No dia 4 de novembro de 2021, às 19h, aconteceu o minicurso “Isolamento, distanciamento e impactos psicossociais – Violência doméstica e familiar na Covid-19: Realidade do município de Palmas-TO” que contou com a participação da psicóloga Fernanda Barreiro Brito e que foi mediado pela acadêmica do Ceulp/Ulbra Maria Isadora Dama Silva. A profissional possui experiência na área de acolhimento institucional e atualmente atua no Centro de Referência da Mulher Flor de Lis, onde as mulheres vítimas de violência são acolhidas e recebem orientação jurídica, atendimento psicológico e social.
Inicialmente, foi feita uma breve discussão acerca de gênero, papéis sociais e desigualdades entre homens e mulheres. A convidada destacou que a pandemia atingiu a todos, porém de forma desigual a depender dos marcadores sociais como gênero, cor da pele, etnia, faixa etária, renda e estrato social. Assim, pode-se dizer que mulheres em situação de violência doméstica também foram atingidas pela pandemia conforme as suas particularidades.
Fonte: Arquivo Pessoal
Além disso, com relação à violência doméstica, foi destacada que a atuação da rede se mostra necessária, com ações articuladas, com novas ferramentas estratégicas, ofertando serviços padronizados e que proporcionem segurança e confiança da mulher em buscar ajuda para romper com as violências sofridas.
Ao fazer uma análise dos dados, observa-se que o número de casos de violência contra a mulher obteve um pequeno aumento entre os anos de 2019 e 2020. A convidada destaca que os dados trazidos foram apenas do Centro de Referência da Mulher Flor de Lis, não podendo afirmar que se trata de uma realidade geral do município de Palmas-TO por existirem outras portas de entrada (serviços da saúde, assistência social, segurança pública, dentre outras) que as mulheres em situação de violência podem buscar. Dessa forma, é necessário maiores pesquisas e análises acerca dos dados do município para que se obtenha uma perspectiva mais geral dessa realidade.
Ao final do minicurso, alguns acadêmicos discutiram com a psicóloga sobre experiências próprias, alguns marcadores sociais que transpassam a violência contra a mulher e descontentamentos acerca dessa realidade que atinge muitas mulheres. A convidada destacou que a violência acontece na maioria das vezes no âmbito privado e que todos nós devemos estar atentos aos relatos de mulheres para termos uma postura mais acolhedora e lutar contra o machismo estrutural presente na sociedade.
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Caos 2021: Intervenções frente à violência infantil no contexto pandêmico é tema de mesa redonda
28 de setembro de 2021 Ellen Risia Moraes Alves
Mural
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Diversas atividades ocorrerão no Caos 2021 (Congresso Acadêmico de Saberes em Psicologia), que este ano será transmitido entre os dias 3 e 6/11. Dentre elas, mesas-redondas estarão na programação. As inscrições serão realizadas pelo site https://www.ulbra-to.br/caos.
A mesa-redonda “Intervenções frente à violência infantil no contexto pandêmico” acontecerá no dia 05 de novembro de 2021, terceiro dia de programação, das 09h às 12h, será online via Google Meet, com a capacidade para 100 participantes na sala, onde os profissionais convidados farão suas pontuações sobre o tema abordado, pois a situação da pandemia fez com que de forma involuntária, indivíduos ficassem em isolamento; comprometendo a vulnerabilidade social e física das crianças e adolescentes, sendo essas a principais vítimas de violência e negligência no ambiente doméstico, tornando se então encarceradas com seus algozes. Essa realidade é bastante recorrente, por isso se faz necessário que todas as pessoas mantenham um olhar protetor a crianças e adolescentes.
A mediação ficará por conta da profa. Me. Izabela Querido, e contará com a participação das psicólogas Raphaella Pizani Castor Pinheiro, Gabriela Fernandes Maximiano, Anita Coêlho dos Santos Teixeira e o assistente social Raimundo Carlos Pereira da Silva, que irão se debruçar sobre o tema intervenções frente à violência infantil no contexto pandêmico.
A mesa-redonda também tem como foco a conscientização quanto a comportamentos de prevenção e cuidado que garantam a integridade física e mental da criança e adolescente, e que tenham seus direitos garantidos, pois a violência geralmente acontece no âmbito familiar.
– Raphaella Pizani Castor Pinheiro: Psicóloga formada pelo Uniceub (2008), com formação em psicanálise, psicologia hospitalar e terapia sistêmica, especialista e mestre em Saúde, atua como psicóloga hospitalar no hospital da Unimed e no HGP estando como responsável pelo núcleo de atendimento a pessoa em situação de violência.
– Gabriela Fernandes Maximiano: Psicóloga na Defensoria Pública do Estado do Tocantins, voluntária no CRAS (Centro de Referência da Assistência Social) no município de Palmas- TO; em 2013 atuou no CRAS e no CREAS (Centro de Referência Especializado da Assistência Social) do município de Lagoa da Confusão; em 2014 atuando no CARS (Casa Abrigo Raio de Sol), com acolhimento institucional. Ano de 2015, atuando no CRAS e no NASF (Núcleo de Apoio a equipe de Saúde da Família). Ano de 2016 até setembro de 2018 no SAVI (Serviço de Atenção Especializada à Criança em Situação de violência), órgão de responsabilidade do Hospital Infantil de Palmas (HIPP) lotado na Secretaria Estadual de Saúde do Tocantins. Dezembro de 2016 até o presente momento atuando no acolhimento institucional na Associação Sementes do Verbo, no Projeto Sementinhas de Amor. Outubro de 2018 até o presente momento atua na equipe multidisciplinar da Defensoria Pública do Estado do Tocantins/Palmas.
– Anita Coêlho dos Santos Teixeira: Mestre em Gestão e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Taubaté (2012), possui Especialização em Processos Educacionais em Saúde pela FIOCRUZ (2009), Especialização em Saúde Pública em Ênfase em Saúde Coletiva e da Família Albert Einstein (2008), graduação em psicologia pela Universidade Luterana do Brasil (2005). Atualmente é psicóloga do Hospital infantil Público de Palmas – HIPP.
– Raimundo Carlos Pereira da Silva: Assistente social pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social município de Palmas TO; atuou por dois mandatos (2003-2009) no cargo de Conselheiro Tutelar, atuando diariamente com crianças e adolescentes em situação de violência; Presidente do Conselho Tutelar (2003-2005) e Coordenador dos Conselhos Tutelares de Palmas- TO (2006-2007), trabalhou no cargo de Sócio Educador no CASE (Centro de Atendimento Sócio Educativo), Presidente do Conselho Comunitário de Segurança do Jardim Aureny III mandato (2009-2011), Representante do Tocantins no FCNCT – Fórum Colegiado Nacional de Conselheiros Tutelares (2010-2012/2013-2017), Vice- presidente do CEDCA – Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente (2015-2017).
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Exaustão e exclusão – (En)Cena entrevista a professora Dra Camila Craveiro
A cada ano, no mês março, em que se comemora o “Dia da Mulher” em diversos países, é praticamente impossível não esbarrar em textos, frases de efeito e uma infinidade de produções na mídia e nas redes sociais que se propõem a discorrer sobre a dor e delícia de ser mulher. Em muitos casos, “A mulher” é retratada como a mãe devotada que se aproxima da uma figura sagrada da Virgem Maria. Ou ainda, aparece como a heroína dos filmes e quadrinhos criados por homens, que enfrenta suas batalhas sempre sorrindo e luta, habilmente, usando uma maquiagem perfeita e um salto agulha.
Entretanto, essa época do ano também convida a refletir sobre desafios tipicamente atribuídos ao feminino: feminicídio e violência doméstica; dupla ou tripla jornada de trabalho; equilíbrio entre maternagem e mercado de trabalho; indústria da moda e da beleza e outros temas. A partir de tais problemas, é preciso pensar: o que é ser mulher? Será possível reduzir e resumir toda pluralidade do feminino em um conjunto de palavras ou conceitos?
Lacan, psicanalista francês do século XX, afirma que “a mulher não existe”, por não haver um constructo que abarque todas as parcialidades do sujeito feminino. Existem muitas mulheres distintas e é preciso considerá-las uma a uma, em suas especificidades e nos seus lugares de fala. Com isso, diante da necessidade de saber sobre a saúde mental das mulheres, no Brasil e durante a pandemia, apresentam-se entrevistas com sujeitos femininos que falam de si e do seu lugar neste contexto plural.
Dra Camila Craveiro
Na primeira entrevista da “A mulher não existe! O que significa ser mulher, no Brasil, na pandemia?”, o Portal (En)Cena conversou com a professora Dra Camila Craveiro para entender mais sobre: o que é ser mulher, no Brasil, durante a pandemia da COVID 19.
Camila Craveiro é PhD em Ciências da Comunicação pela Universidade do Minho, em Portugal, coordenadora do curso de Publicidade da UNIGOIÁS, corresponsável pelo podcast Meia Taça e se dedica aos estudos descoloniais de gênero e migração.
(En)Cena –Camila, considerando o seu lugar de fala, de mulher, professora, publicitária, mãe e usuária ativa das redes sociais: o que é ser mulher no Brasil, durante a pandemia da COVID 19?
Dra Camila Craveiro – Quando falamos de mulheres, enquanto um grupo, essa necessariamente é uma superinclusão. Ainda que seja uma estratégia também de criar coletividade, uma ação grupal. Dentro do meu lugar de fala, da minha mulheridade, eu sinto um cansaço mental e psicológico muito grande durante a pandemia. Primeiro porque ela “starta” diferentes medos: da ausência, da morte, do desemprego, de não produzir a contento…E lidar com esse medo cotidianamente é muito complicado. Além disso, há os papéis sociais que eu desempenho enquanto mãe, professora, usuária das redes sociais e produtora de podcast. Tudo isso precisa ter minha atenção, dividida e focada ao mesmo tempo, algo que não é fácil. Mas eu sou uma mulher branca, de classe média alta, no Brasil, durante a pandemia e estou totalmente ciente dos privilégios dos quais eu gozo dentro dessas categorizações.
(En)Cena –Depois de ter estudado mulheres migrantes por 5 anos, na sua opinião, como podemos compreender o sofrimento emocional das venezuelanas que chegam ao Brasil, durante a pandemia?
Dra Camila Craveiro – Eu acho que a gente precisa rever algumas questões que são mesmo do campo da Sociologia das Migrações. A primeira delas diz respeito à dupla vulnerabilidade de ser migrante e ser mulher. Neste caso, destaca-se especialmente as migrantes econômicas. Segundo Sassen (2003), a feminização das migrações, ou seja, a tendência de aumento da migração de mulheres em relação ao número de homens, deve-se, na verdade, à feminização da pobreza, à feminização da sobrevivência. Então, são mulheres que deixam as suas casas e, em alguns contextos, deixam suas famílias, para migrarem para países em que haveria maiores recursos de emprego e recursos materiais, para que elas possam também enviar dinheiro aos seus lares de origem. (…) À vulnerabilidade das venezuelanas, sexual e econômica, se soma o estereótipo negativo, pois criou-se no Brasil a ideia de uma invasão. Uma invasão de venezuelanos famintos, miseráveis e que aqui estão para concorrer pelos postos de trabalho e por alguns dos benefícios sociais dos quais gozamos.
No contexto de pandemia, as mulheres imigrantes encontram um país fechado em termos de oportunidades, especialmente, no caso das mulheres indocumentadas. Isso quer dizer de mais uma vulnerabilidade, ou seja, as assimetrias sociais que elas vivenciam as colocam numa posição de vulnerabilidade e de restrição do seu poder de margem de agência, de estratégia de sobrevivência, o que, sim, causa um dano emocional e uma subjetividade ferida.
Fonte: Arquivo Pessoal
(En)Cena –Na sua opinião, qual seria o caminho para as mulheres no pós-pandemia?
Dra Camila Craveiro – Eu torço, eu espero, eu anseio que o caminho pós-pandemia seja um caminho de ressurgimento. Ressurgimento da capacidade de mobilização, de estratégias de luta, da força que se perdeu ou que foi minada durante a pandemia. Essa exaustão que a gente falou anteriormente, foi uma exaustão sentida em todas as camadas sociais de mulheres. Eu espero que uma vez superado este contexto (quando estivermos todas vacinadas), que possamos retomar planos, sonhos e estratégias. Eu espero que a gente ressurja mais fortes, dispostas a lutar por aqueles que são nossos direitos, para garantir a promoção daquilo que já foi assegurado e pela conquista do que ainda está no nosso horizonte. Minha esperança é uma esperança de luta e de resiliência, para que a gente comece também a construção de uma sociedade que promova a igualdade de gêneros, ou seja, a igualdade de oportunidades.
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Núcleo em Defesa da Mulher da DPE alerta: violência psicológica também é relação violenta
11 de setembro de 2020 Assessoria de Comunicação Defensoria Pública do Estado do Tocantins
Notícias
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Na esfera da Lei Maria da Penha ou Civil, a denúncia pode resultar em medidas protetivas, afastamento do lar, proibição de se aproximar da vítima, manter contato e, especialmente, indenização.
Quando se fala em violência doméstica contra a mulher automaticamente se vem à mente uma pessoa com hematomas, machucada, agredida fisicamente. Mas, o que nem todos sabem, é que essa é só uma parte do que vítimas passam ao lado dos seus agressores. Muito frequente, porém, pouco relatada, está a violência psicológica, às vezes, tão cruel quanto à violência física. O alerta é do Núcleo Especializado em Defesa dos Direitos da Mulher (Nudem) da Defensoria Pública do Estado do Tocantins (DPE-TO) que destaca que a violência psicológica também é uma relação violenta.
O Nudem lembra que os sinais são sutis, às vezes imperceptíveis, mas nem por isso deixam de causar dor e sofrimento. “Fazendo a vítima crer que é amada e que os gestos são para proteção ou cuidado, o agressor, muitas vezes movido pelos ciúmes, se vale de instrumentos para controlar a vida da vítima, quer seja através da regulação de suas amizades, da proibição de contatos com familiares ou colegas de trabalho”, relata a coordenadora do Núcleo, defensora pública Franciana Di Fátima Cardoso.
Segundo a defensora pública, normalmente a vítima demora a perceber que sua autonomia está sendo afetada. “Sentindo-se no controle, ou buscando mais controle, o agressor passa a humilhar, fazer ironias, ridicularizar, minimizar as qualidades de sua companheira”, reforça Franciana Di Fátima ao acrescentar que a violência psicológica influencia, aos poucos, na autoestima da mulher e ela deixa de acreditar em si e suas capacidades. “Muitas vezes, a vítima leva anos para perceber o longo processo de violência que passou. Normalmente, só se dá conta da ocorrência dessa violência quando o agressor avança para violência física ou sexual”.
Fonte: encurtador.com.br/mozOQ
A coordenadora do Nudem lembra que é um comportamento que começa muito sutil e muitas vezes o agressor faz parecer com amor, justificando com comentários como: “‘estou cuidando de você’, ‘faço isso porque te amo’, Eu te amo muito mais que sua família ou seus amigos”, fazendo a mulher, em muitos casos, se sentir culpada por manter relações de amizade ou contato com familiares. A gente precisa estar atenta aos comportamentos do agressor que podem afetar as crenças e a capacidade de decidir da mulher”, pontuou Franciana Di Fátima.
Basta!
Assistida da Defensoria Pública, uma mulher de 40 anos demorou 20 anos para encerrar o ciclo de violência com o ex-marido. Em maio deste ano, ela deu um basta e denunciou o agressor.
Ela recorda que desde o início do relacionamento foi violentada psicologicamente. “Ele me xingava de todos os jeitos. Dizia que eu era pequena, que ele tinha evoluído e eu não. Em alguns momentos eu me sentia um lixo. Por várias vezes me deixei acreditar. Fui massacrada, estou juntando os caquinhos”, lembra ao comentar que o resultado final foi uma profunda depressão.
Fonte: encurtador.com.br/gqIPR
Apesar do pouco tempo de separação, ela conta que já consegue olhar sua vida de outra forma. “Eu me transformei. Comecei a ver a vida, as coisas, situações, tudo de uma forma diferente. Que sou capaz, que ele não é melhor que eu. Pelo contrário, sou uma guerreira, mulher de caráter, de respeito”, destaca.
Hoje, é ela quem dá conselho: “não se cale, porque quanto mais a pessoa se calar e aceitar, mais violência vai sofrer. Não deixe o tempo passar, mais difícil fica de se cicatrizar e a tendência do agressor é sempre piorar. A gente perde muitos anos de vida. A gente tem que denunciar!”
Responsabilização
Pelo código penal, a coordenadora do Nudem explica que não há como responsabilizar o agressor por essa conduta, exceto se houver ameaça, cárcere privado. “Tem que analisar caso a caso. Mas há condutas que são resolvidas na esfera da Lei Maria da Penha ou Civil e resultar em medidas protetivas, afastamento do lar, proibição de aproximar da vítima, manter contato e especialmente indenização. Se o ato configurar crime há pena prevista para o crime praticado”, explicou a defensora pública.
Você não está só!
Quebrar o ciclo de violência é sempre um desafio para a vítima. Por isso, a Defensoria Pública lançou a campanha “Você não está só!”. Uma maneira de encorajar a mulher a procurar ajuda e denunciar o agressor. É uma realização do Núcleo em Defesa dos Direitos da Mulher (Nudem) e o Núcleo em Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (Nudeca).
Para conhecer a Campanha e divulgá-la nas suas redes sociais, colaborando, desta forma, para que mais pessoas tenham acesso às informações, clique aqui.
Não é fácil definir um relacionamento abusivo, muito menos identificar se você é o abusador ou o abusado. Claro, algumas situações são óbvias, como por exemplo, quando a esposa apanha do marido, quando há uma violência explicita. Mas o relacionamento abusivo não se limita a surras e a danos físicos. O dano psicológico é até mais devastador do que o corpo machucado. Mulheres gostam de apanhar? A não ser em casos de masoquismo, a resposta é “não”. Então por que não se defendem? Por que não delatam o companheiro violento? Por que continuam com ele e ainda inventam desculpas para suas surras? Simples, porque antes de serem abusadas fisicamente, elas foram abusadas psiquicamente.
Antigamente, somente os homens trabalhavam. Eram eles que sustentavam a família. Eram eles que recebiam salário. Eram eles que detinham o poder dentro de casa. O marido mandava e a mulher obedecia. Simples assim. Em famílias mais machistas, o homem poderia trair a esposa, agredi-la física e verbalmente, inclusive diante de outras pessoas, controlar suas amizades, seus relacionamentos familiares, enfim, o homem era o dono e a mulher, a propriedade. A maioria aceitava o fato como se fosse uma lei. No entanto, mesmo aquelas que se revoltavam contra isso, eram obrigadas a aguentar, ou porque não tinham como se sustentar sozinhas, dependiam do marido para tudo, ou porque a família era contra a separação. O aspecto religioso também tinha muita influência na submissão da mulher. O homem era a cabeça, dizia a igreja, e a esposa tinha obrigação de obedecê-lo. Em algumas partes do mundo, até hoje isso é realidade.
Mas e quanto às mulheres que são independentes, livres da dominância masculina e religiosa? Por que não se rebelam contra o relacionamento abusivo? Por que continuam dia após dia ao lado do abusador? Por que inventam desculpas que protegem o homem que as espanca?
Fonte: encurtador.com.br/jrIJ5
Alguns esclarecimentos
Para efeito desse artigo, usarei sempre o exemplo de um homem, como abusador, e sua companheira, como abusada. Mas antes de mais nada, é preciso deixar alguns pontos bem claros. Nem todo abusador usa da violência física. A violência psicológica é mais poderosa e duradoura. Não deixa marcas e o dano pode ser irreversível.
Nem sempre o abusador é o homem. Mulheres também podem ser, e muitas vezes são, abusivas.
Qualquer relacionamento pode ser abusivo. Entre pessoas de sexos opostos ou não.
Qualquer relacionamento pode ser abusivo, não apenas entre casais. Pode haver abuso entre amigos, entre pais e filhos, entre professores e alunos.
Nem sempre o abusador sabe que está abusando e nem sempre o abusado percebe que está sendo dominado.
O abusador não tem cara de vilão e o abuso começa aos poucos, discretamente, disfarçadamente. Normalmente ele é encantador, cativante e você não acredita na sorte que teve de encontrá-lo.
Muitas vezes o abusador se torna abusador porque o abusado lhe confere muito poder. Nem sempre é fácil resistir ao poder.
Fonte: encurtador.com.br/vDFQV
Mas no que consiste o abuso?
Como saber se você está em um relacionamento abusivo?
Você começa a perder a voz. Sua voz não é mais ouvida, não tem mais valor.
Você começa a perder os amigos. De repente, não há mais nenhum amigo em sua vida.
Você começa a se afastar dos parentes. Frequenta cada vez menos os eventos, as festas, as reuniões sociais.
Você muda a maneira de se vestir, você para de beber, não dá mais aquelas gargalhadas altas, não faz mais nada divertido.
Você frequentemente se sente inadequada.
Você frequentemente se sente indigna de amor.
Você já não tem mais autoestima.
A única pessoa que te ama verdadeiramente é aquela que está ao seu lado.
Nada do que você faz está certo. Nada do que você faz tem valor.
Você não serve para nada.
Você se olha no espelho e não mais se reconhece.
Quando é maltratada, você acha que mereceu, que a culpa foi sua.
Você tem medo de perdê-lo, pois ninguém mais vai te querer.
Fonte: encurtador.com.br/hJM45
A armadilha
Júlio é encantador. Não necessariamente bonito, mas charmoso. Desde o começo trata Amanda como se ela fosse uma joia rara e delicada. Ele lhe dá presentes lindos, leva a amada a diversos restaurantes, conquista toda a sua família e até os amigos dela incentivam o namoro.
Ele pede que Amanda vá morar com ele e ela prontamente aceita.
Um dia, vão sair para jantar e ele diz, com todo o cuidado, que a roupa dela está muito decotada. Mulher de respeito não usa roupas daquele jeito. O que vão pensar dela? Se ela quiser sair assim mesmo, tudo bem, ele só está zelando por sua imagem. A mulher gosta de sua roupa, mas talvez ele tenha razão. E não custa nada agradá-lo, só dessa vez.
Mas aos poucos, ela começa a usar, cada vez mais, roupas mais sérias e sóbrias. Afinal, não quer que ninguém pense mal dela e seu companheiro só está tentando protegê-la.
Eles vão a uma festa na casa de alguns amigos e na volta ele fica amuado. Quando ela insiste em saber o que aconteceu, Júlio lhe diz que seus amigos são falsos e não gostam dela de verdade. Com exceção do Rafael que está dando em cima dela e só ela não percebe.
A mulher não acredita, mas quando saem com seus amigos novamente, ela começa a procurar sinais em todos eles. Aos poucos, vai se afastando dos homens e restringe sua amizade só às mulheres.
Mas as mulheres também não prestam. A Luciana tem inveja dela e a Raquel está sempre se insinuando para ele. Assim, Amanda começa a evitar suas amigas. Com o tempo, os convites ficam mais escassos e logo a mulher não tem mais com quem sair, a não ser os amigos de Júlio, de quem ela não gosta muito.
O homem também começa a implicar com a família de Amanda. Nada muito óbvio, nenhum insulto claro. Apenas algumas alusões à fatos que ele percebeu: sua família nunca a amou de verdade. O preferido sempre foi seu irmão. Seu pai, obviamente não gosta dele e faz com que ele se sinta um intruso na família.
Aos poucos, Amanda começa a se afastar também da família. Não tem problema, ela está com Júlio, o único que a ama de verdade.
Então, ele começa a fragilizar a confiança da mulher. Ela está engordando. Em tom jocoso, começa a chamá-la de bolota. Seus cabelos estão muito compridos. Seus cabelos estão muito curtos. Ela não vai envelhecer muito bem. Ela está com aparência de doente. Ainda bem que ele não liga para as aparências. Mas ela podia se esforçar um pouquinho mais.
Júlio sempre caçoa de Amanda, chamando-a de burrinha. Tudo o que ela diz, é bobagem. Ela não sabe de nada. Tão tapadinha, coitada.
Ele vai minando as forças da mulher em todas as áreas. Quando ela fica zangada ou ofendida, no dia seguinte ele lhe dá uma dúzia de rosas.
Em um dia, ele lhe agrada. No dia seguinte, ele a despreza.
Amanda passa a viver em uma montanha russa de emoções. Quando acha que não vai suportar mais suas grosserias, Júlio a surpreende com algum presente ou a leva para jantar em seu restaurante favorito. Ele a eleva um pouquinho, para em seguida deixá-la cair de cabeça.
Ninguém jamais vai te amar como eu te amo. Você é burra mesmo. Nossa, você está cada dia mais feia. Quem vai olhar para você? Seu gosto para roupas é muito cafona. Deixa que eu escolho o que você vai vestir. Você não percebe que todo mundo caçoa de você. Fala menos que é melhor. Não sei o que vi em você. Mas não se preocupe, estarei sempre ao seu lado.
A autoestima de Amanda nunca esteve tão baixa. Uma mulher linda, inteligente, independente. Competente em seu trabalho. Respeitada pelos colegas. Mas quando ela se olha no espelho, tudo o que ela vê é uma mulher gorda, acabada, velha, burra, desprezada, um zero à esquerda. Ela não tem mais valor. Ela não tem mais opinião própria. Era viva, alegre, sorridente. Agora mal sorri. Mas Amanda não conta nada a ninguém. Não quer que julguem seu companheiro. Afinal, ele é muito bom para ela. Se às vezes ele a magoa é porque só quer o seu bem. Ele a ama.
Depois de um tempo nesse relacionamento tóxico, Amanda já se acostumou a ser maltratada. Os insultos ficam cada vez piores. As gentilezas cessam. A sutileza some. Uma vez, a comida está sem sal. Ele joga o prato que se espatifa no chão. Furioso ele manda a esposa limpar aquela sujeira. Amanda se recusa. Está magoada e assustada. Júlio, então lhe dá um tapa na cara. Mais tarde, ele vai procurá-la no quarto e diz que ela o força a fazer essas coisas. Ele não quer, mas ela precisa aprender. Amanda, já com seu psicológico completamente fragilizado, passa a acreditar que realmente tudo é culpa dela.
Um dia a mulher chega ao trabalho com o olho roxo. Os colegas perguntam o que aconteceu e ela responde que caiu e bateu o rosto no móvel da sala.
Outro dia ela liga para o trabalho alegando que está doente. Mas quando ela volta a trabalhar, as marcas em seus braços ainda são visíveis.
A violência física e verbal vai se tornando cada vez pior. Amanda pensa constantemente em se separar, mas e se nunca mais alguém gostar dela? Ela é muito amada, tem certeza disso. Quem mais a amaria? Quem mais cuidaria dela como Júlio cuida? Ela não vale nada. Ela é feia, gorda, burra, incompetente. Quem mais ficaria ao lado dela?
E assim acontece com muitas mulheres, nesse mundo moderno, ainda nos dias de hoje. Não há, necessariamente violência física. Nem todos os relacionamentos abusivos chegam até esse ponto. Mas certamente há violência psicológica. E essa é a chave de tudo.
Fonte: encurtador.com.br/kvxGZ
Como então, se proteger?
Você pensa: ah, isso jamais aconteceria comigo. Será? Imagine uma torneira pingando uma gota de água incessantemente. No começo, você não presta atenção. Depois, começa a ficar levemente irritado. Depois acha que vai enlouquecer. Mas as primeiras gotas, você nem percebe. É muito fácil se deixar influenciar sem perceber. Depois de ser bombardeado com determinada informação, o cérebro passa a acreditar naquilo que está ouvindo constantemente. E quem manda é o nosso cérebro.
Lembre-se, nem sempre percebemos essa lavagem cerebral. Precisamos estar constantemente atentos. Isso é possível? Se estivermos sozinhos, será muito difícil. A armadilha é sutil. Nenhum homem maltrata uma mulher logo que a conhece. Primeiro ele a conquista. Depois ele vai minando sua confiança pouco a pouco. As mulheres abusadas não são burras, não gostam de apanhar, não são carentes, não escolheram ser abusadas.
Então não tem saída? Sim, tem. Nunca se isole. Converse sempre com alguém de sua confiança. Você precisa ter pelo menos alguém na sua vida com quem possa conversar sobre tudo, nem que seja um terapeuta. Alguém que não vai julgar, não vai condenar, e vai mostrar uma perspectiva que você não está enxergando. Uma pessoa que possa devolver a sua voz.
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Violência Doméstica e Feminicídio é tema de Minicurso no Caos 2019
Carlos trouxe o fato histórico da famosa ‘Caça às Bruxas’, relembrando como mulheres que tinham conhecimento sobre ervas medicinais foram consideradas bruxas
Nesta terça-feira (21) iniciaram-se as programações do Caos 2019, o Congresso Acadêmico de Psicologia do Ceulp/Ulbra. Na ocasião, o psicólogo Carlos Mendes Rosa ministrou o minicurso “Da violência doméstica ao feminicídio: um caminho a ser interrompido”.
Como ponto inicial da discussão, Carlos trouxe o fato histórico da famosa ‘Caça as Bruxas’, relembrando como mulheres que tinham conhecimento sobre ervas medicinais foram consideradas bruxas e por isso mais de 1 milhão delas foram mortas nas fogueiras.
Com isso, foi possível traçar um pensamento histórico e profundo, de como o preconceito contra a figura do feminino remonta aos tempos remotos e ainda perdura até os dias de hoje.
O psicólogo ainda apontou fenômenos como Objetificação da Mulher, Cultura do Estupro, Assédio Moral e Sexual, Machismo e Feminismo. Desta forma salientando como mulheres se tornam as vítimas desse sistema extremante opressor e machista, sendo mortas apenas pelo fato de serem mulheres.
Tais pautas se mostram atuais e pertinentes no que tange a atuação do Psicólogo como promotor de saúde mental no âmbito social e político. Uma vez que, entender sobre as dinâmicas que perpassam a violência contra a mulher, prepara os psicólogos que futuramente lidarão com as vítimas e os agressores em sua atuação profissional!
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CAOS: Manejo clínico de vítimas de violência doméstica
Nesta terça, 22 de agosto, ocorreu no Ceulp/Ulbra o minicurso “Manejo clínico de vítimas de violência doméstica”, ministrado pela Psicóloga Verônica Ribeiro Franco Vilela, como parte da programação do Congresso Acadêmico de Saberes da Psicologia (Caos). Verônica é Psicóloga clínica, foi psicóloga Forense na Vara de Violência Doméstica de Palmas – TO (2010 a 2016), coordenadora da equipe multidisciplinar da Vara de Violência Doméstica de Palmas – TO (2013 a 2016) e Supervisora de campo na Ênfase Prevenção e Promoção de Saúde para os Acadêmicos de Psicologia do CEULP (2013 a 2016).
A psicóloga, que adota o viés psicanalítico, contou com a colaboração do Psicólogo egresso do Ceulp/Ulbra Eliézio Feitosa Freitas. Juntos apresentaram informações sobre as configurações e dinâmicas da violência doméstica, ilustrando com suas experiências na Vara de Violência Doméstica de Palmas, na qual ela atuou com Psicóloga e ele como estagiário.
Verônica iniciou sua fala com o panorama atual da mulher violentada na sociedade, no qual julgamentos inadequados são recorrentes, juntamente culpabilização e estereotipagem. A profissional alerta que não se utilize somente os termos ‘vítima’ e ‘agressor’, uma vez que essas pessoas ‘estão’ em situação de violência, e não ‘são’ a violência propriamente dita. Segundo ela, devido à estigmatização de papéis, muitos processos de recuperação teriam sido afetados.
De acordo com a ministrante, a violência doméstica pode ser definida como qualquer conduta de ação ou omissão de discriminação, agressão ou coerção, e que cause dano à mulher, sendo eles: morte, constrangimento, limitação sofrimento físico, sexual, moral, psicológico social, político, econômico e material. Para se configurar como tal uma agressão deve acorrer nas seguintes circunstâncias: no âmbito da unidade doméstica, no âmbito da família ou em qualquer relação íntima de afeto.
Fortemente abordada, a progressão nas formas de violência doméstica e familiar, segundo a psicóloga, tem o ápice de denúncias com a violência física, porém pode ser psicológica, sexual, patrimonial e moral. Eliézio e Verônica compartilharam situações ocorridas nos atendimentos, de modo que o os participantes puderam estabelecer conexões entre as teorias e a prática.
Para o acadêmico de psicologia Eduardo Busquets, que participou do minicurso, pôde-se perceber a apresentação do viés da atuação na Psicologia Forense ou Judiciária com suas possibilidades e limitações práticas, “além da discussão e apresentação de conceitos teóricos da psicologia, foi possível perceber que esse aporte tem que caminhar articulado à interpretação da legislação”, pontua.
Em pesquisa realizada sobre violência doméstica e familiar contra as mulheres no Brasil, divulgada no mês de Junho, revela-se um aumento no número de mulheres que declaram ter sofrido algum tipo de violência doméstica: o percentual passou de 18%, em 2015, para 29%, em 2017. Mais de 212 mil processos registrando casos de violência doméstica e familiar foram abertos no Brasil em 2016.
O Congresso
Durante os dias 21 a 25 de agosto de 2017, semana em que se comemora o Dia do Profissional de Psicologia, o Congresso Acadêmico de Saberes da Psicologia (Caos) acontece no Ceulp/Ulbra contando com uma série de atividades que se debruçam sobre um dos temas mais emergentes da contemporaneidade, a violência. Temas como ‘Manejo clínico de vítimas de violência doméstica’, ‘Violência no Trânsito’, ‘Prevenção ao Suicídio e automutilação’, ‘Violência nas redes: em que momento nos tornamos tão insensíveis ao outro?’, ‘Alienação Parental no contexto sociojurídico’, ‘Violência e Sofrimento Psíquico no Trabalho’ e ‘Mídia, Corpo e Violência’ serão alguns assuntos abordados, dentro de uma programação que envolve aproximadamente 30 atividades.
Serviço:
O que: Palestra e mesas-redondas
Quando: 21 a 25 de agosto de 2017 Onde: Auditório Central do Ceulp/Ulbra
Realização: Curso de Psicologia do Ceulp/Ulbra
Apoio: Conselho Regional de Psicologia – CRP-23, Prefeitura de Palmas, Jornal O Girassol, Psicotestes, GM Turismo, Coordenação de Extensão do Ceulp/Ulbra, Coordenação de Pesquisa do Ceulp/Ulbra.
Mais informações:
Coordenação de Psicologia: Irenides Teixeira (63) 999943446 Assessoria do Ceulp/Ulbra: 3219 8029/ 3219 8100 Programação e Inscrições:http://ulbra-to.br/caos/
“Um dia, ele tinha chegado de viagem de tarde, e nós tínhamos um compromisso com uma amiga. Nós saímos pra fazer essa visita, voltamos, arrumei as crianças na cama e fui dormir. Eu acordei com um estampido dentro do quarto. Eu fui me mexer e não consegui, então eu pensei: ‘puxa, o Marco me matou’”. [1]
Cearense, bioquímica e dona de uma história de sofrimento que teve repercussões internacionais, Maria da Penha Maia Fernandes é uma brasileira que não descansa no combate à violência doméstica. Seu nascimento data o ano de 1945, na cidade de Fortaleza, [4] onde cresce e forma-se na UFC. Mais tarde torna-se mestre em Parasitologia em Análises Clínicas, pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP [2]. Por ironia do destino a escolha da sua área profissional deu-se pelo desejo de diminuir a dor das pessoas, por meio de medicamentos [3], mal sabia ela que em breve sofreria agruras e dores que as medicações não poderiam resolver.
Fonte: http://migre.me/wc8ty
Foi no período de pós-graduação na USP que Maria conheceu o futuro marido e pais de suas filhas, era ele Marco Antônio Heredia Viveros. Colombiano e também bolsista na mesma universidade, era graduado em Economia. Durante o namoro foi um rapaz de saltar olhares, de “bom” porte físico e muito prestativo, mas passava por grandes dificuldades financeiras para manter o lazer com a companheira, esta era quem o custeava [3]. Aflorados por um sentimento conjugal, casaram-se e logo tiveram a primeira filha. Devido a não naturalização e desemprego de Marco e uma segunda gestação do casal, decidiram sem êxito ir para cidade natal de Maria da Penha.
Em 1983, após um bom tempo da transição do marido prestativo para o economista bem-sucedido, agressivo com a esposa e filhas e com graves problemas emocionais, aconteceu a primeira tentativa de homicídio, um tiro nas costas enquanto ela dormia. Posteriormente, após quatro meses entre internação e cirurgias, ao retornar para casa ela sofre a segunda tentativa, quase é eletrocutada ao tentar usar o seu próprio chuveiro. Então se inicia a sua peregrinação por justiça – denúncias, audiências e descaso do sistema judiciário Brasileiro – que se estendeu por 19 anos.
Fonte: http://migre.me/wc8ut
Somente mediante a publicação de sua autobiografia no livro “Sobrevivi… Posso contar”, em 1994, e quatro anos depois com o auxílio do CEJIL (Centro pela Justiça e Direito Internacional) e do CLADEM (Comitê Latino-Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher) foi que Maria da Penha conseguiu notoriedade para seu caso. Aliando-se, denunciaram o Brasil para Comissão Interamericana de Direitos Humanos e da Organização dos Estados Americanos (OEA) [4]. Desse modo:
“O Brasil foi responsabilizado pela maneira negligente com que os casos de violência contra a mulher eram julgados no país.Foi a própria OEA que exigiu do governo brasileiro a criação de uma legislação específica. Foi criado um consórcio de ONGs e juristas para discutir e fazer um projeto de lei. Foram feitas várias audiências públicas, e o projeto foi aprovado pelo Congresso com unanimidade”. [1]
Ainda nesse contexto, foi criado um projeto de lei (pelo Governo Federal via Secretaria de Políticas Públicas da Mulher), aprovado na Câmera e no Senado, que tornou-se (no dia 7 de agosto de 2016) a atual Lei 11.340, mais conhecida como Lei Maria da Penha. Esta cria mecanismos para coibir qualquer tipo de violência contra mulher no âmbito doméstico e familiar [5], visto que até então havia “tolerância” de natureza patriarcal em relação a tal fato.
Fonte: http://migre.me/wc8tV
No que tange aos fundamentos da Logoterapia desenvolvida por Viktor Frankl (1991), onde a busca de sentido na vida é a força motivadora do ser humano, o sofrimento de Maria da Penha pode ter lhe suscitado um sentido para sua vida. De acordo com Frankl (1991) pode-se satisfazer a vontade de sentido (da vida) por três maneiras distintas: trabalho, amor e sofrimento. Este último “consiste em transformar uma tragédia pessoal num triunfo, em converter nosso sofrimento numa conquista humana” [6]. É nessa perspectiva que Maria sai da mera passividade de sofrer, transmutando-se num ser ativo que não cessa ao alcançar a justiça para sua fatalidade, mas que encontra sentido em auxiliar suas semelhantes na luta contra a violência doméstica, as quais passam ou podem passar por algo análogo.
Nesse ínterim, Maria da Penha – ícone internacional da luta, perseverança e resiliência – é o exemplo vivo que a luta se sobrepõe à dor. Até mesmo a paraplegia, causada pelas tentativas de homicídio por parte do marido, não foi capaz de pará-la no decurso de sua peleja para puni-lo e aos demais brasileiros que de alguma forma agridem a mulher. A partir da Lei 11.340/2006, também foram criados outros meios confronto em prol da justiça, como: o disque 180 (Central de atendimento à mulher), o Observatório para Implementação da Lei Maria da Penha (LMP), a Campanha “Compromisso e Atitude pela Lei Maria da Penha – A lei é mais forte e o Instituto Maria da Penha (IMP), o qual é fundadora.
Premiações e reconhecimentos [7]:
Sanção da Lei (07/08/2006)
Medalha Jorge Careli – Rio De Janeiro – (08/2009)
Batismo do Navio “Sergio Buarque de Holanda” Porto de Mauá – (2010)
Reedição do Livro “Sobrevivi…Posso Contar” (2010)
Comenda Mulher Coragem – Promoção de Direitos Humanos, concedida pela Embaixada dos Estados Unidos no Brasil (04/2010)
Ordem de Cruz de Dama Isabel la Católica, concedida pela Embaixada da Espanha no Brasil (09/2011)
Ordem Rio Branco
TEDEX Fortaleza – Apresentação de Maria da Penha no 1º Tedex em Fortaleza (06/2012)
Women in the World faz doação ao Instituto Maria da Penha (12/2012)
Participação de Maria da Penha na Campanha do World Bank “Homem não bate em Mulher” (03/2013)
Prêmio de Direitos Humanos 19ª Edição- Categoria Igualdade de Gênero (12/2013)
Prêmio Rio Mar Mulher (03/2015)
Medalha da Abolição Ceará – (04/2015)
Troféu Rosa de Ouro – FECAPES Clube (06/2015)
Prêmio Cláudia Hors Concours 2016 (10/2016)
Prêmio Franco-Alemão de Direitos Humanos e Estado De Direitos (12/2016)
REFERÊNCIAS:
[1] VELASCO, glória. ‘Foi a glória’, diz Maria da Penha sobre criação da lei há 10 anos. Jornal G1, São Paulo, 01 ago. 2016. Disponível em: <http://g1.globo.com/politica/noticia/2016/08/foi-gloria-diz-maria-da-penha-sobre-criacao-da-lei-ha-10-anos.html>. Acesso em 03 de março de 2017.
[2] FERNANDES, Maria da Penha Maia & GUERREIRO, Cláudia. Perfil – Maria da Penha. Desafios do desenvolvimento, ano 10, 77. ed., Brasília, 07 out. 2013. Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option=com_content&view=article&id=2938:catid=28&Itemid=23>. Acesso em 03 de março de 2017.
[3] FERNANDES, Maria da Penha Maia. Sobrevivi… Posso contar. 2. ed. Fortaleza: Armazém da Cultura, 2014.
[4] Maria da Penha. Disponível em: http://www.institutomariadapenha.org.br/2016/index.php/sobre-maria-da-penha/minha-historia>. Acesso em 02 de março de 2017.
[5] REPÚBLICA, Presidência da. LEI Nº 11.340, DE 7 DE AGOSTO DE 2006. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm>. Acesso em 02 de março de 2017.
[6] FRANKL, Viktor Emil. Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração. São Paulo: Vozes, 1991.
[7] Premiações e Reconhecimentos. Disponível em: <http://www.institutomariadapenha.org.br/2016/index.php/sobre-maria-da-penha/premiacoes-e-reconhecimentos>. Acesso em 02 de março de 2017.
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Salvador sedia I Congresso Internacional de Psicologia Jurídica e Direito Penal
16 de outubro de 2016 Gilstéfany Oliveira
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Será realizado nos dias 17 a 19 de novembro o I Congresso Internacional do Nordeste com o tema Psicologia Jurídica e Direito Penal em Salvador-BA no Hotel Fiesta.
O congresso conta com mais de dez conferências, minicursos, mesas-redondas e atividades. São temas do encontro: psicologia criminal, jurídica, forense, penitenciária, investigativa; perícia psicológica, violência doméstica e direito penal.
Mais informações e inscrições podem ser realizadas no site do evento.