Setembro: mês de combate, conscientização e prevenção ao suicídio

Compartilhe este conteúdo:

O dia mundial de prevenção ao suicídio é celebrado no dia 10 de setembro, por isso o mês foi escolhido para realizar a campanha conhecida como “Setembro Amarelo” que busca conscientizar, bem como diminuir os índices de suicídio. O tema deste ano é “Agir e Salvar Vidas”. Apesar de ser ainda tabu é preciso discutir e abrir fronteiras sobre o assunto.

Conforme dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), calcula-se que a cada 40 segundos uma pessoa morre por suicídio, no mundo. No que diz respeito às tentativas, uma pessoa atenta à vida a cada três segundos. Os dados são assustadores, por isso é importante aderir à campanha para alcançar o maior número de pessoas para evitar essa prática.  Ainda, segundo a OMS, somente no ano de 2019, 700 mil pessoas vieram a óbito por suicídio.

 

Fonte: freepink

 

Célia Teixeira alerta sobre a tentativa de suicídio entre os adolescentes. Segundo a psicóloga, muitos deles têm pensamentos de autodestruição e mutilação de si próprio, e veem no suicídio uma tentativa de acabar com a dor psíquica. O assunto abordado por Célia, torna-se crucial, ainda mais com a ascensão das redes sociais, que pode potencializar pensamento suicidas. Por isso, os pais devem ficar mais atentos com o conteúdo que os filhos assistem diariamente.

Conforme cartilha da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), o suicídio entre jovens aumentou, sendo o Brasil o terceiro da lista.  Entre as causas estão humor depressivo, rejeição familiar, negligência, abuso físico e sexual na infância. 

Segundo a ABP, doenças mentais são também causas de suicídio, por não terem sido tratadas.  A associação alerta que cerca de 60% das pessoas que morrem por suicídio, nunca se consultaram com um profissional da Saúde

Como ajudar?

Caso conheça alguém que está tendo esse tipo de pensamento, aconselhe a procurar ajuda para cuidar da saúde mental. Não deixe de ouvir a pessoa, mas evite criticar. 

Além disso, pode ligar gratuitamente para o Centro de Valorização da Vida (CVV) pelo 188 ou pelo site da instituição cvv.org.br. Em Palmas, o CVV fica na quadra AE 310 SUL Av. NS 10, Plano Diretor Sul.

Quando procurar ajuda?

Mesmo sem razão se sente triste e desmotivado;

Sente vontade de chorar sem motivo aparente;

É pessimista e tem dificuldade de enxergar a realidade de forma positiva;

Não sente alegria ou prazer em atividades ou situações que antes lhe interessavam;

Vivencia mudanças no sono, sem conseguir dormir ou, ao contrário, dormindo demais.

Sente-se cansado ou com sono todo o tempo;

Sente-se irritado, ansioso ou angustiado com frequência;

Precisa de muito esforço para fazer atividades simples, como se levantar da cama;

Percebe mudanças no apetite e no peso (aumento ou diminuição);

Sente-se culpado todo o tempo, com baixa autoestima;

Queixa-se de dores constantes ou outros sintomas sem causa física;

Tem pensamentos ou comportamentos suicidas. (Cartilha UFMG)

Referência

TEIXEIRA, Célia. Tentativa de Suicídio na adolescência da Universidade Federal de Goiás (UFG). Goiânia, (GO). Disponível em < https://www.revistas.ufg.br/revistaufg/article/view/49466/24293 >. Acesso 16, set. 2021.

 Associação Brasileira de Psiquiatria. Suicídio: Informando para prevenir.  Disponível em < http://www.flip3d.com.br/web/pub/cfm/index9/?numero=14^> Acesso 16, set 2021.

Cartilha de Prevenção ao Suicídio da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).  Disponível em< https://www.medicina.ufmg.br/setembroamarelo/wp-content/uploads/sites/86/2019/09/Cartilha-Setembro-amarelo.pdf>. Acesso em 16 de setembro de 2021.

Compartilhe este conteúdo:

“Pequena Miss Sunshine”: um olhar psicológico

Compartilhe este conteúdo:

O filme “Pequena Miss Sunshine”, dirigido por Jonathan Dayton e Valerie Faris, com roteiro de Michael Arndt conta a história da família Hoover, moradores do Novo México. O pai da família, Richard, é uma espécie de coaching, palestrante motivacional que está tentando vender seu programa de autoajuda chamado Nove Passos, que promete transformar qualquer pessoa em um vencedor. Richard repete sempre que só há dois tipos de pessoas: vencedores e perdedores.

Sheryl, a mãe é uma mulher que trabalha fora, faz as funções domésticas e é responsável por apaziguar os conflitos dentro da família.

Seus filhos são Dwayne e Olive. Dwayne resolveu fazer o voto do silencio até conseguir se integrar na escola de pilotos da força aérea: está sem falar há meses e segue o niilismo, um dos princípios presentes na filosofia de Friedrich Nietzsche. Se sente um incompreendido e gosta de ficar sozinho no seu mundo, sem ser incomodado. Olive é uma menina de nove anos que sonha em se tornar miss.

Fonte: encurtador.com.br/enJL2

Frank é irmão de Sheryl, um professor universitário que se diz maior conhecedor sobre a vida do escritor Marcel Proust, é gay, foi rejeitado pelo parceiro e recentemente tentou o suicídio. Completa o grupo Edwin, o pai de Richard, um senhor que foi expulso do asilo por ser viciado em heroína.

O conflito se inicia quando Olive recebe um telefonema para participar de um concurso chamado de Little Miss Sunshine, no sul da Califórnia. Mesmo com dinheiro insuficiente, a família decide partir para realizar o sonho da menina. Resolvem viajar todos juntos e se esforçam ao máximo para chegar no local em que ocorrerá o concurso de beleza.

Logo no início, o carro da família, uma Kombi amarela, quebra e eles são obrigados a empurrar toda vez que precisa dar partida no veículo. É nesse momento que se mostra a unidade da família. Apesar das diferenças, todos se unem para atingir o objetivo: realizar o sonho de Olive, um sonho incentivado pela cultura americana.

Fonte: encurtador.com.br/htxPR

Durante o trajeto, várias situações vão delineando um pouco da visão dos personagens. Por exemplo, quando param para lanchar e a garota Olive pede um sorvete, o pai tenta dissuadi-la da ideia, utilizando argumentos como o fato de que as modelos geralmente são mulheres magras. Antes ele havia perguntado à garota se ela estava competindo por competir ou competindo para ganhar, tendo ela concordado em competir para vencer o concurso.

Em uma cena anterior, a garota relata sobre seu medo de não vencer e de desapontar o seu pai. O avô explica a ela que perdedor é quem desiste de seus sonhos por medo, e que se ela vai tentar, não é uma perdedora. Ao longo da viagem, muitos contratempos acontecem, o primeiro deles é a decepção do pai, que precisa lidar com o fracasso e rejeição do seu programa de autoajuda. Richard vai até um hotel e procura o responsável, a fim de obter aceitação para o seu programa, numa cena que demonstra uma dualidade: Richard está sem os trajes adequados e os meios para persuadir alguém, está com uma moto que pegou de um estacionamento, contrariando totalmente o pacote de sucesso que pretendia vender, o que acentua a noção de fracasso.

Ao longo da viagem, o perfil dos personagens vai sendo construído: o silêncio de Dwayne, a depressão de Frank, o fracasso de Richard, o desejo de retorno ao passado de Hoover e a impotência de Sheryl se misturam para compor uma cena em que não se sabe o que esperar de cada personagem.

Fonte: encurtador.com.br/oJMQT

Durante esse meio tempo, o avô, Hoover, morre enquanto dormia o que desestabiliza ainda mais a família e gera outros contratempos, como o enterro do avô, que ocorre de forma conturbada e já dá um indício da essência transgressora da família.

Em seguida, numa brincadeira em que Olive pergunta sobre uma letra de cor vermelha no centro de um cubo, tio Frank descobre que Dwayne é daltônico, ocasião em que o garoto entra em desespero, grita, reclama da falta de estrutura da família e se afasta de todos, numa espécie de surto. Nesse momento, e expressa através da fala e quebra o silêncio com a família, vindo a expressar um processo de maturidade nas cenas seguintes.

Ao chegar a Califórnia, estão atrasados para as inscrições do evento e são rechaçados por uma das organizadoras do concurso, que demonstra a total falta de empatia pela garota e sua família. Conseguem realizar as inscrições graças a outro profissional, que critica a postura da senhora e se propõe a resolver a situação em poucos minutos.

Fonte: encurtador.com.br/qGW17

No início do concurso, já se observa uma deformação da realidade: um concurso de miss infantil, onde as crianças parecem plastificadas, com roupas, cabelos e trejeitos de adultos, em contraposição à pequena Olive, que é desengonçada e se comporta de forma espontânea. Seu figurino também se diferencia: enquanto as meninas usam roupas mais femininas, Olive se apresenta com um short, blusa, sobretudo, gravata e chapéu, compondo um figurino mais livre e irreverente.

A coreografia ensinada pelo seu avô é ousada e divertida, porém não agrada ao público bem-comportado e conservador, que vaia, faz tumulto e tenta impedir o fim da apresentação, numa resposta clara à transgressão da música/dança/comportamento.

Como forma de reação, os pais da menina invadem o palco a fim de impedir que ela seja retirada de lá e conseguem que ela termine a apresentação. Aqui chega-se ao clímax da narrativa, que tem como resultado a união crescente da família.

Fonte: encurtador.com.br/beiCD

 Apesar de não ter vencido o concurso, a garota demonstra alegria com o resultado, o que foi possível graças às palavras do avô, que desconstrói a ideia da competição, e ao incentivo da família.

Pode-se dizer que a viagem foi uma experiência reveladora, na medida em que vai descortinando a complexidade dos personagens, que estão longe de ser uma-visão-única-uma-coisa-só, que produzem no espectador uma sensação de afeto e compreensão diante dessas pessoas, a quem foi prometido o sonho americano, e das situações decorrentes da não- realização desses sonhos.

FICHA TÉCNICA

Título: Pequena Miss Sunshine
Título Original: Little Miss Sunshine
Origem: EUA
Ano de Produção: 2006
Gênero: Aventura/Comédia/Drama
Duração: 102 minutos
Elenco: Abigail Breslin, Greg Kinnear, Paul Dano
Direção: Jonathan Dayton, Valerie Faris

Compartilhe este conteúdo:

Violência autoprovocada – (En)Cena entrevista a psicóloga Laurilândia Silva

Compartilhe este conteúdo:

Violência autoprovocada é um assunto que requer muita atenção e precisa ser discutido entre o meio social, pois a cada dia as ocorrências desta prática ficam mais frequentes. Compreender sobre o processo, desenvolvimento e tratamento é fundamental para a qualidade de vida de quem apresenta essa demanda. Por isso, o Portal (En)Cena convidou a psicóloga Laurilânida O. Silva, Especialista em Saúde da Família Comunidade e atuante no atendimento de pessoas com comportamentos suicidas para uma entrevista sobre o tema.

Fonte: Arquivo Pessoal

Laurilândia O Silva, é psicóloga formada pelo Centro Universitário Luterano de Palmas/Universidade Luterana do Brasil e Especialista em Saúde da Família e Comunidade pelo Programa de Residências Integradas/PIRS FESP Palmas -TO. Possui experiência na área da saúde atuando em diferentes cenários como no Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB), no NUPAV – Núcleo de Prevenção de Violência e Acidentes e Promoção da Saúde, Centro de Educação Inclusiva com crianças e adolescentes com deficiência como bolsista do programa “Palmas Para Todos” no município de Palmas – TO.  Atualmente atua como psicóloga, bolsista-pesquisadora do programa “Palmas para Todos”, em um projeto voltado ao público que apresenta comportamento suicida em Palmas – TO e no Nasf-AB.

(En)Cena – Defina o conceito de violência autoprovocada e suas formas.

Laurilândia O. Silva – O termo violência autoprovocada, também conhecido como violência autoinfligida é o ato de provocar algum dano a si mesmo, é uma autolesão deliberada, intencional que pode ser dividida em comportamento suicida e autoabuso.

O comportamento suicida é subdivido em pensamentos ou ideação suicida, tentativa de suicídio e o suicídio completo. Alguns autores definem o autoabuso como os atos de automutilação. Giusti, (2013) define a automutilação como “qualquer comportamento que envolva a agressão intencional ao próprio corpo, sem que haja intenção consciente de suicídio”.

A política Nacional de prevenção da automutilação e do Suicídio de abril de 2019, define por violência autoprovocada, o suicídio consumado, a tentativa de suicídio e o ato de automutilação, com ou sem ideação suicida. A pessoa que comete violência contra si próprio, pode não ter uma intenção suicida, ou seja, não apresentar a vontade de causar a morte.

Fonte: encurtador.com.br/dFL35

(En)Cena – Quais os fatores desencadeantes para as práticas de autoagressão?

Laurilândia O. Silva – O suicídio e as outras formas de violência autoinfligida “é um fenômeno multifatorial, multideterminado e transacional que se desenvolve por trajetórias complexas, porém identificáveis”, essa é a definição da organização das nações unidas em 1960.

Essas trajetórias complexas, podem ser chamadas de fatores de risco, de acordo com Botega (2015) a natureza desses fatores de risco é variável, há influência da genética, de elementos da história pessoal e familiar, de fatores culturais e socioeconômicos, de acontecimentos estressantes, de traços de personalidade e de transtornos mentais.

(En)Cena – Como ocorre o atendimento psicológico emergencial para quem pratica?

Laurilândia O. Silva – É importante estar atento aos sinais que a pessoa que tem a intenção de cometer suicídio emite, o suicídio pode ser previsível. Sinais como pedidos de desculpa e de perdão aos familiares, pequenos bilhetes, versículos da Bíblia e poesias, compras de certos objetos como cordas e escadas.

Se a pessoa apresenta ideação suicida, ou seja, ela tem pensado em cometer suicídio, ou tenha um plano elaborado para executar o suicídio e fala frases do tipo: “Tenho vontade de dormir e não acordar mais”, “sou um fracasso”, com planejamento ou não, é importante que a pessoa procure ajuda profissional.

Fonte: encurtador.com.br/blnx6

No serviço público essa pessoa pode procurar atendimento em uma Unidade Básica de Saúde ou CAPS- Centro de Atenção Psicossocial. Casos em que a pessoa realizou a tentativa de suicídio, a orientação é que ela procure, seja levada por alguém ou pelo SAMU ou Corpo de Bombeiros a um serviço de urgência e emergência como Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e HGP- Hospital Geral de Palmas.

Recomenda-se que um familiar acompanhe o intento suicida nas consultas iniciais para receber orientações. No primeiro atendimento é importante avaliar o risco da intencionalidade em cometer o suicídio, realizar orientações para afastar meios letais, sensibilizar para a importância de seguir as orientações médicas e tratamento medicamentoso, identificar pessoas significativas para o intento suicida e obter apoio, essas são ações que são tomadas de imediato para prevenir uma nova tentativa com sucesso.

(En)Cena – Como pode ser constituída a rede de apoio desses pacientes?

Laurilândia O. Silva – O apoio de familiares e amigos, instituições religiosas, escolas e universidades, profissionais de saúde e trabalhadores do Sistema Único de Assistência Social, pode constituir a rede de apoio ao intento suicida.

(En)Cena – Quando e como os profissionais devem verificar se alguém está praticando a automutilação? E como as pessoas em geral, podem analisar? Se essa suspeita é confirmada, como deve proceder?

Laurilândia O. Silva – Muitos profissionais de saúde, amigos e familiares sentem receio em abordar o tema do suicídio e da automutilação, mas a estratégia é perguntar, é questionar em uma linguagem clara e direta. Muitas pessoas acreditam que perguntar sobre a intenção de tirar a própria vida, pode contribuir para que o suicídio aconteça, isso é um mito muito comum. Algumas sugestões de perguntas são: você pensa muito sobre morte, sobre pessoas que já morreram, ou sobre sua própria morte? Você pensou em suicídio durante essa última semana?

Fonte: encurtador.com.br/cfTY9

Outra estratégia para verificar se alguém está praticando a automutilação é observar cicatrizes nas partes do corpo, observar se houve mudança na forma como a pessoa se veste, por exemplo, começa vestir roupas de mangas compridas em um ambiente quente, na intenção de esconder machucados e cicatrizes. Ao perceber esses sinais os profissionais, familiares e amigos, podem perguntar sem julgamentos sobre o que está acontecendo e ofertar ajuda, procurando algum serviço de saúde.

(En)Cena – Como a família, escola, sociedade e instituições religiosas podem contribuir como rede de apoio a essas pessoas?

Laurilândia O. Silva – A família, escola, sociedade e instituições religiosas como dito anteriormente compõem a rede de apoio de uma pessoa que apresenta comportamento suicida. Essa rede pode contribuir na desmistificação de preconceitos e estigmas em torno da violência autoprovocada. Evitar compartilhar em redes sociais vídeos, fotos, cartas de despedidas e formas de praticar o suicídio, também são estratégias de contribuir para prevenção e apoio aos familiares do intento suicida. Promover espaços de reflexão e aprendizagem sobre o tema, com profissionais de saúde e estudiosos do tema. Incentivar a busca por ajuda.

(En)Cena – A partir da sua experiência, considera que o ensino acadêmico no curso de psicologia é eficaz para a prática profissional do psicólogo?

Laurilândia O. Silva – Com base na minha experiência acadêmica, percebi que o que aprendi sobre violência autoprovocada, aprendi na prática profissional, em supervisões, apoio técnico e leituras. O ensino acadêmico abordou pouco sobre o tema e não foi eficaz para a minha prática. Acredito que seja importante que o acadêmico de psicologia aprenda e desenvolva competências para atuação com o comportamento suicida, principalmente se o acadêmico pretende atuar na rede pública de saúde, no SUS.

(En)Cena – Deixo um espaço livre para indicações de leituras, orientações e sugestões.

Laurilândia O. Silva – Minha sugestão é que quem tiver curiosidades existem algumas organizações que trabalham ofertando apoio a sociedade, fazer parte dessas organizações ou procurar conhecer pode ajudar no entendimento sobre o tema:

Referências:

Botega, Neury José. Crise Suicida: avaliação e manejo. Porto Alegre: Artmed, 2015.

BRASIL. Lei Nº 13.819, de 26 de abril de 2019. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato20192022/2019/Lei/L13819.htm. Acesso em: 29 de abril de 2021.

GIUSTI, Jackeline Suzie. Automutilação: características clínicas e comparação com pacientes com transtorno obsessivo-compulsivo. Tese de Doutorado, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5142/tde-03102013-113540/publico/JackelineSuzieGiusti.pdf. Acesso em 27 de abril de 2021.

Compartilhe este conteúdo:

Setembro amarelo e o tabu com o tema

Compartilhe este conteúdo:

Mesmo com campanhas como o “Setembro Amarelo” que têm como alvo a prevenção, falar de suicídio ainda é um tabu. Entretanto, é necessário expor o tema para que as pessoas fiquem atentas a qualquer sinal que possa surgir em alguém próximo a fim de prevenir que o pior aconteça.

O suicídio está presente em todas as classes sociais e pode acometer qualquer pessoa. Esse ano ainda temos a pandemia da Covid-19. O problema em si não desencadeia ondas de suicídios, mas o isolamento social, o afastamento das pessoas que poderiam perceber algum risco, sim. Além disso, a presença de sofrimento e adoecimento psíquico prévios como a dependência química e quadros depressivos ou melancólicos, deixam essas pessoas mais vulneráveis com o distanciamento.

Pessoas em risco de atentar contra a vida podem exibir alguns sinais que, para a maioria das pessoas, podem parecer irrelevantes. Um especialista em saúde mental conseguiria ler os sinais e sintomas que apontam para um risco aumentado e que não se reduzem à tristeza ou depressão.

Fonte: encurtador.com.br/evCHW

Pessoas próximas podem ser de grande ajuda num primeiro momento localizando a necessidade de socorro. Porém, o acolhimento, o carinho e o suporte leigos não são suficientes para a resolução de crises. É indicado que fiquem atentos aos sinais sutis e a encaminhem para um especialista que possa efetivamente ajudar aquele que sofre. Psicólogos e psicanalistas são profissionais de saúde mental preparados para o tratamento desses quadros.

É muito importante levar a sério o lamento, a expressão de dor de quem nos cerca. Aquela breve conversa pode ser o único e último pedido de ajuda. Caso você perceba algum indício de que há algo errado, ampare e direcione imediatamente para um profissional de saúde mental. Não duvide de pequenas queixas, pois a vida pode estar apenas por um fio.

Compartilhe este conteúdo:

The Sunset Limited: ecceidade e niilidade da existência

Compartilhe este conteúdo:

“Parece que todo o esforço da Filosofia tem sido descascar esta cebola que é o mundo, no afã de lhe encontrar o suporte, a substância, o núcleo. Outra metáfora que vai no mesmo sentido é de que o visível deite raízes no invisível, o passageiro, no eterno, o movimento no repouso, o relativo no absoluto, de tal sorte que a interpretação do real é um ato permanente de ultrapassagem”
Sebastião Trogo

O longa metragem The Sunset Limited (No Limite do Suicídio em tradução nacional) é um filme estadunidense, de 2011, dirigido por Tommy Lee Jones, baseado em peça homônima de Cormac Mccarthy, de 2006.  Com duração de 91 minutos, a obra possui um formato teatral na interação de apenas dois personagens, Samuel L. Jackson interpretando Black, e o próprio Jones como White.

A trama do filme se passa em uma situação específica, ocorrida entre esses dois personagens. White, um professor, cético e suicida, passou por uma experiência frustrada de tentativa de abreviar sua existência numa estação de metrô chamada Sunset Limited, quando foi impedido por Black, um ex-presidiário, religioso, e que o convida a uma ida em seu apartamento, para que possam dialogar sobre os porquês da decisão de White de tentar tirar a própria vida.

A dinâmica do diálogo ocorre como uma apologia da causa suicida por White, em meio às contraposições do sentido da mesma, em argumentos teológicos, efetuadas por Black. O direito e propósito do viver, e a renúncia ao propósito da vida são contrapostos aos grandes platôs religiosos de elevação da existência como dádiva transcendental, e cuja (des)continuidade estaria além de nosso arbítrio.

Temáticas metafísicas são discutidas amplamente no filme, perpassando por pautas como morte, vida, destino, religião, verdade, religião, ateísmo, etc. A riqueza das informações, discursos, personalidades, visões de mundo e embates teóricos faz com que The Sunset Limited nos ofereça uma experiência cinematográfica singular, envolta em profundas reflexões e debates nas vozes e pensamentos dos personagens do filme.

A análise aqui proposta está voltada aos aspectos filosóficos, principalmente relacionadas ao ser-para-morte e a relação entre a ecceidade e niilidade da existência, muito presente nos diálogos de Black e White. Vertentes psicológicas, psiquiátricas (clínicas), históricas, sociológicas e antropológicas, serão utilizadas, eventualmente, como suporte ou apoio secundário ao foco inicial proposto pela reflexão em tela.

O propósito entre o nada e o ser

A fenomenologia, e sua guinada como método filosófico no século XX, é marcada pela obra de dois grandes pensadores, Jean-Paul Satre e Martin Heidegger, que discutiram amplamente os grandes temas da metafísica em roupagens contemporâneas, em revisões e aprofundamentos de pensadores pretéritos como filosófos pré-socráticos (especialmente Heidegger), os postulados escolásticos da dogmática cristã e sua teologia, o primado filosófico de Platão e Aristóteles, Immanuel Kant, Friedrich Hegel, Soren Kierkegaard, Friedrich Niezscthe e, em alguma medida, Arthur Schopenhauer, mesmo que esse último com pouca presença literal na obra dos dois primeiros.

Tempo, existência, sentido e vazio se entrelaçam nas filosofias de Heidegger e Sartre, e a partir de suas contribuições é que podemos propor uma análise, por estas vias, a respeito dos temas tratados em The Sunset Limited. Ao colocarmos a morte e o suicídio no panorama filosófico de seu debate, iremos, inevitavelmente, nos deparar com a questão do tempo e suas temporalidades e, essencialmente, como há a relação entre finitude e infinitude por parte do ser humano.

Muito do que é apresentado ao longo do filme respeito à essência do existir, a presença de um porquê fundamental para nossas vidas e, principalmente, o propósito da caminhada existencial de cada um de nós. White nos traz a angústia, em seu estado mais profundo, quando o niilismo entrega sua face mais negativa, que é a desistência do próprio projeto existencial, como trabalhado por Sartre:

A angústia que faz manifestar nossa liberdade à nossa consciência, quando essa possibilidade é desvelada serve de testemunha. desta perpétua modificabilidade (modificabilité) de nosso projeto inicial. Na angústia, não captamos simplesmente o fato de que os possíveis que projetamos acham-se perpetuamente corroídos pela nossa liberdade-por-vir, mas também apreendemos nossa escolha, ou seja, nos mesmos, enquanto injustificável, isto é, captamos nossa escolha como algo não derivado de qualquer realidade anterior e, ao contrário, como algo que deve servir de fundamento ao conjunto das significações que constituem a realidade. A injustificabilidade não é somente o reconhecimento subjetivo da contingência absoluta de nosso ser, mas ainda o da interiorização desta contingência e sua reassunção por nossa conta. Isso porque a escolha procedente da contingência do Em-si que ela nadifica transporta essa contingência ao plano da determinação gratuita do Para-si por si mesmo. Assim, estamos perpetuamente comprometidos em nossa escolha, e perpetuamente conscientes de que nós mesmos podemos abruptamente inverter essa escolha e “mudar o rumo”, pois projetamos o porvir por nosso próprio ser e o corroemos perpetuamente por nossa liberdade existencial: anunciamos a nós mesmos o que somos por meio do porvir e sem domínio sobre este porvir que permanece sempre possível, sem passar jamais à categoria de real. (SARTRE, 2008, p. 571-572).

O Para-si, que é uma das grandes categorias sartreanas, representando a projeção de significação do ser, a partir do ser humano, à mundaneidade que o rodeia (o Em-Si), é composto pelos projetos engendrados pela existência. Esse conceito conecta-se, intimamente, com o dasein de Heidegger, traduzido amplamente no Brasil por ser-aí (ou presença em algumas traduções), que é a transcendência humana projetada no mundo da qual faz parte, habita e significa. Portanto, o Para-si sintetiza-se como uma busca constante por um projeto que nos justifique em nossas existências cotidianas:

Todavia, como esse surgimento do novo projeto tem por condição expressa a nadificação do anterior, o Para-si não pode conferir uma nova existência a si mesmo: assim que arremessa no passado o projeto prescrito, tem-de-ser esse projeto na forma do “era” – o que significa que tal projeto prescrito pertence daqui por diante à situação do Para-si. Nenhuma lei de ser pode estipular o número a priori dos diferentes projetos que sou: a existência do Para-si, com efeito, condiciona sua essência. Mas é necessário consultar a história de cada um para ter-se uma idéia singular acerca de cada Para-si singular. Nossos projetos particulares, concernentes à realização no mundo de um fim em particular, integramse no projeto global que somos. Mas, precisamente porque somos integralmente escolha e ato, esses projetos parciais não são determinados pelo projeto global: devem ser, eles próprios, escolhas, e a cada um deles permite-se certa margem de contingência, imprevisibilidade e absurdo, embora cada projeto, na medida em que se projeta, sendo especificação do projeto global por ocasião de elementos particulares da situação, seja sempre compreendido em relação à totalidade de meu ser-no-mundo (p. 592). 

A sedução ao nada rodeia os projetos que construímos, desejamos, iniciamos e investimos tempo, esforço, emoções, experiências, vivências, partilhas e paixões. A idealização do futuro se torna fragilizada diante dos percalços da mundaneidade em sua inteireza (o Em-si sartreano), e o Para-si, que é a constante projeção, construção e sustentação de todos os projetos iniciados por nós em busca do sentido que nos defina em nossa liberdade primordial, enfraquece-se diante desse instante futuro que não chega, no qual a completude do projeto se tornaria realidade e não mais especulação:

Assim, estamos perpetuamente submetidos à ameaça da nadificação de nossa atual escolha, perpetuamente submetidos à ameaça de nos escolhermos – e, em conseqüência, nos tornarmos – outros que não este que somos. Somente pelo fato de que nossa escolha é absoluta, ela é frágil; ou seja, estabelecendo nossa liberdade por meio dela, estabelecemos ao mesmo tempo a possibilidade perpétua de que nossa escolha converta-se em um aquém preterificado por um além que serei. Todavia, devemos entender com clareza que nossa atual escolha é de tal ordem que não nos oferece qualquer motivo para que a preterifiquemos por uma escolha ulterior. Com efeito, é ela que cria originariamente todos os motivos e móbeis que podem conduzir-nos a ações parciais, é ela que dispõe o mundo com suas significações, seus complexos-utensílios e seu coeficiente de adversidade. Essa mudança absoluta que nos ameaça do nosso nascimento à nossa morte permanece perpetuamente imprevisível e incompreensível. Mesmo se encararmos outras atitudes fundamentais como possíveis, jamais as consideramos a não ser pelo lado de fora, como os comportamentos do Outro. E, se tentamos relacionar nossas condutas a tais atitudes fundamentais, estas não perdem por isso seu caráter de exterioridade e de transcendências-transcendidas. Com efeito, “compreendê-las” já seria tê-las escolhido. Voltaremos ao assunto. Além disso, não devemos representar a escolha original como “produzindo-se a si mesmo a cada instante”; seria voltar à concepção instantaneísta da consciência, da qual Husserl não pode sair. Uma vez que, ao contrário, é a consciência que se temporaliza, é necessário que a escolha original estende o tempo e identifica-se com a unidade dos três ek-stases. Escolher-nos é nadificar-nos, ou seja, fazer com que um futuro venha a nos anunciar o que somos, conferindo um sentido ao nosso passado. Assim, não há uma sucessão de instantes separados por nadas, como em Descartes, e de tal ordem que minha escolha no instante t não possa agir sobre minha escolha do instante t1• Escolher é fazer com que surja, com meu comprometimento certa extensão finita de duração concreta e contínua, que é precisamente a que me separa da realização de meus possíveis originais. Assim, liberdade escolha, nadificação e temporalização constituem uma única e mesma coisa. (SARTRE, 2008, p. 571-573).

A liberdade da escolha e os projetos da existência nos definem, por essa razão Sartre retoma amplamente o seu ponto inicial da liberdade como o paradoxo do aprisionamento da essência humana, nossa condição a sermos e estarmos livres, sempre. A consciência temporalizante é o que nos faz ter a o acúmulo, ao longo da vida, das resultantes dos diferentes caminhos percorridos, escolhas realizadas, das trilhas idas e desviadas, os pormenores de ações, situações, contingências e consequências que compõem, mesmo que não queiramos ou percebamos, um cenário interior de constante questionamento sobre o mundo, nós mesmos e os outros.

 Como nos traz, em seus argumentos, sobre nossa niilidade (chamada por Sartre de natitè), Carlos Astrada (1942) assim define esse eterno jogo metafísico entre o sentido e vazio, escolha e indecisão, o circunscrito e o indefinido, que nos perpassa diária e inevitavelmente: “A metafísica é a dinâmica existencial do pensamento (o jogo metafísico), jogando-se por e entorno do ser, cja compreensão ativa compreende o drama de nosso própro ser, de nossa irrevogável niilidade” (ASTRADA, 1942, p. 10).

O preenchimento do vazio da existência em The Sunset Limited é efetuado de duas grandes maneiras, por meio de dois colossos de associação da essência do mundo e de todas as coisas – o descascar da cebola citado por Trogo na epígrafe desse escrito –, trata-se da religião/dogmas e da ciência/filosofia, por meio das falas dos personagens White e Black, e também nos seus trejeitos e formas de expressão diante ou da niilidade ou ecceidade do mundo e de suas vidas.

Tanto por um como por outro lado desses caminhos, a niilidade é rebatida com busca e oferta de respostas a estes questionamentos: “Por estar abandonada a sua própria niilidade, em meio às coisas, a existência busca um apoio, um amparo. Então se mantém na transcendência. O modo essencial de manter-se na transcendência, ou seja, no jogo dinâmico e sutil em que o ente humano está posto, é precisamente a concepção de mundo.” (ASTRADA, 1942, p. 45 – tradução própria).

Assim como Astrada (1942), o filósofo brasileiro Gerd Bornheim (1972) também coloca a questão da finitude como principal temática da metafísica e das querelas filosóficas que perfazem a existência. Ambos autores possuem grande leitura e compreensão das filosofias fenomenológicas fundamentais do século XX, de Sartre e Heidegger. E o argumento utilizado a partir do questionamento de uma metafísica da finitude parte do princípio da impossibilidade humana de lidar com sua abertura a uma temporalidade (infinita) que ultrapasse sua finitude: “[…] o homem é o único ente que diz o ser; que ele o diz, é incontestável. O que pode ser contestado e discutido, é o significado de tal dizer, porque na elucidação desse dizer o ser começa a ontologia.” (BORNHEIM, 1972, p. 10).

Tudo se torna mais complexo, denso e de difícil compreensão, porque além de conseguirmos inquirir sobre a natureza do próprio tempo, e nossa situação perante nossa finitude existencial e a infinitude da cronologia primordial e universal, tornamo-nos a própria abertura de significação do ser para com os outros entes, como porta-vozes do sentido: “Mas essa elucidação só se verifica porque há efetivamente uma compreensão prévia do ser; isso pertence de modo essencial à dimensão do humano, e é o que o distingue de todos os outros entes: o homem pode apreender o ente na sua condição mesma de ente. Não há nada no comportamento humano, sequer o mínimo gesto ou a mais particular das experiências, que se possa furtar a esse enraizamento num sentido fundamental; todo comportamento humano é ontológico. (BORNHEIM, 1972, p. 10).

Como argumenta Heidegger, nós somos a morada do ser, já enunciamos, prevemos e somos o canal pelo qual há a fruição do ser dos demais entes da mundaneidade, configurando o ser-aí em ser-no-mundo, ou seja, direcionando na no plano ôntico a projeção ontológica de seu sentido. Esse é o plano de fundo explorado por Bornheim (1972), em sua proposição da metafísica da finitude como argumento renovado para uma atualização e renovação da fenomenologia para nossos tempos: “[…] o homem é que está no sentido. Só há ser e sentido pelo homem, e sem ser e sentido não há homem. Isso quer dizer, em primeiro lugar, que o que está em jogo na questão do ser é o destino do homem; e, em segundo lugar, que se o ser transcende a realidade deste homem particular, então o ser é histórico, isto é,, há um sentido que se renova através do tempo.” A história do Ser, prescreve a história do ser humano, de nossa consciência, ações e situações, fazemo-la em cada um de nossos pequenos atos cotidianos: “O homem participa dessa renovação, embora o ser não seja redutível ao homem: a história do ser esconde o desígnio último do destino do humano.” (BORNHEIM, 1972, p. 10-11).

Muito do diálogo que assistimos em The Sunset Limited nos coloca em voltas à essa proposição de uma metafísica da finitude, presente tanto em Astrada (1942) como Bornheim (1972), porque é no plano ôntico que ditamos o certame da diferenciação entre a niilidade e ecceidade do mundo, do outro e, principalmente, de nós mesmos. Esta retomada metafísica também ganha força nas últimas décadas, em um grande movimento de releitura e aprofundamento dos postulados heideggerianos e sartreanos, os levando na direção das temáticas centrais das pequenas coisas, objetos, sensações, relações, trocas de experiências e sentidos que nos propiciam, em escala aumentada, o conjunto de significações do projeto maior que é nossa existência, conforme reiterado pelo filosófico Coutinho (1976), quando diz que:

A escala de meu vulto metrifica as possibilidades de interpretação de cada um dos protagonistas de forma que a reciprocidade de ser, de mim aos outros, dos outros a mim, se estabelece de conformidade com o módulo de minha receptiva, mesmo porque nada se propõe a corporificar-se em meu repertório sem deixar-se medir de acordo com os vãos deste receptáculo. As nominações, os temas que pairam em mim, e aos quais demandam os atores que se candidatam ou atendem à minha solicitação, têm, por sua vez, uma capacidade de aglutinação que se mensura ao compasso de meus padrões emotivos. (COUTINHO, 1976, p. 36).

Para que seja possível o paralelismo nominal dos conceitos, o vulto equivale-se ao Para-si sartreano e ao ser-aí (dasein) de Heidegger – Coutinho (1976) possui uma das mais ricas e sólidas construções metafísicas da filosofia brasileira, ainda que pouco utilizada ou lembrada. As nominações, argumentadas pelo autor, referem-se ao poder de abertura do sentido de todos os entes ao seu estofo ontológico pelo ser humano. Há, sobremaneira, uma carga de responsabilidade em nós, por sermos essa via expressa pela qual a mensagem da significação é passada para o mundo, nós mesmos e os outros.

É nesse sentido que a niilidade da existência eclode, principalmente, quando há momentos-chave perpetrados por condições de desespero, perda, fuga, rompimentos e os aspectos socioculturais da perda ou ausência da força e fundamento para lidar com tais contingências do esvaziamento do sentido. O cotidiano e suas nuances, que engendram o substrato da tessitura do ser, em cada ente significado por nós, no devir existencial, a finitude abarca a abertura de nosso questionamento e interação, constante e inevitável, para com o algo mais do sentido de cada pequena sensação, objeto, experiência ou acontecimento cotidiano. Muito do que observamos em The Sunset Limited, pelas falas de White, diz respeito a insuficiência, por parte do personagem, de suprir seu vazio existencial na finitude da existência, ao passo que Black argumenta justamente que é preciso uma abertura ao absoluto da ecceidade da infinitude de Deus, para que o finito do mundo que vivemos alcance essa suficiência de sentido.

O embate filosófico presente na metafísica contemporânea choca-se diretamente com a questão do limiar entre a finitude e a infinitude, justamente pelo fato de ao contemplarmos, vislumbrarmos ou querermos compreender a segunda nos depararmos tão somente com a primeira, na confirmação da finitude pela nossa própria condição de mortalidade e acúmulo de projetos e camadas de significação ao longo da vida (a visão de White) e sobre o propósito maior, a partir do qual mesmos com a carga fática do mundo e nós mesmos em sua finitude, teríamos sempre o respaldo e regalo da infinitude do Criador para encontrarmos o sentido maior, a essência das essências e o centro de todos os questionamentos, os quais ao serem direcionados à niilidade em sentido estrito, são ultrapassados pelo poder do absoluto em sua plenitude dogmática (posição amplamente exposta e defendida por Black).

O fim como ecceidade irrefutável

Muito do que possuímos como referência para a finalidade do existir se dá pelo prenchimento cotidiano, espiritual, familiar, fraternal, artístico, produtivo, etc. Mais do que discutir sobre a questão do suicidío e a niilidade como opção à qual a liberdade pode escolher sobre o momento de seu encerramento, The Sunset Limited nos proporciona uma discussão a respeito da morte, seu significado, e configuração como libertação ou tabu, drama ou aceitação por aqueles que nela, por ela e sobre a mesma pensam, reflexionam e inquirem.

Especialmente no que se refere a ritos de passagem relacionados à morte, em muitas situações tradicionais, de populações nativas não são encontrados impedimentos ou complicações psciológicas ou emocionais diante da morte como fato irrefutável, inerente e condicional da existência (DURKHEIM, 1982). E é nesse sentido que podemos refletir, a partir do pensamenteo metafísico contemporâneo, como vimos na primeira parte da análise, conhecida como ontologia fenomenológica crítica, com algumas exceções a respeito do método heideggeneriano, com o que podemos colocar como uma ontologia existencial idealista revisada, com grande contribuição de autores como Etienne Gilson e seus comentadores.

E, ao voltarmos a temática da interrupção do ciclo vital, trabalhado no filme, encontraremos dois pontos de vista para com a existência, o idealista supramudano, do fim e meio de todas a coisas pelo caráter tripartite da deidade já observada por Epicuro: onisciência, onipotência e onipresença; e do outro lado o extremo da liberdade, do arbítrio diante da escolha pelo suicídio.

Partamos, de princípio, a uma clássica posição idealista/clériga a respeito da temporalidade e seu confronto cronológica entre a finitude e infinitude, tratado por Agostinho (2008) sobre o Tempo longo e o tempo breve;

CAPÍTULO XV Tempo longo, tempo breve. No entanto, dizemos que o tempo é longo ou breve, o que só podemos dizer do passado e do futuro. Chamamos longo, digamos, os cem anos passados, e longo também os cem anos posteriores ao presente; um passado curto para nós, seriam os dez dias anteriores a hoje, e breve futuro, os dez dias seguintes. Mas como pode ser longo ou curto o que não existe? O passado não existe mais e o futuro não existe ainda. Por isso não deveríamos dizer “o passado é longo” – mas o passado “foi longo” – e o futuro “será longo”. (AGOSTINHO, 2008, p. 112).

A temporalidade breve, aqui questionada diz respeito a finitude, ao passo que o tempo longo significa o absoluto cronológico. Agostinho remete aos escritos sagrados e ao endosso da fé cristã o respaldo dogmático que busca para justificar essa diferenciação, no centro da qual encontra-se o ser humano. Como trabalhado por Lebrun em seu opus magnun Kant e o fim da Metafísica, não é uma tarefa fácil confrontar científica ou filosoficamente, pontos tão sensíveis ao psicológico, emocional e (i)rracional humano com sua própria razão de ser, em um contraponto tão belo quanto assombroso, do esclarecimento de nosso fagulhar diante da Idade do Céu atingida apenas pelo pulsar metafísico de nossa alma como cantado por Jorge Draxler ou Tudo aquilo que poderíamos ter sido lembrado pelo Clube da Esquina, nas vozes de Lô Borges e Milton Nascimento.

O que Agostinho apela em suas confissões é por uma resposta ao seus Deus, pelo fato de não encontrar na finitude do existir o sentido suficiente para indivíduo. O tempo longo, o infinito e o futuro permeado pelo por-vir de possibilidades relegada apenas à deidade maior, é o caminho encontrado, assimcomo reforçado por Gilson (2016) quando diz que:

Assim, a teologia natural demonstrará a razão suficiente da existência de Deus e do universo; em Cosmologia, explicar-se-á como a existência dos contingentes se encontra determinada no mundo material; em Psicologia, será dito como os possíveis incluídos no pensamento humano são conduzidos ao ato. De todo modo, para propor o problema da existência, será preciso sair da ontologia, visto que o ser de que a ontologia trata se confunde com sua pura possiblidade passiva de receber a existência: a potência ativa de outros seres, que são as causas da existência, é a única que pode conferir a existência do ser. (GILSON, 2016, p. 214).

Deus e o ser humano, o individual absoluto e coletivo relativizado, o sem-número de possíveis frente ao impossível de uma ecceidade superior, esse é o argumento central da desconstrução da metafísica contemporânea empreitado por Gilson (2016), no confronto da alocação da pergunta pelo Ser em substituição a não aceitação ou uso do argumento dogmático e o absoluto da presença de Deus como referência primordial e essencial de todas as coisas.

Mesmo que os argumentos trazidos pelos existencialistas críticos e/ou niilistas dos séculos XIX e XX sejam contundentes, cabe sempre colocar em pauta a individualidade desse questionamento frente ao ser. É nesse aspecto que The Sunset Limited expões a visão de um único indivíduo, White, em sua decisão pelo suicídio, incorporando ora mais a visão científica ora mais a filosófica frente ao posicionamento dogmático, absoluto e religioso de Black.

A análise individual se torna inevitável, necessária e, talvez, o único recorte viável para uma análise desse porte, em nível de colocações metafísicas dos pontos tocados no levante do suicídio como via para se chegar a tais enfrentamentos onto-ontológicos, negativa ou positivamente: “Chama-se suicídio todo o caso de morte que resulte direta ou indiretamente de um ato positivo ou negativo, praticado pela própria vítima, sabedora de que devia produzir esse resultado” (DURKHEIM, 1982, p. 16).

A filosofia de Martin Heidegger nos ajuda a compreender as principais temáticas trabalhadas no filme, em especial o ser-para-a-morte, amplamente exposto, debatido e desenvolvido ao longo dos seus escritos, pelo fato da morte ser a anulação absoluta do Dasein: “A morte é a possibilidade da impossibilidade pura e simples do Dasein” (HEIDEGGER, 2008, p. 333).

Se não cabe ao ser humano, em sua finitude, dispor, contrapor ou sequer compreender a infinitude do Ser, fica então a anulação do dasein/Para-si como alternativa última, frente ao absurdo do existir, o finito se torna o colosso transponível frente a impossível chegada, assimilação ou compreensão do absoluto do ser. Vemos, então, tanto a força máxima como a maior fenda de crítica do existencialismo fenomenológico, diante dessa dualidade, como ressaltado por Gilson (2016):

Eis por que, se for conservado o sentido francês clássico das palavras “existir” e “existência”, que não significam senão “o ser simples e nu das coisas” ou, em outros termos, aquilo pelo que todo real se distingue do nada, pode-se dizer sem paradoxo que os existencialismos contemporâneos em nenhum momento propõem o problema da existência, sendo o objeto próprio deles uma nova essência, qual seja, a do ser em devir no tempo. Como o “ente” é e dura, tal é sua preocupação principal, mas que ele “seja” não lhes põe nenhum problema, o nada que o ser do existencialismo não cessa de ultrapassar, até que enfim sucumba a ele, nunca sendo senão um nada interior para seu próprio ser que, por sua vez, não é objeto de nenhuma questão. Ora, aí está para nós a questão principal. Pouco importa que seja nomeado “ser” ou “existir” o ato em virtude do qual o “ente” é, ele mesmo, “um ser”, e não contestamos em nenhum instante – muito pelo contrário – que o existencialismo encontre na existência, tal como a entende, o objeto de uma fenomenologia útil e mesmo necessária; o único erro do existencialismo é o de tomar-se como uma metafísica, o de esquecer a presença do ato em virtude do qual o “ente” existe e, em seu esforço legítimo para remeter da existência ao ser, tê-lo uma vez mais essencializado. (GILSON, 2016, p. 22-23).

É na esteira desse argumento que Gilson (2016) realiza um contundente revisionismo da teoria existencialista, que argumenta, principalmente a premência da existência à essência, pelo fato, de muitas vezes, o ser deposita seu clamor no retorno em um ser metafísico tão impalatável quanto o próprio nada. Definir a metafísica como ciência do ser enquanto ser e de suas propriedades é certamente dar-lhe como objeto não uma simples noção geral, mas, ao menos, uma essência comum, que fosse a primeira e a mais fundamental de todas: a própria essência daquilo que é, enquanto é. (GILSON, 2016, p. 98).

Diante da potência e irrevogabilidade do tempo longo suscitado por Agostinho e o absoluto da deidade, cristã principalmente no panorama ocidental, os fenomenólogos que embasam o existencialismo buscam a recomposição do respaldo da essência no tempo, no ser-aí que somos (Heidegger), peripécias das peças e passos do jogo metafísico (Astrada), na corporeidade da realidade objetiva (Merleau-Ponty), nas representações do belvedere da existência (Coutinho), nas nuanças cotidianas do sentido (Bornheim) ou no limite do Para-si em sua projeção em direção constante, de liberdade inevitável, e finitude inerente do existir sobre o Em-si (Sartre), dentre outras proposições, caminhos, métodos e visões de engajamento reflexivo para compreensão metafísica da ontologia do ser humano, sua existência e finitude.

A crítica posta por Gilson (2016) sobre o fosso de sentido proposto pelo existencialismo mais radical, que flerta com o niilismo em lateralidade do ser e o nada encontrada, portanto, um caminho na finitude, quando o cotidiano ocupa seu lugar de fomentador do sentido da existência, sem revogar o substrato máximo de um Deus como fim, meio e início de todas as coisas, como alerta Camus (2018):

Todo pensamento que renuncia à unidade exalta a diversidade. E a diversidade é o lugar da arte. O único pensamento que liberta o espírito é o que o deixa sozinho, certo dos seus limites e do seu fim próximo. Nenhuma doutrina o solicita. Espera o amadurecimento da obra e da vida. Separada dele, a primeira fará ouvir mais uma vez a voz quase ensurdecida de uma alma libertada para sempre da esperança. Ou não deixará ouvir nada, se o criador, cansado do seu jogo, pretende se retirar. O que é equivalente. (CAMUS, 2018, p. 116).

Pôr-se diante do esvaziamento do sentido por meio do ceticismo máximo, base e fundamento da fenomenologia contemporânea em estado puro, trará, em algum momento, o certame no qual a finitude não mais fornecerá a essência do existir nos tantos quantos objetos, fatos, situações, sensações, emoções, e múltiplos projetos efêmeros de uma longa trilha existencial, então o ser-para-o-fim torna-se sedutor à espreita do descenso.

Em The Sunset Limited observamos o poderio da ecceidade absoluta de Deus na presença trans-casualística, ultrapassando a condição inicial ou final, e de como o recurso do finito, na temporalidade, espacialidade ou qualquer que seja a entidade direcionada do olhar metafísico, esbarrar-se-á no colosso da deidade distanciada pelos fenomenólogos atuais, mas como nos diz Gilson (2016), não deixa de possuir ressonância e semelhança em força, força e composição ontológica superior com a ideia de Deus.

Heidegger em sua grande arquitetura ontológica fundada no argumento da temporalidade e o esquecimento e abandono do Ser, sabia do desafio trazido à tona na proposição de uma postura cristalina e sem velamento diante do existir e da existência. Por isso debate que a vida cotidiana encoberta a abertura para o ser, que faz parte, em si mesmo, da essência do ser humano, como ente privilegiado para a significação do mundo, como ser-no-mundo, projeto existencialmente pelo ser-aí, o dasein:

A presença cotidiana encobre, na maior parte das vezes, a possibilidade mais própria, irremissível e insuperável de seu ser. essa tendência fática de encobrimento confirma a seguinte tese: como fática, a presença está na não-verdade. Em consequência, a certeza inerente ao encobrimento do ser-para-a-morte só pode ser um ter-por-verdadeiro inadequado, e não uma espécie de incerteza, no sentido de dúvida. A certeza inadequada mantém encoberto aquilo de que está certa. Se a compreensão “impessoal” da morte é a de uma acontecimento que vem ao encontro dentro do mundo, então a certeza a ela relacionada não diz respeito ao ser-para-o-fim. (HEIDEGGER, 2008, p. 333).

A epifania dos objetos, ou dos utensílios, como diria Sartre, nos ecossistemas onto-ontológicos que nos transpassam, dão-nos o sentido do mundo ao redor, das pessoas que nos relacionam e engendram a narrativa de nosso trilhar vital. São os mesmos detalhes, nuances, instantes e objetificações ressaltados por Coutinho (1976): “As veredas, as estradas, as ruas, as avenidas se constituem em tablados para o desempenho da liturgia de ser em meu repertório, ao ensejo da repetição que os protagonistas se me oferecem.” (COUTINHO, 1976, p. 199). São múltiplas versões do real, do cotidiano e vida diária, camadas diacrônicas de experiências, lembranças, situações, sensações, permanências e esvaziamentos:

Todas as nossas versões do real — silogismos, descrições, fórmulas científicas, comentários de ordem prática, etc. — não recriam aquilo que pretendem exprimir. Limitam-se a representá-lo ou descrevê-lo. Se vemos uma cadeira, por exemplo, percebemos instantaneamente sua cor, sua forma, os materiais com que foi construída, etc. A apreensão de todas essas características dispersas não é obstáculo para que, no mesmo ato, nos seja dado o significado da cadeira: o de ser um móvel, um utensílio. Mas, se queremos descrever nossa percepção da cadeira, teremos de ir aos poucos e por partes: primeiro sua forma, depois sua cor, e assim sucessivamente até chegar ao significado. No curso do processo descritivo foi se perdendo pouco a pouco a totalidade do objeto. A princípio a cadeira foi apenas forma, mais tarde uma certa espécie de madeira, e finalmente puro significado abstrato: a cadeira é um objeto que serve para sentar. No poema a cadeira é uma presença instantânea e total, que fere de um golpe a nossa atenção. O poeta não descreve a cadeira: coloca-a diante de nós. (PAZ, 1982, p. 132).

Nas palavras de Paz (1982) percebe-se uma aproximação com os pilares postos por Heidegger (2013) na mundaneidade como projeção do ser-aí com ser-no-mundo, e o Para-si sartreano na relação inerente ao Para-si. Uma cadeira, uma flor, uma emoção efêmera, uma sensação nostálgica um acontecimento histórico, quaisquer que seja a entidade, haverá sempre uma retroprojeção do mundo no indivíduo, que resvala em seu existir, significando-o e, nas palavras mais que diretas de Heidegger (2008) um grade agregado de encobrimentos à indeterminação inevitável que é o ser-para-a-morte: “O encobrimento da indeterminação também atinge a certeza. Vela-se, assim, o caráter de possibilidade mais próprio da morte: certa, porém indeterminada, ou seja, possível a todo instante.” (HEIDEGGER, 2008, p. 335).

“Essas são as coisas que têm valor para mim.”

O ser-para-a-morte vem ao encontro da substituição da infinitude dogmática da deidade em questão, cristã no caso do filme Sunset Limited. Seja pela ação do tempo por si só, ou pela escolha do arbítrio da morte como propriedade e direito do cessamento do dasein. Camus flerta com Sartre (2008) e Heidegger (2008; 2013) na concordância da face libertadora do absurdo, desespero e niilidade humana:

O que resta é um destino cuja única saída é fatal. À margem dessa fatalidade única da morte, tudo, alegria ou fatalidade, é liberdade. Surge um mundo cujo único dono é o homem. O que o atava era a ilusão de outro mundo. A sorte do seu pensamento já não é renunciar a si, mas renovar-se em imagens. Ele se representa – em mitos, sem dúvida –, mas mitos sem outra profundidade senão a dor humana e, como esta, inesgotável. Não mais a fábula divina que diverte e cega, mas o rosto, o gesto e o drama terrenos em que se resumem uma difícil sabedoria e uma paixão sem amanhã. (CAMUS, 2018, p. 117).

As tentativas de Black de convencimento de White para com as respostas metafísicas pela fé, durante todo o filme, esbarram sempre em uma compreensão, epifania filosófica-metafísica, de White, do absurdo do viver, estar vivo, e da vida como prospecção essencial do sentido de passarmos, temporariamente, nesse plano. Se, como argumenta Gilson (2016) em contraponto ao existencialismo idealista e/ou mais extremado ao niilismo, não houver o fosso metafísico do infinito no qual todos esses questionamentos possam se resvalar e voltar sem seu poderio de desconstrução do indivíduo, pouco ou nada sobrará, além do absurdo por ele próprio, porque o finito, em sua infinitude, jamais será suficiente como justificação da existência:

Eis aí também as árvores e conheço suas rugas, eis a água e experimento-lhe o sabor. Esses perfumes de relva e estrelas, a noite, certas tardes em que o coração se descontrai, como eu negaria o mundo de que experimento o poder e as forças? Contudo, toda a ciência dessa terra não me dará nada que me possa garantir que este mundo é para mim. Vocês o descrevem e me ensinam a classificá-lo. Vocês enumeram suas leis na minha sede de saber, concordo que elas sejam verdadeiras. Vocês desmontam seu mecanismo e minha esperança aumenta. Por último, vocês me ensinam que esse universo prestigioso e colorido se reduz ao átomo e que o próprio átomo se reduz ao elétron. Tudo isso é bom e espero que vocês continuem. Mas vocês me falam de um invisível sistema planetário em que os elétrons gravitam ao redor de um núcleo. Vocês me explicam esse mundo com uma imagem. Reconheço, então, que vocês enveredam pela poesia: nunca chegarei ao conhecimento. Tenho tempo para me indignar com isso? Vocês já mudaram de teoria. Assim, essa ciência que devia me ensinar tudo se limita à hipótese, essa lucidez se perde na metáfora, essa certeza se resolve como obra de arte. Para o que é que eu precisava de tantos esforços? As doces curvas dessas colinas e a mão da tarde sob este coração agitado me ensinam muito mais. Compreendo que se posso, com a ciência, me apoderar dos fenômenos e enumerá-los, não posso da mesma forma apreender o mundo. (CAMUS, 2018, p. 117).

Nessas palavras de Camus (2018) reencontramos os (eco)sistemas ônticos, propiciando a ecceidade do ser humano como portando em si a projeção do sentido de todas as coisas, como um arauto do Ser, em cada ser de cada coisa, retirando a mundaneidade do Em-si sua niilidade, mesmo que constantemente renovada, reprojetada e reificada a cada nova sensação, objetificação, percepção, acontecimento ou instante vital de nossa trilha existencial em sua miríade e claviculária facticidade. O ser do humano é ocasional, incerto, inapreensível em sua totalidade, complexo, incomparável, inquietante e flerta, sempre, na relação onto-ontológica da (in)finitude:

O tema da investigação hermenêutica é o ser-aí próprio em cada ocasião. O ser da vida fática mostra-se no que é no como do ser da possibilidade de ser de si mesmo. A possibilidade mais própria de si mesmo que o ser-aí (faticidade) é, e justamente sem que esta esteja “aí”, será denominada existência. Através do questionamento hermenêutico, tendo em vista que ele seja o verdadeiro ser da própria existência, a faticidade situa-se na posição prévia, a partir da qual e em vista da qual será interpretada. Os conceitos que tenham origem nesta explicação serão denominados existenciais. (HEIDEGGER, 2013, p. 22).

No absurdo de Camus encontramos ressonâncias do desespero de Kierkegaard, da ironia metafisica de Nietzsche e, muito fortemente, o apelo ontológico pela finitude feito por autores como Astrada (1942) e Bornheim (1972) frente aos grandes postulados fenomenológicos do século XX.

A razão, inteligência, pensamento e a liberdade para trilhar tanto o caminho como a visão do mundo fazem com que haja uma potencialização crescente da compreensão da finitude por ela mesma, já que à infinitude nem o Deus cristão ou o Ser metafísico se mostram palatáveis ou alcançáveis, o absurdo toma a frente, e encarrega-se, por seu esvaziamento, de defenestrar, pela razão ou emoção, o que mais estiver posto como empecilho à incompreensão primal da existência:

Quando tiver seguido com o dedo todo seu relevo, não saberei nada além disso. E vocês me levam a escolher entre uma descrição que é certa, mas que não me informa nada, e hipóteses que pretendem me ensinar, mas que não são certas. Estranho diante de mim mesmo e diante desse mundo, armado de todo o apoio de um pensamento que nega a si mesmo a cada vez que afirma, qual é essa condição em que só posso ter paz com a recusa de saber e de viver, em que o desejo da conquista se choca com os muros que desafiam seus assaltos? Querer é suscitar os paradoxos. Tudo é organizado para que comece a existir essa paz envenenada que nos dão a negligência, o sono do coração ou as renúncias mortais. Também a inteligência, portanto, me diz à sua maneira que este mundo é absurdo. Seu oposto, que é a razão cega, inutilmente afirmou que estava tudo claro: eu esperava provas e desejava que ela tivesse razão. Mas, apesar de tantos séculos pretensiosos, repletos de tantos homens eloquentes e persuasivos, sei que isso é falso. Pelo menos nesse aspecto, não existe felicidade se eu não posso saber. Essa razão universal – moral ou prática -, esse determinismo, essas categorias que explicam tudo têm com que fazer rir o homem honesto. Não têm nada a ver com o espírito. Negam sua verdade profunda, que é estar acorrentado. Nesse universo indecifrável e limitado o destino do homem, daí em diante, adquire seu sentido. Uma multidão de irracionais se levantou e o cerca até o último objetivo. Em sua perspicácia reavida e agora harmonizada, o sentimento do absurdo se aclara e se precisa. Eu dizia que o mundo é absurdo: estava andando muito depressa. Esse mundo em si mesmo não é razoável: é tudo o que se pode dizer a respeito. Mas o que é absurdo é o confronto entre esse irracional e esse desejo apaixonado de clareza cujo apelo ressoa no mais profundo do homem. O absurdo depende tanto do homem quanto do mundo. É, no momento, o único laço entre os dois. Colados um ao outro como só o ódio pode fundir os seres. É tudo o que posso discernir nesse universo sem limites em que prossegue a minha aventura. Paremos aqui. Se considero verdadeira essa absurdidade que regula minhas relações com a vida, se me compenetro desse sentimento que se apossa de mim ante os espetáculos do mundo, desse descortino que me impõe a busca de uma ciência, devo tudo sacrificar a estas certezas e encará-las de frente para poder mantê-las. E devo, sobretudo, pautar de acordo com elas o meu comportamento, levando-as adiante em todas as suas consequências. Estou falando de honestidade. Mas quero saber, doravante, se o pensamento pode viver em tais desertos. Já sei que o pensamento pelo menos entrou nesses desertos. Aí encontrou seu pão. Aí compreendeu que até então se alimentava de fantasmas. E serviu de pretexto a alguns dos temas mais insistentes da reflexão humana. (CAMUS, 2018, p. 20).

O Sísifo entoado por Camus diz respeito ao retorno eterno da questão fundamental do ser humano, a essência do propósito, o porquê do existir e o absurdo da vida em sua incalculável galáxia de escolhas e possibilidades, como meio pelo qual a prospecção do ser se torna possível enquanto questionamento incessante e inalcançável, a compreensão derradeira de tal condição seria, portanto, a aceitação e superação dessa condição, pela própria fatalidade inevitável: “Enquanto fim da presença, a morte é a possibilidade mais própria, irremissível, certa e, como tal, indeterminada e insuperável da presença. enquanto fim da presença, a morte é e está em seu ser-para o fim”. (HEIDEGGER, 2008, p. 335).

Se o absurdo como ressaltado por Camus (2018) é o inevitável àqueles que assim estiverem dispostos a se por frente aos grandes questionamentos metafísicos, então em algum momento o ser-para-a-morte entrará à baila, seja como confirmação ou como ronda inevitável na configuração de alternativa ou resposta para o ser-aí, como ser-no-mundo (dasein), independente de quantos ou quais forem a infinidade e riqueza de significações efêmeras ou projetos iniciados e/ou inacabados pela existência. Gilson (2016), um dos mais críticos a essa vertente do existencialismo fenomenológico contemporâneo, novamente, traz a teologia e dogmatismo como inevitabilidade a esse cenário metafísico tão dualístico quanto complexo:

Portanto, é a teologia que deverá resolver esse problema, e como ela inicialmente terá de estabelecer a existência da causa da existência do mundo, sua primeira tarefa será provar a existência de Deus. Com efeito, o que é Deus? Se nos referirmos à sua definição nominal, da qual, aqui, como em qualquer circunstância, se deve partir, “entende-se, pela palavra Deus, o ser por si, no qual se encontra contida a razão suficiente da existência deste mundo visível e de nossas almas.” (GILSON, 2016, p. 215).

A tarefa auto imposta pela metafísica revela-se, portanto, um empreendimento dos mais inquietantes, por ter de lidar com o que a ciência relegou à filosofia e também dialogar, ou assumir por completo, a presunção dogmática de suas grandes questões fundamentais pela teologia: A metafísica “existe” pelo menos de duas maneiras: como disposição inscrita em nossa natureza e como ciência eventual da qual se escruta a possibilidade. (LEBRUN, 1993, p. 34).

Lebrun, novamente buscando na crítica de Kant seu ponto de defesa sobre uma rota para a metafísica que nos é inerente reafirma, porém, que o pensamento metafísico nos é inerente, e que é preciso considerar que a disseminação das visões e propostas de análise metafísica fazem parte natural desse processo de questionamento sobre as questões fundamentais da existência e do pensamento, como nos faz lembrar Lebrun (1993) citando a prerrogativa de questionamento metafísico efetuado por Kant:

Porque a metafísica nunca foi usada como ciência? Por que a lentidão de espírito e o encanto da sofística muito cedo prevalecem sobre o exercício da razão: se Aristóteles, graças a uma melhor sistematização, eles sabiam discernir que os conceitos da ontologia são tão válidos em relação à relação, o curso da história da filosofia critérios foram mudados […] Estas tentativas não foram empreendidas “arbitrariamente”: já que “a metafísica está, em seus traços fundamentais, as experiências em nós pela própria natureza”. (LEBRUN, 1993, p. 60).

E para uma última reflexão, antes do fechamento dessa análise., Ressalta-se, propositalmente, ou redigido nos traz o representante da ciência com o nome voltado para a escuridão, e aqueles que defendem a posição racional, com referência à luz. No jogo metafísica, trabalhado por Astrada (1942), desafiado por Kant, em análise de Lebrun (1993) ou claro-escuro do velar e desenhador do ser, caminha como numa corda bamba, pendurando ora por um ora por outro lado do outro mesmo fio, não é possível encontrar o ser humano como mediador da busca incessante pela resposta fundamental do ser, para suprir o sentido do seu próprio existir.

Por fim, encerrado, provisoriamente, essa análise, tendo o filme The Sunset Limited e suas reflexões, como plano de fundo para debates a respeito de questões metafísicas fundamentais. Para que, existencial, fenomenológico, racional, científico, filosófico, dogmático ou religioso, se coloque no lugar dos protagonistas Branco e Preto, promova ou incorpore essas ideias, deve estar disposto a lidar com os limites das decisões, investigações, limites de valores, figurinos, visões do mundo, ideologias e entendimento da realidade, fazer outro e si próprio, uma tarefa que se torna tão desafiadora quanto aparentemente intransponível.

Pois mal sabemos se a humanidade mesma não passa de um estágio, um período no todo, no devir, se não é uma arbitrária manifestação de Deus. Não seria o homem apenas a evolução da pedra por intermédio da planta, animal? Já se teria alcançado nisso sua perfeição, e não haveria nisso também história? Jamais tem fim, esse eterno devir? Quais serão as molas desse grande mecanismo? Estão ocultas, mas são as mesmas desse grande relógio que chamamos história. O mostrador’ são os acontecimentos. A cada hora avança o ponteiro, para recomeçar sua ronda após as doze; começa um novo período do mundo. Tudo se move em círculos imensos, sempre mais amplos; o homem é um dos círculos mais interiores. Querendo medir as oscilações daqueles exteriores, ele terá de, a partir de si e dos círculos mais próximos, abstrair aqueles mais abrangentes. 
F. Nietzsche

FICHA TÉCNICA:

THE SUNSET LIMITED

Direção: Tommy Lee Jones
Elenco: Samuel L. Jackson; Tommy Lee Jones.
Ano: 2011
País: EUA
Gênero: Drama

REFERÊNCIAS:

AGOSTINHO, Santo. Confissões. Tradutores: Arnaldo do Espírito Santo; João Beato; Maria Cristina Castro-Maia de Sousa Pimentel. Covilhã: Universidade da Beira Interior, 2008.

ASTRADA, Carlos. El juego metafísico: para una filosofía de la finitud. Buenos Aires: Libreria El Ateneo Editorial, 1942.

BORNHEIM, Gerd. Metafísica e Finitude. Porto Alegre: Editora Movimento, 1972.

CAMUS, Albert. O mito de Sísifo. Trad. Ari Roitman e Paulina Watch. Rio de Janeiro: Besbolso, 2018.

COUTINHO, Evaldo. O lugar de todos os lugares. São Paulo: Perspectiva, 1976.

DURKHEIM, Emile. O Suicídio – Um Estudo Sociológico. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1982.

GILSON, Étienne. O ser e a essência. São Paulo: Paulus, 2016.

HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo. 3ª Ed. Trad. Marcia Sá Cavalvante Schuback. Petrópolis: Editora Vozes, 2008.

___________. Ontologia: Hermenêutica da facticidade. Trad. Renato Kichner. Petrópolis\RJ: Vozes, 2013.

LEBRUN, Gérard. Kant e o fim da metafísica. Trad. Carlos Alberto Ribeiro de Moura. Martins Fontes Editora, São Paulo, 1993.

PAZ, Octávio. O arco e a lira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982.

SARTRE, Jean-Paul. O Ser e o Nada: Ensaio de Ontologia Fenomenológica. Trad. Paulo Perdigão. Petrópolis: Vozes, 2008.

Compartilhe este conteúdo:

Setembro Amarelo e prevenção de morte de negros

Compartilhe este conteúdo:

Setembro Amarelo é uma campanha brasileira de prevenção ao suicídio, iniciada em 2015. É uma iniciativa do Centro de Valorização da Vida. Segundo o Ministério da Saúde, a cada dez jovens de 10 a 29 anos que cometem suicídio, seis são negros. O risco na faixa etária de 10 a 29 anos foi 45% maior entre jovens que se declaram pretos e pardos do que entre brancos no ano de 2016.

A diferença é ainda mais relevante entre os jovens e adolescentes negros do sexo masculino: a chance de suicídio é 50% maior neste grupo do que entre brancos na mesma faixa etária. A cartilha “Óbitos por Suicídio entre Adolescentes e Jovens Negros”, lançada pelo Ministério da Saúde, mostra, por exemplo, que entre 2012 e 2016, o número de casos com pessoas brancas permaneceu estável, enquanto o das negras aumentou 12%.

Falar sobre racismo e pensar a população negra é de extrema importância. Não se trata de vitimismo, muito menos de “frescura”, como tem sido dito. O alto índice de suicídio entre jovens na população negra mostra que esses casos estão ligados ao racismo estrutural do nosso do dia a dia.

Fonte: encurtador.com.br/zOYZ8

O racismo estrutural é aquele enraizado na sociedade desde a chegada dos primeiros negros no país. Observando os dados, vemos a vulnerabilidade dessas pessoas frente às questões com alto nível de sofrimento psicológico.

A população negra é maior em relação à população branca do país, mas também sabemos que é a mais pobre e com salários, na grande maioria, menores. Morar em regiões mais pobres e ainda com alto índice de violência são fatores que afetam a saúde mental.

Quem não viu ou nunca viu crianças e jovens em suas escolas “estudando” agachados ou se protegendo deitados no chão até com um professor cantando, para que abafasse sons de tiros? Violência, pobreza e alta marginalização contra essas pessoas são questões que as privam de possibilidades de melhorias e de vislumbrar dias melhores. Esses podem ser gatilhos para questões de saúde mental.

Fonte: encurtador.com.br/iDN08

Quando falamos que não é vitimismo, estamos tratando de racismo. Muitas pessoas questionam por que olhamos para o jovem negro. Na verdade, o cuidado é com a saúde mental da população negra. Qual seria o motivo desse jovem não ser levado a sério? Ele tem alguma diferença para que não seja levado a sério ao falar sobre saúde mental? Não é um direito também querer prezar e pedir auxílio?

Falar sobre a saúde mental desse jovem é de extrema importância, pois as maiores causas de suicídio ligados à população negra são, por exemplo, rejeição, maus tratos, violência, abuso, sensação de não pertencimento e isolamento social.

Não invalidar a dor da população negra é urgente. Precisamos validar e acolher essas pessoas. Infelizmente, por conta de um discurso, pensamento e Academias colonizadas, acabamos negligenciando sua integralidade como ser. 

Por isso, devemos estar atentos a todos os jovens que falam sobe isso e não achar que é “frescura” ou “mimimi”. Depressão, ansiedade e suicídio não são brincadeira. Quando alguém fala sobre isso, ouça e aconselhe a procurar um psiquiatra ou psicólogo. Mostre empatia ao que ele sente. Não invalide a dor.

Compartilhe este conteúdo:

Redes sociais, haters e o aumento de suicídios

Compartilhe este conteúdo:

“A liberdade de cada um termina onde começa a liberdade do outro.” Herbert Spencer

A internet potencializou a propagação de informação. Vivemos em um mundo inundado por notícias, de diferentes opiniões.  A LEI No 5.250, DE 9 DE FEVEREIRO DE 1967 fala sobre Liberdade de Manifestação do Pensamento e da Informação, mas será que as pessoas sabem a diferença entre liberdade e libertinagem?

A liberdade é o direito de ir e vir, partindo do princípio de não prejudicar ninguém. Já a libertinagem é agir sem se preocupar com os demais, ou seja, é um agir irresponsável, com ausência de regras e é isto que vem acontecendo com muitos internautas, agem como se a internet fosse uma “terra sem lei”.

Fonte: encurtador.com.br/kGWZ2

O sujeito que vive atacando nas redes recebe o nome de haters, termo atribuído à pessoas que fazem uso da internet com intuito de fazer críticas, desde as mais leves, até as mais severas. Tal prática  tem acarretado consequências severas, como o suicídio. O caso mais recente foi o de Alinne Araújo, estudante e influenciadora digital, que cometeu suicídio na última segunda-feira (15). A estudante tinha um casamento marcado para o último domingo (14), no entanto seu noivo mandou uma mensagem um dia antes cancelando tudo. Como tudo já estava pago, assim como a chegada de familiares, a jovem decidiu casar consigo mesma, o que acarretou um bombardeio de críticas em sua rede social.

Alinne sofria de ansiedade e depressão, tinha um histórico de tentativas de autoextermínio, tinha acompanhamento psiquiátrico e psicológico, e administrava a conta @sejjesincera, em que relatava a luta diária de como é conviver com a depressão. Através da internet, a influencer conseguiu construir uma rede de apoio, mas depois do ocorrido, não foi apoio que recebeu, e sim críticas.

O que corria nas redes era que Alinne havia planejado tudo para ganhar mídia. Cansada de tudo, uma das últimas manifestações da estudante foi: “É a última vez que me pronuncio sobre acharem que eu quero me promover em um dos piores momentos da minha vida”. Pouco tempo depois, amigas de Alinne confirmaram seu falecimento. Depois do ocorrido, haters foram em busca de quem matou Alinne, e passaram a julgar a família e o noivo.

Fonte: encurtador.com.br/ejsHQ

Em reportagem, durante Encontro com Fátima Bernardes, a mãe da estudante declarou que ficou o tempo todo ao lado da filha, e em um único minuto que acabou cochilando, devido o cansaço, a filha cometeu o ato. O noivo de Alinne, depois de ser muito criticado fez uma declaração em sua conta do Instagram: “Eu estou tentando escrever, assim que eu tiver forças, eu explico melhor, só posso adiantar que eu não existo mais, estou acabado”. E pouco tempo depois desativou sua conta.

Nos últimos dias este tem sido o assunto mais comentado e “julgado” pelos internautas. Seria este um momento de reflexão sobre o nosso comportamentos nas redes ou seria o momento de vestirmos a capa de juiz e sair a qualquer custo procurando culpados? Muitos haters não fazem ideia do impacto de um ´´simples comentário“, mas podem ser propagadores de gatilhos destrutivos, ou, as redes sociais podem ser potencializadoras de perversão, e do outro lado da telinha pode ter alguém que sinta prazer em ferir e se justifica a partir da ´´liberdade de expressão“.

Quem é você na rede?

Fonte: encurtador.com.br/hqY39

De acordo com uma reportagem da revista Galileu, “a taxa de suicídio no país cresce cada vez mais. O suicídio de jovens com idade entre 10 e 14 anos aumentou 40%, já com idade entre 15 e 19 anos, o aumento foi de 33% (Mapa da Violência 2014)”. Foi apontado ainda que o suicídio é a principal causa de morte entre jovens em um terço dos países.

Qual será o causa do crescimento, supracitado, do suicídio? Isto eu não sei te responder, mas enquanto acadêmica de Psicologia, eu sei o poder das palavras, elas libertam, mas também aprisionam. Para matar alguém não precisamos de fato pegar uma faca e apunhalar alguém, pois nossas palavras são verdadeiros amoladores de faca. Logo, se faz importante pensarmos antes abrir a boca ou digitar algo para alguém. Neste momento triste, que possamos amar mais e julgar menos.

O Centro de Valorização da Vida (CVV), é uma instituição que oferece apoio emocional, objetivando prevenir o suicídio. Se precisar de ajuda, ligue para o número 188 ou acesse o site do CVV:  https://www.cvv.org.br/

Referências:

Rapidez das redes sociais pode levar a julgamentos imediatos e precipitados. Acessado em < https://gauchazh.clicrbs.com.br/porto-alegre/noticia/2014/09/Rapidez-das-redes-sociais-pode-/levar-a-julgamentos-imediatos-e-precipitados-4592021.html >no dia 17/07/19.

Por Metro Jornal. Carioca sofre ataques por ´casamento consigo mesma` e comete suicídio; ex noivo se pronuncia. Acessado em < https://www.metrojornal.com.br/entretenimento/2019/07/16/carioca-sofre-ataques-por-casamento-consigo-mesma-e-comete-suicidio-ex-noivo-se-pronuncia.html > no dia 17/07/19.

LEI No 5.250, DE 9 DE FEVEREIRO DE 1967. Acessado em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5250.htm > no dia 17/07/19.

Programa de 17/07/2019. Fátima conversa com a mãe e a tia da blogueira Alline Araújo, que sofria de depressão e ansiedade e cometeu suicídio nesta segunda-feira. Acessado em <

https://globoplay.globo.com/encontro-com-fatima-bernardes/p/5885/ > no dia 17/07/19.

 

Compartilhe este conteúdo:

Para alguns, a vida é sentida como castigo divino

Compartilhe este conteúdo:

Somos imersos em nossas próprias incapacidades e temos que lidar com a própria impotência de não saber de tudo.

O executivo da área de telecomunicações Nabor Coutinho de Oliveira Júnior, 43 anos, é o principal suspeito de assassinar a mulher e os dois filhos antes de ter cometido suicídio. O crime ocorreu numa manhã de segunda-feira, em um condomínio de classe média alta na Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio.

O prédio do Fórum Trabalhista Ruy Barbosa, na Zona Oeste de São Paulo, foi cenário para mais um ato de suicídio. O caso aconteceu também numa segunda, quando um pai se jogou do décimo sétimo andar com o filho nos braços. O edifício, inclusive, já totaliza desde 2007, 7 casos de suicídio.

Um dos motivos mais comuns a consumar o suicídio é proveniente de depressão, situação na qual a pessoa vai perdendo sua própria identidade, descuidando de si próprio. A pessoa fica engessada a pensamentos negativos até permanecer apática e melancólica em relação a si, às pessoas e à vida. O segundo maior motivo de suicídio é a esquizofrenia e a terceira o uso de substâncias tóxicas, conforme dados da OMS (Organização Mundial da Saúde).

Fonte: encurtador.com.br/hIOW6

Taxas

A própria entidade conduziu um estudo e elaborou uma lista dos dez países com as maiores taxas de suicídio. Encabeçando a lista temos a Guiana. O país com o maior número de suicídios do mundo é nosso vizinho, fazendo divisa com Roraima e Pará. A Guiana – 44 casos para cada 100 mil habitantes – sofre com problemas de saúde pública, pobreza rural e abuso de álcool, e é por isso que vários de seus cidadãos tiram suas próprias vidas. São citados ainda a Lituânia, em quinto lugar, com 28 casos, e é o país com o maior número de suicídios na Europa, e as Coreias, a do Norte em segundo lugar, com 38 casos, e a do Sul, em terceiro lugar, com 29 casos.

O suicídio se divide em algumas categorias, como o suicídio consumado, ou seja, o ato concretizado. Caso não aconteça, o suicídio é frustrado. Porque por alguma causa a intenção não foi sustentada pelo indivíduo. A intenção de suicídio é um dano autoinfligido e com o intuito de morrer ou causar fortes lesões. Este comportamento aproxima-se da concepção dos gestos suicidas que são comportamentos também destrutivos e permeados de significados inconscientes.

Ainda a estas categorias temos o suicídio coletivo, grupo de pessoas que, geralmente, induzidas por um líder, são conduzidas a concretizar o ato. Caso que ilustra isso aconteceu nos Estados Unidos em 18 de Novembro de 1978, quando Jim Jones, líder de uma seita religiosa promoveu um suicídio coletivo de 918 pessoas, sendo 270 crianças, através da ingestão de veneno.

Fonte: encurtador.com.br/kqyR5

Freud

O psicanalista Sigmund Freud, em uma de suas teorias, descreve a pulsão, uma pressão ou força (carga energética, fator de motricidade) que faz o organismo tender para um objetivo. Embora não seja instinto, a pulsão é uma energia que transita entre o psiquismo e o aspecto somático, força propulsora da personalidade. Existe uma dualidade entre as pulsões, Eros (vida) e Tânatos (morte).

Uma pulsão de vida é construtiva e faz com que a pessoa consiga enaltecer características próprias e ao prazer de si mesmo. Já na pulsão de morte acontece a redução completa das tensões, ou seja, são pulsões autodestrutivas e conduzem a pessoa a um estado anorgânico. Manifestam-se de maneira agressiva e autodestrutiva. No suicídio poderíamos dizer que as pulsões de morte predominam sobre as pulsões de vida.

Somos imersos em nossas próprias incapacidades e temos que lidar com a própria impotência de não saber de tudo. Na vida as respostas não são imediatas, ora buscamos, ora construímos. As perguntas e questionamentos sobre si, o mundo, as pessoas e o sentido da vida se multiplicam e, ao indivíduo, resta administrar estas indagações e dar sentido a ideias e concepções obscuras.

Fonte: encurtador.com.br/eDFV7

Morte

A morte desperta curiosidade e até certo fascínio, tanto quanto viver e todos os prazeres atribuídos a esta vida. Mas assim como se escolhe viver, igualmente a morte é uma escolha. A existência é sentida como um castigo divino.

O suicídio é um assunto que não é explorado na sociedade e tampouco na mídia, que deveria ter um papel importante para a compreensão deste fenômeno de massa. O que permeia o suicídio como a depressão, angústia, receios, melhor qualidade de vida não dá ibope. As futilidades, frivolidades e banalizações são mais lucrativas. Um desafio para psicólogos, médicos e psiquiatras que devem se antecipar e prevenir situações de risco e perigo, bem como a sociedade precisa olhar com mais atenção às manifestações, impasses e conflitos da alma.

 

Compartilhe este conteúdo:

Governo do Tocantins institui a Semana de Prevenção ao Suicídio

Compartilhe este conteúdo:

Governador Mauro Carlesse cria a Semana Estadual de Conscientização, Prevenção e Combate ao Suicídio, através da Lei nº 14, de 13 de março de 2019 para ampliar os debates e políticas públicas voltadas ao tema.

Para ampliar as ações de assistência psicológica no Tocantins, o governador Mauro Carlesse sancionou a lei aprovada no Poder Legislativo que institui no calendário oficial do Estado a Semana Estadual de Conscientização, Prevenção e Combate ao Suicídio, que será realizada na semana do dia 10 de setembro, de cada ano.

Com a sanção da Lei nº 14, de 13 de março de 2019, o governo determina que sejam realizadas atividades desenvolvidas durante a Semana de Prevenção ao Suicídio, no intuito de promover a conscientização social e as diversas formas de prevenção; estimular ações educativas por parte dos diversos segmentos sociais e instituições públicas; difundir os conhecimentos científicos relacionados ao tema, avaliar e aprimorar as políticas públicas direcionadas à promoção da conscientização, prevenção e combate ao suicídio.

Fonte: encurtador.com.br/swMZ1

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) a cada 40 segundos, uma pessoa se suicida no planeta, sendo a segunda maior causa de morte entre pessoas de 15 a 29 anos de idade. No Tocantins, foram registradas no banco de dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), 3.170 lesões autoprovocadas intencionalmente e 359 mortes por suicídio, entre 2016 e o primeiro trimestre de 2019.

O amparo às pessoas com algum tipo de transtorno psicológico é assegurado em todo o Tocantins, através dos Centros de Atendimento Psicossocial (CAPS), gerenciados pelos municípios. Já, os Hospitais Regionais de Araguaína e de Palmas possuem alas psiquiátricas para os casos que necessitam de internação, conforme determina a Política Nacional de Saúde Mental.

 

 

Compartilhe este conteúdo: