Relatando um dia de vivência com a equipe do Consultório na Rua

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No dia 16 de setembro de 2021, vivenciei uma experiência única juntamente com a equipe do Consultório na Rua (CNR). Foi uma manhã de muito trabalho e entrega daquilo que fomos capacitados para fazer: viabilizar e garantir a saúde da população em situação de rua.

São designados profissionais participantes do consultório na rua: o agente social, enfermeiro, técnico em enfermagem, assistente social, médico, profissional de educação física, psicóloga, técnico em saúde bucal, profissional na área de artes e um terapeuta ocupacional (PORTARIA, n. 1.029, 2014).

Estes profissionais são divididos em modalidades, sendo a modalidade I composta por quatro profissionais, sendo dois de nível médio e dois de nível superior. A modalidade II é composta por seis profissionais, sendo três de nível superior e três de nível médio e na modalidade III, é composta pelo mesmo número de membros da modalidade II, com o acréscimo de um profissional médico. (PORTARIA, n. 122, 2011).

 A equipe de Palmas- TO é de modalidade I, composta por dois profissionais de nível superior e dois profissionais de nível médio. A enfermeira Karine Ghisleni é a coordenadora do consultório na rua em Palmas e esteve à frente realizando a abordagem com os usuários do serviço. Esteve presentes também a técnica de enfermagem Silvaci de Araújo Reis, a Psicóloga Residente em Saúde Mental Lauana Paula e também o motorista da equipe Wolney.

Fonte: encurtador.com.br/mCQW2

 Santos (2016) define que o CNR é um serviço de atenção básica que tem por objetivo a atuação de forma itinerante e multidisciplinar, com a política de redução de danos, desfazendo o conceito que apenas o usuário que tem que buscar ajuda profissional.

A ação iniciou-se às 7h e terminou às 10h da manhã. Visitamos diferentes pontos de Palmas onde encontramos moradores de rua e pessoas em situação de rua. A diferença é que os moradores de rua não possuem um lar e moram exclusivamente na rua e as pessoas que estão em situação de rua são pessoas que muitas vezes tem um lar, ou possuem um emprego precário ou por outros motivos de questões familiares e/ou individuais escolhem ou chegam nesse ambiente de rua e a maioria acaba se tornando usuário de álcool e outras drogas (BRASIL, 2020).

Quando estive com a equipe do CNR, foi informado que uma das funções exercidas são os exames de rotina como a baciloscopia de escarro para rastreio de possíveis doenças ou patologias das pessoas em situação de rua. Grande parte dos exames que são realizados são os de sangue para verificar a saúde deles e também se possuem alguma IST (Infecção Sexualmente Transmissível). São realizadas orientações de educação em saúde, além da oferta de anticoncepcionais injetáveis, preservativos femininos e masculinos e lubrificantes como medidas de redução de danos.

 Foram distribuídos medicamentos para usuários que têm distúrbio neurológico, roupas, agasalhos e kits de higiene. Em alguns pontos foram feitos alguns agendamentos de consultas de saúde bucal.

Cazanova (2012) destaca que a equipe do CNR tem por planejamento, realizar a abordagem individual e coletiva das pessoas em situações de rua, acompanhar internações, pré-alta, pós-alta e incluir essas pessoas aos serviços de atenção básica em saúde, hospitais, serviços especializados em ISTs, bem como a reinserção escolar, social e familiar intermediando a promoção de direitos e cidadania dos usuários do serviço.

No dia da ação, me senti muito privilegiado por ter participado e contribuído com a equipe. É muito importante o que esse serviço faz por pessoas nesta situação de rua, pois muitos deles não possuem uma rede de apoio e não tem com quem contar. Estas pessoas estão diariamente exposta a várias formas de violência e estão privadas de direitos fundamentais, enfrenta a falta de privacidade, tomam banho em praças ou postos de combustíveis, tem condições precárias de sono, higiene, alimentação e que os levam a ter uma autoestima baixa, pois não conseguem manter um cuidado maior com eles mesmos.  perdem a esperança de conquistarem algo melhor ou mudar de vida, além dos vínculos sociais que na maioria das vezes são perdidos (ROSA, SANTANA, 2018).

Fonte: Arquivo Pessoal

Durante a abordagem pude ver quantas histórias existem por trás de cada pessoa, família, e que existem vários motivos que levaram essas pessoas a estarem nesta situação de rua. Percebi o quanto o SUS é importante e tem levado saúde e dignidade para quem precisa. Sabemos das dificuldades e dos problemas que existem dentro do sistema, mas o que não podemos negar é que sem ele, muitos de nós não teria acesso a sequer uma consulta.

Ressalto o quão importante é que tenhamos a visibilidade para as pessoas que estão em situação de rua, pois para muitos eles são invisíveis, ninguém quer enxergar que eles estão ali ao nosso lado, nas praças, bancos, pontes e nos cantos da cidade. O preconceito social existente faz com que eles sejam rotulados como marginais drogados, pessoas que não escolheram trabalhar ou estudar e por isso se tornaram moradores de rua (SICARI, 2018). A realidade é que nem todos conseguem direitos básicos para sobreviver e a rua é o único lugar que os acolhe.

É muito importante que as pessoas tenham uma visão mais humanizada para a população em situação de rua. Durante a ação que estive presente, consegui visualizar o quão grato eles ficaram por estarmos ali oferecendo cuidados a eles. Algo que para a maioria dos que estão lendo este relato se tornou comum, como tomar banho, ter eletricidade, gás, uma cama para dormir, para nenhum deles ali era a realidade.

 No olhar de alguns deles enxerguei o sonho de mudar de vida, sair da dependência de drogas, álcool ou conquistar uma moradia e comida e a vontade quando finalizamos a ação foi de poder fazer muito mais por eles.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria GM/MS no 1.029, de 20 de maio de 2014, que amplia o rol das categorias profissionais que podem compor as Equipes de Consultório na Rua em suas diferentes modalidades e dá outras providências. Brasília: Diário Oficial da União, Seção 1, 2014, p.55.

Brasil. Ministério da Saúde. Portaria n° 122, de 25 de janeiro de 2011. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2012/prt0122_25_01_2012.html Acesso em:22 de set. 2021.

CAZANOVA, R. F.. A Integralidade na Fonte do Consultório de Rua no SUS. Orientadora: Leonia Capaverde Bulla. 2012. 151f. Dissertação (Mestrado em Serviço Social) – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Faculdade de Serviço Social, Porto Alegre, 2012.

LIMA, Daiane Silva et al. A EFETIVIDADE DO CONSULTÓRIO NA RUA MEDIANTE O ATENDIMENTO COM A POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA. Farol, Rolim de Moura- Rondônia, v. 10, n. 10, p. 104-118, 01 jul. 2020.

ROSA, A. S.; SANTANA, Carmen Lúcia Albuquerque. Consultório na Rua como boa prática em Saúde Coletiva. Revista Brasileira de Enfermagem. São Paulo, 2018.

SANTOS, L. M. Consultório de/na Rua: Desafios na Atenção à População em Situação de Rua Usuária de Álcool e Outras Drogas. Orientadora: Carla Pintas Marques. 2016. 106f. Trabalho de conclusão de curso (Curso de graduação em Saúde Coletiva). Universidade de Brasília, Brasília, 2016.

SÃO PAULO (Estado). Brasil. Câmara Municipal de Adamantina. Entenda a diferença entre pessoas em situação de rua, “trecheiros” e moradores de rua. 2020. Disponível em: https://www.adamantina.sp.leg.br/institucional/noticias/entenda-a-diferenca-entre-pessoas-em-situacao-de-rua-trecheros-e-moradores-de-rua. Acesso em: 23 set. 2021.

SICARI, A. A. A cidade, a rua, as pessoas em situação de rua: (in)visibilidades e luta por direito. Orientadora: Andréa Vieira Zanella. 2018. 227f. Dissertação (Mestrado em Psicologia). Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, 2018.

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Vivência pós-depressão: de frente com meu 3º relato publicado no (En)Cena

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A Depressão é caracterizada pelo Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais – DSM – V (2014), por uma tristeza persistente consideravelmente grave, na qual interfere no desempenho ou interesse na execução das atividades diárias. Não se sabe como se origina o transtorno, podendo ser hereditário, alterações nos níveis de neurotransmissores, alteração da função neuroendócrina e fatores psicossociais.

Para Viktor Frankl (1984), a Depressão nada mais é que um vazio existencial em busca de sentido. Sobre isso, ele nos exemplifica:

“Pensemos, por exemplo, na “neurose dominical”, aquela espécie de depressão que acomete pessoas que se dão conta da falta de conteúdo de suas vidas quando passa o corre-corre da semana atarefada e o vazio dentro delas se torna manifesto. Não são poucos os casos de suicídio que podem ser atribuídos a este vazio existencial. Fenômenos tão difundidos como depressão, agressão e vício não podem ser entendidos se não reconhecermos o vazio existencial subjacente a eles. O mesmo é válido também para crises de aposentados e idosos (p. 73).

A partir da frase de Viktor Frankl: “As pessoas têm o suficiente com o que viver, mas não têm nada por que viver; têm os meios, mas não têm o sentido” (1984), veremos um texto de autoria minha, publicado em 2018, no ENCENA, em processo de depressão.

Fonte: encurtador.com.br/mNST8

Descanso é o que preciso
Caros colegas, amigos considerados e familiares, escrevo esta carta para pedir socorro. Tenho andado distante de todos. Não posto mais tantas fotos nas redes sociais, não os respondo como a mesma frequência no app. Podem pensar que estou ocupada com a faculdade, com o trabalho, mas na verdade minha mente anda ocupada pensando em como poderia “descansar” para sempre. Meu corpo está cansado, minha mente sente dores, não consigo mais produzir energia para fingir que estou vivendo, sendo que meu SER EXISTENCIAL morreu e apenas o meu corpo vagueia pelas ruas desse mundo fake.
Tenho andado sem rumo buscando um norte, um sul, um lugar, um acolhimento, um qualquer. A dor vai corroendo minha alma deixando apenas o meu físico. Os baques do dia a dia vão torturando minha alma que grita, suplica por minha misericórdia. Descanso é o que preciso, alívio é o sentimento buscado.
Se alguém estiver se perguntando o que poderiam fazer por mim, digo-lhes que não sei, mas peço que não desistam de mim, não desistam de resgatar aquela pessoa que tantos me definem por aí. Não desistam sobretudo de acreditar que poderei voltar a ser a pessoa que um dia conhecera, ou que acreditam ter conhecido.
Hoje não tenho muitas coisas para pedir além do que já pedi, nem a vocês muito menos a Deus. Falando em Deus, aqueles que acreditam que seja a falta de religiosidade, fé estão tão enganados quanto aqueles que entram no curso de psicologia para fazer terapia. Rs! Minha fé é o que tem me sustentado até aqui. Outros irão dizer que tenho que sair mais, conversar com os amigos, ocupar a mente. Pessoas, minha mente está bem preenchida, ela calcula a distância de um carro até mim. Quantos comprimidos fazem dormir. Quais os impactos de uma queda. Então, obrigada.

Fonte: encurtador.com.br/dlAE7

Procurar terapia seria a indicação correta. Os impasses são outros. Caso alguém diga que poderei superar essa sem ajuda de um profissional estará trazendo mais crises para minha vida, pois é desacreditar na profissão que escolhi.
Quero viver, uma parte de mim quer muito viver, mas estou tão cansada de tantas dores, que amigos, todos os dias é uma luta cruel comigo mesma. Declaro que está aberta o “salve-me quem puder”. Compreendam que estou doente, e como todo doente, preciso de remédio, mas não existe remédio melhor que o afeto humano. Quem estiver a fim de brincar de super-herói, já estou passando da hora de ser resgata.
Não reconheço mais meu rosto no espelho. Não reconheço o gosto das minhas lagrimas, cada dia mais amargas. Meu corpo dói. Minha mente lateja. Meu cabelo cai. Meu sorriso não é o mesmo. Minha falta de bom humor incomoda.
Socorro é o que peço.

Fonte: encurtador.com.br/iluL6

Aqui acontece o que Viktor Frankl chama de “Noodiâmica”, ou seja, uma dinâmica existencial, sendo um campo polarizado de tensão, onde um polo está representado por um sentido a ser cumprido e o outro polo, pela pessoa que deve cumprir. Para ele, não precisamos viver acreditando que a vida é uma homeostase (estado livre de tensões), e sim, uma busca e uma luta escolhida livremente tornando-se um objetivo que para ele valha a pena. Nisso, podemos nos embasar também em uma frase de Nietzsche: “Quem tem por que viver suporta quase todo como.”
No texto, está claro o estágio em que estava, não havia mais um por que viver para suportar tudo que estava se passando na época. A busca da responsabilidade de sobrevivência era diária, mas infelizmente o vazio existencial preenchia todo o espaço.
Para a Logoterapia existem três caminhos principais para alcançar o sentido da vida, que são:
“O primeiro consiste em criar um trabalho ou fazer uma ação. O segundo está em experimentar algo ou encontrar alguém; em outras palavras, o sentido pode ser encontrado não só no trabalho, mas também no amor. […] o mais importante, no entanto, é o terceiro caminho para o sentido na vida: mesmo uma vítima sem recursos, numa situação sem esperança, enfrentando um destino que não pode mudar, pode erguer-se acima de si mesma, crescer para além de si mesma e, assim, mudar-se a si mesma” (FRANKL, 1984).
Busquei novos caminhos, trabalho novo, casamento, gravidez e durante todo esse processo da gestação, pude notar que estava criando laços com a sobrevivência, agora tinha um “por que viver” e ele se chama Miguel. Nisso, notei mudanças em mim e nas formas de encarar minha trajetória, dando significados e grau de importância que cada uma delas têm na minha vida.

Fonte: encurtador.com.br/sJKQU

Depressão é uma doença que tem tratamento, onde a causa é indefinida. Não tenha receios de buscar ajuda profissional para te ajudar a encontrar o sentido da vida, fazer com que você entenda o seu vazio existencial e o preencha novamente com coisas que te façam bem.
Sua saúde mental é tão importante quanto o seu ginecologista, quanto seu check up anual, não deixe que as tensões diárias invadam seu ser. A Ulbra fornece atendimento psicológico na Clínica de Psicologia da Universidade, serviço totalmente gratuito e você, também pode e deve procurar sua Unidade Básica de Saúde do seu bairro para acolhimento e encaminhamento. Cuide-se!
Lizandra Paz de Oliveira, 28 anos, funcionária pública, estudante do 10° período de psicologia.
Referencias:
FRANKL. V. E. Em Busca de Sentido. Edição Norte Americana – de 1984. Disponível em: < https://files.cercomp.ufg.br/weby/up/58/o/Em_Busca_de_Sentido_-_Viktor_Frankl.pdf> Acesso em: 16 de maio de 2021.
LII. I. Descanso é o que preciso. EnCena. pub. 28 de abril de 2018. Disponível em: < https://encenasaudemental.com/narrativas/descanso-e-o-que-preciso/> Acesso em: 16 de maio de 2021.
Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais [recurso eletrônico] : DSM-5 / [American Psychiatric Association ; tradução: Maria Inês Corrêa Nascimento … et al.] ; revisão técnica: Aristides Volpato Cordioli … [et al.]. – 5. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2014. Editado também como livro impresso em 2014. ISBN 978-85-8271-089-0. Disponível em: http://www.niip.com.br/wp-content/uploads/2018/06/Manual-Diagnosico-e-Estatistico-de-Transtornos-Mentais-DSM-5-1-pdf.pdf > Acesso em 16 de maio de 2021.

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Vivência pós-depressão: de frente com meu 1º relato publicado no (En)Cena

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A Depressão é um Transtorno Mental correntemente encontrado na população em geral. Segundo a Organização Mundial de Saúde – OMS (2020), os problemas mentais têm sido uma predisposição global, nisso, 5,8% da população no Brasil tem sintomas depressivos, sendo o segundo nas Américas, ficando atrás dos Estado Unidos, com 5,9%.
Para o Ministério da Saúde, a Depressão é “um distúrbio afetivo que acompanha a humanidade ao longo de sua história. No sentido patológico, há presença de tristeza, pessimismo, baixa autoestima, que aparecem com frequência e podem combinar-se entre si” (BRASIL, 2015).

No sexo feminino o transtorno depressivo tem sido mais evidente e fortemente relacionado ao suicídio. Além de que, a doença provoca grande sofrimento e afeta diretamente na qualidade de vida, podendo gerar tentativas de suicídio ou o suicídio propriamente dito (CREMASCO; BAPTISTA, 2017).

Quando se fala em Depressão dentro das universidades, supõe-se que 15% a 25% dos universitários manifestam ao menos um transtorno psiquiátrico em seu período de formação acadêmica, sendo a depressão um dos aspectos dominantes (CAVESTRO; ROCHA, 2006). As alternâncias nas etapas da vida que contribuem para o desenvolvimento biológico, psicológico, cultural e social, faz com que cada indivíduo dê significados a suas experiências. Nisso, as vivencias nas universidades pode caracterizar, aos jovens, mudanças culturais, corte umbilical dos pais, inserção nos grupos/medo de não ser aceito, enfim, transformações no seu estilo de vida antes vivido.

Fonte: encurtador.com.br/bquKY

Em uma pesquisa realizada por Bonifácio, Silva, Montesano, e Padovani (2011), com 17 alunos (7 homens e 10 mulheres) das séries finais (4º ano e 5º ano) do curso de Psicologia, na Universidade Federal de São Paulo, permite considerar que demandas de moradia em repúblicas, adaptação ao ensino e aprendizagem, necessidade de organização do tempo e de atividades, o estabelecimento das novas relações interpessoais evidenciam o desenvolvimento de fatores potencialmente estressantes para uma parcela significativa da população universitária.
Nesse sentido, será analisado o relato de experiência escrito por mim em processo depressivo no ano de 2018 e publicado no Portal (En)Cena do Ceulp/Ulbra. Sou Lizandra Paz de Oliveira, vulgo Índia Lii, 10° período de Psicologia.

Vivemos em um campo de batalha contínua…

O sentimento de se sentir sozinha vai além do sentimento de solidão. É uma combinação de desespero, vazio, turbilhão de sentimentos sem nexo, de dor. Não é sobre ter medo do escuro ou do que pode acontecer amanhã. É sobre você não saber o sentido da sua existência; é sobre não compreender aonde os valores e princípios foram abandonados pela sociedade; é sobre carregar nas suas costas a culpa de não estar fazendo algo para salvar o mundo, o seu mundo.

Sabe como é beber um iogurte e não sentir se o seu sabor é morango, coco ou pêssego? Pois é, o ato de não sentir o gosto da sua comida favorita maltrata. Não ter vontade de fazer o que pulava o muro de casa para fazer escondido dos seus pais. Não conseguir levantar da cama sentindo um cansaço nos ombros que sem cessar pesa dentro do seu corpo.

Fonte: encurtador.com.br/gpyzC

Quantos gritos internos damos sem ecoar um som se quer. Quantas vezes em um momento de desistir de tudo, você resolve tentar mais um pouco, mais um dia. Pedi a ajuda, mas as pessoas acreditam que você é forte o suficiente para passar por mais essa “fase”. Realmente sou forte, não sabem o que tenho que fazer para pelo menos abrir os olhos e saber que mais um dia chegou.

Onde está meu lar? Onde estão os médicos, os psicólogos, os psiquiatras? Onde eu estou? Já procurei ajuda, mas até agora tenho usado minha bateria reserva. Não sei de onde vem às lagrimas, muito menos onde elas querem chegar, a única coisa que sei é que é a única coisa que traz alívios passageiros a minha alma.

Vivemos em um campo de batalha contínua, com monstros e sem armas para combater. Difícil matar algo que está dentro de nós. Queria poder alcançar com as mãos e arrancar de dentro de mim esse tumor chamado depressão. Meu cérebro está cansado; meu corpo está cansado; quero apenas dormir, descansar. Sei que não seria a solução para tudo, será tão egoísmo meu pensar apenas por hoje em mim? Por quanto tempo coloquei as outras pessoas na frente de tudo? Sempre foram minha família, meus amigos, meus colegas de trabalho; agora quero cuidar de mim. Preciso dormir, apenas isso.

Fonte: encurtador.com.br/moy03

Não quero publicações no meu facebook. Não quero flores no meu túmulo. Não quero lamentações. Todos os sentimentos por mim deveriam ser manifestados agora que preciso sentir algum valor na minha existência. Depois que minha matéria deixar de existir, apenas uma estatística serei, um número. Ter significado na minha morte pela falha em vida.

Índia Lii, abril de 2018.

O texto é iniciado com um desabafo que no decorrer é permitido captar a Depressão em seu estágio mais profundo, a exteriorização da procura de “matar a dor/os pensamentos”. Para compreender esse contexto de busca de entender os sentimentos durante os sintomas depressivos, Viktor E. Frankl em seu livro “Em busca de Sentido” relata que:

“Mesmo diante do sofrimento, a pessoa precisa conquistar a consciência de que ela é única e exclusiva em todo o cosmo-centro deste destino sofrido. Ninguém pode assumir dela isso, e ninguém pode substituir a pessoa no sofrimento. Mas na maneira como ela própria suporta este sofrimento está também a possibilidade de uma vitória única e singular. Para nós, no campo de concentração, nada disso era especulação inútil sobre a vida. Essas reflexões eram a única coisa que ainda podia ajudar-nos, pois esses pensamentos não nos deixavam desesperar quando não enxergávamos chance alguma de escapar com vida. O que nos importava já não era mais a pergunta pelo sentido da vida como ela é tantas vezes colocada, ingenuamente, referindo-se a nada mais do que a realização de um alvo qualquer através de nossa produção criativa. O que nos importava era o objetivo da vida naquela totalidade que incluiu a morte e assim não somente atribui sentido à “vida”, mas também ao sofrimento e à morte. Este era o sentido pelo qual estávamos lutando!” (FRANKL, 1984).

Em ocorrências de sofrimento, dor e em pensamentos de possibilidades de morte, a reflexão não é somente sobre qual o sentido da vida, também é sobre qual seria o sentido desse sofrimento, dessa dor, da morte.

De fato, a dor e o sofrimento, pertencem somente a pessoa que está sentindo ou atravessando determinadas transformações nas etapas da vida, até porque nossas experiências são únicas, intransferíveis, subjetiva e individuais. Só você, eu, podemos encontrar na dor e sofrimento os mais profundos sentimentos de esperança, sonhos e novas perspectivas que possam caracterizar em um novo significado a nossa existência. Como é possível fazer isso ocorrer? Com o apoio e intervenção profissional.

É um processo doloroso, na qual requer ajuda profissional de psicólogos, psiquiatras para fazer alcançar os sentimentos positivos e ajudar a traçar novas formas de vivenciar os conflitos do dia a dia. É importante saber que não se estar sozinho nessa jornada, somos 5,8% da população. Não se escolhe estar em depressão ou não, mas se escolhe o que os caminhos a serem percorridos quando se identifica os sintomas. Procure ajuda, procure um psicólogo!
Lizandra Paz de Oliveira, 28 anos, funcionária pública, estudante do 10° período de psicologia.

Referências:
BONIFÁCIO, S. P.; SILVA, R. C. B.; MONTESANO, F. T.; PADOVANI, R. C. Investigação e manejo de eventos estressores entre estudantes de Psicologia. Rev. bras. ter. cogn. vol.7 no.1 Rio de Janeiro jun. 2011. Disponível em < http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-56872011000100004> Acesso em: 23 de abril de 2021.

BRASIL. Ministério da Saúde. Depressão. Brasília. 09 de setembro de 2015. Disponível em <http://bvsms.saude.gov.br/dicas-em-saude/2049-depressao> Acesso em: 23 de abril de 2021.
CAVESTRO, J. M.; ROCHA, F. L. Prevalência de depressão entre estudantes universitários. J. bras. psiquiatr. vol.55 no.4 Rio de Janeiro, 2006. Disponível em < https://doi.org/10.1590/S0047-20852006000400001> Acesso em: 23 de abril de 2021.
CREMASCO, G. S.; BAPTISTA, M. N. Depressão, motivos para viver e o significado do suicídio em graduandos do curso de psicologia. Estudos Interdisciplinares em Psicologia, Londrina, v. 8, n. 1, p. 22-37, jun. 2017. Disponível em: < http://pepsic.bvsalud.org/pdf/eip/v8n1/a03.pdf> Acesso em: 23 de abril de 2021.

FRANKL. V. E. Em Busca de Sentido. Edição Norte Americana – de 1984. Disponível em: < https://files.cercomp.ufg.br/weby/up/58/o/Em_Busca_de_Sentido_-_Viktor_Frankl.pdf> Acesso em: 20 de abril de 2021.
LII. I. Vivemos em campo de batalha contínua. (En)Cena. pub. 05 de abril de 2018. Disponível em: < https://encenasaudemental.com/narrativas/vivemos-em-um-campo-de-batalha-continua/> Acesso em: 22 de abril de 2021.

ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. Aumenta o número de pessoas com depressão no mundo. Brasília: OPAS/OMS. Disponível em: < https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=5354:aumenta-o-numero-de-pessoas-com-depressao-no-mundo&Itemid=839> Acesso em: 23 de abril de 2021.

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Um dia de vivência na Aldeia Salto – Xerente

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No sábado, 11 de maio de 2019, a Equipe (En)cena acompanhou a Turma de Estágio Básico I em uma visita a aldeia Salto do povo Xerente, localizada em Tocantínia-TO. A visita foi conduzida pelas professoras Muriel e Ana Letícia e pelo professor Rogério Marquezan (UFT). A visita teve como objetivo: oportunizar os acadêmicos a entrar em contato com a dimensão social do curso de Psicologia do Ceulp/Ulbra.  A Equipe (En)cena foi convidada a fazer a cobertura do evento, e desde então já fiquei bastante animada.

O que vem à sua cabeça quando você escuta as palavras “índio” e “aldeia”? Na minha sempre vinha o que eu vi representado na literatura e alguns filmes. Ou seja, já imaginava vários índios nus, todos bem pintados, uma aldeia cheia de ocas, um rio enorme como fonte de alimento, peixe assado, muitas penas, flechas, um cacique bem idoso e nada de tecnologia. E foi com este pensamento que fui a aldeia indígena Salto, do povo Xerente, e quando cheguei lá, foi um momento de reflexão e desconstrução.

Ao chegar na aldeia já dei de cara com várias crianças e adultos vestindo roupas comuns, um galpão enorme para realizar reuniões e festas, várias casas de tijolos, um enorme campo de futebol, banheiro, energia e água encanada. Fiquei por um tempo tentando avistar o cacique, e logo descubro que o cacique estava do meu lado. Nunca imaginei, pois o homem que estava ao meu lado era jovem. Me perguntei: mas caciques não são caciques justamente por que têm mais experiência? Então por que não um idoso? Diante disto tudo fiquei um pouco confusa, confesso.

Ao visitarmos a casa da Dona Maria Madalena, índia, historiadora, professora e autora de alguns livros indígenas meu coração saltitava de alegria. Ela cantou uma música indígena linda para nossa chegada e disse com alegria o quanto estava feliz com nossa presença. A historiadora contou que na cultura Xerente tudo tem dono, um espírito, desde a água até a folha da árvore. Ou seja, é costumeiro pedir permissão para fazer uso de qualquer coisa. Caso o espírito não permita o uso, as consequências podem ser doenças físicas ou psicológicas. E a cura ou o tratamento é feita pelo pajé, que é considerado o médico dos médicos.

Dona Maria nos contou também que o respeito às diferentes famílias é muito importante. Em momento de reunião política, cada família tem seu momento de fala sem interrupções. Os mais velhos são ouvidos atentamente, e isto é ensinado desde a infância. Assim como a língua indígena Macro Jê, é ensinada as crianças até os 5 anos, e só depois disso que elas aprendem o português.

No fim do passeio fomos conhecer o rio. Descemos uma ladeira cheia de obstáculos em meio a natureza, com vários indiozinhos nos guiando. Ao chegar no local, que maravilha, uma água maravilhosa, com uma brisa sem explicação. Eu só queria mergulhar. Eu e alguns colegas entramos com a roupa que estávamos no corpo. Que sensação incrível, que prazer entrar e me banhar na mesma água que este povo forte e guerreiro também faz o mesmo. Me senti tão viva e aproveitei cada momento.

Ao chegar em casa eu refleti bastante. Pensei em toda história do índio no Brasil, da forma que a terra foi tomada de suas mãos. Foram feitos de escravos. E mesmo séculos depois, com toda tecnologia, a aldeia Salto do povo Xerente continua praticando sua cultura, aprenderam a conviver com a cultura do homem branco sem perder a identidade indígena, encontraram equilíbrio nas duas coisas.

Diante de toda experiência vivida, carrego no peito um emaranhado de sentimentos um tanto quanto ambivalente. É um misto de alegria com tristeza, pois a tristeza me invade quando penso no sofrimento que a história do índio no Brasil é contada. Mas meu coração também se enche de alegria ao ver de perto que cada índio daquela aldeia vive a identidade indígena, independente de morar em uma oca ou em uma casa de tijolo.

A visita me fez refletir sobre minha própria história enquanto mulher negra, descendente de escravos. Me fez pensar nos meus antepassados e ao invés de olhar com pena, olhei com admiração. Que povo forte. Que mesmo com o passar do tempo, que jamais percamos nossas raízes. Que o respeito à diferença seja uma lei de todos, pois independentemente da cor, raça, cultura e status, ninguém é melhor do que ninguém. Hoje sigo fortalecida e com o coração cheio de gratidão por quem fui, por quem sou e por quem serei.

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Vivenciando a Crise na perspectiva do outro

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Tudo o que nos acontece, corretamente compreendido,
leva-nos de volta a nós mesmos;
é como se houvesse um guia inconsciente
cujo propósito é livrar-nos de tudo isto,
fazendo-nos depender de nós mesmos. 

(JUNG, C. G.1973, p. 78)

Sair da posição de conforto e se aproximar dos conteúdos mais íntimos do outro. Colocar-se a disposição do outro, compreendendo toda a carga afetiva de sua dor. Permitir-se tocar pela dor do outro, sem imprimir nele seus próprios conceitos ou visão de mundo. Deixar-se guiar pelo sofrimento alheio, mas sem perder-se no caminho. Congruência. Empatia. Aceitação.

A primeira vista um emaranhando de palavras e frases desconexas, mas que carregam, em suma, grande parte da complexidade de exercer a psicologia atualmente. Afinal, que outra área do conhecimento ocupa-se tão avidamente do sofrimento subjetivo, propondo, por meio da escuta, uma cura/reabilitação?

Desafios que carregamos conosco ao propor uma intervenção urbana com o foco de mudar a visão de periculosidade que tem-se do sofrimento psíquico, em especial, transtornos de ordem psicótica.

O grupo escolheu realizar uma intervenção onde um sujeito/ator/aluno, vivenciaria uma crise fictícia de ordem psicótica. Imaginamos como cenário um espaço urbano de grande circulação de nossa cidade, que tem um grande fluxo pessoas, dos mais diferentes níveis sociais e graus de instrução. O grupo partiu da hipótese de que, ao se inserir em um ambiente com um leque tão variado de subjetividades, conseguiria um gama de respostas distintas à essa Crise.

A simulação pautava-se num sujeito avulso ao contexto, que estaria inquieto, incomodado com invasores no seu espaço. Por espaço ele se referia à um território imaginário, delimitado por um quadrado, que ficava no centro da rota das pessoas que transitavam pelo espaço urbano.

Minha função no grupo foi a de vivenciar a Crise. O que não foi nada fácil. Em primeiro lugar porque é muito cômodo apontar e criticar um sujeito que atravessa uma situação de crise, até mesmo tecer teorias sobre sua crise. Contudo, vivenciar isso na pele, se sujeitar a abrir mão de sua singularidade e se permitir imergir em um mundo totalmente alheio ao seu é, sem sombra de dúvidas, um desafio.

Ao longo da vivencia, emoções e pensamentos como medo e vergonha do que os outros pensariam a meu respeito se intensificaram. Pensei várias vezes em desistir. Uma precaução tomada pelo grupo, que me foi de grande apoio enquanto eu vivenciava o personagem, foi de alertar os vendedores ambulantes que trabalham no local sobre a simulação.

Outra dificuldade, e essa só apareceu após iniciamos a intervenção, foi a do momento de rompimento – a crise em si – foi a de fazê-lo em um ambiente onde não se pode medir a reação das pessoas. O grupo não previu que no horário escolhido (18h) haveria uma presença maciça de homens que voltam de seus trabalhos e utilização da estação para pegar ônibus para casa.

Sabe-se que homens tendem a ter uma reação mais agressiva do que mulheres. E meu medo, o tempo todo, era o de sofrer agressão física. Por se tratar de uma encenação onde o personagem se colocava na frente das pessoas que passavam pelo local, impedindo sua passagem por dentro daquele quadrado imaginário, havia o risco de uma reação violenta. Desse modo eu demorei um pouco mais a representar o momento de clímax da crise, o rompimento, permanecendo com um comportamento estranho e tentando interagir preferencialmente com as mulheres, que por sinal, sempre me evitavam.

Pela minha permanecia no local, percebia que as pessoas começaram a ficar assustadas, algumas paravam para me observar, outras iam e voltavam por curiosidade, mas permaneciam de longe. Em nenhum momento ninguém tentou conversar comigo. Mas era possível perceber a tensão no ambiente e o medo com o qual as pessoas me encaravam.

Com o passar do tempo, comecei a interagir ainda mais com as pessoas, cheguei até mesmo a impedir abruptamente a passagem de alguns, sempre me referindo a meu lugar de referência: o quadrado imaginário.

Obtendo como resposta das pessoas, medo e esquiva. Até esse momento, eu ainda não havia me sentido seguro para chegar ao ápice da crise, até que, num determinado momento, um dos colegas de curso que estava observando a intervenção resolveu tentar atravessar o quadrado, nesse momento houve o estopim da Crise, e eu gritei com ele a palavra “Saaaaaaaaaaaaaaaaaaaai do meu QUADRADO” em alto e bom som. Foi um grito alto, todos no meu campo de visão pararam para observar, e, em todos os rostos, pude perceber um semblante de medo. A partir daí passei a gritar e impedir que qualquer um atravessasse o quadrado imaginário, até o determinado momento em que um rapaz ameaçou me agredir, então eu optei por parar a intervenção.

Quando todos na estação perceberam que se tratava de uma encenação, pôde-se ouvir os murmúrios de alívio e, até mesmo, alguns risos. Acabou a tensão no ambiente. Então, os demais integrantes do grupo foram conversar com as pessoas que estava observando a crise, e lhes explicaram que se tratava de uma intervenção do curso de Psicologia.

Não posso negar também meu alívio em terminar a encenação, e de voltar à minha realidade. O medo de ser visto como estranho e perigoso me deixou apreensivo. Assustado. A sensação foi de completo desamparo. Foi uma experiência única, o que me permitiu sair da posição de conforto, para ver a Crise com outros olhos, não mais como um perito, mas como alguém que – agora – consegue entender como é não ter seu sofrimento ouvido por ninguém.


Nota:

Essa intervenção partiu da disciplina de Intervenção em Situações de Crise (2014/1) do curso de Psicologia do CEULP/ULBRA, com o intuito de perceber, em Palmas/TO, como a sociedade percebe e lida com a Crise.

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Política Nacional de Humanização, Amazônia e processos de produção de saúde

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O Congresso da Região Norte da Política Nacional de Humanização (PNH), realizado em Manaus em março deste ano, afirma os princípios desta política que desde 20031 vem produzindo, através de suas intervenções – em nível nacional, estadual e municipal -, transformações nos processos de produção de saúde, em especial nas formas de cuidar e de gerir. Além disso, este jeito de “fazer” está articulado com a constante transformação das formas de ser e de viver, em outras palavras, as intervenções da PNH produzem como efeito, a transformação das pessoas e das práticas, uma vez que as práticas (em qualquer setor em que elas estejam inseridas: saúde, assistência, justiça, etc.) são indissociáveis dos tipos de subjetividade que as encarnam2.

Partindo do pressuposto de que os processos de trabalho, as formas de cuidado e a produção de subjetividade são imanentes, a PNH intervém, ao mesmo tempo, na forma de produzir a clínica e a política3. As práticas produzidas pela PNH buscam, através da metodologia da humanização4, a produção de dispositivos que possibilitem a construção de um modo de incluir trabalhadores, gestores e usuários na elaboração, execução e avaliação da produção de práticas em saúde5. De acordo com Eduardo Passos6 (2012) “a feitura da humanização se realiza pela inclusão, nos espaços da gestão, do cuidado e da formação, de sujeitos e coletivos, bem como, dos analisadores (as perturbações) que estas incursões produzem”.

A experiência em Manaus (com a participação de trabalhadores, gestores e usuários) possibilitou a vivência da indissociabilidade entre clínica e política nas rodas de conversa7, nos modos de gerir (tanto a organização do evento como os analisadores8 que surgiam), no jeito de ser das pessoas e na implicação9  que as mesmas possuem com o que fazem, ou seja, produção de saúde.

Assim como a clínica e a política não estão separadas, os movimentos do homem não estão separados, de forma alguma, dos movimentos mais amplos do planeta. Em Manaus estávamos em constante articulação com outros movimentos da Amazônia – produzidos por sua imensa biodiversidade e constante transformação. O clima quente e úmido, a fauna e a flora exuberantes, a quantidade de rios, as chuvas e o nível das águas, a mistura de traços de diversas etnias da região… enfim, a floresta amazônica é um dos lugares de maior biodiversidade do planeta, um dos espaços onde há um sem número de diferentes formas de vida compartilhando um lugar comum. A variação de espécies da fauna e da flora se articula com a constante transformação da paisagem operada, em especial, através da elevação e diminuição no nível dos rios em função da quantidade de chuva.

Os movimentos dos processos de produção em saúde operados pela PNH, engendrados por um modo de inclusão das diferenças e a constante análise da produção de práticas em saúde, funcionam de forma parecida com os processos de produção da vida na floresta amazônica. Da mesma forma que na floresta a biodiversidade é imensa, no Brasil existem pessoas de todo tipo, em virtude de sua área territorial extensa e também pela diversidade cultural das diferentes regiões; assim a PNH busca em suas intervenções a produção do comum enquanto uma forma de criar articulações entre as diferenças, produzindo dispositivos que operem através das diversas formas de participação dos envolvidos nos processos de produção de saúde. Assim como a Floresta se transforma constantemente, nossa sociedade também, no entanto o que os rios produzem na floresta é o mesmo que as relações de força em nossa sociedade; relações de força enquanto poder10, conjunto de forças que em sua resultante moldam as condições de possibilidade da nossa existência. Assim como os rios moldam as condições de possibilidade da vida na floresta.

Notas:

1De acordo com a Rede HumanizaSUS http://www.redehumanizasus.net/node/2504 “A PNH existe desde 2003 e propõe mudanças para qualificar a atenção e gestão em saúde pública no Brasil, atuando em todas as políticas do SUS.”

2NEVES, Abbês Baêta; FILHO, Serafim Santos; GONÇALVES, Laura; ROSA, Mônica. Memória como cartografia e dispositivo de formação-intervenção no contexto dos cursos da Política Nacional de Humanização. In: Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à saúde. Política Nacional de Humanização. Formação e Intervenção / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Política Nacional de Humanização – Brasília: Ministério da Saúde, 2010.

3BARROS, R. B.& PASSOS, E. (2005a). A humanização como dimensão pública das políticas de saúde. Ciência & Saúde Coletiva, v.10, p.561 – 571.

4Na Apresentação dos cadernos HumanizaSUS, Dário e Eduardo falam da dimensão metodológica da PNH, enquanto um modo de incluir gestores, trabalhadores e usuários nos processos de produção de saúde. In. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à saúde. Política Nacional de Humanização. Formação e Intervenção / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Política Nacional de Humanização – Brasília: Ministério da Saúde, 2010.

5Idem.

6Ibidem.

7Metodologia criada por Gastão Wagner de Souza com objetivo de inclusão dos sujeitos na produção dos processos de saúde, se trata de produzir “com” os sujeitos e não “para” eles. CAMPOS, G.W. Saúde Paidéia. São Paulo: HUCITEC, 2000.

8LOURAU, R. A análise Institucional. Petrópolis: Vozes, 1975.

9LOURAU, R. Implicação e sobreimplicação. In: ALTOÉ, S. (Org.). René Lourau: analista institucional em tempo integral. São Paulo: Hucitec, 2004, p. 186-198.

10 FOUCAULT, M. Vigiar e punir. Petrópolis: Vozes, 2001.

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Saúde: garantia do Estado, dever de todos

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Pretendo nesse espaço partilhar minha experiência no terceiro encontro do Fórum Permanente de Saúde Mental do estado do Tocantins, que se deu no dia 22 de agosto de 2012, na sede do Centro de Atenção Psicossocial em Álcool e Drogas (CAPS AD-III), em Palmas – TO.

Logo de início quero deixar meu contentamento em poder constatar, reunidos, profissionais das mais diversas áreas da saúde (Psiquiatras, Psicólogos, Enfermeiros, Assistentes Sociais, Secretaria Estadual de Saúde, Acadêmicos de Psicologia, Conselho Estadual de Saúde, entre outros) empenhados em levantar, discutir e intervir em questões pertinentes à Saúde Mental em nosso estado.

Como acadêmico do quinto período do curso de psicologia, já havia participado de alguns eventos de temas relacionados à saúde mental, como voluntário do projeto (En)Cena: Saúde Metal em Movimento, já havia entrado em contato com algumas literaturas e debates a respeito do assunto, mas como cidadão, concebendo este como promotor de sua cidadania, foi a primeira vez que me vi realmente implicado no processo.

O tema discutido pelo grupo foi o Matriciamento de Saúde Mental, prática apoiada pelas Secretarias de Saúde, no qual um profissional especializado em Saúde Mental é designado para supervisionar um serviço de saúde de atenção básica que presta assistência ao sofrimento mental. O Matriciamento tem se difundido cada vez mais dentro dos CAPS’s do estado Tocantins, com números relevantes de aprovação pela equipe técnica dos serviços de saúde.

Outra problemática relatada no encontro foi a preocupação da Secretaria Estadual de Saúde com o alto índice de demanda judicial para intervenção familiar em pedidos de internação compulsória.

As políticas de enfrentamento às drogas têm encontrado grandes dificuldades quanto à sua pratica, que é regulamentada pela Lei Nº 11.343, de 23 de agosto de 2006, pelo Decreto nº 7.179, de 20 de maio de 2010. Tem-se propagado uma intervenção clínica hospitalar em regime fechado, na qual o sujeito é retirado do convívio social. O tratamento é eficaz enquanto o indivíduo está internado, e sob o efeito de medicamentos, mas quando recebe alta, é claro que tudo volta. A comunidade parece negligenciar o que já é sabido por todos: o tratamento de dependentes químicos é moroso, por vezes, pode durar a vida toda. A reinserção social do sujeito, assim como o apoio da família é fundamental nesse processo.

As famílias querem resultados imediatos, e recorrem ao poder judiciário para conseguir a internação compulsória, um método que não tem resultados satisfatórios em um curto espaço de tempo. É preciso lembrar que no tratamento de dependentes, cada paciente exige um cuidado subjetivo e singular. Isso sem mencionar que quando falamos em saúde mental esse quadro de dependência, quase sempre, apresenta-se em comorbidade com outro transtorno. A luta de um dependente químico pode perdurar ao longo de toda a sua vida, por se tratar de um mal crônico.

Quando digo de um “mal” crônico, pretendo aludir os malefícios que as substâncias químicas podem causar ao organismo e à saúde do indivíduo, concebendo saúde como: um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doenças, assim como é definido pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Torna-se cada vez mais complicado falar de drogas, assim como falar de políticas de enfrentamento às drogas, e/ou de redução de danos. O assunto é cada vez mais polêmico, envolvendo sociedade, mídias, ciências, empresas, estado, igrejas, etc. Dizer de substâncias alucinógenas, assim como seus benefícios e malefícios, tornou-se uma questão subjetiva, e cada um tem o seu olhar, e assim, seu próprio ponto de vista. Afinal o homem é livre para decidir se quer ou não fazer o consumo de substâncias ilícitas. É nesse olhar que nasce a política de redução de danos. O serviço de saúde fica bem no meio de tudo isso, atravessado entre usuário, estado e família.

A questão levantada pelo fórum, é que, do modo que está sendo feito, estamos voltando para o regime asilar, não com o louco, mas com o dependente químico. A sociedade mais uma vez quer se isentar do problema e, erroneamente, busca no internamento uma solução. Parece irônico, mas a história se repete. Já que não se pode curar, tirar o problema do meio social e lançá-lo em um asilo parece ser o melhor a ser feito.

Vivemos no século XXI, o tratamento medicamentoso do que diz respeito à dependência química já melhorou e muito, mas sabe-se que o internamento não resolve problema algum, na verdade, a reclusão tente a ser muito mais prejudicial que benéfica.

Claro que não podemos negligenciar o sofrimento das famílias que, nestas situações, estão muito fragilizadas, e encontram na internação a única solução para lidar com o conflito. O poder judiciário, por sua vez, ao acatar a solicitação da família, só quer atender as reivindicações desta. Contudo, nesse ritmo o regresso ao modelo asilar é iminente. É preciso salientar que a internação compulsória fere o direito de liberdade do sujeito, que pode escolher se quer ou não fazer uso de substâncias ilícitas, afinal o Brasil é um país livre. O que falta é um consenso, uma conversa esclarecendo pontos entre sociedade, família, saúde, educação e justiça.

O fórum lamenta não ter nenhum representante do âmbito jurídico participando das reuniões, já que em questões como essa, sensibilizar a justiça parece ser um dos passos para se chegar à solução. Particularmente, fiquei tocado com o encontro e com o empenho de todos em discutir a saúde mental, o movimento é antes de tudo um manifesto ao direito à vida, a saúde de qualidade e à cidadania.

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Galpão Cultural: (Des)encontros

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O que relato é fruto de um afeto comovido e de uma pesquisa às fontes virtuais do Galpão Cultural de Assis.

O Galpão Cultural é um espaço situado na Rua Dr. Teixeira de Camargo, nº 205, Vila Operária, e abriga diversos grupos culturais, os quais desenvolvem diferentes linguagens artísticas, realizam oficinas, espetáculos, ensaios, entre uma infinidade de atividades artístico-culturais gratuitas. Além disso, durante estes anos de desenvolvimento do Galpão Cultural, em parceria com grupos e associações da cidade e da região, foi premiado por alguns de seus trabalhos realizados, sendo os principais, o Ponto de Leitura (Ministério da Cultura), o Ponto de Cultura (Secretaria de Estado da Cultura/Ministério da Cultura), o Prêmio Arthur Bispo do Rosário (Conselho Regional de Psicologia), o Loucos pela Diversidade (Ministério da Cultura) e diversos Programa de Ação Cultural (Secretaria de Estado da Cultura), sendo que atualmente, há dois projetos em desenvolvimento, financiados por este Programa. (http://galpao-cultural.blogspot.com.br/)

O afeto comovido foi o de indignação, primeiramente. Depois de pena, sentimento bastante babaca e paralisante. A pena desfez-se rapidamente para dar lugar a um auto-xingamento, já bastante freqüente na idade dos 31 anos, que sabemos que somos sempre responsáveis por tudo, escolhemos sempre com o que nos envolvemos, o que falamos, quando falamos. De minha minerês fica sempre a fama de que sou calado. Com meu corpo estive presente em Assis, no Galpão Cultural, mirrado de sempre. Com sentidos talvez menos aguçados que os de hoje, mas certamente muito mais aguçados do que os da ignorância. Mesmo na distância do corpo, a notícia do fechamento do Galpão Cultural moveu minha indignação que fez aquele percurso inútil para chegar de volta à indignação e a essas palavras que aqui vão se tecendo. O caminho do afeto, que balança o corpo de um jeito, pra depois você criar as idéias, é longo para se integrar na brutalidade das palavras. De qualquer maneira, as idéias que me surgiram foram em forma de memórias. As memórias que tenho do Galpão Cultural é o de que ele deu-me ritmo musical no curto período em que freqüentei a Oficina de Maracatu e por várias vezes em que proporcionou Rodas de samba, nas festas, à noite, com gente bastante querida, com leveza e seriedade. Deu-me também formação profissional, na troca de experiências entre colegas de profissão, entre amigos, entre grupos de pessoas que se conhecem e que não se conhecem, pela música e pelos toques dados e recebidos. O Grupo que organizou o Galpão criou e até hoje mantém o Fórum Permanente de Saúde Mental da região de Assis, prestando-nos consultoria para abertura do Fórum Permanente de Saúde Mental do Tocantins. Tal experiência é suficiente para dizer da articulação que promovem esses colegas no campo cultural, no campo teórico-técnico e no campo afetivo.

Outra experiência promovida pelo Galpão da qual fui participante foi a ação para a pintura do Galpão. Tal ação consistiu numa Oficina de artes com um artista plástico de Londrina (se a memória não me falha), na convivência e na pintura, de fato, das paredes do Galpão, com almoço para todos e tinta angariada a muita custa. Foram, primeiramente, dois dias seguidos de trabalho intenso e, posteriormente, encontros de finalização da pintura se também, nesse caso, não me falham as memórias, duas já. De qualquer maneira a produção social desses encontros foi bastante importante juntamente com a produção em cada um dos presentes, uma produção que talvez não seja definível em palavras, chamo-lha vida e pronto, definida está. Algumas imagens talvez digam mais.

Tenho um conjunto de fotos que ora ou outra revejo por aqui em meio a outra vegetação, a outro clima, outros contextos. Partilhando, contudo, nas aulas que dou, tudo que aprendi com o que Assis, Cândido Mota e o Galpão ofereceram-me em pessoas e referencial práxico. Fotos de pessoas que talvez aqui não possa mostrar, por não ter pedido permissão aos que nelas aparecem; e a saudade é um sentimento que se atravessa em todos os outros.

Essas memórias servem para mostrar que O Galpão tratou-se de um acontecimento, um dispositivo, pelo menos para mim, provocou-me rupturas e compôs-me de outros relevos, de outros cheiros e de outros paladares e era assim tido por muitos que por nele passaram.

A irresponsabilidade do governo municipal de Assis, com o não cumprimento dos acordos feitos (o de não pagar as parcelas de aluguel), é a parte mais odiável do processo todo, a encomenda era bastante fácil e possível. Não dá para acreditar, na verdade, que isso seja fruto de desorganização ou ignorância. Resta apenas uma possibilidade e esta é a desarticulação de uma prática libertária demais para uma cultura atrasada demais. Intencional ou não, tem efeito desarticulante. O movimento chamado Galpão

Cultural deve incomodar gente importante em Assis. Sei lá. Não sei.

Só sei que experiência como o Galpão estimulou a criação do Festival de pipas de Cândido Mota, que tem edições anuais juntando grupos diversos de pessoas, agrupamentos e equipamentos, cada qual com suas próprias instituições, muitas transversais entre si. Dizendo de outra maneira, tecendo redes, objetivo inicial de quem quis fundar e fundou o Galpão. A rede nos pede uma atenção bastante diferente da atenção que andamos a desenvolver na correria do dia-a-dia. A atenção que andamos a dar nas coisas é a atenção rápida, pois aquilo que nos prende a atenção é a agilidade do desenvolvimento tecnológico e comunicacional, de disposição do conhecimento, do desenvolvimento da palavra; tal atenção, formada por pessoas que, por olharem a agilidade das coisas numa escala mundial, olham para longe e vislumbram apenas um horizonte embaçado, esfumaçado. Desenvolvem, portanto, uma visão superficial, de reconhecimento míope, que pula de coisa a coisa rapidamente, buscando experimentar cores, sons, odores, paladares, peles, sensações e sentidos diferentes, um pouco de cada…isso é o que pede os movimentos da diversidade. Contudo, nesse movimento de nossa atenção deixamos de olhar para práticas antigas que precisam de um tempo mais lento de atenção e uma visão mais detalhada do entorno, dos sujeitos próximos da gente como o é o cuidado com as relações afetivas. Isso sempre existiu, não precisamos inventar isso…o cuidado às relações afetivas, com culto ao Respeito e Solidariedade, não é tão inalcançável assim para o acharmos tão utópico. Tais relações não são difíceis de fazer, não custam caro. É por não custarem tão caro que são difíceis de manter. O que não movimenta uma quantidade grande de dinheiro, na relação entre movimento social e governo (de qualquer nível – lembrando que na relação interestadual discutem-se, preferencialmente, questões de ordem econômica e que as carreiras de administração e economia têm tomado bastantes cadeiras nas secretarias de saúde de todos os níveis do governo); retornando ao que estava falando, o movimento civil que não movimenta dinheiro e bens para o governo, tem a infeliz contra-força para se minguar; comparar o aparato de articulação (mídia e equipamentos) do governo ao dos movimentos sociais é injusto; ao aparelho do estado não interessa produzir relações que se justificam pelo o que de afetivo há nelas, pois elas não retornam o investimento em lucro de bens. Isso ocorre dentro da própria Política Nacional de Humanização, que por vezes é marginal nos níveis estadual e municipal, pelo fato de não levar verba a esses níveis de governo, ocorre também com os movimentos sociais de base.

Somos responsáveis por tudo isso. Mas tal responsabilidade não é dada e nem inata. Ela é buscada. A notícia do fechamento do Galpão Cultural, em seu blog, não foi comentada ainda nem sua NOTA DA OFICINA DE ARTES CÊNICAS – DA EXPRESSIVIDADE À CENA. Mas sei que o Galpão foi ocupado por pessoas envolvidas em sua criação, resistentes e cientes de sua importância para a vida cultural de Assis. Esse é o momento do Galpão: resistência contra um poder público que pratica o toque de recolher ou que há tempos vai sozinho para decisões que dizem respeito a muita gente. Por quantas vezes os CAPS de Assis, Cândido Mota e Maracaí ficaram sem o material básico de limpeza e de oficinas terapêuticas? Várias. O esforço do governo para repor tais estoques (próprios, diga-se de passagem) nem se compara ao esforço feito pelas pessoas envolvidas nos movimentos sociais e culturais do Galpão para conseguirem seus próprios materiais de limpeza e de oficinas terapêuticas. Sei lá também.

Que multipliquem experiências como o Galpão Cultural. Que fique expresso, nesse texto, o repúdio ao governo de Assis por ação tão irresponsável como essa.

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