Sem saber do processo, ele foi crescendo e se transformando em alguém melhor.
Durante os anos de minha vida, tive muitas experiências: alegrias, tristezas, conquistas e perdas. Mas nunca tinha me dado conta de que fazia parte do crescimento. Em minha infância, eu era chamado de bonzinho demais e ingênuo, pois só conseguia enxergar o lado bom das pessoas, ao mesmo tempo que era muito alertado em não confiar tanto nos outros.
Pois bem, os anos foram passando e tive meu primeiro choque: a separação dos meus pais. Por mais que ele não fosse o “bom exemplo”, nenhum filho quer que seus pais se separem. Conviver com a dor e com a nova configuração, me deixou muito confuso e foi o primeiro depósito de mágoas que deixei dentro de mim.
Logo após a separação, 1 ano e meio depois, eu, minha mãe e minha irmã mais nova nos mudamos para Palmas e tivemos que começar do zero. Minha mãe voltou a ser doméstica e passou a trabalhar como professora em colégios infantis e eu tive que começar a trabalhar e desistir do sonho de estudar por enquanto. Felizmente, pouco tempo depois, minha mãe passou no concurso municipal de Palmas e continuou como professora até se tornar coordenadora pedagógica. Porém, a minha frustração fez eu desistir de estudar e continuar apenas trabalhando.
Foi assim durante 1 ano, até que comecei a estudar um curso técnico de Segurança do Trabalho no IFTO. Consegui fazer apenas dois períodos, mas não me sentia motivado, nem ao menos conseguia me enxergar exercendo a profissão. Neste período, o campus entrou em greve e isto foi o gatilho para desistir do curso, foi então que decidi que não ia estudar mais e continuar apenas trabalhando.
Mesmo diante da decisão, estava muito frustrado e triste, e escondia essa dor dentro de mim, somente 1 ano e meio depois, após um confronto da minha mãe, ela insistiu para que eu voltasse a estudar e que me ajudaria a pagar uma faculdade caso fosse necessário. Foi então que me enchi de esperança e escolhi Psicologia em 2016 para prestar o vestibular, até então não sabia muito sobre essa ciência, mas sempre tive muita curiosidade. Após ser aprovado, consegui começar a cursar a partir de 2017/1.
A faculdade me deu um novo olhar sobre a vida, sobre as pessoas e sobre si mesmo. Não foi fácil, pois sofria com algumas descobertas, com as pessoas e por não conseguir fazer muitas amizades. Fui confrontado na minha fé e isto fez com que eu me sentisse mais desmotivado. No mesmo período, engatei um relacionamento com uma pessoa que amei muito, porém foi uma relação muito tóxica. Durante os quase 3 anos de relacionamento me entregava a ponto de chegar a ser dependente emocional. Eu fui me destruindo, pois não me amava, não conseguia me ver feliz e nem conseguia mais sonhar com os projetos que possuía. Fiquei tão depressivo que só conseguia realizar as coisas no automático. O término do relacionamento me fez gerar um transtorno de ansiedade muito forte que se juntou com a depressão até não conseguir mais encontrar uma saída, a não ser em pensar na morte.
Fonte: Pixabay
A minha fé, foi o único motivo pelo qual não tentava algo contra minha vida, porém eu pedia pela morte. Vivi 1 ano dessa forma, não conseguia nem mesmo rir de verdade ou ter prazer nas demais atividades. Isto me prejudicou ao ponto de atrasar a minha formatura na faculdade, pois tive que trancar dois estágios durante este ano de sofrimento, pois não tinha forças para exercer as atividades.
Neste tempo, vendo que não conseguia sair desse estado, ficava me perguntando porque passei por tantas dores, tanto sofrimento já que sempre tentei olhar o lado bom da vida e o melhor das pessoas.
Comecei a frequentar a terapia que me ajudou a enxergar que eu não pensava em mim, não olhava o quanto fui negligente comigo mesmo, não me amava e nem mesmo sabia o que eu gostava, pois sempre dediquei tudo para os outros.
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Também frequentei o psiquiatra, pois a ansiedade e a depressão já tinham me prejudicado muito e foi necessário o auxílio da medicação. Depois de 6 meses de tratamento, me considerei recuperado, e é incrível como hoje em dia olho para trás e vejo como tudo isso me fez forte. Durante as crises eu pedia para Deus pular para o tempo em que eu estivesse bem. Mas sei que foi necessário para que eu olhasse para mim, me amasse, voltasse a sonhar e acreditar no melhor.
Passar por essas dificuldades, abriu meus olhos para o amadurecimento, pois emocionalmente me sinto mais maduro e mais preparado para enfrentar o dia-a-dia. Era um processo que foi necessário, talvez não ao ponto de chegar a estar em adoecimento mental, mas como pude ser transformado mesmo passando por dores. Elas foram essenciais para que eu justamente pudesse me fazer essas perguntas para poder encontrar as respostas.
As borboletas passam por um processo de transformação que é natural, porém não é por escolha. O corpo de lagarta é completamente transformado ao ponto de se tornar praticamente um outro inseto. Uma vez, pude ver uma borboleta saindo do casulo e percebi que do casulo pingavam gotas de sangue, então percebi o quanto esse processo era doloroso para ela.
Fazendo esta comparação, passei por muitas dores emocionais tão profundas que nem sabia o porque estava passando, mas eu estava no meu processo de crescimento e de transformação para chegar onde estou atualmente. Encerro este relato não dizendo que já estou 100% maduro para o resto da vida, mas em como a superação e amor próprio foram necessários para conseguir alcançar um novo nível em todas as áreas da minha vida e que com certeza é uma preparação para poder alcançar os níveis que ainda virão.
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Luís Paulo Lopes: “É preciso passar pelo aflitivo fogo da transformação que queima nossas ilusões infantis”
“O homem contemporâneo é como uma criança vislumbrada em um parque de diversões, correndo extasiada para brincar nas atrações; e, neste frenesi, acaba ficando perdida e logo chora em desespero sem saber para onde ir”, diz terapeuta junguiano
Falar de Psicologia Analítica geralmente é um fascínio, pois é uma abordagem que nos remete ao estudo dos símbolos, mitologias, arquétipos e da própria psique humana, temas esses que ao longo da humanidade sempre estiveram em alta e que trazem consigo uma forma de entendimento através dos seus significados e a importância dos mesmos para nossa vida.
Nessa entrevista o psicólogo, professor e terapeuta junguiano Luis Paulo Lopes destaca algumas perspectiva da abordagem, bem como suas percepções acerca do cenário atual e o contexto histórico de construção da Psicologia Analítica no Mundo e no Brasil. Também comenta de forma clara sobre vários mal entendidos e pré-conceitos acerca da abordagem e do seu fundador, Carl Gustav Jung, bem como sobre a sua ruptura com Sigmund Freud, pai da psicanálise.
(En)Cena – Por que você trilhou esse percurso? O que foi que te interessou nessa área?
Luís Paulo Lopes – Cheguei em Jung quando era ainda bastante jovem. Após o segundo grau, entrei para a faculdade de biologia, quando tive uma crise psicológica muito intensa e desagregadora que eu não saberia nomear através da psiquiatria, e nem acho que seria o caso. Nessa ocasião, fiquei muito invadido por conteúdos do inconsciente que me tiraram completamente a liberdade; o que me levou a uma reclusão de praticamente um ano em casa, e em meio à muitas questões; certamente aquelas grandes questões da humanidade. Este momento, talvez tenha sido o mais difícil da minha vida até hoje; era um desafio tremendo sair de casa e me relacionar com outras pessoas. Eu vivia aprisionado num mundo de imagens difíceis; era como se eu tivesse sido dilacerado, como Osíris, quando Seth o desmembra e espalha seu corpo pelo Egito. No mito, Isis é quem faz o trabalho de reunir, aos poucos, os pedaços do corpo de Osíris para poder reconstituí-lo. Foi mais ou menos isso que aconteceu comigo nesta época, e aí começa então, uma busca que definiria meus caminhos.
Inicialmente, era uma busca para sair daquela condição aterradora, como se um forte instinto de sobrevivência tivesse despertado em mim e me dizia para encontrar um caminho; do contrário eu ficaria para sempre preso naquela condição. Vida ou morte, esta era a minha sensação. Comecei a me interessar pela psicologia transpessoal, e encontrei um autor muito interessante chamado Stanislav Grof. Naquela época, eu devia ter uns 18 ou 19 anos. Grof mencionava Jung, e fiquei interessado em conhecer o que o sábio de Zurique dizia. Comecei a ler alguma coisa de Jung; no início comprei o “fundamentos de psicologia analítica”, que hoje integra “a vida simbólica vol.1”; são os 5 primeiros capítulos (as conferências de Tavistock). Eu não conseguia entender nada do que estava escrito ali, mesmo sendo um texto onde Jung tem uma linguagem um pouco mais acessível. Eu lia e não conseguia entender, mas fiquei com uma “pulga atrás da orelha” e então comecei a ler livros de comentadores, introdutórios, como “introdução à psicologia junguiana” e coisas do tipo. Assim, fui começando a entender um pouquinho melhor aquela teoria difícil, estranha e fascinante. Após estes estudos introdutórios, consegui começar a ler alguma coisa de Jung nas “Obras Completas”; embora meu entendimento não fosse muito bom, continuava estudando mesmo sem conseguir compreender totalmente. Minha sensação era a de que havia encontrado um grande tesouro, e foi isso que me manteve insistente apesar das dificuldades que tive inicialmente para compreender a teoria junguiana.
Com o tempo, fui me apropriando deste olhar e conseguindo compreender melhor; até que chegou um momento da minha trajetória em que precisei fazer uma escolha. Até então, cursava a faculdade de biologia e estudava psicologia por conta própria; e finalmente decidi começar a cursar psicologia. Durante um tempo, fiz os dois cursos ao mesmo tempo; cursava biologia a noite e psicologia de dia; e foi um ano dessa forma, até me formar em biologia e, alguns anos depois, em psicologia.
Quando me formei em biologia, comecei uma pós-graduação em psicologia junguiana, e cursei junto com a graduação em psicologia. Cerca de um ano após concluir a pós-graduação, fui chamado para ser professor no mesmo curso, que era na Universidade Veiga de Almeida, na época. Como professor, as coisas começaram a ficar mais sérias e precisei estudar ainda mais para poder ensinar, e, com certeza me ajudou a aprofundar muito mais na teoria junguiana. Ainda nesta época, tive algumas experiências muito significativas que, no entanto, mantinha em total sigilo em relação às pessoas que estavam a minha volta. Estas experiências me exigiam elaborar algumas questões muito fundamentais, como por exemplo “o que é a realidade?” ou “o que é a consciência?”. Minhas elaborações sobre essas questões eram bastante incomuns e cheias de paradoxos; o que me levantou a suspeita de que talvez estivesse enlouquecendo, pois não encontrava nada parecido com as minhas conclusões em lugar nenhum. Entretanto, tive um grande alívio quando, por acaso, descobri o advaita vedanta, ou vedanta não-dual, de Shankaracharya. Encontrei aí, com muita surpresa, elaborações sobre a realidade muito semelhantes as minhas próprias e pude respirar tranquilo; pois alguma outra pessoa já havia visto as coisas que eu também estava vendo. Esse momento marcou o início do meu interesse pelas tradições espirituais e a mitologia; que são muito importantes para mim até hoje.
Voltando a Jung… seu pensamento me chamava atenção pela grande profundidade. A sensação que eu tinha era de que Jung possuía uma vivência muito profunda e autêntica naquilo que ele ensinava. Ele não olhava o fenômeno a partir de fora, mas falava de dentro. Possuía uma vivência do inconsciente; o que ficou claro posteriormente com a publicação do “Livro Vermelho” e, agora dos “Livros Negros”, que trazem registros das vivências mais íntimas de Jung neste vasto e misterioso campo chamado inconsciente.
Fonte: Arquivo Pessoal
(En) Cena – Luis, você falou uma coisa, que foi um diferencial do Jung em relação a psicanálise, ele não nega a análise redutiva do Freud principalmente no que se refere às neuroses, mas aí ele aposta também na perspectiva teleológica, que é para onde aponta esses sintomas. Nesse momento que ele fez a ruptura com Freud parece que ele inaugurou uma psicologia bastante moderna, ele dizia que para ser analista tem que ser analisando também, o analista tem que se submeter ao seu próprio processo de análise também, por um colega. Você acha que a psicologia se perdeu muito nesse processo? Isso é mais uma regra da psicologia analítica, da psicanálise por exemplo? Porque ele (Jung) diz que você não pode pedir para o seu cliente/paciente ir além do que você mesmo foi. Como você vê isso? E foi ele que inaugurou isso, o Jung?
Luís Paulo Lopes – Eu gosto do termo terapeuta, prefiro até do que analista. Me vejo como um terapeuta que pode estar como analista se a situação assim exigir. Jung coloca como sendo uma questão ética de grande importância que o terapeuta viva a própria vida com seriedade. Estou me referindo à vida com V maiúsculo; com a participação do inconsciente. Portanto, não me refiro à vida estéril de sentido como nos é ensinada pelo espírito desta época; onde temos como único objetivo tornamo-nos boas engrenagens de uma máquina cega. Me refiro à Vida que realiza o seu próprio sentido, isto é, que realiza quem realmente somos; e que para tal, exige que passemos pelo aflitivo fogo da transformação que queima nossas ilusões infantis e, também, pelo terrível desamparo que faz nascer um sentido a partir de nosso centro interior; nos forjando, gradualmente e na medida do nosso ato, em um individuum. Penso que é justamente isso que Jung quer dizer quando afirma que “ser normal é a meta dos fracassados”; isto é, a individuação me parece uma condição indispensável para que se realize com qualidade o ofício de terapeuta. É a questão do curador ferido. Aquilo que realmente somos está profundamente mergulhado no inconsciente e como que anseia ardentemente ser realizado conscientemente. Perceba que me refiro a um inconsciente bastante distinto daquele preconizado por Freud, ou o inconsciente do recalque; mas a um inconsciente criativo, como algo vivo, que intenta a construção de um caminho no sentido de sua própria realização e que, para isso, precisa da colaboração do ego. Esta é uma gigantesca diferença entre Freud e Jung. Note que não se trata mais de curar um problema específico, tal qual o pensamento médico tradicional preconiza e que está presente também em Freud (embora a psicanálise o tenha superado atualmente). A cura, em nosso caso, é como que um processo vivo, com um curso que lhe é próprio, que nasce a partir do inconsciente e é catalisada, por assim dizer, pela relação com o terapeuta e o trabalho clínico. Não se trata, absolutamente, de acessar conteúdos sexuais reprimidos, embora possa também envolver isso.
Se analisarmos os famosos casos clínicos discutidos por Freud, veremos se tratar de neuroses que foram supostamente curadas a partir da técnica psicanalítica. Havia a ideia de um procedimento quase médico – a psicanálise –, que prometia a cura das enfermidades psíquicas através de seu método quase infalível. Não deixo de notar o caráter de propaganda que está implícito nas discussões dos casos clínicos de Freud; o que pode ser perfeitamente compreendido se considerarmos o contexto histórico em que Freud se esforçava para mostrar o valor científico da psicanálise. O método freudiano, era focado na anamnese e, na redução das fantasias transferenciais a suas causas biográficas, comumente associadas ao complexo de Édipo. Entretanto, o inconsciente vivo ou criativo formulado por Jung muda a forma como se entendia o processo analítico; pois, não se trata mais de voltar ao passado para encontrar a origem do problema no conteúdo recalcado (análise redutiva), mas, além disso, em nos indagarmos sobre a finalidade do processo inconsciente; isto é, a análise deixa de apontar unicamente para o passado e passa a apontar para o futuro; quer dizer, para a construção de um caminho em colaboração com o inconsciente, no sentido da realização da finalidade deste último em colaboração com o ego. É isso o que Jung chamava de cura da cisão neurótica da personalidade.
O foco não é mais eliminar um problema, mas (em muitos casos) atravessar estados psíquicos difíceis e, assim, produzir uma renovação da personalidade. Jung traz várias definições sobre a neurose, a partir de vários ângulos distintos, por isso, não há como definir de uma forma simples a neurose na perspectiva junguiana. Apesar disso, Jung nos permite pensar a neurose como uma espécie de doença sagrada; nesse sentido, uma experiência iniciática criada pelo inconsciente com a finalidade de produzir uma passagem; isto é, que aponta para um fim específico. Essa é uma diferença importante entre Jung e Freud; o inconsciente junguiano, por assim dizer, abarca o inconsciente do recalque freudiano e vai além, pois é também um inconsciente criativo que aponta para uma finalidade e busca produzir uma totalidade, quer dizer, uma nova atitude que una a consciência e o inconsciente.
Jung traz inovações que são absolutamente relevantes e tornam a psicologia junguiana bastante distinta em relação à psicanálise freudiana. Em grande medida isso ocorreu pelo fato de Jung ter tido uma grande influência do romantismo alemão, por suas experiências do inconsciente (como as descritas no livro vermelho), e por ter bebido das tradições espirituais do mundo inteiro e, especialmente do esoterismo ocidental. Jung conhecia mitologia, conhecia os textos sagrados e esotéricos das principais religiões do mundo. Existe uma busca milenar muito mais antiga do que a psicologia contemporânea por isso que os antigos sintetizavam no símbolo da ressurreição, da salvação, da iluminação, do ouro filosófico dos alquimistas ou outros símbolos análogos. A mentalidade contemporânea, impregnada de racionalismo e materialismo, entende esses símbolos de forma extremamente concreta e poderíamos até dizer, ingênua. Jung permite um novo olhar, simbólico, sobre toda essa literatura; e assim, podemos extrair uma espécie de tintura extremamente valiosa para o campo psicológico. Há elaborações riquíssimas em outras tradições que são absolutamente úteis para a psicologia contemporânea. Penso que nossos esforços devem considerar tudo isso que já foi produzido no campo do espírito e não vejo sentido em querer inventar novamente a roda. Toda árvore precisa ter as raízes saudáveis e Jung tinha excelentes referências em sua biblioteca particular. A psicologia junguiana está afinada com esse material muito mais antigo e podemos ver essas fontes citadas pelo próprio Jung ao longo de sua obra; principalmente em seus escritos sobre a alquimia, que mostram um Jung mais maduro e com um conhecimento enciclopédico sobre essas tradições. Apesar de considerar Jung como fazendo parte de uma tradição mais antiga, acho que seu grande trunfo foi ter desenvolvido uma ciência psicológica moderna e com bases epistemológicas extremamente sólidas. Ele traz uma bagagem importante de milênios de experiências acumuladas; apesar disso, não aborda nenhuma dessas tradições a partir de uma perspectiva metafísica, mas, aplicando com rigor uma perspectiva simbólica, observa todo esse material como imagens psíquicas; isto é, como um fenômeno estritamente psicológico.
Fonte: Arquivo Pessoal
(En) Cena – Você concorda que a resistência que o Jung obteve, parece que agora vem diminuindo, de certa forma? Há a ampliação de espaços de diálogo com a psicologia analítica, principalmente na academia, nas universidades, talvez de forma tardia em relação a psicanálise freudiana… Você acredita que o Jung ainda hoje é incompreendido? Pois em artigos científicos é muito comum ver as pessoas se referindo à psicologia analítica como uma espécie de misticismo, elas aparentam não entender o sentido mais profundo inclusive do que seria o Místico e de que forma isso pode ser analisado pelo prisma psicológico.
Luís Paulo Lopes – Com certeza. Jung é não somente mal compreendido, mas, também utilizado para justificar formas de pensar que são absolutamente distintas da dele. Podemos ver isso com clareza na apropriação da teoria junguiana pelo movimento new age; o que somente acentua o preconceito em relação à psicologia junguiana e dificulta sua inserção nas universidades. Sou supervisor clínico em uma universidade e quando inicio uma turma nova, costumo perguntar: “o que vocês pensam sobre Jung?”. Já escutei algumas lendas, no mal sentido do termo, como uma ideia de que Jung aborda coisas mágicas ou metafísicas. Uma ideia de que a psicologia junguiana não é tanto psicologia assim e, por isso, não deveria ser tomada com seriedade. Esse mal entendido normalmente é desfeito com facilidade depois da primeira aula. Quando os alunos conhecem um pouco da teoria junguiana, costumam se interessar bastante e, não tenho dúvidas, começam a levar a sério como qualquer outra abordagem psicológica. Acho que isso em parte se dá por uma campanha difamatória que se iniciou no passado e, até hoje, ainda se estende. Quando houve a ruptura da sociedade psicanalítica de Zurique (Jung) com a de Viena (Freud), iniciou-se uma verdadeira guerra difamatória abastecida por calúnias. Jung não foi o único que sofreu por isso; poderíamos trazer outros autores que foram alvos de campanhas difamatórias como Ferenczi, Adler, Reich e vários outros. Inclusive há um livro do Shamdasani, “Os arquivos Freud”, onde o autor faz uma maravilhosa pesquisa historiográfica utilizando principalmente cartas escritas pelos psicanalistas do Círculo de Viena e de Zurique da época; e você percebe este falatório. Predominavam os argumentos a partir de falácias, “ad hominen”.; tentava-se desacreditar o homem, a pessoa, a personalidade, para descreditar toda sua obra. Freud tinha a pretensão de que sua psicanálise fosse considerada como única possibilidade de psicologia profunda e sentia-se profundamente incomodado com as dissidências de seus antigos colaboradores.
Entretanto, parte da fama de Jung como místico provinha do próprio Jung; precisamos reconhecer isso. Depois da publicação do “Livro Vermelho” tivemos acesso a uma série de experiências místicas do próprio Jung e pudemos perceber o quanto essas experiências foram cruciais para a criação de sua psicologia. Agora, com o lançamento dos “Livros Negros”, este debate certamente será novamente aquecido no campo junguiano. Hoje, está muito claro que o interesse de Jung pelo esoterismo e por místicos de várias épocas e tradições não era somente uma curiosidade intelectual, visto que ele mesmo viveu uma série de experiências extraordinárias que poderíamos muito bem denominar como experiências místicas. Entretanto, este é um fato absolutamente rodeado por preconceitos, mesmo dentro do campo junguiano. Alguns chegam a chamar as experiências de Jung de psicóticas, o que é uma flagrante falta de compreensão sobre a natureza da experiência mística; muito embora, ambas sejam experiências do inconsciente coletivo, por assim dizer. A questão, portanto, não é negar as experiências místicas de Jung, mas de considerar a experiência mística a partir da perspectiva psicológica do próprio Jung. Ele nos permite considerar estas experiências a partir de uma perspectiva que não é nem psicopatológica, nem metafísica. Jung considerou com seriedade estas experiências e, inclusive, reconheceu a importância delas para o campo da saúde mental. Quando passou a utilizar o método da imaginação ativa, na prática, introduziu a experiência mística no setting analítico a partir de uma perspectiva absolutamente psicológica. Os antigos gregos utilizavam a palavra “gnose” para designar um tipo de conhecimento que, poder-se-ia dizer, provém diretamente do inconsciente coletivo e que teria um efeito absolutamente transformador. A “gnose” se refere a um conhecimento que não cabe nas palavras e que, embora seja anterior à própria imagem, só pode ser exprimido e ampliado através das imagens. Penso que deveríamos levar isso muito mais a sério, pois o próprio campo junguiano contemporâneo passou a ver com preconceito este aspecto do pensamento de Jung, por pura ignorância. E, na tentativa de proteger Jung das acusações de místico, passou a minimizar a importância da experiência mística na vida e na obra de Jung; jogando, quase que literalmente, a criança fora junto com a água do banho.
Fonte: encurtador.com.br/adlG6
(En) Cena – Já havia, naquela época, uma política de cancelamento, sim?
Luís Paulo Lopes – Havia sim. Freud tinha pretensão de criar uma psicologia que oferecesse uma resposta única para o problema da psique. Hoje sabemos o quanto essa pretensão era fantasiosa. A pluralidade do campo psicológico contemporâneo está aí para provar. Freud, por exemplo, considerava a libido como tendo uma qualidade fundamentalmente sexual, e não estava disposto a aceitar qualquer outra possibilidade de olhar que dissesse o contrário. Este tipo de posição de Freud fez com que Jung, várias vezes, o acusasse de dogmatismo. A questão da libido é um bom exemplo de um ponto de divergência radical entre Freud e Jung que acabaria colaborando decisivamente para a ruptura entre ambos. Jung afirmava, por exemplo, que o instinto de nutrição era anterior ao instinto sexual e, além disso, que outros instintos eram igualmente importantes, inclusive o que chamou de instinto religioso. Jung traz o inconsciente coletivo com sua multiplicidade de formas arquetípicas como sendo o fundamento psíquico mais radical e a libido como energia pura e simples em seu movimento de progressão, represamento e regressão; impulsionando a transformação das imagens em um processo que parte de uma causa e busca uma finalidade específica. Para Freud, isso era uma ameaça sem precedentes, pois questionaria toda a sua psicanálise. Imagine este fato em um contexto onde a psicanálise sofria constantes ataques e tentativas de desqualificação; e, ainda lutava para se estabelecer como um campo que gozasse de algum prestígio social.
(En)Cena – E como fica a Psicologia analítica, neste ínterim? E no Brasil, qual o perfil acadêmico dos adeptos da teoria?
Luís Paulo Lopes: Podemos pensar na chegada da psicologia junguiana aqui no Brasil com a Dra. Nise da Silveira. Ela organizou grupos de estudos em sua casa que atraíram muitas pessoas interessadas em estudar Jung; e isso, muito antes da tradução das obras completas de Jung para o português. Meus principais professores de psicologia junguiana estudaram com a Dra. Nise, que foi a grande ponte para a chegada da psicologia junguiana no Brasil. Graças a ela e à importância do trabalho que ela desenvolveu com a psicose no antigo Hospício do Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro, a obra junguiana passou a ser estudada com seriedade no Brasil. Não fosse isso, talvez não estaríamos tendo esta conversa aqui hoje.
A psicologia junguiana teve uma difusão lenta no Brasil. Os junguianos sempre foram pouco numerosos e somente alguns se dedicaram a seguir uma carreira acadêmica. Hoje em dia, não é fácil pensar no mestrado em psicologia junguiana, principalmente a depender do estado em que resida; pois, são poucos os professores que orientam pesquisas neste campo. Mas, esse cenário vem mudando muito rapidamente. Cada vez mais, há professores junguianos nas universidades. Os cursos de pós-graduação em psicologia junguiana se alastram por todo o país, assim como muitos institutos junguianos que não têm ligação com alguma universidade. Percebo que a possibilidade do virtual e das plataformas online, herança da pandemia do coronavírus, tem permitido uma expansão ainda maior do campo junguiano. Muitos eventos importantes como palestras, grupos de estudos, aulas pelo youtube, lives, seminários e congressos têm acontecido através destes novos recursos. Hoje, é muito fácil para o estudante encontrar algum grupo ou curso para iniciar os estudos na teoria junguiana; basta procurar pelo facebook. Entretanto, advirto para que procurem analistas ou professores sérios, pois não é incomum encontrarmos coisas pela internet que não são de qualidade. Veremos como isso vai caminhar. Mas, tudo aponta para um grande crescimento do pensamento junguiano no campo da psicologia brasileira. Há um programa de pós-graduação em psicologia junguiana na PUC-SP, por exemplo. Creio que isso é algo muito significativo sobre a penetração da teoria junguiana nas universidades brasileiras.
(En)Cena – Tem um pela Universidade Federal do Paraná, tem também pela Universidade Federal do ABC Paulista, há também algo na UNIP, mas são poucos em relação a quantidade de programas de Mestrado, porque Doutorado é mais difícil ainda… pois bem, Luís, mudando um pouco de assunto, aparentemente há uma disputa muito grande dentro do próprio Brasil entre as diferentes formas de fazer a leitura do Jung. Qual sua opinião sobre isso?
Luís Paulo Lopes – Acho que as diferentes abordagens são inevitáveis, pois, em psicologia, o objeto de estudo é também o sujeito do mesmo estudo. Temos essa interessante peculiaridade em relação às demais ciências, o que torna a psicologia algo extremamente plural e complexo. É possível olhar para a alma a partir de diferentes perspectivas e, apesar da possibilidade da objetividade, o componente subjetivo, ou equação pessoal (como chamou Jung), tem grande importância na elaboração da teoria. Por isso, ao falar sobre psicologia, precisamos falar sempre no plural – psicologias. O psicólogo, devido a essa pluralidade, costuma estar à vontade para lidar com diferentes epistemologias; com diferentes pontos de vista. Podemos considerar que embora todas as abordagens psicológicas tenham uma validade relativa, nenhuma jamais terá validade absoluta. No campo junguiano não é diferente. Jung fez um trabalho definitivamente monumental; o que permitiu diferentes linhas de desenvolvimento teórico a partir deste ponto inicial. Podemos considerar três principais correntes de pensamento dentro do campo junguiano: a psicologia junguiana clássica (principalmente os autores que estiveram mais próximos de Jung), a psicologia junguiana desenvolvimentista (que produziu mais diálogos com a psicanálise) e a psicologia arquetípica (de James Hillman). Há, atualmente, um grande autor chamado Wolfgang Giegerich, que traz uma abordagem distinta em relação às outras três e parece ter força para criar uma quarta corrente de pensamento no campo junguiano; veremos. Essa pluralidade dentro de um mesmo campo não é sem tensões, como seria de se esperar. De qualquer forma, as disputas e alfinetadas mútuas entre os diferentes autores são sinal de saúde; pois, significa que a psicologia junguiana está bastante viva e pulsante, produzindo novos conceitos e ideias. Isso quer dizer que a psicologia junguiana não se enrijeceu em um dogmatismo e, é exatamente isso que garante que nosso campo prospere e avance para o futuro.
É importante avançar, pois estamos no século XXI e não mais na primeira metade do século XX. Quais são os problemas da nossa época? O quanto nós, hoje, conseguimos enxergar e que o próprio Jung não podia, devido ao limite imposto por sua época? Por exemplo, hoje, temos um pensamento feminista dentro da psicologia junguiana que não seria possível na época de Jung. Essa corrente traz algumas críticas importantes em relação ao machismo do próprio Jung. As críticas internas são sempre mais poderosas do que as críticas que vem de fora e, pelo mesmo motivo, são potencialmente mais transformadoras. As críticas de psicanalistas em relação a Jung, por exemplo, costumam ser risíveis; sem fundamento e baseadas em lendas criadas pelas campanhas difamatórias do passado. Coisas do tipo que não se deve nem perder tempo para responder. Mas, as críticas internas são diferentes, pois vem de quem realmente conhece a teoria junguiana. São estes autores que podem fazer críticas bem fundamentadas e, pelo mesmo motivo, criar desdobramentos teóricos.
Fonte: encurtador.com.br/xCIN3
(En)Cena – Em termos de produção de literatura junguiana no Brasil, como você considera que está no momento?
Luís Paulo Lopes – Acho muito importante que haja uma produção robusta de literatura junguiana nacional; e, principalmente que considere as especificidades da psique brasileira. Todo povo tem uma história que influencia radicalmente a psicologia do indivíduo. Quais são os fantasmas que habitam esta terra chamada Brasil e que ainda hoje nos assombram a todos de uma maneira ou de outra? Vivemos, por exemplo, numa terra que, há não muito tempo, foi palco de uma brutal de escravidão. A tortura pública e a brutalidade eram banais nestas terras há não muito tempo atrás e permanecem bastante vivas nas periferias e presídios, por exemplo. Seria mais fácil se esquecer de tudo isso e continuar como se nada estivesse acontecendo; não à toa dizem que o brasileiro tem pouca memória. Entretanto, o inconsciente se recusa a esquecer aquilo que a consciência preferiria fingir que nunca existiu. Quais são os nossos traumas culturais? E como eles nos influenciam ainda hoje? Tenho visto um esforço significativo entre alguns junguianos brasileiros no sentido de produzir pesquisa e literatura exatamente nesta área tão importante. Destaco Walter Boechat e Roberto Gambini. É bastante animador perceber este movimento na psicologia junguiana nacional. As editoras Vozes e Paulus são grandes colaboradoras na difusão do pensamento junguiano, nacional ou internacional; e temos revistas de psicologia junguiana ligadas a SBPA (Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica) e a AJB (Associação Junguiana do Brasil). Mas, apesar disso, em termos gerais, penso que ainda escrevemos pouco no Brasil e, ainda estamos longe de poder ostentar uma produção de literatura junguiana significativa e capaz de dialogar com os principais autores internacionais.
(En)Cena – Em relação à Anima Mundi, como é que você vê esse resgate da alma do mundo?
Luís Paulo Lopes – O conceito junguiano denominado como processo de individuação me parece um caminho para pensar esta questão, muito embora seja um conceito que levante certas polêmicas e divergências no pensamento pós-junguiano. Particularmente, considero que para uma correta compreensão sobre o que Jung chamou de processo de individuação é preciso mergulhar no pensamento dos antigos alquimistas; e nesta área, somente a experiência em seu próprio e privado laboratório e a gnose que daí pode nascer, poderia trazer alguma elucidação. Por exemplo, considero o conceito de “cultivo da alma”, em Hillman, como algo absolutamente distinto em relação ao que Jung chamava de processo de individuação. Tenho pensado, embora ainda não tenha chegado a uma conclusão definitiva, se não poderíamos considerar “o cultivo da alma” hillmaniano e a individuação junguiana como formas distintas de subjetivação, válidas para diferentes tipos de pessoas. Isso teria importantes desdobramentos clínicos.
O mito da queda de Sophia trazido pelos antigos gnósticos nos ajuda a pensar essa questão. Sophia teria gerado filhos sem o consentimento do Pai e sem a participação de seu consorte, o Cristo. Sophia e Cristo como uma sizígia, refere-se ao tema largamente desenvolvido pelos alquimistas da união entre a Alma e o Espírito. A Alma, portanto, originalmente estaria indissociavelmente unida ao Espírito, porém, quando decidiu gerar filhos sem a participação deste último, deu à luz aos Arcontes, seres ignorantes em relação aos desígnios do Pai. Os Arcontes, por sua vez, são comumente representados pelos sete planetas que estão associados aos metais que o alquimista deveria transmutar para a produção do ouro. O mito narra como Sophia foi aprisionada na matéria e como é violentada e oprimida pelos Arcontes que a impedem de retornar à sua morada eterna; até que não podendo mais encontrar consolo nas ilusões da matéria, em estado de profunda privação, Sophia se arrepende de seu erro e implora por seu consorte e salvador, o Cristo. Somente após esta união da Alma com o Espírito, Sophia é gradualmente liberta da submissão em relação aos Arcontes e se aproxima de seu verdadeiro fundamento. Esta é a Sophia discutida por Jung como sendo o quarto grau de desdobramento da anima e associada ao Eterno Feminino ou à Sabedoria Divina. Embora as imagens sejam muito mais enigmáticas do que os conceitos, penso que exprimem muito melhor uma ideia universal.
(En)Cena – Isso é o próprio processo de individuação?
Luís Paulo Lopes – Certamente. O processo de individuação não tem nenhuma relação com o que o senso comum chama de “auto realização”. Pelo contrário, o que se entende hoje como “auto realização” seria equivalente a estar totalmente perdido e definido pelo espírito da época; por isso, está longe de ser uma solução, mas, na verdade é um sintoma do problema que desafia a humanidade, a ignorância. O processo de individuação, ao contrário, fala sobre a transformação do homem no sentido de seu próprio centro e que só pode ser realizada a partir do indivíduo. Me lembro de uma passagem em que Jung diz que o maior trabalho político, social e espiritual que podemos fazer é integrar a nossa própria sombra e, assim, parar de projetá-la nos outros. Tendo a concordar com esse ponto de vista. Nossa cultura dominou a técnica como nunca na história da humanidade, entretanto, espiritualmente somos como crianças birrentas disputando pelos melhores brinquedos. Veja o perigo desta situação se considerarmos a existência da bomba atômica.
É preciso mergulhar profundamente no passado para que as raízes de nossa cosmovisão se estabeleçam na terra fértil dos grandes espíritos da humanidade. Nos tempos atuais, é preciso ter muito cuidado com a novidade, que tenta vislumbrar o homem a se perder na superficialidade; tornando-o ainda mais escravo da ignorância. Assim como a flor arrancada logo perece por ser privada de suas raízes, também o homem contemporâneo adoece quando é desligado de seu passado e privado da sabedoria dos antigos sábios. Precisamos de uma nova pedagogia, não somente para as crianças, mas sobretudo aos adultos. Uma pedagogia enraizada na tintura dos grandes espíritos que passaram por este mundo; para que a tão importante novidade de que tanto necessitamos hoje seja um novo ramo nesta antiga árvore da sabedoria. Mas, a pretensão pueril do homem moderno olha para o passado com desdém, afirmando se tratar de um tempo obscuro de superstição e ignorância; e assim, vangloria-se com suas próprias invenções como se fossem tremendamente superiores. Entretanto, a maioria não passa de vãs distrações que fazem com que o homem se perca cada vez mais no lodo escuro da ignorância; e assim, segue destruindo o mundo. O homem contemporâneo é como uma criança vislumbrada em um parque de diversões, correndo extasiada para brincar nas atrações; e, neste frenesi, acaba ficando perdida e logo chora em desespero sem saber para onde ir (normalmente a problemática da segunda metade da vida). Se a cosmovisão não tiver longas raízes que penetrem profundamente no passado, na terra dos grandes espíritos da humanidade, ficará restrita à superfície desta época. O homem permanecerá como uma criança mimada, a doença mental crescerá como erva daninha e o mundo continuará a ser destruído. Esta é a minha definição para a miséria espiritual da nossa época.
(En)Cena – Aos 63 a 64 anos, Jung falava continuamente que o que diferencia muito ele – inclusive de Freud – é que ele era um homem ambivalente, imperfeito. Como você enxerga isso?
Luís Paulo Lopes – Ele e todos nós; sem dúvida nenhuma. Jung deixa claro que a individuação não é um caminho para a perfeição, mas para uma maior integridade. Integridade implica ter consciência da própria escuridão, das próprias imperfeições; e conviver com elas de forma consciente. Entretanto, ao tentarmos ser perfeitos, fechamos os olhos para tudo aquilo que não se encaixa na perfeição que imaginamos e, por isso, nos alienamos de nós mesmos; precisamente, a definição de neurose para Jung. Mas, convenhamos, admitir nosso lado sombrio é algo tremendamente difícil e nós joga em conflitos penosos e no desamparo arquetípico. Entretanto, este mesmo desamparo pode ser muito bem o início de um processo (penoso, é verdade) de nascimento de um individuum; isto é, fala sobre a possibilidade da cura de cisão neurótica da personalidade. Esta cisão neurótica faz com que a mão direita haja sem saber como a mão esquerda está agindo, como Jung certa vez afirmou; entretanto, mesmo com a superação da cisão neurótica, o homem continua tendo uma mão direita e outra esquerda, muito embora, agora elas possam estabelecer uma relação. Esta é a nossa ambiguidade fundamental e insuperável. Há uma boa passagem bíblica atribuída a Jesus que serve bem como imagem simbólica para essa verdade psicológica: “Eu não vim para chamar justos, mas pecadores” (Marcos 2:17). Quem conhece as discussões de Jung sobre a relação simbólica entre Cristo, o conceito de Self e o processo de individuação, compreende essa analogia sem nenhuma dificuldade.
Fonte: encurtador.com.br/frvAI
(En)Cena – Pode ser que alguns terapeutas junguianos tenham um sistema pré-moldado, pré-definido, um sistema cognitivo, do ponto de vista da compreensão dele do mundo, e ele não consegue fazer essa separação, fora do espectro da autoridade, e as vezes ele passa a impressão de que o processo de individuação se aproxima daquele “Ideal Asceta” que o Nietzsche criticava dentro do Cristianismo. Você enxerga dessa forma? Como é que se pode desmistificar isso, ou como o paciente pode perceber isso?
Luís Paulo Lopes – Quanto mais o homem se aproximar de um ideal, mais distante estará de si mesmo. Por isso, os ideais de perfeição necessariamente produzirão uma sombra de igual intensidade que tenta compensar o ideal sobre o qual a consciência está identificada. Veja o exemplo do nazismo na Alemanha; o ideal de perfeição, beleza e pureza ariana carregava de forma subterrânea o horror, a feiura e a sujeira da sombra alemã. Enquanto o povo alemão estava possuído por este ideal de pureza, era incapaz de perceber que ele mesmo era o monstro repugnante que tentava derrotar, e assim, o perseguia projetado em seus inimigos. Vivemos algo muito semelhante hoje em dia no Brasil com o ideal do cidadão de bem, por exemplo. Veja o quanto é sedutor um ideal como esse; pois afirma que aquele que se identifica com ele é uma pessoa perfeita, como se estivesse salva do diabo que habita a sua própria casa. Qualquer ideal deste tipo, não importa se é político, religioso, ou de qualquer outra natureza, produz este mesmo efeito. A integração da sombra, para Jung, significa tornar-se humano, ou seja, um pecador. Veja como poderia ter sido salutar se o povo alemão tivesse tomado consciência do pecado que carregava, mas que era incapaz de reconhecer. Nesse sentido, a individuação não significa “subir no pódio” como o espírito desta época gastaria de pensar, mas ao contrário, é “cair do cavalo”. É levar um tombo do alto de sua inflação. A identificação com esta persona heroica ou santa é desfeita e o ego precisa confrontar a natureza sombria da alma. É necessário manter a tensão entre os opostos para que a integração aconteça; nesse sentido é exigida coragem para encarar a verdade de que somos todos pecadores.
(En)Cena – Por fim, gostaria que você falasse um pouco sobre o “necessário manter a tensão” para, a partir disso, integrar…
Luís Paulo Lopes – Manter a tensão, suportar a tensão… Jung discute o conceito de função transcendente, como uma função que unifica a consciência e o inconsciente, os opostos, em um terceiro termo, uma nova atitude. Quando o ego finalmente encara os aspectos sombrios da alma, um conflito irrompe. O conflito tende a ser uma experiência aflitiva e, por isso, a tendência natural é que o oposto inconsciente que está incomodando as pretensões unilaterais da consciência, seja reprimido novamente; e assim, o conflito cessa sem qualquer resolução. Não quero dizer com isso que os conflitos devam ser solucionados, pois como Jung nos ensina, os grandes conflitos humanos são contradições insolúveis. Tentar encontrar uma solução para eles é impossível, pois a consciência é naturalmente unilateral e, portanto, incapaz de considerar uma solução que inclua ambos os opostos. Tudo o que a consciência pode fazer é suprimir o conflito. Este é o motivo pelo qual é preciso sustentar ou suportar o conflito; pois se não podemos solucioná-lo, só nos resta suportá-lo para que não nos alienemos de nosso lado sombrio. Se o conflito for sustentado tempo suficiente, da tensão entre os opostos surge um terceiro elemento que unifica os opostos, a função transcendente. Há uma ampliação da consciência devido a integração do inconsciente e, a partir desta nova perspectiva da consciência, agora ampliada, o antigo conflito perde a importância; e mesmo que não tenha sido definitivamente solucionado, realizou o seu propósito.
Ter uma profissão rentável e segura era o sonho de todos da geração Baby Boomers da qual faço parte. Ser médica, advogada, enfim, profissional liberal era a grande pedida da época. Saí da faculdade de Serviço Social com a impressão de que esta não era uma profissão com a qual eu poderia ter de fato esta liberdade sonhada…
Como me firmar num mercado de trabalho tão difícil naquele momento de ditadura militar onde pensar e questionar era extremamente proibido? O que fazer com minhas ideias revolucionárias do momento? Onde colocar toda a minha rebeldia juvenil sem ser presa pela milicia ditatorial da época?
Mais uma vez fui me reinventar nos princípios de Cristo, de amar ao próximo como a mim mesma, e por isso cuidar dele da forma como Cristo queria que eu cuidasse. Entrar para o trabalho missionário foi uma forma produtiva de reinvenção da vida e do cuidado e de me auto proteger das insanas ideologias do mundo capitalista e ditatorial do momento. Após um tempo no interior de Mato Grosso do Sul, me embrenhei pelos vales montanhosos do Pará, especificamente no local onde se deu a famosa “Guerrilha do Araguaia”.
Fonte: encurtador.com.br/kpyz6
Com 24 anos, lá estava eu me reinventando com os conceitos recebidos do curso emblemático e reconceituado de Serviço Social, para trabalhar numa comunidade como evangelista no meio de um povo marcado pela dor e sofrimento causado pelo poder do Estado.
Trabalhar com mulheres cujos maridos foram esquartejados e jogados ao rio, crianças cujos pais saíram para a mata colher castanhas para sobrevivência e nunca mais voltaram, isso trazia muita dor e desconforto. Homens que não sabiam ler nem escrever o próprio nome, direito que lhes fora negado pelo Estado que lhes oprimia e perseguia… como viver e conviver com toda esta tragédia humana sem se tocar pelos princípios da Palavra de Deus? Como agir de acordo com os ensinos de Cristo e com os valores cristãos verdadeiros? Como conviver com o fato de que naquela mesma região, dois religiosos estrangeiros tinham sido expulsos do país por professarem a fé e ajudarem aos ribeirinhos e pessoas de pouco conhecimento político, dando a eles um pouco de esperança?
Eu, uma evangelista, Assistente Social recém-formada, tinha que dar conta desta dor e conviver com esta dicotomia imposta na sociedade do município de São Geraldo do Araguaia. Fui morar na toca do lobo… Dentro do quartel do exercito (2º BEC – Batalhão de Engenharia e Construção), vigiada por todos os lados, tendo minhas correspondências todas abertas antes de chegar ao destino… como conviver com isso sem perder a fé e a esperança e tendo que ofertar a mesma fé e esperança aos povos que ali sofriam?
Fonte: encurtador.com.br/aijGL
Reinventar-se é a palavra. Transformar momentos de luta em experiência de vida e de convivência pacífica (nem tanto) com o inimigo que mora ao lado… pude entender nesta fase da vida como é precioso seguir os ensinamentos e os passos de Cristo que foram até a cruz. Se possível eu iria também, pois o ato de me reinventar deu-me coragem para seguir em frente, mudar as situações e crescer como pessoa ajudando outras pessoas a viverem uma vida plena apesar da dor e do sofrimento.
O resultado disso tudo se transformou em alegria ao ver uma comunidade inteira se mobilizando na construção de uma escola feita de palha e na festa de vê-los com uma cartilha construída pelos próprios ribeirinhos a partir da realidade deles, segundo os princípios de Paulo Freire.
Isso é se reinventar, é transformar o luto em luta, a crise em criação.
Carpe Diem
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Transformações no âmbito laboral e a terceirização
Com a globalização da economia e a ampla concorrência, as organizações cada vez mais vislumbram formas de flexibilização como uma alternativa para reduzir os custos organizacionais.
As grandes mudanças ocorridas no capitalismo impactaram diretamente no mundo do trabalho. Um conjunto de medidas constituído de velhas e novas formas de exploração do trabalho passou a redesenhar a divisão internacional do trabalho, após vários obstáculos impostos ao processo de acumulação ocorridos na década de 1980, alterando de forma significativa a composição da classe trabalhadora em escala global (ANTUNES; PRAUN, 2015).
Com a globalização da economia e a ampla concorrência, as organizações cada vez mais vislumbram formas de flexibilização como uma alternativa para reduzir os custos organizacionais. Dentre as formas existentes de flexibilização do trabalho, a terceirização é uma das mais difundidas e expressivas nas empresas, especialmente no setor de serviços (PICCINI; ALMEIDA; OLIVEIRA, 2011). Conforme Antunes; Praun (2015, p. 423):
A terceirização tornou‑se um dos elementos centrais do atual processo de precarização do trabalho no Brasil, constituindo‑se num fenômeno presente praticamente em todos os ramos, setores e espaços do trabalho, pois é uma prática de gestão/organização/controle da força de trabalho que discrimina, ao mesmo tempo em que flexibiliza os contratos, eximindo‑se da proteção trabalhista.
É importante ressaltar que, apesar do processo de terceirização apresentar diferentes características quanto a relação de trabalho com a empresa contratante, os trabalhadores terceirizados são, antes de qualquer forma de labor experimental, seres humanos passíveis de necessidades, portanto, para que haja o movimento qualitativo desses sujeitos é essencial que suas necessidades primordiais sejam atendidas. Nesse sentido, Robbins, Judge e Sobral (2010) lembram que um trabalhador satisfeito é mais propenso a falar bem da organização, ajudar os colegas e ter um desempenho acima do esperado.
Fonte: encurtador.com.br/gprsB
Para que se possa compreender o contexto dos trabalhadores terceirizados faz-se necessário entender o significado do trabalho pela sociedade contemporânea e pelos indivíduos. Segundo Cardoso, Silva e Zimath (2017) o trabalho tem um importante papel na construção da identidade do sujeito. A forma como o indivíduo trabalha e o que produz interfere diretamente no modo como pensa e percebe sua independência e liberdade. “O trabalho, como parte do mundo externo ao sujeito e do seu próprio corpo e relações sociais, representa uma fonte de prazer ou de sofrimento, desde que as condições externas oferecidas atendam ou não à satisfação dos desejos inconscientes” (MENDES, 1995, p. 35).
O sentimento que o trabalhador tem em relação ao trabalho está vinculado às exigências incluídas no processo, nas relações e na organização do trabalho e muitas vezes esses fatores que incluem competitividade, produtividade, carga horária exaustiva, pouco intervalo para alimentação e descanso favorecem o sofrimento do trabalhador, acompanhado de sintomas específicos transformando o trabalho em uma necessidade para garantir a subsistência ao invés de ser uma fonte de prazer.
Contudo, os sintomas apresentados podem ser físicos ou psicológicos que se diferem entre si pois o físico é visível e o psicológico é considerado invisível, tornando mais difícil fazer a relação do nexo causal entre adoecimento e trabalho.
Então é de suma importância a significação do trabalho para cada sujeito, e a desqualificação profissional também pode gerar sofrimento para o trabalhador.
Mesmo trabalhos socialmente apontados como não qualificados necessitam de reconhecimento em termos psicossociais e processos saúde-doença. Pode-se dizer então que o não reconhecimento gera frustração e desmotivação nos trabalhadores, tornando-se por vezes patológico, visto que o trabalhador espera que suas tarefas sejam julgadas pela utilidade, ou seja, que ele seja útil econômica, científica, tecnicamente, entre outros aspectos (CARDOSO, SILVA E ZIMATH apud MERLO, 2017, p. 702).
Cabe refletir também sobre as transformações que vêm ocorrendo no mundo do trabalho a partir do século XX. Antes os empregos eram permanentes e duradouros com a força de trabalho especializada para a função, agora com o surgimento de novas tecnologias, começam a se desenvolver formas inovadoras de organização do trabalho. Assim, as concepções de trabalho mudam porque elas resultam de um processo de criação histórica, sofrendo influência de interesses econômicos, ideológicos e políticos (NEVES, et al. apud BORGES, 2018.)
Fonte: encurtador.com.br/aj168
Para Marx segundo Neves et al (2018), o trabalho na lógica de produção capitalista leva à alienação, pois muda a visão de liberdade do homem quando faz com que ele venda sua força de trabalho para garantir a sobrevivência. O produto (resultado final do trabalho) e o processo de produção estão centralizados na mão de quem detêm o capital, então o trabalhador subordinado não tem controle sobre essas variáveis, está submetido à lógica do consumo e do descartável, onde por um lado existe uma cobrança exacerbada por produtividade que leva a sobrecarga do trabalhador e por outro lado existe uma parte da sociedade que acumula bens.
A introdução de máquinas no processo de trabalho também contribuiu para a mudança nesse contexto já que permite produzir mais e em menos tempo, desenvolvendo essa necessidade de produtividade cada vez maior, o que repercute na exploração da força de trabalho. Essa lógica da produção começa a interferir também nas relações interpessoais onde a ética individualista, a insegurança e a competitividade são intensificadas:
Os trabalhadores submetidos à ameaça constante da demissão e a insegurança em relação à permanência no emprego concorrem entre si para que possam “garantir” sua permanência nele. Assim, o desejo de vencer e obter sucesso se torna uma “obsessão”, requisitando do trabalhador uma dedicação extra sem limites, que se estende para além dos muros das organizações (NEVES, et al. apud ANTUNES, 2018).
Nesse contexto de transformação no mundo do trabalho e mudanças nas estratégias gerenciais surge a terceirização, em que serviços considerados auxiliares pela organização como limpeza, vigilância, manutenção e transporte são realizados por empresas contratadas e não mais por funcionários ligados à própria organização. Essa contratação feita através de uma empresa fora da instituição cria uma diferença entre as classes, fazendo com que os trabalhadores estáveis e terceirizados não se sintam parte de um mesmo coletivo, o que acarreta a não construção de solidariedades e estranhamentos entre as duas categorias.
Fonte: encurtador.com.br/xHNW7
Como relata Lima (2010) os terceirizados são percebidos como menos qualificados e envolvidos na empresa, e os estáveis com direitos legítimos, mais capacitados, entre outras. O mesmo se reproduz no acesso a benefícios da empresa como serviços, clubes e até eventos, no qual os terceirizados não participam. Essa disparidade entre os funcionários reflete no não reconhecimento do trabalho e invisibilidade desse tipo de profissional que como já vimos interfere na significação do trabalho e saúde e doença do trabalhador.
CARDOSO, P. S.; SILVA, T.; ZIMATH, S. C.; Todo mundo olha, quase ninguém vê: a percepção de trabalhadores operacionais com relação à invisibilidade social de seus trabalhos. Cad. Bras. Ter. Ocup., São Carlos, v. 25, n. 4, p. 701-711, 2017. Disponível em: < http://www.cadernosdeterapiaocupacional.ufscar.br/index.php/cadernos/article/view/1608/905>. Acesso em: 01 jun 2019.
MENDES, M. B. Aspectos Psicodinâmicos da Relação Homem-Trabalho: as contribuições de C. Dejours. Rev Psic ciência e profissão, 1995. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/pcp/v15n1-3/09.pdf>. Acesso em: 15 mai 2019.
PICCININI, V. C.; ALMEIDA, M. L.; OLIVEIRA, S. R. Sociologia e administração: relações sociais nas organizações. Rio de Janeiro: Elsevier. 300 p., 2011.
ROBBINS, S. P.; JUDGE, T. A.; SOBRAL, F. Comportamento organizacional: teoria e prática no contexto brasileiro. 14. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, p. 633, 2010.
O Sistema Único de Saúde (SUS), criado na Constituição de 1988 e regulamentado pelas leis 8.080/90 e 8.142/90, constitui uma rede de saúde organizada e hierarquizada, que busca ofertar serviços de prevenção, proteção e recuperação da saúde. Um sistema muito bem elaborado e colocadoem prática com muita luta. Atualmente, faço parte da parcela mínima da população brasileira que tem um plano de saúde. Porém, entrei nessa parcela a pouco tempo, em agosto de 2014, junto com o contrato de trabalho. Assim como a minha família, eu sempre utilizei o SUS. Foram experiências marcadas por alegrias e tristezas, lutas e vitórias.
Começamos por minha mãe, ela teve 3 filhos e 2 filhas. As três primeiras gestações, nos anos de 1986, 1989 (meu nascimento) e 1992, com o início da implantação do SUS. Foram de muito sofrimentos, dores físicas e emocionais insuportáveis, como a morte do filho em 1992 por falta de prevenção, equipamentos e responsabilidade profissional. Porém, com o avanço do sistema do SUS, as duas últimas gestações, 1994 e 1999, foram tranquilas e de grandes alegrias.
Fonte: https://bit.ly/2tb3TXz
Conheci melhor o SUS com implantação do Programa Saúde da Família. Foi ali que a comunidade local e eu tivemos acesso total a saúde. Agentes comunitários e equipe médica visitando casas, unidades de saúde mais próximos, campanhas de prevenção, acompanhamento a gestantes e grande alegria com o nascimento de irmãos, sobrinhos, primos… Agora sim, a Saúde era para todos. Utilizei o SUS em diferentes cidades dos três estados que já morei e sempre fui atendida dentro do sistema amplo que é o SUS. Algumas vezes muito bem atendida, outras vezes nem tanto, devido à falta de informação e capacitação de profissionais que trabalham no SUS, o que é ainda é um grande desafio.
A pouco tempo, não conhecia outra forma de saúde que não fosse o SUS e, atualmente, mesmo com plano de saúde, o SUS continua fazendo parte da minha vida e digo com orgulho que a melhor forma de saúde que conheço é o Sistema Único de Saúde, mesmo com as suas imperfeições na prática. A luta por saúde para todos com integridade, equidade e universalidade deve ser batalha de toda a população.
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A Identidade Cultural na Pós-Modernidade: para entender o contemporâneo
Stuart Hall, em sua obra “A Identidade Cultural na Pós-Modernidade”, fala inicialmente sobre a crise de identidade que permeia a vida dos indivíduos na sociedade. A crise de identidade segundo o autor é percebida como parte de um processo de mudança, a qual está interferindo nas estruturas, questões centrais das sociedades modernas e influenciando nos moldes de referência que serviam aos indivíduos como sustentação estável no mundo social. O autor deixa claro que sua intenção ao escrever o livro era de explorar questões relacionadas à crise de identidade cultural: como ela se dá, se essa crise existe e até mesmo quais as dimensões que a mesma está tomando.
Uma das hipóteses levantadas acerca dessa crise é a ideia de que as identidades modernas estão sendo descentradas, ou seja, separadas. Stuart debruça-se sobre esse argumento com o intuito de refletir e compreender quais as consequências dessa fragmentação, além de incrementar o texto com complexidades e análises das contradições que o termo “descentrar” desconsidera.
Fonte: http://zip.net/bttNpl
O livro foi organizado dividido em seis partes e no primeiro capítulo o autor discorre sobre “A Identidade em questão” expondo três definições de identidade: o sujeito iluminista; sujeito sociológico e do sujeito pós-moderno. O autor afirma que existe uma alteração na estrutura que está transformando a sociedade moderna do século XX. Essa mudança se dá a partir da dissolução do cenário cultural em termos de sexualidade, gênero, etnia, raça, etc. o que antes era uma base para o direcionamento como indivíduos sociais. Além disso, a identidade pessoal foi influenciada e agora as pessoas não têm mais um sentido de si, quer dizer, houve uma descentração/ deslocamento do sujeito.
Stuart também coloca que esse deslocamento do indivíduo tanto do seu lugar no mundo social e cultural quanto de si, propicia o surgimento de uma crise de identidade para o mesmo. Ele acrescenta que, se analisadas em conjunto, essas alterações podem significar sobretudo uma modificação da modernidade. Concordamos com essa hipótese, uma vez que as pessoas, em sua maioria, têm em mente a ideia de evolução. Talvez seja a globalização com o advento da tecnologia que subsidiou essa transformação conjunta dos vários aspectos sociais que formam o indivíduo atualmente e que está sendo trabalhado no livro.
De acordo com as concepções de identidade apresentadas pelo autor, o sujeito iluminista é individualista e centrado em si, dotado de razão. Assim, o centro para essas pessoas seria o próprio interior. No entanto, ao apresentar o sujeito sociológico, Stuart pontuou que somente o interior não era suficiente, e que nesse tipo de identidade, há a compreensão de que somos formados a partir da relação com as pessoas que mediam valores, símbolos e sentidos, característicos de uma cultura. Já o sujeito pós-moderno, é aquele que se modifica a partir da forma como é representado ou interpretado, ou seja, torna-se “uma celebração móvel”. Concluindo a primeira etapa da definição de identidade, o autor acredita que condição de permanência, a certeza e a continuidade, são condições que se desmancham no ar nestes tempos pós-modernos, o que justifica a mudança entre os extremos.
Fonte: http://zip.net/bhtMRs
É muito interessante quando o autor traz a ideia de que a “identidade plenamente unificada, completa, segura e coerente é uma fantasia” (HALL, 2013, p.13) e que os indivíduos possuem mais de uma identidade. Assim como ele, acreditamos que para as mais variadas situações, temos uma nova maneira de ser e agir na sociedade, ou seja, a nossa identidade não é coerente, uma vez que, a cada nova representação adquirida formamos várias identidades. Além disso, na visão do autor, as sociedades modernas mudam constante, rápida e permanente e é essa a principal diferença das sociedades tradicionais.
Na segunda parte “Nascimento e morte do sujeito moderno” surge o conceito de descentração do sujeito. Além disso, o autor trata de questões como os impactos da globalização sobre a identidade cultural.Stuart explicita de maneira clara e objetiva que a sua intenção nesse capítulo é mostrar como o sujeito humano é, passando pelos diversos processos que moldaram a sua identidade. O quando o sujeito era individual e centrado e aos poucos se tornou um ser interativo. Na sociedade moderna, o indivíduo já se mostra descentrado.
Nesse momento, o autor trata da morte do sujeito cartesiano, ou seja, sujeito racional, pensante e consciente, bem como cita algumas obras e autores que colaboraram com esse processo na modernidade tardia. Também, faz referência às obras e autores que de certo modo agitaram as bases do sujeito moderno e permitiram estabelecer os descentramentos, uma vez que suas ideias narram os deslocamentos do sujeito por meio de várias aberturas nos discursos do conhecimento moderno, as quais foram comentadas por ele com diferentes tipos de descentração do ser indivíduo.
A primeira descentração seria das tradições do pensamento marxista, a qual afirma que o ser humano faz a sua história somente a partir das condições que lhes são dadas. Já a segunda, surgiu a partir de Freud com a descoberta do inconsciente em que para ele a formação da identidade, sexualidade e desejos têm base em processos psíquicos do inconsciente humano. Ferdinand de Saussure colaborou com a perspectiva de que nós não somos os criadores das afirmações que fazemos, nem dos significados que expressamos na língua.
Fonte: http://zip.net/bttNpn
Michel Foucault colaborou para a definição do quarto modelo de descentramento que é o poder disciplinar, este se preocupa não somente com a vigilância e regulamentação da espécie humana, mas também com o indivíduo e o corpo. O quinto descentramento diz respeito ao impacto gerado pelo feminismo “tanto como crítica teórica quanto como um movimento social” (HALL, 2006, p.45), acreditamos que foi por meio desses novos conceitos que os movimentos sociais ganharam força na pós-modernidade. Stuart acredita que se considerarmos o sujeito do iluminismo como tendo uma identidade fixa e estável, perceberemos que foi descentrado, o que resultou nas várias identidades possíveis (sejam elas abertas, contraditórias, inacabadas ou fragmentadas) do sujeito pós-moderno.
No terceiro capítulo o autor vem falar das identidades culturais desse “sujeito fragmentado”, ou melhor, as identidades nacionais desse mesmo. Então ele faz uma pergunta mais especifica: “Como as identidades culturais nacionais estão sendo afetadas ou deslocadas pelo processo de globalização?” Para responder a pergunta Hall conceitua seu pensamento com duas citações, sendo uma de um escritor mais conservador e a outra de um autor mais liberal. Paralelas a essas, Hall se firma no pensamento mais conservador, que acredita que não nascemos com identidades nacionais mas que elas são formadas e transformadas pelas nossas representações.
Ao nos definirmos, algumas vezes dizemos que somos ingleses ou galeses ou indianos ou jamaicanos. Obviamente, ao fazer isso estamos falando de forma metafórica. Essas identidades não estão literalmente impressas em nossos genes. Entretanto, nós efetivamente pensamos nelas como se fossem parte de nossa natureza essencial (p.47).
Fonte: http://zip.net/bvtM56
Portando essa nacionalização da identidade se fez muito importante. Quando uma nação mergulha nessa identidade criam-se formas de apropriá-las, adjetiva-las. E torná-las um diferencial.
A formação de uma cultura nacional contribuiu para criar padrões de alfabetização universais, generalizou uma única língua vernacular como o meio dominante de comunicação em toda a nação, criou uma cultura homogênea e manteve instituições culturais nacionais, como, por exemplo, um sistema educacional nacional. Dessa e de outras formas, a cultura nacional se tornou uma característica-chave da industrialização e um dispositivo da modernidade (p.49).
Com o decorrer do texto o autor cogita uma nação imaginada, que as diferenças entre as nações encontram-se nas formas diferentes pelas quais elas são imaginadas. Logo mais ele menciona cinco elementos para responder a pergunta: “Como é contada a narrativa da cultura nacional?”.
A primeira é a Narrativa da Nação, “tal como é contada e recontada nas histórias e nas literaturas nacionais, na mídia e na cultura popular”. Já a segunda é a Ênfase nas Origens, “Está lá desde o nascimento, unificado e contínuo, “imutável” ao longo de todas as mudanças, eterno”. A terceira é cidadã por Hobsbawm e Ranger, que chamam de Invenção da Tradição. Posteriormente temos a quarta que é a do mito fundacional, “[…] origem da nação, […] [num passado tão distante que eles se perdem nas brumas do tempo, não do tempo “real”, mas de um tempo “mítico”].”. E por fim a quinta, que é simbolicamente fundamentada na ideia de um povo ou folk puro, “nas realidades do desenvolvimento nacional, é raramente esse povo (folk) primordial que persiste ou que exercita o poder”.
O discurso da cultura nacional não é, assim, tão moderno como aparenta ser. Ele constrói identidades que são colocadas, de modo ambíguo, entre o passado e o futuro. Ele se equilibra entre a tentação por retornar a glórias passadas e o impulso por avançar ainda mais em direção à modernidade (p.56).
A outra seção, ainda do mesmo capítulo, é voltada para a questão de saber se as culturas e as identidades nacionais que elas constroem são realmente unificada. O autor pede ainda para nos atentarmos aos três conceitos ressonantes daquilo que constitui uma cultura nacional como uma “comunidade imaginada”: as memórias do passado; o desejo por viver em conjunto; a perpetuação da herança.
Fonte: http://zip.net/bqtNFl
Anteriormente falamos das identidades nacionais, que foram alguma vez tão unificadas ou homogêneas quanto fazem crer as representações que delas se fazem. Porém, na história moderna, as culturas nacionais têm dominado essa “modernidade” e as identidades nacionais tendem a se sobrepor a outras fontes, mais particularistas, de identificação cultural.Ainda no início do quarto capítulo o autor faz o seguinte questionamento : “O que, então, está tão poderosamente deslocando as identidades culturais nacionais, agora, no fim do século XX?”
O mesmo logo dá a resposta: um complexo de processos e forças de mudança, que, por conveniência, pode ser sintetizado sob o termo “globalização”.Apesar da globalização não ser um fenômeno tão recente, ela vem tomando forças e alguns autores argumentam que o efeito geral desses processos globais tem sido o de enfraquecer ou solapar formas nacionais de identidade cultural.
Alguns teóricos culturais argumentam que a tendência em direção a uma maior interdependência global está levando ao colapso de todas as identidades culturais fortes e está produzindo aquela fragmentação de códigos culturais, aquela multiplicidade de estilos, aquela ênfase no efêmero, no flutuante, no impermanente e na diferença e no pluralismo cultural […] (p.73).
De certa forma o que está sendo discutido é a “tensão entre o “global” e o “local” na transformação das identidades.” As identidades nacionais, são as representações vinculados a lugares, eventos, símbolos, histórias particulares. “Elas representam o que algumas vezes é chamado de uma forma particularista de vínculo ou pertencimento”.
Stuart Hall se opõe à natureza fatalista que muitas pessoas atribuem à globalização, as quais a tratam como um movimento que aniquilaria as identidades locais devido à imposição de uma cultura homogênea sobre ela. Para ele, a grande mudança que vem em decorrência da globalização é simplesmente a forma com a qual o “local” e o “global” se relacionam. No entanto, Hall diz que esse referido “local” seria algo totalmente novo, bem como o “global” também o seria, não deixando nunca de se influenciarem mutuamente.
Fonte: http://zip.net/bmtMzf
Outro aspecto a ser analisado é aquele chamado de “geometria do poder, visto que de acordo com a distribuição social de cada localidade, a globalização acontece de formas diferentes para cada grupo, de acordo com suas particularidades, bem como o grau de acesso que tais indivíduos teriam a uma “cultura global”. Tal cultura, segundo o autor, se trataria de uma produção principalmente ocidental, que parte dos antigos países colonizadores, considerados o centro, para as suas antigas colônias, tratadas como “periferias”.
Para Hall, apesar da relação inegavelmente hierarquizada entre antigas metrópoles e suas colônias, a globalização acabava por colocar ambos frente a frente, estabelecendo assim uma relação entre ambas. Ele observa que apesar de tal dominância sócio-cultural, é nas grandes cidades globalizadas que se pode encontrar marcas de diversas outras culturas pelo mundo, como restaurantes especializados em comidas típicas dos cinco continentes, ainda que para os cidadãos de tais centros a origem de tais restaurantes sejam terras distantes paradas no tempo fantasiosamente criadas em suas mentes.
Um ponto importante a se trazer é que para o autor esses cenários distantes fantasiosos não existiriam desta forma justamente porque, apesar da discrepância de acesso em relação aos países desenvolvidos, tais lugares também se globalizam e pluralizam, ainda que em uma velocidade reduzida. Por motivos diversos, os países ocidentalizados vão deixando de fornecer somente bens de consumo aos periféricos, e passam a observar a chegada de tais populações em seus territórios. Essas novas ondas migratórias acarretam em mudanças drásticas na composição social de tais nações, com novas e variadas formas de pertencimento a tais territórios.
Fonte: http://zip.net/brtMFm
Como resposta mudanças bruscas em curtos espaços de tempo, surgem tanto uma busca dos ditos “exóticos” por uma identidade cultural, quanto movimentos reacionários por parte de determinadas camadas dominantes que se consideram prejudicadas por tais transformações. O fato é que tal variedade contribui para o surgimento de pluralidades, sejam políticas, sociais, culturais ou raciais, mesmo dentro de grupos razoavelmente homogêneos
É importante ressaltar que, para Stuart Hall, o grande fenômeno decorrente é o que ele chama de “tradução” de pessoas para novas culturas, visto que um indiano que viva na Inglaterra nunca deixaria de ter em sua formação os princípios trazidos de seu país de origem, mas também carregaria consigo novos princípios adquiridos no novo país. Considerando ainda que ele venha a ter filhos com uma pessoa de um terceiro país, as crianças seriam influenciadas em maior ou menor escala por um número ainda maior de referências culturais, o que enriqueceria ainda mais esta nova práxis globalizada.
FICHA TÉCNICA
Título Original: A Identidade Cultural na Pós-Modernidade Autor: Stuart Hall Editora: DP&A Ano: 2005
REFERÊNCIA:
HALL, Stuart. A Identidade Cultural na Pós-Modernidade. 10a. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2005.
Melhores Efeitos Visuais (Stephane Ceretti, Richard Bluff, Vincent Cirelli e Paul Corbould )
Doutor Estranho é um filme norte americano, baseado no personagem homônimo da Marvel Comics. Stephen Strange, é um bem-sucedido neurocirurgião, com um ego inflado. O filme retrata um homem, que vive para a profissão e para o umbigo. Sua arrogância o leva a desprezar as relações, inclusive com sua colega de trabalho e ex – namorada, Christine. A forma como Strange lida com o mundo, de forma prática e racional, nos mostra que parece se tratar de alguém com função principal sensação e auxiliar pensamento. Seu gosto apurado, sua relação apenas com o que é tangível e sua predileção pelo intelecto em detrimento do sentimento e das relações, mostram esses aspectos. O filme então ilustra o que ocorre, quando uma função principal se desgasta e é necessário desenvolver as demais, principalmente a inferior.
De um ponto de vista coletivo, podemos observar muito daquilo que é admirado no mundo ocidental: o homem com poder e prestígio externos, a realização profissional, a eficiência, o ter e os processos racionais e cognitivos. O irracional, a sensibilidade, o ser, a intuição e a alma, são desprezados pela cultura ocidental. O filme então, mostra uma crítica e uma mudança de paradigma. Strange perde o uso de suas mãos em um acidente de carro e isso me faz lembrar do conto de fadas A Donzela sem mãos, quando a mocinha tem suas mãos cortadas pelo pai que fez um pacto com o diabo.
De certa forma, Strange também vende sua alma ao diabo e faz um pacto infeliz com os valores externos em prol de sua alma. Ao perder o uso das mãos, ele perde sua capacidade de fazer algo no mundo externo. Ele perde sua capacidade de atuação e seus dons criativos. Ele precisou perder sua capacidade extrovertida de atuar para olhar de forma introvertida para aquilo que falta nele.
Em Catmandu, Nepal o feiticeiro Kaecilius e seus seguidores entram no composto secreto Kamar-Taj e assassinam seu bibliotecário, guardião de textos antigos e místicos. Eles roubam o ritual de um livro proibido pela Anciã, uma feiticeira que vive vários séculos e que ensinou a todos em Kamar-Taj, incluindo Kaecilius, nos modos das artes místicas. A Anciã persegue os traidores, mas Kaecilius e alguns de seus seguidores escapam com as páginas.
Sua ex-amante e colega de trabalho Christine Palmer tenta ajudá-lo a seguir em frente, mas o arrogante Strange quer desesperadamente curar seus ferimentos. Depois de meses tentando cirurgias experimentais em suas mãos, e usando todos os seus recursos, Strange ouve falar de Jonathan Pangborn, um paraplégico que misteriosamente foi capaz de andar novamente. Pangborn fala a Strange sobre o Kamar-Taj, no Nepal. Lá, outro feiticeiro, Karl Mordo, apresenta Strange à Anciã. A Anciã mostra à Strange o seu poder, revelando o plano astral e outras dimensões, como a Dimensão Espelhada. Strange implora para ela ensiná-lo, e ela finalmente concorda quando Mordo a lembra das forças da Dimensão Negra. Apesar da arrogância de Strange, ela finalmente aceita, o que a faz lembrar de Kaecilius.
Strange começa o seu ensinamento com a Anciã e Mordo, e aprende mais dos livros antigos na biblioteca, que agora é protegida pelo mestre Wong. Strange avança os meses estudando vários feitiços, se mostrando muito inteligente. Curioso, Stephen encontra o Olho de Agamotto e o usa para manipular o tempo numa maçã usando os feitiços descritos no livro proibido da Anciã. Mordo e Wong chegam a tempo de impedir ele de ir longe de mais com tanto poder em posse.
Strange fica confuso então Mordo e Wong explicam que a Terra é protegida de outras dimensões por um feitiço formado a partir de três blocos chamados Sanctum’s, encontrados em Nova York, Londres e Hong Kong. A tarefa dos feiticeiros é proteger os Sanctum’s, embora Pangborn escolheu a renunciar esta responsabilidade em favor de canalizar energia para andar de novo; Strange terá que decidir entre recuperar o uso de suas mãos ou defender o mundo.
Kaecilius e seus seguidores usam as páginas roubadas para começar a convocar o poderoso Dormammu da Dimensão Negra, onde o tempo não existe e todos podem viver para sempre. Isso destrói o Sanctum de Londres, e envia Strange de Kamar-Taj para o Sanctum de Nova York. Os seguidores de Kaecilius então atacam lá, onde Strange os mantém fora com o Místico Manto de Levitação. Strange é ferido por um dos seguidores de Kaecilius.
Ele viaja para o hospital onde trabalhava a procura de Christine enquanto o Manto da levitação da cobertura com um dos seguidores. Stephen sai do seu corpo, se tornando uma forma astral e ajudando Christine a reviver o seu corpo. Strange deixa Christine ao perceber que o seguidor de Kaecillius se livrou do manto ao mudar pra sua forma astral. Uma luta no hospital no mundo astral começa e Strange vence com ajuda de Christine.
Strange volta para o Sanctum de Nova York e encontra Mordo. Strange e Mordo tem uma pequena discussão quando Stephen revela que, segundo Kaecilius, a Anciã drena energia da Dimensão Negra para ter mais poder e longevidade. Eles confrontam Kaecilius e seus seguidores de novo pelas ruas e predios distorcidos de Nova York. A Anciã surge e enfrenta Kaecillius cara a cara e é ferida por ele, voltando ao mundo normal e caindo de praticamente 20 metros de altura. A Anciã é levada para o hospital e antes de morrer, no plano astral, conversa com Strange e dá um conselho que uma hora ele vai ter que quebrar certas regras como ela e então o deixa.
Stephen vai pedir a ajuda de Mordo e eles vão para o Sanctum de Hong Kong. Eles chegam lá e veem a cidade ser praticamente destruida pelo surgimento da Dimensão Negra. Strange usa o Olho de Agamotto para voltar no tempo e impedir que tudo aquilo acontecesse, salvando Wong, entretanto, Kaecillius e seus seguidores conseguem sair do feitiço temporal e, tentam impedir Strange de acabar com os seus planos.
Stephen vai para a Dimensão Negra e pede uma barganha entre ele e o senhor da Dimensão, Dormammu. Strange prende Dormammu em um loop temporal pra sempre e, Dormammu decide entrar em acordo com ele, tirando Kaecilius e seus seguidores da Terra. Desgostoso com as decisões de Strange e da Anciã, Mordo vai embora. Stephen devolve o Olho de Agamotto ao seu lugar e Wong cita que ela é uma Joia do Infinito. Strange vai para o Sanctum de Nova York onde com permissão de Wong, residiria como Guardião.
Em uma cena no meio dos créditos, Thor encontra-se no Sanctum de Nova York pedindo ajuda de Strange para encontrar Odin, junto com seu irmão Loki, que está desaparecido. Strange aceita ajudá-lo com a condição de que nunca mais volte á terra. Na cena pós-créditos, Mordo, após alguns meses viajando, vai a procura de Pangborn e absorve os poderes que ele tinha para permanecer andando e, Mordo fala que o mal do mundo é que existem feiticeiros de mais.
FICHA TÉCNICA DO FILME:
DOUTOR ESTRANHO
Direção e Roteiro: Scott Derrickson
Elenco: Benedict Cumberbatch, Tilda Swinton, Chiwetel Ejiofor, Mads Mikkelsen
Ano: 2016 País: EUA Classificação: 12
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O Menino e o Mundo: a distopia em suas possibilidades
Com direção e roteiro de Alê Abreu, em O menino e o mundo acompanhamos a história de um menino a espera da volta do seu pai, que rumou para a cidade grande em busca de novas oportunidades. Neste interlúdio, toda uma viagem é apresentada, com desafios, um mundo imaginário e fantástico, além de questões envolvendo sentimentos, sensações e decisões.
Nos últimos tempos cineastas brasileiros, ou profissionais com formação e atuação correlatas, assumiram a frente em interessantes trabalhos de curta duração e animações. Obras importantes podem ser mencionadas como detentoras deste legado, com premiações e indicações em diferentes premiações ao redor do mundo: Uma história de amor e fúria (2013), O céu no andar de baixo (2010), Céu, Inferno e outras parte do corpo (2011), Garoto Cósmico (2007), Cassiopeia (1996), O Grilo Feliz (2001), e muitos outros trabalhos, que circulam por longas e curtas-metragens de animação, tradicionais ou imagens alternativas.
O lançamento d’O menino e o mundo foi no mínimo curiosa. Sua produção remonta ao ano de 2010, e após um longo percurso para arrecadação de fundos, angariação técnica, aproximação de colaboradores, etc. o filme foi lançado em prévias em 2013e internacionalmente nos anos de 2014 e 2015. Por esta razão faz parte dos indicados ao Oscar e outros prêmios para o gênero animação na temporada de 2016. Até o momento a obra foi reconhecida, como vencedora ou indicada, em ocasiões como Annie Awards, Oscar, Festival de Annecy, Grande Prêmio Brasileiro de Cinema, Grande Prêmio de Monstra em Lisboa etc.
Escrevi um primeiro argumento muito livremente, costurando idéias soltas: Cuca levado pelo vento, o encontro do menino com um velho, a partida do pai, mistério numa fábrica abandonada etc. Mas sempre incorporadas ao pano de fundo, que era a situação apresentada em Canto Latino, e buscando encontrar ali uma linha que os unisse numa história. […]Fazia anotações, esboços em um caderno de rascunho e depois transformava estas idéias em pequenos trechos de história, que eram incorporados ao bloco do filme. Ao mesmo tempo experimentava sons e trechos de músicas como referência e já brincava com a própria montagem (ABREU, 2011, s\n).
Como já é costumeiro, o sucesso internacional corroborou para o olhar da crítica se voltar para o longa. Assistido por menos de 40 mil espectadores no Brasil, na França este número ultrapassou a marca dos 100 mil em poucas semanas., conseguindo grande bilheteria em países como Canadá, Japão e outros mercados fora do eixo americano e oeste europeu.
No caso d’O menino e o mundo não há, felizmente, todo o velamento da realidade opressiva e angustiante da metrópole aos viventes dos aglomerados urbanos, principalmente com concentração de baixa renda e diversos problemas citadinos. Temos uma distopia diante de nós, mas o seu reverso também está lá, pelas cores, imagens e representações que denotam esta dialética. Esta postura de negação da realidade, pelos reforços estereotípicos do Brasil, ocorreu recentemente por outra animação, nos constrangedores filmes Rio, que em certo ponto escalaram tantos arquétipos tortuosos do país que fica difícil defendê-lo além destes lugares comuns.
Neste ponto há outro destaque para a obra de Abreu, que é o traço, o apuro das gravuras, os movimentos, os sons, tudo está orquestrado de modo a apresenta rum caminho para a imersão do espectador na obra. Há uma delicadeza e sutileza nos desenhos, nos planos imagéticos, incrementos sonoros e todo o envolvimento da narrativa com seus personagens e cenas, tornando a experiência de assistir o filme algo único e inesquecível.
Inspirações em grandes mestres da animação e desenhistas de Hayao Miyazaki, Katsuhiro Otomo, Satoshi Kon a Charles Schulz e Mauricio de Souza são perceptíveis na obra de Abreu, fortalecendo-a como uma verdadeira obra-prima nacional, justamente por lidar com um cenário, público e mercado que não estão acostumados com sua linguagem e profundidade.
E cabe aqui uma menção aberta ao cinema nacional brasileiro. Não é de hoje que as fórmulas de grande potencial publicitário caminham distantes da qualidade, em prol da quantidade. O ponto fora da curva fica por conta do já distante duo Tropa de Elite (2007; 2010), comandados por Wagner Moura e o diretor José Padilha, as demais obras de grande caibre financeiro em investimentos e distribuição sequer são dignas de nota.
A fuga da realidade
Há algum tempo o cinema independente do Brasil vem fazendo investidas em temáticas sobre a existência nas grandes cidades. Solidão, solidariedade, angústia, desamores, o cotidiano urbano, dentre outros campos são explorados em obras de rico espectro reflexivo: O homem das multidões (2014), O Homem que Copiava (2003), Edifício Master (2002) e A Busca (2013), etc. Filmes que furaram uma bolha de extremos, entre os grandes lançamentos, americanos principalmente, e duvidosas obras nacionais sustentadas por interesses muito distantes da qualidade cinematográfica merecida pelo público e profissionais da sétima arte.
Obras como O menino e o mundo mostram e provam, explícita e implicitamente, que o cinema brasileiro pode sim superar seus arquétipos e estereótipos: as favelizações, o nordeste (com um caricato e desrespeitoso regionalismo), o ufanismo edênico há muito servido como pano de fundo ideológico para a nação; as recentes e constrangedoras comédias sustentadas com leis de incentivo cultural dignas de repúdio em seus critérios de apoio e patrocínio, dentre outros.
Lembrando, os clichês existem em todas as linguagens da arte, e assim o são porque são devires da sociedade – a refletem, representam e reinventam pelos tempos e espaços –, é preciso revistá-los sempre, mas de forma original e construtiva, e não apenas como recurso fugidio para a falta de criatividade ou em busca de aceitação popular e retorno monetário.
É preciso valorizar a criatividade das animações brasileiras, que demonstraram, e o continuam fazendo, em várias ocasiões. Não seria exagero estabelecer nossos artistas em grandes escolas de animações já consagradas, como a japonesa, alemã e francesa, riqueza esta passível de constatação em cada novo projeto lançado, independente da plataforma, linguagem, escala popular ou alcance financeiro, se o pulso das novas fronteiras do cinema brasileiro pulsa com todo o seu vigor, um destes lugares reside nas animações como O menino e o mundo que poderia ser muito mais do que já é, uma obra-prima da animação nacional. E mesmo que chegue a ganhar prêmios de maior escala como o Oscar, certamente ainda veremos anos de esquecimento e ostracismo para grandes obras, excelentes filmes, e inovadoras possibilidades, como é esta singular estória contada por Alê Abreu.
REFERÊNCIAS:
O MENINO E O MUNDO. Roteiro e Direção de Alê Abreu. Filme de Papel e Espaço Filmes. 2015. 85 min.
Melhor Filme, Melhor Diretor (Wes Anderson), Melhor Roteiro Original, Melhor Edição, Melhor Fotografia, Melhor Figurino, Melhor Direção de Arte, Melhor Maquiagem e Melhor Trilha Sonora Original.
Precisamos ensinar a juventude a odiar o ódio, porque ele é infértil e destrói o prazer da existência – Stefan Zweig
Baseado na obra de Stefan Zweig (1881 – 1942) e com a brilhante direção de Wes Anderson, “O Grande Hotel Budapeste” é um presente aos amantes da Sétima Arte. O filme, dentre outros aspectos, tem uma estética tocante e é uma síntese do pensamento de Zweig sobre a Europa do entre-guerras, que à época estava marcada pela desconfiança, por violência, pelo tom de superioridade em relação ao resto do mundo, tom este balizado pela falsidade e, em medida análoga, “hipnotizada por antigos rancores e lembranças”. Ralph Fiennes (personagem de M. Gustave), Tony Revolori (Zéro), F. Murray Abraham (Mr. Moustafa), Mathieu Amalric (Serge X.), Adrien Brody (Dmitri), Saoirse Ronan (Agatha) e Willem Dafoe (Jopling) foram alguns dos atores/atrizes que fizeram parte do “time” que deu um brilho a mais para o longa.
O filme conta a estória de um “famoso gerente de um hotel europeu que conhece um jovem empregado” [imigrante], e daí nasce uma grande amizade. Entre as aventuras e desventuras vividas pelos dois, há episódios eletrizantes (até mesmo cômicos) como o roubo de um famoso quadro do Renascimento, além de testemunharem “a batalha pela grande fortuna de uma família e vivenciarem as transformações históricas ocorridas na região”.
Mas sem a engenhosidade do diretor Wes Anderson talvez “O Grande Hotel Budapeste” não teria alcançado seu intento nos cinemas. Wes conseguiu transpor para a grande tela a dinâmica de intrigas testemunhadas por Zweig, desavenças estas que varreram a Europa de aproximadamente 100 anos atrás, uma verdadeira “Babel” onde o idealismo “havia sido corroído” pelo crescente interesse na divisão das fronteiras, que exacerbava a diferença e o nacionalismo. Período em que a variedade estaria longe de se tornar um caldeirão cultural sadio, como sonharam alguns líderes políticos no pós-guerra.
No longa, três aspectos saltam aos olhos: o imigrante como esperança e representação “do novo”, o enfoque na transformação pela amizade e, por fim, a (re)ação por meio da resiliência¹.
ESPERANÇA NO ALÉM-FRONTEIRAS
Neste ínterim, a visão de Stefan Zweig sobre o “além-fronteiras” é mantida, já que Zéro é a caricatura, em alguma medida, da solidariedade e da humanidade ainda encontradas no Novo Mundo ou nos países explorados economicamente pela Europa, em sua política de colonização. Zéro, assim, aparece esperançosamente como um “jovem com frescor, que vive para o futuro, não para o passado com suas ideias obsoletas” (ZWEIG, 1936, p. 03).
O desenrolar e amadurecimento da forte amizade entre os principais personagens, mesmo diante de um cenário “encoberto pela névoa venenosa da desconfiança” (ZWEIG, 1936, p. 04), representa o sonho de Zweig, que exortava seus contemporâneos a se privar
De qualquer palavra que possa aumentar a desconfiança entre pessoas e nações; ao contrário, temos o dever positivo de agarrar a menor oportunidade para julgar as realizações de outras raças, outros povos e países de acordo com o seu mérito (ZWEIG, 1936, p. 06).
A ação redentora para superar a adversidade e desenvolver a resiliência (tanto do imigrante Zéro quanto do esmerado gerente M. Gustave) seria ancorada na afeição. É através da amizade que os preconceitos se desarmam, e a confiança aos poucos se sobrepõe, dando à vida contornos de autenticidade.
E desta pujante relação fraterna, o longa conseguiu captar parte da percepção de Stefan Zweig, que mesmo desacreditado com o Velho Mundo, impôs na obra a possibilidade de se manter algum grau de idealismo, mesmo na pior das circunstâncias. Isso em oposição à própria barbárie decorrente da expansão do nazismo e do antissemitismo (Zweig era judeu), se colocando aparentemente como uma espécie de “idealismo ético”, em que pese o caráter da ação no campo do particular, por parte dos protagonistas.
ENFOQUE NO SUJEITO QUE NÃO SE VITIMIZA
Zweig imprime nos personagens o início mesmo do enfoque no sujeito (aqui, no sentido filosófico), que apesar de estar embebido na velocidade das transformações histórico-políticas da ocasião, percebe claramente “o seu lugar no mundo”, mantendo a altivez e transformando as circunstâncias em oportunidades de superação. Pena que o próprio Zweig não suportou as atrocidades nazistas, acabando por se suicidar – ele e a esposa – em seu exílio em Petrópolis-RJ.
M. Gustave e Zéro delineiam a “atitude resiliente”, aquela que opta por “minimizar ou superar os efeitos nocivos das adversidades, inclusive saindo fortalecidos dessas situações” (ANGST, p. 254 apud MOTA, BENEVIDES-PEREIRA, GOMES & ARAÚJO [2006, p. 58]). No entanto, como lembra Rosana Angst:
É importante salientar que a resiliência não pode ser considerada um escudo protetor, que fará com que nenhum problema atinja essa pessoa, a tornando rígida e resistente a todas as adversidades. Não existe uma pessoa que É resiliente, mas sim a que ESTÁ resiliente (ANGST, 2009, p. 254).
M. Gustave e Zéro não ficam imunes aos problemas, eles são transformados por estes contratempos sem se posicionarem como vítimas. No final, estão profundamente impactados. Abraçam as circunstâncias adversas, sempre procurando encontrar soluções, num processo que é enérgico e onde “as influências do ambiente e do indivíduo relacionam-se de maneira recíproca, fazendo com que o indivíduo identifique qual a melhor atitude a ser tomada em determinado contexto” (ANGST, 2009, p. 255 apud PINHEIRO, 2004; ASSIS, PESCE & AVANCI, 2006).
Angst também lembra que “a resiliência não é adquirida, e sim aprendida”. No caso de Zéro e M. Gustave, há a forte influência mútua, decorrente da amizade, onde ambos saem ganhando, num arcabouço de “complementaridade ideal”. Zéro, apesar de jovem, esteve em contato com a guerra (e tudo o que dela resulta, como perseguição, doença e morte); M. Gustave tem a sagacidade de anos como gerente de um hotel que é símbolo da instabilidade regional (embora, no passado, fosse um retrato da opulência europeia).
No ato final, o que se vê é a solidificação da fraternidade, a expressão mesma da amizade, onde se percebe “um relacionamento humano que envolve o conhecimento e a afeição, além de uma lealdade que se confunde com altruísmo”. Como filme impecável, “O Grande Hotel Budapeste” poderia ser resumido num fragmento do “Soneto do amigo”, de Vinícius de Moraes, para quem “[…] depois de tanto erro passado / Tantas retaliações, tanto perigo / Eis que ressurge noutro o velho amigo / Nunca perdido, sempre reencontrado”. E a força dos protagonistas lembra uma tocante frase de outro judeu-austríaco, inventor da Psicanálise. Para Sigmund Freud, “somos feitos de carne, mas temos de viver como se fôssemos de ferro”. O tempo inteiro, em seus 100 minutos, o filme alerta para esta máxima.
O longa ainda lembra uma célebre frase de um grande conterrâneo de Zweig, o também austríaco Franz Kafka, para quem toda obra de arte, como um bom livro ou um bom filme, por exemplo, “tem que ser como um machado para quebrar o mar de gelo que há dentro de nós”. Ninguém, presume-se, passa incólume ao assistir “O Grande Hotel Budapeste”.
Nota:
¹ – Resilliência é capacidade de se recobrar facilmente ou se adaptar à má sorte ou às mudanças. O termo é emprestado da física, de onde significa a propriedade que alguns corpos apresentam de retornar à forma original após terem sido submetidos a uma deformação elástica. Fonte: Dicionário Houaiss. Disponível em <http://houaiss.uol.com.br/busca?palavra=resili%25C3%25AAncia> – Acesso em 01/01/2015 (somente com senha).
Direção: Wes Anderson Atores/atrizes: Ralph Fiennes, Tony Revolori, F. Murray Abraham, Mathieu Amalric, Adrien Brody, Willem Dafoe, Jude Law, Bill Murray, Edward Norton, Saoirse Ronan, Jason Schwartzman e Tilda Swinton, dentre outros; Gênero: Comédia, Drama, Policial; Nacionalidade: Reino Unido, Alemanha Ano: 2014
Curiosidades sobre Stefan Zweig
* Stefan Zweig é de família judia e nasceu em 28 de novembro de 1881, em Viena (até então Império Austro-Húngaro); com o avanço da escalada de violência na Europa, no entre-guerras, e o antissemitismo nazista, resolve sair da região;
* Zweig foi um dos maiores escritores de seu tempo, e até hoje está entre os autores mais publicados e traduzidos da Europa; o filme “O Grande Hotel Budapeste” é baseado em relatos de sua vida, e em partes de sua obra;
* Zweig e sua esposa Lotte empreenderam três viagens ao Brasil. Finalmente se exilaram no país, por considerarem um dos lugares mais fascinantes do mundo. Ele é autor do famoso livro “Brasil, o país do futuro”, frase que virou jargão e representa o símbolo do orgulho nacional;
* Grande divulgador dos ideais pacifistas, em 1942, deprimido com o crescimento da intolerância na Europa e em comum acordo com a esposa, se suicida em Petrópolis;
* A casa onde Stefan Zweig e sua esposa Lotte moraram na região serrana do Rio de Janeiro foi transformada em museu, e também em Memorial do Exílio. Petrópolis ficou mundialmente famosa após o fatídico acontecimento, que “eternizou a ansiedade e o desespero de um mundo em guerra e sem esperança”.
Angst, ROSANA. Psicologia e Resiliência: Uma revisão de literatura. Disponível em <www2.pucpr.br/reol/index.php/PA?dd1=3252&dd99=pdf> – Acesso em 31/12/2014;
ZWEIG, Stefan. Um ensaio – A Unidade Espiritual do Mundo. São Paulo: Expresso Zahar, 2014;