TCC e o manejo clínico dos transtornos de ansiedade

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Transtornos de ansiedade. A primeira parte desse nome pode assustar a maioria das pessoas que buscam acompanhamento psicológico, como se essa palavra “transtorno” fosse uma sentença. É com esse primeiro e aparente pequeno detalhe que o manejo clínico já precisa dispor de fatores comuns de eficácia: relação terapêutica.

É fato que por questões históricas muito bem apresentadas na construção da psiquiatria, da psicologia e da psicopatologia termos que se relacionam com “doença mental” foram pareados com a ideia de tratamentos desumanos, desrespeitosos e totalmente distantes da ciência e da empatia (Zorzanelli, Bezerra Jr.,Costa, 2014). Aqui começa o desafio que por mais que se exija muito do fator comum já citado, precisa de acréscimos: desconstruir a visão unicamente catastrófica do que é ter um diagnóstico de transtorno mental; fornecer dados de conhecimento concisos que diferenciem a ansiedade emoção normal da ansiedade desregulada nos quadros patológicos e engajar aquele indivíduo que há muito acredita que aqueles sintomas são impossíveis de serem remitidos.

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Partindo do tratamento em terapia cognitivo comportamental (TCC), em que cada transtorno de ansiedade específico haverá particularidades, alguns denominadores em comum valem a pena serem ressaltados.

O primeiro “denominador comum” no tratamento dos transtornos de ansiedade na perspectiva da TCC é um dos seus próprios pilares: a TCC é educativa. Esse pilar tem como objetivo tornar o paciente um indivíduo autônomo, capaz de usar as habilidades desenvolvidas em terapia no seu dia a dia (Beck, 2021). Ao especificar um transtorno de ansiedade, esse pilar ganha funções extras, antes das muitas habilidades a serem trabalhadas e desenvolvidas, o paciente precisa conhecer o próprio transtorno: de forma didática e personalizada o indivíduo conhecerá, ao lado do psicólogo, como funciona cognitivamente e fisiologicamente uma resposta de ansiedade, compreenderá o que são emoções (sendo ansiedade uma), poderá visualizar como funciona o transtorno de ansiedade dentro do modelo de funcionamento cognitivo ( situação-pensamento-emoção-comportamento), compreenderá fatores que pioram e que mantém essa condição ativada, assim como conhecerá de forma colaborativa (outro pilar da TCC) e terá acesso de forma realmente clara a como funcionará o tratamento dele. Com essa faceta educativa, também cabe ao psicólogo explicar também, e aí a importância de estar alinhado com o profissional da psiquiatria, o funcionamento e a importância da medicação quando houver prescrição indicada pelo profissional da medicina para o tratamento. Essa característica educativa da TCC exige do profissional uma compreensão completa acerca dos transtornos.

            Esse entendimento completo por parte do psicólogo é necessária de forma anterior ao processo educativo, a noção de sinais e sintomas, fatores de personalidade que podem ser risco para o desenvolvimento do transtorno, funções psíquicas e suas alterações mais comuns em transtornos de ansiedade e topografia geral do paciente (Dalgalarrondo,2018; Payne,Ellard, Farchione,Barlow, 2023), além de compreender o Manual Diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM-5-TR). Por mais que a compreensão de todos esses aspectos possa levar a uma interpretação mecânica e fria, a ideia é fazer um uso correto, coerente e verdadeiramente acolhedor de todas essas informações na fase de avaliação.

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É fundamental entender que independente de qual é especificamente o transtorno de ansiedade, é comum que o indivíduo apresente um ou mais sintomas físicos. É também possível a presença de ataques de pânico sem o diagnóstico do Transtorno de Pânico, definido por sintomas físicos relevantes e prejudiciais (APA,2023). Essas observações acerca dos sintomas físicos são necessárias para avaliar quais e em que momentos do tratamento serão necessárias técnicas de relaxamento, técnicas de atenção plena e de regulação, e mesmo quantas vezes será necessário repeti-las em sessão e em planos de ação (outro princípio da TCC) (Beck,2021).

Como por definição os Transtornos de ansiedade se caracterizam pelo excesso de medo, ansiedade, e perturbações do comportamento que se relacionem a essas duas emoções, é usual que aconteça o estado de constante vigilância, prejuízos nos estudos, trabalho e relacionamentos; comportamentos a fim de evitar os estímulos geradores de ansiedade e cansaço constante diante de todo esse cenário; são casos que exigem um cuidado e avaliação contumaz com relação ao risco de suicídio (APA,2023). Com essa avaliação, mesmo que os sintomas de ansiedade gerem muitos prejuízos, é necessário hierarquizar as prioridades do tratamento, uma tomada de decisão clínica pensada independente do referencial teórico da TCC, mas pautada na importância da vida daquele que está em acompanhamento (Ortega,2015).

Mesmo com a necessidade de avaliar risco de suicídio, avaliar a presença de transtornos comórbidos, hierarquizar e montar o plano de tratamento, o fator comum como relação terapêutica continua se fazendo necessário. O princípio da TCC de ser educativa também segue como pilar do tratamento, assim como os princípios de colaboração ativa do paciente e do psicólogo, que também envolve explicar/engajar o paciente sobre a importância disso.

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Outros denominadores comuns nos tratamentos dos transtornos de ansiedade são:

Análise funcional do comportamento: como em cada t. de ansiedade os conteúdos de preocupação, medo e ansiedade são diferentes, cada análise terá a ramificação dessas especificidades, mas em todas há a relevância de descobrir em colaboração com o paciente o que antecede os momentos de pisco de desconforto emocional e quais são suas respostas cognitivas,comportamentais,fisiológicas, para avaliar reforçadores/mantenedores dos comportamentos disfuncionais (Craske,Taylor,Barlow 2023;Aderka,Hoffman,2023;Roemer,Eustis,Orsillo,2023;Payne,Ellard,Farchione,Barlow,2023).

Reestruturação Cognitiva: além de cada transtornos apresentar características especificas, cada paciente também terá sua particularidade com relação às ideias/conceitos e regras que formulou sobre si mesmo, sobre as situações ansiogênicas,sobre enfrentamento, terapia e outros fatores. A base geral é também encontrar de forma colaborativa quais são os estilos de pensamentos e quais são as crenças nucleares e intermediárias que mantém os prejuízos de funcionamento diários relacionados ao transtorno (Beck,2021; Egan, Wade, Shafran, 2011; Leahy, Tirch, Napolitano, 2013).

Relaxamento: não apenas para a regulação dos sintomas físicos, mas como aliado na reestruturação cognitiva, no próprio processo de compreender sobre o transtorno e sobre o tratamento, o paciente pode aprender um arsenal de técnicas de relaxamento como respiração diafragmática, descrição de ambiente, relaxamento muscular progressivo de Jacobson e tantas outras (Craske et al.,2023).

Exposição: são diferentes exposições e diferentes proporções delas para cada transtorno de ansiedade, mas como a principal estratégica comportamental nesses casos é evitar situações de ansiedade, ao longo do tratamento o paciente fará exposições graduais e direcionadas pelos protocolos e pelo psicólogo aos estímulos ansiogênicos (estímulos esses que são compreendidos de forma colaborativa entre paciente e psicólogo e que não são apenas geradores de ansiedade, mas que façam parte do contexto da vida do paciente e quando evitados geram prejuízos reais) (Craske et al.,2023). As exposições, como são graduais, contam com uma hierarquia estabelecida entre paciente e psicólogo.

O manejo clínico para os transtornos de ansiedade exige um processo de avaliação que forneça segurança para o psicólogo, de forma colaborativa com o paciente, estabelecer o plano de tratamento pensando no todo. Dados os prejuízos funcionais gerados por esse grupo de transtornos o zelo e o entendimento das dificuldades do indivíduo são fundamentais, uma boa relação terapêutica é necessária do início ao fim, e esse fim do tratamento é visualizado através de mais um princípio da TCC: o monitoramento de progresso. Com instrumentos psicométricos, diários de sintomas, registros de pensamento ou qualquer outra ferramenta de monitoramento psicólogo e paciente monitoram os avanços e resultados da terapia, para quando atingidas as metas, remitidos os sintomas e feito todo o processo de prevenção de recaída, o paciente possa receber alta e finalizar seu tratamento (Beck,2021).

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Por mais que a descrição do texto seja pautada no tratamento sobre a perspectiva teórica da terapia cognitivo comportamental, é necessário ressaltar que a construção do raciocínio clínico pode se construir através de três pilares: a busca pela melhor evidência disponível para o tratamento, o aprofundamento profissional (estudos, expertise, formações, supervisão e outros), e os valores e contexto do paciente respeitados e aliados ao tratamento (Leonardi, 2015).

Em síntese, é fundamental realizar uma avaliação completa e conhecer de forma colaborativa tudo que envolve o funcionamento do transtorno de ansiedade e o contexto geral do paciente; compreender desde a história de vida até histórico médico. Nutrir de maneira verdadeira a relação terapêutica e desenvolver o raciocínio clínico que realmente fornecerá melhora significativa na qualidade de vida da pessoa que buscou ajuda psicológica.

 

Referências

Beck, J. S. (2021).Terapia cognitivo-comportamental: teoria e prática. Porto Alegre: Artmed.

Craske, M.G. Taylor, K.W.Barlow,D. (2023). Transtorno de Pânico e agorafobia. In Barlow, D. (org.), Manual clínico dos transtornos psicológicos (6ª ed., Cap.1, pp.1-58). Porto Alegre: Artmed.

Dalgalarrondo, P.(2018).Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais.Porto Alegre. Artmed.

Ardeka, I.M.Hoffman,S.G. (2023). Ansiedade Social: uma abordagem de tratamento baseada no processo. In Barlow, D. (org.), Manual clínico dos transtornos psicológicos (6ª ed., Cap.3, pp.99-122). Porto Alegre: Artmed.

Roemer,L. Eustis, E.H.Orsillo,S.M. (2023).Transtorno de Ansiedade Generalizada: uma terapia comportamental baseada na aceitação. In Barlow, D. (org.), Manual clínico dos transtornos psicológicos ( 6ª ed., Cap.5, pp.169-200). Porto Alegre: Artmed.

Payne, A.L. Ellard,K.K. Farchione, T.J. Barlow, D.H. (2023).Transtornos emocionais: um protocol unificado para o tratamento transdiagnóstico. In Barlow, D. (org.), Manual clínico dos transtornos psicológicos ( 6ª ed., Cap.6, pp.201-238). Porto Alegre: Artmed.

Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5 TR. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2023.

Ortega, N. J. (2015).Crise suicida: avaliação e manejo.Porto Alegre. Artmed.

Leahy, Robert L; Tirch, Dennis; Napolitano, Lisa, A.(2013). Regulação emocional em psicoterapia: um guia para o terapeuta cognitivo-comportamental. Porto Alegre: Artmed.

Egan, S. J., Wade, T. D., & Shafran, R. (2011). Perfectionism as a transdiagnostic process: A clinical review. Clinical psychology review31(2), 203-212.

Leonardi, J. L., & Meyer, S. B. (2015). Prática baseada em evidências em psicologia e a história da busca pelas provas empíricas da eficácia das psicoterapias. Psicologia: ciência e profissão35, 1139-1156.

Banzato, C. E. M., Pereira, M. E. C., Zorzanelli, R., Bezerra Jr, B., & Costa, J. F. (2014). A criação de diagnósticos na psiquiatria contemporânea.

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Relato de um jovem adulto ansioso

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A ansiedade patológica sempre fez parte da minha vida, me lembro que desde pequeno me via ansioso por não saber o que iria acontecer no futuro, por não ter controle sobre tudo e também ao esperar uma resposta.

Quando era mais jovem eu não me dava conta de que isto se tratava de um problema, não fazia parte da minha realidade discutir sobre os meus pensamentos, ações, inseguranças, medos, e a forma como afetam minha vida pessoal e social. Para mim, era apenas uma preocupação excessiva e que nunca iria me fazer chegar em um ponto crítico.

A ansiedade faz parte da vida de todas as pessoas, é importante saber que ela em alguns aspectos serve como um instinto de sobrevivência diante de situações que nos causam medo ou insegurança, mas há momentos em que a ansiedade persiste por mais tempo, causando desconforto e sintomas de vigilância persistentes. O DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) diferencia a ansiedade e o medo que embora tenham respostas parecidas, se diferenciam na antecipação da ameaça futura em casos de ansiedade, e no medo, a resposta emocional acontece com a ameaça real que está presente no momento.

Quando me dei conta de que estar ansioso afetava minha motivação, pensamentos e atitudes, já estava em um ponto muito crítico. Já não conseguia mais controlar minhas emoções, chorava constantemente, me preocupava com tantas coisas, com o meu futuro, amigos, família, casamento, formatura e eram tantos pensamentos que sentia que minha cabeça pesava mais que o corpo.

A única coisa que conseguia fazer era chegar do trabalho, deitar e chorar. Tentava dormir, mas os pensamentos estavam a mil por hora. Tinha dias que eu saía mais cedo do trabalho pois não me sentia bem, diversas vezes tive crises de choro, dificuldades para dormir, para concentrar nas atividades, sentia muito medo, agonia, e uma sensação de que em qualquer momento eu poderia morrer. Alguns desses sintomas aconteciam no meio do expediente do trabalho, no meio das aulas que assistia, que acabou me prejudicando no meu estágio também, pois diante das crises e do medo, não conseguia produzir com frequência.

Fonte: encr.pw/lVOX3

Sentia como se os dias estivessem apenas passando e eu não conseguisse aproveitar nada. Isso foi em 2021, e durante esse período, já frequentava a psicoterapia.  Durante o período da terapia, entrei na academia, mas não me sentia motivado. Logo as crises e os pensamentos automáticos voltavam e eu me sentia como se estivesse preso em uma tristeza profunda.

Eu me perguntava várias vezes como que um aluno de psicologia que frequenta terapia não conseguia sair dessas crises de ansiedade, como que tantas pessoas conseguiam e até demonstravam parecer fácil, mas para mim não era.

Foi então que decidi buscar a ajuda de um psiquiatra também, pois sabia que eu necessitava, afinal tinha certeza que eu apresentava não “apenas” crises e sim, um transtorno de ansiedade.

Após o início do tratamento com o psiquiatra, tive que fazer o uso de algumas medicações e logo nas primeiras semanas me senti bem melhor. Pude experimentar o prazer de pensar uma coisa de cada vez e não tive mais crises intensas. Me senti menos ansioso, mais calmo e pude me concentrar mais nas minhas atividades. As sessões de psicoterapia se tornaram mais prazerosas e era como se eu pudesse enxergar de verdade, sem os problemas atrapalhando o andamento da rotina diária.

Depois do início do tratamento me veio aquele questionamento sobre o porquê não busquei tratamento antes. Mas toda a minha experiência não foi em vão. Pude perceber que a ansiedade quando não tratada e em níveis patológicos pode sim trazer malefícios ao indivíduo no seu contexto mental, físico e social.

É de suma importância buscar ajuda em situações como essa. Não devemos negligenciar a nossa saúde mental. Buscar um profissional de psicologia e um psiquiatra é essencial. Hoje me sinto muito melhor. Não tive mais crises, consigo lidar com as preocupações, me sinto mais leve e disposto para cumprir a rotina diária e continuar seguindo em frente.

Não há nada melhor que a beleza da vida, viver um dia de cada vez rumo aos objetivos.

Referências

Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. DSM-5. 5. ed. Porto Alegre, Artmed, 2014.

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A Ansiedade Tóxica

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Na atual conjuntura em que se vive muitos momentos de ansiedade motivados por vários acontecimentos, principalmente da pandemia, pensei de deixar algo sobre o assunto, para tanto me deparei com um livro muito interessante. Em ansiedade tóxica, capítulo do livro “Emoções Tóxicas”, o autor Bernardo Stamateas faz nos lembrar de que a ansiedade, assim como as demais emoções, não pode nos tirar do foco e nem mesmo daquilo que almejamos. Para tanto sugere técnicas e estratégias simples de como lhe dar com esse sentimento.

O capítulo do livro é subdividido em 06 partes.  Inicialmente o texto traz uma discussão do que é ansiedade, posteriormente ressalta em que se está pensando, questiona por que dizem que somos ansiosos, questiona se ansiedade e estresse são as mesmas coisas e ainda dar sugestão de algumas atitudes que nos levarão a grandes mudanças, bem como ressalta que tudo começa no nosso interior.  Os capítulos são bibliográficos, cita pesquisa e usa fábula para melhor entendimento daquilo que deseja expressar, estes últimos não farão parte deste texto.

De início o autor argumenta que a ansiedade é a emoção que surge quando se sente a aproximação de alguma ameaça, quando se visualiza o futuro de forma negativa e com isso se prepara para enfrentá-lo. Ela se manifesta primeiramente na nossa mente e posteriormente no nosso corpo. A exemplo, antes de algo ficamos inquietos e depois surgem as dores de cabeça, o mal-estar no estômago, o suor, dentre outros.

A ansiedade como algo normal nos instiga a enfrentarmos uma pressão externa, os temores que surgem nos preservam diante de uma ameaça ou perigo. Mas o que ocorre quando saímos de momentos de ansiedade e vivemos ansiosos? O ansioso em cada situação nova, cada mudança, vive uma tortura com grande sofrimento interior.  Isso dar origem a ansiedade crônica, sendo vista como tóxica, podendo levar ao desânimo, tristeza e ainda a depressão, ou viver sempre acelerado. Par tanto a ansiedade é um estado emocional tóxico que faz a pessoa se tornar inquieta e temerosa.

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O autor afirma ainda que a ansiedade na espera de alguma coisa dar origem ao desânimo e ainda leva a pessoa a pensar que nada tem sentido ou vale a pena. Ela não somente traz impedimento a experimentar emoções positivas, como alegria ou amor, como também impede que desfrutemos de forma plena a vida. Tudo começa nos pensamentos, estes o cérebro de maneira errada interpreta como reais. Mesmo que a nossa razão nos mostre que não são verdadeiros, acreditamos nesses pensamentos em nível emocional, ou seja, sentimos que são reais. Se o nosso cérebro achar que vai acontecer algo ruim, dar início ao envio de sintomas de ansiedade.  Assim evitemos aquilo que não nos serve, descartando assim tudo o que intoxica nossas emoções.

Outro ponto defendido pelo autor é que a ansiedade é uma emoção tóxica muito comum atualmente. Quando somos ansiosos não somente nossa mente é emoções ficam afetadas, mas também nosso corpo.  É possível que esteja passando na nossa cabeça decisões que precisamos tomar, escolhas para fazer, palavras a serem ditas, ou ainda estejamos fugindo de situações ou de pessoas que precisamos encarar. Nosso corpo é consciente disso, mesmo que queiramos negar ou ocultar a verdade. O ansioso procura todas as formas de acalmar essa emoção tóxica, para isso, recorre a coisas como comida, trabalho em excesso, ou ainda, automedicação.  De uma forma geral os sintomas mais comuns da ansiedade são: medo ou temor, preocupação, insegurança, apreensão, dificuldades para tomar decisão, problemas de concentração, insônia, sensação de perda de controle da vida ou do meio que o rodeia, perda de interesse, hiperatividade, gagueira, movimentos bruscos, tiques nervosos.

Com o passar dos dias se a ansiedade não for tratada de maneira apropriada, pode comprometer seriamente a saúde, dando origem assim aos transtornos de ansiedade, nestes estão inclusos pânico, obsessão-compulsiva e variados tipos de fobias. Dentre os sintomas mais graves da ansiedade estão as palpitações, sensação de falta de ar, pressão arterial alta, problemas digestivos, náuseas, tensão muscular, diarreia, dor de cabeça, suor excessivo, dentre outros. Pensando nisso, nossa mente necessita de um descanso, devemos oferecer-lhe um pouco de paz, quando conseguirmos relaxar, todas as coisas que instigava uma ansiedade ilimitada em nós, retornará a estar sob nosso controle.

Outro ponto em destaque pelo autor é quando se fala em ansiedade e estresse, será se está falando a mesma coisa?  De uma forma geral todos necessitamos ser pressionados em nossa vida, isso não tem nada de tóxico, como ser humano precisamos de uma tensão básica. No entanto, quando a pressão ou os estímulos são muitos e todos juntos ou poucos, mas por um grande período, ou a combinação de ambos, produz-se um desequilíbrio, surgindo daí o estresse. A situação dependerá do tempo e da intensidade que é vivida. Vivenciar um momento estressante não é a mesma coisa de viver estressado.  Um instante de estresse é normal, inesperado e ocasionado pelo meio externo, enquanto viver estressado é tóxico, procurado e ocasionado por nós mesmos, que passou a ser um hábito e “não conseguimos” viver de outra forma.

Fonte: Imagem por user18526052 no Freepik

O estresse surge quando há questões externas de forma demasiada e o nosso organismo não consegue enfrentá-las. É uma tensão, uma coação física e mental, que termina rompendo o equilíbrio. No momento em que o corpo recebe um estímulo, dois hormônios são ativados a adrenalina e o cortisol. A adrenalina gera energia e força, fazendo que nos sintamos imortais, a energia aumenta, acelera o nível de excitação, desejo e entusiasmo. Quando acontece algo e isso é ativado em doses altas e de forma frequente, isso torna-se um veneno. O cortisol é um hormônio bom, no entanto quando aumenta de maneira excessiva o nível de açúcar no sangue, isso pode ocasionar um aumento de peso e perda de cálcio, magnésio e potássio nos ossos.   Todos temos uma reação os estímulos de forma diferente, os acontecimentos de nossas vidas dependerão de como interpretamos cada um deles.

O autor ressalta ainda que está livre da toxicidade da ansiedade é algo alcançável por nós.  Assim sugere algumas atitudes que nos levará a mudanças que ficarão enraizadas em nossos costumes e ainda servirão para reduzirmos o estresse, ficando assim livres da ansiedade tóxica. Dentre as sugestões estão começar verificando quais as fontes da ansiedade; tomar a iniciativa de abandonar as coisas que nos tiram a paz; desfrutar da vida de forma plena e calma; desenvolver hábitos que levem a sentir a paz de espírito, alma e corpo; evitar notícias ruins todo tempo, dedicar-se a um bom livro; aprender algo novo diariamente; cuidar da saúde e do corpo; procurar dormir e comer bem; incluir rotina de atividades físicas; distanciar-se de gente tóxica; aproximar-se de pessoas com mentalidade positiva; mudar o foco; falar de forma positiva; manter um registro escrito; rir um pouco todos os dias; esperar sempre o melhor; visualizar-se como uma pessoa de sucesso.

Para finalizar o autor afirma que todas as coisas começam dentro de nós, se estivermos em paz conosco e com os demais nada nos tirará do nosso lugar. Assim é indispensável buscarmos a paz, batalharmos para consegui-la e decidirmos mantê-la, independente do que ocorra ao nosso redor.  Viemos a este mundo para sermos livres, não devemos ser escravos de coisa alguma nem de ninguém.  Devemos nos atentar para as coisas importantes, que aumentam nossa energia; as secundárias nos retiram. Ninguém pode retirar a felicidade de nós, não a roubemos de nós mesmos através de emoções tóxicas. Nos permitamos ser felizes, festejemos a vida, podemos nos livrar da ansiedade.

Fonte: Imagem por storyset no Freepik

REFERÊNCIA

STAMATEAS. B. Ansiedade tóxica. In: STAMATEAS. B. Emoções tóxicas. 2010. p.11-19. Disponível em: <https://fliphtml5.com/fckra/uxec/basic>. Acesso em: 01 dez 2021.

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Caos 2021: Gerenciamento de crises de ansiedade no contexto pandêmico

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No dia 04 de novembro de 2021, das 19h às 21h, ocorrerá o minicurso: Gerenciamento de crises de ansiedade no contexto pandêmico.  Este acontecerá no segundo dia do Congresso Acadêmico de Saberes em Psicologia – CAOS, conduzido por Elisandra Silveira Rodrigues, que vai abordar sobre contextos de crises: manejo e assistência a pessoas em risco iminente em suicídio.

Com a vinda da pandemia o novo modo e adaptação de vida, a formas on-line de estudar, muitas pessoas desenvolveram ainda mais as crises de ansiedade. Os impactos da pandemia de COVID-19 na saúde mental podem apresentar desde reações normais e esperadas de estresse agudo por conta das adaptações à nova rotina, que foi o que aconteceu com muitos. A nossa facilitadora irá abordar mais profundo sobre isso que afetou muitas pessoas, e apresentar as formas de assistência que podemos dar a pessoas em risco iminente em suicídio.

Fonte: encurtador.com.br/cmpsO

Durante uma pandemia é esperado que as pessoas estejam frequentemente em estado de alerta, preocupadas, confusas, estressadas e com sensação de falta de controle diante das incertezas do momento. Estima-se que entre um terço e metade da população exposta a uma epidemia pode vir a sofrer alguma manifestação psicopatológica, caso não seja feita nenhuma intervenção de cuidado específico para as reações e sintomas manifestados. Com isso é importante destacar que nem todos os problemas psicológicos e sociais apresentados poderão ser qualificados como doenças; a maioria será classificada como reações normais diante de uma situação anormal. Reações mais frequentes como adoecer e morrer, perder pessoas estimadas, Transmitir o vírus a outras pessoas. É esperada também que as pessoas vivenciem sensações recorrentes de impotência, irritabilidade, angústia, tristeza.

Como a Prevenção do suicídio abrange desde a oferta das condições mais adequadas para o atendimento e tratamento efetivo das pessoas em sofrimento psíquico até o controle ambiental dos fatores de risco. São elementos de divulgação e informações apropriadas. Com a pandemia muitas pessoas tiveram gatilhos que se desenvolveram em grandes crises de ansiedade e ideação suicida. E estamos aqui para mostrar e falar das recomendações e orientações para nossa saúde mental, e que vc jamais estará sozinho.

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Dorama “O que houve com a secretária Kim?” é um gênero doce e que fala de coisas sérias

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Todos os momentos foram você. Quando eu amei, e quando senti dor. Até mesmo em nossas despedidas, você era o mundo inteiro para mim. Sem você… Eu não acho que possa explicar toda a minha vida até agora.
Lee Young-joon

Não é raro nos dias de hoje as pessoas ainda se derreterem por um belo romance, daqueles que nos fazem sorrir, chorar, amar aqueles personagens fofos e lindos, odiar aqueles personagens malvados e se frustrar bastante com uma shippagem errada. Assim são as famosas novelas asiáticas mais conhecidas como J- Dramas (Japones); K-Drama (Coerano); TW- Drama (Taiwan), de modo geral são os Doramas. Mais nem só de romance é falado nos Doramas. Eles falam sobre a luta dos personagens para lidar com as vidas duras (na Ásia nem tudo são flores), ainda mais na Coreia do Sul, que para sobreviver em muitos casos deve-se ter muitos empregos de meio período, estudar muitas horas para poder entrar em uma universidade e ainda tentar um emprego estável. Também retratam a importância de valorizar sua cultura, vista nas comidas típicas (quem não gosta de um miojo), nos ritos fúnebres e no reconhecimento de suas famílias (na Coreia as pessoas levam primeiro o sobrenome, para mostrar a importância de suas famílias). E no mais mostram a realidade do país, como a busca pela beleza (a Coreia tem um dos maiores índices de cirurgias plásticas do mundo). Quem não conhece o grande sucesso de Bandas Sul coreanas como o BTS e BLACKPINK, sendo fruto desse grande rigor de perfeição na Ásia e no mundo todo.

Além disso, os Doramas retratam mesmo de forma leve temas sérios como traumas e transtornos mentais. Eles mostram que nem tudo consegue ser perfeito, todos podem passar por traumas e desenvolver vidas complexas, mesmo quem tem muito dinheiro ou pessoas próximas. Isso é uma das coisas que se passa no Dorama “O que houve com a secretária Kim?”.

A estória se inicia de forma glamurosa em uma festa, onde se encontra a elite da Coreia, lá é visto um ser peculiar, Lee Yeong Joon, um CEO de uma grande empresa. Apesar de toda a perfeição retratada no personagem, ele possui muitos segredos e medos dos quais prefere não falar, como por exemplo não aceita ser tocado por outras mulheres que não seja sua secretária Kim Mi So. Yeong Joon é ainda um homem narcisista, que se preocupa muito com sua aparência e com sua empresa, é ainda uma pessoa que não gosta muito de relações sociais, diferente de Mi So sendo uma secretária bastante qualificada, amada por todos na empresa e por sua família, que depois de nove anos trabalhando para ele decide pedir demissão. É aí que a história começa a se desenrolar; vendo que irá perder sua secretária fiel Yeong Joon decide sair de sua zona de conforto e fazer de tudo para não perder sua companheira.

No decorrer dos episódios é possível perceber que a estória dos dois personagens não aconteceu por acaso. Quando crianças ambos passaram por eventos traumáticos que mudariam suas vidas. Kim Mi So, desenvolve fobia de aranha e seu chefe de ser amarrado. Ambos se encontravam em uma situação estressante e antigênica, causando medo. O medo é uma resposta adaptativa do organismo, que se manifesta em situações ameaçadoras. Porém, quando o medo se torna mais intenso do que a situação justificaria, ou começa a ocorrer em situações impróprias, caracteriza-se um transtorno de ansiedade (MARKS, 1987; ÖHMAN, 1993). Neste caso os dois desenvolveram transtornos de ansiedade especifico, sendo desenvolvido diante de situações adversas, do qual o medo é expressado pela presença de estímulos aversivos (situação fóbica). A fobia é ainda definida como um medo persistente, desproporcional e irracional de um estímulo que não oferece perigo real ao indivíduo (OMS, 1993). Envolvendo ansiedade antecipatória, medo dos sintomas físicos e esquiva e fuga (ARAUJO, 2011). Quando o medo excessivo apresenta estímulo definido, denomina-se fobia específica (LOTUFO NETO, 2011).

Na personagem Mi So houve o transtorno de ansiedade chamado de aracnofobia, considerada uma das mais comuns fobias específicas.

Os sintomas da aracnofobia são similares aos das outras fobias de animais. Por exemplo, sujeitos aracnofóbicos se esquivam de locais onde sabem que habitam aranhas ou onde já observaram aranhas e mostram comportamento de fuga e reações de ansiedade quando se deparam com aranhas (GRANADO, PELÁEZ, GARCIA-MIJARES, p. 126, 2005).

Já a fobia de Lee Yeong Joon é desenvolvida por ter sido amarrado contra sua vontade e de experimentar um medo diante da situação. Não tendo recebido tratamento adequado na época, por querer proteger sua família e fugir de sua realidade, prefere evitar qualquer estímulo que o lembre da situação aversiva. Magee. et al (1996), afirma que os pacientes que não procuram atendimento médico psiquiátrico em função desse tipo de fobia, podem apresentar comorbidades ou outros transtornos. Isso se deve ao fato de a fobia, geralmente, estar associada a um sofrimento mais leve ou a uma menor interferência no funcionamento pessoal do que os demais diagnósticos (TERRA, GARCEZ, NOLL, 2007). Por isso o personagem evidencia uma personalidade narcisista, a fim de evitar expor sua condição “vulnerável”.

O tratamento para este tipo de transtorno é feito atrás de terapia nas abordagens comportamentais e em caso de agravo é necessário também auxílio de medicação. Mas tudo ainda dependerá do nível da intensidade e da predominância do medo. No que tange a terapia pode haver estratégias como dessensibilizarão sistemática.  A dessensibilização sistemática, baseada na extinção, no contracondicionamento e na habituação visa eliminar os comportamentos de medo e evitação com emissão de respostas assertivas (TURNER, 2002). Nela, o cliente é levado à exposição gradativa ao objeto fóbico, precedida pelo relaxamento (VERA, VILA, 2002). Wright, Basco e Thase (2008) destacam que, para promover respostas contrárias à ansiedade, inicialmente é necessário aprender as técnicas de relaxamento e a respiração diafragmática. Também pode haver reestruturação cognitiva das crenças e pensamentos que levam ao medo, substituindo-as por cognições mais realistas e assertivas e psicoeducação, que para Knapp (2004), ensina o cliente sobre a terapia, seus pressupostos e sobre o transtorno.

O que então faz com que esses dois possam superar tais complicações em suas vidas? Parece até clichê, mas é algo a ser valorizado, ainda mais porque ambos se encontravam em grande sofrimento por não poderem viver suas vidas como gostariam. A secretária Kim sempre quis conhecer o garoto que lhe salvou a vida na infância, e Yeong Joo só queria poder passar por cima de tudo e estar perto de sua amada. Ambos tiveram as vidas marcadas por situações adversas, mas apenas o bom e velho clichê do Amor é que fez tudo fazer sentido.

FICHA TÉCNICA:

O QUE HOUVE COM A SECRETÁRIA KIM?

Direção: Park Joon-Hwa
Elenco: Park Min Young; Park Seo Joon;
Ano: 2018
País: Coreia do Sul
Gênero: Comédia, Romance, Drama

REFERÊNCIAS:

GRANADO, L. C. PELÁEZ, F. J. R. GARCIA-MIJARES, M. Estudo no contexto brasileiro de três questionários para avaliar aracnofobia. Aval. psicol. v.4 n.2 Porto Alegre nov. 2005.

KNAPP, P. (2004). Principais técnicas. In P. Knapp (Org.), Terapia cognitivo-comportamental na prática clínica (pp. 133-158). Porto Alegre. Artmed.

LOTUFO NETO, F. Fobias específicas. In B. Rangé (Org.), Psicoterapias cognitivo-comportamentais: Um diálogo com a psiquiatria (pp. 19-310). Porto Alegre: Artmed. 2011.

MAGEE, W.J. et al. Agoraphobia, simple phobia, and social phobia in the National Comorbidity SurveyArch Gen Psychiatry 53(2): 159-168, 1996.

MARKS, I. Fear, Phobias And Rituals: Panic, Anxiety And Their Disorders. New York: Oxford University Press, 1987.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE – OMS. Classificação de transtornos mentais e de comportamento da CID-10: Descrições clinicas e diretrizes diagnósticas. Porto Alegre: Artmed. 1993.

ÖHMAN, A. & SOARES, J. F. On the automatic nature of phobic fear: conditioned electrodermal responses to masked fear-relevant stimuli. Journal of Abnormal Psychology, 102 (1), 121-132. 1993.

TERRA, M. B.; GARCEZ, J. P.; NOLL, B. Fobia específica: um estudo transversal com 103 pacientes tratados em ambulatório. Rev. psiquiatr. clín. vol.34 no.2 São Paulo 2007.

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WRIGHT, J. H., BASCO, M. B., & THASE, M. E. Aprendendo a terapia cognitivo-comportamental: Um guia ilustrado. Porto Alegre: Artmed. 2008.

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It – Uma Obra-Prima do Medo: o palhaço e os medos da infância

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“Crianças, a ficção é a verdade dentro da mentira, e a verdade desta ficção é bem simples: a magia existe.”
Stephen King

Stephen King e a obra-prima do medo

Este escritor é, talvez, a maior referência mundial no gênero terror/terror psicológico. Suas obras fazem jus ao sobrenome que soa tão assustador hoje em dia. Agora, imagine aos 19 anos, quando começou sua carreira como autor. Inspirado em obras como Hobbit, de J. R. R. Tolkien, o jovem King tentou criar o seu próprio universo, ser diferente, não se prender ao que havia lido e aprendido, por mais fascinante que fosse.

Uma curiosidade é que parte de suas histórias são ambientadas ou tem algum tipo de ligação com o estado do Maine, Estados Unidos, local onde nasceu. Por exemplo, as adaptações como Conta Comigo (1986), Cemitério Maldito (1989) e It: Uma Obra Prima do Medo (1990) se passam, de alguma forma, nesta localidade. Ou seja, não são apenas universos, mas ninhos, como se tudo tivesse acontecido com o próprio Stephen King.

O autor também tem a “mania” de criar personagens que o representam nos contos. Em “It”, o personagem William Denbrough (Jonathan Brandis) é um garoto que escreve contos de terror e sonha ser escritor. Já tinha feito isso com Gordie Lancaster (Wil Wheaton), em “Conta Comigo”. É uma forma mais enfática de mostrar a todos como funcionam seus pensamentos, como ele reagiu ou reagiria às situações que apresenta.

Curiosidades à parte, Stephen King é conhecido não só pelo talento em criar sensações de medo nos leitores/espectadores, mas por dar vida ou poder às coisas. Pennywise, por exemplo, é fruto da aversão coletiva instaurada após John Wayne Gacy ter assassinado mais de 30 crianças, em Chicago, se fantasiando de palhaço para atraí-las. E o filme aborda bem isso, já que “A coisa” também é um tipo de espírito maligno que se aproveita da inocência de indefesos.

Com o iminente lançamento do remake de It, King foi alvo de inúmeras críticas de palhaços profissionais. Para eles, o filme afeta o julgamento do público quanto à profissão, denegrindo suas imagens e, por consequência, influencia nos negócios. Em resposta, em seu perfil oficial no Twitter, o escritor disse:

Os palhaços estão com raiva de mim. Desculpem, a maioria (deles) são ótimos. Mas… crianças sempre tiveram medo de palhaços. Não matem os mensageiros pela mensagem

Stephen King.

Se pararmos para pensar, o autor tem razão. Em algum momento de nossas vidas sentimos medo de coisas ou seres de aparência amigável e que não deveriam representar um tipo de ameaça. Então, por que ainda sentimos medo?

O medo e as respostas emocionais condicionadas

Algo certamente curioso são os motivos pelos quais as pessoas sentem emoções, nesse caso o medo e aversão. Segundo Moreira e Medeiros (2007), os reflexos e respostas emocionais inatos são uma forma mínima de preparação para interagirmos com o ambiente que nos cerca, em relação de valor com a sobrevivência. As emoções não surgem “do nada”, precisam de um determinado contexto e interagem com nossa fisiologia, sendo em grande parte relações entre estímulos e respostas (comportamentos respondentes, ou seja, não controláveis).

Com os estudos Ivan Pavlov sobre os reflexos, atualmente sabe-se que os organismos podem aprender novos reflexos, e a isso se deu o nome Condicionamento Pavloviano. Desse modo, se os organismos podem aprender novos reflexos, também podem aprender a sentir emoções que não estavam em seu repertório comportamental quando nasceram (MOREIRA; MEDEIROS, 2007).

No filme, um grupo de amigos de infância é convidado a se reunir novamente em sua cidade natal, Derry, pelo único membro que permaneceu morando ali por todos esses anos, Mike Hanlon. Mike os convoca a cumprir uma promessa que fizeram quando crianças: regressar se “It” ou “A Coisa” voltasse a atacar. A partir desse ponto, o espectador passa a descobrir aos poucos quem é Pennywise e o que aconteceu em Derry.

Assim como ocorre naturalmente durante o desenvolvimento, Os Sete Sortudos (Lucky Seven originalmente) também aprenderam seus medos. O medo de cada um deles possuí características diferentes, que foram exploradas por Pennywise. Sobre o aprendizado do medo, no ano de 1920, James B. Watson (1878 – 1958) ficou conhecido com o caso do pequeno Albert e o rato. Watson tinha a intenção de verificar se o Condicionamento Pavloviano (aprendizagem de novos reflexos) teria utilidade no estudo de emoções.

Watson realizou seu experimento com Albert, um bebê de dez meses, para o qual foi apresentado um rato, do qual ele não apresentava medo (MOREIRA; MEDEIROS, 2007).  Emparelhou-se então o estímulo do rato com um barulho alto, o que fazia com que Albert se assustasse e chorasse. Após emparelhamentos sucessivos, somente a presença do rato fazia com que Albert tivesse medo. Com isso, Watson provou que as emoções podem ser aprendidas e modeladas (MOREIRA; MEDEIROS, 2007).

Cada flashback para a infância dos personagens mostra ataques “personalizados” que Pennywise realizou: como o medo que Richie tinha de Lobisomens, devido a um filme de terror; o ataque contra Eddie nos chuveiros, envolvendo sua vergonha quanto ao seu corpo e biotipo; e a experiência que Bill teve com a perda de seu irmão, relembrada no ataque que sofreu. O medo e a aversão tanto de Albert, quanto das crianças do filme, possuem a mesma natureza: Experiências condicionantes.

Coulrofobia: o medo de palhaços

De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V), a Coulrofobia (fobia de palhaços) se encaixa na categoria de Fobias Especificas nos Transtornos de Ansiedade. A característica essencial das fobias específicas é medo ou ansiedade acentuados acerca do objeto ou situação (estímulo fóbico), nesse caso, envolvendo figuras que representem palhaços. “O medo, ansiedade ou esquiva causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo” (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014, p. 197).

Seu desenvolvimento pode ser ocasionado geralmente por eventos traumáticos, observação de outras pessoas que passam por um evento traumático, um ataque de pânico inesperado na situação que virá a ser temida ou ainda por transmissão de informações (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014). Dessa maneira, a polêmica envolvendo tanto o filme de Tommy Lee Wallace, quanto o livro de King, se deu pelo aumento de casos de Coulrofobia, principalmente nos Estados Unidos.

“Eu sou todo pesadelo que você já teve.”

 

Essa série de elementos aversivos para os personagens também têm um apelo para o espectador (vale aqui uma menção à cena do bueiro, por exemplo), somado à aparência e comportamento de Pennywise, incomodam em um horror diferente do convencional. Ao invés dos sustos sucessivos comuns nos filmes do gênero, IT tem o poder de literalmente perturbar e afligir a quem assiste, algo que seria um ponto interessante a ser explorado no reboot de 2017, que infelizmente não contará com a empolgante atuação de Tim Curry.

REFERÊNCIAS:

MOREIRA, Márcio Borges; DE MEDEIROS, Carlos Augusto. Princípios básicos de análise do comportamento. Artmed Editora, 2009.

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V). Trad. Márcia Inês Corrêa Nascimento et. al. 5. ed.  Artmed, 2014.

FICHA TÉCNICA DO FILME:

IT – UMA OBRA-PRIMA DO MEDO

Diretor: Tommy Lee Wallace
Elenco: Tim Curry, Richard Thomas, Annette O’Toole, Jonathan Brandis, Brandon Crane;
País: EUA
Ano: 1990
Classificação: 16

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A Gravidez e os Transtornos de Ansiedade

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Os Transtornos de Ansiedade são um interesse para muitas áreas da psicologia, em especial durante a gestação, que é um período crítico para a mulher no que tange aos aspectos biológicos, físicos e psicológicos, que passam por inúmeras mudanças. Aumentando ainda mais esse anseio, está o fato da gestação consistir na origem do desenvolvimento do ser humano. Apesar das várias condições sociais, econômicas e religiosas entre gestantes do mundo todo, bem como o papel da mulher no meio onde vive, a gestação deve transcorrer da melhor maneira possível, fato que pode ser prejudicado pelo adoecimento psicológico (FREGONESE, 2014).

Fonte: http://zip.net/bwtHC2

 

O conceito de ligação mãe-bebê como não sendo apenas biológico é relativamente recente. Com o surgimento da psicologia como ciência, e o concomitante desmembramento de suas áreas, inferiu-se a correlação entre a saúde psicológica e biológica do indivíduo, portanto, quando as doenças psicológicas acometem o indivíduo, sua saúde mental também influencia a saúde física. Essa contingência, continua durante a gravidez, sendo agravada pelo fato de haver um indivíduo ligado à gestante ansiosa, totalmente depende dela no aspecto desenvolvimental (FREGONESE, 2014).

A ansiedade patológica consiste em uma experiência que ocupa um papel funcional na interação humana com o meio ambiente, podendo ocorrer também como sintoma de várias doenças, como distúrbio psiquiátrico ou sob a forma de “stress”. O conceito de ansiedade patológica é, portanto, diferente do sentimento de ansiedade (CASTILLO et al., 2000). Segundo Cury (2013) a ansiedade causada pela Síndrome do Pensamento Acelerado deve ser considerada o mal do século, atribuindo à sociedade moderna a responsabilidade por uma alteração no ritmo de construção dos pensamentos, gerando consequências para a saúde psicológica.

Fonte: http://zip.net/brtH54

 

Ansiedade é um sentimento repulsivo de medo, angústia, que caracterizado por tensão ou inquietude proveniente de antecipação de perigo, de algo desconhecido ou estranho, passando a ser considerado patológico quando é desproporcional em relação a sua causa ou estímulo, ou qualitativamente divergente do que se espera como norma da faixa etária do indivíduo, passando a interferir na qualidade de vida, conforto emocional ou o desempenho diário (CASTILLO et al., 2000).

Todos os Transtornos de Ansiedade têm como principal manifestação um alto nível de ansiedade. O Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais (1994), IV Revisão (DSM-IV), classifica como transtornos de ansiedade: Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), Transtorno do Pânico, Fobia Social (FS), Transtorno Obsessivo-compulsivo (TOC), Fobias Específicas e Transtorno de Estresse Pós-traumático (TEPT).

Vinculação biopsicológica entre o bebê e a mãe ansiosa

Desde a fase embrionária, a gestante se encontra ligada biologicamente ao pequeno ser sendo gestado dentro dela. A mulher defronta-se no processo de mudança para a parentalidade, com tarefas condicionantes para sua adaptação à situação, sendo a ligação com o feto uma delas. Na vinculação pré-natal, que ocorre a partir do início da gravidez, a gestante se imagina progressivamente no papel de mãe assim como idealiza uma imagem e representação cognitiva do bebê (SAMORINHA; FIGUEIREDO; MATOS, 2009).

Fonte: http://zip.net/bgtH6n

 

A gravidez representa um período de grande sensibilidade no ciclo vital feminino, envolvendo grandes transformações fisiológicas, psíquicas e do papel familiar e social da mulher, como apontam Correia e Linhares (2007), tais mudanças podem servir de catalisadoras para um quadro de instabilidade emocional da gestante, seja no desenvolvimento de uma desordem patológica ou com o agravamento ou manifestação de uma desordem que já pré-existe. A exposição do bebê à psicopatologia da mãe, em casos de transtorno de ansiedade, no período pré-natal pode causar efeitos nocivos à sua saúde e desenvolvimento (CORREIA; LINHARES, 2007).

Entende-se por gestação o desenvolvimento desde a concepção até o nascimento. A fecundação é a união de um espermatozóide com um óvulo, formando assim um ovo que inicia o processo de multiplicação celular. O ovo se dirige ao útero, em busca de um lugar para se fixar, com circulação sanguínea capaz de oferecer oxigenação e alimentação, sendo formado então um novo tecido, a placenta, que é responsável pela fixação do ovo à parede do útero (MALDONADO; DICKSTEIN; NAHOUM, 2000).

Fonte: http://zip.net/bytJx2

 

Durante a gravidez, o organismo feminino produz hormônios sexuais e não-sexuais pela placenta, o que pode trazer mudanças orgânicas e comportamentais significativas, não condizentes com os comportamentos habituais. Verificando os sintomas comuns no primeiro trimestre, muitas vezes, devido à delicadeza da situação a gestante poderá passar por mudanças de comportamento (BAPTISTA; BAPTISTA; TORRES, 2006).

Nesse sentido, Fregonese (2014, p. 18) afirma que “durante a gestação os níveis de estrógeno e progesterona são superiores àqueles vistos nas mulheres fora do período gestacional e esse fator pode estar envolvido nas alterações de humor que ocorrem nessa fase”, salientando a influência do aumento dos níveis hormonais na gestante, portanto aumentando a possibilidade de instabilidade psicológica.

A gestante está exposta a preocupações como: alterações corporais que podem ser permanentes, modificações permanentes de personalidade, com a aproximação do parto, cirurgia, dores, medo de morrer, e mudanças na sua rotina de vida diária após o nascimento do bebê (BAPTISTA; BAPTISTA; TORRES, 2006). Essas preocupações são esperadas e recorrentes, porém podem propiciar o início da ansiedade patológica.

Fonte: http://zip.net/bmtHZM

 

No contexto histórico, Fregonese (2014) afirma que nunca foi dada a atenção devida à saúde mental da gestante pelos profissionais da área, atribuindo o fato à crença popular de que a gravidez é um período de bem-estar e satisfação para a mulher, tendo baixa propensão para doenças psiquiátricas. “A prevalência de transtornos de humor e ansiosos são maiores no período gestacional em relação ao período pós-parto, com isso a gravidez não protege as mulheres do adoecimento mental” (FREGONESE, 2014, p. 16).

Complicações desenvolvimentais e obstétricas relacionadas à ansiedade e efeitos em indivíduos gestados por mulheres ansiosas

Perante o contexto de desequilíbrio psicológico, a mulher em período pré-natal apresenta com maior intensidade os sintomas ansiosos. Diversos estudos buscaram compreender as implicações da ansiedade no desenvolvimento pré-natal e nas complicações obstétricas. Conforme Fregonese (2014):

As mulheres diagnosticadas com desordem de ansiedade pré-natal apresentaram maior probabilidade de complicações obstétricas durante a gravidez. Por sua vez, as complicações atuaram como estressores crônicos durante a gestação. A ansiedade materna foi considerada como fator de risco ao desenvolvimento normal do feto. Fetos de mães com alto nível de ansiedade apresentaram altas taxas de batimentos cardíacos quando comparados aos fetos de mães com baixo nível de ansiedade. Desse modo, a ansiedade materna pré-natal contribui na predição de problemas comportamentais e emocionais em crianças avaliadas aos quatro anos de idade. (FREGONESE, 2014, p. 17)

Fonte: http://zip.net/bwtHC8

 

Mães que apresentaram ansiedade tiveram também, filhos com maior probabilidade para desenvolver depressão e transtornos de comportamento na adolescência (FREGONESE, 2014). Analisando apenas bebês nascidos a termo, entende-se que os níveis desenvolvimentais do bebê se apresentam inversamente proporcionais aos níveis de ansiedade materna.

Portanto, acredita-se que a situação psicológica da mãe, com a saúde mental fragilizada pelos efeitos de transtornos de ansiedade, influencie negativamente o bebê, que durante o período pré-natal encontra-se dependente da mãe para qualquer ação no sentido desenvolvimental, passando por vários momentos críticos nessas fases delicadas, que podem ser afetadas.

REFERÊNCIAS:

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Diagnostic and statistical manual of mental  disorders. 4. ed. Washington, 1994.

BAPTISTA, Makilim Nunes; BAPTISTA, Said Daher; TORRES, Erika Cristina Rodrigues. Associação entre suporte social, depressão e ansiedade em gestantes. Revista de Psicologia da Vetor Editora, v. 7, n. 1, p. 39-48, Jan.  2006. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/pdf/psic/v7n1/v7n1a06.pdf>. Acesso em 31 de mai. 2016.

CASTILLO, Ana Regina G.L; RECONDO, Rogéria; ASBAHR, Fernando R; MANFRO, Gisele G. Transtornos de ansiedade. Revista Brasileira de Psiquiatria, Rio de Janeiro, v.22, n. 2, p. 20-23, 2000. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbp/v22s2/3791.pdf>. Acesso em 31 de mai. 2016.

CORREIA, Luciana Leonetti; LINHARES, Maria Beatriz Martins. Ansiedade materna nos períodos pré e pós-natal: Revisão da literatura. Revista Latino-Americana de Enfermagem, São Paulo, v. 15, jul. 2007. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/rlae/v15n4/pt_v15n4a24.pdf>. Acesso em 27 de mai. 2016.

CURY, Augusto. Ansiedade– Como enfrentar o mal do século. São Paulo: Saraiva, 2013.

FREGONESE, Adriana Aparecida. Gestantes de Alto Risco com e sem histórico de óbito fetal ou neonatal: sintomas de ansiedade e depressão, capacidade para o relacionamento com o feto e estratégias de enfrentamento. São Paulo: Biblioteca Central da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, 2014.

MALDONADO, M. T; DICKSTEIN, J; NAHOUM, J.C. Nós estamos grávidos. São Paulo: Saraiva, 2000.

SAMORINHA, Catarina. FIGUEIREDO, Bárbara. MATOS, José Cruz. Vinculção pré-natal e ansiedade em mães e pais: Impacto da ecografia do 1º trimestre de gestação. Psicologia, Saúde & Doenças, Lisboa, v. 10, n. 1, p. 17-29, 2009. Disponível em: <http://www.redalyc.org/pdf/362/36219059002.pdf>. Acesso em 27 de mai. 2016.

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