita para ele que seria incapaz de existir. Engano de Calvin, engano nosso.

 

 

Ruby aparece, em questão de um piscar de olhos, na frente de Calvin. Atordoado e culpando-se, se auto afirmando como louco e portador da “síndrome da imaginação hiperativa”, o escritor foge da garota, como se estivesse querendo fugir do próprio pensamento.

 

 

Surge então as questões essenciais do filme. Calvin tem o privilégio de inserir em Ruby, através do que escreve, características que o satisfaz. Apesar disso o jovem prefere ter uma vida normal com a garota, esquivando-se da vantagem de transformá-la no que ele deseja. Calvin, no entanto, ao deparar-se com a possibilidade de separar-se de Ruby, e com medo de perdê-la, decide então começar a escrevê-la.

 

Todo esse poder, de tornar sua parceira perfeita, traz também grandes responsabilidades. Antes de tudo devemos lembrar que Ruby é um personagem real, ela existe, é um ser humano complexo, cheia de problemas e dona de uma personalidade forte, tornando a vida de Calvin um pouco mais complicada, portanto ele tem que aprender como lidar com sua própria criação, pois embora real ela sofre alterações devido ao “poder” do romancista.

 

Calvin projeta em Ruby todos os seus gostos, sentimentos e ações, Ruby por sua vez o confunde, manipulando-o, com seus comportamentos, com suas vontades próprias, fazendo com que o escritor se confunda com seus próprios desejos. Calvin deixa de ser para ela e tornar-se uma espécie de criador. É ela quem precisa de “reparos”?

 

 

O privilégio de Calvin é o desejo de muitas pessoas, tornar-se escritor da vida do outro, ter total controle sobre o companheiro. Poder escolher desde o tipo de roupa, gosto musical até a própria personalidade. Entra aqui a questão do idealismo. Idealizar alguém perfeito para nós. Tornar o outro aquilo que nos agrada. Mas, até onde estamos cientes daquilo que desejamos e do que queremos? Buscamos no outro o que não encontramos em nós mesmos?

 

 

Seria isso o Amor? A satisfação total de ter alguém ao lado, capaz de sanar as nossas inquietudes como indivíduos e de possuir características que julgamos serem essenciais para nós, parece tornar-se um manual que programa a vida humana, deixando o indivíduo reduzido à um querer programado; transformar o outro no que queremos. Por quê essa dificuldade de aceitarmos o outro como ele nos vê?

 

A trama, além de tudo, traz questões éticas (o livre arbítrio de transformar Ruby no que Calvin deseja), relações familiares e relacionamentos afetivos. As discussões podem tomar proporções bem maiores e mais detalhadas, se escolhermos basearmos em um único ponto, tal como nesta análise, focada em relacionamento afetivo.

Mas afinal, o que é o amor?

REFERÊNCIAS:

SKINNER, B. F.. O lugar do sentimento na análise do comportamento. Disponível  em: <http://www.itcrcampinas.com.br/pdf/skinner/lugar_sentimento.pdf>.

¹MARTINS-SILVA, Priscilla de Oliveira; TRINDADE, Zeidi Araujo and  SILVA JUNIOR, Annor da.Teorias sobre o amor no campo da Psicologia Social. Psicol. cienc. prof. [online]. 2013, vol.33, n.1, pp. 16-31. ISSN 1414-9893.  Disponível  em: <http://dx.doi.org/10.1590/S1414-98932013000100003>.

SAIBA MAIS:

O amor do Behaviorismo radical: http://psicologia-ro.blogspot.com.br/2012/08/o-amor-do-behaviorismo-radical.html

O Amor e a Psicologia:http://psicob.blogspot.com.br/2009/02/o-que-e-o-amor.html

 

FICHA TÉCNICA:

RUBY SPARKS: A NAMORADA PERFEITA

Gênero: Comédia, Fantasia, Romance
Direção: Jonathan Dayton, Valerie Faris
Elenco Principal: Paul Dano, Zoe Kazan, Chris Messina, Antonio Banderas
Origem: EUA
Ano: 2012

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The Behavior of Organisms de B. F. Skinner

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O livro de estreia de Skinner, The Behavior of Organisms, foi publicado pela primeira vez em 1938 pela Appleton-Century-Crofts, posteriormente em 1966 foi renovado pela B. F. Skinner Foundation e reimpresso em 1991, ainda sem tradução para o português. Sendo o primeiro livro de sua carreira, o autor oferece uma formalidade maior às propostas de sua teoria, assim, o lado experimental da Psicologia é extremamente forte, com muitos relatos de experimentos e gráficos para corroborar empiricamente o que aponta.

Skinner faz inferências, nesse livro, sobre um sistema do comportamento, os aspectos e os métodos utilizados para se estudar o comportamento de maneira que seja cientificamente válida. Nesse trabalho, encontram-se as primeiras contemplações sobre condicionamento e extinção (termo este usado pela primeira vez pelo fisiólogo russo Ivan P. Pavlov), discriminação e função de estímulos, além do conceito de discriminação temporal, alusões sobre diferenciação e drive1, bem como sua relação com o condicionamento enquanto variáveis que influenciam a aquisição e manutenção do comportamento. Referências a outras variáveis controladoras da probabilidade de resposta também são feitas, além da contemplação que o autor faz da relação do sistema nervoso e o comportamento.

O The Behavior of Organisms possui 451 páginas, que contêm os XIII capítulos, as referências e o índice, que concernem à formalidade com a qual B. F. Skinner apresenta alguns conceitos e pressupostos de sua teoria, o Behaviorismo Radical. Esse livro é escrito na primeira pessoa do singular, a descrição e apresentação quantitativa de experimentos são extremamente valorizadas, apontando para a possibilidade de se estudar o comportamento humano (mesmo que parta de estudo de seres infra-humanos, os ratos) de uma maneira científica e válida.

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Durante os primeiros capítulos, Skinner define o que seria comportamento, como ele poderia ser estudado e validado, fazendo muitas referências aos comportamentos respondentes. Além disso, Skinner aponta as leis estáticas e dinâmicas do comportamento reflexo, partindo prontamente para a definição do que seria o comportamento operante, apontando, como aos respondentes, as leis dinâmicas que permeiam esse tipo de comportamento, também conceituando estímulos e respostas.

Além disso, Skinner aponta como o estudo do comportamento será dado, fazendo alusão aos aspectos e métodos  que ele utilizará, descrevendo então, o ambiente comportamental no qual os ratos são inseridos: a câmara experimental (mais conhecida popularmente como Caixa de Skinner, termo este que não foi dado pelo próprio).

Skinner fala de modo muito completo sobre os condicionamentos que ele chama de tipo S e de tipo R. O condicionamento do tipo S corresponde ao condicionamento pavloviano, ou seja, um estímulo (S) elicia uma resposta (R). Já o condicionamento do tipo R é onde o paradigma do comportamento operante é apresentado: uma resposta (R) gerando uma consequência no meio (S) e sendo afetada por ela. Ou seja, é aqui que Skinner fala sobre o reforçamento do comportamento. O autor ainda define o conceito de extinção, apresentando sua relação com o condicionamento. Vale lembrar que todos esses conceitos não são apresentados sem fundamento empírico. Todos os conceitos possuem avaliações e dados quantitativos de análise, ou seja, são apresentados de modo numérico, além de gráficos.

Skinner ainda faz as primeiras inferências (desconsiderando artigos científicos escritos pelo autor) sobre as discriminações de estímulos em condicionamentos do tipo S e do tipo R, onde, neste último, há a correlação da discriminação com o reforçamento operante.  Uma vez que o autor fala sobre discriminação, é impossível que ele não fale sobre a relação desse fenômeno comportamental com a extinção do comportamento. O autor ainda fala da influência do drive na apresentação de respostas durante os experimentos e como ele se apresenta enquanto um processo comportamental em relação ao condicionamento.

Quando o autor aborda outras variáveis que podem afetar a força de uma resposta, ele aborda a emoção, descrevendo-a como um comportamento e não como uma “entidade”, como é tratada por outras abordagens. Além da emoção, Skinner fala da influência de drogas, como a cafeína e a benzedrina, na probabilidade de emissão de uma resposta. Após isso, há a oportunidade de se falar da influência do sistema nervoso no comportamento e Skinner responde algumas críticas à possível ciência do comportamento e ainda devolve críticas às neurociências da época. Na conclusão do livro, tem-se um apanhado dos aspectos mais importantes e mais inferências de como o comportamento humano pode ser estudado cientificamente através de um método funcional de análise.

The Behavior of Organisms é indicado para aqueles que realmente amam o Behaviorismo Radical e querem saber de suas raízes. Um amor à Psicologia Experimental também se tornaria necessário para uma leitura mais prazerosa. A maneira como Skinner escreve esse livro não é de tão fácil compreensão, então, isso demanda certa concentração do leitor, que talvez possa querer refazer a leitura para melhor entendimento dos experimentos e princípios do comportamento apontados por Skinner. Esta é uma das obras mais valiosas do autor, uma vez que é o “pontapé inicial”, no quesito da publicação de livros por parte do maior expoente do Behaviorismo no mundo.

B. F. Skinner foi um psicólogo americano, nascido em 1904, que, influenciado por outros autores como o fisiólogo russo Ivan P. Pavlov, Edward L. Thorndike e o psicólogo e fundador do movimento behaviorista, John B. Watson, deu início a uma nova visão de homem para a Psicologia, a visão do Behaviorismo Radical, e é considerado um revolucionário entre os teóricos que propuseram uma nova visão de homem, mais compreensível e cientificamente válida de comportamento (em todos os seus âmbitos). Entre suas principais obras encontram-se O Comportamento Verbal (Ed. Cultrix e Editora da Universidade de São Paulo), Contingencies of Reinforcement – A Theoretical Analysis (Appleton-Century-Crofts) e Ciência e Comportamento Humano (Martins Fontes). B. F. Skinner manteve-se academicamente ativo até a sua morte, ocorrida em 18 de agosto de 1990.

REFERÊNCIAS:

MIGUEL, C. F. (2000) O Conceito de Operação Estabelecedora na Análise do Comportamento. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 16, n. 3, pp. 259-267.


Nota: Drive seria considerado um impulso, no entanto, como sugere Miguel (2000), a palavra traduzida poderia entrar em conflito com os pressupostos teórico-filosóficos do Behaviorismo e outras abordagens, podendo ser confundido com conceitos que,  para o comportamentalismo são, no mínimo, insuficientes.

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