“Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo” – um convite para a falta

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Análise do filme sob uma perspectiva psicanalítica.

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Em uma cena do filme, os personagens se transformam em duas pedras à beira do penhasco.

“Viver é isso: ficar se equilibrando o tempo todo, entre escolhas e consequências”, afirmou certa vez o filósofo e escritor Jean-Paul Sartre. Mas e se pudéssemos ter acesso às infinitas possibilidades de escolha e às vidas que elas desencadeiam – da mais glamurosa à mais pacata, onde nos materializamos em uma pedra à beira do abismo? Parece uma ideia tentadora, e é a partir dessa premissa que se desenvolve a divertida – e maluca – história do filme que se consagrou o grande vencedor da última cerimônia do Oscar.

Tudo em todo lugar ao mesmo tempo, vencedor de sete estatuetas (inclusive a de melhor filme), parece uma síntese interessante dos nossos tempos, apresentando uma linguagem vertiginosa e um tanto caótica. Trazendo consigo a ideia de multiverso, a história transita entre diferentes realidades, ligadas através de um núcleo de personagens que aprende a “viajar” entre os múltiplos universos que constituem o infinito. Apesar de soar complexo, o filme trabalha o conceito de uma forma leve, proporcionando ao espectador uma experiência agradável e interessante.

A história acompanha Evelyn Wang, uma imigrante chinesa nos Estados Unidos, dona de uma lavanderia à beira da falência. Enfrentando problemas no casamento e uma relação atribulada com a filha, Wang parece estar vivendo o lado obscuro do american dream – o famoso sonho de vida americano, repleto de oportunidades e prosperidade. Enquanto se debruça sobre uma pilha de papéis a fim de salvar seu negócio, a protagonista se depara com uma questão que parece desafiar todos nós em algum momento da vida – como seria sua vida se tivesse feito outras escolhas?

É a partir desse momento que a história sofre uma reviravolta, ingressando na alucinante dinâmica do universo multidimensional. A figura até então pacata de Waymond, seu marido, dá lugar a uma versão vigorosa do personagem, vindo de um universo distante para alertá-la sobre a necessidade de lutarem para conter a ameçaca de Jobu Tupaki, personagem empenhada em instaurar o caos e extirpar a existência humana. Relutante e incrédula, Wang vai cedendo ao passo em que o absurdo toma conta de sua realidade. Então embarcamos juntos com ela nessa aventura.

Para sua surpresa, a figura que precisa enfrentar junto à nova versão do marido é ninguém menos que sua filha Joy, que em outra dimensão adquire poderes capazes de colocar em xeque a existência e o equilíbrio dos universos que compõem a intrincada trama de suas vidas. Assim o conflito entre mãe e filha toma outra proporção, abarcando nuances que mesclam realidade e fantasia, drama e comédia. Wang, uma pessoa um tanto conservadora, tem dificuldade em aceitar a sexualidade da filha, que está se relacionando com outra garota. Como pano de fundo desse conflito emerge a figura do pai, Gong Gong, que renegara Wang quando esta decidiu se casar com Waymond e tentar a vida nos Estados Unidos. Velho e debilitado, Gong Gong passa a viver sob os cuidados de Wang – uma lembrança pungente da vida que outrora abriu mão para viver o seu sonho.

Sob o pretexto de não escandalizar o pai, Wang tenta esconder sua dificuldade em lidar com a natureza subversiva e libertária da filha, que confronta seus próprios valores e convicções.

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“Eu estava apenas à procura de alguem que pudesse ver o que eu vejo”

Enquanto se enfrentam nas mais diversas circunstâncias – até mesmo em um universo onde os indivíduos possuem salsichas no lugar de dedos -, os personagens que compõem o núcleo da história, Wang, Waymond e Joy, parecem nos mostrar que não importa o quão absurdo seja o cenário, é impossível que o indivíduo se furte ao impacto do contato com o Outro. Nesse caso, pai, mãe e filha buscam, através de uma jornada multidimensional, encontrar o equilíbrio necessário para não sucumbir ao caos da existência conjunta.

Envolvendo conflitos familiares, embates geracionais, crítica social e reflexões existenciais, o filme cumpre a ousada tarefa de ser tudo ao mesmo tempo, literalmente. Há momentos para rir, chorar, refletir – e tantos outros em que não se entende coisa alguma. Um tanto parecido com a vida, ousaria dizer. Afinal, se viver é algo mesmo muito perigoso, como diria Guimarães Rosa, é difícil que alguém saia ileso dessa aventura.

Diante de uma história tão engenhosa, há de se perguntar se Wang, ao percorrer inúmeras de suas vidas possíveis, não tenha encontrado alguma em que tenha se sentido completa. E o filme nos responde terminando onde tudo começou, com mãe e filha discutindo no estacionamento da lavanderia da família. Ao promover esse retorno, a dupla de diretores, Daniel Kwan e Daniel Scheinert, parece indicar, de forma tocante e com uma pitada de comicidade, que o ideal de liberdade (tão característico do sonho de vida americano) que tanto buscamos em nossas vidas implica invariavelmente em uma série de perdas, uma vez que ao realizarmos uma escolha, perde-se todas as outras possíveis, e a experiência de viver todas as possibilidades ao mesmo tempo emerge como um delírio enlouquecedor. Dessa forma, somos instados a reconhecer a necessidade de bancarmos as nossas escolhas – e as consequências que elas trazem consigo -, ao passo em que nos identificamos com a tentativa da protagonista de se acertar com a filha em seu universo original – o único possível.

A fantasia de que estamos somente a uma escolha da completa realização dá lugar à inexorável realidade de que somos seres faltantes, e portanto temos de nos haver com a falta, independente do universo em que estejamos. E que amar é, sobretudo, reconhecer no outro a falta que decidimos sustentar em nós mesmos. Tudo em todo lugar ao mesmo tempo pode sim ser um convite para olharmos para a falta, mas é também um chamado para o amor.

FICHA TÉCNICA

  • Título Original: Everything Everywhere All at Once
  • Duração: 139 minutos
  • Ano produção: 2020
  • Estreia: 11 de março de 2022
  • Distribuidora: Diamond Films
  • Dirigido por: Daniel Scheinert, Daniel Kwan
  • Orçamento: U$ 25 milhões
  • Classificação: 14 anos
  • Gênero: Ficção Científica, Ação, Comédia
  • Países de Origem: EUA
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Eu tenho um sonho…

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…de que meus quatro filhos um dia viverão em uma nação onde não serão julgados pela cor da pele, mas pelo caráter. 

57 anos após proferir essas palavras, o sonho de Martin Luther King parece ficção. O racismo nega um direito básico do ser humano: ser um indivíduo. Pensar, sonhar e opinar por si. Condena uma criança, antes mesmo de nascer, a um destino genético. Põe cor na violência, na inferioridade e na submissão. Rejeita que imbecis e gênios circulam em todas as raças. 

Vou citar um brasileiro pobre, neto de escravos, nascido em 1839. Tinha ambições intelectuais. Se em 2020 pobreza e intelectualidade se misturam como água e azeite, que dirá nos anos 1800. Esse jovem pobre investiu numa riqueza silenciosa. No amor, apaixonou-se por uma portuguesa. A família dela se opôs à união. A mulher ignorou. O apaixonado escreveu: Tu pertences ao pequeno número de mulheres que ainda sabem amar, sentir e pensar. Em 1869, um homem querer se casar com uma mulher que pensa, só podia se chamar Joaquim Maria Machado de Assis. Genial! 

Fonte: encurtador.com.br/jwQ27

Pergunto-me: como Machado enfrentou o racismo na era escravocrata? Como lutou por seus sonhos intelectuais? Como lidou com medo, insegurança, inveja e desprezo? Em minhas divagações, penso que o autoconhecimento fortaleceu seus sonhos. Devia ser um grande conhecedor de si próprio. Investiu no “conheça-te a ti mesmo” e ignorou os preconceitos que cruzaram seu caminho. Autoconhecimento não evita sofrimento, decepção e ilusão. Autoconhecer-se escolta a autoestima e nos encoraja a sermos fiéis aos nossos sonhos, convicções e valores sem sabotar a realidade. Creia em si, mas não duvide sempre dos outros, escreveu Machado.  

O grande escritor não cursou faculdade. Provou que livros nos alçam a patamares inimagináveis. O crítico Harold Bloom escreveu: Machado de Assis, é uma espécie de milagre, mais uma demonstração da autonomia do gênio literário quanto a fatores como tempo e lugar, política e religião. 

Fonte: encurtador.com.br/CEINO

Arrogantes, preconceituosos e escravocratas sempre existirão. A união de individualidades que pensam como Martin Luther King formará uma sociedade em que o real não pode ser sonho. Julgar alguém pela cor já devia ser comportamento “tiranossáurico”.

Para quem defende o racismo, sugiro dar uma passadinha na Academia Brasileira de Letras, no Rio de Janeiro. Logo na entrada, o monumento a Machado de Assis, um dos fundadores. Ali, olhando do alto, o maior escritor brasileiro, gênio da narrativa, reverenciado e aclamado em vida, deve observar o coletivo racista e lastimar: quanto tempo consumido na perseguição alheia e desperdiçado da própria vida. A juventude é um relâmpago. Intensa e curta. A vida é breve e finita. Doai-a a ti e ao bem. 

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Reinventando no Caminho… 1

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As múltiplas definições do termo Reinventar-se nos conduz a um passeio pelo mundo da (re)criação, (re)produção, (re)composição, (re)instituição, dentre outros conceitos. Percebe-se então que reinventar-se faz parte do mundo dos seres vivos em qualquer dimensão. Nós os humanos temos o privilégio de nos reinventarmos a cada dia ou a cada situação em que seja necessário o desenvolvimento de novas habilidades, nos permitindo viver novas experiências, saindo de zonas de conforto que nem de longe nos ajudam a crescer. Logo, reinventar-se significa crescer na forma de pensar, agir e promover mudanças significativas para a vida.

A experiência de ter que me reinventar ou me reconstruir começou para mim num período muito cedo da vida. Aos 15 anos, tive que sair da casa paterna para um mundo novo e distante da minha realidade até aquele momento, com a finalidade de buscar conhecimento através do estudo. Nova cidade, novos amigos, nova família para conviver, tudo novo e assustador para uma adolescente do interior de Goiás, que nada sabia da vida e do que a aguardava no futuro.

Fonte: encurtador.com.br/zAJQ2

O primeiro choque adaptativo foi cultural. Fui morar com uma família de amigos americanos, com costumes diferentes, língua diferente, hábitos diversos dos meus, e para sobreviver a este primeiro momento, precisei adaptar os meus costumes e cultura familiar aos que estavam sendo apresentados a mim naquele instante. Meu primeiro desejo era voltar para o meu berço anterior. Correr novamente ao útero protetor da minha mãe. Não queria me expor a uma nova realidade. Com o tempo, fui percebendo que esta era a forma como a vida iria me ensinar a ser quem eu sou. Uma mulher forte, destemida e capaz de me adaptar às diversas situações que me fossem apresentadas. Era necessário crescer. Reinventar-me. Tornar-me outra pessoa sem me destituir dos valores, crenças e modos de pensar a vida e a fé.

Assim sendo, resolvi não sobreviver mas, viver a vida em toda a sua plenitude, aproveitando cada oportunidade que estavam me oferecendo naquele momento, para tornar-me alguém em quem eu mesma pudesse confiar.  Reinventar-se dói e cura a própria dor.

Carpe Diem

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Efeitos Pessoais Laborais no Novo Capitalismo

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No último dia 3 (três) de maio aconteceu o “Psicologia em debate”, que foi apresentado pelos acadêmicos Erismar Araújo e Fabrício Veríssimo. O tema faz uma crítica às consequências que o capitalismo traz à vida do trabalhador. Os estudantes relataram que no início do trabalho houve um impasse entre os valores pessoais e aquilo que o autor aborda.

O debate teve início com uma breve apresentação da biografia do autor. Richard Sennett é professor de sociologia da Universidade de Nova Iorque, é considerado um dos maiores intelectuais em sociologia urbana na atualidade. Teve influências da filósofa alemã Hannah Arendt e do filósofo francês Michel Foucault. Sua obra mais conhecida é “O declínio do homem público”, na qual aborda a relação entre a vida pública e o culto ao indivíduo e ao individualismo.

Fonte: http://zip.net/bvtKjd

O livro “A Corrosão do Caráter: consequências pessoais do trabalho no novo capitalismo” é baseado na história de trabalhadores e um dos pontos que o autor aborda é sobre os vínculos duráveis ou não duráveis no ambiente do trabalho e a importância das relações nesse espaço.

Seguindo com o conteúdo explanou-se a respeito de alguns conceitos, como: Corrosão: ato de corroer, destruição. Caráter: formação moral; honestidade: homem de caráter. O autor, também, argumenta que o capitalismo está em um momento caracterizado como natureza flexível em que o trabalhador deve estar sempre pronto para se adaptar às diversas situações impostas pela empresa.

Fonte: http://zip.net/bhtJZ7

Com isso, o autor acredita que o trabalho flexível tem efeito negativo no caráter da pessoa. No trabalho flexível também entra a questão do trabalhador disciplinado que é aquele que busca sempre dar o seu melhor. No entanto, tanto no trabalho disciplinado quanto no flexível, o trabalho ocupa o centro da vida.

A rotina parte da ideia de reestruturação do tempo; criação de formas e de poder; a mudança do ‘controle face-a-face’ pelo controle eletrônico. Ou seja, com as novas tecnologias, há uma nova rotina em que o trabalhador pode organizar seu próprio tempo, tendo seus aspectos positivos e também negativos, pois com isso enfraquece as relações interpessoais. Dessa forma, a ética do trabalho contribui para a degradação humana, pois não há mais experiências compartilhadas.

Fonte: http://zip.net/bbtJLb

Por fim, foi possível compreender, por meio do relato/apresentação, que o autor expõe a problemática do trabalho flexível, quais seus principais impactos para o trabalhador e, consequentemente, à sociedade em geral, pois uma vez que tais consequências atingem o caráter pessoal de um indivíduo impacta, também, toda a população.

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Novas relações de trabalho e corrosão do caráter

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Participar do Psicologia em Debate é sempre um grande aprendizado, já que o evento sempre traz temáticas relevantes para nossa formação acadêmica. Trata-se de uma ação que acontece semanalmente (quartas-feiras) no Ceulp/Ulbra, entretanto, a do dia 03/05/17 teve uma novidade, aconteceu às 08h da manhã, ou seja, uma oportunidade a mais para aqueles que não podem estar presentes no período da tarde.

Cabe ressaltar que o Psicologia em Debate nos permite trocas valiosíssimas, especialmente para os alunos. São apresentados conteúdos que irão agregar a nossa constituição enquanto acadêmicos. Nos mobiliza, e nos faz pensar sobre outra perspectiva. O nosso poder de argumento, de tomada de decisão frente aos acontecimentos é sem dúvida aperfeiçoado, passamos a ter a delicadeza de observar o que nos rodeia com outro olhar. Respectivamente, adquirimos conhecimento, ou seja, é uma viagem por esferas antes desconhecidas.

Fonte: http://zip.net/bktJKG

 

E o simples fato de estarmos no mesmo barco: alunos X alunos, é extremamente enriquecedor. Exemplo disto, os acadêmicos Erismar Araújo e Fabrício Veríssimo ministraram o debate deste dia, com o tema: ‘A CORROSÃO DO CARÁTER – Consequências Pessoais do Trabalho no Novo Capitalismo’. O embasamento teórico foi fundamentado no conceito do Richard Sennett, educador de sociologia da Universidade de Nova York e da London School of Economics, músico e romancista. Tornou-se famoso nos meios acadêmicos brasileiros por seu livro ‘O declínio do homem público’. (SIQUEIRA, 2002). Lembrando que houve participação de alguns professores, com um ambiente repleto de alunos. Ocorreu na sala 203, prédio 2, no CEUPL/ULBRA.

Este evento trouxe uma temática muito discutida em sala de aula, principalmente no que diz respeito às patologias ocasionadas pelo trabalho. Esta flexibilidade proposta por esse novo capitalismo traz risco, e com isso insegurança. Para o autor “há uma perda do senso de comunidade e a tentativa de transformar em seu correlato as comunicações eletrônicas, que se caracterizam por sua brevidade, pressa e inconsistência.” (SIQUEIRA, 2002). Concomitantemente, engloba situações diversas, o novo capitalismo chamado de flexível por Sennett, é por sua vez imediatista, os efeitos deste fenômeno mercadológico é desorientador, resultando em malefícios a saúde mental e física do indivíduo. Cobra-se postura, tempo, disciplina, qualidade, perfeição, prazo, enfim, o sujeito que trabalha tem que se reinventar a todo o momento.

Fonte: http://zip.net/bptKps

 

Muitos fatores são comprometidos, perde-se a noção de valores, de tempo e de espaço. E com isso o caráter sofre mutações, ou seja, segundo o autor há uma corrosão. Como decidimos o que tem valor duradouro em nós numa sociedade impaciente, que se concentra no momento imediato? Como se podem buscar metas de longo prazo numa economia dedicada ao curto prazo? Como se podem manter lealdades e compromissos mútuos em instituições que vivem se desfazendo ou sendo continuamente reprojetadas? Estas as questões sobre o caráter impostas pelo novo capitalismo flexível. (SENNETT, 1999, p.11)

A sociedade vivencia o processo acelerado da globalização, e por sua vez traz benefícios, o que cabe nesse discurso é como o sujeito enfrenta esse dinamismo, quais as causas que provocam patologias, e o porquê de tanto desequilíbrio pessoal e profissional. Aproveitando o ensejo, cabe a nós futuros psicólogos adentrar a este universo sem medo, e buscar alternativas que possam colaborar com a promoção da saúde mental desses sujeitos fragilizados e a mercê do sistema capitalista, que por sua vez não perdoa.

REFERÊNCIA:

SENNETT, Richard. O Declínio do Homem Público: as tiranias da intimidade. Tradução: Lygia Araújo Watanabe. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.

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Quem deve falar sobre sexualidade com os filhos: pais ou escolas?

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Afinal, quem deve falar sobre sexualidade com os filhos: pais ou escola? Falar sobre sexualidade sempre envolveu alguns tabus, sentimentos de vergonha e preconceito. Diante disso, há um temor inevitável, principalmente por parte dos pais, quando percebem que seus “bebezinhos” já não são mais crianças, mas também não são adultos. Ocorre uma dúvida frequente acerca do que falar e como falar sobre sexo e a quem cabe esse papel, se é aos pais ou a escola.

Fonte: http://zip.net/bytJB4

 

A melhor solução para esse dilema é o trabalho em equipe, ou seja, pais e escola unidos na educação sexual das crianças e adolescentes. O que não pode ocorrer é a inversão de valores de uma família no campo escolar, pois assim a escola estaria invadindo um espaço que não é seu. Desse modo, ficaria para a escola o papel de ensinar as crianças e adolescentes sobre o papel da sexualidade, incluindo o ato sexual e as relações afetivas e as consequências de tais ações, ensinando métodos preventivos contra doenças sexualmente transmissíveis e gravidez indesejada. Já para a família, caberia a transmissão dos valores, o que varia de uma para a outra, para a criança ou adolescente.

 O problema que ocorre nessa pós modernidade é que, com os adultos super envolvidos no trabalho a maior parte do tempo, a escola que antes só possuía o papel de ensinar, passou a ter o papel de educar também. Talvez seja nisso que muitos pais se confundem e acreditam que a escola deve transmitir tudo para seus filhos, inclusive valores e princípios. Porém, muitos desses mesmos pais não apoiam a educação sexual nas escolas, o que é muito contraditório. A educação sexual precisa ser passada nas escolas, com acompanhamento dos pais, pois estes podem passar informações corretas acerca do assunto, uma vez que o fácil acesso a informação é algo evidente hoje. Então, para evitar informações distorcidas, a melhor maneira é ensinar em um espaço de aprendizagem, não só disciplinar, mas para a vida.

Fonte: http://zip.net/bftH5n

 

Aceitar esse tipo de ensino escolar é um passo para desmistificar um pouco esse assunto que gera tantos calafrios. É contribuir para que a sexualidade não seja mais algo banalizado e ridicularizado, como ocorre muitas vezes, principalmente entre adolescentes desinformados. É contribuir para a formação de adultos mais sensibilizados ao toque, ao amor, as relações íntimas, fazendo de cada momento algo especial, valorizando a si mesmo e as pessoas com quem irá se envolver ao longo da vida.

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Amor, Sexo e Tragédia: somos mesmo originais?

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A forma como o Estilita Simeão viveu, em austeras penitências corporais, retrata a vida dos anacoretas de sua época. Seu biógrafo conta-nos que seus atos de sacrifício, eram de castigar seu próprio corpo, com um desejo de assemelhar-se à paixão de Cristo. Dava-se ao jejum de alimentos e água e se expunha ao calor, e ao frio exposto a “uma coluna de pouco mais de 18 metros em vigília continua; uma imagem viva do Cristo crucificado” (GOLDHILL, 2007, p. 97).

Ainda de acordo com seu biógrafo as torturas vividas por Simeão eram uma forma de chamar a atenção do mundo, despertando-o para existência de Deus. O mosteiro onde Simeão morava era cercado de pessoas que viam nele um homem santo e todos o admiravam e gostavam de ouvi-lo. “Por vezes ele realizava papel de juiz especial diante de alguma disputa” (GOLDHILL, 2007, p. 98).

http://zip.net/bytHR6

Simeão vivenciou um êxtase espiritual profundamente marcado pelo amor a Deus. Deu-se aos sacrifícios corporais até sua morte e ainda que seu corpo se esvanecesse pelas torturas, sentia-se fortalecido pela presença de Deus.

Simeão faleceu no ano 459. Ele foi uma superestrela no rol dos homens santos, todos grandes sofredores pela qual a Síria era especialmente famosa. Esses santos representavam o pináculo da nova atitude cristã relacionada ao corpo (GOLDHILL, 2007, p. 99).

Pregou e viveu um cristianismo que era contrário à cultura clássica. Para ele, ser cristão era ser capaz de penitências, asceses e renúncias; viver a negação dos laços sociais e dos prazeres que este oferece. E o monge deve retirar-se para o deserto, orar sozinho e viver em austeras penitências e jejuns. “Uma maneira dos cristãos mostrarem publicamente a sua crença era a recusa de participar de sacrifícios. Por vontade própria eles excluíam-se obstinadamente da comunidade” (GOLDHILL, 2007, p. 100). Alimentar-se para Simeão era algo confortável, de certa forma até de luxo, pois a sociedade do seu tempo vivia em penúria e até passavam fome.

http://zip.net/bgtHpJ

Para o pensamento grego um cidadão clássico tinha que trazer em si característica “de soldado, orador, homem do bem” (GOLDHILL, 2007, p. 100), versado em filosofia, e dado aos prazeres e alimentação farta. “Comer bem significava o triunfo da civilização, uma combinação do trabalho árduo do lavrador e da graça dos deuses” (GOLDHILL, 2007, p. 101). Porém os cristãos se contrapunham a essa realidade e se retiravam ao deserto para se desafiarem nessa civilização. “O calendário do cristão comum podia se alternar entre o jejum e o banquete, Quaresma e Páscoa” (GOLDHILL, 2007, p. 101).

Em síntese, os superestrelas da carne, mostra que o jejum deveria ser praticado e ajudaria os cristãos a refrear as paixões e a refrear os impulsos sexuais, como um combate ao pecado e a busca de santidade, uma vez que a defesa da castidade de monge era exercício disciplinar constante. “Toda história requer heróis, e, para o início do cristianismo eles são os ascetas e os mártires” (GOLDHILL, 2007, p. 103). O cristão era chamado a ser mártir e o martírio se tornava exemplo de vida virtuosa revelando a forma mais refinada de transcender a dor. E isso Simeão legou aos cristãos do seu tempo.

Essa forma de vida de martírio era inaceitável para os gregos e romanos, pois para eles “o corpo do cidadão devia ser inviolável” (GOLDHILL, 2007, p. 104), ainda que os escravos fossem submetidos à tortura. O orador clássico, cidadão herói grego, deve ser ereto, altivo e exibicionista. O cristão devia ser simples, modesto desprovido de vaidades. Apropriados dos seus próprios corpos, os cristãos deveriam apenas ser agradáveis a Deus.

http://zip.net/bwtGYc

O sexo e a cidade – A carne e o mundo

Em “O sexo e a cidade”, Goldhill (2007) traz considerações acerca dos desejos da carne x cristianismo. O autor ressalta que com o Império Romano, tonando-se cristão, houve uma série de conflitos em relação à sexualidade e os valores cristãos. E esse fato repercute até hoje nas escolhas e formas de vida familiar. Para tanto, sendo o casamento “o alicerce da sociedade”, a concepção que temos dele é, também, a forma como nos percebemos na sociedade (GOLDHILL, 2007). O autor aponta, ainda, que o casamento cristão trazia algumas atitudes, consideradas estranhas, de como se deveria levar a vida, pois teve sua formação contra a cultura greco romana e organizada limitadamente pelo Império Romano.

Paulo recomenda, nas Sagradas Escrituras, que o casamento seja honrado pelos homens e, com isso, traça um conjunto de leis que, em suma, resulta em um tipo de casamento patriarcal, no qual a mulher deve ser subordinada ao homem. Por outro lado, há outro conselho deixado por ele, no qual ele ressalta que o homem deve se comprometer com o celibato e a mulher deveria permanecer virgem e cuidar das coisas do Senhor. Com isso, o casamento fica em segundo plano (GOLDHILL, 2007).

http://zip.net/bntHqM

Nesses parâmetros o autor adverte que: de fato, Paulo recomenda o casamento, mas o faz somente para evitar que aqueles que não conseguem suportar o celibato sejam queimados no inferno por cometerem o pecado do sexo ilícito. É isso que faz do casamento algo “honrado” (GOLDHILL, 2007 p. 107). Nesse ínterim Goldhill (2007), relata a história de duas mulheres que buscaram seguir o conselho de Paulo. Tecla e Maximila são duas mulheres que abriram mão de uma vida matrimonial para viver o celibato.

Tecla era uma jovem que estava noiva e após escutar as pregações de Paulo sobre castidade começa a sentir um novo desejo, o que deixa sua família e o noivo aflitos. Desse modo, Paulo é considerado como alguém que leva as mulheres para um mau caminho e destrói a vida dos casais. Com isso, Paulo é preso. Porém Tecla aumenta, ainda mais sua fé e devoção. Tecla é condenada a morte, porém “ela é sempre salva pelo milagre divino” (GOLDHILL, 2007 p. 108). Dessa forma, “Tecla tornou-se uma santa para a adoração cristã, um modelo para as virgens que evitam o casamento. Ela figura como heroína e inspiração em diversas histórias de vida de muitas moças” (GOLDHILL, 2007, p. 109).

Maximila é uma mulher casada que, ao escutar as palavras de Santo André: “ofereça-se a Deus” (p. 110), converte-se ao cristianismo e começa a fazer orações para que Deus a afaste do próprio marido e a mantenha casta. Dessa forma, para se privar de relações com o marido, ela coloca uma escrava para satisfazê-lo, sem que ele saiba. Porém, ao descobrir ele fica arrasado por ter sido enganado por ela. Maximila, então, confessa seu amor pelo Divino e deixa seu marido para se dedicar às obras de Deus (GOLDHILL, 2007).

E assim, Goldhill (2007), afirma que o cristianismo gera um declínio social, pois as pessoas deixam de viver muitas coisas por causa do Divino, impedido, dessa forma, a continuidade de uma família. Com isso, o autor acredita que: “o cristianismo requer um compromisso individual ‘com o mundo por vir’ – um sendo radicalmente diferente de futuro” (GOLDHILL, 2007 p. 110). 

Virgindade, Celibato ou Casamento?

Durante a Idade Média, quando o Cristianismo se instaura na Europa, as mulheres deveriam fazer a escolha entre o celibato ou o casamento. O celibato trazia grandes honras para a família, as “virgens de Deus” ou “noivas de Cristo” dedicavam sua vida a uma eterna virgindade, se dedicavam à igreja e a Deus. A virgindade era exaltada, a igreja considerava o desejo e a sexualidade como pecados, fontes de fraqueza humana.

http://zip.net/bktHrJ

De acordo com Goldhill (2007) a reclusão, jejum e orações constantes eram necessárias como suportes contra a fraqueza. A mulher podia demonstrar sua fé e devoção na igreja e no lar por meio de uma dedicada virgindade, a mulher que optava por esse estilo de vida deveria se afastar do modo de vida convencional por vontade própria, sendo veneradas pela igreja. O casamento era considerado honrado contanto que um homem e uma mulher mantivesse relações sexuais com seus cônjuges e após o casamento, se não seria perversão. O divórcio e a oportunidade de um novo casamento era condenado pela sociedade, o sexo associado à culpa e à sujeira.

Por muito tempo foi discutido questões sobre virgindade, santidade, sexo e casamento, sendo temas polêmicos até os dia atuais, sendo que, muitas das incertezas sexuais vivida pela sociedade atual provêm do que foi imposto pela igreja católica, uma vez que o compromisso com valores tradicionais não avaliam a própria historia. A crise ainda compartilhada pelo corpo social moderno ocorre, pois todos participam das discussões sobre como deve funcionar um casamento, relações sexuais extraconjugais, relações sexuais com múltiplos parceiros e relações homossexuais são ditas como erradas. Entretanto, não cabe a sociedade como um todo, formular uma resposta. Goldhill (2007, p.116) cita que:

(…) está claro que sem uma compreensão histórica de como esses temas se tornaram as questões que hoje preocupam o Ocidente Moderno, qualquer resposta que dermos a essas perguntas será superficial. Se quisermos entender as tensões com as quais o casamento moderno se debate, precisamos compreender que a “tradição” é uma longa história de revolução, conflito e mudança, uma história que produz tais tensões.

O que é Atenas para Jerusalém?

Os valores humanos podem ter criado sua própria crença através da derrubada dos valores cristãos, mas foi muito difícil tirar os valores cristãos das mentes e dos corações dos cidadãos do Império Romano do que o planejado. Os cristãos continuaram vivendo dentro de sua cultura por mais que fosse combatida e assimilaram rotineiramente as ideias e o raciocínio do mundo grego-romano que os rodeava (GOLDHILL, 2007).

http://zip.net/bytHSn

Mas o cristianismo também tinha outra maneira de falar. Particularmente nas cidades, homens e mulheres cristãos precisavam manter um diálogo com os gregos e romanos entre os quais viviam e os homens e mulheres cristãos mal podiam evitar serem influenciados pela cultura que os circundava, mesmo que tivessem a intenção de rejeitá-la (GOLDHILL, 2007, p.118). A imagem de Jesus, não importa o quanto era importante para os cristãos, também foi incorporado aos modelos da sociedade grega e romana (GOLDHILL, 2007).

Filósofos e homens santos

Goldhill (2007), sugere a existência de um diálogo entre a filosofia e a cultura greco-romana, que se evidencia historicamente nas características da interação social. No cristianismo e na cultura greco-romana, homens se tornaram santos e heróis culturais, conhecidos como mártires e sábios. Caracterizados pela abdicação dos bens materiais, luxos, prazeres, optavam por uma vida de sacrifício, abstinência, jejuns, utilizando somente o necessário para vida. O autor cita Diógenes, um filósofo cínico, que optou por se desfazer de tudo, mantendo “apenas uma tanga e uma tigela- e quando viu um jovem pastor beber água de um rio usando apenas as mãos, jogou fora também a tigela” (GOLDHILL, 2007, p.123).

Jesus, a figura de fundamental importância para o cristianismo, também foi assimilada as características da sociedade grega e romana. De forma semelhante, o cristianismo recebeu influências filosóficas, pois a filosofia orientava para uma vida espiritualizada e de autorreflexão.

O poder dessa imagem do antigo filósofo é ainda hoje fortemente sentido. Uma avaliação serena, e a rejeição do tumulto da ambição, da cobiça e da avareza são como um negativo fotográfico da imagem da sociedade moderna apresentada pelos jornais, pelos filmes, pela televisão. Era um estilo de vida que foi facilmente incorporado ao desejo cristão por uma existência mais elevada, contrária ao Império deste mundo (GOLDHILL, 2007, p.125).

Assim, o cristianismo se desenvolve tanto por meio da rejeição como da negociação com a cultura grega e romana. E a cultura ocidental moderna se forma por essa mescla de tradições. Mesmo vivendo em uma sociedade moderna é impossível não dar uma grande importância para a religião, pois a mesma traz grande influência para o nosso dia a dia querendo ou não ao longo da nossa construção como ser humano carregamos princípios da religião e todos nossos clichês do certo ou errado e estilo de vida traz um pouco de algo que aprendemos através da nossa cultura religiosa. Até mesmo se somos desacreditados da religião temos que reconhecer que em tudo tem algo da Bíblia e que essa cultura religiosa está presente. Enfim, todos nós temos uma história cristã clássica dentro de nós.

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Segundo Goldhill (2007, p.94) “Devemos também reconhecer e não distanciar a civilização cristã como estudo do clássico”. O qual seu estabelecimento ocorreu durante o Império Romano não diferenciando assim o estudo do clássico e o estudo do período inicial da igreja sabendo assim que o Império Romano de tornou cristão, mas o cristianismo por sua vez tomou a forma do Império Romano.

O cristianismo tem grande envolvimento com a cultura grega tendo grandes influências da mesma. Porque o veículo para o transição de ensinamentos da Bíblia é a língua grega por isso podemos afirmar que a civilização ocidental não é apenas judaico-cristã, mas sim uma civilização grego-judaica – cristã (MURACHO, 2002, p.10). Não podemos esquecer as raízes do cristianismo e assim reconhecer que a tradição religiosa presente no ocidente se formou no mundo clássico. Se deixarmos toda essa cultura para trás seremos apenas turistas, e o importante é vivê-la.

REFERÊNCIAS:

GOLDHILL, Simon. Amor, sexo e tragédia. Rio de Janeiro: Zahar, 2007.

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Trolls: implementação de valores na infância

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Com uma indicação ao OSCAR:

Melhor Canção Original (Can’t Stop the Feeling).

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Se há algo que todo mundo concorda é que sempre é possível encontrar uma música que representa perfeitamente do que se está sentindo! E, às vezes, elas são grandes influentesnos estados emocionais, como a alegra e a tristeza. Nisso, há quem diga que a vida é digna de uma trilha sonora. E no filme Trolls (2016), dirigido por Mike Mitchell e Walt Dohrn e produzido por Dannie Festa e Gleen Berger, esta ideia é muito bem ilustrada.

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Os trolls são criaturinhas fofas, coloridas, de cabelos metamórficos e muito felizes (muito mesmo)  que resumem suas vidas em cantar, dançar e abraçar. Visualmente, elas evocam as características dos Os Smurfs (2011) e destoam consideravelmente das ilustrações de trolls gigantes, selvagens e monstruosos apresentadas em Harry Potter e a pedra filosofal (2001), O Senhor dos Anéis: o retorno do rei (2003) e Os Hobbits: uma jornada inesperada(2012). Assim, os novos trolls descontroem todos os conceitos prévios sobre seu povo e sua forma de viver, neste contexto eles são os duendes da sorte (aqueles que você com mais de 20 anos já colecionou em sua penteadeira) e vão cativando o telespectador infantil ao decorrer do filme.

Trolls em Harry Potter e Senhor dos Anéis
Trolls em Harry Potter e Senhor dos Anéis

Como a maioria das animações infantis sobre comunidades distintas em Trolls também há quem banque os vilões e o outro grupo que são suas vítimas. Aqui os vilões são os Bergens, monstros que estavam sempre amargurados, não sabiam cantar, nem dançar e tão pouco abraçar. Um dia sentiram inveja da felicidade que os trolls possuíam e um dos Bergens comeu um troll e sentiu tanta felicidade, consequentemente espalhou-se o mito que um Bergen só encontraria a felicidade apenas dessa forma. Daí surge o Trollstício, comandado pela Cheff de cozinha, onde Bergens aprisionam os coloridinhos para comê-los num dia especial no intuito de sentir a tal felicidade.

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A incessante busca pela felicidade não é peculiar dos Bergens, para Dai Lama tal busca está presente na humanidade como objetivo de vida (2000). Segundo Ferraz et al (2006) “a felicidade é uma emoção básica caracterizada por um estado emocional positivo, com sentimentos de bem-estar e de prazer, associados à percepção de sucesso e à compreensão coerente e lúcida do mundo”. E Comte-Sponville afirma que o que falta para ser feliz quando se tem tudo é sabedoria, pode-se inferir que isso era algo não muito presente nos Bergens.

Vinte anos depois de fugirem dos Berngens, a princesa dos trolls, Poppy (Anna Kendrik), dá a maior festa (quase uma rave) de todas para comemorar a libertação. Isso chama a atenção da Cheff banida pelo seu grupo por causa da fuga dos trolls) e esta vai capturá-los, grande parte se esconde, mas os amigos mais próximos de Poppy são levados. Tal possibilidade de a festa atrair os Bergens foi cogitada pelo único troll triste, descorado, “paranoico” e ignorado pelo grupo, chamado Branch (Justin Timberlake).

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Do mesmo modo, Briget (Zooey Deschanel), a camareira real, é uma raridade entre os Bergens, pois com seu jeito meigo e submisso acredita que existe outra forma de encontrar a felicidade, para ela seria o reconhecimento e a correspondência do seu amado crush príncipe Grisel. Esta personagem é uma referência ao conto da Gata Borralheira, mais conhecida pelo público atual como a Cinderela.

Poppy, a princesa que nunca havia enfrentado dificuldades na vida e sempre se matinha otimista, decide resgatar os amigos indo até a cidade dos Bergens, acompanhada de Branch com todo o seu pessimismo. É gritante a dicotomia entre a felicidade e a infelicidade durante o longa, marcada pelas cores, brilhos e sobretudo nas canções. Porém, aos poucos os mocinhos mostram que é possível ter momentos de felicidade quando se cultivam práticas na vida que propiciam emoções alegres. Ainda, contrapõem a ideia dos heróis devem vencer os vilões, mostra uma nova perspectiva de que é possível ensiná-los o respeito, e no caso a serem felizes, transmutando-os dos papéis de vilões para amigos dos mocinhos.

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Esta obra da DreamWorks, que é encantadora ao público infantil e previsível ao público adulto, faz mérito ao seu gênero: comédia musical. Além de uma aquarela de pigmentações, alta qualidade cinematográfica 3D e canções perfeitamente arranjadas às cenas em que as músicas conseguem traduzir os sentimentos, o que se sobressai na obra são os valores (morais e imorais) embutidos em cada personagem. A solidariedade e perseverança do Rei Pepe (troll); o otimismo e resiliência da Princesa Poppy; a liberdade, união e respeito com os trolls; o desrespeito e alienação nos Bergens; o empoderamento em Briget; a corrupção em Creek; e a perseguição ao poder na Cheff.

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Destarte, Trolls é um filme para a família inteira assistir e que auxilia os pais na exemplificação dos comportamentos adequados e inadequados perante ao meio social. Vale ressaltar que do começo ao fim nos produz desejos de cantar, dançar e, especificamente, repensar a nossa busca pela felicidade, se esta está sendo alcançada em decorrência ao sofrimento do outro ou não.

REFERÊNCIAS:

COMTE-SPONVILLE, A.A Felicidade,desesperadamente. Martins Fontes. São Paulo, 2001.

DALAI LAMA, H.H, e HOWARD, C. Cutler, M.D. A arte da felicidade. Martins Fontes. São Paulo, 2000.

FERRAZ, Renata Barboza; TAVARES, Hermano; ZILBERMAN, Monica L..Felicidade: uma revisão. Rev. psiquiatr. clín.,  São Paulo ,  v. 34, n. 5, p. 234-242,    2007. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-60832007000500005&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 25  de fevereiro de 2017.

FICHA TÉCNICA DO FILME:

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TROLLS

Diretores: Mike Mitchell (V) e  Walt Dohrn
Elenco: Anna Kendrick e Justin Timberlake
País: EUA
Ano: 2016
Classificação: Livre

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the hunger games

Jogos Vorazes: a vida como um mero espetáculo

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E se para sobreviver você tivesse que deixar de ser quem é para agradar aos outros?
E se para isso você tivesse que transformar sua vida em um espetáculo?
Você conseguiria?

O filme Jogos Vorazes, lançado em 2011, é uma adaptação do primeiro livro da trilogia também chamada Jogos Vorazes.  Ao assistir o longa, nos damos conta da quantidade de valores que são passados: esperança, perseverança, amizade, amor, coragem. Valores esses que estão sendo esquecidos no dia a dia.  Embora esses valores sejam muito visíveis no filme, é possível notar uma “diminuição” do ser humano, que passa a ser considerado apenas como um produto.

O filme pode ser associado à Teoria do Espetáculo, proposta por Guy Debord (1931-1994). Trata-se de uma teoria crítica sobre consumo, sociedade e capitalismo.

“O espetáculo apresenta-se como algo grandioso, positivo, indiscutível e inacessível. Sua única mensagem é «o que aparece é bom, o que é bom aparece». A atitude que ele exige por princípio é aquela aceitação passiva que, na verdade, ele já obteve na medida em que aparece sem réplica, pelo seu monopólio da aparência” (Trecho do livro, A Sociedade do Espetáculo, de Guy Debord).

Após cometer crime de traição, “como punição pela revolta, cada um dos 12 distritos deve oferecer um garoto e uma garota com idade entre 12 e 18 anos para a “Colheita”. Esses tributos ficarão sobre custodia da Capital e serão transferidos para a Arena Pública, onde irão lutar até a morte, até que reste somente um vencedor.”

Katniss Everdeen, interpretada por Jennifer Lawrence é uma jovem tímida do distrito 12 que perdeu o pai na explosão de uma mina e vive uma vida difícil, com a mãe e a irmã, com quem ela possui uma relação muito bonita.

Chega o dia da colheita e todas as mães de coração partido arrumam os jovens pra o evento. No dia do sorteio a irmã de Katniss é a garota escolhida, mas ela se oferece para ir em seu lugar, um ato de coragem e amor. O outro tributo do distrito 12 é Peeta Mellark interpretado por Josh Hutcherson, um jovem forte e determinado.

Antes de partir para a capital, onde serão apresentados a sociedade e treinados para os Jogos, Katniss promete a irmã que será a vencedora, por ela, e também se despede de seu melhor amigo Gale.

Katniss e Peeta então são levados a Capital, sem saberem se um dia ainda verão suas famílias. Eles embarcam em uma jornada sem volta, tudo muito diferente de suas realidades.

Os 24 tributos são tratados muito bem, adorados pelo público que é fanático pelos Jogos Vorazes, que está agora em sua 74° edição. A única estratégia para se dar bem no jogo é fazer com que as pessoas gostem de você, dessa forma patrocínios irão surgir e com eles virão as regalias. Katniss pensa que não conseguirá, pois não é boa em fazer amigos, mas sua simpatia aparece de forma inesperada e o público passa a adorá-la.

Ao longo dos dias na Capital, Katniss e Peeta são submetidos a mudanças em suas aparências e treinados para se apresentarem bem em público, ou seja, são forçados a se tornar pessoas que não são, tudo isso para agradar os telespectadores. Durante uma entrevista Peeta revela o seu amor não correspondido por Katniss, mas ela pensa que isso não passou de uma estratégia dele para conseguir mais patrocinadores e resolve levar o suposto romance adiante, transformando tudo em um grande espetáculo.

“À medida que a necessidade se encontra socialmente sonhada, o sonho torna-se necessário. O espetáculo é o mau sonho da sociedade moderna acorrentada, que ao cabo não exprime senão o seu desejo de dormir. O espetáculo é o guardião deste sono.” (Trecho do livro, A Sociedade do Espetáculo, de Guy Debord).

Os Jogos Vorazes começam e já no primeiro dia 11 tributos são mortos. Katniss se separa de Peeta e passa a sobreviver devido a suas habilidades de caça. A garota faz uma breve aliança com Rue, uma garotinha do distrito 11. Rue é assassinada, Katniss mata o assassino, e envolve o corpo da menina com flores, um gesto emocionante, já que em um cenário de completo terror ainda é possível ver um pouco de amor e respeito.

O assassinato de Rue causa uma profunda revolta nos moradores do distrito 11, então os organizadores dos Jogos precisam de uma nova estratégia para atrair a atenção do público. Eles então resolvem promover o “amor jovem” de Katniss e Peeta e anunciam uma nova regra: podem haver dois vencedores nos Jogos Vorazes, desde que estes sejam do mesmo distrito. Depois de ouvir a notícia Katniss vai em busca de Peeta, quando o encontra percebe que ele está muito machucado, ela cuida dele e o público fica vidrado na suposta relação de amor dos dois.

Os dois tributos do distrito 12 conseguem ser os últimos e quando acreditam que venceram o jogo os organizadores anunciam que a  regra que dizia que dois poderiam vencer foi suspensa e só um pode sair vivo. Os dois jovens não querem matar um ao outro e concordam em cometer o suicídio comendo amoras envenenadas, pois acreditam que a Capital irá mudar de ideia e preferirá dois vencedores ao invés de um, a estratégia funciona e os dois são declarados vencedores da 74° edição dos Jogos Vorazes.

Embora tenha sobrevivido junto com Peeta, o mentor de Katniss a avisa que ela se tornou um alvo político por ter desafiado os líderes da sociedade publicamente. O filme termina com Katniss e Peeta se apresentando ao seu distrito, felizes por terem conseguido voltar para casa.

Após assistir o filme a mensagem que fica é: na sociedade capitalista e consumista em que vivemos a vida nada mais é que um espetáculo, em que somos meros atores.

REFERÊNCIAS:
http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/socespetaculo.html

FICHA TÉCNICA DO FILME:

JOGOS VORAZES

Título Original:  The Hunger Games
Direção e roteiro:  Gary Ross
Elenco: Jennifer Lawrence, Josh Hutcherson, Liam Hemsworth, Donald Sutherland;
País: EUA
Ano: 2012
Gênero:  Ação

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