Caos 2021: Cinco anos da tragédia da Boate Kiss serão lembrados em congresso

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No dia 03 de novembro de 2021, das 14h às 17h haverá o evento Psicologia em Debate, acerca do documentário: 05 anos da tragédia da Boate Kiss na perspectiva da Boate Kiss. O evento acontecerá no primeiro dia do Congresso Acadêmico de Saberes em Psicologia – CAOS, e será conduzido por Adams Rodrigues Malta, Graduado em Psicologia pela Universidade Luterana do Brasil, especialização em Gestão Pública e Sociedade pela Universidade Federal do Tocantins, em Oncologia e Psicologia pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (FCM/Unicamp) e Mestrado em Oncologia pela FCM/Unicamp. Tem experiência na área de Psicologia da Saúde, com ênfase Psicologia Hospitalar – Psico-Oncologia e Saúde Coletiva, com ênfase em Saúde Pública promoverá reflexões a respeito do episódio na perspectiva da psicologia com os presentes.

A tragédia/incêndio da Boate Kiss ocorreu em 27 de janeiro de 2013 na cidade de Santa Maria no Rio Grande Sul há 08 (oito) anos provocou a morte de 242 (duzentas e quarenta e duas pessoas). O documentário – com duração aproximada de 17 (dezessete) minutos divide-se em tempo de memórias, tempo de respeito, tempo de lutar, tempo de transformar e tempo de seguir – relata, principalmente, a dor das famílias das vítimas, ademais aborda a luta por justiça, a dificuldade para continuar a viver, “esfriamento” do engajamento da sociedade e a renovação da cidade de Santa Maria, após a tragédia.

Fonte: encurtador.com.br/uBW46

No âmbito da psicologia, os pais das vítimas e os sobreviventes relataram associações de sentimentos/pensamentos à tragédia, caso de um sobrevivente que dissertou que quando sentia cheiro da fumaça que vinha dos carros “ativava” a memória da tragédia, outro caso, arrazoou-se pelos pais da Andrielle falecida na boate, Flávio Silva e Ligiane Righi da Silva que quando coavam o café “doía” só de sentir cheiro do café, porquanto a lembrança da filha vinha de forma imediata.

Outrossim, fica algumas perguntas atinente ao documentário da tragédia: É possível ressignificar sentimentos associados à tragédia? Quais as consequências no âmbito da psicologia de permanecer no luto? É possível atenuar a dor da perda? Viver a expectativa do reencontro do ente querido perdido no episódio possui impactos emocionais/psicológicos?

Por fim, Vale lembrar que o Congresso acontecerá entre o dia 03 (três) ao dia 06 (seis) de novembro de 2021; além do evento Psicologia em Debate, haverá mesas redondas, minicursos, sessões técnicas concernentes ao tema “Psicologia e atuação psicossocial em emergências” será realizado via Google meet. As inscrições podem ser efetuadas no site do CAOS, https://www.ulbra-to.br/caos.

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Tiros em Suzano

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Nas tragédias contadas e encenadas na Grécia antiga, havia um modo muito interessante na forma como era interpretada a infração de um sujeito. Ao se infringir as leis dos deuses (que eram correlatas às leis da polis), a punição pelo ato não recaía apenas sobre aquele cometeu o crime, mas por toda a sua família, sua comunidade e até por toda a cidade. O erro de Édipo (matar o pai e desposar a mãe), por exemplo, fez com que os deuses, irados, enviassem uma maldição para toda a cidade, além de exigir a punição de Édipo e todos os seus herdeiros.

Já em sociedades individualistas como a nossa, a culpa individual é sempre considerada como mais importante. Tanto que, nosso interesse é sempre explicar ou justificar algum crime tentando compreender aquele que o cometeu, especialmente, a sua mente. Em caso de crimes bárbaros como o de Suzano, a busca por esse tipo de explicação se torna mais premente ainda. O que leva uma pessoa a um ato tão cruel e insano? Será que poderíamos ter feito alguma coisa para evitá-lo? São as questões que todos ficamos ansiosos por responder.

Me lembrei do filme Minority Report dirigido por Spielberg, lançado em 2002 e que já se tornou um clássico. A trama se passa no ano de 2054, num futuro no qual seria possível prever e evitar crimes de homicídio, antes que eles aconteçam – graças ao auxílio de indivíduos, conhecidos como “precogs”, capazes de ver o futuro. O paradoxo é que o sujeito pode ser condenado por um crime que jamais cometeu, mas, apenas por que foi impedido de fazê-lo pela divisão policial chamada “pré-crime”. É a suposta infalibilidade do sistema que autorizaria a condenação do sujeito, pela certeza de que ele irá cometê-lo adiante. Assim sendo, o sujeito não é condenado por um ato criminoso, mas pela capacidade irrefutável de cometê-lo.

Fonte: encurtador.com.br/lBDU9

A narrativa fictícia do filme, entretanto, não se encontra tão distante de nós, especialmente quando se trata de crimes bárbaros, que causam grande comoção social, e que os autores não ficam vivos para relatarem sua versão da história. Nosso desejo, nesses casos, é capturar o sujeito antes do crime, a fim de buscar no seu passado indícios que demonstrem que ele iria botá-lo em prática de qualquer modo. Uma palavra, um grupo virtual, uma mania estranha, um diagnóstico psiquiátrico, uma vertente política, ideológica ou religiosa, tudo serve de pista que, tanto justifica, quanto direciona para a conclusão do ato subsequente. Ou seja, todo o passado do sujeito adquire um sentido que é dado à posteriori, significado a partir do seu ato insano.

E é desse modo que temos agido a partir da tragédia de Suzano. Tal como no filme, temos tentado enxergar, no sujeito, o ato criminoso antes dele ter acontecido, como se assim fôssemos capazes de evitá-lo ou explicá-lo em definitivo, a fim de tapar o abismo que se abre diante de nós depois de atropelados por tamanho horror.

Fonte: encurtador.com.br/lBDU9

Crimes como o de Suzano são de uma contingência absoluta, impossíveis de explicar ou contornar completamente, no entanto, nos remetendo a sabedoria dos Gregos, um crime desta categoria, nunca é responsabilidade de uma pessoa. Os atiradores de Suzano não apertaram o gatilho sozinhos. É simplista demais explicar este tipo de crime apenas pela insanidade de um, ou por uma ou outra faceta ou característica da sua personalidade. O caldo em que esse sujeito está mergulhado também faz diferença e sentido. Um crime dessa natureza é também uma denúncia, uma interpretação da nossa sociedade. É como uma febre que anuncia uma infecção. Paranoia, medo, veneração por armas, ódio, misoginia, machismo, tudo isso que aparece no nosso caldo social, pelo que estamos vendo, se atualizou em Suzano.

Os Gregos estavam certos, todos somos responsáveis por Suzano, por isso, a maldição que segue a essa tragédia, também recai sobre todos nós. Todos nós morremos e sangramos um tanto. Meu medo é do quanto que teremos que sofrer na carne pra perceber que estamos indo pelo caminho errado.

Fonte: encurtador.com.br/hisu9
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A tragédia na escola em Suzano

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Sobre a tragédia na escola em Suzano? “Precisamos desarmar corpos mas, sobretudo, desarmar almas”… eu preciso escrever sobre isso…

Quando se é professor, mortes como essas, impactam-nos de forma que destrói o coração. Porque ser Professor é ser um pouco pai, um pouco mãe, um pouco amigo, um pouco “ser que busca inspirar para o bem”, um pouco ator e um pouco artista… E, quando necessário, quase sempre, também um pouco Super Heróis (como os professores que fecharam as portas da sala, colocando-se como escudo humano, para salvar seus alunos).

Fonte: https://bit.ly/2TDflLF

Cada aluno e cada educadora mortos ontem se tornaram ora aluno de todos nós, ora filho de todos nós, ora amigo de todos nós… Por isso essa comoção que me motivou a escrever este texto.

Observo que vociferam em busca de culpados. Julgo pertinente este questionamento. Contudo, mais relevante seria tentar compreender todo esse processo de violência explícita que destoa, como citou Dias Toffoli, da conduta social do povo brasileiro.

É urgente nos desarmarmos de toda “arma” que fomenta o ódio e o desejo de “exterminar” tudo e todos que divergem do que pensamos.

Precisamos nos conscientizar que há várias armas que matam: revólver, faca, machado… e, também, palavras.

Todo ódio se incorpora, se movimenta e se vivifica, se estimulados. Então, cabe o questionamento “Como cada um de nós, enquanto sociedade,pode contribuir para que tragédias como essa não ocorram novamente”?

Podem me julgar boba, utópica, romântica, pacifista… é seu livre arbítrio. Porém, a resposta é simples. Precisamos agir enquanto SOCIEDADE que ABOMINA A VIOLÊNCIA.

Cobrar SEGURANÇA do estado, SIM. Porque se eu defendo que “professores e funcionários armados” evitariam essa chacina, estou aceitando que “eu sou a lei, a ordem e a segurança”. Para mim, é um passo para a barbárie.

Então, que reorganizemos nossas práticas sociais, no contexto, precipuamente, familiar. Posteriormente, escolar e social.

Fonte: https://bit.ly/2Jg6ryP

Então, nesse jogo de xadrez que é a vida, numa batalha entre o Bem e o Mal, que saibamos lutar pelo BEM. E nossa luta é diária e ininterrupta.

Lute pelo Bem compreendendo que temos opositores, não inimigos.

Lute pelo BEM ensinando nossos semelhantes a conviver com as diferenças.

Lute pelo Bem acreditando que o diálogo é sempre mais adequado que a violência física.

Lute pelo Bem tendo responsabilidade com o uso de palavras, quer faladas, quer escritas, para que elas não se transformem em munição de ódio que engatilharão ARMAS que matarão, muitas vezes, inocentes.

Os educadores e alunos, que morreram ontem, levaram uma lição para a casa eterna “Entender por que a Violência, o desamor, o ódio alimentado parece querer se legitimar entre nós”?

Com certeza, Deus, na sua infinita misericórdia, recebeu-lhes e todas essas perguntas se tornaram inférteis.

Mas, e nós, “cidadãos do Bem”, o que responderemos aos que morreram?

Então, que defendamos o uso da única arma que salva “O AMOR AO PRÓXIMO”, independente de quem seja.

Foi essa Arma de Amor que se manifestou no coração das merendeiras, que empurraram freezeres para fechar portas, colocando suas vidas em risco para salvar crianças.

Fonte: https://bit.ly/2TUgEW1

Foi essa Arma de Amor que motivou professores a se posicionarem como escudo humano, fechando portas, para proteger seus alunos.

Foi essa Arma de Amor que fez com que médicos, de um hospital particular, atendessem feridos, gratuitamente, priorizando a missão de salvar vidas, QUALQUER VIDA.

Foi essa Arma de Amor que nos sensibilizou ao ponto de, ao nos colocarmos no lugar do outro, fazer chorar o coração.

Aos familiares e amigos daqueles que foram vítimas de horrenda violência, meus sinceros sentimentos.

Aos que morreram, meu pedido de perdão e minha promessa de que continuarei lutando por um mundo mais ARMADO DE AMOR!

Conforta-me saber que, nesta batalha, NÃO ESTOU SÓ.

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Qual será a tragédia de hoje?

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É PRECISO SE REBELAR contra essa avalanche de negatividade que insiste em querer permanecer entre nós! Eu preciso escrever sobre isso…

Há pouco mais de 40 dias, festejávamos o NOVO ANO que se iniciava “ANO NOVO, VIDA NOVA”. Mas, incrivelmente, o Luto insiste em permanecer no Brasil neste 2019.

Que início de ano é esse, meus amigos?
Diante de tantas tragédias consecutivas, por mais positivos que sejamos, muitos de nós desenvolveu um receio pelo porvir.

Já ouvi muita gente questionando “Qual será a tragédia de hoje?”

Então, diante dessa situação, um cosmos de energias negativas vai se instalando entre nós.
Passamos à passividade da aceitação destes TEMPOS SOMBRIOS. Começamos a nos acostumar com o sofrimento causado pelos crimes ou fatalidades dessa vida.

Leilaine Silva resgata motorista de caminhão no acidente que fatalizou o jornalista Ricardo Boechat e o piloto de helicóptero Ronaldo Quattrucci. Fonte: https://bit.ly/2BH3UYj

Na primeira tragédia, imperam em nós muita dor e a comoção.
Na segunda, dor e comoção se aproximam como “velhas conhecidas”. Tudo parece doer menos.
Na terceira, a comoção e a dor se comportam com uma intimidade assustadora. A dor se “apequena” cada vez mais.
Na quarta, comoção e dor parecem temidas, mas rotineiras companheiras. Já não há rebeldia contra elas. Contudo, aceitação. Se esses são nossos sentimentos, É PRECISO SE REBELAR.

Acredito que o universo é regido por várias leis, dentre elas, A LEI DO RETORNO.
Então, se concentrarmos nossos pensamentos no BEM, ele retornará.
Se nos atermos no AMOR ao próximo, apesar das diferenças, O AMOR permanecerá.
Caso nos unamos para semear PAZ, ela reinará entre nós!

Se compartilharmos energias positivas e bons sentimentos, o universo lhe retribuirá com equilíbrio e bem estar. Então, concentremo-nos no BEM. Isso não significa que nos tornaremos “alienados cósmicos”. Reivindicar direitos e ser cidadãos participativos e conscientes É FUNDAMENTAL.

Todavia, cuidemos das nossas almas, equilibremos nossas energias, emanemos correntes de pensamentos positivos, fortaleçamos nossa fé em Deus e na vida. Acreditemos e lutemos para que A VIDA NÃO SEJA ACEITA COMO UMA TRAGÉDIA!

Rebelemo-nos contra uma das piores formas de sofrimento “acostumarmo-nos com a dor e o sofrimento”. Atravessamos tempos difíceis que VÃO PASSAR.

Rezemos pelas vítimas destas catástrofes, mas não esqueçamos de pedir a Deus por todos nós que ainda estamos aqui.

Fonte: https://bit.ly/2SYfpo1

E jamais esqueçamos que “a dor do outro sempre será, de alguma forma, nossa dor”.
Impossível não estar triste. Porém, faz-se necessário resgatar e alimentar a Esperança de que “dias melhores virão”…

Sim, eles virão!

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Quanto vale cada vida?

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Afinal, diante da tragédia em Brumadinho, a gente que saber: O QUE VALE?
Eu preciso escrever sobre isso…

Observo pessoas culpando partidos, políticos, mineradoras, flexibilização das leis ambientais, por suas respectivas ineficiências, omissões e ganâncias, para tentar justificar essa catástrofe. E confesso considerar necessárias, justas e compreensíveis tais denúncias e análises. Por isso, deixo-lhes o mérito para se pronunciarem sob esse viés político-financeiro-ideológico.

Logo, acredito que Vale a INDIGNAÇÃO, mas vou associá-la à REFLEXÃO:

Quanto vale cada vida?

Quantas pessoas estão desaparecidas?

Quantos animais e plantas, simplesmente, desvaneceram?

Fonte: https://bit.ly/2Nmdzs1

Você consegue mensurar o desespero desses seres diante da chegada inesperada da morte?

Para alguns (58 pessoas), a morte já foi confirmada. Para outros (ambientalistas), a morte foi anunciada. Para outros (mais de 150 pessoas resgatadas), a morte foi escapada. Para centenas (mais de 300 pessoas desaparecidas), a morte, segundo as autoridades, aguarda para ser anunciada…

Então, fechemos nossos olhos e contemplemos o “humano”, acima de tudo.

Esforcemo-nos para compreender que ” A VIDA É TÃO RARA”, e se esvai, às vezes, abruptamente. Neste caso, lavada por uma lama de irresponsabilidade, ambição e mercantilismo.

Sonhamos com viagens de longo trajeto e, ontem, alguns queriam simplesmente ter feito a viagem de volta para casa.

Planejamos momentos para grandes confraternizações familiares e, ontem, muitos queriam somente viver a rotina de abraçar ou dar um “oi” para o parente, amigo ou conhecido quando chegasse do trabalho na mineradora.

Idealizamos sermos partícipes dos hábitos daqueles que amamos e, hoje, centenas de pessoas vivenciam a angústia pela incerteza de não saberem notícias das pessoas que amam. Esperamos tanto pelo final de semana e, hoje, para muitos, serão projetos que jamais poderão ser concretizados.

Ambicionamos tantos bens materiais, mas jamais permitamos que a ambição nos cegue ao ponto de ceifar a vida do outro.

Impossível não exigir RESPONSABILIDADE, contudo, necessário se faz, também, prestar SOLIDARIEDADE.

Fonte: https://bit.ly/2SmWCyu

Impossível não sentir luto por todas essas pessoas de quem foi usurpada “A RARIDADE DA VIDA”

E quem quer saber?

Nós sabemos! Isso VALE!

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Amor, Sexo e Tragédia: como Gregos e Romanos nos influenciam até hoje

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O livro Amor, Sexo e Tragédia mostra que o que a maioria das pessoas faz na atualidade já existia na Grécia Antiga. O modo de olhar da sociedade Ocidental deve muito à cultura e à civilização dos gregos e romanos. Muitas foram as contribuições deste modelo civilizatório para o ocidente, e mesmo na atualidade, muito do modo de pensar e ver o mundo ainda contém influências advindas desta época. Dito isso, o presente ensaio focará nos capítulos “O corpo feminino-macio e esponjoso, depilado e recatado”, “Dele e dela-uma história de amor?”, “O amor grego” e “Um homem é um homem é um…” por Simon Goldhill.

Não é hábito do dia-a-dia questionar-se acerca da etiologia dos costumes sociais, amorosos e percepções acerca da sexualidade. O corpo e a sexualidade não é apenas o que a medicina explica. Através de análises da maneira como a sociedade lida com estes aspectos é possível entender a representação que foram para Gregos e Romanos. Não por menos, que as obras de artes por eles deixadas falam muito sobre isto.

Fonte: http://zip.net/bctHxC

Reflexões gerais acerca do corpo feminino produzem uma polêmica nos meios. A história sempre falou bastante do corpo masculino, e até o capitulo 2 do livro “Amor Sexo e Tragédia”, o autor, trata apenas este assunto. O capitulo 3 “O corpo feminino – macio e esponjoso, depilado e recatado” traz a narrativa a ser contada sobre a exibição do corpo feminino (Goldhill, 2007).

Pode-se dizer que o corpo feminino seja considerado ainda objeto particular para o discurso médico, legal, religioso, midiático, cotidiano, artístico e literário. De acordo com Goldhill:

Mas as coisas são bem diferentes e bem mais obscuras quando se trata do corpo feminino e da procura por sinais inaceitáveis de excitação sexual. Como muitos homens aturdidos, a lei também tem maior dificuldade em reconhecer os sinais do desejo sexual em uma mulher, e não sabe exatamente o que proibir. Se o problema é a excitação sexual, qual é seu sinal físico no corpo de uma mulher? E o que, no corpo de uma mulher, não poderia excitar um espectador masculino? (GOLDHILL, 2007, p.40).

Muitas destruições existiram durante e após este período, mas o ser humano nunca perdeu sua capacidade de se reinventar e reconstruir sua existência sobre escombros, dramas, catástrofes e dificuldades as mais diversas (Brazil, 2005).

O quarto capítulo, “Dele e dela – Uma história de amor” trata-se da exaltação do corpo feminino perfeito, no qual atrai olhares e exalta os corações humanos, versa sobre a cultura da Grécia, em relação as diversas formas de expressar o amor e da sua influência no mundo moderno. Diante disso o autor aponta que,

Atualmente, as normas sociais e os tabus das regras atenienses sobre o desejo são menos conhecidos. Mas a questão de como os atenienses amavam é extraordinariamente esclarecedora para nossas próprias, e mais íntimas, atitudes com relação a nós mesmos e a nossos corpos (GOLDHILL, 2007, p. 47).

Apresenta que, a forma como o amor é visto no mundo contemporâneo, quando se trata do corpo, desejo moderno, remota um pensamento, cultura e costumes da Grécia antiga, o que contradiz o clichê moderno que “o amor é igual no mundo inteiro”.

Fonte: http://zip.net/brtHC9

Cada um tem suas particularidades em relação ao amor, podendo haver história de amor com pessoas do mesmo sexo. No entanto, o Ocidente Moderno traz sempre aquela ideia de que o amor mais aceito é aquele no qual ocorre entre sexos opostos, independentemente da idade (GOLDHILL, 2007). Conta uma história de um homem que transou com uma garota de 13 anos, antes de se casarem, e que logo depois se matou, seja considerado a figura arquetípica do herói romântico. O fato de Romeu simbolizar o papel do amante na imaginação moderna, tem muito mais haver com a peça de Shakespeare, do que com os verdadeiros fatos da história.

Na cultura moderna, o nome Romeu – “o que há em um nome? ”- evoca imediatamente um suspiro lacrimejante em direção a uma sacada e a busca do amor verdadeiro apesar das barreiras das restrições sociais e disputas familiares (GOLDHILL, 2007, p.48). Percebe-se, com tais fatos relatados uma proximidade com relações na sociedade contemporânea, na qual não existe apenas um modelo de relacionamento, pois cada ser humano é livre para fazer suas próprias escolhas.

Se tratando da Grécia clássica não existe história relacionada a amor perfeito ou amor desventurado. Traz como exemplo a história de Ulisses e Penélope, visto como uma história de amor na qual o esposo é convocado para uma guerra, e Penélope aguarda com fidelidade seu retorno para casa. No entanto, não existe nesse relacionamento expressões de amor apaixonado, como: “eu te amo”, “senti sua falta”, como seria o mínimo esperado pelo Ocidente moderno, tendo em vista que o esposo estava longe de casa (GOLDHILL, 2007).

Fonte: http://zip.net/bmtHvP

Sócrates personifica o marido grego, quando no leito de morte expulsa a esposa lacrimosa para passar suas últimas horas conversando com seus companheiros. Paixões monstruosas e assassinas corrompem os corpos das heroínas das tragédias gregas, mas elas não são jamais destruídas por um belo e delicado amor. Não existe “Romeu e Julieta na Grécia clássica” (GOLDHILL, 2007, p. 48).

Os gregos, ao se referir ao amor costumam fazer uso da palavra eros para expressar os seus profundos sentimentos de desejo, atração e não o amor propriamente dito no sentido romântico, visto como algo divino, puro. Nesta perspectiva, o autor Goldhill (2007, p. 48), alude que, “em um contexto sexual, ele é com frequência escrito como uma doença, uma chama ardente e destrutiva, que não é absolutamente desejada por sua vítima”.

O amor eros não espera esse reconhecimento de amar e ser amado, como vemos na sociedade moderna essa necessidade, ou seja, no amor eros não faz diferença se o amor é ou não reciproco, não interessa se será feliz ou infeliz, o que importa é a satisfação do desejo no momento.

O capítulo 5 intitulado de “O amor grego” mostra que na relação de homens com homens, antigamente os mais velhos podiam ficar com meninos que estavam entrando na puberdade, que tinham por volta de 12 anos. Os homens mais velhos procuravam no menino o chamado “Corpo Perfeito”, que era quando um menino tinha um corpo definido como das estatuas da antiga Grécia. Os garotos que possuíam pelos nascendo no rosto já mostravam a passagem da adolescência para a fase adulta. Com isso os mais velhos não podiam mais ter relações com esses garotos, porque na ideologia deles estavam perdendo a beleza pura.

Fonte: http://zip.net/bktHDV

Para o homem grego na cidade clássica, o desejo que um cidadão adulto livre sente por um menino livre constituiu o modelo dominante de laço erótico. Nenhuma outra forma de contato masculino tem o mesmo prestigio, a mesma aceitação ou as mesmas pretensões ao êxtase erótico” (GOLDHILL, 2007, P.55).

Para que os homens mais velhos ficassem com os garotos, eles tinham que dar presentes e conselhos sobre a vida, e sempre estavam por perto dos garotos para mostrar que  estavam realmente interessando neles. No ato da relação sexual os garotos precisavam permitir que eles o tocassem. Sem a permissão, os mais velhos não o poderiam fazer.

Os mais velhos tinham muita paixão e desejo pelos garotos, porém a paixão não era mútua. Esse assunto pode ser relacionado com a homossexualidade, porém, a diferença é que hoje não está presente a questão da idade, podendo ter relações entre homens com qualquer idade.

Fonte: http://zip.net/bwtG8X

O capítulo seis do livro “Amor, Sexo e Tragédia”, trata de um assunto bastante complicado na atualidade, a masculinidade. Tal assunto é bastante difundido na sociedade contemporânea por diversos setores como o feminista, o homossexual e até mesmo o masculino. Ser do sexo masculino, por muito tempo significou ser um ideal de macho, alfa, provedor do sustento da casa, que de maneira alguma poderia demonstrar sentimentos, pois assim seria uma demonstração de fraqueza a qual ainda hoje é difundida. Porém nem sempre foi assim e é sobre isso que o presente capítulo discorre.

O autor inicia falando, que hoje em dia sempre que a masculinidade é questionada, se olha para o passado para a sociedade grega, com olhos saudosistas ou de total reprovação. Isso acontece porque, a Grécia antiga é vista sob duas visões, como um mundo pagão cujo os vícios foram gradativamente sendo rejeitados em detrimento do surgimento de uma moralidade moderna, ou como um paraíso perdido anterior à prisão do desejo pela sociedade moderna.

A verdade é que a vida social, civil e política na Grécia era comandada por homens, e o mais elevado status social era delegado aos homens detentores do saber. Naquela época era muito comum a prática da pederastia, que consiste em uma relação sexual entre homens mais velhos (os mestres) e um rapaz mais jovem (que ofereciam sede pelo conhecimento e sua beleza), ou seja era totalmente permitida e até bem vista a prática da homossexualidade.

Muitas vezes os gregos usavam a mitologia metaforicamente, para explorar a fronteira entre o humano do bestial. O autor cita no capítulo o exemplo dos sátiros, criaturas metade humano e metade bode, que faziam tudo o que os meninos bem-comportados não podiam fazer. Geralmente os sátiros eram desenhados em jarras que eram enchidas de vinho, os homens brincavam de sátiros, nas ocasiões em que se reuniam e bebiam juntos se tornavam semelhantes aos sátiros, ou seja, sátiros cruzavam e descruzavam as fronteiras da adequação masculina.

Fonte: http://zip.net/bmtHvW

Trazendo para um contexto atual, o ponto principal em que o autor toca é que existe uma enorme fragilidade da masculinidade, tanto na Grécia antiga, quanto na nossa cultura ocidental. E que embora a masculinidade seja reforçada por regras e expectativas, existem oportunidades para driblar de forma brincalhona ou transgressora, os limites e fronteiras.

Com a chegada da sociedade pós-moderna, bastante reconhecida pela época dos avanços tecnológicos, medicinais e políticos, muita coisa mudou, mas a Grécia e a Roma clássicas continuam como pano de fundo. O modo como as pessoas vivem os corpos, a sexualidade, e suas percepções mudaram pouco em comparação com o que os gregos e romanos viviam. Pode-se afirmar que a mudança principal ocorreu na maneira como é vivenciada, divulgada e vista. Enfim, a sociedade ainda vive explicitamente influenciada pela cultura clássica, no que diz respeito aos corpos, a mídia, a moda e a produção cultural.

FICHA TÉCNICA:

AMOR, SEXO E TRAGÉDIA – COMO GREGOS E ROMANOS INFLUENCIAM NOSSAS VIDAS ATÉ HOJE

Autor: Simon Goldhill
Editora: Zahar
Páginas: 300
Ano: 2007

REFERÊNCIAS:

GOLDHILL, Simon. Amor, sexo & tragédia: como gregos e romanos influenciam nossas vidas até hoje. Tradução Claúdia Barbela. Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed., 2007.

CARLOS BRAZIL, Universia Brasil, Maio 2005. Disponível em: <http://noticias.universia.com.br/ciencia-tecnologia/noticia/2005/05/27/481369/humanidade-no-pos-segunda-guerra.html# >. Acesso em: 15/03/2017.

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Amor, Sexo e Tragédia: somos mesmo originais?

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A forma como o Estilita Simeão viveu, em austeras penitências corporais, retrata a vida dos anacoretas de sua época. Seu biógrafo conta-nos que seus atos de sacrifício, eram de castigar seu próprio corpo, com um desejo de assemelhar-se à paixão de Cristo. Dava-se ao jejum de alimentos e água e se expunha ao calor, e ao frio exposto a “uma coluna de pouco mais de 18 metros em vigília continua; uma imagem viva do Cristo crucificado” (GOLDHILL, 2007, p. 97).

Ainda de acordo com seu biógrafo as torturas vividas por Simeão eram uma forma de chamar a atenção do mundo, despertando-o para existência de Deus. O mosteiro onde Simeão morava era cercado de pessoas que viam nele um homem santo e todos o admiravam e gostavam de ouvi-lo. “Por vezes ele realizava papel de juiz especial diante de alguma disputa” (GOLDHILL, 2007, p. 98).

http://zip.net/bytHR6

Simeão vivenciou um êxtase espiritual profundamente marcado pelo amor a Deus. Deu-se aos sacrifícios corporais até sua morte e ainda que seu corpo se esvanecesse pelas torturas, sentia-se fortalecido pela presença de Deus.

Simeão faleceu no ano 459. Ele foi uma superestrela no rol dos homens santos, todos grandes sofredores pela qual a Síria era especialmente famosa. Esses santos representavam o pináculo da nova atitude cristã relacionada ao corpo (GOLDHILL, 2007, p. 99).

Pregou e viveu um cristianismo que era contrário à cultura clássica. Para ele, ser cristão era ser capaz de penitências, asceses e renúncias; viver a negação dos laços sociais e dos prazeres que este oferece. E o monge deve retirar-se para o deserto, orar sozinho e viver em austeras penitências e jejuns. “Uma maneira dos cristãos mostrarem publicamente a sua crença era a recusa de participar de sacrifícios. Por vontade própria eles excluíam-se obstinadamente da comunidade” (GOLDHILL, 2007, p. 100). Alimentar-se para Simeão era algo confortável, de certa forma até de luxo, pois a sociedade do seu tempo vivia em penúria e até passavam fome.

http://zip.net/bgtHpJ

Para o pensamento grego um cidadão clássico tinha que trazer em si característica “de soldado, orador, homem do bem” (GOLDHILL, 2007, p. 100), versado em filosofia, e dado aos prazeres e alimentação farta. “Comer bem significava o triunfo da civilização, uma combinação do trabalho árduo do lavrador e da graça dos deuses” (GOLDHILL, 2007, p. 101). Porém os cristãos se contrapunham a essa realidade e se retiravam ao deserto para se desafiarem nessa civilização. “O calendário do cristão comum podia se alternar entre o jejum e o banquete, Quaresma e Páscoa” (GOLDHILL, 2007, p. 101).

Em síntese, os superestrelas da carne, mostra que o jejum deveria ser praticado e ajudaria os cristãos a refrear as paixões e a refrear os impulsos sexuais, como um combate ao pecado e a busca de santidade, uma vez que a defesa da castidade de monge era exercício disciplinar constante. “Toda história requer heróis, e, para o início do cristianismo eles são os ascetas e os mártires” (GOLDHILL, 2007, p. 103). O cristão era chamado a ser mártir e o martírio se tornava exemplo de vida virtuosa revelando a forma mais refinada de transcender a dor. E isso Simeão legou aos cristãos do seu tempo.

Essa forma de vida de martírio era inaceitável para os gregos e romanos, pois para eles “o corpo do cidadão devia ser inviolável” (GOLDHILL, 2007, p. 104), ainda que os escravos fossem submetidos à tortura. O orador clássico, cidadão herói grego, deve ser ereto, altivo e exibicionista. O cristão devia ser simples, modesto desprovido de vaidades. Apropriados dos seus próprios corpos, os cristãos deveriam apenas ser agradáveis a Deus.

http://zip.net/bwtGYc

O sexo e a cidade – A carne e o mundo

Em “O sexo e a cidade”, Goldhill (2007) traz considerações acerca dos desejos da carne x cristianismo. O autor ressalta que com o Império Romano, tonando-se cristão, houve uma série de conflitos em relação à sexualidade e os valores cristãos. E esse fato repercute até hoje nas escolhas e formas de vida familiar. Para tanto, sendo o casamento “o alicerce da sociedade”, a concepção que temos dele é, também, a forma como nos percebemos na sociedade (GOLDHILL, 2007). O autor aponta, ainda, que o casamento cristão trazia algumas atitudes, consideradas estranhas, de como se deveria levar a vida, pois teve sua formação contra a cultura greco romana e organizada limitadamente pelo Império Romano.

Paulo recomenda, nas Sagradas Escrituras, que o casamento seja honrado pelos homens e, com isso, traça um conjunto de leis que, em suma, resulta em um tipo de casamento patriarcal, no qual a mulher deve ser subordinada ao homem. Por outro lado, há outro conselho deixado por ele, no qual ele ressalta que o homem deve se comprometer com o celibato e a mulher deveria permanecer virgem e cuidar das coisas do Senhor. Com isso, o casamento fica em segundo plano (GOLDHILL, 2007).

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Nesses parâmetros o autor adverte que: de fato, Paulo recomenda o casamento, mas o faz somente para evitar que aqueles que não conseguem suportar o celibato sejam queimados no inferno por cometerem o pecado do sexo ilícito. É isso que faz do casamento algo “honrado” (GOLDHILL, 2007 p. 107). Nesse ínterim Goldhill (2007), relata a história de duas mulheres que buscaram seguir o conselho de Paulo. Tecla e Maximila são duas mulheres que abriram mão de uma vida matrimonial para viver o celibato.

Tecla era uma jovem que estava noiva e após escutar as pregações de Paulo sobre castidade começa a sentir um novo desejo, o que deixa sua família e o noivo aflitos. Desse modo, Paulo é considerado como alguém que leva as mulheres para um mau caminho e destrói a vida dos casais. Com isso, Paulo é preso. Porém Tecla aumenta, ainda mais sua fé e devoção. Tecla é condenada a morte, porém “ela é sempre salva pelo milagre divino” (GOLDHILL, 2007 p. 108). Dessa forma, “Tecla tornou-se uma santa para a adoração cristã, um modelo para as virgens que evitam o casamento. Ela figura como heroína e inspiração em diversas histórias de vida de muitas moças” (GOLDHILL, 2007, p. 109).

Maximila é uma mulher casada que, ao escutar as palavras de Santo André: “ofereça-se a Deus” (p. 110), converte-se ao cristianismo e começa a fazer orações para que Deus a afaste do próprio marido e a mantenha casta. Dessa forma, para se privar de relações com o marido, ela coloca uma escrava para satisfazê-lo, sem que ele saiba. Porém, ao descobrir ele fica arrasado por ter sido enganado por ela. Maximila, então, confessa seu amor pelo Divino e deixa seu marido para se dedicar às obras de Deus (GOLDHILL, 2007).

E assim, Goldhill (2007), afirma que o cristianismo gera um declínio social, pois as pessoas deixam de viver muitas coisas por causa do Divino, impedido, dessa forma, a continuidade de uma família. Com isso, o autor acredita que: “o cristianismo requer um compromisso individual ‘com o mundo por vir’ – um sendo radicalmente diferente de futuro” (GOLDHILL, 2007 p. 110). 

Virgindade, Celibato ou Casamento?

Durante a Idade Média, quando o Cristianismo se instaura na Europa, as mulheres deveriam fazer a escolha entre o celibato ou o casamento. O celibato trazia grandes honras para a família, as “virgens de Deus” ou “noivas de Cristo” dedicavam sua vida a uma eterna virgindade, se dedicavam à igreja e a Deus. A virgindade era exaltada, a igreja considerava o desejo e a sexualidade como pecados, fontes de fraqueza humana.

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De acordo com Goldhill (2007) a reclusão, jejum e orações constantes eram necessárias como suportes contra a fraqueza. A mulher podia demonstrar sua fé e devoção na igreja e no lar por meio de uma dedicada virgindade, a mulher que optava por esse estilo de vida deveria se afastar do modo de vida convencional por vontade própria, sendo veneradas pela igreja. O casamento era considerado honrado contanto que um homem e uma mulher mantivesse relações sexuais com seus cônjuges e após o casamento, se não seria perversão. O divórcio e a oportunidade de um novo casamento era condenado pela sociedade, o sexo associado à culpa e à sujeira.

Por muito tempo foi discutido questões sobre virgindade, santidade, sexo e casamento, sendo temas polêmicos até os dia atuais, sendo que, muitas das incertezas sexuais vivida pela sociedade atual provêm do que foi imposto pela igreja católica, uma vez que o compromisso com valores tradicionais não avaliam a própria historia. A crise ainda compartilhada pelo corpo social moderno ocorre, pois todos participam das discussões sobre como deve funcionar um casamento, relações sexuais extraconjugais, relações sexuais com múltiplos parceiros e relações homossexuais são ditas como erradas. Entretanto, não cabe a sociedade como um todo, formular uma resposta. Goldhill (2007, p.116) cita que:

(…) está claro que sem uma compreensão histórica de como esses temas se tornaram as questões que hoje preocupam o Ocidente Moderno, qualquer resposta que dermos a essas perguntas será superficial. Se quisermos entender as tensões com as quais o casamento moderno se debate, precisamos compreender que a “tradição” é uma longa história de revolução, conflito e mudança, uma história que produz tais tensões.

O que é Atenas para Jerusalém?

Os valores humanos podem ter criado sua própria crença através da derrubada dos valores cristãos, mas foi muito difícil tirar os valores cristãos das mentes e dos corações dos cidadãos do Império Romano do que o planejado. Os cristãos continuaram vivendo dentro de sua cultura por mais que fosse combatida e assimilaram rotineiramente as ideias e o raciocínio do mundo grego-romano que os rodeava (GOLDHILL, 2007).

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Mas o cristianismo também tinha outra maneira de falar. Particularmente nas cidades, homens e mulheres cristãos precisavam manter um diálogo com os gregos e romanos entre os quais viviam e os homens e mulheres cristãos mal podiam evitar serem influenciados pela cultura que os circundava, mesmo que tivessem a intenção de rejeitá-la (GOLDHILL, 2007, p.118). A imagem de Jesus, não importa o quanto era importante para os cristãos, também foi incorporado aos modelos da sociedade grega e romana (GOLDHILL, 2007).

Filósofos e homens santos

Goldhill (2007), sugere a existência de um diálogo entre a filosofia e a cultura greco-romana, que se evidencia historicamente nas características da interação social. No cristianismo e na cultura greco-romana, homens se tornaram santos e heróis culturais, conhecidos como mártires e sábios. Caracterizados pela abdicação dos bens materiais, luxos, prazeres, optavam por uma vida de sacrifício, abstinência, jejuns, utilizando somente o necessário para vida. O autor cita Diógenes, um filósofo cínico, que optou por se desfazer de tudo, mantendo “apenas uma tanga e uma tigela- e quando viu um jovem pastor beber água de um rio usando apenas as mãos, jogou fora também a tigela” (GOLDHILL, 2007, p.123).

Jesus, a figura de fundamental importância para o cristianismo, também foi assimilada as características da sociedade grega e romana. De forma semelhante, o cristianismo recebeu influências filosóficas, pois a filosofia orientava para uma vida espiritualizada e de autorreflexão.

O poder dessa imagem do antigo filósofo é ainda hoje fortemente sentido. Uma avaliação serena, e a rejeição do tumulto da ambição, da cobiça e da avareza são como um negativo fotográfico da imagem da sociedade moderna apresentada pelos jornais, pelos filmes, pela televisão. Era um estilo de vida que foi facilmente incorporado ao desejo cristão por uma existência mais elevada, contrária ao Império deste mundo (GOLDHILL, 2007, p.125).

Assim, o cristianismo se desenvolve tanto por meio da rejeição como da negociação com a cultura grega e romana. E a cultura ocidental moderna se forma por essa mescla de tradições. Mesmo vivendo em uma sociedade moderna é impossível não dar uma grande importância para a religião, pois a mesma traz grande influência para o nosso dia a dia querendo ou não ao longo da nossa construção como ser humano carregamos princípios da religião e todos nossos clichês do certo ou errado e estilo de vida traz um pouco de algo que aprendemos através da nossa cultura religiosa. Até mesmo se somos desacreditados da religião temos que reconhecer que em tudo tem algo da Bíblia e que essa cultura religiosa está presente. Enfim, todos nós temos uma história cristã clássica dentro de nós.

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Segundo Goldhill (2007, p.94) “Devemos também reconhecer e não distanciar a civilização cristã como estudo do clássico”. O qual seu estabelecimento ocorreu durante o Império Romano não diferenciando assim o estudo do clássico e o estudo do período inicial da igreja sabendo assim que o Império Romano de tornou cristão, mas o cristianismo por sua vez tomou a forma do Império Romano.

O cristianismo tem grande envolvimento com a cultura grega tendo grandes influências da mesma. Porque o veículo para o transição de ensinamentos da Bíblia é a língua grega por isso podemos afirmar que a civilização ocidental não é apenas judaico-cristã, mas sim uma civilização grego-judaica – cristã (MURACHO, 2002, p.10). Não podemos esquecer as raízes do cristianismo e assim reconhecer que a tradição religiosa presente no ocidente se formou no mundo clássico. Se deixarmos toda essa cultura para trás seremos apenas turistas, e o importante é vivê-la.

REFERÊNCIAS:

GOLDHILL, Simon. Amor, sexo e tragédia. Rio de Janeiro: Zahar, 2007.

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Manchester à Beira Mar: quando o luto é um mar profundo de dor e culpa

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Com seis indicações ao OSCAR:

Melhor Filme, Melhor Diretor (Kenneth Lonergan), Melhor Ator (Casey Affleck), Melhor Ator Coadjuvante (Lucas Hedges), Melhor Atriz Coadjuvante (Michelle Williams), Melhor Roteiro Original (Kenneth Lonergan).

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“Há um momento que não consigo imaginar: o momento da vida dos outros que deixamos sempre de lado. ”
(Virgínia Woolf) [I]

Manchester à Beira Mar, o terceiro filme do roteirista e diretor Kenneth Lonergan, é uma exploração minuciosa sobre como as pessoas sentem a tristeza, a perda, o amor e a culpa, especialmente sobre como sobrevivem a tragédia de uma existência sem leveza e sem esperança. Casey Affleck é Lee Chandler, um zelador que mora em um porão em Boston e que leva uma vida aparentemente ordinária, executando tarefas de forma robótica, sem deixar-se tocar pelas mazelas que ouve sobre as vidas das pessoas que o cerca e que necessitam do seu trabalho.

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Se não fosse pelo vazio do seu olhar, o personagem poderia passar despercebido. Mas é o insustentável peso que esse vazio carrega que provoca o interesse de quem acompanha a história, pois é na aparente calmaria do rosto de Lee que reside uma angustiante sensação de tragédia latente, capaz de provocar um tipo de dor diferente, uma dor que não passa com o tempo, ao contrário, torna-se mais e mais profunda com o decorrer dos anos.

A morte do seu único irmão traz Lee de volta à sua cidade natal (Manchester). E enquanto tenta entender como vai assumir a responsabilidade de cuidar do seu sobrinho adolescente (Lucas Hedges), sua vida é contada em forma de flashbacks. A preciosidade da interpretação que deu a Casey Affleck uma indicação ao Oscar e o tornou vencedor do Golden Globe e do Bafta de 2017 é a sua condução minimalista do mar de emoções conturbadas que acompanha Lee.

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Segundo o diretor Kenneth Lonergan [II], era a angústia sem fim que geralmente nasce da vivência de grandes tragédias que ele estava interessado em trazer à tona. O que ele evidencia nesse filme, de forma extremamente realista e sem exageros ou pieguices, é a maneira como algumas pessoas sobrevivem a situações que são maiores que elas próprias, que são simplesmente esmagadoras. E acrescenta ainda que a disparidade e a variedade da experiência humana, de como uma pessoa pode ter um tipo de vida e seu vizinho ter outro completamente diferente em todos os aspectos, provocam seu fascínio e o impressionam, mas também confundem a sua percepção das coisas.

A tragédia de Lee é apresentada no filme ao som do Adágio de Albinoni, em uma sequência de fatos que mostra o momento que sua vida foi transformada para sempre. É através do seu olhar de pavor diante de sua casa em chamas que começamos a entender a pessoa que ele se tornou.

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Segundo Elisabeth Kubler-Ross [III], há cinco fases do luto: a negação, a raiva, a barganha, a depressão e a aceitação. Claro que isso não é uma lei universal, apenas uma forma de sistematização das emoções que acompanham essa experiência. O que torna o luto diferenciado nesse filme é que ele nasceu de uma tragédia provocada pela pessoa que o vivencia e, assim, a fase de “aceitação” parece pouco provável, logo a dor, o sofrimento e a culpa não atenuam com o tempo, apenas submergem no mar revolto de fantasmas que povoam a mente de quem os sente.

Um dos momentos mais significativos do filme é o encontro do Lee com sua ex-esposa, a única sobrevivente da tragédia. Casada novamente e com um bebê recém-nascido, ela tenta reconstruir sua vida. A dor e a falta são latentes, mas ao menos nela não há a culpa. Lee não consegue estabelecer um diálogo com a ex-esposa, pois vê-la torna a dor ainda mais insuportável, já que isso traz à tona as vidas que ele perdeu, em especial, a pessoa que ele foi, tão diferente da figura que ainda respira e vive, mas que está eternamente presa a um amontoado de lembranças sofridas.

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Esse encontro mostrou-lhe que ele nunca poderia voltar a morar em Manchester, mesmo que amasse o sobrinho e quisesse cumprir o último desejo do irmão. Viver naquela cidade significaria estar diante do olhar acusador de alguns, mas especialmente diante do seu próprio julgamento. Mesmo que os policiais o tenham inocentado no momento da tragédia, por se tratar de um ato irresponsável, mas não de uma conduta criminosa, a culpa que ele carrega e a raiva pela impossibilidade de mudança do passado tiram o caráter transitório do luto, tornam a perda uma dor sem fim.

“Eu não consigo superar... Sinto muito. ”
“Eu não consigo superar… Sinto muito. ”

“Manchester by the Sea” não é um filme que nos faz sentir esperança ou que nos leva a refletir sobre o milagre da vida. É simplesmente um filme sobre o quanto a dor do outro, aquele que passa por nós na rua, o vizinho que nunca conhecemos bastante para imaginar o que sente, entre tantos outros, pode ser devastadora e imensurável. Que nos mostra o quanto somos desamparados diante das imensas tragédias da vida. Um filme que fala da tristeza que existe nos detalhes das dores que nos cerca, da raiva que não acha espaço para escoar, da falta que não pode ser preenchida e do amor que, felizmente, não acaba.

Referências:

[1] Woolf, Virgínia. “Contos Completos – Virginia Woolf”, Editora Cosac &Naif, edição de 2005.

[2] http://www.filmcomment.com/blog/interview-kenneth-lonergan-manchester-by-the-sea/

[3] KUBLER- Ross, E. “Sobre a morte e o morrer”: 8ª Ed., Martins Fontes. São Paulo, 1998.

FICHA TÉCNICA DO FILME

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MANCHESTER À BEIRA-MAR

Diretor:  Kenneth Lonergan
Elenco: Casey Affleck, Michelle Williams, Lucas Hedges, Kyle Chandler
País: EUA
Ano: 2016
Classificação: 14

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Entretenimento é apenas diversão?

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A sociedade moderna foi moldada a partir de aspectos herdados de civilizações antigas. Dessa forma, é interessante repensarmos os costumes atuais e seus modos de conduta, fundamentando-os, com a influência das tradições gregas e romanas. Pois, como afirma Goldhill (2007), o modo dos costumes, da civilização greco-romana e Ocidental que marca os tempos atuais, estão mais presentes em nosso cotidiano do que podemos imaginar.

A história possui uma relação direta com o homem atual, e conhecê-la, em seus aspectos culturais, incluindo o entretenimento, que será o foco dessa discussão, nos ajudará na compreensão da conturbada época em que vivemos, e na reflexão sobre o homem enquanto ser que age pautado na construção social de seus próprios atos e que, assim, vai construindo seu futuro. As tradições greco-romanas estão presentes nas nossas vidas, até nas formas pelas quais os humanos se divertem, esta é a reflexão de Goldhill (2007) sobre o entretenimento nas civilizações Ocidentais. Além disso, o autor trás um alerta à condição humana frágil de reprodução das formas de diversão, socialmente herdada e construída, e diretamente ligada a questões subjetivas que revelam muito sobre nós mesmos.

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Fonte: http://migre.me/vqkrM

Segundo Goldhill (2007), a sociedade atual é uma Grécia imaginária, ao qual está presente no sistema de pensamento ocidental toda a lógica cultural deste mundo clássico. Acarretando, em nossa história e vivência, uma amnésia educacional e artística, pois não refletimos sobre nossas práticas de entretenimento e não a reconhecemos como uma tradição greco-romana. É passado, mais surpreendentemente, é presente e futuro, já que as relações humanas não são fáceis de lidar no que tange ao aspecto mudança. Morin (1997) discorre sobre o lazer nos tempos modernos como um produto da sociedade industrializada, está relacionado ao tempo gasto com diversões em detrimento do trabalho exaustivo, enfadonho e alienante.

Há uma grande confusão e preocupação no âmbito do papel do entretenimento, pois é sabido que as peças teatrais, as tragédias da Grécia antiga, que hoje se estendem ao cinema e ao teatro, comovem o público em grande nível de engajamento emocional e produz resultados que para o Estado, podem ser repugnantes, e por isso o entretenimento é alvo de controle. De certa forma, a confusão está em um pensamento desordenado da dualidade do Estado em querer controlar e se preocupar com a imagem pública e ao mesmo tempo garantir a liberdade de expressão. “A frase irritantemente maliciosa “mero entretenimento”, ou “é apenas diversão”, constitui um sinal desse pensamento confuso. É uma afirmação que quer evitar qualquer reflexão séria sobre os conflitos da vida cultural.” (Goldhill, 2007, p. 197).

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Fonte: http://migre.me/vqjOG

Vemos, então, que ao se tratar do que é divertido, muitas vezes nos deparamos com o caráter descontraído do entretenimento, e por isso é deixado de lado a problematização e reflexão do mesmo, pois até a própria expressão “é apenas diversão” deixa subjacente às implicações sociais que o entretenimento nos trás. Já que é notório que, diz muito sobre nós mesmos as forma pelas quais nos divertimos. É por isso que certas formas de entretenimento incomodam tanto a sociedade, pois elas falam quem somos. Estão obscuras as implicações desconfortantes, psicológicas e sociais, que fundamentam qualquer tipo de entretenimento. Já que o divertido é pra ser descontraído, por que não disfarçar a tensão social e deixar de lado o que isso diz sobre nós mesmos?

Antigamente, peças teatrais refletiam casos trágicos que expressavam o conflito, a sátira, os traumas psicológicos acarretados pelos piores sentimentos humanos, hoje em dia, o mesmo é feito no cinema, no teatro, na música, na dança, nas artes em geral. Os jogos de gladiadores da Roma clássica, hoje expressados nas artes marciais e no cinema. A competição pelo poder dos status sociais hoje, também é visto na civilização greco-romana. Tudo isso está ligado às formas de entretenimento atual, que são antigas, mas bem atuais.

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Fonte: http://migre.me/vqjZM

Para Morin (1997) o homem moderno procura se afirmar como sujeito privado, se afastando dos problemas políticos e religiosos, passou a ser um espectador vendo a vida através de lentes, passivo no espetáculo. Mas, contudo, ativo, pois o entretenimento reflete o sujeito e sua subjetividade. E que, sobre tudo, dizem mais dos seres humanos do que eles gostariam, trás sua subjetividade e aspectos ruins de sua natureza, e a dualidade dos conflitos inconscientes, e os papeis sociais do que você é e do que gostaria de ser. Nesse sentido Goldhill (2007) disserta  que na Grécia antiga o teatro era parte da própria cidade, representava como o povo a compreendia. No entanto, para Platão o entretenimento se tornava um impeditivo na formação do cidadão responsável devido impacto intelectual e psicológico que influenciava os indivíduos.

O povo grego utilizava as festas como a Grade Dionísia, festival religioso que acontecia anualmente em Atenas para louvar o deus Dionísio, como um acontecimento social e um espetáculo político de demonstração de poder. No Império Romano os jogos eram distribuídos ao longo do ano, trazia para a arena o fascínio do povo pela morte humana e dos animais, demonstração da virilidade, assim como, as tensão sociais.

O que fazemos constitui grande parte do que somos, e é por isso que o entretenimento – como passamos nosso tempo – é uma parte integral de nossa autodefinição. O contraste entre as formas de entretenimento contemporâneo e as tragédias atenienses do festival da Grane Dionisíaca revela um buraco no centro de nossa cultura pública. (Goldhill, 2007, p. 209)

É um choque, e nos faz pensar, pois no caso dos gladiadores, demonstram que os status valem mais do que a vida humana. Podemos ver que entretenimento não “é apenas diversão”, é claro que é lazer, mas trás consigo a subjetividade humana e reflete o homem como um espelho e o defini como ser, bom ou ruim. Como afirma Goldhill (2007), “são frágeis às fronteiras daquilo que nos orgulhamos de considerar uma civilização moderna. […] o que diz sobre nós o fato de que gostamos de assistir a essas coisas em nome do entretenimento?”.

 

REFERÊNCIAS:

GOLDHILL, S. Isto é entretenimento!. In: GOLDHILL, S. Amor, Sexo e Tragédia. Como gregos e romanos influenciam nossas vidas até hoje. Rio e Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1ª ed. v.1 p.195-233, 2007.

MORIN, E. Uma cultura de lazer. in: MORIN, E. Cultura de massa no século XX: neurose. Rio de Janeiro. Forense Universitária, 9º ed. v.6 p.67-85, 1997.

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